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UNIVERSIDADE PAULISTA

ICH - CURSO DE PSICOLOGIA


DISCIPLINA DE ECOLOGIA HUMANA

CARACTERÍSTICAS E ORGANIZAÇÃO DE BIOMAS


Texto adaptado de Kormondy e Brown, 2002

Embora alguns ecólogos reconheçam dez ou mais biomas, iremos nos concentrar
em seis: a tundra, a floresta boreal ou de coníferas, a floresta decídua, os cerrados e
savanas, o deserto e a floresta pluvial tropical. Esta seqüência segue, mais ou menos, uma
direção ao sul, desde o pólo norte até o equador. Além disso, alguns dos biomas são
paralelos às linhas da latitude e, em alguns casos, o mesmo tipo de bioma tende a ser
encontrado nas mesmas latitudes ao redor da Terra. As distribuições da tundra e florestas de
coníferas no Velho e no Novo Mundo são, particularmente, exemplos bons deste fenômeno.

O Papel do Clima e do Solo na Distribuição dos Biomas

O clima, ou seja, a interação da temperatura e das chuvas que prevalecem por


períodos longos de tempo, tem o papel mais significativo sobre a determinação da
localização dos biomas. A temperatura está associada diretamente à latitude, sendo o norte
mais frio e o sul, mais quente, no hemisfério norte, com o reverso ocorrendo no hemisfério
sul. Grandes padrões de ventos, os quais estão associados às latitudes, são os responsáveis,
em larga escala, pela distribuição das precipitações. O tipo de solo também tem um papel
principal, mas menos crítico, sobre a distribuição dos biomas, primariamente graças à
interação com as plantas na ciclagem dos nutrientes.
Nos estudos paleoecológicos sobre sucessão ecológica, o padrão prevalecente de
vegetação no passado não é necessariamente o mesmo que existe hoje em um dado local,
conforme relatado a seguir.

A Distribuição de Biomas no Passado

De acordo com um grande estudo realizado por Watts (1979) sobre a vegetação dos
Apalaches centrais e sobre a planície de costa de New Jersey no momento maior extensão
das geleiras do período Wisconsin (cerca de 15.000 anos antes do presente), a tundra,
dominada por gramíneas, ocorria no centro da Pensilvânia. Ao mesmo tempo, a tundra,
dominada por gramíneas, cobria as montanhas mais altas dos Apalaches centrais, enquanto
o sul da Pensilvânia, New Jersey e o norte da Virgínia eram dominados pelas florestas de
tundra, consistindo de pequenas árvores e ervas altas. Florestas de árvores pequenas e de
pinheiros cobriam a Carolina do Norte e a do Sul e o norte da Geórgia. Árvores de folhas
grandes não eram a vegetação predominante nas costas e na península da Flórida. Esta
distribuição de biomas no Pleistoceno se encontra em grande contraste com a situação
atual, na qual a tundra está confinada às regiões árticas (e Alpinas) e as florestas decíduas
são o bioma prevalente na metade oriental dos Estados Unidos.
OS PRINCIPAIS BIOMAS DO MUNDO

