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RESENHA / REVIEW

Social Science & Medicine. Linda C. Garro se torna bastante conflitivo pelas interpreta-
& Cheryl Mattingly (Guest Editors), Special ções que são dadas a sua doença, sendo que
Issue, Narrative Representations of Illness and muitas vezes é sugerido que a sua base é psi-
Healing, vol. 38, no. 6, pp. 771-862, Exeter: cológica e não física. Para a autora, as estórias
Elsevier Science Inc., 1994. são ricas para o exame dos conceitos sobre
ISSN 0277-9536 doença e a relação mente/corpo. Nesse senti-
do, a autora analisa que, ao reconstruírem suas
Dentro da tendência geral da retomada da narrativas, as pessoas situam ou contrastam
metodologia qualitativa, especialmente dirigi- sua estória individual dentro de contextos cul-
da ao estudo das representações, a Revista turais mais amplos e de outros modelos que
Social Science & Medicine publicou este nú- são compartilhados. Aponta que, no caso des-
mero especial dedicado ao estudo das narrati- ta pesquisa, os indivíduos vêem suas experiên-
vas em torno do processo da enfermidade e do cias de doença como desvios do modelo geral
tratamento. Na introdução à série de pesqui- que informa o que é doença; sendo doenças
sas, Cheryl Mattingly e Linda C. Garro apon- atípicas, são vistas dentro de modelos que con-
tam as características básicas da narrativa como trastam doença do corpo/doença da mente; é
um modo de pensar, diferenciando-a das for- sobre este modelo que reconstroem as suas
mas abstratas e científicas, pois suas bases experiências, atribuindo o problema mais ao mau
assentam-se nas singularidades da ação huma- funcionamento da mente do que do corpo, bus-
na. Afirmam que a narrativa é usada para en- cando modelos culturais que possam contextu-
tender eventos concretos que necessitam rela- alizar a relação mente/corpo.
cionar o mundo interior do desejo e das moti- Holly F. Mathews, Donald R. Lannin e James
vações ao mundo exterior das ações e coisas P. Mitchell estudam 26 mulheres negras que in-
observáveis. Seria a forma mais fundamental gressaram no serviço médico, na zona rural da
de entender a vida em seu fluxo temporal; evo- Carolina do Norte, com câncer de seio em esta-
car imagens sensoriais; entrelaçar cenas e sím- do avançado (estádio 3 ou mais adiantado). Para
bolos mesmo quando contraditórios e, assim, muitas delas a doença não era conhecida e este
oferecer explanações contraditórias da mesma estudo é parte de uma pesquisa mais ampla so-
estória. Lembram, servindo-se de Ricoeur, da bre as razões por que algumas mulheres demo-
relação narrativa/metáfora, principalmente por- ram muito tempo para procurar tratamento mé-
que oferece uma forma para contemplar o ine- dico. Todos os relatos começam com a discus-
fável, o abstrato, pelo caminho do concreto. são da origem dos sintomas e, de forma crono-
No total são apresentados oito trabalhos que lógica, contam sobre eventos ocorridos e que
tratam de experiências distintas. Linda C. Garro se tornaram relevantes em relação à doença. Há
analisa, através de entrevistas semi-estruturadas, pouca consideração sobre as causas da doen-
32 indivíduos (27 homens e cinco mulheres), com ça, mas voltam-se para como rotulá-la e carac-
idades entre 23 e 69 anos, que tinham problemas terizá-la, e, da mesma forma, poucos comentári-
crônicos na articulação mandibular, conhecidos os sobre os papéis desempenhados por outras
como ator, e que são tratados por odontólogos e pessoas em relação à doença. Para 14 das mu-
não por médicos. Apesar da literatura existente, lheres, os sintomas relacionavam-se a uma con-
há pouco consenso sobre a etiologia, aspectos cepção indígena da doença vinculada a um de-
fisiológicos e tratamento da atm. Segundo a au- sequilíbrio no sangue. Outro grupo de pacien-
tora, os relatos são complexos e mostram a luta tes associava a doença a concepções popula-
das pessoas ao experimentarem um problema que res correntes entre os norte-americanos e, para
não se encontra suficientemente categorizado ou um terceiro grupo, as concepções eram de ca-
tratado dentro do contexto do sistema de aten- ráter biomédico. Neste trabalho, um dos pon-
ção à saúde nos Estados Unidos. Os principais tos destacados refere-se ao fato das entrevis-
pontos destacados referem-se ao fato de que tadas adaptarem sua experiência pessoal a qua-
as pessoas apresentam extrema dificuldade em dros de referências explicativos.
