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Conceito

OFENDIDO (ART. 201 DO CPP)


O ofendido é a vítima do delito, isto é, o sujeito passivo da infração penal,
aquele que sofreu diretamente a violação da norma penal. Neste contexto, o
meio de prova rotulado como do ofendido objetiva trazer para dentro do
processo a versão prestada pela vítima da infração penal.
Estabelece o art. 201 do CPP que, sempre que possível, o
ofendido será qualificado e perguntado sobre as circunstâncias da infração,
quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-
se por termo as suas declarações. Se regularmente notificado, deixar de
comparecer à audiência de instrução, poderá ser conduzido, nos termos do §
1º. Registre-se, entretanto, o entendimento de parcela doutrinária no sentido de
que tal poder de condução não deve alcançar o ofendido no caso de ação
penal privada exclusiva, pois, nessa hipótese, é ela a própria querelante,
devendo o seu eventual não comparecimento implicar perempção e,
consequentemente, extinção da ação penal, ex vi do art. 60, III, do CPP.
Natureza Jurídica
A representação, a despeito de alguma divergência doutrinária, tem a natureza
jurídica de verdadeira condição de procedibilidade, já que, sem ela, a ação
penal não terá início. É dizer: o Ministério Público somente terá condição de
processar o autor do fato se, antes, contar com a representação da vítima. É
claro que a oferta da representação não importa na obrigatoriedade de ofertar a
denúncia, ou seja, a representação permite a denúncia do parquet, mas não
o obriga a ofertá-la. Como dono da ação penal (dominus littis), ele analisará se
é ou não o caso de deflagrar a ação penal.

https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2017/09/25/qual-natureza-juridica-da-
representacao-ofendido/

Valor da palavra da vítima


Embora a palavra do ofendido deva ser considerada com reservas, exigindo-se
que seja sempre confrontada com os demais elementos de prova existentes
nos autos, não se pode deixar de reconhecer que, em alguns casos, possui alto
valor, como nas hipóteses de crimes contra a dignidade sexual, os quais,
cometidos na clandestinidade, não apresentam testemunhas. Neste sentido, é
pacificada a jurisprudência.
Frise-se que não se está dizendo que possa apenas a versão prestada pela
vítima justificar condenação. Afinal, como a maioria das provas, possui valor
relativo e, ainda que se trate de hipótese que não haja nenhuma outra prova
direta, deverá o magistrado, para o bem de valorá-la, socorrer-se, no mínimo,
da prova circunstancial (ausência de álibi convincente, presença de
antecedentes judiciais pela prática de crime semelhante ao imputado,
contradições entre as versões do réu prestadas na polícia e em juízo,
coerência da versão da vítima sempre que ouvida etc.).
Disposição legal
Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre
as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as
provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações.
(Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 1º Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o
ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade. (Incluído pela Lei nº
11.690, de 2008)
§ 2º O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e
à saída do acusado da prisão, à designação de data para audiência e à
sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem. (Incluído
pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 3º As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no endereço por ele
indicado, admitindo-se, por opção do ofendido, o uso de meio eletrônico.
(Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 4º Antes do início da audiência e durante a sua realização, será reservado
espaço separado para o ofendido. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 5º Se o juiz entender necessário, poderá encaminhar o ofendido para
atendimento multidisciplinar, especialmente nas áreas psicossocial, de
assistência jurídica e de saúde, a expensas do ofensor ou do Estado. (Incluído
pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 6º O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade,
vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o
segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras informações
constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de
comunicação. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