Tundra

A Ecologia da Tundra Ártica. A tundra, que significa "planície pantanosa", fica,


em sua maior parte, ao norte da latitude 60°N e constitui cerca de 20% da América do
Norte, incluindo ao redor de 2,5 milhões de km 2 do Canadá, 2,0 milhões de km2 da
Groenlândia e 0,3 milhões de km2 do Alasca. Ela parece a cobertura de um sorvete sobre o
norte da Europa e da Ásia. Embora haja diferenças consideráveis de clima, cobertura de
gelo, solos, tamanho da flora e composição das comunidades vegetais, a tundra ártica pode
ser caracterizada pela ausência de árvores, pela predominância de plantas anãs (de 5-20 cm
de altura) e pela camada superior do solo, muito poroso e distinto, como resultado dos
congelamentos e drenagens desta terra pobre.
Também característica da tundra é a presença de solo permanentemente congelado
(permafrost) a uma profundidade de alguns centímetros até muitos metros. O permafrost
pode ser relativamente seco no caso de solos com grãos grandes ou amplamente cheios de
gelo no caso de solos menos porosos. A espessura do permafrost é de cerca de 400 metros
em Barrow, no Alasca, de 500-600 metros na região do delta do Rio Mackenzie e de 400-
650 metros ao longo de todo o alto ártico. A linha do permafrost é o principal limite do
crescimento das raízes das plantas, mas o controle imediato se dá através da profundidade
do solo no verão.
Os solos de tundra, acima do permafrost e dentro dele, são muito pobres em
nutrientes devido à taxa muito baixa de decomposição, resultado das temperaturas baixas.
Além das baixas temperaturas - os meses mais quentes apresentam médias de 10°C e os
mais frios, muito abaixo de 0°C -, a precipitação também é pequena; a média anual é de 12
cm e o mês com mais chuvas apresenta média de 2,5 cm. Durante os meses de inverno é
totalmente escuro, de dia e à noite.
A vegetação consiste de relativamente poucas espécies de gramíneas e de árvores
pequenas, sendo as últimas características de pântanos e de áreas parcamente irrigadas, bem
como de áreas de campo, com plantas com bagas, ervas de baixa altura e líquenes. Uma das
principais plantas características do ártico é a reindeer moss, um líquen.
Os principais animais herbívoros são o caribu (o cervo na Eurásia), alguns roedores
e os "lemmings". Carnívoros incluem a raposa do ártico e lobos. Pássaros característicos
são os "longspurs" (Calcarius sp.), os "plovers" (Charadrius sp) (os quais passam por
migrações tremendamente grandes), as corujas da neve e os "horned larks" (Alaudidae -
semelhantes a cotovias). Os répteis e os anfíbios são poucos ou inexistentes e insetos são
raros, com exceção de moscas e mosquitos durante o verão, quando podem ser
extremamente abundantes.
A Ecologia da Tundra Alpina. Áreas de montanhas altas, mesmo nos trópicos,
lembram a tundra em sua fisionomia geral e, assim, são conhecidas como tundras alpinas.
As últimas diferem, entretanto, pela ausência do permafrost e pela presença de uma melhor
irrigação e períodos de crescimento geralmente mais amplos. Briozoários e líquenes são