rotular de forma apropriada a sua doença e, até O trabalho de Paul Farmer procura traçar o
que isso ocorra, buscam um diagnóstico que desenvolvimento de um modelo cultural da

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AIDS – as representações – através da entre- denomina “abordagem Rashomon”, parafrase-
vista de 20 adultos em uma localidade rural do ando o título do filme de Kurosawa, de 1950,
Haiti. Para o autor, entender o processo pelo quando quatro testemunhas descrevem um es-
qual se constrói a representação de uma nova tupro de formas diferentes. Neste trabalho, a
doença exige articular a experiência individual abordagem é utilizada para tratar da dor crôni-
e coletiva, a macro e a microexperiência. O au- ca. O ponto focal da pesquisa era saber como
tor relata a cronologia do conhecimento da os pacientes reestruturam suas formas de pen-
AIDS nessa comunidade a partir de 1983 e res- sar sobre a dor em resposta a alguma forma de
salta que o processo de identificação passou tratamento a que eles resistem pelo menos em
por certas etapas: exposição à doença ou notí- alguns aspectos. Trata-se de utilizar a entrevis-
cias sobre ela, particular atenção à doença e ta como veículo de reflexão e como maneira de
conseqüente maior carga de estresse, geração configurar a experiência futura. Como escreve
de estórias sobre a doença. a autora, engajar o paciente em uma espécie de
Ao iniciar o seu trabalho “The concept of autoterapia.
therapeutic ‘emplotment’’, Cheryl Mattingly as- Para Byron J. Good e Mary-Jo del Vecchio
sinala que contar estórias de nossas vidas é de Good, o estudo de pessoas identificadas como
fundamental importância no mundo da clínica. sofrendo de epilepsia, em uma pequena cida-
Continua afirmando que as narrativas desem- de da Turquia, foi demonstrativo de que as
penham um papel central no trabalho clínico, estórias da enfermidade tinham uma estrutura
não somente como relato retrospectivo, mas completa, mas, também, as entrevistas esta-
como uma forma através da qual terapeutas e vam compostas como um corpus de pequenas
pacientes procuram ativamente impor-se sobre estórias. Das conclusões apontadas sobres-
o tempo clínico. A questão básica deste traba- sai que “As narrativas sobre enfermidades não
lho é a noção de emplotment, e seu emprego em são simplesmente relatos da experiência ou
uma situação terapêutica. Emplotment envolve relatos miméticos de eventos da perspectiva
elaborar uma configuração temporal, criando um daqueles que estão doentes ou de membros
todo fora de uma simples sucessão de eventos, de suas famílias. Nem são ficções culturais.
ou seja, criando estórias; numa tradução não As narrativas sobre as enfermidades formu-
literal – criando enredos. A autora ilustra a si- lam a realidade e uma atitude frente a ela. Elas
tuação, relatando como uma terapeuta ocupa- compartilham experiências e organizam o com-
cional trabalha para organizar uma série de portamento, mesmo quando elas contam a ex-
ações, dando-lhe um significado de totalidade, periência como foi vivida e mantida no recôn-
ou seja, que o tratamento não é visto como uma dito da memória”. Também, que as narrativas
mera seqüência de eventos, mas como sendo são sociais e intersubjetivas e o contexto da
estruturado narrativamente. O tempo da estó- narração necessita cuidadosa observação.
ria é o tempo humano e não o tempo físico e o Os dois últimos artigos da Revista relatam
tempo que se estrutura nessas relações é o estudos no campo da oncologia. Linda M.
tempo das realizações sociais. Conclui, tam- Hunt analisa os dicursos de oncologistas em
bém, que a construção deste processo tera- uma cidade mexicana, baseando-se em entre-
pêutico deriva das situações concretas e a vistas formais e observações da prática clíni-
análise da narrativa oferece um caminho para ca diária. O principal ponto da discussão é a
examinar o trabalho clínico como uma série de disparidade entre o treino recebido pelos mé-
“negociações existenciais entre clínicos e pa- dicos, dentro do modelo biomédico, e o que é
cientes”, importante para que se retome “o sig- possível ser feito. As narrativas irão revelar
nificado de uma vida que deve ser refeita em esta defasagem, como também um terceiro dis-
face de uma doença grave”. curso que virá carregado de conceitos morais
Outro interessante trabalho desta publica- e sociais, tais como a passividade da mulher
ção é de autoria de Jean E. Jackson e discute ou a incompetência do pobre.
