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1ª edição: 2022
RICARDO BITUN
SUMÁRIO
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ESPIRITUALIDADES
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DEFINIÇÕES DE ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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NOVA MENTALIDADE
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ESPIRITUALIDADE PROTESTANTE
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NÍVEIS DE ESPIRITUALIDADE
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APÊNDICE – A ORAÇÃO
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O OBJETIVO DA ORAÇÃO
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ORAÇÃO E AMIZADE
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Depois deste ebook você estará apto a responder
perguntas como: O que é espiritualidade? Qual o dife-
rencial da espiritualidade cristã? Quais são os parâme-
tros da espiritualidade protestante? O que são discipli-
nas espirituais? Existem níveis de espiritualidade?
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ESPIRITUALIDADES
Rogério Moreira Junior: Ele tinha isso, “Spiritual, but not religious” - “Es-
pirituais, mas não religiosos’’.
1The Church For People Who Are “Spiritual, But Not Religious” Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=Z78_rA-
g4Ldg> Acesso em 04 de Junho de 2022.
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até como uma alternativa à palavra religiosidade, que é uma palavra um
pouco inconveniente hoje, porque ela já leva um pensamento de uma
religião institucionalizada e, devido a todas as questões de problemas re-
ligiosos que temos no mundo, as pessoas preferem abordar os aspectos
mais “transcendentes” da vida de uma maneira mais subjetiva, menos
vinculada a uma tradição de fé.
Então, quando falamos de espiritualidade cristã, fazemos um recorte
dentro de toda a esfera da espiritualidade - das experiências e das re-
flexões de espiritualidade que as pessoas têm. E até mesmo ateus estão
abordando o tema da espiritualidade. Você tem o Alain de Botton, por
exemplo, com o “Religião Para Ateus”, Sam Harris, com aquele livro “Des-
pertar: Um guia para a espiritualidade sem religião”. Hoje, você tem uma
espiritualidade laica. Tem crescido a prática de meditação nas empresas,
práticas de mindfulness, que são espiritualidades laicas de certa forma.
É uma maneira de você lidar com aspectos “não objetivos” da vida, com
alguma transcendentalidade, mas sem permear isso para uma fé em al-
guma existência real de um mundo espiritual. Então, a espiritualidade é
um tema muito amplo.
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B: Entendi. É uma espiritualidade focada em si mesmo.
CM: Exatamente! É uma espécie de uma divindade interior, mas não nes-
se aspecto espiritual em si. Só que ele vai falar bastante de práticas de
espiritualidade, é quase que disciplinas espirituais. Ele fala de meditação,
até de elementos que te levam para estados alterados de consciência.
Ele não é o primeiro a falar isso, o Aldous Huxley já tinha o “As Portas da
Percepção - Céu e Inferno”. Tem essas questões que eles vão abordar por
esse caminho.
RJ: Mas é curioso, porque é uma espiritualidade que, de certo modo, não
é transcendental. Ela acaba sendo uma espiritualidade que não precisa
de nada externo para poder existir, ou pelo menos de nenhum contato
com esse externo pessoal principalmente. É aquela coisa de você se sen-
tir bem consigo mesmo, ou de meditar sobre alguma coisa.
B: Alteridade...
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por exemplo, que é um dado, você não tem como negar a consciência.
Alguns tentam fazer um caminho de negar a consciência, mas é difícil. En-
tão, encaram o dado da consciência, encaram o dado da autopercepção,
porém não lidam com isso em profundidade. Quer dizer, bom, cada um
tem uma percepção de si. Podemos constituir mais ou menos, aqui, uma
espiritualidade a partir desse dado, mas de onde que veio essa consciên-
cia? Não, isso é uma conversa que não teremos agora. É um caminho que
me parece não ser uma busca muito honesta consigo - o que acaba sen-
do muito irônico, em uma espiritualidade. Tenta ser honesto consigo e
acaba não sendo tão honesto, negando a possibilidade dessa metafísica.
Uma das palestras do TED que eu mais gosto é de um cara que fala sobre
a consciência como limite da ciência. E ele diz que a ciência até agora não
foi atrás de compreender a consciência.
CM: Isso, mas não toma consciência como um fenômeno, toma como um
pressuposto, e ele vai falar: “Bom, se você vai tomar consciência como um
fenômeno, você vai ter que tentar compreender o que é essa consciên-
cia.” E ele dá uma proposta - ele não é cristão, é um ateu - em que fala
da consciência como um dado, assim como o tempo e o espaço. Então,
assim como o tempo e o espaço são realidades, a consciência é uma rea-
lidade. Como é que esse cara não chega em Deus? Acho que, se você for
profundamente nessas questões, vai acabar chegando no limite - eu acho
que é o caminho que o Schaeffer fazia - de ter que assumir Deus como a
melhor resposta.
