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DISCIPLINA DE ECOLOGIA

CURSO TÉCNICO INTEGRADO EM MEIO AMBIENTE


08 - Biomas terrestres e biomas aquáticos
Prof. Marcelo Loer Bellini Monjardim Barboza
Os biomas terrestres são classificados pelas principais formas de
crescimento de suas plantas
Grupos de plantas adaptadas ao deserto podem ser descendentes de ancestrais não
aparentados; podem possuir aparência semelhante porque evoluíram sob forças
seletivas similares, fenômeno conhecido como convergência evolutiva, a qual pode ser
observada em muitos organismos.

Stenocereus thurberi Euphorbia virosa


Os biomas terrestres são classificados pelas principais formas de
crescimento de suas plantas
As regiões geográficas que contêm comunidades compostas por organismos com
adaptações similares são denominadas biomas. Em virtude da convergência evolutiva, os
ecossistemas terrestres podem ser classificados pelas formas das plantas dominantes
associadas a padrões distintos de temperatura e precipitação sazonais. Em ecossistemas
aquáticos, os principais produtores com frequência não são plantas, mas algas. Como
resultado, os biomas aquáticos não são facilmente caracterizados pelas formas de
crescimento dos produtores dominantes, mas por padrões distintos de profundidade,
fluxo e salinidade.
Os biomas terrestres são classificados pelas principais formas de
crescimento de suas plantas
Os biomas proporcionam pontos de referência convenientes para a comparação dos
processos ecológicos ao redor do globo, o que torna o seu conceito uma ferramenta útil
para compreensão de estrutura e o funcionamento de grandes sistemas ecológicos.
Assim como em todos os modos de classificação, ocorrem exceções; afinal, os limites
entre os biomas podem ser incertos e nem todas as formas de crescimento das plantas
correspondem ao clima da mesma maneira. As árvores do eucalipto australiano, por
exemplo, formam florestas sob condições climáticas que sustentam apenas arbustos ou
campos em outros continentes. Finalmente, as comunidades de plantas refletem outros
fatores além da temperatura e da precipitação. A topografia, os solos, o fogo, as
variações sazonais no clima e a herbivoria podem todos afetar as comunidades de
plantas.
Os nove biomas terrestres principais
Os nove biomas terrestres principais
Diagramas climáticos
Para visualizar os padrões de temperatura e precipitação associados a determinados
biomas, são utilizados diagramas climáticos: gráficos que mostram temperatura e
precipitação médias mensais de um lugar específico na Terra.
Tundra
A tundra é o bioma mais frio, caracterizado por uma extensão sem árvores sobre um
solo permanentemente congelado (permafrost), o qual descongela até uma
profundidade de 0,5 a 1,0 m durante a breve estação de crescimento do verão. A
precipitação anual em geral é inferior e, com frequência, muito inferior a 600 mm;
entretanto, nas áreas mais baixas, nas quais o permafrost impede a drenagem, os solos
podem permanecer saturados com água durante a maior parte da estação de
crescimento.
Tundra
Floresta boreal
Estendendo-se por um amplo cinturão centralizado aproximadamente a 50° N na
América do Norte e 60° N na Europa e na Ásia, encontra-se a floresta boreal, por vezes
denominada taiga, um bioma densamente ocupado por árvores com acículas,
apresentando uma curta estação de crescimento e invernos rigorosos.
A temperatura anual média é inferior a 5°C, e a precipitação anual, em geral, varia
entre 40 e 1.000 mm. Em virtude da baixa evaporação, os solos são úmidos durante a
maior parte da estação de crescimento. A vegetação é composta por faixas densas e
aparentemente intermináveis de árvores altas de acículas perenes, de 10 a 20 m de
altura, na maior parte espruces e abetos. Por causa das baixas temperaturas, a
serapilheira vegetal se decompõe muito lentamente e se acumula na superfície do solo,
formando um dos maiores reservatórios de carbono orgânico sobre a Terra. A
serapilheira de acículas produz altos níveis de ácidos orgânicos, de modo que os solos
são ácidos, fortemente podzolizados e geralmente de baixa fertilidade.
Floresta boreal
Floresta pluvial temperada
O bioma de floresta pluvial temperada é conhecido por temperaturas amenas e
precipitação abundante, sendo dominado por florestas perenes. Essas condições
decorrem das correntes oceânicas quentes próximas. Esse bioma é mais extenso perto da
costa do Pacífico, no noroeste da América do Norte e no sul do Chile, na Nova Zelândia e
