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09/07/2020 Valter Pomar: Haddad na Roda Viva

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Valter Pomar
quarta-feira, 8 de julho de 2020
Valter Pomar
Haddad na Roda Viva

Avisado eu fui. Mas, por recomendação médica, decidi não assistir à Arquivo do blog

performance de Fernando Haddad no programa Roda Viva de 6 de ▼ 2020 (37)


julho de 2020. Péssima opção, pois foi que nem faltar ao jogo de ▼ Julho (4)
ontem ou ao último capítulo da novela: quem não viu, não consegue Haddad na Roda Viva

participar da conversa com os amigos, nem com os inimigos. Crise sistêmica &
socialismo

Graças a ajuda de uma amiga, consegui a transcrição da entrevista Crise final do capitalismo
& socialismo
(ver link ao final) e, afrontando as diretrizes de meu amigo Esculápio,
Por um plano de
entrei na Roda Viva, sob comando de Vera Magalhães e tendo na transformação
democrática, popular...
bancada Andrea Jubé, colunista em BSB do Valor; Bela Megale,
colunista de O Globo; Flávio Costa, do UOL; Ricardo Balthazar, ► Junho (8)
repórter especial da Folha de SP; e Vera Rosa, repórter especial em ► Maio (4)
BSB do Estadão. ► Abril (9)
► Março (6)
Vale dizer que, contando com esta e salvo engano, Haddad já esteve ► Fevereiro (6)
cinco vezes na Roda Viva. Assim, não deve ter se surpreendido com
► 2019 (39)
a pergunta inicial de Vera Magalhães, que reproduzo abaixo:
► 2018 (98)
O senhor esteve aqui na eleição de 2018 e na época se falava na criação de ► 2017 (93)
uma frente ampla para a sua candidatura. Acabou não acontecendo, o ► 2016 (136)
Ciro Gomes não aderiu. E, agora, diante aí de alguns arroubos autoritários ► 2015 (152)
do presidente da República, tenta-se criar de novo essa frente. No úl mo ► 2014 (185)
dia 26, o senhor par cipou de uma live do projeto Direitos Já que uniu ► 2013 (172)
mais de 100 pessoas com esse obje vo. Mas não es veram nem o ex- ► 2012 (89)
presidente Lula, porque não quis, nem o ex-ministro Sergio Moro, porque ► 2011 (143)
não foi aceito por todos. É possível falar de Frente Ampla já par ndo da
exclusão de dois dos principais agentes da polí ca brasileira? Isso não
Tema CAMARADAS
acaba beneficiando Jair Bolsonaro? Essa oposição da lava-jato, o Brasil Espetacular
não tem que superar essa fase? Ltda..
Tecnologia do
Blogger.
Haddad começa dizendo que com Bolsonaro o Brasil “corre muitos riscos”. E
que o Brasil elegeu, em 2018, uma pessoa “sem nenhum compromisso com
a democracia, e sem nenhum compromisso com a gestão pública”. Lembra
que temos a “pior gestão de crise, talvez do planeta. Não é pouca coisa o
que tá acontecendo no Brasil, em termos econômicos e de saúde pública”.
Agora, diz Haddad, sua preocupação é que “não se repita o cenário de 2018.
É óbvio que nós não temos o mesmo projeto pro Brasil. Os democratas têm
projetos diferentes pro Brasil, mas todos pressupõem a democracia”. E para
o caso de alguém não ter entendido, ele reitera: “todos os nossos projetos,
por mais diferentes que sejam, pressupõem a democracia”.

Será que isto que Haddad fala é uma descrição correta da realidade? Será
que aqueles que votaram a favor do impeachment de Dilma, os que
aplaudiram a condenação e prisão de Lula, têm mesmo como “pressuposto

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09/07/2020 Valter Pomar: Haddad na Roda Viva
a democracia”?? Eu gostaria que isso fosse verdade, mas me parece apenas Followers
(513) Next
wishful thinking.

Para ser mais claro: uma coisa é denunciar a falta de compromisso com a
democracia, por parte dos que se autoproclamam democratas; outra coisa é
pressionar para que estes autoproclamados assumam efe vos
compromissos com a democracia; e uma terceira coisa, completamente
diferente, é distribuir medalhinha de democrata a quem não merece. Como
é o caso do jornal Folha de S. Paulo, aquele dos carros postos a serviço da
repressão durante a ditadura, que Haddad cita estar, agora, “gastando
dinheiro fazendo campanha pela democracia”.

Haddad encerra a resposta dizendo que não acredita no “Jair Paz e Amor”,
fantasia assumida pelo cavernícola depois da prisão de Queiroz. Segundo
Haddad, “é uma estabilidade, que tá sendo comemorada, que é falsa”.

Vendo que Haddad não se referiu ao indigitado, Vera Magalhães pergunta: E


o senhor coloca o Moro no rol dos democratas?

Haddad responde que “do meu ponto de vista, e falo isso como advogado
Follow
formado em Direito por uma boa universidade... eu não consigo ver
hipótese da ação do Lula não ser considerada suspeita, contra o Lula. Eu não
tô falando da Operação Lava-Jato... Eu acho que o combate à corrupção é
uma coisa que deveria nos obrigar a todos, né, onde quer que nós
estejamos”...

A apresentadora interrompe Haddad e diz: Não. A gente pode discu r isso


mais pra frente. Desculpe, prefeito, mas a pergunta é: Se ele é um
democrata que pode estar numa frente como essa.

Haddad então responde que “Moro não cumpriu a sua função de juiz. E ele
usou o seu cargo de juiz pra começar sua vida pública, na polí ca. Isso não é
a tude de um democrata”.

A pergunta seguinte é feita por Flávio Costa (UOL): você acha que o eleitor
que votou em você em 2018 está contente com seu desempenho como
líder da oposição ao Bolsonaro?

Haddad responde que isto deve ser perguntado aos eleitores. E emenda que
“o desempenho de você na oposição depende muito dos espaços que você
cava pra se apresentar. E é muito difícil, no ambiente atual, a oposição
conseguir esses espaços”. E reclama que não tem sido chamado pelos meios
de comunicação para opinar, “sequer sobre educação, sendo que eu sou o
brasileiro vivo que mais tempo passei à frente do Ministério da Educação”.

Fala que sempre foi crí co da “maneira como a gente organiza o debate
público no Brasil”. E revela que, nos bas dores, elogiou a Vera Magalhães
pela “maneira como tá conduzindo o Roda Viva”.

Neste momento lembrei das recomendações médicas. Mas sigamos.

O jornalista diz, então, que essa frente ampla que você quer fazer desde
2018 que nunca vai para frente, não sai do papel. Na verdade, nem no
papel...

Haddad responde que “nós estamos confundindo o conceito de frente


ampla”. E retoma as crí cas a Bolsonaro, cri ca também Guedes e lembra
que “nós alertamos as pessoas”. E emenda: “se o Fernando Henrique achou
por bem anular o voto, se o Ciro achou por bem deixar o país”

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Vera Magalhães chamou a pergunta seguinte, mas Haddad seguiu falando:
“Você há de convir que as perguntas têm que ser feitas também pra quem
imaginou que as coisas podiam transcorrer normalmente com Bolsonaro na
Presidência”.

Vera chamou de novo a pergunta seguinte, e Haddad também seguiu


falando: “Eu não tô aqui querendo buscar, ficar fazendo conta de culpados”.
E fez novas crí cas a Bolsonaro, agora de subserviência a Trump.

