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RESUMO
Refletir sobre o uso da linguagem e sobre a aula de língua estrangeira e seu relevante papel
sociocultural nos faz pensar em possibilidades de ampliar o repertório linguístico e cultural do
aluno. Consequentemente, chegamos ao estudo do plurilinguismo, a saber, a experiência
pessoal e cultural, do indivíduo em diferentes línguas. Este artigo buscou, no cenário
educacional, o lugar do plurilinguismo e, deste modo, evidenciou sua consolidada presença e
importância na atualidade para a formação do aluno, como também para sua prática em sala
de aula e no meio sociocultural. Para discorrer sobre a temática tomamos como suporte
documentos oficiais para o ensino de línguas sobre o plurilinguismo voltado para a educação
básica mais especificamente o ensino fundamental – no que se diz respeito ao ensino de
línguas, como os PCNs, LDB, BNCC, QECRL e ideias de teóricos como Souza (2019),
Menezes (2013) e outros autores referenciados nesta obra. A pesquisa é de cunho
bibliográfico, que traz informações relevantes acerca da temática proposta. Enfim, com este
trabalho tornou-se possível analisar a relevância do ensino plurilíngue no ensino fundamental.
ABSTRACT
Reflecting on the use of language and on the foreign language class and its relevant
sociocultural role makes us think about possibilities to expand the student's linguistic and
cultural repertoire. Consequently, we come to the study of plurilingualism, namely, the
personal and cultural experience of the individual in different languages. This article sought,
in the educational scenario, the place of plurilingualism and, in this way, evidenced its
consolidated presence and importance today for the education of students, as well as for their
practice in the classroom and in the sociocultural environment. To discuss the theme, we used
official documents for language teaching on plurilingualism aimed at basic education, more
specifically elementary education as support - with regard to language teaching, such as the
PCNs, LDB, BNCC, QECRL and ideas of theorists such as Souza (2019), Menezes (2013)
and other authors referenced in this work. The research is bibliographical in nature, which
brings relevant information about the proposed theme. Finally, with this work it became
possible to analyze the relevance of plurilingual education in elementary school.
INTRODUÇÃO
A globalização e as novas tecnologias de comunicação desenvolvidas nas últimas
décadas aumentaram a comunicação e o tráfego internacional e com isso, o contato e as trocas
entre diferentes culturas. Esta nova realidade mundial aponta para a necessidade de mudanças
educacionais que levem em consideração as variedades culturais e linguísticas.
Neste contexto, as línguas estrangeiras e a língua materna tornam-se facilitadoras para
o acesso aos diferentes povos e grupos, às diferentes culturas e ainda aos amplos debates e
conhecimentos disponíveis nacional e mundialmente.
Assim, com a tecnologia e o acesso à internet tem-se disponíveis as diversas
ferramentas de tradução on-line, as quais facilitam este ingresso sociocultural. No entanto, é
importante salientar que conhecer idiomas – ao invés de somente traduzi-los utilizando, por
exemplo, um aplicativo de tradução – promove um profundo mergulho cultural, cuja riqueza é
oriunda somente através do idioma nativo de um dado povo.
Logo, “é importante promover uma educação intercultural, que é verdadeiramente um
fator de coesão e paz” (UNESCO, 1998). O ensino de línguas estrangeiras é importante, não
apenas por seus propósitos utilitários, como o acesso ao conhecimento científico e
tecnológico, as vantagens no mercado de trabalho e a comunicação internacional, mas
também pelo papel das línguas enquanto representantes das diversidades culturais (UNESCO,
1998).
Conforme Vieira e Moura (2001) nos lembram que qualquer cidadão que não fala uma
língua estrangeira, ou que tem a sua língua materna desrespeitada, está sendo lesado em uma
série de direitos. A Declaração Universal dos Direitos do Homem enfatiza o direito dos
cidadãos a uma educação bilíngue, de modo que eles possam participar efetivamente na
cultura e comunicação mundial. A própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
estipula que a partir da 5ª série, o currículo escolar deve incluir o ensino de pelo menos uma
língua estrangeira a ser escolhida pela comunidade (versão anterior da LDB), enquanto no
ensino médio os alunos deverão ter a opção de mais uma língua.
Portanto, acessar a língua de uma nação é conhecê-la mais a fundo, é perceber sua
história, seus costumes e suas ideologias e, portanto, interagir com o outro. Além disso,
transitar bem em diferentes idiomas, inclusive no próprio idioma, permite que o sujeito, a
nosso ver, conquiste autonomia na construção do seu próprio conhecimento, aproximando-o
mais e mais do perfil de um consciente cidadão do mundo. Consequentemente, uma
perspectiva educacional plurilíngue torna-se central para este cenário no qual estamos
inseridos. Então, indaga-se: para se pensar em um ensino fundamental plurilíngue, quais são
as orientações presentes nos documentos nacionais da educação básica brasileira?