na Tasmânia. Os invernos amenos e chuvosos e os verões nebulosos criam condições que
suportam as florestas perenes. Na América do Norte, essas florestas são dominadas ao
sul pela sequoia-vermelha costeira (Sequoia sempervirens) e ao norte pelo
abeto-de-douglas. Essas árvores têm tipicamente 60 a 70 m de altura e podem crescer
até mais de 100 m.
O registro fóssil mostra que essas comunidades de plantas são muito antigas e
remanescentes de florestas que eram muito mais extensas há 70 milhões de anos.
Diferentemente das florestas pluviais tropicais, as temperadas em geral contêm poucas
espécies.
Floresta pluvial temperada
Floresta sazonal temperada
O bioma de floresta sazonal temperada ocorre sob condições de temperatura e
precipitação moderadas e é dominado por árvores decíduas. No inverno, porém, as
temperaturas podem ser inferiores ao ponto de congelamento nesse bioma. As
condições ambientais flutuam muito mais do que nas florestas pluviais temperadas
porque não se beneficiam dos efeitos moderadores das águas oceânicas quentes
próximas. Na América do Norte, a forma dominante de crescimento das plantas é a de
árvores decíduas, que perdem suas folhas todos os outonos e que incluem o bordo, a
faia e o carvalho. Estende-se pelo leste dos EUA e sudeste do Canadá, e também está
amplamente distribuído na Europa e no leste da Ásia. Esse bioma não é comum no
hemisfério Sul, onde a maior proporção de superfície oceânica em relação à terra
modera as temperaturas de inverno em altas altitudes e impede o congelamento. A
precipitação normalmente excede a evaporação e a transpiração; consequentemente, a
água tende a descer através dos solos e é drenada da paisagem como água subterrânea e
como riachos e rios de superfície. Os solos, com frequência, são podzolizados, tendem a
ser discretamente ácidos e moderadamente lixiviados, e contêm matéria orgânica em
Floresta sazonal temperada
abundância. A vegetação frequentemente inclui uma camada de espécies de árvores
menores e arbustos debaixo das árvores dominantes, bem como plantas herbáceas no
chão da floresta. Muitas dessas herbáceas completam o seu crescimento e florescem no
início da primavera, antes que as folhas das árvores tenham brotado totalmente.
As partes mais quentes e mais secas do bioma de floresta sazonal temperada,
especialmente onde os solos são arenosos e pobres em nutrientes, tendem a
desenvolver florestas de acículas dominadas por pinheiros. O mais importante desses
ecossistemas na América do Norte são as florestas de pinheiros das planícies costeiras do
Atlântico e do Golfo nos EUA; também existem florestas de pinheiros em elevações mais
altas no oeste dos EUA; devido ao clima quente no sudeste do país, ali os solos
normalmente são pobres em nutrientes. A baixa disponibilidade de nutrientes e água
favorece as árvores de acículas perenes, que resistem à dessecação e perdem nutrientes
lentamente, porque retêm suas acículas por vários anos. Os solos nesse bioma tendem a
ser secos, e incêndios são frequentes, embora a maioria das espécies seja capaz de
resistir aos danos do fogo. A floresta sazonal temperada foi um dos primeiros biomas
que os colonizadores europeus na América do Norte usaram para a agricultura.
Floresta sazonal temperada
Bosque/arbusto
O bioma de bosque/arbusto é caracterizado por verões quentes e secos e invernos
amenos e úmidos, uma combinação que favorece o crescimento de gramíneas e arbustos
tolerantes às secas. Como esse tipo de clima é encontrado em torno da maior parte do
Mar Mediterrâneo, ele é frequentemente denominado clima mediterrâneo,
independentemente de onde efetivamente ocorra. Possui nomes regionais muito
diferentes, incluindo: chaparral, no sul da Califórnia; matorral (em espanhol), na
América do Sul; fynbos, no sul da África; e maquis, na área que circunda o Mar
Mediterrâneo.
Embora exista uma estação de crescimento de 12 meses, o crescimento das plantas
é limitado pelas condições secas no verão e pelas temperaturas baixas no inverno. Por
isso, esse bioma sustenta uma vegetação arbustiva perene e densa, de 1 a 3 m de altura,
com raízes profundas e folhagem resistente à seca. As folhas pequenas e duradouras das
plantas típicas do clima mediterrâneo conferiram a elas o rótulo de vegetação esclerófila
(“de folhas duras”). Os incêndios são frequentes e a maioria das plantas tem sementes
ou coroas de raízes resistentes ao fogo, que brotam novamente logo após um incêndio.
Bosque/arbusto
Campo temperado/deserto frio
O bioma de campo temperado/deserto frio é caracterizado por verões quentes e
