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04/04/2019 A incrível conexão cérebro-intestino | Saúde é Vital

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MEDICINA, MENTE SAUDÁVEL

A incrível conexão cérebro-intestino


A comunicação estreita entre eles abre perspectivas para entender o papel da ora intestinal no
surgimento de males que sabotam o foco e o bom humor
Por André Biernath
 21 set 2018, 11h02 - Publicado em 1 mar 2016, 13h34

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O cérebro tem muitos mais a ver com o intestino do que você imagina. (Ilustração: Jonatan Sarmento/SAÚDE é
Vital)

O coração, o fígado e os rins que nos perdoem, mas não há órgão mais fascinante que o intestino.
A começar pelo seu tamanho descomunal: se abríssemos e esticássemos seus dois trechos – o
delgado e o grosso -, ele ocuparia uma área de 250 metros quadrados, o equivalente a uma quadra
de tênis. Tudo está enrolado e compactado dentro do ventre. E olha que isso nem é o aspecto mais
interessante da coisa: o intestino tem neurônios e aloja trilhões de bactérias, boa parte delas
envolvida em processos cruciais ao organismo. E você pensando que ele era um longo tubo por
onde a comida passa, nutrientes são absorvidos e o que não é aproveitado vira cocô.

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Espera: neurônios lá no abdômen? Sim, falamos das mesmíssimas células que constituem o
cérebro. “O intestino tem cerca de 500 milhões delas”, calcula o gastroenterologista Eduardo
Antonio André, do Hospital do Servidor Público Estadual, em São Paulo. É menos que a massa
cinzenta, que tem bilhões, mas o su ciente para formar um sistema nervoso próprio, responsável
por coordenar tarefas como a liberação de substâncias digestivas e os movimentos que estimulam
o bolo fecal a ir embora. “Esses circuitos operam sozinhos, ou seja, independem do comando
cerebral”, destaca André. Dá pra entender por que apelidaram o intestino de segundo cérebro?

Leia também: Acalme os ânimos intestinais

Os neurônios intestinais chamam a atenção também pela sua farta produção de serotonina,
molécula que nos leva ao estado de bem-estar – 90% da serotonina descarregada pelo corpo é
fabricada ali. “Esse neurotransmissor é importante porque garante o funcionamento adequado do
órgão”, diz o médico Henrique Ballalai, da Academia Brasileira de Neurologia. Mas se sabe que ele
ainda pode exercer um efeito sistêmico. O fato é que a serotonina é só um dos mais de 30
mensageiros químicos montados no ventre.
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Essas substâncias são encarregadas de transmitir recados de um lado para o outro e estabelecer
comunicação e ciente entre o intestino e o cérebro de verdade. “Essa conversa acontece
diretamente por meio do nervo vago, estrutura que passa pelo tórax e liga o sistema gastrointestinal
à cabeça”, descreve o endocrinologista Filippo Pedrinola, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia
e Metabologia. O nervo vago é uma via de mão dupla: assim como o abdômen manda mensagens
para a massa cinzenta, o correio inverso também ocorre. “É por isso que, diante de uma situação de
estresse, podemos sentir frio na barriga ou vontade de ir ao banheiro”, esclarece Pedrinola.

Você não está sozinho


Há um terceiro elemento que interfere nessa conexão: a cada vez mais estudada ora intestinal.
Microbiota, para sermos corretos. O intestino carrega cerca de 100 trilhões de bactérias, quantidade
dez vezes superior ao número de células do corpo. Esse contingente representa de 2 a 3 quilos do
peso total de um indivíduo. “A microbiota tem papel decisivo na manutenção da saúde. Ela auxilia a
digerir alimentos e a nos proteger de infecções”, explica a microbiologista Regina Domingues, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. A princípio, nossa relação com essas bactérias é pací ca e
proveitosa para os dois lados: elas conseguem obter nutrientes necessários para sobreviver e, em
troca, regulam nosso organismo.

