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Série de Cadernos Técnicos

PROGRAMAS DE QUALIFICAÇÃO
DE MÃO DE OBRA

Eng. Msc. Carlos Gustavo Nastari Marcondes


EXPEDIENTE
Gestão 2018-2020

Presidente: Engenheiro Civil Ricardo Rocha de Oliveira

Diretoria 2020
1º Vice-presidente: Eng. Agr. Osvaldo Danhoni
1º Diretor Administrativo: Eng. Civ. José Carlos Dias Lopes da Conceição
2º Diretor Administrativo: Eng. Eletric. Marco Antonio Ferreira Finocchio
1ª Diretora Secretária: Eng. Agr. Adriana Baumel
2º Diretor Secretário: Eng. Mec. Carlos Alberto Bueno Rego
3º Diretor Secretário: Eng. Civ. Rafael Fontes Moretto
1º Diretor-Financeiro: Eng. Civ. Gerson Luiz Carneiro
2º Diretor-Financeiro: Eng. Eletric. Gilson Branco Garcia

Jornalista Responsável: Patrícia Coen Gianninni- DRT/SP 3137


Diagramação: Camila Gaspar Duarte
Revisão: Débora Pereira – DRT/PR 5476

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APRESENTAÇÃO
A missão do Crea-PR é valorizar as profissões das Engenharias, da Agronomia e
das Geociências, e seu exercício ético. Para isso, todas as ações realizadas incluem
os valores do Conselho: ética, foco em resultados, compromisso com a excelência,
gestão participativa, interesse público, respeito, desenvolvimento e valorização das
pessoas.

Por esses princípios o Crea-PR procura contribuir, orientar e auxiliar a sociedade em


geral em temas importantes e relevantes que tenham relação com as profissões re-
gulamentadas pelo Conselho. As publicações temáticas, que integram o Programa
da Agenda Parlamentar do Crea-PR, são apresentadas em forma de Cadernos Téc-
nicos, desenvolvidos por profissionais ligados a Entidades de Classe e Instituições
de Ensino de todo o estado. A Agenda Parlamentar é um Programa de contribuição
à gestão pública na formulação e implementação de políticas públicas municipais,
regionais e estaduais, desenvolvida por meio da parceria do Crea-PR com as Enti-
dades de Classe e Instituições de Ensino das áreas das Engenharias, Agronomia e
Geociências do Paraná.

Os Cadernos Técnicos oferecem uma visão técnica da situação real e da legislação


vigente, que pode ser utilizada como material de apoio a órgãos da administração
pública com o objetivo final de melhorar a qualidade de vida da população.

Aproveitamos a oportunidade para colocar o Crea-PR e suas Entidades de Classe


vinculadas à disposição dos gestores públicos no auxílio e assessoramento técnico
necessário para a implantação das soluções apresentadas neste Caderno Técnico.

Boa leitura!