Em sua vez de perguntar, Andrea Jubé, colunista em BSB do Valor,


disse que caravanas de pe stas foram ao ex-presidente Lula implorar
para que ele convencesse o senhor a ser o candidato do par do na disputa
pela Prefeitura de São Paulo, ainda que com chances de não ganhar, e o
senhor acabou de falar que a derrota é natural, que o presidente Lula
perdeu várias vezes, que a derrota seria natural, mas que seria a hora do
senhor ser o candidato. Por quê? O senhor é o principal capital polí co do
PT, com 47 milhões de votos na úl ma eleição, seria hora de fazer a defesa
do projeto, de fazer uma oposição com visibilidade nacional ao presidente
Bolsonaro, de, inclusive, também, de ajudar a eleger mais vereadores, e o
senhor se mostrou irredutível. É... A crí ca de alguns pe stas é de que
seria a hora, entre aspas, do senhor fazer o sacrifício pelo par do, mas
que, por questões pessoais, o senhor preferiu não ser candidato. Eu queria
lhe ouvir sobre isso.

Haddad começa lembrando que disse que “não seria candidato um ano e
meio atrás”.

Pausa para as contas : 1 ano e meio são 18 meses, como estamos em julho
de 2020, 1 ano e meio atrás é janeiro de 2019. Portanto, teria sido logo
depois da eleição de 2018 que Haddad informou que «não seria candidato
em 2020”. A seguir Haddad fala sobre sua trajetória como ministro, depois
como candidato a prefeito, depois como candidato a reeleição em 2016,
depois como candidato a presidente em 2018, para concluir: “Então alguém
vai falar de sacrifício pra mim?”.

A jornalista pergunta: O senhor acha que já deu a sua cota de sacri cio?

Haddad retoma a palavra e conta “mais uma coisa: Quando o presidente


Lula _ porque houve um convite ao Ciro Gomes para ser vice na chapa,
houve ao Jacques Wagner ser vice na chapa _ e quando o Lula me convidou
para ser vice depois desses dois convites feitos, _e eu sabia dos dois, eu
sabia que eu não estava sendo convidado, né, de primeira mão, que eu tava,
né _ o Lula ainda falou para mim: “Haddad você tem consciência do que
pode te acontecer na campanha? Você sabe que você pode ser ví ma de um
atentado? Você pode sofrer processos judiciais, você pode ser preso, só
porque você tá defendendo a bandeira do PT. Você tem consciência disso?”
_ antes de validar meu nome. Eu falei: “presidente, eu não vou dizer não,
pode faltar uma semana, eu vou, e vou disputar pra ganhar, eu não vou
cumprir tabela, eu vou disputar pra ganhar”. Então não dá, não dá pra ser
assim, sabe”.

Leio e releio as respostas de Haddad. Confesso que não entendo como


chamar de “sacri cio” ter sido ministro ou prefeito de São Paulo. Ter sido
candidato à reeleição em 2016 era o óbvio. E ter sido convidado, pouco
importa se como primeira, segunda ou terceira opção, para ser candidato à
presidência da República é uma honra, não um sacri cio. Claro, no ambiente
privado, é compreensível uma resposta deste po. Mas em um ambiente
público, quem está respondendo não é a pessoa sica, mas a pessoa

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jurídica. E até onde eu consigo ver, a pessoa jurídica não cometeu nenhum
sacri cio, muito antes pelo contrário.

Mas este debate sobre ter havido ou não “sacri cio” é secundário. O debate
principal, sobre o qual não se falou nada, é sobre a Prefeitura de São Paulo e
o papel que joga, na luta contra Bolsonaro e seu governo, a eleição na
principal cidade do país. Ao aceitar que o debate fosse levado para o terreno
da provocação (a crí ca de alguns pe stas é de que seria a hora, entre
aspas, do senhor fazer o sacrifício pelo par do, mas que, por questões
pessoais, o senhor preferiu não ser candidato), Haddad perdeu a chance de
explicar as razões polí cas pelas quais ele não aceitou ser candidato e, em
segundo lugar, explicar como ele acha que deveríamos lidar com as
decorrências disto.

Mas a Roda gira e chegou a vez do Balthazar (FSP) perguntar sobre o tema
da formação dessa frente de oposição ao governo Bolsonaro”. Segundo
Balthazar, Haddad teria escrito que a construção dessa frente não deveria
implicar na perda de iden dade e diluição dos propósitos. E, com base
nisso, ele pergunta a Haddad porque “o que funcionou para o PT chegar ao
poder, e se manter no poder durante tanto tempo, não vale agora. Por que
que é uma má ideia fazer concessões e acordos e compromissos, como os
que foram necessários para que o PT se man vesse tanto tempo no poder,
no contexto que a gente vive hoje?

Haddad responde que “senão você não faz a agenda avançar. Se você não
usa o primeiro turno pra apresentar um projeto de país; se você já, antes de
tudo, você já abre mão daquilo que você entende que deveria ser o rumo do
país, e não expõe isso pra a opinião pública, você não consegue fazer
avançar a agenda”.

E emenda: “O que eu defendo? É que os progressistas possam apresentar


sua agenda para o país, em 2022, com uma ou duas candidaturas, de
preferência uma, mas não sei se é possível, não depende só de um lado.
Então apresentem os seus projetos, agora, mas com o compromisso de,
num segundo turno, a gente olhar para o futuro deste país, olhar pros
pressupostos de qualquer debate civilizado nesse país, ninguém se sen r
ameaçado porque pensa diferente, por exemplo. »

Progressistas é um termo assaz curioso. O PSDB seria progressista? Rodrigo


Maia seria progressista? Também é curioso que o primeiro pressuposto de
que Haddad lembre é « deixar o trabalho de vocês, jornalistas, acontecer”.
Claro que devemos ser a favor disso. Mas não seria o caso de emendar que
a liberdade de imprensa não é a mesma coisa que a liberdade das empresas
de comunicação, que aliás usaram esta “liberdade” para atentar contra a
democracia, apoiar o golpe contra Dilma e a prisão de Lula, sem falar no
apoio direto ou indireto que muitas deram para a vitória de Bolsonaro?

Seja como for, o que Haddad deu a entender, nesta resposta, é que ele
trabalha com o cenário mais provável de que o PT terá candidatura própria
no primeiro turno das próximas eleições presidenciais. Sinalizando para
alianças de segundo turno com outras forças “progressistas”. E tudo isto em
2022, restando a dúvida: se o governo Bolsonaro durar até lá, haverá
mesmo debate (ou eleições) civilizadas?

A pergunta seguinte foi feita por Bela Megale, de O Globo, sobre as


diferenças existentes no PT: qual o PT que espera atrair o eleitor. Se é um
PT que busca diálogo com nomes como Rodrigo Maia, Fernando Henrique
Cardoso e assina manifestos em defesa da democracia, como o senhor fez,
ou se é um PT como já disse o ex-presidente Lula que ‘não tem mais idade

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para ser maria-vai-com-as-outras” e assinar manifestos que têm a
presença do ex-presidente Fernando Henrique’.

Haddad responde que “uma das grandes vantagens do PT é que lá não tem
centralismo democrá co. Sabe, eu posso ouvir meus companheiros e
formar meu juízo sobre como eu devo proceder, contando com a boa
vontade deles em saber que eu estou agindo de boa-fé, que eu tô agindo
com o mesmo obje vo que eles”.

Confesso que é a primeira vez que eu tomo contato com esta “teoria da boa
vontade com a boa fé”. Mas mesmo que as coisas fossem assim, caberia
perguntar se vai longe um Par do que, em nome de não ter centralismo
democrá co, admite duas tá cas em torno de uma questão tão relevante
como esta da “frente ampla”. Ao invés de enfrentar esta questão, Haddad
escolheu elogiar o PT, como “um instrumento que a classe trabalhadora
criou”.

Bela Megale volta a carga, perguntando a Haddad qual é, na opinião dele, a


postura esperada pelo eleitor do PT: adesão ou não à tal frente ampla.