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 12 maio 2017 - 18h05

De uns cinco anos pra cá, o interesse por essa metrópole microscópica só aumenta. Nos Estados
Unidos, especialistas de 80 centros de pesquisa lançaram o Projeto Microbioma Humano, que
mapeou todos os bichinhos que chamam nosso organismo de lar. A partir dessa iniciativa, hoje se
começa a entender como a ora interfere na predisposição a várias doenças e é capaz de
in uenciar até o comportamento e as emoções das pessoas. “Nesse sentido, a microbiota é uma
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espécie de terceiro cérebro”, brinca o gastroenterologista Pierre Déchelotte, da Universidade de
 na França. Brincadeira com um belo fundo de verdade.
Rouen,  Assine

Jonatan Sarmento
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As bactérias intestinais produzem diversas moléculas que se intrometem na comunicação entre o
 nervoso do abdômen e o lá de cima. De todos os micro-organismos que habitam
sistema  o Assine
aparelho digestivo e passeiam por ele, a maior parcela é amiga. Há, porém, as frutas (ou melhor,
bactérias) podres. E ai se elas encontram condição para se multiplicar… “Precisamos que os
exemplares bené cos estejam sempre em maior número, porque, assim, controlam os nocivos”,
resume a farmacêutica Yasumi Ozawa, da Yakult, pioneira nessas pesquisas.

Os cientistas ainda estão apurando todos os detalhes envolvidos, mas já conhecem alguns fatores
que desequilibram a microbiota. “Uma alimentação muito rica em gordura, por exemplo, está
associada ao desenvolvimento de bactérias ruins e à morte de espécimes bons. As manifestações
disso são mais gases e distensão abdominal”, exempli ca o coloproctologista Sidney Klajner, do
Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. A desordem ainda é de agrada por estresse fora de
controle e uso de antibióticos, que, para matar os vilões, acabam exterminando também os
mocinhos.

Leia mais: Estudo aponta que meditar alivia in amação crônica no intestino

Se os germes malé cos dominam o pedaço, é encrenca na certa. “Isso prejudica as paredes e os
movimentos do intestino e dispara in amações”, acusa o gastroenterologista Ricardo Barbuti, do
Hospital das Clínicas de São Paulo. No dia a dia, o indivíduo tem dores, diarreia ou constipação. Só
que o desarranjo local repercute na cabeça. Estímulos de confusão na barriga viajam até o cérebro
e contribuem para o humor e a concentração irem por água abaixo. Sim, camos enfezados.

O impacto desses distúrbios na cachola motivou a Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG)


a realizar o primeiro estudo sobre a saúde intestinal da mulher brasileira – por razões hormonais,
elas estão mais sujeitas a enroscos no abdômen do que os homens. Dois terços das 3 029
entrevistadas declararam ter inchaço no ventre, atulências e prisão de ventre. Quando
questionadas de que maneira os incômodos in uenciavam na qualidade de vida, 89% diziam ter
variações de humor e 88% reclamavam de menos concentração nas tarefas cotidianas. “Esses
números nos mostram, na prática, como os sintomas abdominais chegam a modi car
comportamentos”, resume a imunologista Violeta Niborski, gerente da Danone, empresa que
participou do levantamento.

Cabeça em apuros
Os médicos já sabem que condições como a síndrome do intestino irritável, marcada por diarreia ou
di culdade de ir ao banheiro sem razão aparente, propiciam nervosismo e depressão – assim como
a ansiedade e o baixo-astral desequilibram a ora e patrocinam as crises. Acontece que as
interações perigosas não param por aí: a microbiota parece fazer diferença na probabilidade de
desenvolvermos problemas neurológicos. Ao comparar ratinhos de laboratório criados para não ter
bactérias no intestino com animais dotados de ora, cientistas irlandeses observaram que os
primeiros desenvolviam características típicas do autismo, como gastar tempo demais interagindo
com um objeto.

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Há indícios de que até o Parkinson, doença que provoca tremores, começaria lá no abdômen.

Especialistas  milhares
da Universidade College London, na Inglaterra, constataram, após analisar Assinede
pessoas, que a constipação é uma das primeiras manifestações do distúrbio. “Uma hipótese sugere
que a microbiota alterada leve à destruição de neurônios intestinais e isso progrida até o cérebro”,
conta Ballalai. O mesmo princípio explicaria o Alzheimer, que consome as memórias. Apesar de
curiosos, esses achados são recentes e carecem de mais provas. “Por ora, a maioria dos estudos
está restrita a animais e não pode ser extrapolada para nossa realidade”, contextualiza a médica
Maria do Carmo Friche, presidente da FBG.