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DEFINIÇÕES DE ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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ser uma espécie de um senso de transcendência, e também pode ser
esses aspectos de transcendência que guiam a vida da pessoa. Um ou-
tro sentido pode ser das práticas de religião, que são práticas espirituais
vinculadas com uma religião, indo do mais amplo para o mais restrito. E,
nesse sentido, a espiritualidade cristã seria tanto o aspecto espiritual da
cristandade quanto a maneira como a fé cristã molda e encaminha a vida
das pessoas, como, também, as próprias práticas cristãs que as colocam
em um estado de observar a fé na sua vida - aplicar a fé na vida e de per-
cebê-la na vida, nessa experiência de comunhão com Deus.
Alister McGrath tem uma definição que acho muito legal que é: “espiri-
tualidade cristã refere-se à busca por uma existência cristã autêntica e
satisfatória, envolvendo a união das ideias fundamentais do cristianismo
com toda a experiência de vida baseada em e dentro do âmbito da fé
cristã”, resume super bem!
E tem uma característica importante e distintiva da espiritualidade cristã
que é o fato de que, para nós, o Espírito é uma pessoa, diferente das
outras espiritualidades. Nessas espiritualidades mais fluidas, nessas re-
ligiões menos definidas ou menos regulamentadas, há uma visão de es-
piritualidade como um certo acesso a um mundo transcendental, geral-
mente, pela ascese ou por ritos.
No nosso caso, esse mundo transcendental é Deus mesmo. Nós não es-
tamos vislumbrando um oculto que é a realidade real e vivendo na ilusão.
Na verdade, nós estamos olhando para Deus como alguém que quer ter
comunhão conosco nessa realidade na qual vivemos. Então, a espirituali-
dade não é uma negação da nossa realidade, não é uma negação do que
é físico, não é nada disso. Ela é uma comunhão com uma pessoa e, por
isso, o termo “espiritualidade cristã” podia ser plenamente substituído
pela expressão “vida cristã”. Se você falar “a vida cristã”, é espiritualidade
cristã.
CM: Perfeito! Santidade é vida cristã, não tem jeito, porque a definição de
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Gálatas é: “vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim”. Essa é a santidade,
é a vida de Cristo em nós, perfeito isso!
B: Deixa-me ler uma definição do Shedd aqui, que está bem dentro do
que estamos falando agora. Ele diz o seguinte: “A espiritualidade deve
unir o coração, a mente e a mão, uma ideia amplamente encorajada na
palavra e mantida desde os tempos da igreja primitiva. As três dimensões
da vida - o afeto, o pensamento e a ação - se mantidas em equilíbrio, con-
duzem a igreja no caminho seguro do Senhor. O entusiasmo do amor, a
disciplina da mente e a ministração das mãos produzem harmonia entre
os membros da igreja dotados dos dons que condizem com essas cate-
gorias”.
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JESUS: O HOMEM ESPIRITUAL
RJ: Antes do Bibo pegar Romanos 8, a palavra que você usou é muito boa,
Cacau! O material “encher de significado”, porque às vezes parece que
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espiritualidade é uma concorrência ao material, então você tem sua vida
material e a vida espiritual - que você usa para compensar a vida material
que tem. E pode cair em diversas ideias religiosas: “eu tenho que ir à
igreja, de tanto em tanto tempo, para compensar, porque eu tenho que
trabalhar, tenho que fazer outras coisas”, mas não é nada disso, não é um
outro mundo à parte, é essa união. É essa luz sobre aquilo que já vivemos
- e vivemos de outra forma.
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NOVA MENTALIDADE
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É essa transformação, da mente de Cristo, que vai tomar toda a nossa
vida. É nesse sentido que, em Colossenses, Paulo fala: “pensai nas coisas
do alto onde sua vida está escondida com Cristo”. Já vivemos uma vida,
que é essa vida de Cristo, pensando a partir dela, porque, quando Cristo
se manifestar, nós seremos manifestados com ele. Quando a nossa vida,
que é Cristo, se manifestar. Então, essa é a nossa vida, é a vida de Cristo
em nós.
CM: Mas tem uma questão que às vezes as pessoas ficam assim: “Tá bom,
por que isso é importante? Não é só me aprofundar na teologia sistemáti-
ca ou me aprofundar na teologia bíblica…”, mas é justamente essa trans-
formação do entendimento que permite a transformação das práticas,
é um ciclo. A pessoa transforma a maneira de pensar, transforma suas
práticas e, nas práticas transformadas, ela conhece mais a Deus e vai
transformando a maneira de pensar também, por esse conhecimento de
Deus. Porque esse texto que fala para se despir do velho homem e “se re-
vestir do novo homem” diz que esses o fazem para pleno conhecimento.
Então, você se reveste dessas práticas, pois você se encontra com Deus
nelas e você tem pleno conhecimento nessa prática de santidade. Não é
só nessa visão enciclopédica da teologia, mas é na teologia na vida, que
se torna um encontro com uma pessoa.
É como se eu falasse, aqui, que eu conheço tudo sobre o Ayrton Senna,
a única coisa que eu não conheço é o Ayrton Senna mesmo, porque eu
nunca me encontrei com ele. Eu já li tudo sobre ele, mas não o conheço,
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nunca me encontrei com ele. Com Deus acontece a mesma coisa. As
pessoas sabem tudo sobre Deus, mas não o conhecem. E onde Deus está?