Neste ponto, Haddad responde o seguinte: “eu acho que o eleitor do PT


sabe é que o PT pode ter defeitos, pode _ como todos os par dos têm, né.
Todos os par dos têm problemas, todos, sem exceção. Qualquer
agremiação humana tem problemas. As igrejas têm problema; os par dos
têm problema; os mes de futebol têm problemas. Um dos erros da Lava-
Jato foi não separar o joio do trigo em cada, sabe, em cada linha. (O ERRO)
Foi escolher um alvo. Não! Separa o joio do trigo, no PT, no PSDB, na família
Bolsonaro. Ver quem é bom e que é ruim. E separa. Isso é construir um país.
Você premiar, não com dinheiro, mas com reputação, com honradez, as
pessoas que estão dedicadas à vida pública sem nenhum outro po de
interesse a não ser ver o país crescer, ver o país se desenvolver”.

Ou seja: olhando de perto e rando a bailarina, todo mundo tem problema.


Mas a questão segue sem resposta: vai longe um Par do que, em nome de
não ter centralismo democrá co, admite duas tá cas em torno de uma
questão tão relevante como esta da “frente ampla”?

Ou, pior ainda, vai longe um par do que possui, na sua cúpula, quem ache
que “um dos erros da Lava-Jato foi não separar o joio do trigo”??? Será
possível, depois de tudo isso que aconteceu no país, de tudo isso que
sabemos, Fernando Haddad ainda falar de “erros” da Lava Jato?

A pergunta final do primeiro bloco foi a da jornalista Vera Rosa, do Estadão.


Apontando que mesmo os eleitores do presidente Bolsonaro que estão
decepcionados, insa sfeitos com ele" podem “votar novamente nele caso
ele seja candidato em 2022. Por um simples mo vo: dizem que não vêem
uma alterna va polí co-eleitoral”, Vera aponta o dedo acusador contra o
PT: “Por que o PT não conseguiu fazer oposição a Jair Bolsonaro? E mais:
Por que o PT não conseguiu dialogar com o eleitor de baixa renda, mais
conservador?

Este povo é diver do: nos pisoteia e depois pergunta porque estamos
assim, pisoteados.

Haddad ques ona o pressuposto da pergunta e fala, por exemplo, que as


“poucas boas notícias, as pouquíssimas boas notícias que nós temos para
dar, vieram da oposição, não do PT exclusivamente, mas vieram da
oposição”.

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Vera Rosa interrompe para dizer que a oposição só conseguiu, prefeito,
porque teve o apoio ali de Rodrigo Maia, do Centro.

Rodrigo, do Centro. Centro???

A resposta de Haddad é: “Eu disse claramente: não se deve exclusivamente


ao PT, mas à oposição ao Bolsonaro. Então a oposição do Bolsonaro
trabalhou”.

Portanto, Haddad deixou sem resposta a questão que realmente importa:


como o PT pretende dialogar com o eleitor de baixa renda, mais
conservador?

Pano rápido.

O segundo bloco começa com a Vera Magalhães, futucando no flanco que


Haddad deixou a descoberto: O senhor acha que Bolsonaro pode estar
mudando de base social? E que de alguma maneira ele vai se apropriar
dessa agenda que é uma agenda sempre historicamente da esquerda, essa
de auxílio e de redução da desigualdade pra se contrapor à perda de
popularidade entre as classes médias e mais escolarizadas?

Haddad diz acreditar que “eles devam estar fazendo um cálculo”, fala da
crise de 2008, do padrão asiá co e la noamericano de desenvolvimento, diz
que estamos numa situação complexa, que isso “desnorteia a situação e faz
com que líderes populistas apelem para medidas não necessariamente
condizentes com o discurso de campanha”. Mas diz não saber “se o
Bolsonaro exigir uma mudança de polí ca econômica”, se Guedes vai topar.
E “entre mercado e o povo talvez o Bolso... não sei o que o Bolsonaro vai
fazer”.

In dubio resid exit, dizia se bem recordo meu professor de la m. Mas


confesso não entender a falta de referência a um plano muito simples:
prolongar e ampliar a ajuda emergencial, ao mesmo tempo em que se
reduzem as poli cas públicas permanentes, inclusive o Bolsa Família.

Seja como for, Vera Rosa volta a carga: o senhor não me respondeu a
segunda parte da pergunta: Por que que o PT não consegue dialogar com
esse eleitor de baixa renda, mais conservador?

Haddad responde com a votação dele no Nordeste. Vera retruca que o PT


estaria perdendo apoio lá. Haddad devolve dizendo que “não vamos
antecipar a eleição (...)o PT tá no jogo, e vai estar sempre. Na minha opinião,
né. Tem militância, tem foco”.

Depois da saudação à bandeira, Haddad reconhece que as regiões


metropolitanas cons tuem “um problema que nós temos que averiguar”, a
“penetração de um pensamento conservador nas periferias, que mudou. A
periferia era mais progressista”.

Vera Rosa cita os evangélicos e Haddad diz que “esses ciclos, eles não são
novos. Se você pegar a eleição do Paulo Maluf, que é uma pessoa
extremista, na minha opinião, não é? É uma pessoa mais extre...”

Neste momento, Haddad é interrompido pelas duas Veras, que o lembram


que o extremista Maluf teria declarado apoio a Haddad.

Haddad afirma que “Se você recebe apoio sem abrir mão de nada do que
você pensa, de uma linha do seu programa, quem tem que explicar por que
que está apoiando quem é quem deu apoio. Se você está abrindo não de
coisas, aí não, aí você que tem que se explicar. Então eu acho que o Maluf
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09/07/2020 Valter Pomar: Haddad na Roda Viva
tem um pensamento extremista, do ponto de vista polí co. E ele era dono
da periferia. O que mudou isso foram os governos pe stas. Os governos
pe stas na cidade de São Paulo que mudaram esse quadro” .

Neste ponto, o Baltazhar da FSP afirma que a questão que a Vera tá


colocando, as duas Veras, colocaram vai um pouco mais fundo. Quer dizer,
esse eleitorado que apoia o Bolsonaro, desde a eleição, esses 30% que
estão ao lado dele e muitos dos quais eram, foram, leitores do PT no
passado e tudo mais, não é… Nem todo mundo ali defende a volta do AI-5,
é a favor da tortura, quer a volta da ditadura e tudo mais. Existem
Inúmeras razões pelas quais eles elegeram Bolsonaro presidente e não o
senhor e mantêm o apoio a ele apesar de tudo que nós vimos aí nesses
meses. O que o senhor aprendeu na eleição diante da situação? A
impressão que se teve com a surpresa que a vitória dele representou é que
ela foi, de certa forma, expressão de angús as e inseguranças com raízes
econômicas ou que seja, culturais, o que for, que não encontravam
representação na polí ca tradicional, no PT, nos outros par dos, e
encontraram nele uma expressão para as angús as e inseguranças que
elas nham. E muitas pessoas con nuam lado dele. O que vocês
aprenderam com a eleição? Como dialogar com essas pessoas?

E a Vera apresentadora complementa: Se corrupção não foi subes mada e


con nua não sendo subes mada pelo PT e se o apego da esquerda às
pautas iden tárias não permi u ao Bolsonaro fazer um discurso maluco
de mamadeira de piroca, kit gay e etc, que até hoje ecoa em uma boa
parcela ....

Haddad não contesta as afirmações anteriores. Quase como se fizesse parte


da bancada de entrevistadores, afirma que “eu agregaria a questão da
segurança pública. Sabe, as pessoas estavam realmente exaustas, estão
exausta de tanta violência. E a solução de mais violência para combater
violência soou como um ato de desespero, dizendo: 'bom, agora nós vamos
nos armar para combater a violência'.”