menos proeminentes e plantas com flores mais. Os líquenes são menos abundantes; árvores
pequenas e gramíneas são mais comuns. Alces, veados e ovelhas também são encontrados
pastando no verão; cabras da montanha, pikas (Ochotona sp - pequenos roedores) e
marmotas também são herbívoros comuns. Pássaros e insetos tendem a ser mais comuns e
diversificados do que na tundra ártica.
Humanos na Tundra. O bioma da tundra ártica tem sido ocupado por grupos
humanos há centenas de anos. Ele apresenta estressores formidáveis na forma de frio
extremo, nevascas e períodos longos de luz e escuro. Estes estressores também provocaram
a dispersão dos vegetais e, portanto, uma base pobre de recursos para o uso humano. Eles
também tornam a agricultura humana impossível. A ausência de árvores também tornou os
combustíveis e materiais de construção recursos escassos. Populações árticas, como muitos
dos grupos inuit, têm dependido fortemente de recursos marinhos para a alimentação, para
as vestimentas e para os combustíveis. Tradicionalmente, os inuit possuíam dietas que
continham todos os nutrientes necessários, embora alguns autores tenham especulado que
os níveis de cálcio e de vitamina C eram baixos. A caça e a pesca são as principais
atividades de subsistência. As nações industrializadas estão explorando recursos não-
renováveis, tais como o petróleo, nos ambientes árticos, e, assim, a economia internacional
tem se tornado uma consideração importante para os residentes.
Humanos em Montanhas Altas. Pessoas que habitam ambientes de grandes
altitudes se confrontam com o estresse do frio diurno e com a hipóxia, bem como com os
altos níveis de radiação ultravioleta e com a poeira. Eles também precisam lidar com
problemas severos de recursos: crescimento pífio de plantas devido aos estressores físicos,
erosão do solo, aridez e isolamento físico de outros povos, no caso de trocas comerciais.
A maioria das populações humanas nestes biomas se utilizam do pastoralismo como
a principal forma de subsistência. As pessoas criam lhamas, alpacas e ovelhas nos Andes,
enquanto o gado e os yaks são as principais crias nos rebanhos das populações do Himalaia
do Tibet. Estas populações, geralmente, têm proteína suficiente em suas dietas, mas podem
ser limitadas por suas necessidades energéticas.
Muitos ecossistemas de montanhas são caracterizados pela zonação vertical. Na
verdade, a transição entre a tundra alpina e a floresta boreal, a ser descrita a seguir, é
caracteristicamente abrupta, enquanto no ártico ela é gradual e de grandes dimensões,
chegando a cerca de 170 km. Ao se moverem para cima ou para baixo nas montanhas, as
pessoas podem, rapidamente, modificar a natureza de seu ambiente e, portanto, seus
recursos disponíveis. Nos locais nos quais as pessoas podem se utilizar desta diversidade
recursos, tanto através do acesso a diferentes zonas verticais como através do comércio, as
montanhas fornecem um ambiente rico. Este uso de zonas verticais caracterizou muitas das
culturas urbanas andinas, incluindo a inca, já que permitia o sustento de populações muito
densas.