Ele está no caminho da justiça. Deus está no seu ambiente de santidade,
ou seja, você encontra Deus com Deus na sua vida, ele vai estar na sua
vida conforme, de fato, ele está na sua vida.
Então, quanto mais da fé é aplicado na vida, quanto mais essa fé é uma fé
operosa, mais se compreende de Deus na realidade, não só na escritura.
Se encontrar com Deus está em encontrar Deus vivendo com Deus. En-
contrá-lo na prática, nesse revestir de obras do homem que se refaz para
o pleno conhecimento.
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ESPIRITUALIDADE PROTESTANTE
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e ela chega a nós na escritura bíblica.
Então, eu acho que esses dois paradigmas protestantes são os que vão
orientar a nossa visão de espiritualidade. E isso falta, viu? Isso falta muito
nas nossas práticas comunitárias de espiritualidade, por exemplo.
Pensamos que podemos ter um conhecimento de Deus à parte da escri-
tura, que podemos ter uma vida mais espiritual por uma obra que cum-
primos. “Eu sou mais espiritual que você, porque jejuo” ou “Eu sou mais
espiritual que o outro, porque eu vou mais à igreja”. Somos cheios dessas
coisas e isso não é realidade, isso não é nem protestante, nem cristão.
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sicas que não são contatos com Deus, por exemplo: culto a anjos, culto
aos demônios, milagres ou obras feitas ou realizadas no poder que não é
um poder divino, como os magos lá do Egito. A Bíblia fala que tem outras
coisas no mundo espiritual, mas essas coisas estão vetadas a vocês. A es-
piritualidade real, com encontro real com aquele que vai nos levar ao ca-
minho de existência autêntica, como nós devemos ser, é essa que Deus
promove por um único caminho, que é Jesus Cristo. Afinal de contas, ele
é o único caminho.
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NÍVEIS DE ESPIRITUALIDADE
CM: Eu acho que é uma discussão boa de se fazer. Olhando a Bíblia falan-
do sobre andar no Espírito, acho que dá para pensarmos que há pessoas
que estão voltando a sua mente para a mente de Cristo e deixando que
isso conduza mais as suas obras do que outras. Então, quando Paulo fala
aos Coríntios: “olha, quando falei com vocês eu tive que falar a carnais e
não espirituais” (1Co 3.1), eu acho que ele aborda um pouco esse ponto.
Somos chamados para uma vida de aperfeiçoamento no Espírito, para
nós sermos aperfeiçoados. Agora, acho difícil que nós consigamos fazer
esse julgamento sobre os outros em termos de uma escala. Eu não con-
sigo, por mais que eu conviva com vocês, dizer qual de nós três é o mais
espiritual e acho que eu não consigo falar isso a respeito de ninguém.
Mas eu consigo dizer, tocado pela Palavra e movido pelo Espírito e em
amor, quando um de vocês - e eu mesmo - está agindo na carne. Por isso
que eu posso trazer uma admoestação para a vida de um irmão que eu
vejo que está sendo conduzido pela carne. Eu posso falar: “irmão, você
está sendo conduzido pela carne. Você está sendo carnal nesse ponto”.
Posso até ser duro, sempre mantendo o amor, nunca abrindo mão do
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amor. Isso é possível de fazer. Mas fazer uma escala de qual é o mais espi-
ritual e qual é o menos espiritual não tem como fazer, não é nem benéfico
fazer.
Até nessa questão das obras de Jesus Cristo, os irmãos que mais se dedi-
cam a qualquer tipo de disciplina espiritual não devem ver isso como um
distintivo que eles carregam no peito, como uma medalha de honra ao
mérito. Pelo contrário, as disciplinas espirituais são um reconhecimento
de fraqueza, um reconhecimento de necessidade. Eu me dedico às disci-
plinas espirituais quanto mais eu vejo que o meu ser e a minha conduta
são discrepantes da conduta de Jesus Cristo, e tem duas práticas para
fazer isso: uma é olhar para Jesus Cristo e outra é olhar para mim. Então,
se eu só olhar para mim e não para Jesus, eu vou ter senso ou de orgu-
lho - e vou cair no farisaísmo - ou de autodepreciação - e vou cair numa
depressão profunda. Se eu só olho para Jesus e não olho para mim, vou
ter também duas práticas, ou eu vou achar que eu sou como Jesus ou vou
achar que eu não sou nada e que não tem salvação para mim. Mas, quan-
do eu olho para Jesus e para mim, eu vejo que esse Jesus é o resgatador
de quem eu sou, na minha terrível desgraça.