Eng. Civ. Ricardo Rocha de Oliveira


Presidente do Crea-PR
SUMÁRIO

06 06
01 02
Objetivo Problema demanda e
Justificativa

08 11
03 04
Conceituação Técnica Fundamentação Legal

14
17
05 06
Estrátégia de Conclusão
Implementação para
Municipios

18
19
Referências Autor
01 02
OBJETIVO PROBLEMA/DEMANDA/
JUSTIFICATIVA
Atualmente a indústria da construção civil A mão de obra, considerando leis
trabalha para atender as necessidades sociais, chega a representar 52% dos
de infraestrutura e moradia da população. custos da edificação. Mas este número
Contudo, as empresas têm aplicado pode tornar-se maior quando a mão de
produtos e sistemas construtivos obra não possui qualificação. Assim,
novos para suprir esta necessidade de construir com qualidade e baixo custo
forma rápida e com bom desempenho não depende somente das técnicas ou
construtivo. dos tipos de materiais empregados, mas
também da união de pessoas qualificadas
Uma das consequências da implantação para as respectivas funções a serem
de novos sistemas construtivos tem sido desenvolvidas. Um dos problemas
a escassez de mão de obra qualificada enfrentados com relação à qualificação de
para atender demanda do setor, e neste mão de obra é que, salvo as empresas de
caso a oferta de cursos e treinamentos grande porte que possuem funcionários
de capacitação torna-se peça-chave para próprios, as empresas de pequeno e médio
que a indústria possa aplicar as novas porte trabalham em sua maioria com a
técnicas e ferramentas. terceirização dos serviços e o empreiteiro,
por sua vez, possui pouco interesse
Este trabalho tem como objetivo levantar em qualificar o funcionário devido à alta
algumas considerações sobre o tema e rotatividade no setor e porque no geral
discorrer sobre iniciativas de capacitação seu lucro depende da produção obtida
de mão de obra da construção civil, na execução dos serviços. Desta forma,
de forma a obter bom desempenho e ao se retirar um funcionário da função
qualidade construtiva. para instruí-lo reduz-se (inicialmente) a
produtividade. Este fato contribui para um
menor investimento em treinamentos no
funcionário. Em contrapartida um grande
número de empresários aponta como as
principais causas do baixo rendimento
no trabalho o baixo nível de instrução e
a falta de compromisso com a qualidade
do produto final. Villar, L. F de Souza
et al. (2004), aponta o assunto como
controverso, já que uma das soluções
para o problema dos empregadores
seria realmente capacitar e melhorar a
educação do seu funcionário.
De acordo com Villar et al. (2004) a
implantação de cursos de treinamento
06
nas empresas, juntamente com a divisão Observa-se que cada entrevistado podia
da responsabilidade pela educação com responder mais de um item, não tendo
o governo foi um dos artifícios mais sido dado um peso para cada resposta.
citados para melhoria da qualificação dos Desta forma, os dados apresentados,
operários. Porém, ainda é considerado indicam os fatores com maior incidência
alarmante o percentual de empregadores em todos os questionários. No entanto foi
que acham que não fazer nada ou possível traçar o perfil da mão de obra na
simplesmente exigir do operário sem construção civil.
uma contrapartida pode ser uma solução.
O resultado desta pesquisa pode ser
averiguado na Tabela 1.

Um dos obstáculos encontrados pelas


empresas é o de motivar o próprio critério de contratação pelas empresas.
funcionário para a realização de cursos ou
treinamentos. Normalmente o funcionário Um aspecto a ser apreciado é que com
não observa benefícios ao melhorar seu o crescimento do mercado da construção
currículo profissional. Não é para menos, civil, novas tecnologias passam a ser
pesquisas revelam que mais da metade disponibilizadas à sociedade de maneira
dos empregadores usam como principal rápida e barata. O fato de existirem várias
critério para contratação a experiência, técnicas construtivas, pode ser apontado
ou seja, dificilmente analisam o currículo também como oportunidade para a
de um funcionário. O que leva uma realização de treinamentos específicos,
organização a agir desta forma é a que ajudem na mudança do quadro
falta de tempo hábil para contratação atual e conciliem interesses da iniciativa
(agilidade do processo de contratação) privada, instituições de ensino e órgãos
baseada em uma análise mais detalhada públicos.
nos candidatos.