O Bioma da Floresta Boreal

Ecologia do Bioma da Floresta Boreal. O bioma da floresta boreal, ou de


coníferas, também é conhecido como taiga e como "as grandes florestas do norte". Ela se
localiza amplamente entre as latitudes 45°N e 57°N, mas se estende para o sul em uma
porção mais alta da do leste dos Estados Unidos e em outros locais. Ela ocupa uma porção
substancial do norte da Europa e cerca de 80% do que antes era conhecido como a União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas na Ásia.
O clima vai de frio a gelado, com invernos longos e verões curtos, sendo que a
média de temperatura mensal varia de -10°C, no inverno, até 15°C, no verão. As
precipitações são maiores que aquelas observadas na tundra e ocorrem, principalmente, no
verão; a média anual é de cerca de 60 cm.
Embora os solos sejam, de certa forma, mais ricos em nutrientes do que aqueles da
tundra, eles são geralmente pobres, resultado do movimento de uma grande quantidade de
água sem uma movimentação compensatória da evaporação. Já que os nutrientes se movem
para longe do alcance das raízes, somente ácidos orgânicos permanecem e, assim, o solo
também tende a ser ácido. Devido à baixa taxa de decomposição das folhas em forma de
agulha da vegetação predominante, uma camada profunda de "serrapilheira", o acúmulo de
matéria orgânica animal e vegetal morta, é encontrada por todo o bioma.
A vegetação predominante é de plantas sempre verdes com folhas em forma de
agulha, sendo que os tipos particulares variam regionalmente. Por exemplo, as particulares
sempre verdes ao leste das Rochosas americanas são "spruces" (Bazzabia sp) e pinheiros,
com pinhas vermelhas e brancas e cicuta dominantes na região dos Grandes Lagos. O
"spruce" negro é predominante a oeste da baía de Hudson, assim como o são os "spruces"
pretos e brancos no Yukon e no Alasca. O "spruce" vermelho e o pinheiro bálsamo se
estendem de norte a sul na Geórgia, onde o último é substituído pelo pinheiro Fraser nas
montanhas do Apalache. Enquanto a vegetação predominante é de sempre verde, árvores
decíduas também ocorrem em áreas queimadas da porção nordeste americana do bioma e
em solos mais úmidos. As plantas também incluem orquídeas, blueberry e cranberry,
dentre outras.
Os mamíferos incluem alces americanos, ursos, cervos, lobos, marten (Mustelidae),
linces, lebres, tâmias, toupeiras e morcegos, e há uma considerável variedade de aves, tais
quais "nuthatches" (Sittidae), juncos e "warblers" (Sylviidae). Os anfíbios são relativamente
comuns nas partes mais ao sul, os répteis são raros. Uma grande variedade de insetos é
encontrada. Dentre eles, besouros de cascas e insetos de folhas como "sawflies" e
budworms (Neodiprion sp. — semelhantes a vespas).
Humanos no Bioma de Florestas Boreais. Grupos humanos que residem no bioma
das florestas boreais, como o dos pescadores árticos, não podem se utilizar da agricultura e
precisam lidar com mudanças sazonais marcantes e de temperaturas extremamente frias em
ciclos de claro e escuro. Além disso, há grande acúmulo de neve no inverno, o que pode
limitar a locomoção. Os recursos geralmente tendem a ser mais ricos do que aqueles
encontrados no bioma ártico, com muitas fontes animais e vegetais de alimento e
disponibilidade de madeira para combustível e para a construção. Os ecossistemas desses
biomas tendem a ser fragmentados, com misturas de diversas comunidades vegetais, de
lagos e rios, húmus, de áreas de líquenes e assim por diante. Os humanos precisam se
ajustar a estas fragmentações, já que recursos diferentes são encontrados em áreas distintas.
A variabilidade temporal das florestas boreais leva a desafios ecológicos para as
populações humanas. Além de lidar com as mudanças de temperatura que estão associadas
com a sazonalidade da disponibilidade de recursos, as pessoas precisam lidar com duas
épocas nas quais a locomoção é complicada e perigosa: a quebra do gelo (degelo) e
congelamento. Estes são os períodos do ano quando a superfície da água de rios e lagos
começa a degelar ou a congelar, respectivamente, e o gelo é muito fino para suportar o peso
de uma pessoa. Já que boa parte da área desse bioma é alguma forma de água de superfície,
as pessoas podem ter alguma dificuldade em obter recursos durante tais épocas.
Enquanto muitas populações humanas em florestas boreais são caçadoras-coletoras,
alguns derivam a maior parte de sua subsistência do pastoralismo. Os lapões da
Escandinávia ártica e subártica eram, e alguns ainda são, criadores tradicionais de renas.
Historicamente, os lapões eram caçadores de renas e, até mesmo hoje, seus animais são
criados, na maior parte do tempo, em liberdade. Na verdade, a introdução de meios efetivos
de transporte, como carros de neve, tem levado a uma diminuição do controle que as
pessoas possuem sobre seus rebanhos: os proprietários das renas vêem seus animais
somente em períodos esparsos. Os lapões fazem comércio com outros grupos, trocando
carne e peles por outros recursos necessários. Eles estão começando a se apropriar das
características dos rancheiros, em oposição às características dos pastoralistas, já que estão
crescentemente ligados aos sistemas econômicos nacionais e internacionais.