secos e invernos frios e rigorosos, sendo dominado por gramíneas, plantas florescentes
não lenhosas e arbustos adaptados à seca. O crescimento das plantas é limitado pela
falta de precipitações no verão e por temperaturas frias no inverno. O bioma também é
conhecido por diferentes nomes ao redor do mundo, incluindo pradarias, na América do
Norte, pampas, na América do Sul, e estepes, no leste da Europa e na Ásia central.
As formas de plantas dominantes nos campos temperados são gramíneas e espécies
não lenhosas com flores, que estão bem adaptadas aos incêndios frequentes. A
precipitação varia amplamente nesse bioma. Por exemplo, no limite leste das pradarias
norte-americanas, a precipitação anual pode ser de 1.000 mm. Nessas áreas, as
gramíneas podem crescer até mais de 2 m de altura e são denominadas pradarias de
gramíneas altas. Até existe umidade suficiente nessas regiões para sustentar o
crescimento de árvores, mas os incêndios frequentes impedem que as árvores se tornem
um componente dominante desse bioma. Conforme se move para oeste, a precipitação
anual cai para 500 mm ou menos. Nessas áreas, as gramíneas em geral não crescem mais
do que 0,5 m e são denominadas pradarias de gramíneas baixas.
Campo temperado/deserto frio
Como a precipitação não é frequente, os detritos orgânicos não se decompõem
rapidamente, e isso torna os solos ricos em matéria orgânica. Além disso, a baixa acidez
dos solos significa que eles não são fortemente lixiviados e tendem a ser ricos em
nutrientes.
Ainda mais a oeste na América do Norte, a precipitação anual cai abaixo de 250 mm,
e os campos temperados se transformam em desertos frios, também conhecidos como
desertos temperados. Nos EUA, o deserto frio se estende ao longo da maior parte da
Grande Bacia, que se situa na sombra de chuva da Serra Nevada e da Cordilheira das
Cascatas.
Na parte norte da região, a planta dominante é a artemísia, enquanto, em direção
ao sul e em solos razoavelmente mais úmidos, predominam juníperos e árvores de
pinhão amplamente espaçados, que formam bosques abertos com árvores com menos
de 10 m de altura e coberturas esparsas de gramíneas.
Nos desertos frios, a evaporação e a transpiração excedem a precipitação durante a
maior parte do ano, de modo que os solos são secos. Incêndios não são frequentes
porque o hábitat produz pouca matéria orgânica para a combustão; entretanto, devido à
Campo temperado/deserto frio
baixa produtividade das comunidades de plantas, o pastejo pode exercer forte pressão
sobre a vegetação e até mesmo favorecer a persistência dos arbustos, que não são bons
para o forrageio. De fato, muitos campos no oeste dos EUA e em outros locais no mundo
foram convertidos em desertos por causa do pastejo excessivo.
Florestas pluviais tropicais
As florestas pluviais tropicais situam-se entre 20° N e 20° S a partir do Equador, são
quentes e chuvosas e caracterizadas por diversos estratos de vegetação exuberante. Elas
têm uma copa contínua de árvores com 30 a 40 m, incluindo emergentes que
ocasionalmente alcançam 55 m. Árvores mais baixas e arbustos formam, abaixo da copa,
um estrato conhecido como sub-bosque, que também é composto de epífitas e
trepadeiras em abundância.
A diversidade das espécies é maior nas florestas pluviais tropicais do que em
qualquer outro local na Terra. Esse bioma é encontrado em grande parte da América
Central, na Bacia Amazônica, no Congo, no sul da África Ocidental, no lado leste de
Madagascar, no Sudeste Asiático e na costa nordeste da Austrália. Entretanto, em muitos
desses locais, grande parte da floresta pluvial foi destruída para a obtenção de madeira e
para abrir espaço para a agricultura.
Florestas pluviais tropicais
Os climas que sustentam as florestas pluviais tropicais são sempre quentes e
recebem no mínimo 2.000 mm de precipitação durante o ano, raramente com menos de
100 mm durante qualquer mês. O clima desse bioma exibe dois picos de precipitação
centrados nos equinócios, que correspondem aos períodos em que a zona de
convergência intertropical passa sobre o Equador.
Seus solos são tipicamente antigos e profundamente intemperizados por causa da
alta precipitação. Como são relativamente desprovidos de húmus e argila, assumem a
coloração avermelhada dos óxidos de alumínio e ferro e retêm poucos nutrientes. Esse é
o processo de laterização. Apesar da inadequada capacidade de esses solos reterem
nutrientes, a produtividade biológica por unidade de área das florestas pluviais tropicais
excede a de qualquer outro bioma terrestre. Além disso, a biomassa viva é maior que a
