Você está na página 1de 2

Percurso cénico: Cais > Barca do Diabo> Barca do Anjo> Barca do Diabo > onde

embarca.

Caracterização do Sapateiro
Caracterização Directa : nas acusações do Diabo e do Anho e em si próprio quando se
autocaracteriza.

- Caracterização indirecta
 Através dos símbolos
– Formas – foram as formas de roubar o povo no exercício da sua profissão;
- Avental – simbolicamente serve para ocultar os pecados do Sapateiro.

 Através da linguagem - O sapateiro é:


- confiante “Mandaram-me vir assi”
- trocista “Se é esta a boa traquitana”
- persistente ( ao longo de toda a cena)
- resignado “Vamos venha a prancha logo”
- decidido “Não nos detenhamos mais”

Composição e formulação
A personagem ao entrar em cena traz consigo os símbolos próprios de um grupo
socioprofissional frequentemente acusado de roubar o povo em “solas e cabedais”.
Verificamos que esses elementos acompanham o sapateiro durante a sua permanência
no cais.
Verificamos, ainda, que o seu comportamento religiosos o transforma numa
personagem com representatividade mais ampla, englobando todos aqueles que julgam ser a
prática do culto externo - missa, confissão e comunhão – suficiente para a sua vivência de fé,
mesmo que vivam de expedientes desonestos.
De salientar que o avental e as formas são elementos distintivos e caracterizadores do
seu tipo socioprofissional, para além de servirem como “elementos de prova”
Assim não havendo modificação no seu comportamento e representando quer os da
sua classe quer os que recorrem à religião para encobrir a desonestidade, o Sapateiro poderá
ser classificado como personagem plana e tipo social.

ARGUMENTAÇÃO:
DEFESA ACUSAÇÃO
– Diabo Anjo
(Junto do Diabo) – “os que -“Como vens tão carregado” - “leva quem rouba de praça
morrem confessados” ” - “Se tu viveras dereito”
- “confessado e comungado” - “E tu morreste escomungado”
- - “calaste dous mil enganos”

Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno


Quantas missas eu ouvi”
- as ofertas que darão” -“Tu roubaste bem trinta anos/
- “E as horas dos finados o povo com o teu mester”

Comentário final (intenção crítica)


O Diabo e o Anjo acusam o Sapateiro de haver roubado “bem trinta anos” o povo e de
não viver direito, calando “dous mil enganos” . A condenação do Anjo que reafirma a do Diabo,
tira qualquer hipótese de salvação à personagem que de imediato se apressa a chamar o
barqueiro do Inferno.
 Crítica aos preços praticados;
 Denúncia do enriquecimento de certas classes sociais à custa do povo;
 Denúncia da prática religiosa não vivida interiormente;
 Crítica às falsas atitudes religiosas
O carácter moralista desta cena é reforçado se verificarmos que a condenação da
personagem assenta mais na ausência de uma vida moral em conformidade com os preceitos
religiosos do que nos roubos praticados. O autor tem como objectivo a crítica à falsa
religiosidade do Sapateiro, porque é nas práticas religiosas que o Sapateiro busca argumentos
para a salvação. Confessar-se ouvir missa, comungar e dar esmolas são attos religiosos que
só fazem alcançar o céu àqueles que levam uma vida honesta e não era certamente o caso do
Sapateiro.

A linguagem e o estilo
Nível de língua
- Popular
- gíria na utilização de vocábulos relacionados com a actividade
- Corrente sobretudo na fala do Anjo

Processos de Cómico
a) de linguagem – “se esta é boa traquitana”
b) de carácter – “Como poderá isso ser, / confessado e comungado?”
c) de situação – “Ora eu me maravilho/ haverdes por grão peguilho/ quatro forminhas
cagadas/ que podem bem ir chantadas/ num cantinho desse leito.”

Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno

Você também pode gostar