uma forma especial de entrevista na qual o No último artigo, Mary-Jo del Vecchio Good,
entrevistado-narrador assume diferentes “per- Tseunetsugu Munakata,Yasuki Kobayashi,
sonas” durante a entrevista. É o que a autora Cheryl Mattingly e Byron J. Good analisam a

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questão da temporalidade enfrentada pelos on- cam para os pesquisadores as amplas possibi-
cologistas no processo terapêutico, comparan- lidades da adoção de uma metodologia que, ao
do padrões norte-americanos e japoneses. Ao introduzir figuras literárias, como narrativa, en-
estudar, através das narrativas dos médicos, redo, temporalidade, retrospecção etc. concor-
como eles constroem a trama terapêutica, ve- re para que as observações antropológicas, uti-
rificaram não somente a utilização de metáfo- lizando estas novas abordagens, captem os sig-
ras, mas que para os norte-americanos a ques- nificados e as expressões sobre a doença e as
tão do tempo e a revelação da doença ao do- práticas terapêuticas. Ao encerrar, a citação de
ente eram vistas de forma diferente, compa- Jerome Bruner (Life as narrative, Social Rese-
rando-a aos japoneses. Para os primeiros, a arch, 54: 11-32), 1987, resume a importância
revelação é imediata e o paciente é informado desta abordagem, ao afirmar: “Parece-nos não
das formas sucessivas de tratamento, tentan- existir nenhum outro caminho para descrever
do encorajá-lo. Os médicos japoneses ocul- o ‘tempo vivido’, salvo sob a forma de uma
tam o diagnóstico e estão começando a lutar narrativa”. (...) “A narrativa imita a vida, a
para “contar a verdade”. vida imita a narrativa”.
Certamente, toda a densidade empírica e teó-
rica desses trabalhos não pode ser apanhada em
uma resenha; esta fixa alguns pontos, chamando Everardo Duarte Nunes
a atenção do que foi considerado de maior re- Faculdade de Ciências Médicas
levância. No seu conjunto, estes trabalhos colo- Universidade de Campinas

Saúde & Povos Indígenas. Ricardo V. Santos autores (S. Mendonça de Souza, A. J. G. Araújo
& Carlos E. A. Coimbra Jr. (organizadores). e L. F. Ferreira) mostram como os estudos paleo-
Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1994. patológicos podem esclarecer a contravérsia
251 p., tabelas, figuras. acerca da origem pós-contato, no continente
ISBN 85-85676-05-1 americano, de várias doenças infecto-conta-
R$ 23, 00 giosas. Investigações recentes sobre remanes-
centes esqueletais de populações ameríndias
Trata-se de uma coletânea de artigos que pro- pré-históricas atestam a existência de várias for-
cura enfocar o processo saúde/doença em socie- mas de infecção treponêmatica, bem como de
dades indígenas em seus aspectos históricos, bi- tuberculose (forma óssea). Por outro lado, os
ológicos e socioculturais. O livro reúne 10 contri- estudos paleoparasitológicos (sobre copróli-
buições, repartidas em três partes, e organizadas tos) comprovam a presença de infecções pa-
em torno de uma dupla premissa conceitual: 1) rasitárias em populações indígenas no perío-
uma visão das sociedades indígenas como inseri- do pré-colombiano, permitindo confirmar a hi-
das em contextos econômicos e sócio-culturais pótese da origem asiática das populações
específicos, e em processos acelerados de muta- ameríndias, do povoamento pré-histórico da
ção; 2) o reconhecimento do fato que as mudan- América através do Estreito de Bering e, pos-
ças sócio-econômicas afetam tanto a realidade sivelmente também, da existência de migrações
biológica quanto a realidade social das popula- marítimas transpacíficas.
ções indígenas. Em “Ocupação do Espaço, Demografia e Epi-
A primeira parte explora temas como transições demiologia na América do Sul: A Doença de
socioculturais e epidemiológicas, relações entre Chagas entre as Populações Indígenas”, C. E.
epidemiologia, processos adaptativos e demo- A. Coimbra Jr. e R. V. Santos examinam vários
grafia ou entre variabilidade genética e vulnera- fatores que podem explicar as diferenças obser-
bilidade biológica. vadas na epidemiologia dessa tripanossomíase
Inicia-se com o artigo “Saúde e Doença em entre as terras andinas e amazônicas, na medida
grupos Indígenas Pré-Históricos do Brasil: Pale- em que influem sobre o processo de domicilia-
opatologia e Paleoparasitologia”, no qual os ção do inseto vetor (o barbeiro ou triatomíneo)

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do parasito dessa doença, indispensável à sua de saúde ocidental. Sobre esse último aspecto,
endemização. O sedentarismo aliado forte den- as contribuições insistem na importância do co-
sidade populacional das populações indígenas nhecimento antropológico de uma sociedade e
andinas e a domesticação de animais, parecem das suas representações etnomédicas, para se
assim favorecer a domiciliação de triatomíneos prover uma assistência médico-sanitária social e
silvestres e, portanto, a endemização da doença culturalmente adequada.