O Bioma das Florestas Temperadas Decíduas

Ecologia do Bioma das Florestas Temperadas Decíduas. O bioma de florestas


decíduas é o mais afetado pela habitação humana, primariamente porque, dentro de limites,
ele confinou a maior parte das populações por milênios, como conseqüência do clima mais
favorável. Este bioma ocupa a maior parte da metade leste dos Estados Unidos e da Ásia e
praticamente toda a Europa.
Embora o clima do bioma das florestas decíduas varie consideravelmente de norte a
sul e de leste a oeste, ele é geralmente moderado, com verões frios a quentes, com um
período definido de inverno, caracterizado pela neve e pelo congelamento no norte, e pelo
frio e pela chuva nas porções mais ao sul. A média anual de chuvas é de 80 cm a 150 cm.
As temperaturas mais quentes do verão resultam em uma decomposição mais rápida, assim,
menos "serrapilheira" é acumulada no chão da floresta e o solo é mais rico em nutrientes do
que nos biomas de floresta boreal e ártico.
A vegetação dentro deste bioma varia consideravelmente, com bordo, faia e
carvalho, junto ao algodão, ao olmo e ao salgueiro, que são dominantes em regiões
distintas. Sempre verdes como pinheiros, cicutas e cedros são comuns em partes deste
bioma. Diferentemente do bioma de floresta boreal, há uma abundância de ervas e arbustos
crescendo sob as árvores, resultado da radiação solar abundante que chega ao solo da
floresta no inicio da primavera, antes que as folhas das árvores cresçam.
Substituídos pelos humanos ao longo de muitos anos e restritos a porções do bioma
são encontrados grandes mamíferos, tais quais o urso negro, o alce americano, o leão da
montanha e o lobo. Outros mamíferos comuns incluem os cervos, as raposas brancas e as
vermelhas, os opossum (o único marsupial norte-americano), os raccoons, os ratos, os
esquilos e os tâmias. Há uma grande variedade de pássaros, o mesmo ocorrendo com
anfíbios, répteis e insetos.
Humanos no Bioma das Florestas Decíduas. Em tempos presentes, as populações
humanas, neste bioma, se utilizam de técnicas de agricultura intensiva para obter sua
subsistência, geralmente associadas à economia industrializada. Isto é certamente
verdadeiro para o leste americano e para a Europa, e a industrialização é crescente no leste
asiático. O uso de agricultura intensiva no bioma de florestas decíduas tem uma longa
história, o que torna difícil a identificação de exemplos de populações humanas que
utilizaram outros meios de subsistência neste bioma.
Uma das últimas regiões do bioma de florestas decíduas a se utilizar da agricultura
foi a região nordeste dos Estados Unidos. Na verdade, na época do contato europeu, a
agricultura ainda era, primariamente, um suplemento às atividades de forrageio. Estudos
arqueológicos demonstraram que a agricultura foi utilizada pela primeira vez no ano de
1000 a. C. Antes disso, os nativos americanos que residiam no nordeste dos Estados Unidos
caçavam cervos, perus selvagens, tartarugas, peixes, coletavam vários tipos de nozes, e os
grupos das costas coletavam frutos do mar. Na verdade, as nozes eram o principal alimento;
e o declínio das nozes na área norte deste bioma durante uma fase de frio, que se iniciou há
3000 AP, pode estar associado ao declínio de certas populações humanas. As nozes devem
ter tido uma importância especial porque podiam ser armazenadas e utilizadas no inverno.
A chegada da agricultura, vinda do sul, bem como do meio oeste, particularmente
do milho, mas incluindo também abóboras, feijões e girassóis, levou ao aumento das
populações humanas. Algumas das culturas deste tempo, tais como os owasco de Nova
Iorque e da Pensilvânia, possuíam populações relativamente grandes. Grandes centros
urbanos não foram encontrados na região antes do contato com os europeus, e os
arqueólogos continuam a debater se a região os teria desenvolvido como uma conseqüência
do aumento crescente da dependência na agricultura intensiva.
As condições do bioma de floresta decídua tornam a agricultura possível onde
temporadas de crescimento longas o bastante prevalecem. Os recursos do solo e da água
permitem a intensificação da agricultura sem que haja a degradação ambiental de longo
prazo. Isto não significa, necessariamente, que fatores ambientais no bioma causaram o
desenvolvimento da agricultura intensiva. Devemos olhar para fatores complexos da
história, para a difusão e para os atributos específicos das culturas locais, bem como para os
elementos ambientais, a fim de entendermos a associação entre este bioma e a agricultura
intensiva.
Os efeitos ambientais da intensificação da agricultura e da subseqüente
industrialização deste bioma são mais claros. Muitas das plantas e dos animais nativos
foram substituídos pelas habitações humanas com suas plantas e animais domesticados,
pelo concreto e pela poluição. Parece que todas as notícias são ruins; entretanto, o leste dos
Estados Unidos e a Europa observaram aumentos de áreas de florestas no final do século
XX. Porém, é improvável que estas novas florestas retenham as estruturas características
das florestas nativas anteriores aos distúrbios humanos.