Haddad levantou a bola e Flávio da UOL cortou, afirmando que a segurança


pública foi deixada de lado pelo PT, nas gestões Lula e Dilma.

Novamente, Haddad não contesta, apenas “qualifica” e diz que “a


Cons tuição de 88 ela tem um problema, a Cons tuição de 88 ela não
enfrentou o debate sobre segurança pública. Se você verificar os capítulos
da Cons tuição, você vai ver que o capítulo da educação, capítulo extenso;
da saúde tá dentro da seguridade social, com assistência e previdência. Tem
um capítulo de esporte, cultura. Você vai na segurança pública, tem um
ar go, pra camente. Então o cons tuinte, imagine, saindo do regime
militar, o cons tuinte não se sen u forte o suficiente para criar um capítulo
na Cons tuição da segurança pública, e nós estamos nisso, desde então,
colocamos a responsabilidade nos ombros dos governadores, que têm as
polícias civil e militar, e o governo federal ficou, desde então, inclusive no
governo do PT, de espectador. E eu acho que foi um erro”.

A maneira como Haddad descreve o problema é curiosa. Ao afirmar que a


Cons tuinte não se sen u forte o suficiente para tratar do tema, ele passa a
impressão de que, recém-saídos do regime militar, os cons tuintes optaram
por uma a tude permissiva frente ao tema da Segurança. Mas a verdade é
exatamente o oposto dessa: acovardados, a maioria dos cons tuintes não
teve coragem de enfrentar e enterrar o legado da ditadura na questão da
segurança pública.

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09/07/2020 Valter Pomar: Haddad na Roda Viva
Talvez por pensarem da mesma forma que Haddad, alguns gestores
públicos pe stas se sentem in midados no trato com a direita, quando se
trata do debate sobre a segurança. E acabam assumindo pontos de vista
muito próximos daqueles que setores da direita defendem.

Aliás, neste ponto do debate, a jornalista Andrea, do Valor, cita que o


governador da Bahia, no segundo turno, falou que era para o senhor
reforçar o debate sobre segurança pública. E agora, curiosamente, uma
nova liderança que talvez surja no PT lá na Bahia, pode ser candidata a
prefeita de Salvador, é uma major da Polícia Militar.

Haddad a essa altura está na roda viva. A mesma Andrea pergunta: no


momento em que se cri ca uma militarização no governo, como que o
senhor vê o surgimento de uma nova liderança da polícia militar no PT?

Ao invés de separar o joio do trigo (a militarização de todo o governo federal


versus uma candidata a prefeita que é oficial da PM), a resposta de Haddad
é que não tem “esse po de postura em relação às corporações. Por
exemplo, eu convidaria um militar pro governo? Convidaria. Conheci
excelentes militares e patriotas de verdade, não subservientes ao Trump ou
aos Estados... patriotas mesmo”. Em seguida diz ser “contra carreira de
Estado par cipar do governo”. E aí lembra que criou a Controladoria Geral
do município, para depois voltar a falar que não tem problema com
corporação, o que ele quer saber é o que a pessoa pensa do Brasil, como vai
tratar os pobres, os negros etc.

Digamos que seja assim, mas segue havendo um problema em curso no


Brasil, com guarida na Cons tuição de 1988: a tutela militar. Sobre isso,
nada foi dito. Como se as forças armadas (e o sistema judiciário, e a
militarização das polí cas) fossem problemas que podem ser equacionados
através de uma boa entrevista de emprego.

Como já dissemos, nesta altura da entrevista Haddad está na roda viva. E aí


vem a pergunta da Bela Megale (O Globo) sobre Antonio Paulo Vogel,
interino no lugar do Weintraub e que trabalhou com Haddad,
anteriormente. Vera aproveita para pedir uma avaliação sobre o estado de
coisas da educação.

Antes de seguir, recordo que Haddad reclamou não ter sido chamado, pelos
meios de comunicação, para opinar “sobre educação, sendo que eu sou o
brasileiro vivo que mais tempo passei à frente do Ministério da Educação”.

A resposta que Haddad deu a Bela & Vera foi a seguinte: “O Paulo, ele foi
secretário-adjunto de Finanças no meu governo aqui em São Paulo. Sou
grato a ele, a ele e ao tular, que era o Marcos Cruz, os dois foram
responsáveis por toda negociação da dívida de São Paulo, que caiu de 80
para 30 bilhões. São Paulo ganhou grau de inves mento por causa da
gestão dos dois no meu governo; fizeram um trabalho impecável do ponto
de vista de pagamento de precatórios, nós fomos a gestão que mais pagou
precatórios acima das condenações anuais, resgatando um estoque que era
considerado impagável. Então toda essa montagem foi feita pelo Marcos e
pelo Paulo, depois veio o Rogério Ceron, que inclusive foi aproveitado pelo
governo Alckmin depois. E o Paulo tá sendo aproveitado pelo governo
Bolsonaro. (...) Então nós estamos falando de pessoas altamente
qualificadas. E se São Paulo tá na bonança que está em meio a essa crise, é
por causa do trabalho dessas três pessoas que eu citei. Excepcionais
quadros técnicos. Agora, o Paulo não é educador, ele é uma pessoa... tem
um perfil ó mo pra secretário execu vo, é uma pessoa que entende de
orçamento público, mas ele não é da área da educação”.

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Neste ponto da entrevista eu lembrei, novamente, da recomendação médica
que havia recebido, de não assis r a entrevista de Haddad no Roda Viva.

Afinal, convenhamos: o cidadão pode ser excepcional filho, excepcional pai,


excepcional companheiro, pode ser excepcional profissional, mas aceitar ser
cargo de confiança do governo Bolsonaro torna isto tudo irrelevante de ser
citado, muito menos elogiado. Mas vindo de quem já elogiou Moro e
Alckmin em plena campanha presidencial, qual é mesmo o espanto?

Bela Megale talvez tenha ficado espantada, também, e perguntou o


seguinte: Mas hoje o MEC está em boas mãos, na avaliação do senhor?

A resposta de Haddad foi: “Tecnicamente, da parte de finanças sim. Da


educação, ele não é da área, né?”

Bela Megale volta a carga: A parte de educação deixa a desejar. Não é o


melhor quadro, então?

Haddad responde: “Eu acho que ele não será confirmado como ministro, e
talvez nem queira, em função disso, de ele ser um quadro do Tesouro, que
pode ocupar...”

Meus médicos são uns videntes!!! E só me resta torcer para que o tal
excepcional técnico não seja mesmo nomeado. A verdade é que, embora
tenha reclamado por não ser ouvido para falar dos problemas da educação,
não foi Haddad, mas sim a Vera Magalhães, quem tomou a inicia va de falar
dos problemas da educação no Brasil.

Segundo a jornalista, nesses quase dois anos, ministro, a gente até hoje não
tem um subs tuto pro Fundeb, o Enem tá com uma decisão precária de ser
realizado ainda no fim do ano sem que se saiba se tem condições para que
isso seja feito, e não há nenhuma diretriz para os Estados sobre como lidar
com as aulas durante a pandemia, cada um tá fazendo meio do seu jeito.

E só aí Haddad, que até então estava refle ndo sobre a excepcionalidade


técnica, diz que “estamos numa situação caó ca, eu diria tanto na saúde
quanto na educação”.

Vera Rosa, do Estadão, pergunta a quem Haddad atribuiu essa dificuldade


de o presidente pra compor a equipe? Haddad responde que “Bolsonaro
nunca se preparou para ser presidente da República”, o que certamente é
verdade. Mas ao focar na pessoa do cavernícola, Haddad perde a chance de
apontar o dedo para os problemas de fundo da coalizão golpista.

Novamente, é uma jornalista, neste caso a Vera do Estadão, quem chama a


atenção para isto, perguntando se Haddad acha que existe ali uma guerra
entre o núcleo ideológico e os militares, por exemplo?