Quando eu olho para a graça de Deus e para minha pecaminosidade ao
mesmo tempo, eu vejo quão grande é a graça de Deus, quão grande é o
meu pecado, e Cristo é exaltado nisso. Com isso, sou levado a também
exaltá-lo na minha vida. Então, quando eu olho essa discrepância entre
quem Jesus é e quem eu sou, eu sou tomado por uma vontade de negar
a minha carnalidade e buscar a Deus no espírito. Isso é que me leva a orar
mais profundamente, a ler mais a Bíblia e, em termos de um arrepen-
dimento profundo, até a adotar posturas de jejum e esse tipo de coisa,
porque eu estou vendo o quão radicalmente eu sou diferente de Jesus
Cristo. Portanto, nenhuma disciplina espiritual é uma medalha, toda dis-
ciplina espiritual é um atestado de incompetência.
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O CAMINHO DA ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
CM: Eu não gosto muito de ficar julgando músicas, eu acho até que a ex-
periência das pessoas com as músicas varia - nem todas as pessoas vão
pegar os pontos que pegamos. Mas tem uma questão dessa música que,
se você não prestar muita atenção, você pode negar toda a espiritualida-
de cristã, que é: “eu vou subir o mais alto que eu puder para chamar a sua
atenção para mim”.
RJ: Exato. É que você tira a ideia de que Deus já presta atenção. Os dis-
traídos somos nós, certo? A espiritualidade não é um meio de atingir uma
coisa para a minha vida, mas é o caminho onde eu estou caminhando
com Deus
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B: É o caminho onde eu sou encontrado por Deus. E, ainda falando da
música, penso que ela enfatiza uma caminhada carnal da espiritualidade
cristã. Carnal, porque valoriza o esforço de Zaqueu em subir na árvore. Na
verdade, temos muitas músicas com essa ênfase, mas isso é conversa pra
outro momento. Por hora, podemos afirmar que a ênfase espiritual da
caminhada cristã é aquela que reconhece que Jesus olhou para Zaqueu
e viu Zaqueu onde ele estava. Ou seja, a ênfase, o mérito, está no ser en-
contrado por Deus e não no ir em busca de Deus e encontrá-lo.
CM: Porque, se você for encontrado por Deus, o mérito é de Deus, não é
seu. É importante que isso fique bem claro, que você pense dessa manei-
ra, sempre fique examinando a maneira como olha a vida cristã, e lembre
disso. Toda a Glória tem que ser dada a Deus em todos os momentos, em
todas as questões, porque isso vai te libertar de uma religião do mérito,
que é uma religião de desespero. O legalismo é o pior tipo de religião que
tem, faz muita maldade, ele destrói as pessoas por dentro. Ainda mais o
legalismo dentro dos símbolos do cristianismo, porque eles vão falar de
um tipo de divindade tão plena, completa, santa, que, se você começa a
ser sincero com os méritos que você acha que tem, a sua vida perde com-
pletamente o sentido, porque é impossível você dar conta dessas exigên-
cias. Então, é necessário que toda a nossa vida seja uma vida apenas de
gratidão e Glória a Deus por causa da obra que ele já realizou.
Porque, se não for assim, você vai ser destruído pela sua própria consci-
ência. E sua consciência é o ídolo mais terrível que existe. Portanto, você
precisa voltar a sua consciência para essa realidade de que Deus é um
Deus de graça. E, por isso, você vive uma vida de gratidão. Isso acaba sen-
do uma espiritualidade mais libertadora do que a outra, que é tão comum
entre nós.
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ORAÇÃO E INTENÇÃO
POR RODRIGO BIBO
Jesus, em vários momentos dos evangelhos, fala sobre a insistência da oração. Ele
conta, por exemplo, a parábola de um amigo que insiste na porta até o outro amigo
abrir, mesmo sendo inconveniente ele está lá, batendo na porta. E ele insiste, porque
sabe que esse amigo pode ajudá-lo - Lucas 11:5-8. Jesus usa esse exemplo para falar
“insista em oração com Deus”, pois, se você insiste na oração com Deus, é porque re-
conhece que ele é o único amigo que vai abrir a porta pra você.
E eu fico pensando no que eu tenho insistido com Deus em oração. O que você tem
insistido em oração? O que tem feito você dobrar os seus joelhos e insistir com Deus?
É interessante que eu tenho feito isso ultimamente na minha vida, tenho feito essa
insistência com Deus por conta de algo, de uma direção, de decisões que eu preciso
tomar na minha vida. Mas é engraçado que fazia tempo que eu não insistia em alguma
coisa, e isso é preocupante, porque, se não estamos insistindo com Deus em alguma
coisa, - e eu estou falando de mim, não estou julgando a sua vida não - é porque esta-
mos meio genéricos. Às vezes estamos tão no flow, tão no fluxo, e vamos fazendo as
coisas… e claro que Deus está abençoando, estamos fazendo a obra dele. Mas chega
uma hora que até as nossas orações ficam meio genéricas.
E é triste quando caímos no genérico, e eu não quero isso pra minha vida, nem para a
sua. Eu não quero oração genérica, eu quero insistir com Deus por coisas que glorifiquem
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o Seu nome. Quero orar pela igreja com o mesmo amor e paixão que Paulo orava pelas
igrejas. Quando eu vejo Paulo orando em Éfeso, em vários momentos ele interrompe seu
discurso com orações. Então, eu quero isso pra minha vida, eu quero insistir com Deus.