O Bioma dos Campos

A Ecologia do Bioma dos Campos. Os campos ocupam uma porção significativa


da porção terrestre do planeta. As pradarias de gramíneas baixas ou as planícies do oeste
americano e as pradarias de gramíneas altas ao leste encontram seus semelhantes nas
estepes da Europa e da Ásia, nos llanos ou pampas da América do Sul e nos veldt ou
savanas do leste africano. Qualquer que seja o termo aplicado, este bioma é caracterizado
pela predominância de gramíneas baixas ou altas, sendo que a primeira forma ocorre em
climas mais secos, junto a ervas e árvores, particularmente em vales de rios.
Este bioma é mais seco que as florestas decíduas e boreais, e mais úmido que os
desertos. A maior parte de precipitação ocorre no final da primavera, no verão e no início
do outono; as temperaturas variam, embora sejam sempre mais baixas que 0°C, no inverno,
e muito quentes durante o verão, por toda a extensão do bioma.
Os solos dos campos são mais ricos do que os de todos os biomas e, portanto, são
mais férteis. A decomposição rápida da matéria orgânica é um dos principais fatores desta
riqueza; além disso, a alta taxa de evaporação traz estes nutrientes para próximo da
superfície e ao alcance das raízes das plantas. Estes nutrientes também executam balanço
com os ácidos orgânicos do solo, mais um fator do alto grau de fertilidade.
Os mamíferos nativos dominantes dos campos são pequenos herbívoros de tocas
como os cães de pradaria, os coelhos e as toupeiras. Dentre os herbívoros maiores, estão os
bisões, os antílopes e o alce, na América do Norte; o yak e o antílope, na Ásia; a zebra, o
wildebeest, o antílope e a gazela, na África; o tamanduá, os tatus e a capivara, na América
do Sul. Os carnívoros incluem o coiote, o lobo e os pumas, na América do Norte; os
leopardos e os leões, na África. A ausência generalizada de estratificação vertical provoca a
presença de menos espécies de aves, embora sejam encontrados gaviões que se alimentam
de roedores e vários pássaros. Insetos geralmente são mais limitados, mas, algumas vezes,
gafanhotos ocorrem em grande número e acabam com áreas enormes.
Humanos em Savanas e em Campos Temperados. As savanas geralmente são
referidas como os ecossistemas tropicais e subtropicais de campos. Os ecossistemas de
savana podem ser bem diferentes uns dos outros, mas todos compartilham um período seco
que limita o crescimento das plantas, sendo que esta época dura de 2,5 a 7,5 meses. As
savanas usualmente possuem árvores em localizações nas quais há água suficiente para
sustentá-las, mas, como notado, as gramíneas são os vegetais dominantes. As savanas
devem ter tido uma importância particular aos humanos, já que cientistas acreditam que
muito de nossa evolução (ao menos a evolução de nosso gênero) ocorreu em tais ambientes.
Alguns paleoantropólogos sugerem que os campos abertos, em oposição às savanas
"puras", podem ter sido os hábitats mais comuns dos primeiros hominídeos. As savanas de
hoje dia são exploradas, principalmente, por povos pastoralistas ou por rancheiros.
A adaptação humana aos ecossistemas de savana é usualmente dependente da
disponibilidade de água. Considerações cruciais são a duração da estação seca, a quantidade
anual de chuva e a previsibilidade do tempo e do local quando ocorrerão as chuvas. Nos
locais onde a chuva é suficiente, tanto em quantidade quanto em capacidade de sustentação,
as pessoas podem criar gado e desenvolver plantações. Nos locais em que a chuva não é
confiável e se mostra escassa, as pessoas podem ser duramente pressionadas na tentativa de
encontrar pastos para seus gados. Em geral, as pessoas precisam se ajustar à variação
sazonal de recursos e à sua imprevisibilidade ano a ano. Temporadas de muita seca podem
ser balanceadas por períodos particularmente úmidos e vice-versa. Talvez o maior desafio
adaptativo imposto às populações humanas seja a incerteza quanto às condições futuras.
Os campos temperados de hoje são os sítios das cestas de pão do mundo, onde os
principais grãos são plantados. Estes grãos são todos formas de gramíneas, tais como o
trigo, o milho, o arroz e a aveia.