Apesar da deixa, Haddad insiste na discussão sobre o papel do homem na


história: “Tem também. Mas você já viu um presidente incapaz de conseguir
nomear um ministro? Ele não consegue. Não é sem razão. Isso não é um
momento difícil do governo, isso é crônico nesse governo”.

Haddad, vindo de uma "boa universidade", como ele mesmo lembrou


noutro momento da entrevista, podia ter feito pelo menos uma
prosopografia deste governo, mas ele parece convencido da ideia de que
“tem uma equipe desmelinguindo, você tem uma equipe desmelinguindo,
em função do que? Em função da falta de comando do país. Você viu aquela
reunião ministerial? Aquela reunião ministerial ela talvez seja a prova mais
eloquente do que eu tô dizendo aqui, quer dizer, são horas, e você não vê
absolutamente um projeto sério ser discu do”.

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09/07/2020 Valter Pomar: Haddad na Roda Viva

Sem dúvida a reunião citada e a equipe são um horror, mas o problema é


que apesar disso, ou por causa disso, os obje vos perseguidos pelo
cavernícola estão sendo a ngidos. Aliás, talvez por isso mesmo, o Flávio da
UOL corte abruptamente Fernando Haddad para perguntar o seguinte:
Haddad, o que você faria diferente em termos de economia? Não de
nomear ministros, mas em termos de economia, o que você faria diferente
nesse governo de agora?

Haddad começa falando da pandemia, para chegar na ideia de que foi


competente quem foi firme na decisão, salvou vidas e conciliou esse
salvamento com a economia. Depois elogiou Camilo Santana, que teve que
enfrentar o governo federal. Em seguida tratou das máscaras. Diz que
Bolsonaro é uma pessoa desequilibrada. Mas sobre o tema da economia, o
que faria de diferente, nada foi dito.

Aí Balthazar o interrompe, para dizer que na hipótese de o impeachment ser


aprovado, assume Mourão. E Balthazar pergunta: o senhor acha que ele
teria condições de formar um governo melhor do que isso que o senhor
descreveu?” E Vera emenda, perguntando porque Haddad afirmou que as
opiniões de Mourão sobre os poderes seriam uma 'aberração jurídica'.

Haddad começa a resposta lembrando que, segundo Bolsonaro, Mourão


seria “ainda mais tosco do que ele”. Mas ninguém se iluda, achando que isso
é a deixa para Haddad dizer que raremos um e depois o outro. Não!

Pelo contrário, ele afirma que “tem uma regra cons tucional. Eu sou ultra
legalista. Tem uma regra cons tucional que diz o seguinte: elege chapa; sai
um; entra outro; ponto! Não tem, não tem dúvidas sobre a Interpretação. Se
cassar chapa em função dos disparos de fake News, tem nova eleição, se
essa cassação acontecer até o final do ano. Se passar de dezembro, nem
isso tem; Congresso vai eleger por via indireta um presidente tampão até as
eleições de 22. É essa regra. Me agrada essa regra? Não! Eu acho que no
Brasil não tem funcionado. Eu acho que, inclusive, eu sou defensor dessa
emenda cons tucional que está tramitando que diz que o vice assume para
chamar eleições em qualquer hipótese: ou de impeachment ou… Cassação
de chapa quem chama a eleição é…. tem o rito previsto na Cons tuição
porque aí cassou a chapa. Mas em caso de impeachment, o vice assume
para convocar eleições”.

Digamos que haveria maneiras mais enfá cas de defender o Fora Bolsonaro
e Mourão, seu governo, suas polí cas e a antecipação das eleições
presidenciais.

Em seguida, es mulado pelo Flávio da UOL, Haddad começa a falar da tal


“aberração jurídica”. Segundo Haddad, não existe o poder moderador. E, de
fato, não existe na lei. Mas a pergunta de ouro é: na realidade, na ordem dos
fatos, as forças armadas exercem ou não um poder de tutela? Novamente,
focado na pessoa sica de Bolsonaro, Haddad conclui a resposta dizendo
que “Bolsonaro blefa muito” e que a vocação dele é “fechar o regime”.

Se fosse só dele, tava fácil. Sigamos agora para o terceiro bloco da


entrevista.

Vera Magalhães começa citando o cien sta polí co (argh) Ma as


Alencastro, segundo o qual a pandemia serviu para a esquerda renovar
suas lideranças no mundo e se opor a lideranças de corte populista, como
o Jair Bolsonaro, opondo uma agenda. E ele nota que aqui no Brasil isso
não acontece, e ele atribui isso ao fato de que o PT está muito preso nas
suas an gas pautas, na necessidade de provar que houve um golpe contra

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09/07/2020 Valter Pomar: Haddad na Roda Viva
Dilma, que houve... que o impeachment da Dilma foi golpe, que o Lula foi
preso Injustamente, preso a essa agenda. O senhor citou o Camilo Santana
como uma boa liderança do PT. Por que que não há espaço para essa
renovação geracional dentro do par do e esse lulacentrismo ainda é a
prá ca dominante dentro do PT?

Haddad, como em outras passagens da entrevista, não ques ona a


premissa da pergunta. Responde que “tem uma questão concreta que é o
tamanho que o Lula adquiriu dentro do PT em função dos governos que fez.
O Lula liderou, como eu dizia, um par do formado a par r da base e
convenceu os seus companheiros de que era possível ganhar uma eleição
presidencial no Brasil. Ganhou e saiu com 80% de aprovação. Ele virou o que
virou. Pelo mérito dele, pelo trabalho dele, né. Obviamente todo mundo _
não tô negligenciando o papel da militância_ mas ele foi o grande moneiro
desse processo. Ganhou quatro eleições presidenciais e, na visão dos
pe stas, foi injus çado. Então ele tem esse papel de destaque”.

Aqui, um registro: não são apenas os pe stas que acham que Lula sofreu
uma injus ça. Mas isto não é o grave da resposta. O grave é admi r,
implicitamente, que estamos diante de uma “questão de transição
geracional”, apenas que ela seria “lenta mesmo. Ela não é uma coisa
automá ca”.

Na sequência, Haddad faz referências a Miterrand, a Helmut Kohl, a Angela


Merkel, para concluir que são “transições complexas, sobretudo porque o
Lula tá, apesar dos seus 75 anos, super em forma”.

Hehe. Meus médicos, meus médicos.

O problema que está posto não é de transição geracional. O problema é


polí co. Primeiro, de capacidade de diálogo com os tais setores pobres,
questão que Haddad admi u exis r, mas não foi muito além disso. Segundo,
de radicalidade no enfrentamento não apenas a Bolsonaro, mas ao conjunto
da operação golpista. Enquanto Lula não ver seus direitos polí cos
res tuídos, con nuamos sob golpe. Não há transição geracional que resolva
isto. Que Haddad tenha levado a resposta para este caminho é, em certo
sen do, constrangedor.

Aproveitando a abertura demonstrada pelo entrevistado, Vera Magalhães


diz que a imagem de Lula é muito ruim com os não-pe stas e arremata: O
PT não está se negando a olhar a realidade?

Neste ponto, Haddad veste a carapuça e responde que “isso aconteceria


com outros nomes do PT também. Isso que eu tô querendo te dizer. Isso
não é um atributo só do Lula. Isso aconteceria com qualquer pessoa do PT.
Se você lançar um candidato do PT, ele vai ter que enfrentar esse debate. Ele
vai ter que defender o legado, ele vai ter que defender a legenda e ele vai ter
que defender os princípios que o PT defende, que não é passar a mão na
cabeça de ninguém. É fazer jus ça. Em qualquer... No PSDB tá cheio de
gente respondendo a processo, eu não sei dizer, e tenho muita insegurança
sobre se estão ou não fazendo jus ça. Não conheço os processos, mas eu
quero te dizer o seguinte...”.