Tiago Cavaco escreve em “Milagres do Coração” sobre a mulher siro-fenícia e diz
uma coisa muito legal: “a mulher não diz: Senhor, dá-me o que mereço com base na
minha bondade, mas dá-me o que não mereço com base na Tua vontade”. Isso muda
todo o aspecto da oração. Eu insisto com Deus por causa da bondade dele, não por
causa da minha. Outro trecho: “se eu me estimar contra o que Jesus quer para mim,
naturalmente faço da minha autoestima uma vaidade. Muitas vezes, queremos Jesus
como um meio de atingirmos um desejo para nós. Desejo esse que alimentamos a
partir de outra fonte que não ele”
Que a nossa fonte seja Jesus, que as nossas orações fluam daquilo que Jesus está
fazendo em nós e daquilo que ele quer fazer através de nós. Que Deus nos abençoe!
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APÊNDICE
A ORAÇÃO
Transcrição do BTCast “M” O18: Oração com Rodrigo Bibo, Cacau Marques e Rogério
Moreira Jr
Rodrigo Bibo: Deixa-me falar um negócio para vocês. Quando estava es-
crevendo o meu livro “O Deus Que Destrói Sonhos”, eu travei no capítulo
de oração, pois é como se eu não me sentisse apto a escrever um capí-
tulo sobre a oração. Literalmente, eu dei uma travada no livro por conta
desse capítulo. Então, eu pensei: “Preciso começar o capítulo”. E não é
que a minha vida de oração deu uma melhorada por conta do capítulo?
O assunto da oração, como disse Philip Yancey, “não se escreve sobre
oração, oração se faz!”
Cacau Marques: Sobre isso que você falou sobre o Philip Yancey, “Ora-
ção: Ela faz alguma diferença?” é um bom livro de oração, porque ele faz
as perguntas certas. O Philip é jornalista - e jornalista é bom para isso,
para fazer as perguntas direito. Ele faz as perguntas certas - nem sempre
ele responde, muitas vezes, deixa em aberto. São vinte e poucos capítu-
los, cada um deles dirigido por uma pergunta. O livro, na verdade, é uma
pergunta, como diz o próprio título. Foi um livro de oração que eu li na
época do seminário, ele é até um pouco grande. Quando o professor
recomendou, nós brincamos com ele: “Professor, ou a gente ora ou a
gente lê esse livro, não vai dar tempo de fazer os dois”. Melhor que esse
do Yancey é o “Oração”, do Tim Keller.
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Esses livros têm uma coisa sobre oração que eu acho que é importante,
que é não querer ser um livro de meditação. Pois um livro de meditação é
um devocionário, então ele compõe uma prática devocional, ele tem que
ter o seu lugar. Você lê o texto, você ora, ele te guia pela oração.
Mas esses livros tratam a oração como um objeto teológico. Eles te ins-
piram pela doutrina e te inspiram pela verdade da oração, logo, eles te
amadurecem. No entanto, não são livros para você ficar lendo para se
elevar espiritualmente. Eles até têm exemplos sobre muitas histórias, é
muito bom por causa disso. Às vezes, queremos um livro de oração que
vamos ler e acabar elevando nossa alma, isso é outro aspecto, outro tipo
de literatura. Precisamos, também, ter essa coisa meio pesada, doutriná-
ria, para irmos amadurecendo. Eu nunca li E. M. Bounds, que é famoso
em seus livros de oração.
B: O próprio Max Lucado tem o seu livro de oração também. Se você quer
um livro para orar mesmo, é “Heróis da Fé”, do Orlando Boyer. Eu li na
época do seminário e quando era da Assembleia. Ele contava só a parte
boa desses heróis da fé. E o que eles tinham em comum, meu amigo?
Oração! Inclusive, eu estava lendo agora “As Institutas de Calvino”. É
super interessante o que Calvino escreve sobre esse assunto, muito bom
mesmo. Lutero, eu já li alguma coisa. Já li Spurgeon - ele é pentecostal,
né, só pode! Há uma frase naquele devocional dele que me chamou a
atenção: “As nossas orações são como canhões apontados para a porta
do céu”.
A questão da oração não é ligada somente ao povo de Deus, vários ou-
tros povos antigos têm a prática de fazer orações a aquilo que acreditam
ser maior do que eles. Tim Keller traz isso por sermos criados à imagem e
semelhança. Essa questão da imago dei, do ser humano ser programado
para Deus - daí essa necessidade de falar com aquilo que transcende sua
existência.
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sa relação com Deus é completamente diferente. Ela não é baseada na
forma que oramos e mudamos Deus, é muito mais próximo de um rela-
cionamento. Não é orar para poder ter alguma coisa ou receber algo.
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na igreja.
Por exemplo, muitas vezes, você vai para a igreja pois está com algum
problema. De vez em quando, alguém me procura - alguém que nunca
entrou na igreja - e diz que precisa falar com o pastor. Em seguida, vamos
conversar e a pessoa não está interessada em Jesus, mas sim em resolver
aquele problema dela.