de Chagas. Pelo contrário, a mobilidade espaci- O artigo “A Construção Social da Doença e
al, o tamanho relativamente pequeno dos assen- seus Determinantes Culturais: a Doença da Re-
tamentos e a ausência da domesticação de ani- clusão do Alto Xingu” é uma boa ilustração
mais, seriam fatores adversos à sua endemiza- dos conflitos de interpretação existentes en-
ção entre as populações indígenas amazôni- tre índios e agentes de saúde ocidentais acer-
cas, explicando a existência dessa doença sob ca de uma doença específica, e das conse-
forma estritamente zoonótica. Os autores aler- qüências dessas divergências sobre a condu-
tam, todavia, para as conseqüências do des- ta terapêutica. Tomando como exemplo a
matamento, da implantação de projetos agro- síndrome paralítica regressiva que acomete
industriais, da abertura de estradas, bem como particularmente os adolescentes durante a re-
dos processos ligados à aculturação das po- clusão pubertária, C. B. L. Verani mostra, ou-
pulações indígenas amazônicas (sedenta- trossim, como a incidência dessa doença as-
rização, concentração espacial etc.) que po- sume um papel de destaque no âmbito das ri-
dem mudar o perfil epidemiológico dessa validades intertribais, a manipulação pelos ín-
tripanossomíase sul-americana. dios dos recursos de atendimento à saúde
O terceiro artigo, “Infecção, Mortalidade e transformando-se numa estratégia importante
Populações Indígenas: Homogeneidade Bioló- no contexto das relações com a sociedade na-
gica como Possível Razão Para Tantas Mortes” cional envolvente.
de F. L. Black, relança o debate acerca das ra- E. J. Langdon, em “Representações de Doen-
zões da vulnerabilidade biológica das popu- ça e Itinerário Terapêutico dos Siona da Ama-
lações indígenas. De acordo com o autor, não zônia Colombiana”, mostra, antes de mais
há evidências de especificidades genéticas nes- nada, que a categoria etiológica “doença de
sas populações que poderiam comprovar a sua brancos, geralmente considerada como cate-
maior suscetibilidade às doenças infectocon- goria funcionalmente válida e amplamente uti-
tagiosas, como, por exemplo, a ausência de cer- lizada pelos profissionais de saúde para se re-
tos genes relacionados à capacidade de res- ferir às doenças decorrentes do contato interé-
posta imune. Além disso, a desestruturação tnico, nem sempre é reconchecida pelas socie-
social como conseqüência das epidemias não é dades indígenas. Daí decorre a importância de
suficiente, em si, para explicar as altas taxas de se conhecer as representações indígenas das
morbidade e de mortalidade observadas na oca- doenças infecciosas, que podem afetar o pa-
sião de um surto epidêmico. O autor formula a drão epidemiológico e a morbi-mortalidade des-
hipótese de que o alto grau de homogeneidade tas últimas, e também a eficácia das medidadas
biológica observado entre essas sociedades, médico-sanitárias tomadas durante um surto
isto é, seu limitado repertório genético (restri- epidêmico. A partir da análise da escolha dos
ção em alelos HLA notadamente), pode influir itinerários terapêuticos seguidos pelos Siona,
em sua capacidade de responder imuno- a autora oferece um bom exemplo do caráter
logicamente às doenças decorrentes do conta- altamente pragmático das sociedades indíge-
to interétnico. Resta a averiguar as causas da nas, que utilizam todos os recursos terapêuti-
homogeneidade biológica pronunciada das cos disponíveis. Tal pragmatismo não demos-
populações indígenas. tra a incoerência das suas representações, como
Segunda parte analisa os sistemas etnomédi- muitos médicos e agentes de saúde costumam
cos de quatro grupos indígenas da Amazônia, inferir, já que medicinas tradicionais e ociden-
procurando ressaltar as suas dimensões sócio- tal atuam em registros distintos (isto é, respec-
políticas, bem como sua relação com o sistema tivamente, esfera das causas e dos sintomas).