Vera Magalhães interrompe Haddad para lembrar que não se vê o PSDB


voltado para defender essas pessoas. Não se vê um discurso de as pessoas
dizendo diariamente que o Serra é um injus çado, que o Aécio Neves é um
injus çado.

https://archive.vn/IT11i#selection-425.1-425.20 11/22
09/07/2020 Valter Pomar: Haddad na Roda Viva
Haddad contra-ataca, dizendo que “ali tá mais di cil de defender a inocência
por causa de se.... Você tem 40 milhões de reais numa conta no exterior, é
di cil explicar”.

Vera retruca que um foi condenado em três instâncias. Os outros ainda


não. Formalmente é mais fácil defender.

E Haddad afirma ser fácil defender “qualquer pessoa que não teve sentença
transitada em julgado. Eu sou dessa opinião: tem recurso? Então, presunção
de inocência”. E desvia o assunto para Bolsonaro.

Antes de passar para o cavernícola, uma observação: Haddad comete um


erro ao focar na inocência da pessoa sica de Lula, e comete outro erro ao
acentuar que Lula não teve sentença transitada em julgado. Pois a questão
não é a pessoa sica de Lula, a questão é a pessoa jurídica de Lula. Lula foi
condenado e preso para que o golpe pudesse eleger seu candidato. Se Lula
es vesse solto, Bolsonaro não estaria na cadeira de presidente. Este é um
dos mo vos pelo qual a anulação das condenações de Lula é peça chave na
luta contra o golpismo.

Haddad, como advogado e/ou como amigo de Lula, poderia dizer apenas o
que disse. Mas como uma das principais lideranças do PT, sinceramente foi
por um caminho inadequado.

Agora vejamos o que ele fala de Bolsonaro.

Amarrado pela embocadura que adotou no caso de Lula, Haddad comete a


seguinte frase: “presunção de inocência vale para todo mundo, até para o
Bolsonaro, né”. Depois engata uma frase estranha, ao menos nos tempos
modernos: “Se meu filho fosse acusado de alguma coisa, eu pedia para
quebrar o sigilo dele”.

A situação é tal, que o Flávio da UOL interrompe e pergunta até quando o PT


vai rodar em círculos em relação a essa questão?”

Haddad responde que “não é rodar em círculos. Nós temos... nós não
podemos deixar passar o que aconteceu. Ninguém, ninguém faria isso
consigo nesmo. Você gostaria, Flávio, que alguém falasse de você alguma
coisa que não corresponde a tua conduta e a gente dissesse assim: “vamos
deixar o Flávio pra lá, que o Flávio já era”. Poxa, eu sei quem você é. Se eu sei
da tua conduta, eu não vou fazer. Pode ser quem for”.

A comparação não tem pé nem cabeça, pois, convenhamos, este Flávio não
foi ví ma de uma conspiração judicial, com o obje vo de consumar nas
urnas um golpe de Estado.

Aliás, quem destaca isto no ato é a Vera Magalhães, que lembra que a
polí ca e a jus ça não são feitas com esse critério de ‘brodagem’. Prefeito,
três instâncias da jus ça decidiram que o julgamento foi válido, ainda se
aguarda um habeas corpus na segunda turma do supremo para decidir se
o julgamento é passível de anulação. Então existe uma questão factual... e
tem uma questão na ONU...

Haddad se defende com uma menção à frase de Moro, que disse estar “no
ringue com Lula”. Mas Vera não desiste e pergunta: O que aconteceu com as
instâncias superiores, que referendaram essa decisão?

https://archive.vn/IT11i#selection-425.1-425.20 12/22
09/07/2020 Valter Pomar: Haddad na Roda Viva
Haddad, ao invés de apontar o que as pedras sabem, que houve uma
conspiração golpista, com o Supremo e com tudo, prefere responder que “é
uma longa conversa o que aconteceu. Agora tá com um processo no
supremo, que está com pedido de vistas e que deve voltar para a pauta da
segunda turma até, sei lá, setembro outubro desse ano. Vamos ver o que
que a jus ça diz”.

Vamos ver o que a Jus ça diz???

Where is my doctor????

Haddad, como dito antes por ele mesmo, é ultra legalista. Logo, ele afirma
que “a quan dade de evidências que nós levamos, a quan dade de
evidências que foram levadas ao conhecimento dos ministros, na minha
opinião, sobra evidência de que tem alguma coisa errada ali”.

"Tem alguma coisa errada ali."

Realmente, tem alguma coisa errada. Mas, pelo visto, não é só "ali".

A Andrea, do Valor, pergunta se a demora no pedido de vistas pode ter


favorecido o ex-presidente Lula? e Vera pergunta se o fato de ele já ter
saído da prisão acabou com essa questão?

Haddad retoma a embocadura de advogado e lembra que Lula “já foi tão
desfavorecido em tudo. Uma pessoa que não era réu e não tomou posse do
cargo de ministro-chefe da casa civil, nem réu ele era. Teve seu sigilo
telefônico quebrado ilegalmente, os áudios vazados ilegalmente. Se eu for
enumerar aqui a quan dade de ilegalidades que foram come das. É uma
quan dade... não é uma, não estamos falando de uma ilegalidade. Agora,
isso tudo vai ser processado, isso tudo vai ser passado em pratos limpos, vai
vir, a verdade vai vir à tona, só não virá à tona se a gente desis r dela.”

E reafirma: “Se nós desis rmos da verdade, talvez ela nunca venha à tona”.

Verdade. Haddad tem razão. Mas também é verdade que faltou explicitar
um detalhe: a mo vação polí ca da condenação. Novamente, é uma
repórter que chama a atenção para o fato de que é a polí ca, prefeito. Nas
palavras de Vera Magalhães: E talvez se insis rem nela percam outra
eleição, não? Haddad devolve: Se insis rem em que? E Vera retruca: Se
insis rem tanto nessa “verdade” percam nova eleição. E o Bolsonaro se
reeleja.

Neste ponto, Haddad está de novo na roda viva. E diz: “Tem coisas que estão
acima.... Pera aí, não existe só o PT. Existe o PT, existe o PSDB... (....) Se o
Bolsonaro for eleito não é por culpa do PT”.

E só então, nas palavras da Vera Rosa, aparece o centro do problema: O


senhor diz que está lutando para que o ex-presidente Lula tenha os
direitos polí cos recuperados, para que ele seja o candidato em 2022?

Haddad responde: “Se ele quiser? Por mim, sim!”

Ou seja: o argumento central, aparece por inicia va de uma entrevistadora,


e é conver do numa questão de desejo pessoal (ser candidato). Note-se que
ninguém duvida que Haddad defende a res tuição dos direitos de Lula. Ele
inclusive fez disso uma das questões chave do seu discurso no comício

https://archive.vn/IT11i#selection-425.1-425.20 13/22
09/07/2020 Valter Pomar: Haddad na Roda Viva
virtual dos Direitos Já. Portanto, aplicando a teoria da boa vontade com a
boa fé, concluo que se isso não apareceu até agora, devidamente, na
entrevista, foi porque, ao comentar o tema, Haddad meio que sem perceber
foi saindo da estrada da polí ca e pegou a vicinal judicial. E isto ocorreu,
acho eu, porque lá atrás ele aceitou a tese da renovação geracional. É como
se devolver os direito ao Lula fosse, não uma necessidade polí ca do país,
mas uma úl ma homenagem que se presta a um combatente cansado.

Aliás, foi assim que Vera Rosa entendeu, pois nesta altura da entrevista ela
engata a seguinte questão: Mas o que a gente queria saber é se não é a
hora de uma renovação no PT, porque tudo gira em torno do Lula. É um
personalismo muito forte. (...) Tá amarrado ali, não consegue renovar. O
senhor não seria um nome para 2022?