Apontamos o evangelho de Jesus Cristo, que resolve a causa - e não os
efeitos imediatamente. Assim, a pessoa começa a amadurecer no relacio-
namento com Jesus Cristo, na vida, na caminhada de fé dela. E o que era
uma oração de simpatia -“Senhor, ajuda-me nisso aqui” - vai se tornando
um relacionamento com Deus.
A partir disso, a pessoa já não está mais orando para atingir um objetivo
específico do fruto da oração, e sim porque ela está em um relaciona-
mento com Deus e isso vai se aprofundando na vida dela. Eu acredito
que o princípio inicial é que não sabemos como orar, quem nos ajuda na
nossa oração é o próprio Espírito de Deus.
CM: Tem outra coisa que eu acho interessante sobre essa questão de
que nós não sabemos orar. Há duas passagens bíblicas, uma delas é o
Senhor Jesus Cristo falando no sermão do Monte, em Mateus 6:5-6: “E
quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de ficar
orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos
outros. Eu lhes asseguro que eles já receberam sua plena recompensa.
Mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai,
que está no secreto. Então seu Pai, que vê no secreto, o recompensará”.
Me lembro do Ed. René Kivitz pregando sobre isso, falando que “é o Pai
que vê em secreto e não o Pai que ouve em secreto”. Não nos mostrando
o que deveríamos falar ou não, mas mostrando como, nesta fala de Jesus
Cristo, a postura de quem ora é muito mais importante do que o conteú-
do. Ele não fala qual o conteúdo da oração dos hipócritas.
O hipócrita poderia estar na esquina orando por outra pessoa. A questão
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é que ele está na esquina, porque quer aparecer para os outros. Enquan-
to o outro, que está humildemente em casa orando, fazendo isso em
secreto, faz diante do Deus que vê em secreto, porque só o Deus que vê
em secreto recompensa.
Tem muitas coisas importantes sobre isso, especialmente uma diferença
entre o que é religiosidade e o que é espiritualidade. A religiosidade é
aquela prática que você faz diante dos outros, a ideia de seguir uma regra
- e uma regra só é uma regra quando todos concordam.
A espiritualidade é diante de Deus, você sabe da realidade de Deus. É cla-
ro que a espiritualidade tem um âmbito particular e um âmbito coletivo,
mas esquecemos o âmbito particular, porque, basicamente, transforma-
mos o olhar dos outros no olhar Divino. Então, importa parecer crente,
não importa ser crente, não importa crer de fato. Mais que estar com as
palavras corretas ou não, é estar na postura correta, porque quem ensina
a orar é Deus.
Um outro exemplo é a oração sem palavras, que é a oração de Ismael.
Quando Hagar vai para o deserto pela segunda vez, em que Ismael já é
nascido. Se você fizer as contas, Ismael teria aproximadamente 15 anos -
somando o tempo do nascimento de Isaac até quando ela é expulsa por
Sara. Quando ela está no deserto com Ismael, o texto todo parece que
Ismael é muito pequeno, porque ela está o carregando. Ela o põe debaixo
do arbusto, se afasta a uma distância para não ver ele morrer, e come-
ça a orar no deserto. O anjo do Senhor aparece a ela e diz: “O Senhor
ouviu o choro do menino”. Ele não diz: “O Senhor ouviu a sua oração”. E
isso é muito interessante, porque nós não temos um Senhor que está
alheio aos nossos sofrimentos, não temos um Senhor que está alheio à
maldade.
Nós temos o Senhor que se compadece e, quando ele se compadece, ele
se compadece de pessoas que podem nem saber direito como expressar
o que estão querendo dizer, mas o Senhor está vendo. Isso é maravilho-
so, porque acredito, a partir dessa história, que não só essa oração é o
choro, como toda oração é um choro.
A nossa maneira de orar fala muito mais sobre nós do que sobre o po-
der de Deus através da nossa oração. Ela fala muito mais sobre o tipo
de relacionamento que temos com Deus do que sobre qual é a técnica
correta para se orar. Toda oração é um choro, pois, quando nós não sa-
bemos orar, o Espírito vai diante de Deus com gemidos inexprimíveis. Ele
vai diante de Deus e chora as nossas orações - essa é a maneira como o
Espírito traduz as nossas orações.
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Muitas vezes, quando nós estamos chorando diante de Deus, estamos
orando, porque o Senhor não está alheio. Ele não está lá, vendo nosso
sofrimento, dizendo assim: “Vamos ver se ele me chama”. Quem fez a
primeira oração na Bíblia?
O primeiro clamor a Deus vem com Abel. É quando Deus fala para Caim
que o sangue de Abel clamava da Terra. Abel estava morto, o que seria
esse clamor? Trata-se de um Senhor que não está alheio às injustiças,
ele está envolvido. Ele não está esperando que o levemos na direção dos
problemas do mundo, como se nós fôssemos uma espécie de fiscais aqui
para chamar: “Oh, está dando problema, vem aqui e solucione!”. Ele está
olhando, ele ouve a injustiça de Nínive que chega até ele, enche o seu cá-
lice com a injustiça dos amorreus. Ele está olhando para o mundo.