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D. Pollock, em “Etnomedicina Kulína”, ofe- parasitárias, alteração na morfologia corporal, apa-
rece uma visão abrangente das representações rição de novas doenças como certas micoses de
e práticas relativas à doença e seu tratamento origem fungai etc.) que se assemelha à dos seg-
nessa sociedade indígena do Alto Rio Purus, mentos menos favorecidos da sociedade brasilei-
insistindo sobretudo na relação (ideológica e ra. Reforçam, outrossim, a necessidade da antro-
prática) com as concepções indígenas do cor- pologia biológica se abrir ao estudo das relações
po e da pessoa. Discute, outrossim, a questão entre transformações sócio-econômicas e saúde
da utilização e da percepção dos remédios bran- das populações humanas, para menor entender os
cos, que só são procurados no primeiro está- vários aspectos da biologia das populações indí-
gio das doenças, isto é, antes de serem atribu- genas amazônicas, bem como por processos adap-
ídas a uma causa externa (feitiçaria, ataque de tativos destas últimas.
espíritos etc.), sendo a medicação escolhida de Em “Crise e Recuperação Demográfica: os
acordo com os critérios da fitoterapia tradicio- Xavante de Pimentel Barbosa, Mato Grosso”,
nal (aroma, em particular). N. Flowers examina uma questão geralmente
Por fim, a contribuição de B. A. Conklin “O pouco enfocada pelos estudos antropológi-
sistema médico Wari’ examina a questão da cos em sociedades indígenas, ou seja, os efei-
percepção e das formas de utilização da tos a longo prazo do contato interétnico so-
medicina ocidental pelas sociedades indíge- bre as variáveis demográficas (fecundidade,
nas. Mostra em particular como a adoção pe- mortalidade, entre outras). Certas sociedades
los Wari’ da medicina ocidental é parcial, es- indígenas, como os Xavantes, conseguiram
ses índios demostrando um interesse todo não somente sobreviver ao choque epidemio-
especial por comprimidos, injecções, antibió- lógico e sanitário do contato, como também
ticos, cuja racionalidade deve ser procurada demonstraram um rápido crescimento popula-
na própria lógica cultural e não na adoção cor- cional. Analisando a dinâmica demográfica dos
relativa da ideologia subjacente à biomedici- Xavantes, a autora mostra que os indicadores
na. Por fim, a autora salienta a resistência dos demográficos experimentaram importantes flu-
Wari’ a assumir a função técnica de agente de tuações em curto espaço de tempo, como res-
saúde, cuja formação é, aliás, um dos pontos posta às novas condições sociais e ambien-
importantes da política de atenção primária em tais impostas pelo contato.
saúde planificada pela Organização Mundial de Por fim, o artigo “A Morte como Apelo para a
Saúde, destacando, dessa maneira, que os pro- Vida: o suicídio Kaiowaá” de J. C. S. Bom Meihy,
gramas de saúde devem ser idealizados e implan- é uma reflexão acerca dos suicídios de adoles-
tados de acordo com a realidade sócio-cultural centes entre os índios kaiowá da região de Dou-
das populações beneficiadas. rados desde 1986. O autor rejeita a interpretação
A terceira parte reúne contribuições que ex- cíclica (surto cíclico de fases de suicídíos) dada
ploram o impacto das transformações ambientais, por diversos autores, bem como a teoria do “con-
sócio-culturais e econômicas decorrentes do tágio” apontada por Durkheim para as socieda-
contato interétnico sobre o perfil epidemiológico des urbanas européias do final do século passa-
e sanitário das populações indígenas. do. Por outra parte, os problemas de ajustes
Inicia-se por um artigo dos organizadores desta (familiares, sociais, escolares, culturais) como
coletânea (“Contato, Mudanças Sócio-econômicas possíveis causas dos suicídios não parecem re-
e Bioantropologia dos Tupí-Mondé da Amazônica fletir a realidade Kaiowá, nem a opção pela morte
Brasileira”) que, a partir de dados de diferentes para se atingir a “Terra sem mal”. O autor conclui
ordens (ecológicos, epidemiológicos e históricos), que a razão desses suicídios, que acontecem
examinam as implicações a longo prazo das mu- principalmente a faixa etária de 10 a 17 anos, deve
danças ambientais e sócio-econômicas decorren- ser procurada dentro da cosmologia e da mitolo-
tes do contato inter-étnica sobre o processo saú- gia dessa sociedade indígena.
de/doença entre índios Tupi-Mondé. Os dados dos No conjunto, essa coletânea é importante,
autores demostram a extrema precariedade da situ- considerando-se a escassez de estudos publica-
ação nutricional e sanitária desses índios (defeitos dos no Brasil sobre o processo saúde/doença
do esmalte dentário, desnutrição, anemia, doenças entre sociedades indígenas. Importa ressaltar,

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outrossim, a tentativa de apresentar num livro antropólogos, etnohistoriadores, demógrafos,
único a pluralidade teórica e metodológica que epidemiológos e parasitológos interessados em
caracteriza os estudos desse processo, contato, mudanças sócio-culturais e saúde, ou,
procurando iniciar, de uma certa maneira, um di- mais comumente, no impacto biológico das trans-
álogo entre representantes das diferentes ver- formações sócio-culturais e econômicas em am-
tentes. Por fim, seu interesse se prende aos ca- bientes amazônico.