de todos os outros biomas, com exceção das florestas pluviais temperadas. Esse enorme
crescimento é possível porque as altas temperaturas ininterruptas e a umidade
abundante causam a rápida decomposição da matéria orgânica, e a vegetação
imediatamente assimila os nutrientes liberados.
Florestas pluviais tropicais
A rápida ciclagem dos nutrientes sustenta a alta produtividade da floresta pluvial,
mas também torna o seu ecossistema extremamente vulnerável a perturbações. Quando
as florestas pluviais tropicais são derrubadas e queimadas, muitos dos nutrientes são
removidos nos troncos ou sobem na forma de fumaça. Os solos vulneráveis são
rapidamente erodidos e preenchem os riachos com silte. Em muitos casos, o ambiente é
rapidamente degradado, e a paisagem se torna improdutiva.
Florestas pluviais tropicais
Florestas sazonais tropicais/savanas
As florestas sazonais tropicais estão localizadas, em sua maioria, entre 10° N e 10° S
a partir do Equador. Essas regiões apresentam temperaturas quentes e, à medida que a
zona de convergência intertropical se move durante o ano, apresentam estações
pronunciadamente úmidas ou secas. Como as florestas sazonais tropicais têm
preponderância de árvores decíduas que se desfolham durante a estação seca, esse
bioma por vezes é denominado floresta decídua tropical. Nas áreas em que a estação
seca é mais longa e mais severa, a vegetação se torna mais baixa e desenvolve espinhos
para proteger as folhas contra os animais pastadores. Quando ocorrem períodos secos
ainda mais longos, a vegetação de floresta seca se transforma em floresta espinhosa e,
finalmente, em savanas, que são paisagens abertas que contêm gramíneas e árvores
ocasionais, incluindo acácias e baobás.
O bioma de floresta sazonal tropical/savana ocorre na América Central, na costa do
Atlântico da América do Sul, na África Subsaariana, no Sudeste Asiático e no noroeste da
Austrália. Incêndios e pastejo desempenham papéis importantes na manutenção das
características desse bioma, pois, sob tais condições, as gramíneas conseguem persistir
Florestas sazonais tropicais/savanas
melhor do que outros tipos de vegetação. Desse modo, quando o pastejo e os incêndios
são evitados dentro de um hábitat de savana, uma floresta seca frequentemente começa
a se desenvolver; então, assim como nos ambientes tropicais mais úmidos, os solos não
retêm bem os nutrientes, mas as temperaturas quentes favorecem a rápida
decomposição. Isso proporciona uma rápida reciclagem dos nutrientes no solo, os quais
as árvores conseguem captar rapidamente e utilizar para o crescimento e a reprodução.
Essa rápida ciclagem também torna esse bioma um local atrativo para a agricultura e a
criação de gado. Na costa do Pacífico da América Central e na costa do Atlântico da
América do Sul, por exemplo, mais de 99% desse bioma foram convertidos em
agricultura.
Florestas sazonais tropicais/savanas
Desertos subtropicais
Os desertos subtropicais são caracterizados por temperaturas quentes, precipitação
escassa, estações de crescimento longas e vegetação esparsa. Também conhecidos como
desertos quentes, eles se desenvolvem entre 20° e 30° ao norte e ao sul do Equador, em áreas
associadas ao ar quente que desce das células de Hadley. Os desertos subtropicais incluem: o
Deserto de Mojave, na América do Norte; o Deserto do Saara, na África; o Deserto da Arábia,
no Oriente Médio; e o Grande Deserto de Vitória, na Austrália.
Devido à baixa precipitação, os solos dos desertos subtropicais são rasos, com pH neutro
e praticamente desprovidos de matéria orgânica. Enquanto as artemísias predominam nos
desertos frios da Grande Bacia, os arbustos creosotos (Larrea tridentata) dominam os
desertos subtropicais das Américas. Locais mais úmidos sustentam uma profusão de cactos
suculentos, arbustos e pequenas árvores, como a mesquita e o palo-verde (Cercidium
microphyllum).
A maioria dos desertos subtropicais recebe chuvas de verão, após as quais muitas plantas
herbáceas brotam a partir de sementes dormentes, crescem rapidamente e se reproduzem
antes que os solos ressequem novamente. Poucas plantas nos desertos subtropicais são
tolerantes ao congelamento, e a diversidade das espécies em geral é muito maior do que em
terrenos áridos temperados.
Desertos subtropicais
Rios e riachos
São caracterizados por água doce corrente e geralmente são denominados sistemas
lóticos. Embora não exista uma especificação exata para determinar as diferenças na