Refletir sobre o uso da linguagem e sobre a aula de línguas estrangeiras e seu relevante
papel sociocultural nos faz pensar em possibilidades de ampliar o repertório linguístico e
cultural do aluno brasileiro. Dessa forma, através de pesquisas neste âmbito, chegamos ao
estudo do plurilinguismo – conceito que retomaremos ao longo deste artigo – a saber, a
experiência pessoal e cultural do indivíduo em diferentes línguas em diversos contextos. Por
isso, é importante buscar compreendê-lo a partir dos documentos que orientam a educação
básica brasileira.
Logo, o intuito deste artigo é trazer mais uma contribuição para a área do ensino de
línguas estrangeiras ou línguas adicionais. Para tanto, pretende-se explorar os documentos
oficiais que estão em uso no Brasil e trazer também documentos universais que estão
presentes nos estudos e na produção acadêmica do Brasil, e assim, constatar a presença ou não
do plurilinguismo pedagógica e legislativamente no país.
Diante do exposto, vê-se a importância de se aprofundarem as discussões e o trabalho
com o plurilinguismo entre os professores de línguas estrangeiras e estudantes no espaço
escolar, para que, através do trabalho em sala de aula, esta perspectiva plurilíngue possa
permear a formação sociocultural das nossas crianças e adolescentes, bem como dos seus
professores, e assim contribuir para a autonomia, interação e a consciência da existência e
inserção na dimensão global, na qual todos nós estamos inseridos.
Para tanto, como base para o estudo, utilizamos os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN), a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o Quadro Europeu Comum de
Referência para Línguas (QECRL) do Conselho da Europa, e, finalmente, a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação (LDB) para estabelecer o cenário que envolve o tema principal deste
artigo, o plurilinguismo, e para expor nosso ponto de vista sobre a atual proposta de ensino de
línguas para o segmento da educação básica brasileira, mais especificamente, pensando no
ensino fundamental II, ou seja, estudantes de 11 a 14 anos majoritariamente.
plurilinguismo: o que é?
Devemos ter em mente o que Souza (2019), ao estudar o plurilinguismo em sua tese e
trabalhá-lo em sala de aula, lembra-nos pertinentemente, ele diz ser impossível caracterizar o
aluno de hoje como monolíngue ou monocultural dada à popularização da internet nos anos
2000. Isto significa dizer que a escola já se encontra atrasada quanto à inserção do
plurilinguismo na sala de aula. Há que se tornar uma realidade o plurilinguismo dentro da sala
de aula, pois já faz parte da vida dos alunos de um modo amplo. Segundo Souza (2019, p. 31),
o plurilinguismo é:
É sabido que o entrave exposto nas páginas dos Parâmetros Curriculares Nacionais
ainda vigora, em sua grande maioria, na realidade das escolas públicas brasileiras. Não há
espaço na grade de horários, nem no currículo. Não há fartura de professores especializados
em diversas línguas estrangeiras e, em alguns casos, não há também a valorização por parte da
comunidade escolar do ensino de uma língua adicional. Contudo, o documento deixa claro
que o ensino de línguas ocupa grande importância na formação do estudante e que é na escola
que este ensino deve acontecer.
Um aspecto que chama atenção ao ler o documento é que o mesmo assinala a
importância da língua estrangeira no que diz respeito à potencialização do engajamento
discursivo. E remarca ainda que as línguas estrangeiras são um fator fundamental para o
desenvolvimento deste engajamento discursivo no dia a dia da sala de aula, haja vista os
objetivos presentes nos PCN’s de Língua Estrangeira, os quais apontam mais uma vez para a
importância do aspecto plurilíngue na formação do aluno, como fica nítido em seus objetivos:
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), por sua vez, ressalta que os estudantes
devem interagir criticamente com a complexidade do mundo, favorecendo assim o respeito às
diferenças e o diálogo intercultural, pluriétnico e plurilíngue (2017, p. 193). Diante desta
perspectiva e sendo este um dos últimos documentos redigidos pelo Ministério da Educação
do Brasil, percebemos que o plurilinguismo permeia todo o campo do ensino das línguas. Não
poderia, logicamente, ser diferente, dada sua relevância para a formação estudantil do
indivíduo nesta fase que compreende a educação básica brasileira. Fica claro, portanto, que o
plurilinguismo inserido na sala de aula se incorporará à vida, haja vista seus benefícios para o
sujeito aprendente. A este respeito, o QECRL (2001, p. 31) distingue as principais
competências que o estudante seguramente utilizará para vida, a saber:
[o] forte ensino de línguas estrangeiras observado no Brasil Império era muito mais
uma tentativa de aproximação e manutenção de vínculos culturais da corte com a
Europa e seus modos de vida do que uma política linguística de abertura para a
pluralidade linguística brasileira que já se abria para as línguas de imigração. (DAY
2012, p. 11)
O forte ensino de línguas estrangeiras a que Day se refere consistia em aulas de latim,
grego, inglês, francês, alemão e italiano, oferecidos com cargas horárias variáveis ao longo do
século XIX e início do século XX, tendo sido essa carga horária reduzida drasticamente após
a proclamação da república (LEFFA 1999).