minhos abertos (pesquisas, problemas teóricos
a resolver) que a diferentes contribuições dei- Dominique Buchillet
xam entrever para o futuro. Dado o seu enfoque ORSTOM – DES
multidisciplinar, esse livro será de interesse para Universidade de Paris

Saúde e Doença: Um Olhar Antropológico. ções de saúde estão servindo como excelentes
Paulo César Alves & Maria Cecília de Souza anfitriões. Segundo, o próprio tamanho dos arti-
Minayo (organizadores). Rio de Janeiro: gos (geralmente, são curtos) os faz muito ade-
Editora Fiocruz, 1994. 124 p. quados para leitura e dicussão. Estéticamente, o
ISBN 85-85676-07-8 livro agrada, apesar da letra pequena que esti-
R$ 17,00 mula uma nova visita ao oftalmologista!
O terceiro elemento para observação é mais
Esta pequena coletânea acaba com um dos complexa. Na sua introdução informativa, os or-
problemas mais difíceis de quem ensina a ganizadores dizem que há “lacunas temáticas” e
antropologia de saúde. Ela reúne treze traba- que “não tem por objetivo resumir as diversas
lhos, escritos por antropólogos e profissio- tendências teóricas e metodológicas” no cam-
nais de saúde, que versam sobre uma diversi- po, e sugerem que os artigos podem ser
dade de assuntos. Contribui, assim, para de- classificados entre quatro categorias: 1. “saúde,
monstrar a riqueza e abrangência de um cam- doença e cura com a religiosidade popular,” 2.
po de pesquisa e interação profissional cada “o universo de saúde mental’, ‘nervoso’ e
vez mais dinâmico no Brasil. Estas leituras cer- problemas psicossociais”, 3. “relações dialéti-
tamente vão servir como base para muitas dis- cas entre sujeito-objeto (que é sujeito) na con-
ciplinas de antropologia de saúde. Atualmen- figuração do campo das terapêuticas e da pró-
te as publicações sobre saúde e antropologia pria produção da enfermidade”, e 4. “as ques-
se espalham entre muitas revistas e livros que, tões hoje presentes no campo profissional de
por suas próprias especializações, freqüente- produção de agentes e de práticas terapêuti-
mente terminam por ficar desconhecidas e qua- cas” (p. 10). Estas categorias servem como um
se inacessíveis para muitos leitores innteres- guia bastante efetivo para a leitura, demonstram
sados. Nesta situação, o trabalho de “juntar” um cuidado com uma caracterização de cada cam-
leituras para uma disciplina tem sido um po e refletem a diversidade de enfoques. Lamenta-
quebra-cabeça. E vai continuar sendo um de- velmente, como é especialmente clara na terceira
safio, mas um desafio amenizado pela certeza categoria, reproduzem implicitamente um dos
de saber que agora, num só lugar, se dispõe problemas de intercomunicação entre áreas: um
de um conjunto de trabalhos de excelente apêgo excessivo à complexidade verbal nas ci-
qualidade, cuja referência principal é a reali- ências sociais. Parece que estou revendo uma
dade brasileira. experiência minha quando, como antropólogo,
Antes de apresentar os conteúdos aborda- passei uma leitura em “metodologias qualitati-
dos pelos autores, faço algumas observações vas” para pós-graduandos em medicina tropi-
gerais sobre a coletânea. Primeiro, pela lista de cal, pediatria e neuropsiquiatria, e no dia da dis-
autores, é um prazer registrar que os antropólo- cussão percebi que circulava entre eles um “tex-
gos estão cavando espaços adicionais para o to de nonsense” produzido por um deles com o
exercício da sua profissão, e cursos e institui- uso dos termos encontrados na leitura. Encon-

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trar pontos convergentes no diálogo entre pro- ográficas da autora. Carrara toma como ponto
fissionais de diversas formações é um desafio de partida a própria organização do Primeiro En-
constante. Mesmo assim, excluindo esta desig- contro Nacional de Antropologia Médica para
nação de categoria e alguns trechos em outras traçar algumas considerações sobre o método
partes do livro, é importante frisar que o conjun- na análise antropológica da doença, dando ên-
to de textos tem a qualidade de “legibilidade in- fase ao processo de “desnaturalização” das ca-
terprofissional” que, sem comprometer a quali- tegorias nosológicas e ao papel de cons-
dade das análises antropo-sociais, as torna aces- trucionismo neste processo. Relaciona isto com
síveis a profissionais de saúde. as tradições da Escola Sociológica Francesa. Na
O próprio título do livro “Saúde e Doença” próxima edição do livro, convém aos organiza-
cabe como luva para a sua finalidade didática, dores anexar o programa do Primeiro Encontro
pois a discussão do significado destes dois ter- ao qual Carrera refere no texto (e do qual foram
mos é quase sempre primeiro na lista de deman- retirados todos os textos)!