Esta é outra controvérsia a ser


considerada, ou seja, apesar dos
empresários indicarem o nível de
instrução como um problema, o nível
de escolaridade é pouco utilizado como 07
Desta forma, os profissionais deveriam
03 conhecer e saber aplicar em seu laboro,
as recomendações normativas, como
CONCEITUAÇÃO forma de padrão de qualidade do serviço
prestado. Portanto é importante que os
TÉCNICA cursos de capacitação e treinamentos
tenham um embasamento prático e
teórico e atentando para que o aluno
aprenda a utilizar as técnicas, ferramentas
Diante de toda a legislação e normas e materiais disponíveis respeitando-se as
vigentes sabe-se que a falta da qualidade preconizações normativas existentes e
nas construções é um problema que se vigentes.
relaciona muitas vezes aos materiais
componentes e ao processo construtivo, O conhecimento e cumprimento às
o que reflete o desconhecimento às normas torna-se de caráter obrigatório
normas pelos profissionais que lidam também ao atendi-mento do Código de
com o assunto e a falta de cuidados tanto Defesa do Consumidor (vide artigo 39
na fabricação de produtos quanto na do Código de Defesa do Consumidor).
execução de serviços. Estudos indicam Além de ter como finalidade a orientação
que cerca de 40% das manifestações dos profissionais para as melhores
patológicas nas edificações relacionam- práticas, evitando-se assim, a ocorrência
se a obras mal construídas, ou seja, de manifestações patológicas, o não
correspondem a execução da obra. As cumprimento das normas podem culminar
falhas de projetos representam 30% na interdição da obra ou estabelecimento,
aproximadamente, enquanto a falta e em casos mais graves provocam a ruína
de manutenção da edificação – 20% das edificações que por vezes trazem
e materiais de baixa qualidade – 10%. implicações como: perda de vidas, ônus
Observa-se que provavelmente exista socioeconômicos, poluição ambiental e
uma relação dos números apresentados desgaste da imagem da empresa frente
anteriormente com as características a sociedade.
regionais da mão de obra. Por exemplo,
em regiões onde existe escassez de
mão de obra qualificada, provavelmente Como exemplo, na Tabela 2 são
encontraremos maiores problemas nas apresentadas alguns dos problemas
edificações em decorrência da baixa que podem ocorrer em uma das
qualidade. atividades recorrentes em obras que
é a concretagem, e como o respeito às
Mas o ponto crítico é que na maioria respectivas normas técnicas poderia
dos casos, a observancia às normas evita-los. Vale ressaltar que o concreto
técnicas poderia reduzir ou até mesmo é o material de construção mais utilizado
evitar consideravelmente os problemas nas estruturas das edificações, e desta
decorrentes de obras mal executadas. A forma deveria ser um dos materiais
ABNT – Associação Brasileira de Normas de mais qualidade nas obras. Este
Técnicas, é o órgão responsável pela material que compõe a cesta básica da
normalização técnica no país, e fornece a construção é usado em diversas fases
base para as boas técnicas construtivas. de uma obra, desde as fundações até a
08
estrutura e acabamentos. Na Tabela 2 é
possível notar, na coluna da esquerda,
alguns dos problemas relacionados
ao concreto e na coluna da direita as
respectivas recomendações normativas,
que se atendidas evitariam problemas
patológicos nas edificações.

Tabela 2: Problemas (concreto) X Recomendações normativas na área

09
Obs.: a Tabela 2 se refere apenas a um De acordo com a Tabela 2 é possível notar
item de uma construção (concreto), no que o respeito às normas é importante para
entanto, a mesma tabela poderia ser que se evitem problemas, e demonstra
reproduzida para projetos, processos e com isso que não apenas o treinamento
todos os demais materiais envolvidos em prático é importante como também os
uma obra. de cunhos teóricos. É importante que
o aluno perceba que o cumprimento às
Normas Técnicas constitui-se sinônimo
de qualidade e economia, enquanto a falta
de qualidade pode significar desperdício
e custo extra.