Haddad lembra que foi candidato em 2018, que é filiado ao PT, mas que
entende “o cole vo do PT fazer o que faz, eu entendo porque se fosse com a
minha família eu faria a mesma coisa. Eu não deixaria passar uma coisa
dessas. É muito grave o que aconteceu”.

Ou seja: não tem jeito. O certo distanciamento em relação ao que o


"cole vo do PT" faz e a comparação com a família mostram que Haddad, ao
menos nesta entrevista, está enfa zando a injus ça contra Lula no plano da
pessoa sica. Essa injus ça houve, claro. Mas a questão do Brasil é outra. A
eleição de 2018 foi fraudada. A condenação e prisão de Lula foram parte
essencial desta fraude. Isto não tem nada que ver com assuntos de família,
de filho, brodagem, nada disso. Nem tem que ver com “jus ça”. É polí ca
pura.

Mas Haddad, nesta entrevista, parece estar em outra frequência de rádio.


Vide o que ele fala em seguida: “Eles construíam uma tese de impeachment
de trás pra frente. Eles tomaram a decisão de fazer o impeachment da Dilma
no dia da vitória, e começaram a construir a tese depois. Não dá para ser
assim, não pode ser assim. Ninguém quer mais a verdade, acho que todo
mundo quer a verdade toda. Nós não queremos meia verdade, vamos abrir
tudo. Você acha que eu vou ser a favor de uma pessoa que enriqueceu, que
tem conta fora, que tem cartão de crédito não sei onde. E não vou ser a
favor de ninguém, pode ser da minha família, não é do meu par do, não, se
for na minha família eu vou falar: paga! Acabou, eu não quero saber. Eu
eduquei meus filhos, por exemplo, eu respondo pela educação dos meus
filhos, pra você ter uma ideia de como eu penso. O que o meu filho fizer, o
que minha filha fizer é assunto meu, porque eu eduquei. Não tem essa
comigo até enquanto eu ver por aqui, a minha família vai agir da maneira
como eu fui educado pelos meus pais, ponto final. E isso é muito sério, não
dá, passa para outra. Agora, tem um trauma grande. Tem custos? Tem. É
agradável? Não. Não é nada agradável viver o que estamos ....”.

Cá entre nós, de que mesmo Haddad está falando?

Que esta frase sobre a educação dos filhos de Haddad tem que ver com a
situação poli ca de Lula??

Neste ponto, é Balthazar (da Folha) que tenta levar a discussão, da Vara de
família, de volta para a polí ca. Diz Balthazar: Prefeito, considerando o
contexto que a gente tá vivendo, de que maneira o senhor acha que a
recuperação dos direitos polí cos Lula e a anulação da condenação que
ele sofreu contribuiria para formação dessa frente democrá ca
progressista de oposição? Ou só complicaria ainda mais o processo, já que

https://archive.vn/IT11i#selection-425.1-425.20 14/22
09/07/2020 Valter Pomar: Haddad na Roda Viva
se isso acontecesse ele seria imediatamente visto por todos como um
candidato à presidência novamente, né ?

A resposta de Haddad confirma, ao menos para mim, o que viemos dizendo


até aqui.

Palavras dele: “Olha, eu acho que a gente, um dos erros que a classe polí ca
comete é ficar muito preocupada com o resultado eleitoral da próxima
eleição, sabe. É você... você tá preocupado com o resultado de curto prazo,
você não está preocupado em construir reputação ou reconstruir
reputação, você tá preocupado com outra coisa. Então quando você está
prisioneiro dessa lógica curtoprazista, você começa a fazer esse po de
conta. Eu não acho que o PT nasceu para isso, eu não acho que o PT deveria
embarcar nessa, isso é outra filosofia. Se o PT embarcar nessa eu não
estaria no PT, por exemplo. Eu não faria parte de uma agremiação que pensa
assim. Então é isso que o PT precisa pensar. O PT não precisa pensar assim:
o que eu preciso fazer para ganhar em 2022. Ele precisa dizer: o que que eu
preciso fazer para recuperar a credibilidade que eu perdi junto a uma
parcela do eleitorado? O que que eu preciso explicar, que que eu preciso
desvendar, como eu vou demonstrar que eu não sou o que estão dizendo de
mim”.

Ou seja: a devolução dos direitos de Lula, a anulação de seus julgamentos, é


conver da numa questão de “reputação”.

Aí Vera interrompe, fala de erros, de crimes. Haddad responde que já


escreveu “ar gos, já escrevi capítulo de livro. Já fiz debate com Marcos
Lisboa, sobre governo Dilma, sobre desoneração...”. Vera volta a insis r, fala
em admi r crimes, por exemplo. Porque teve gente que devolveu dinheiro.

Haddad, novamente na defensiva, diz que “lógico, teve gente que se


corrompeu, não tem dúvida. Você teve quatro diretores da Petrobras que se
corromperam, o cara tem dinheiro fora. Agora, tem quatro diretores da
Petrobras, de carreira, com 30 anos de casa que se corromperam. O
presidente não se corrompeu...”

E Vera, sen ndo gosto de sangue, ataca: Não é o que diz o Pallocci, por
exemplo.

Haddad ridiculariza a narra va (“embora esses caras tenham acumulado


100 milhões de dólares no exterior, o chefe dessa quadrilha ganhou uma
troca de apartamento, muquifo, no Guarujá. É isso. Essa é a narra va”),
mas o fato é que ele de certa forma contribuiu para a armadilha.

E assim vamos para o quarto e úl mo bloco do Roda Viva com Haddad, no


dia 6 de julho de 2020.

O quarto bloco começa com uma pergunta da Bela Megale, de O Globo,


sobre a a associação entre o fascismo e o eleitor e o apoiador do presidente
Jair Bolsonaro.

Haddad diz que “o Bolsonaro é um governo de po fascista”. Afirma que isto


é “uma questão de método, o Bolsonaro tem método muito parecido com a
comunicação de massa do fascismo. Por exemplo, o uso da religião”.

Afirma ser “muito di cil imaginar que o Bolsonaro tenha compreendido a


essência do cris anismo”, assunto para o qual eu, depois de estudar sobre a

https://archive.vn/IT11i#selection-425.1-425.20 15/22
09/07/2020 Valter Pomar: Haddad na Roda Viva
Inquisição e sobre as guerras religiosas, não me sinto em condições de
opinar.

E resume dizendo que as prá cas do cavernícola são picas de “governos


fascistas, que usam religião, sexualidade, comunicação de massa com
men ra, a an -ciência é uma prá ca pica do fascismo. Agora, você não
pode condenar o eleitor”...

Uma observação lateral: não se trata de "condenar" o eleitor. Mas a


pergunta é: para que exista um governo de po fascista, é preciso que haja
uma base de massas para tal prá ca. Portanto, é preciso olhar para além da
pessoa do Bolsonaro e para além da pessoa de seu governo. É preciso focar
nos setores sociais que o apoiam e o financiam. Senão, tudo vira uma
patologia pessoal.

Mas ao invés de focar nisso, apoiado numa referência de Vera Magalhaes,


Haddad afirma que recente pesquisa do Datafolha “é um bálsamo pros
amantes da liberdade. Porque nada contra divergência, gente. O mundo se
faz, se constrói com a divergência. Você fala A, o outro falar B, e constrói C.
É assim que funciona. Não pensem vocês que esses debates
desenvolvimen stas e liberais não aconteceram na Inglaterra, não
aconteceram na França, não aconteceram em Portugal. Aconteceu em todo
canto. A nação se constrói com esses debates”.