das veículadas da área da saúde para a de ciên- O conjunto de trabalhos sobre religiosidade
cias sociais. Aproveitando o comentário feito popular e saúde, doença e cura inclui três arti-
pelos organizadores, do meu ponto de vista, gos muito ricos. Rabelo demonstra as pro-
concordo que a existência de “lacunas teóri- fundas diferenças na compreensão do que é
cas” é inevitável num campo tão vasto quanto que se entende como “cura” e como chegar a
este, e não constitue problema para o livro. A ela através de uma comparação dos projetos de
evidente força das discussões sobre os con- cura de centros espíritos, igrejas pentecostais
ceitos de saúde e doença e sobre o significado e terreiros de jaré na Chapada Diamantina. O
atribuído às práticas de saúde reflete a escolha estudo sobre cura no catolicismo popular, feito
de ênfase do próprio campo de antropologia. por Minayo, trata das romarias para a imagem
Num eventual segundo volume (ou segunda milagrosa de Cristo Crucificado de Porto das
edição ampliada) me parece que há espaço para Caixas, e documenta as características sociais
trabalhos em várias áreas, entre as quais daria diversas, as motivações e as concepções de cura
destaque às das relações entre médicos e paci- dos romeiros. Na sua discussão da pajelança
entes; a discussão do aprendizado profissio- cabocla na Amazônia Maués explora a vincu-
nal na área de saúde; e a organização social, lação da medicina popular com o holismo e mos-
econômica e política dos serviços de saúde e tra como esta prática se distancia da tradição
de suas instituições (postos, hospitais, con- individualista corrente na medicina oriental.
sultórios, etc.). Estes temas estão presentes nos Os três artigos sobre saúde mental, “nervos”,
artigos na coletânea, mas não constituem o e problemas psicossociais contêm uma denún-
enfoque principal de nenhum trabalho especi- cia implícita muito eloqüente sobre as falhas de
fico. Também, vale a pena lembrar que a antro- comunicação entre os profissionais de saúde e
pologia pode contribuir para a caracterização os doentes, seja pela identificação dos própri-
social e demográfico das condições de saúde os códigos usados para conceber o campo
de amplos setores da populações, bem como (Duarte), seja pelas dificuldades deste profissi-
para a discussão de aspectos culturais e soci- onais interpretarem os modelos cognitivos usa-
ais de vastos números de doenças específicas. dos pelos seus pacientes e as suas ligações
Os dois artigos iniciais, para “situar o leitor extremamente significativas aos processos so-
no campo” cumprem muito bem o seu papel. O ciais e diálogos formados na atuação cotidiana
artigo de Canesqui apresenta a produção acadê- de redes de relações sociais (Alves), seja no
mica sobre antropologia e saúde na última déca- reconhecimento e tratamento divergentes que
da, e se torna, desde já, uma leitura obrigatória o médico, a procura de sinais, e o doente, vi-
para quem quer entender a história recente (e vendo sintomas, fazem da sua aflição. No con-
não tão recente) deste campo internacional e junto destes três textos percebe-se que a
nacionalmente, e para quem quer saber os temas compartamentalização excessiva do conheci-
destacados no Brasil. Só podemos esperar que mento promovido na formação e atuação médi-
estas “notas preliminares”, (não tão-preliminares) ca requer esforços bem dirigidos para ser supe-
continuem dando frutos com as pesquisas bibli- rada em benefício do paciente.

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A terceira categoria sobre “relações dialéti- mulheres. O relato sobre discussões demons-
cas entre sujeito-objeto”, contém trabalhos so- tra que a doença dificulta não somente o exercí-
bre gênero e saúde, nos quais a questão da co da profissão, mas também a realização das
condição da mulher forma um dos fios unifica- tarefas cotidianas e a estabilidade psicossocial
dores mais importantes. Motta-Maués apresen- das vítimas. Demonstra a necessidade de estu-
ta uma bem ordenada classificação do ciclo bio- dar e agir de uma forma que integra as esferas
lógico feminino coletada numa comunidade de trabalho, do sindicato e do atendimento
amazônica, mas cuja generalização para o resto médico na identificação e tratamento dos pro-
do país em muitos aspectos, será facilmente cons- cessos de trabalho e das doenças para preve-
tatada pelos que têm familiaridade com o nir a degradação dos trabalhadores.