10
criada através do Decreto-Lei 5.452, de
04 1º de maio de 1943 e sancionada pelo
então Presidente Getúlio Vargas durante
FUNDAMENTAÇÃO o período do Estado Novo, unificando
toda legislação trabalhista então existente
LEGAL no Brasil. Seu objetivo principal é a regu-
lamentação das relações individuais e
coletivas do trabalho, nela previstas.
Do Código de Defesa do Consumidor
Sob ponto de vista das empresas, dois
A Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990,
fatores legais podem servir de obstáculos
dispõe sobre a proteção do consumidor
para o incentivo a treinamentos pelas
e também confere outras providências.
empresas:
Em um dos artigos, a lei discorre sobre a
importância ao cumprimento as normas
1) De acordo com a CLT, as empresas
técnicas como pode ser observado
não podem obrigar seus colaboradores
abaixo:
a participar de cursos, treinamentos,
fora da jornada de trabalho contratual e
É vedado ao fornecedor de produtos ou
caso o façam podem ter que pagar horas
serviços, dentre outras práticas abusivas:
extras na Justiça do Trabalho. Da mesma
(...)
forma não se pode obrigar o funcionário a
fazer um curso ou treinamento durante as
VIII – colocar, no mercado de consumo,
férias, tendo em vista que estas são um
qualquer produto ou serviço em
direito do empregado, e o seu objetivo é
desacordo com as normas expedidas
promover o descanso e a recuperação
pelos órgãos oficiais competentes ou,
físico-mental do trabalhador, além de
se normas específicas não existirem,
proporcionar o gozo da vida social e
pela Associação Brasileira de Normas
familiar.
Técnicas ou outra entidade credenciada
pelo Conselho Nacional de Metrologia,
2) As vinculações positivas que os
Normalização e Qualidade Industrial
cursos e treinamentos proporcionam
(CONMETRO).
podem gerar maiores custos nas folhas
de pagamento por majoração de salário,
Assim, o atendimento as normas técnicas
promoções e ou bonificações.
da ABNT, torna-se imprescindível para
se obter as boas práticas construtivas,
Para evitar possíveis condenações ao
demonstram o conhecimento do
pagamento de horas extras provenientes
profissional e também podem se constituir
de tais situações, é recomendável
em um instrumento legal.
que as empresas deixem claro que a
participação dos seus empregados em
Da Lei Trabalhista
cursos, treinamentos, quando realizados
fora da jornada de trabalho contratual, é
A Consolidação das Leis do Trabalho
facultativa e sem qualquer consequência
(CLT) é a principal norma legislativa
profissional aos mesmos.
brasileira referente ao Direito do trabalho
e o Direito processual do trabalho. Ela foi
11
Vale ressaltar que embora alguns
treinamentos não sejam obrigatórios a lei e) capacidade de comunicação.
obriga o emprega-dor a oferecer treinamentos
iniciais (na admissão) de seis horas relativos Das Diretrizes para Treinamentos de Acordo
à segurança do trabalho. com a Norma IS0 10015 (ABNT, 2001)

A título de complementação, com relação A norma de diretrizes para o treinamento NBR


à obrigatoriedade na participação de ISO 10015, preconiza que o treinamento
treinamentos, alguns juízes podem deve ser entendido como um processo
interpretar que não há necessidade de para prover e desenvolver conhecimentos,
pagamento de horas extras devido aos habilidades e comportamentos para atender
benefícios adquiridos quando a atividade requisitos.
de treinamento representar considerável
acréscimo ao cur-rículo profissional do A fase de programação e planejamento deve
funcionário. fornecer a base para a especificação do
programa de treinamento e, esta fase deve
Da Lei de Licitação e Contratos Públicos incluir:

A Lei 8.666/93 das licitações e contratos a) o projeto e o planejamento das ações que
públicos considera que as contratações de devem ser adotadas para eliminar as lacunas
professores, conferencistas ou instrutores de competência identificadas quando da
para ministrar cursos de treinamento ou comparação das competências existentes
aperfeiçoamento de pessoal, bem como a com aquelas re-queridas, identificadas na
inscrição de servidores para participação fase de levantamento e diagnóstico das
de cursos abertos a terceiros, enquadram- necessidades de treinamento;
se na hipótese de inexigibilidade de licitação
prevista no inciso II do artigo 25, combinado b) a definição dos critérios de avaliação dos
com o inciso VI do artigo 13 da Lei. resultados do treinamento, objetivando a
monitoração do processo de treinamento.
Treinamento e aperfeiçoamento de pessoal
é serviço técnico profissional especializado, Segundo a NBR ISO 10015 (ABNT, 2001),
previsto no artigo 13, inciso VI, da mesma antes de se iniciar o planejamento, convém
Lei 8.666/93. Em princípio, é de natureza que sejam determinados e listados alguns
singular, porque é conduzido por uma ou itens relevantes que possam vir a restringir
mais pessoas físicas, mesmo quando a processo de treinamento. Esses itens
contratada é pessoa jurídica. A singularidade devem ser usados na seleção dos métodos
reside em que dessa ou dessas pessoas a serem adotados no treinamento, na
físicas (instrutores ou docentes) requer-se: escolha do fornecedor do treinamento e na
elaboração da especificação do programa
a) experiência; de treinamento. Algumas das restrições são
exemplificadas a seguir:
b) domínio do assunto;
• Requisitos da política organizacional,
c) didática; incluindo aqueles relativos a recursos
humanos;
d) experiência e habilidade na condução
de grupos, frequentemente heterogêneos • Requisitos regulamentares impostos por
inclusive no que se refere à formação lei;
profissional;
12
• Considerações financeiras; desenvolvidas; e