Ao longo do século XX, houve momentos distintos no que se refere ao papel e à
presença da(s) língua(s) estrangeira(s) na educação básica. Como foi dito acima, já havia
acontecido uma redução muito grande na carga horária das línguas estrangeiras no final do
século XIX em relação ao Império. A reforma educacional de 1933, feita pelo ministro
Francisco Campos, se preocupou com o ensino das línguas estrangeiras modernas: francês,
inglês e alemão no secundário (OLIVEIRA, 2015). O latim era então a única língua clássica
do currículo e trouxe uma mudança importante na metodologia de ensino de línguas
estrangeiras, passando ao método direto, sem, no entanto, aumentar a carga horária dedicada
aos estudos dessas línguas, apenas diminuindo a carga horária do latim (LEFFA 1999). A
reforma Capanema de 1942 reforçou algumas das ideias da reforma anterior. Nas palavras de
Day (2012):
Foi essa a reforma que maior importância atribuiu ao ensino de línguas estrangeiras
no Brasil República. Do ginásio ao colegial (científico ou clássico), além do latim
estudava-se francês, inglês e espanhol. A despeito de todo o centralismo e
autoritarismo que marcou o Estado Novo, especialmente neste caso pela ação
repressiva contra as escolas mantidas pelas colônias alemãs e italianas no sul do
país, foi através da Reforma de Capanema que se destinou 35 horas semanais ao
ensino de idiomas (clássicos e modernos) e também se estimulou nas escolas a
aplicação do método direto. De orientação eminentemente prática, ele pregava o
ensino da LE na própria LE, um indicativo de preocupação com os aspectos
metodológicos do ensino. (DAY 2012, p. 6)
O latim, com raras exceções, foi retirado do currículo, o francês quando não
retirado, teve sua carga semanal diminuída, e o inglês, de um modo geral,
permaneceu sem grandes alterações. (...) Comparada à Reforma Capanema e à LDB
que veio em seguida, a lei de 1961 é o começo do fim dos anos dourados das línguas
estrangeiras. (...) a LDB do início da década de 60, reduziu o ensino de línguas a
menos de 2/3 do que foi durante a Reforma Capanema. (LEFFA 1999. p. 13)
A LDB de 1971 causou uma redução drástica nas horas de ensino de língua
estrangeira, o que foi ainda sancionado por um parecer do Conselho Federal, segundo o qual a
língua estrangeira seria oferecida por acréscimo de acordo com as possibilidades de cada
estabelecimento. Por esse motivo, muitas escolas retiraram a língua estrangeira do primeiro
grau e, no antigo segundo grau, não havia mais do que uma hora semanal. Isso significou na
prática que muitos alunos não tiveram nenhum contato com qualquer língua estrangeira
durante sua escolaridade. Conforme pontua Mulik (2012):
Após essa breve revisão histórica do ensino de línguas estrangeiras no Brasil, pode-se
constatar um início - à primeira vista, já que se tratava de uma minoria que tinha acesso às
escolas - com bastante e diversificada oferta de idiomas nas escolas brasileiras, para um
declínio gradativo da presença dos idiomas, modernos ou clássicos, desde o final do século
XIX até nossos dias. O momento atual é de insegurança para a garantia de uma educação
plurilíngue se nos basearmos nos documentos oficiais que regem nossa educação básica. Por
isso, é importante reforçar a importância da oferta democrática de ensino de línguas
estrangeiras nas escolas públicas. Passamos agora a descrever e discutir os êxitos e os desafios
da proposta de difusão do ensino de línguas adicionais da secretaria municipal de educação da
cidade do Rio de Janeiro.
Como discorrido acima, os documentos estudados neste artigo remontam à redação
anterior da LDB, cuja escolha ficaria a cargo da comunidade escolar. Através da MP 476, o
governo brasileiro desconsidera o contexto de cada comunidade e desconsidera ainda a
perspectiva plurilíngue e local que está presente em todos os documentos oficiais para o
ensino de línguas. A LDB passa então a limitar a possibilidade de o estudante ter amplo e
variado acesso a bens culturais e linguísticos ao passo que restringe sua aprendizagem a
somente dois idiomas: português e inglês, perpetuando a ideia de hegemonia da língua inglesa
frente a outros idiomas. Mesmo sendo também da área de inglês, acredito que há um
empobrecimento, uma perda mesmo para o aluno, pois se restringe o acesso a bens culturais e
a conhecimentos que trazem cada língua. Neste sentido, refletindo sobre o papel da escola,
destaca-se no QECRL, que
(...) uma vez admitido o facto de que a aprendizagem de uma língua é tarefa de uma
vida, torna-se fulcral o desenvolvimento da motivação, da capacidade e da confiança
do jovem para poder enfrentar novas experiências linguísticas. QECRL, 2001, p.24
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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OLIVEIRA, Renilson Santos. Linha do tempo da didática das línguas estrangeiras no Brasil. Non
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ROCHA, Cláudia Hilsdorf. A língua inglesa no Ensino Fundamental I público: diálogos com
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SOUZA, Gilberto Pereira de. Desafios (tensões) e superações na implantação do projeto político-
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