conhecimento popular brasileiro. Ela também Os últimos dois trabalhos sobre farmacêuti-
argumenta de uma forma convincente que, no cos e médicos (Queiroz) e sobre terapeutas
seu discurso e na sua prática, as mulheres per- corporais no Rio de Janeiro (Russo) são exce-
cebem a se mesmas com “ambíguas, transitan- lentes sobre os processos sociais que agem nos
tes, perigosas, ameaçadoras da ordem”, e “in- sistemas de cura alternativos, inclusive, no pri-
corporam e atualizam a imagem negativa e meiro artigo, identificando influências nas práti-
diminuída que o espelho social reflete” (p. cas diferenciadas da recituação de medicamen-
124). Leal também, num excelente ensaio cons- tos por farmacêuticos, médicos particulares, e
truído em torno de diversas fontes de dados do médicos de serviços públicos, e no segundo,
sul do país, trabalha com conceitos populares investigando a interrelação entre a origem social
relativos a sangue e sémen, fertilidade e práticas e as escolhas profissionais dos terapeutas que
contraceptivas para jogar sobre um problema ocupam espaços alternativos às práticas mais
bem concreto: porque fracassam os programas estritamente médicas. Mostra alguns fundamen-
de planejamento familiar, e porque as mulheres tos do ideário místico, naturalista e bio-energé-
procuram esterilização cirúrgica. É uma pena tico que permeia esta atividades.
que as notas no texto não vêm acompanhadas A sensação quando termina de ler esta coletâ-
por referências bibliográficas completas no fi- nea é de pena, porque não há ainda mais artigos
nal do texto (aliás o único texto com este lap- para ler. Os organizadores estão de parabéns.
so). Adorno, Castro, Faria e Zioni usam a téc- Que venha o Segundo Encontro Nacional de
nica de grupos de discussão com “usuários Antropologia Médica!
do Programa de Saúde do Trabalhador” para
examinar as “lesões por esforços repetidos”, R. Parry Scott
uma doença profissional cada vez mais recor- Departamento de Ciências Sociais
rente na atualidade, cujas vítimas principais são Universidade Federal de Pernambuco

Geomorfologia: Uma Atualizagão de Bases e científica básica. Sempre notamos que a diferen-
Conceitos. Antônio José Teixeira Guerra & ça entre o nível da produção brasileira e da euro-
Sandra Baptista da Cunha (organizadores). péia, resultava do preparo básico dos autores.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994. “Processos endogenéticos na formação do
ISBN 85-286-0326-1 relevo” de Hélio Monteiro Penha, é de leitura
agradável, mas riquíssimo de informações e, por-
Este é um livro que estava faltando, pois os tanto, difícil de ser resumido.
textos em português não prendem muito a aten- “Hidrologia de encostas (...)” de Ana L. Coe-
ção do leitor. lho Neto é um capítulo da maior importância prá-
“Ciência geomorfológica” de Jorge Soares tica. Além disso, há uma parte teórica, bem mi-
Marques, capítulo que abre o livro é uma bela nuciosa, sobre o comportamento da chuva em
introdução. Nele é chamada a atenção para o diversos tipos de vegetação e sobre o movimen-
fato do geógrafo necessitar uma sólida formação to da água no solo.

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“Processos erosivos nas encostas” transcre- “Mapeamento geomorfológico” de Mauro
ve a opinião de um autor, que a nós parece ab- Sérgio F. Argento, como não poderia deixar de
surda: considerar a erosão como causa e conse- ser, se baseia, principalmente no Projeto Ra-
qüência do subdesenvolvimento. Aliás, esse dambrasil que foi o único grande mapeamento
capítulo é, de uma maneira geral, confuso. geomorfológico realizado no país.
Em “Geomorfologia fluvial” de Sandra Bap- “Geomorfologia e geoprocessamento” de Jor-
tista da Cunha, destaca-se o estudo pormenori- ge Xavier da Silva, como o autor avisa, no início
zado do funcionamento dos leitos dos rios. do capítulo, não é de fácil entendimento.
Para quem foi viciado em praia, “Geomorfo- “Aplicabilidade do conhecimento geomor-
logia costeira” de Dieter Muehe, é uma grande fológico nos projetos de planejamento” de
surpresa. Nunca pensamos que houvesse tanta Antonio Christofoletti, é um capítulo escrito
teoria e tanta matemática, no estudo das áreas por um mestre, de grande utilidade para os
costeiras. Em suma, trata-se de um capítulo inte- que se dedicam a relatórios de impacto ambi-
ressantíssimo. ental (Rima).
“Geomorfologia cárstica” de Heinz Charles
Kohler, resume o estudo do relevo das regiões
calcáreas. Mario B. Aragão
“Geomorfologia do quaternário” de Josilda Ro- Departamento de Ciências Biológicas
drigues da Silva de Moura é um capítulo confuso. Escola Nacional de Saúde Pública

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