• Requisitos de prazo e programação; • dar retorno sobre o desenvolvimento na


atividade, conforme requerido pelo instrutor
• Disponibilidade, motivação e capacidade e treinando.
da pessoa a ser treinada;
3 – apoio ao final do treinamento:
• Fatores tais como a disponibilidade
de recursos próprios para promover o • recebimento de informações de
treinamento, ou disponibilidade de entidades realimentação do treinando;
de treinamento credenciadas;
• recebimento de informação de realimentação
• Restrições de disponibilidade de recursos do instrutor;
de outra natureza qualquer.
• fornecimento de informações de
Para Nóbrega (2006), ao se executar realimentação para os gerentes e o pessoal
com êxito uma atividade ou programa de envolvido no processo de treinamento.
treinamento é essencial o apoio dado, por
parte da empresa, às atividades vinculadas
a esse treinamento.

Segundo a NBR ISO 10015 (ABNT, 2001),


as atividades de apoio podem ser divididas
em:

1 – apoio pré-treinamento:

• fornecer ao responsável pelo treinamento


as informações necessárias à sua devida
execução;

• informar o treinando a natureza do


treinamento e as lacunas de competência
que se pretende eliminar;

• possibilitar os contatos necessários entre o


instrutor e os treinandos.

2 – apoio ao treinamento:

• fornecer ao treinando e ao instrutor a


infraestrutura necessária, como por exemplo:
ferra-mentas, equipamentos, documentos,
acomodações;