Mas é possível prevenir, ou até reverter, desequilíbrios na microbiota intestinal? A resposta é sim. A
ora pode ser modulada para que as bactérias do bem vivam em paz ou voltem a reinar. E isso é
obtido, em parte, via alimentação, quando se investe nos probióticos, lácteos enriquecidos com
micro-organismos bené cos à saúde. Mas que atento ao rótulo: nem todo iogurte, por exemplo, é
probiótico. Repare se a embalagem informa isso e qual sua concentração de bactérias, medida em
UFC (unidade formadora de colônia). “O produto precisa ter de 2 a 10 bilhões de UFC por dose”,
avisa Pedrinola. Ah, probióticos também estão disponíveis hoje em cápsulas e sachês.

Só que não dá pra engolir um monte de bichinhos e se esquecer de alimentar a ora local. Essa é a
função dos prebióticos. “Eles são ricos em bras solúveis, que o sistema digestivo não aproveita
sem a cooperação da microbiota”, de ne o microbiologista Arthur Ouwehand, da Divisão de
Nutrição & Saúde da DuPont, na Finlândia. Tais componentes, encontrados em vegetais como a
cebola e a aveia, nutrem as bactérias. E elas, por sua vez, agradecem devolvendo vantagens ao
nosso corpo.

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Um exame mapeia as bactérias que vivem no seu intestino e influem na


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 21 set 2018 - 10h09

Pílulas de bactérias?!
O campo de estudos de intervenções na ora intestinal avançou nos últimos anos e já se veem
boas tentativas de atenuar doenças mexendo com o nosso padrão de micróbios. Recorrer a
bactérias das classes dos lactobacilos e bi dobactérias já é uma receita para abrandar a síndrome
do intestino irritável, por exemplo. “Talvez, no futuro, tenhamos cepas de micro-organismos
especí cas para prescrever a cada problema de saúde”, especula Barbuti.

O fato é que hoje se discute se isso seria viável e efetivo para ajudar até a domar transtornos
neurológicos ou psiquiátricos. “Em tese, seria possível introduzir bactérias pensando em ganhos
cerebrais e comportamentais”, informa Regina Domingues. E olha que estudos iniciais já trazem
resultados surpreendentes. Na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, 36 mulheres foram
divididas em dois grupos: o primeiro consumiu lácteos com probióticos durante um mês. O
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segundo tomou uma bebida sem aditivos. Após esse período, todas as voluntárias passaram por
teste em que olhavam para fotogra as de indivíduos com feições de raiva ou medo.
um  Enquanto
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elas participavam da tarefa, seu cérebro era analisado por um aparelho de ressonância magnética.
O resultado: nas mulheres que ingeriram os probióticos, as áreas da massa cinzenta responsáveis
por processar as emoções cavam muito menos ativas, sinal de que estavam mais calmas e
relaxadas. Na vida real, isso implica estar preparado para lidar melhor com os reveses do cotidiano.

E se lembra dos cientistas que apuravam o elo entre ora e autismo em ratinhos? Pois essa equipe,
baseada na Universidade College Cork, na Irlanda, fez outra experiência impressionante. Eles
administraram probióticos a camundongos com traços depressivos por algumas semanas. Depois,
botaram os roedores para nadar numa bacia funda, situação em que corriam o risco de se afogar –
esse é um modelo clássico de laboratório para estudar a apatia em animais. Em comparação com
os bichos que não receberam a dose de probióticos, os ratos com intestino equilibrado lutavam
mais tempo e com mais força para se salvar. Sinal claro de que não queriam desistir da vida. Se
pudéssemos transpor os resultados para nós, seres humanos, daria pra dizer que foi observado um
autêntico efeito antidepressivo.

Como se vê, a investigação do eixo intestino-microbiota-cérebro é fresquinha, mas um tanto


promissora. Alguns especialistas já chegaram a comparar o potencial de intervir ali ao das
prestigiadas células-tronco. E tomara que ele se concretize. Quem sabe a resposta a vários
problemas não esteja realmente bem debaixo do nosso umbigo?

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