Quando nós oramos, o Espírito leva a Deus essa oração com gemidos
inexprimíveis. Quando essa oração é fruto das injustiças do mundo, está
partindo do mal do mundo, da situação de pecado na qual nós estamos
inseridos, esse choro - seja real ou espiritual, seja com os nossos olhos ou
com o choro do Espírito com as nossas palavras - está unido ao choro de
toda a criação. É tudo o mesmo contexto lá em Romanos. Então, quando
oramos, nós estamos entrando nessa situação de oração madura, iden-
tificamo-nos com a justiça de Deus e contra a injustiça do mundo. Um
choro de sangue que escorre para a terra, o choro daqueles que clamam
pela maldade dos poderosos.
Nós oramos a Deus, clamando por causa destas coisas, porque nós vive-
mos nessa realidade. A oração é fruto de gente que está se relacionando
com Deus, que busca a Deus, que busca pela fé, pois sabe que ele é ga-
lardoador dos que o buscam. Mas, também, é característica de quem vive
nessa situação de separação com Deus, que é a realidade do pecado em
que vivemos. Isso define espiritualidade. É viver nesse ambiente celes-
tial, ainda não estando nele. É provando esse relacionamento com Deus
numa situação de separação com ele.
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A oração de um discípulo de Jesus está permeada pela ideia de que vivemos
no caos, nessa velha era. Mas eu estou transformado pela nova era - troca-
dilhos que Shedd faz em seu livro “O Homem em Comunidade”. Essa pers-
pectiva de nova realidade deveria influenciar toda a minha vida de oração.
O OBJETIVO DA ORAÇÃO
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a torta de frango e a mulher já fala: “O café também, né?”. Ela já sabe, mas
esse é todo o relacionamento que eu tenho com ela. Mas, com os amigos,
os relacionamentos se aprofundam quanto mais experiências nós temos.
Com Deus é a mesma coisa. Devemos olhar para a oração dessa maneira,
aprofundando nosso relacionamento com Deus pela fé.
RJ: De certo modo, no ato da oração, você olha para Deus como alguém
que te provê, alguém que te escuta, mas também está ligado ao fato de
você ver Deus como alguém que é Santo, que é poderoso - em oposição
a você, que é pecador, impotente.
Pegando aquilo que o Tim Keller diz, que a sua visão teológica também
interfere na sua oração, essa visão vai mudando o seu relacionamento.
Então, ela não só é o fruto do relacionamento como ela interfere nele - na
sua relação com Deus.
Portanto, se você não consegue orar, sente sua oração fria, talvez o seu
problema não seja apenas gastar mais tempo em oração, ler um livro so-
bre a oração, orar o Pai Nosso ou até praticar o lecionário - algo para te
ajudar. Você precisa ver como é que está enxergando Deus.
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O fato é que, se oramos pouco, é porque a nossa perspectiva de Deus
não é bíblica. É preciso se aprofundar mais na Bíblia, em quem Deus é.
Sabe o assombro que os discípulos tinham, que a igreja primitiva tinha
diante desse Deus? Esse temor? Eles tinham conhecimento desse Deus
que invadiu a história e a modificou, desse Deus que se fez carne, do
Deus Emanuel.
B: Oração, para mim, é igual a Lost - a viagem é mais legal do que o desti-
no final. Ou seja, a oração em si deve ser o prazer. Se Deus vai responder
ou não à nossa oração, é outra questão. Eu tenho visto assim. Tenho
acompanhado esses novos pregadores, bem famosos, que atraem mul-
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tidões de jovens e adultos. Luca Martini, por exemplo, lançou um vídeo
dizendo que a vida não é a Disney. Achei isso legal, porque, em alguns,
eu vejo muitas frases do tipo: “você não tem a bênção ainda, porque você
não acredita”. Inclusive, ouvi um pregador falando que, na mentalidade
hebraica, “crer é ter”, que “a bênção já está aqui e você precisa materiali-
zar”, discurso de Kenneth Hagin de décadas atrás. São coisas que me as-
sustam, pois é como se a oração fosse mandinga - essa coisa que eu faço
para mover a mão de Deus. A oração deveria mover, sim, a mão de Deus,
para dar um tapa na minha cara, um: “Acorda, garoto! A vida não é isso.”.
Um amigo meu postou nas redes sociais esses dias e eu achei bacana.
Ele disse que, embora toda oração seja adoração no sentido mais amplo,
geralmente, a oração não é uma adoração. Na Bíblia, orar é pedir a Deus
para mudar o jeito que as coisas estão, se você sempre aceita o status quo
como vontade de Deus, não pode ser um homem ou mulher de oração.
Não se trata de fazer Deus de refém, ou colocá-lo contra a parede, mas
acreditarmos nesse Deus que responde às nossas ações, que é galardo-
ador daqueles que o buscam.
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ali uma carninha dada quando o filho pede. O que aconteceu ali? A fome
do filho que foi aplacada? Essa é a grande bênção dessa questão? Não!