• fornecer oportunidades adequadas


e pertinentes para o treinando aplicar
as competências que estão sendo
13
de parcerias com instituições para
05 proferir os treinamentos. Estas podem
ser feitas de várias maneiras de forma
ESTRATÉGIA DE a atender os interesses múltiplos. Para
isso, podem-se procurar sugestões
IMPLEMENTAÇÃO em feiras, convenções, publicações da
área e associações de classe patronal
PARA MUNICÍPIOS e profissional. Existem diversos órgãos,
instituições ou empresas que podem
ajudar no processo de formação de
parcerias para conferir treinamentos
O princípio da implementação de um
e cursos específicos tais como: Força
programa de cursos e treinamentos
Sindical, ABCP – Associação Brasileira
nos municípios e em-presas, está no
de Cimento Portland; SENAI – Serviço
levantamento de recursos que serão
Nacional de Aprendizagem Industrial;
utilizados para esta finalidade e para isto
SINDUSCON – Sindicato da Indústria
é fundamental quantificar e qualificar a
da Construção Civil; PUCPR – Pontifícia
demanda.
Universidade Católica do Paraná; UTFPR
– Universidade Tecnológica Federal do
Esta etapa pode ser desenvolvida dentro
Paraná; UFPR – Universidade Federal
dos próprios órgãos com o preenchimento
do Paraná; Cia. de Cimento Itambé e
pelo departamento de recursos humanos,
Votorantim. Ressalta-se que a ideia aqui
da diretoria ou mesmo pelos próprios
não foi a de excluir nenhuma instituição,
colaboradores, de uma ficha com o
órgão ou empresa que forneça cursos
levantamento de necessidades de
ou patrocinem treinamentos, apenas a
treinamentos. Após o mapeamento das
de prover ao leitor uma ideia de onde se
necessidades quantifica--se e faz-se a
pode buscar este recurso.
previsão de verbas orçamentárias para
este fim. As perguntas que devem ser
Sabe-se também que o Governo lança
respondidas nesta fase são:
periodicamente cursos básicos e
gratuitos para qualificação de pessoas
• O QUÊ deve ser ensinado?
com intuito de minimizar o problema da
escassez de mão de obra na construção
• QUEM deve aprender?
civil. Trata-se de uma ação coordenada
pelo Ministério do Trabalho e Emprego
• QUANDO deve ser ensinado?
cujo plano é aumentar a oferta de
trabalhadores que atuam na base da
• ONDE deve ser ensinado?
pirâmide do setor, oferecendo cursos
básicos para profissões como pedreiro,
• COMO se deve ensinar?
armador, ajudante de obra, mestre de
obra e carpinteiro, entre outros.
• QUEM deve ensinar?
De acordo com o Ministério, as aulas, com
A segunda etapa pode ocorrer em
aproximadamente três meses de duração,
paralelo ou após a quantificação, que é
são fornecidas por várias organizações
a contratação de empresas e realização
de ensino técnico espalhadas pelo país.
14
Os recursos usados saem do Fundo de civil é a de que estes não se interessam
Amparo ao Trabalhador (FAT). por realizar cursos de aperfeiçoamento
ou especialização. No entanto, em
A terceira etapa consiste em conscientizar uma pesquisa realizada por Oliveira
os colaboradores da necessidade de (2009) este fato não se comprova. Na
treinamento. Estes, podem não ter o pesquisa, cerca de 60% dos funcionários
interesse em participar de um treinamento entrevistados estariam dispostos a
por vários motivos, como as experiências frequentar um treinamento contanto que
ruins anteriores em cursos maçantes, este fosse gratuito e fora do expediente
repetitivos e em horários mal escolhidos, do trabalho.
ausência do comprometimento da alta
direção da empresa, desmotivação etc. De acordo com Oliveira (2009), o que
realmente acontece, é que o operário tem
Salienta-se que um treinamento deve muitas dificul-dades para frequentar uma
ser cuidadosamente estruturado a fim de sala de aula após o período de trabalho.
que o treinando consiga pôr em prática Mas, se o curso fosse transferido para
os conhecimentos adquiridos. Também é dentro do canteiro de obra, talvez
interessante que se tenha um plano de ocupando um pequeno período do
ação de continuidade dos treinamentos, trabalho, os resultados seriam diferentes.
ou que se proponham módulos para Para a pesquisadora, os cursos de
melhor fixação dos conceitos aprendidos. especialização dentro dos canteiros
de obras são viáveis e produzem bons
A quarta e última etapa consiste em resultados se forem ministrados de modo
elaborar um sistema de avaliação do correto, com o professor adequando-se à
treinamento, para que se obtenham dados realidade dos alunos.
referentes à eficiência do curso ofertado e
para que se possam buscar melhorias no Em consonância com esta ideia existe
processo. Ressalta-se que o treinamento no Paraná uma iniciativa da Cia. de
deve proporcionar resultados, como: Cimento Itambé, com o programa
TIMÃO – Treinamento Itinerante de
a) aumento de produtividade; Mão de Obra para construção civil, que
profere palestras e treinamentos de curta
b) melhoria da qualidade dos produtos e duração no próprio canteiro de obras
serviços; aos seus clientes. O programa funciona
há mais de 15 anos, já treinou mais de
c) redução no fluxo da produção; 50 mil pessoas, conta com mais de 12
treinamentos específicos e são realizados
d) melhor atendimento ao cliente; sem custo aos clientes.