classificação entre um riacho e um rio, em geral, riachos, também denominados
córregos, são canais estreitos de água doce com fluxo rápido, enquanto rios são canais
largos de água doce com fluxo lento. À medida que os riachos descem a partir de suas
nascentes, eles se unem a outros riachos e finalmente aumentam o suficiente para que
sejam considerados um rio. Riachos e alguns rios normalmente são margeados por uma
zona ripária, que é uma faixa de vegetação terrestre influenciada por alagamentos
sazonais e pela elevação de lençóis freáticos.
À medida que se move rio abaixo, a água flui mais lentamente e se torna mais
quente e mais rica em nutrientes. Sob essas condições, os ecossistemas em geral se
tornam mais complexos e produtivos.
Em geral, os riachos sustentam menos espécies do que outros biomas aquáticos, e
pequenos riachos normalmente são sombreados e pobres em nutrientes, o que limita a
produtividade de algas e outros organismos fotossintéticos. Desse modo, grande parte
Rios e riachos
do conteúdo orgânico dos ecossistemas de riachos depende de entradas alóctones de
matéria orgânica, como folhas, que vêm de fora do ecossistema.
Os sistemas lóticos são extremamente sensíveis à modificação em seu fluxo de água
causada pelas represas. Nos EUA, dezenas de milhares delas – construídas para controlar
enchentes, proporcionar água para a irrigação ou gerar eletricidade – interrompem o
fluxo dos riachos, além de alterarem a temperatura da água e as taxas de sedimentação.
Normalmente, a água localizada antes das represas se torna mais quente, e o fundo dos
riachos originais fica preenchido por silte, que destrói o hábitat de peixes e outros
organismos aquáticos, uma vez que a água das grandes represas liberada rio abaixo
normalmente tem baixas concentrações de oxigênio dissolvido. A utilização de represas
para o controle de enchentes altera os ciclos sazonais naturais de alagamentos, que são
necessários para a manutenção de muitos tipos de hábitats ripários em planícies aluviais.
As represas também interrompem o movimento natural dos organismos aquáticos rio
acima e rio abaixo, fragmentando os sistemas dos rios e isolando populações.
Rios e riachos
Lagoas e lagos
Lagoas e lagos são biomas aquáticos caracterizados por água doce parada, com no
mínimo alguma área de água profunda o bastante para impedir que as plantas se elevem
acima da superfície, embora não exista uma distinção clara entre lagoas e lagos, as
lagoas são menores.
Muitos lagos e lagoas foram formados à medida que as geleiras retrocederam,
escavando bacias e deixando para trás depósitos glaciais contendo blocos de gelo que
finalmente derreteram. Os Grandes Lagos da América do Norte se formaram em bacias
glaciais, preenchidas até 10.000 anos atrás por gelo espesso. Os lagos também são
formados em regiões geologicamente ativas, como o Grande Vale do Rift da África, onde
o movimento vertical de blocos da crosta terrestre criou bacias nas quais a água se
acumula. Grandes vales de rios, como os dos rios Mississippi e Amazonas, têm lagos
chifre de boi, que são amplas curvas do que já foi outrora um meandro de um rio,
interrompido por alterações no canal principal.
Os lagos podem ser subdivididos em diversas zonas ecológicas, cada uma com
condições físicas distintas. A zona litoral é a área superficial ao redor das margens de um
Lagoas e lagos
lago ou de uma lagoa e contém vegetação enraizada, como lírios-d’água e
orelhas-de-veado. A água aberta além da zona litoral é a zona limnética (ou pelágica), na
qual os organismos fotossintéticos dominantes são algas flutuantes, ou fitoplâncton.
Lagos muito profundos também têm uma zona profunda, que não recebe luz solar por
causa de sua profundidade. A ausência de fotossíntese e a presença de bactérias que
decompõem os detritos no fundo do lago fazem com que a zona profunda apresente
concentrações muito baixas de oxigênio. Os sedimentos no fundo dos lagos e das lagoas
constituem a zona bentônica ou bêntica, que proporciona hábitat para animais e
microrganismos que se enterram.
● Zona litoral - Área rasa nas bordas de um lago ou lagoa que contém vegetação enraizada.
● Zona limnética - Água aberta além da zona litoral, na qual os organismos fotossintéticos
dominantes são algas flutuantes. Também denominada zona pelágica.
● Zona profunda - Área em um lago que é muito profunda para receber luz solar.
● Zona bentônica - Área composta pelos sedimentos no fundo dos lagos, lagoas e oceanos.
Também denominada zona bêntica.
Lagoas e lagos
Lagoas e lagos
Circulação em lagoas e lagos:

Embora os lagos e as lagoas possam ser divididos em quatro zonas com base na
proximidade da margem e na quantidade de penetração de luz, a coluna d’água também
pode ser classificada de acordo com a temperatura. Na maioria dos lagos e das lagoas em
regiões temperadas e polares, as diferenças de temperatura da água formam camadas.
A água de superfície, conhecida como epilímnio, pode apresentar uma temperatura
diferente da água mais profunda, conhecida como hipolímnio. Entre essas duas regiões
de temperatura, encontra-se a termoclina, que se localiza em profundidade
intermediária e sofre mudança brusca na temperatura ao longo de uma distância
relativamente curta em termos de profundidade. A termoclina atua como uma barreira
para a mistura entre o epilímnio e o hipolímnio.
A maior parte da produção em um lago ocorre no epilímnio, onde a luz solar é mais
intensa. O oxigênio produzido pela fotossíntese e aquele que entra no lago pela interface
Lagoas e lagos
Circulação em lagoas e lagos:

água/atmosfera mantêm o epilímnio bem aerado e, portanto, adequado à vida animal.


Entretanto, durante a estação de crescimento, as plantas e as algas frequentemente
esgotam o suprimento de nutrientes minerais dissolvidos no epilímnio, e isso reduz o seu
crescimento.
Lagoas e lagos
Circulação em lagoas e lagos:

No hipolímnio, que pode incluir a zona limnética inferior e a zona profunda, as


bactérias continuam a decompor a matéria orgânica, mas a diminuição da intensidade da
luz causa redução na fotossíntese. Como resultado, o oxigênio é utilizado mais
rapidamente do que é produzido, e isso leva a condições anaeróbicas. Existe um
suprimento particularmente pequeno de oxigênio no fundo de lagos produtivos que
geram matéria orgânica abundante no epilímnio.
Lagos na zona temperada sofrem mudanças de temperatura com as estações, as
quais provocam alterações na densidade da água, que, por sua vez, ocasionam a mistura
da água superficial com a profunda, a água se torna mais densa à medida que se resfria
até 4°C e, em seguida,menos densa quando se resfria abaixo de 4°C. Durante o inverno
em climas frios, a água mais fria dos lagos (0°C) situase na superfície logo abaixo do gelo,
enquanto a água ligeiramente mais quente e mais densa (4°C) desce para o fundo.
Lagoas e lagos
Circulação em lagoas e lagos:

No início da primavera, o Sol aquece gradualmente o lago; assim, à medida que a


temperatura da superfície aumenta e se aproxima dos 4°C, a água aquecida pelo Sol
afunda para as camadas mais frias imediatamente abaixo e começa a se misturar. Ao
mesmo tempo, os ventos provocam correntes de superfície, que fazem a água do fundo
subir de modo semelhante às correntes de ressurgência nos oceanos. A mistura vertical
da água do lago que ocorre no início da primavera e que é auxiliada pelos ventos que
direcionam as correntes de superfície é conhecida como circulação (turnover) de
primavera. Essa mistura leva os nutrientes dos sedimentos no fundo até a superfície e o
oxigênio da superfície até as profundezas, resultando em rápido crescimento de
fitoplâncton ‒ algas que flutuam pela coluna d’água e são a principal fonte de alimento
dos herbívoros.
Lagoas e lagos
Circulação em lagoas e lagos:
No final da primavera e no início do verão, as camadas superficiais da água ganham
calor mais rapidamente do que as mais profundas. Neste momento, é criada a
termoclina. Após ela estar bem estabelecida, as águas de superfície e profundas deixam
de se misturar porque a água superficial mais quente e menos densa flutua sobre a mais
fria e mais densa abaixo, condição conhecida como estratificação. Durante o outono, a
temperatura das camadas superficiais do lago diminui; então, à medida que esta água se
torna mais densa do que a água subjacente, ela começa a afundar. A mistura vertical que
ocorre no outono e que é auxiliada pelos ventos que criam as correntes de superfície é
denominada circulação (turnover) de outono. Semelhante à circulação de primavera, a
de outono leva o oxigênio até as águas profundas e os nutrientes até a superfície. A
infusão dos nutrientes nas águas da superfície durante o outono pode causar uma
segunda explosão no crescimento de fitoplâncton. Essa mistura persiste até o final da
estação, até que a temperatura na superfície do lago caia abaixo de 4°C e a estratificação
de inverno se estabeleça.
Lagoas e lagos
Circulação em lagoas e lagos:

A circulação de primavera e de outono são típicas de lagos em regiões de climas


temperados porque esses lagos são sujeitos a invernos frios e verões quentes. A
sazonalidade da mistura vertical é muito menos drástica nos lagos que não são expostos
a mudanças tão intensas de temperatura. Em climas mais quentes, as temperaturas da
água não caem abaixo de 4°C; como resultado, esses lagos não se estratificam no
inverno, e muitos têm apenas um evento de mistura a cada ano, após a estratificação do
verão.
Alagados de água doce
São biomas aquáticos que contêm água doce parada, ou solos saturados com água
doce durante pelo menos uma parte do ano, e que são suficientemente rasos para
apresentar uma vegetação emergente em todas as profundidades. A maioria das plantas
que crescem nos alagados consegue tolerar baixas concentrações de oxigênio no solo;
muitas são especializadas para essas condições anóxicas e não crescem em nenhum
outro local.
Os alagados de água doce incluem pântanos (swamps), charcos (marshes) e
pântanos temperados (bogs).
Os pântanos contêm árvores emergentes; alguns dos mais conhecidos são o
Pântano de Okefenokee, na Geórgia e na Flórida, e o Pântano Great Dismal, na Virgínia e
na Carolina do Norte. Os charcos apresentam vegetação não lenhosaemergente, como as
tifas; alguns dos maiores no mundo incluem os Everglades, na Flórida, e o Pantanal do
Brasil, da Bolívia e do Paraguai. Diferentemente dos pântanos e charcos, os pântanos
temperados são caracterizados por águas ácidas e contêm uma diversidade de plantas,
incluindo musgos esfagno e árvores atrofiadas, que são especialmente adaptadas para
Alagados de água doce
essas condições. Alguns dos maiores pântanos temperados são encontrados no Canadá,
no norte da Europa e na Rússia.
Os alagados de água doce proporcionam hábitats importantes para uma ampla
diversidade de animais, notavelmente aves aquáticas e estágios larvais de muitas
espécies de peixes e invertebrados característicos de águas abertas. Os sedimentos dos
alagados imobilizam substâncias possivelmente tóxicas ou poluentes dissolvidos na água
e, portanto, atuam como um sistema de purificação da água.

Este bioma inclui uma diversidade de hábitats aquáticos. A. Os pântanos contêm


árvores emergentes, como este com ciprestes-calvos (Taxodium distichum) no Parque
Estadual do Lago Reelfoot, no Tennessee. B. Charcos contêm vegetação não lenhosa
emergente que inclui tifas, como neste local próximo de Fairfax, na Virgínia. C.
Pântanos temperados são caracterizados por águas ácidas e plantas bem adaptadas a
essas condições, como este no norte de Wisconsin.
Charcos salgados/Estuários
A rápida troca de nutrientes entre os sedimentos e a superfície em águas rasas de
um estuário sustenta uma produtividade biológica extremamente alta. Como os
estuários tendem a ser áreas de deposição de sedimentos, com frequência são
margeados por extensos “charcos de maré” (tidal marsh) nas latitudes temperadas e por
manguezais nos trópicos. Com uma combinação de altos níveis de nutrientes e ausência
do estresse hídrico, os charcos de maré encontram-se entre os hábitats mais produtivos
sobre a terra. Eles contribuem com matéria orgânica para os ecossistemas de estuários,
que, por sua vez, sustentam grandes populações de ostras, caranguejos, peixes e animais
que se alimentam deles.

Os charcos salgados ocorrem em água salgada e estuários, com vegetação


emergente não lenhosa. Um exemplo pode ser observado no Estreito da Ilha Plum, na
costa de Massachusetts.
Manguezais
O manguezal é um bioma encontrado em água salgada ao longo das costas tropicais
e subtropicais e que contém árvores tolerantes ao sal, com raízes submersas em água.
Ele pode existir em estuários, nos quais a água doce e a água salgada se misturam. A
tolerância ao sal é uma importante adaptação das árvores que vivem em manguezais. Ao
viver ao longo das costas, elas desempenham papéis importantes ao impedir a erosão
dos litorais costeiros pela constante entrada de ondas. Os mangues também
proporcionam um hábitat vital para muitas espécies de peixes e frutos do mar.

