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UNIGRANRIO

Graduação em Psicologia
Unidade curricular: Motivação e Emoção
Época: 2021.2
Professor: Wallace da Costa Brito

INTRODUÇÃO:
- APONTAMENTOS PRELIMINARES -
(Parte 4)
Apontamentos Preliminares
(Parte 4)

Tema: Algumas observações sobre a questão da personalidade.


Apontamentos Preliminares
(Parte 4)

* O Dicionário de psicologia, de Stratton e Hayes (2003) se refere à


personalidade como os traços relativamente duradouros pelos quais se
explicam os modos típicos de se comportar de alguém. Trata-se de uma
definição fornecida por estes autores. A ressalva colocada por eles e aqui sem
dúvida necessária é que se deve sempre observar a partir de qual teoria
psicológica é feita a abordagem deste termo. Neste caso, temos então uma
definição que não se quer precisa nem fechada.

* Ocorre que, nas teorias psicológicas, encontramos uma profusão de


definições para personalidade. Algumas se referem nos termos de padrão de
comportamento e não às suas prováveis causas e, assim, pensam também nos
papeis sociais exercidos por alguém.
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* Em outras teorias psicológicas (as chamadas teorias psicodinâmicas), por


exemplo, personalidade alude às formas pelas quais se constroem e funcionam
as estruturas subjacentes do sujeito. E, nesta direção, focalizam-na como um
todo interativo e algo interdependente e não como soma de suas partes.

* Contudo, também encontramos teorias que negam a validade do termo ao


cogitar que os sujeitos tendem a vivenciar diferentes maneiras de ser em
tempos e ambientes distintos. Nesta visão, não haveria algo a priori
continuamente característico em cada sujeito.

* Stratton e Hayes (2003) expõem ainda um termo relacionado à personalidade


que parece útil à reflexão sobre o assunto. Trata-se de disposição. A definição
apresentada para disposição é a seguinte: tendência para se comportar de dada
maneira. Pode ser ainda pensada como predisposição, vocábulo que expressa a
tendência relativamente contínua e estável de modos de se comportar.
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* Schultz e Schultz (2011) conferem grande importância ao tema. O estudo


que desenvolvem se faz com base no que chamam de forças e fatores que,
combinados, implicariam na modelação da personalidade.

* Em Teorias da personalidade (2011), os autores trabalham a partir da


perspectiva que expõe a complexidade e pluralidade presentes quando o que
está em pauta é este tema. Por isso, trafegam por várias dentre as teorias
psicológicas em busca das respostas específicas fornecidas por cada qual delas.
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* E assim trabalham com as diversas nuances envolvidas no estudo da


personalidade. Por exemplo:
- A variedade das definições e explicações científicas.
- A consideração pela forma como os outros nos veem.
- A ideia da personalidade como conjunto de características permanentes e
estáveis.
- As ditas características peculiares de alguém.
- A abordagem pela linha do gênero e da etnia.
- Os métodos de avaliação mais conhecidos e utilizados no campo sempre
plural da psicologia são estes: 1- inventários objetivos (autorrelato); 2- testes
projetivos; 3- entrevista clínica; 4- procedimento de avaliação comportamental
(pesquisa experimental); 5- amostragem de ideias e vivências (observações
controladas).
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* Uma forma interessante de estudar o tema da personalidade apresentada por


Schultz e Schultz (2011) é aquela que exibe a complexidade do assunto no
enfoque dos tópicos abaixo, alguns dos quais, por vezes, recheados de
polêmica e tensão. O que evidencia a disparidade de compreensões
encontradas entre os teóricos das diversas escolas de psicologia:
- Olhar pela autobiografia.
- Questões sobre a natureza humana.
- Influências culturais.
- Livre-arbítrio ou determinismo.
- Natureza ou aprendizagem.
- Passado ou presente.
- Singularidade ou universalidade.
- Equilíbrio ou crescimento.
- Otimismo ou pessimismo.
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* Uma dentre as definições de personalidade encontradas no contexto da


psicologia é ‘conjunto das características (atributos) de um sujeito’. Adiante,
trabalhamos com esta definição e as ideias nela contidas.