e) redução do índice de acidentes; As vantagens dos treinamentos no próprio


canteiro de obras, é que o funcionário
f) redução de índice de manutenção de não perde tempo com deslocamentos e
máquinas e equipamentos etc. absorve melhor o conhecimento, já que
eles mesmos se sentem mais a vontade
Uma das características geralmente em obter o treinamento no próprio canteiro
atribuída aos operários da construção de obras. De acordo com Villar (2004),
15
uma pesquisa feita com funcionários de Diante dessas conclusões, Campos
uma grande empresa evidenciou que (2004) acredita que uma forma de melhorar
78% dos funcionários preferem obter o a produtividade na construção civil seria
treinamento no próprio canteiro de obras a introdução de uma metodologia de
enquanto apenas 11% preferem receber treinamento à distância através de um
o treinamento em escolas. computador com o objetivo de facilitar o
processo de treinamento utilizado pela
Outra proposta de treinamento foi empresa junto aos seus operários. Num
apresentada por Campos (2004) que cita treinamento a distância não existe a
que a qualidade do material e a forma pessoa que ministraria o ensinamento de
como o treinamento presencial vêm todo conteúdo do treinamento, ou seja,
sendo executado acaba não preparando o treinador. Neste treinamento apenas
devidamente a mão de obra para a seria necessária a existência de um
realização de uma atividade específica, suporte na parte técnica relacionada ao
tornando necessária a inclusão de novas funcionamento dos computadores.
tecnologias para facilitar o treinamento.
Outra questão levantada por Campos
(2004) refere-se ao custo deste tipo de
treinamento que seria muito reduzido
quando comparada ao treinamento
tradicional feito em salas de aula, como
pode ser observado na Tabela 3.

16
para atendimento da demanda. Alguns
06 exemplos como a criação de programas
como Jovem Aprendiz, desenvolvido
CONCLUSÃO pela PUCPR em parceria com diversas
empresas, e as iniciativas de órgãos e
empresas já citadas, constituem-se numa
A escassez de mão de obra qualificada importante contribuição para a formação
na construção civil é um dos problemas de equipes de trabalho qualificadas e ao
enfrentados pelo setor. Em paralelo, a mesmo tempo coloca jovens no mercado
falta de pessoas capacitadas em canteiros de trabalho.
de obras resulta em baixa qualidade
construtiva que por sua vez constitui- Existem diversas oportunidades de
se em problemas socioeconômicos e treinamentos no mercado, que vão desde
ambientais para municípios e sociedade, cursos de pouca duração até os de longa
sejam pela necessidade de reparos na duração, além de cursos técnicos que
pós-obra, atrasos nas entregas das obras, podem ser oferecidos.
e o risco de ruína destas edificações.
É importante observar que para
Vale lembrar que uma obra durável, alguns treinamentos mais abrangentes
requer uma boa construção. Com são necessários pré-requisitos ou a
relação ao quesito dura-bilidade das comprovada experiência do treinando.
edificações, sabe-se que quanto maior for Disciplinas como, matemática e
a durabilidade de uma edificação menor português, para estes treinamentos,
será seu efeito negativo com relação ao são de fundamental importância que o
meio ambiente e sustentabilidade, uma treinando domine, já que a compreensão
vez que quanto melhor construída, mais destas disciplinas básicas pelo aluno
durável é a obra e menor probabilidade promoverá um melhor aproveitamento do
de demolição ou reconstrução evitando- curso pelo aluno.
se assim desperdício de verba pública
e privada e melhor aproveitamento de De forma genérica, um treinamento
recursos. eficiente para o colaborador da construção
civil deve pro-ver ao aluno conhecimentos
Desta forma entende-se que o processo quanto à tarefa a ser executada, ao uso de
de treinamento de mão de obra na ferramentas e equipamentos necessários
construção civil co-labora com questões para desenvolver a tarefa na obra, bem
sociais, econômicas e ambientais como, conhecimentos teóricos acerca de
por promover melhores práticas de sua área de atuação.
construção e aumentar a vida útil das
edificações. Para Chiavenato (1994: 126), treinar é: “O
ato intencional de fornecer os meios para
Para colaborar com este processo, proporcionar a aprendizagem, é educar,
a integração e parceria com escolas ensinar, é mudar o comportamento, é
técnicas e entidades de classe é fazer com que as pessoas adquiram
ponto fundamental para se evoluir a novos conhecimentos, novas habilidades,
questão de treinamentos específicos é ensiná-las a mudar de atitudes”.
17
REFERÊNCIAS _____. Decreto-Lei n. 8.666, de 21 de
junho de 1993. Regulamenta o art. 37,
inciso XXI, da
ABNT – Associação Brasileira de Normas
Técnicas, NBR 6118/2007. Projeto de Constituição Federal, institui normas para
Estruturas de licitações e contratos da Administração
Concreto – Procedimento. Pública e dá outras providências.