Jurisprudência
EMENTA EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM REVISÃO CRIMINAL ROUBO
MAJORADO ALEGADA CONTRADIÇÃO EM PONTOS DO ACÓRDÃO
INACOLHIMENTO - IDENTIFICAÇÃO DO EMBARGANTE COMO AUTOR DO
DELITO, CONFIRMADA EM JUÍZO, PELO OFENDIDO, SOB O CRIVO DO
CONTRADITÓRIO DECLARAÇÕES DO OFENDIDO NÃO IMPUGNADAS EM
AUDIÊNCIA SUBSISTÊNCIA DE SEU VALOR PROBATÓRIO ARGUIÇÃO DA
EXISTÊNCIA DE PROVA DOCUMENTAL INDICATIVA DA INOCÊNCIA DO
REQUERENTE INACOLHIMENTO PROVA DOCUMENTAL QUE NÃO
AFASTA A AUTORIA DO CRIME CONTRADIÇÃO NA VALORAÇÃO DOS
DEPOIMENTOS PRESTADOS PELAS TESTEMUNHAS DE DEFESA
INACOLHIMENTO - MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA JÁ
EXAUSTIVAMENTE EXAMINADA NO JULGAMENTO DA REVISÃO
CRIMINAL EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CONHECIDOS E REJEITADOS.
1. Aponta o Embargante para a existência de contradição no Acórdão de fls.
182/190 no que tange à confirmação do reconhecimento em juízo; ao não
acompanhamento do filho menor na cidade de Aracajú/SE em período que
coincide com a data da prática delitiva; aos depoimentos das testemunhas de
defesa, os quais dão conta de que o Embargante se encontrava em Aracajú
quando dos fatos imputados na denúncia; e que as suas fotografias sequer
estão presentes nos autos. 2. Cumpre ab initio salientar que as questões
suscitadas foram integralmente analisadas por este Órgão no julgamento, à
unanimidade, da Revisão Criminal proposta pelo ora Embargante, com a
finalidade última de ver reformado o Acórdão vergastado para que reste,
assim, o Recorrente absolvido da condenação que lhe fora imposta às penas
de 05 (cinco) anos e 04 (quatro) meses de reclusão, e ao pagamento de 10
(dez) dias-multa, pela prática do crime previsto no art. 157, § 2º, inciso I, do
Código Penal. 3. Em primeiro lugar, quanto à existência de suposta
contradição no reconhecimento do Embargante, em juízo, pela vítima, a
impugnação, nesse ponto, não merece prosperar, pois é incontroversa a
afirmação realizada pelo ofendido, sob o crivo do contraditório, nos seguintes
termos: "que não tem nenhuma dúvida de que José Oliveira da Silva foi o
autor da subtração da sua moto" (fls. 59/60 dos autos em apenso). 4. O
propósito de desconstituir o valor das declarações do ofendido, sob a
alegação de que o Recorrente permaneceu do lado de fora da sala de
audiência, não merece prosperar, pois há falta de registro no termo de
audiência de fl. 58, e de oposição específica por parte do defensor presente
no ato, há de se considerar como elemento de convicção válido, para efeito
de manutenção do édito condenatório proferido, o quanto afirmado de forma
clara e contundente pela vítima. 5. Em segundo lugar, quanto à aventada
existência de contradição derredor do não acompanhamento do Embargante
ao filho menor na cidade de Aracajú/SE em período que coincide com a data
da prática delitiva, cabe destacar que nenhum dos documentos apresentados
nos autos da ação penal nº 0000453-95.2008-8.05.0261, fez prova de que o
próprio sentenciado estivesse na companhia daquele no momento da prática
criminosa, tal como já fora examinado e apontado pelo Magistrado de 1º grau
e pelo Órgão Julgador no 2º grau. 6. Ademais, os documentos acostados em
cópia não autêntica, à fl. 243 destes autos, tampouco se revelam idôneos a
demonstrar que o Embargante estivesse na cidade de Aracajú no dia da
prática delitiva. Inicialmente porque referidos documentos não atestam que o
Recorrente tenha, de fato, permanecido na companhia do menor J. C. M.
Além disso, destaque-se, as datas ali referidas, 02/01/2008 e 01/02/2008, não
coincidem com o dia em que o roubo fora praticado, qual seja, 29/12/2007. 7.
Em terceiro lugar, no que se refere à ventilada existência de contradição na
valoração dos depoimentos das testemunhas de defesa, as quais dariam
conta de que o Embargante encontrava-se em Aracajú quando dos fatos
imputados na denúncia, apresenta-se a vertente arguição mera reiteração do
quanto já analisado no Acórdão vergastado. 8. Assim, da análise meritória
conclui-se que o Embargante não logrou demonstrar a presença dos vícios
apontados a despontar que pretende, em verdade, o revolvimento da matéria
fático probatória já exaustivamente examinada por esta Corte, uma vez que
os questionamentos levantados já foram, em sua totalidade, apreciados a
fundo quando do julgamento, à unanimidade, da Apelação nº 0000453-
95.2008.8.05.0261, durante sessão realizada em 05/06/2014 (fl. 181), e no
julgamento, também à unanimidade, da presente Revisão Criminal, consoante
Acórdão de fls. 219/226. 9. Parecer Ministerial pelo não conhecimento dos
Embargos de Declaração ou, na eventualidade de seu conhecimento, pelo
improvimento. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS
(TJ-BA - ED: 00163818320148050000, Relator: NILSON SOARES CASTELO
BRANCO, SECAO CRIMINAL, Data de Publicação: 10/04/2015)

Questões OAB

Ano: 2016 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2016 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XIX -


Primeira Fase

Thales foi denunciado pela prática de um crime de apropriação indébita. Para


oitiva da vítima Marcos, residente em cidade diversa do juízo competente, foi
expedida carta precatória, sendo todas as partes intimadas dessa expedição.
Antes do retorno, foi realizada audiência de instrução e julgamento, mas
apenas foram ouvidas as testemunhas de acusação João e José, que
apresentaram versões absolutamente discrepantes sobre circunstâncias
relevantes, sendo que ambas afirmaram que estavam no local dos fatos. Hélio,
padre que escutou a confissão de Thales e tinha conhecimento sobre a
dinâmica delitiva, em razão de seu dever de guardar segredo, não foi intimado.
Com a concordância das partes, a audiência de continuação para oitiva das
testemunhas de defesa e interrogatório foi remarcada.

Considerando apenas as informações narradas, assinale a afirmativa correta.

Alternativas
a) O depoimento de João foi inválido, já que a oitiva do ofendido deve ser
realizada antes das demais testemunhas e a expedição de carta
precatória suspende a instrução criminal.
b) O juiz poderá fazer a contradita, diante das contradições sobre
circunstâncias relevantes nos depoimentos das testemunhas.
c) Hélio está proibido de depor sem autorização da parte interessada, salvo
quando não for possível, por outro modo, obter a prova do fato
d) O advogado do acusado não precisa ser intimado pessoalmente da data
designada para audiência a ser realizada no juízo deprecado.
Resposta: D

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