* Podemos considerar a construção da personalidade, de certo modo, como a


soma, ou melhor, a trama da disposição psicológica. Isto quer dizer que o
modo particular como se dispõem e operam os processos psicológicos
(sensação, percepção, pensamento, linguagem, aprendizagem, memória,
motivação, emoção, cognição e outros) está intimamente vinculado às
características da personalidade.

* Vale enfatizar que uma condição a ser considerada é o tipo de estímulo


presente. Mas este é apenas parte do processo, uma vez que a premissa de fato
relevante é o sujeito em sua condição de captar, perceber, pensar, falar,
aprender, lembrar-esquecer, mover-se, sentir, conhecer e atuar.
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* Aqui cabe ressaltar duas dimensões do funcionamento psíquico, a


quantitativa e a qualitativa. Ocorre que os estímulos provenientes do mundo
externo podem ser os mesmos para um grupo de sujeitos, mas a quantidade
psíquica energeticamente mobilizada, bem como a qualidade processual
psicológica de cada sujeito estão ligadas à sua história singular. E esta, sob
certo ângulo, acarretará o que estamos aqui designando como personalidade.

* No sentido aqui trabalhado, cada um de nós pode ser visto como uma junção,
uma composição de tudo aquilo que vivenciou, experimentou, bem como da
interpretação que então efetua. Assim, cada um de nós se constitui enquanto
sujeito por meio de uma trama única, inigualável, numa palavra, singular.

* Cada um de nós ergue por si e em si um filtro por meio do qual interpreta o


que recebe do mundo externo, conferindo-lhe destinos psíquicos e vivenciais
próprios.
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* Uma palavra explicativa breve sobre a personalidade enquanto conceito


psicológico pode vir do olhar histórico. Personalidade é uma noção que
provém da Grécia Antiga, do teatro de tragédia (século V a.C.).
Etimologicamente, sua formação provém do latim per sonare, que significa
soar através ou fazer ressoar. A máscara do ator, além de configurar o
personagem, também modulava a voz da maneira mais adequada. Daí palavras
como personagem, personalização, personificação etc. Grosso modo, podemos
afirmar que a personalidade é uma construção da qual lançamos mão para nos
situar no mundo. Pode ser tomada como a estratégia existencial para lidar com
o mundo externo. E ainda como uma forma de defesa. Por meio dela se
constrói, instaura e assenta uma visão sobre si mesmo, sobre os outros e sobre
os acontecimentos. Por esta perspectiva, a personalidade tem grande peso
sobre nossas preferências, escolhas, decisões e posições. Depois de certo
tempo, já quando adultos, ela encontra consolidação, quer dizer, configura-se
como uma tendência automática preestabelecida de funcionamento subjetivo.
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* Muitos dos problemas ou dificuldades pelos quais cada um de nós passou,


passa ou passará colocar-se-iam então como questões existenciais provenientes
da nossa história, do que aprendemos, do que apreendemos. O que, enfim,
acabou se configurando como crenças que interferem nos modos de se
posicionar (responder e atuar). O que, por vezes, pode gerar alguma dose de
angústia.

* Uma ideia implícita nesta perspectiva que aqui expomos pode ser
considerada como boa notícia. A ideia é a seguinte: cada nova vivência ou
experiência da vida do sujeito coloca como possível suplantar algo da
personalidade ou então lhe acrescentar algo. Assim é que, mesmo preservando
suas bases (seus pilares, seu eixo central), a personalidade deixaria brechas por
meio das quais se exibe como passível de mudanças em alguns dos seus traços.
Referências

BRITO, Wallace da Costa. Sobre os processos psicológicos: uma introdução. Nova Iguaçu/RJ:
anotações avulsas, 2021.

CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico da língua portuguesa. 4. ed. Rio de
Janeiro: Lexikon, 2010.

ESPERLING, Abraham; MARTIN, Kenneth. Introdução à psicologia. São Paulo: Pioneira, 2003.

SCHULTZ, Duane; SCHULTZ, Sydney Ellen. Teorias da personalidade. 2. ed. São Paulo:
Cengage do Brasil, 2011.

STRATTON, Peter; HAYES, Nick. Dicionário de psicologia. São Paulo: Pioneira, 2003.

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