______. Associação Brasileira de Normas CAMPOS FILHO, Amadeu Sá de.


Técnicas, NBR 12655/2006. Concreto de Treinamento a Distância para Mão-de-
Cimento Por-tland – Preparo, Controle e obra na Construção Civil.
Recebimento – Procedimento.
Dissertação (Mestrado) Escola
______. Associação Brasileira de Normas Politécnica da Universidade de São
Técnicas, NBR 7211/2005. Agregados Paulo. Departamento de Engenharia de
para Concreto – Construção Civil. São Paulo, 2004, 140p.
Especificação.
CHIAVENATO, Idalberto. Gerenciando
______. Associação Brasileira de Normas Pessoas. 2. ed. São Paulo: Makron
Técnicas, NBR 14931/2004. Execução Books, 1994.
de Estruturas de
Concreto – Procedimento. NÓBREGA, Paulo Henrique.
Levantamento do Perfil da Mão-de-obra
______. Associação Brasileira de normas da Construção Civil de Foz do Iguaçu com
Técnicas, NBR IS0 10015/2001. Gestão Ênfase em Treinamento. Foz do Iguaçu:
da Qualidade – UDC – União Dinâmica de Faculdades
Diretrizes para Treinamento. Catara-tas, 2006.

______. Associação Brasileira de Normas OLIVEIRA, Cristiane Sardin Padilla. As


Técnicas, NBR 7112/1984. Execução de Principais Características da Mão-de-
Concreto Do-sado em Central. obra da Construção Civil que Interferem
na Filosofia da Qualidade. Curso de Pós-
BORGES, André. Construção Civil terá graduação em Engenharia de Produção.
novo Programa para Treinar Mão de Santa Maria: Universidade Federal de
Obra. Jornal Valor Econômico/BR, 2011. Santa Maria, 1997.
Disponível em: <http://www.cbic.org.br/
sala-de-imprensa/noticia/construcao-- VILLAR, Lúcio Flávio de Souza.
civil-tera-novo-programa-para-treinar- Panorama da Construção Civil: Cursos
mao-de-obra>. Acesso em: 13 maio 2011. de Qualificação de Mão-de--obra são
realmente desejados? Anais do 7º
BRASIL. Decreto-Lei n. 8.078, de 11 Encontro de Extensão da Universidade
de setembro de 1990. Dispõe sobre a Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte:
proteção do consumi-dor e dá outras UFMG, 2004.
providências.

18
AUTOR
Carlos Gustavo Nastair Marcondes

Graduação em Engenharia Civil pela


Pontifícia Universidade Católica do
Paraná (1998), especialização em
Gestão Empresarial pela UFPR (2006) e
é mestrando do PPGCC – Programa de
Pós--graduação em Construção Civil da
UFPR.

Atualmente é professor da Pontifícia


Universidade Católica do Paraná, e atua
principalmente nos seguintes temas:
sistemas construtivos, materiais de
construção, concretos e argamassas.

Foi durante 11 anos colaborador da Cia.


de Cimento Itambé tendo participado
ativamente do programa TIMÃO –
Treinamento Itinerante de Mão de Obra,
onde ministrou mais de 700 palestras e
treinamentos em todo o Sul do Brasil para
diversos segmentos da construção civil.

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