Manguezais, incluindo este local na costa da Austrália, são biomas


de água salgada que contêm árvores tolerantes ao sal ao longo de faixas
litorâneas tropicais e subtropicais.
Zonas entremarés
A zona entremarés é um bioma composto pela estreita faixa litorânea entre os
níveis da maré alta e da maré baixa. À medida que as marés sobem e descem, a zona
entremarés apresenta amplas flutuações nas temperaturas e concentrações de sal.
Portanto, as espécies que vivem nesse bioma – incluindo caranguejos, cracas, esponjas,
mexilhões e algas – precisam ter adaptações que lhes possibilitem tolerar tais condições
rigorosas. As zonas entremarés podem ocorrer ao longo de faixas litorâneas rochosas
íngremes, como as observadas no Maine, ou em alagadiços de inclinação suave, como a
Baía de Cape Cod, em Massachusetts

Biomas entremarés são as regiões costeiras ao redor do mundo que existem entre a
maré alta e a maré baixa dos oceanos. A. Litorais rochosos produzem hábitats entremarés
rochosos, como este ao longo da costa do Alasca. B. Litorais lamacentos produzem hábitats
alagadiços ao redor do mundo, incluindo este em Los Llanos, Venezuela.
Recifes de corais
São um bioma marinho encontrado em águas quentes e rasas, que permanecem
acima dos 20°C durante todo o ano. Com frequência, eles circundam ilhas vulcânicas,
onde se alimentam de nutrientes que se soltam do rico solo vulcânico e que também são
levados pelas correntes das águas profundas para a superfície ao longo do perfil da ilha.
Os corais são animais pequenos – parentes da hidra e de outros cnidários – que
vivem em uma relação mutualística com as algas. Um coral individual é um tubo oco que
secreta um exoesqueleto rígido, composto de carbonato de cálcio. Ele também apresenta
tentáculos que levam detritos e plâncton para dentro do tubo. À medida que digere
essas partículas, o coral produz CO2, que pode ser utilizado por suas algas simbióticas na
fotossíntese. Alguns dos açúcares e outros compostos orgânicos que as algas produzem
extravasam para dentro dos tecidos do coral e sustentam o seu crescimento adicional.
Embora um indivíduo de coral seja pequeno, a espécie vive em enormes colônias. À
medida que um coral individual morre, os tecidos moles se decompõem, mas os
esqueletos externos rígidos permanecem e, ao longo do tempo, acumulam-se e formam
recifes de corais maciços.
Recifes de corais
A estrutura complexa que os corais constroem proporciona uma ampla diversidade
de substratos e esconderijos para algas e animais, o que ajuda a tornar os recifes de
corais um dos biomas mais diversos da Terra.
A elevação das temperaturas de superfície dos mares nos trópicos está causando a
saída das algas simbiontes dos corais ao longo de grandes áreas – fenômeno conhecido
como branqueamento dos corais. Como as algas simbiontes são fundamentais para a
sobrevivência do coral, a estabilidade desses biomas, atualmente, encontra-se em risco.
Oceano aberto
O oceano aberto é caracterizado como a parte do oceano que se encontra longe da
costa e dos recifes de corais e cobre a maioria da superfície da Terra. Abaixo da
superfície, encontra-se um reino imensamente complexo, com grandes variações em
temperatura, salinidade, luz, pressão e correntes.
Para além do alcance do nível da maré mais baixa, a zona nerítica se estende até a
profundidade de aproximadamente 200 m, que corresponde ao limite da plataforma
continental. Como as ondas fortes deslocam nutrientes dos sedimentos inferiores para as
camadas superficiais iluminadas pelo Sol, a zona nerítica geralmente é uma região de
alta produtividade. Além dela, o assoalho marinho desce rapidamente até as grandes
profundidades da zona oceânica, onde os nutrientes são esparsos e a produção é muito
limitada.
A zona bentônica é composta pelo assoalho marinho subjacente às zonas nerítica e
oceânica. As zonas nerítica e oceânica podem ser subdivididas verticalmente em uma
zona fótica e uma zona afótica.
Oceano aberto
A zona eufótica é a área das zonas nerítica e oceânica que contém luz suficiente
para as algas realizarem fotossíntese. A zona afótica é a área das zonas nerítica e
oceânica na qual a água é tão profunda que a luz solar não consegue penetrar.
Uma das adaptações fascinantes de muitos organismos na zona afótica é a
capacidade de gerar sua própria fonte de luz, conhecida como bioluminescência, para
ajudá-los a encontrar e consumir presas. Diversas espécies de águas-vivas, crustáceos,
lulas e peixes desenvolveram essa capacidade de maneira independente.
Oceano aberto
Estratificação litorânea
● Supra litoral
● Meso litoral
● Infra litoral
Estratificação Oceânica

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