O Bioma do Deserto

Ecologia do Bioma do Deserto. O deserto é tipicamente caracterizado por terras


permeadas de arbustos nos quais as plantas encontram-se dispersas com muito sole nu entre
elas. O "creosote bush", a planta dominante dos desertos do sudoeste dos Estados Unidos,
pode se apresentar em intervalos de espaço de 5 a 10 metros. Os desertos ocupam cerca de
um quinto da superfície da Terra e são encontrados em todos os continentes. Para
comparações de tamanho, o deserto do Saara tem aproximadamente o tamanho dos Estados
Unidos, e o grande deserto de Gobi, na Ásia, é ainda maior.
A aridez, em vez da temperatura, descreve melhor o clima dos desertos. A
precipitação é baixa e errática, geralmente menor que 25 cm por ano, sendo que a maior
parte ocorre nos meses de inverno. Em níveis mais extremos, o Saara recebe menos de 15
cm de chuva ao ano; sua porção central e o deserto ao norte do Chile recebem menos que
isso. A partir de uma perspectiva da temperatura, há desertos frios e quentes: os quentes
incluem o Saara, o Negev e o deserto arábico do Oriente Médio, o deserto da Austrália e os
de Mojave e Sonora, na América do Norte. O deserto da Grande Bacia norte-americana e as
porções ao norte do deserto de Gobi são exemplos de desertos frios. Em ambos os tipos de
desertos, as temperaturas do ar e do solo demonstram diferenças dramáticas entre a noite e
o dia. A temperatura do ar em um deserto quente pode chegar a 15°C à noite e a 40°C ao
meio-dia, enquanto a temperatura da superfície, no mesmo período, pode variar de 0°C a
65°C!
Os solos são geralmente arenosos e secos e, embora a decomposição possa ser
bastante rápida, há pouca matéria orgânica devido à vegetação esparsa. Como resultado, os
nutrientes da decomposição são geralmente levados pelo vento. Todavia, os solos são
relativamente ricos em nutrientes, embora algumas vezes repletos de sais.
As plantas sobrevivem em situações de deserto através de uma variedade de
adaptações que incluem, entre outras, a redução do tamanho das folhas e sua queda, o que
reduz a perda de água por evaporação; os sistemas de raízes se encontram próximos à
superfície, o que permite o acesso à água das chuvas; os ciclos de vida das plantas anuais
são "descompassados", a fim de que elas se acomodem ao período úmido curto, e, em
desertos de temperatura mais amena do sul, há o armazenamento de água por plantas como
cactos, uma propriedade de seus colóides protoplasmáticos. Plantas como as algas e os
líquenes literalmente secam e reduzem sua atividade metabólica ao mínimo; porém, são
aptas à recuperação rápida quando a água se torna disponível.
Os animais, com certeza, também se confrontam com o estresse da temperatura e da
aridez e desenvolveram um grande número de adaptações. Elas incluem a proteção contra a
desidratação através de um integumento impermeável (por exemplo, cobras, tartarugas e
lagartos), a conservação da água através da excreção de ácido úrico, que contém pouca
água, em vez da uréia (com muita água), e da redução da necessidade de ingestão de água
através da maximização do aproveitamento da água produzida no metabolismo. A maioria
dos mamíferos tende a ser noturna e muitos permanecem em tocas durante o calor do dia.
Alguns grandes animais do deserto possuem pêlos espessos que isolam o corpo do calor do
sol; outros, como os camelos, os quais não possuem locais de reserva de água em seus
corpos, podem perder cerca de 27% da água de seu corpo sem que haja danos, recuperando-
se em minutos, quando a água é disponível. Devido à sua temperatura mais elevada, as aves
são mais tolerantes ao calor do que os mamíferos; todavia, elas são mais ativas no início e
no final dos dias e, quando descansam, são encontradas em regiões de sombra e com as asas
afastadas do corpo. Os insetos são, em sua maioria, noturnos, sendo que o mais conhecido
deles é o gafanhoto noturno, o qual é o responsável pelas grandes "pragas", relatadas nos
textos bíblicos, que ocorreram no Egito durante o período de aprisionamento judeu, e pelas
que ocorreram na grande Bacia de Salt Lake durante os assentamentos pioneiros dos
mórmons.
Humanos nos Desertos. Como já foi notado, em geral os desertos são
caracterizados pelas temperaturas muito quentes e secas durante o dia e pelo frio durante as
noites. Mas é a relativa falta d'água que constitui o maior fator limitante para as populações
biológicas e, portanto, as comunidades tendem a ser pequenas, tanto na densidade quanto
na diversidade. Nos locais em que a água está presente, seja devido à chuva ou ao
transporte a partir de outras áreas pela superfície ou por fontes subterrâneas, o crescimento
das plantas pode ser extensivo, o que pode sustentar populações de animais um pouco mais
densas.
A adaptação humana aos desertos se baseia na habilidade de localizar e utilizar a
água. Isto pode compreender o aprendizado dos locais onde fontes ou águas naturais de
superfície podem ser encontradas. A adaptação também pode envolver o conhecimento dos
locais nos quais a água subterrânea pode ser obtida, por exemplo, através de poços. De
posse de uma tecnologia complexa, os humanos podem construir aquedutos ou tubulações
que trazem a água para áreas de deserto. Se grandes quantidades de água podem ser
utilizadas, os desertos podem sustentar populações humanas densas de forma bastante
confortável. Onde a água é de difícil obtenção, as populações humanas lidam com severos
desafios adaptativos.