Porque o almoço já estava previsto, já estava provisionado. A questão, ali,
é a relação - é simplesmente a relação. Ele comeu um pedacinho de carne
que foi dado pelo seu pai. Tem uma relação, tem uma coisa bonita nisso.
Por outro lado, num outro dia, o pai e o filho estão andando na rua e o
filho pede um sorvete e o pai fala: “não, porque você vai almoçar”. O plano
do almoço está se sobrepondo ao pedido, o que se constituiu ali? Uma
relação de entender quem o pai é, o que ele valoriza e em que acredita
sobre nutrição.
A mesma coisa acontece na nossa vida de oração. Esse exemplo tem um
problema, porque parece que só pode pedir para Deus coisas que não
sejam muito importantes, porque o que é importante ele está cuidando.
Ele cuida do almoço, nós só pedimos carninha, não sabemos diferenciar
o que é importante do que não é. O filho pede coisas para o pai e ele já
está resolvendo.
Se vier uma tempestade, um raio muito forte, o filho vai pedir um abraço
para o pai, vai pedir para o pai protegê-lo. E, claro que o pai protege, ele
está protegendo. Nós pedimos tudo, e o que se estabelece - no “sim” ou
no “não” - é a relação.
Cada vez oramos menos, as gerações oram cada vez menos. Eu me lem-
bro de um tweet do Sandro Baggio, de anos atrás, que ficou na minha
cabeça até hoje. Ele disse: “É impressão minha ou a oração está sumindo
da experiência cristã”? É uma coisa muito forte de se dizer, mas não é
nada de novo.
Na parábola da viúva insistente, Lucas fala que o Senhor Jesus Cristo con-
tou sobre a importância de persistir em orar. Jesus indagou: “quando vier,
o filho do homem achará fé na Terra”? O que tem a ver uma coisa com a
outra? A falta de oração é um sintoma de falta de fé. Se você não ora, é
porque você crê pouco ou porque você não está crendo. A oração é o pri-
meiro fruto de uma fé verdadeira. Quanto mais forte é a sua fé, mais você
vai orar. Quando oramos pouco, é porque confiamos em nós mesmos.
Quanto mais recursos nós temos para confiarmos em nós, nos nossos
meios, menos oramos.
Não devemos orar só quando não temos recursos. Não tem a ver com a
falta de recursos ou não. A falta de recursos só evidencia o quanto con-
fiamos nos recursos e não em Deus. Se confiamos em Deus, elevamos
nossas preces a ele. Se não confiamos, também não oramos. As pessoas
não fazem nada pois elas não estão crendo.
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No filme “Um Coração Na Escuridão”, tem um pastor com algumas crises
e, entre as crises, tem algumas sobre a própria espiritualidade. Ele diz que
“o desejo de orar é uma oração”. Achei tão bonito. Esse desejo de orar é
a evidência da fé no seu coração. É evidência de como a vida sem Deus te
deixa seco e vazio. Essa oração que começa num desejo deve continuar
como uma oração de fato. Você não deve, simplesmente, ignorar esse
desejo ou substituí-lo por outra coisa. Você deve fortalecer sua fé em
oração e fortalecer sua oração na fé.
ORAÇÃO E AMIZADE
B: Vocês sabem como surgiu aquela famosa pintura das mãos em ora-
ção? Conta a história que, por volta do ano de 1490, havia dois jovens
artistas que eram amigos íntimos, Albrecht Dürer e Franz Knigstein. Eles
eram muito pobres e tinham que trabalhar para se sustentarem, treinan-
do como artistas em seu tempo vago. Resumindo a história, chegou um
momento em que eles pensaram que, se continuassem trabalhando e
estudando nas horas vagas, nunca seriam grandes artistas, nem viveriam
da própria arte. Eles resolvem tirar sortes e quem ganhasse poderia ir
para a escola de artes estudar, e quem perdesse teria que trabalhar do-
brado para sustentar os dois. Albrecht ganhou a competição e, assim, foi
passar tempo com famosos artistas em seu treinamento. Ao passo que
Franz trabalhava arduamente para sustentar ambos.
Albrecht voltou para aliviar seu amigo, visto que tinha se tornado um ar-
tista bem-sucedido, ou seja, ele se deu bem. Agora, ele seria capaz de
enviar Franz para a escola de artes, mas, para seu horror, descobriu que
o pesado trabalho manual havia arruinado as mãos de Franz para sem-
pre. Portanto, Franz nunca seria capaz de se tornar um artista, ele havia
prejudicado o seu próprio futuro artístico por lealdade ao seu amigo.
Um dia, Albrecht encontrou Franz de joelhos com suas mãos postas em ati-
tude de oração. Ásperas, no entanto, oferecidas a Deus em amoroso sacrifí-
cio. Prontamente, desenhou o momento e produziu um símbolo do signifi-
cado da oração. Desde então, a oração intercessora, simbolizada por aquela
atitude, faz-nos lembrar que a oração e a amizade correm juntas. A pessoa
a quem oramos teve suas mãos atravessadas pelos cravos em nosso favor.
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