O Bioma das Florestas Tropicais

A Ecologia do Bioma de Floresta Tropical. As florestas tropicais pluviais


ocorrem a 10° ou mais ao norte ou ao sul do equador nas Américas Central e do Sul, na
África central e oriental, no sudeste asiático, no leste indiano e no nordeste australiano,
além de ilhas oceânicas, geralmente dentro destas mesmas latitudes . Cerca de 40% da
massa tropical e subtropical da Terra é dominada por florestas abertas e fechadas: destas,
42% são florestas secas, 33% são florestas úmidas e somente 25% são de florestas tropicais
pluviais.
As florestas tropicais pluviais estão entre os ecossistemas mais antigos. Evidências
fósseis na Malásia e em muitos outros locais sugerem que elas têm existido continuamente
por mais de 60 milhões de anos. Elas possuem uma considerável significância ecológica
devido à sua influência sobre o clima, ao balanço de carbono e de poluentes atmosféricos e
aos seus diversos conjuntos de espécies, que representam grande potencial como novas
fontes de alimentos, de fibras e de produtos medicinais e industriais.
Em florestas tropicais pluviais a precipitação excede os 200 cm e é, geralmente,
bem distribuída ao longo do ano. A temperatura e a umidade são relativamente elevadas e
variam pouco anualmente, a média da temperatura é de 25°C.
A decomposição é muito rápida e os solos estão sujeitos à lixiviação pesada e,
assim, tendem a ser ácidos e pobres em nutrientes. A perda potencial de nutrientes é
compensada pela capacidade ótima das plantas de captá-los. O alto grau de lixiviação dos
solos, associado à sua química peculiar, geralmente promove uma qualidade de rocha
(laterito) quando exposto ao ar, o que impediu a agricultura do mundo ocidental de ser
aplicada nas florestas tropicais.
Embora as florestas tropicais ocupem apenas 7% da área de superfície da Terra, elas
contêm cerca da metade das espécies de todos os biomas do mundo. A flora é altamente
diversificada; por exemplo, 300 espécies diferentes de árvores foram encontradas em uma
área de 2,5 km2, uma diversidade sem paralelos em qualquer outro bioma. Elas também são
tipicamente estratificadas verticalmente em um dossel contínuo de árvores de 25 a 35
metros de altura, com uma camada emergente ininterrupta de árvores muito altas com bases
muito fortes. Há muitas árvores e arbustos mais baixos e muito bem desenvolvidos,
especialmente próximos a áreas abertas. Orquídeas epífitas e bromeliáceas, bem como
trepadeiras, são muito características, assim como o são as samambaias e as palmeiras. A
maior parte das plantas é perene, com folhas grandes, escuras e grossas.
Como no caso das plantas, há uma grande variedade de animais nas florestas
tropicais; por exemplo, 20.000 tipos diferentes de insetos foram encontrados em uma área
de 15 km2 na zona do Canal do Panamá (há apenas algumas centenas em toda a França!). A
maioria dos animais, como macacos, esquilos voadores, iguanas, lagartixas, cobras e, é
claro, aves, habita as camadas superiores da vegetação, em vez de viver no solo. Formigas,
borboletas, mariposas e gafanhotos também são comuns nas árvores. Dentre os seres do
solo estão os akapi (uma girafa primitiva), os tamanduás, os antílopes, as preguiças, os
elefantes e os rinocerontes.
Os Humanos nas Florestas Tropicais Pluviais. As florestas tropicais apresentam
desafios ambientais muito mais distintos às populações humanas do que os outros biomas.
As comunidades das florestas pluviais são caracterizadas pela grande diversidade e são
altamente estruturadas, com muita verticalidade. As pessoas são expostas ao calor úmido, a
parasitas e a outros agentes estressores. O crescimento dos vegetais é fantástico e a água,
abundante. Os recursos alimentícios superficialmente parecem abundantes, mas eles podem
ser de difícil obtenção para alguns grupos humanos. Por exemplo, muitos dos recursos
comestíveis se encontram acima do solo, o que os torna de difícil obtenção para animais
não-arbóreos, como os humanos. Alguns ecólogos humanos afirmam que é difícil para
grupos caçadores-coletores humanos, em florestas tropicais, obterem energia suficiente a
partir dos alimentos ou para horticultores obterem proteína de qualidade e em quantidade
suficientes. Em muitas áreas de florestas tropicais, caçadores-coletores e horticultores
desenvolveram relações de troca, nas quais proteínas e alimentos energéticos são
negociados.
Os nutrientes do solo são os recursos-chave para muitas comunidades das florestas
tropicais. Os solos tendem a ser pobres nesse bioma porque os detritos orgânicos
rapidamente decompostos são captados pela vegetação densa e a lixiviação provocada pela
chuva remove os nutrientes, formando solos lateríticos, duros e avermelhados. O clímax
das florestas tropicais tem muitas camadas verticais de plantas que ajudam a proteger o solo
frágil dos efeitos de lixiviação da chuva, mas os solos podem ser rapidamente degradados
quando a floresta é aberta. Roças cultivadas geralmente mimetizam as florestas tropicais
por conterem diversas camadas verticais de cultígenos. Tentativas de abertura de áreas
amplas da floresta tropical para a prática de agricultura intensiva têm levado
freqüentemente ao desastre, com os solos sofrendo da degradação de longo prazo.
Como o que ocorre na maioria dos biomas, as atividades humanas têm deixado
marcas em áreas vastas das florestas pluviais que são consideradas atualmente como
maduras. Por exemplo, estudos realizados na Venezuela e no Panamá documentam que o
milho foi cultivado em locais onde hoje há florestas tropicais.

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