E eis que, por um passe de mágica, a entrevista gira do fascismo para a


crí ca ao PT. Nas palavras de Vera Magalhães: Não falta do PT uma crí ca a
países que são de esquerda ou socialistas, ou o que quer que seja, e que são
claramente ditaduras? Isso eu sei que essa conversa é an ga, mas é uma
conversa que vira e mexe é reiterada quando se faz a cobrança super
correta ao Bolsonaro.

E o que responde Haddad?

Meus médicos, sempre sábios, já imaginavam...

Haddad responde que “o PT nasceu exatamente contra a visão de esquerda


tradicional que ainda era tradicional nos anos 80, 70. O PT é de 1980. Uma
esquerda tradicional que via as soluções autoritárias como redencionistas.
“Não tem jeito, esses caras não são democratas, não deixam a gente ter
espaço...”. O que às vezes se jus fica num regime de força, é óbvio que se
você tá lutando contra uma ditadura, você não tem o que fazer, você tem
que ir para a briga mesmo, né, contra uma ditadura você vai arrancar a
democracia no pulso, se não houver uma transição. Agora, o PT nasceu da
crí ca à esquerda autoritária”.

Ou seja: a esquerda tradicional que lutou contra a ditadura nos anos 1970
era tradicional e autoritária.

Mas não adiantou esta saída a la Leão da Montanha.

A Vera Magalhães não quer saber do passado, quer saber do presente.

E pergunta: Em relação à Venezuela, por exemplo, o senhor acha que é


uma democracia?

Haddad responde assim: “Veja só, tem uma coisa pior que o governo da
Venezuela, que é a oposição ao governo da Venezuela, é um horror aquela

https://archive.vn/IT11i#selection-425.1-425.20 16/22
09/07/2020 Valter Pomar: Haddad na Roda Viva
oposição. Olha o que aconteceu agora. Eu cri quei o Evo outro dia, eu
cri quei o Evo. Até chamaram a minha atenção. Porque eu par cipo de um
grupo de whatsapp com o Evo. Eu falei, ele não devia _assim como eu
cri caria o Lula se ele comprasse uma emenda para se reeleger mais uma
vez, a re-reeleição, um terceiro mandato, eu cri caria. Tá errado. Tá errado
fazer isso. Você quer mudar a regra do jogo? Muda para o seu sucessor, se
você acha bom. Pra você não. Você acha que é tão bom, muda para o seu
sucessor. Então, eu era contra. Fujimori tentou terceiro mandato. Evo
tentou o quarto mandato, né ? O Chavez, se deixassem, acho que tentava 10
mandatos. O Pu n agora vai ficar até 2036 na coisa. O norte coreano é
perpétuo. Não é a minha praia”.

Sinceramente, gostaria que Haddad, tão pródigo em dar cer ficado de


democracia para outros países, poderia também ter dado o nome e o
sobrenome dos generais patriotas e democratas que ele disse ter conhecido.

Mas, isto posto, a resposta acima é um desastre polí co e diplomá co.

Helmut Kohl foi chanceler da Alemanha de 1982 a 1998, durante 16 anos.


Merkel é primeira ministra da Alemanha desde 2005, portanto há 15 anos.
São democratas, claro...

Pu n foi eleito presidente da Rússia de 2000 a 2008; depois foi eleito


primeiro ministro até 2012, depois foi eleito presidente da Rússia. Não é um
democrata, claro...

Quanto a Evo, ele foi ví ma de um golpe de Estado, para impedir sua


reeleição. Os adversários não gostaram dele conquistar na jus ça o direito
de disputar a reeleição, mas não boicotaram a eleição, deram o golpe
quando viram que iam perder. Evo pode ter errado em defender a reeleição,
pode ter errado em não ter convocado um levante contra os golpistas, mas
que tem isso que ver com ser “democrata”???

Para não falar da comparação totalmente ofensiva, com Fujimori. Insisto:


não se trata de concordar com as opções polí cas; o assustador é este po
de comparação e uma visão White House acerca do que é e do que não é
democrá co.

E quanto à Venezuela? Se Chávez es vesse vivo, estaria presidindo a


Venezuela? É provável. Isto faria de Chávez um não-democrata? Os Estados
Unidos são democratas, porque a reeleição de uma pessoa é limitada a dois
mandatos? O México é uma democracia porque a reeleição de uma pessoa é
limitada a um mandato? De que “praia” veio o conceito de democracia
adotado por Haddad??

(Antes que me esqueça, se Haddad algum dia for à Coréia do Norte, me


ofereço para ir junto, já es ve lá. O "perpétuo" em questão está morto e
embalsamado.)

Seja como for, segundo entendi da resposta de Haddad, o PT apoia,


digamos, não-democracias...

Seguindo em frente, o Flávio da UOL pede que Haddad responda a pergunta


sobre as medidas econômicas, porque tem muita gente morrendo não só
de Covid, mas de fome também. O centro de São Paulo está tomado por
famílias que perderam suas casas, escolas na periferia viraram centro de

https://archive.vn/IT11i#selection-425.1-425.20 17/22
09/07/2020 Valter Pomar: Haddad na Roda Viva
assistência social. Eu gostaria de saber o que você faria diferente do que o
Bolsonaro e o Guedes estão fazendo na economia.

Haddad responde que "tem um debate, né: gasta ou não gasta? Vamos
resumir, né, porque ficou chato esse debate, tão chato que tem os
gastadores e os poupadores, e acabou o assunto. A economia virou um fla-
flu de quem é a favor de gastar e quem é a favor de poupar. Tá errado isso.
Eles sabem tá errado isso. A primeira coisa que nós temos que pensar é o
seguinte: o Brasil tem uma carga tributária, vamos dizer, 32/33 por cento do
PIB. Um por cento de déficit primário ou um por cento de superávit
primário. Presta atenção no que eu vou falar, porque vai gerar uma
polêmica, mas compreenda o que eu vou falar: um por cento do superávit
primário um por cento do déficit primário não faz a menor diferença se você
considerar a natureza do gasto. Se você ver fazendo um inves mento
certo, se você ver fazendo os projetos certos, se você ver inves ndo nas
pessoas, educação, infraestrutura isso se paga com juros correção
monetária e tudo mais que você quiser. Se você ver um Estado que é
vulnerável a interesses par culares, que toda hora tão grudados ali e que
não saem do orçamento independentemente do resultado social daquele
gasto, como é pico do Brasil desde sempre, um por cento de déficit ou um
por cento do superávit também não vai fazer diferença”.

Entendeu? Ou ficou com alguma dúvida?

Talvez com dúvida, o Flávio da UOL pergunta o que é que isto tudo “significa
na prá ca?”

E a resposta, meus queridos médicos, a resposta dada por Haddad é que


“nós precisamos qualificar a gestão pública, precisamos qualificar a gestão
pública, os projetos precisam ser mais bem desenhados, precisa ter
começo, meio e fim, não dá para uma obra levar 20 anos para ficar pronta.
Pega o rodoanel aqui de São Paulo ou pega outras, metrô, com dinheiro ou
sem dinheiro do governo federal é um horror. Nós estamos perdendo
capacidade gerencial, nós estamos perdendo capacidade de
monitoramento”.

Então tá: a questão é “qualificar a gestão pública”.

Inspirada por essa resposta, a Vera Magalhães lembra que a esse respeito
saiu um estudo longo aqui, de fôlego, do Insper, uma ins tuição a qual o
senhor é ligado. E dizia que o problema do Brasil não é gasto. O Brasil até
gasto muito em relação a outros países. Mas é a forma de gastar, a
eficiência do gasto. E a gente tem um problema na educação, que é a área
que o senhor ocupou por muito tempo, que é premente: o Fundeb vai
acabar. Qual é que é a sua receita pra gente custear a educação básica?

Pela segunda vez, uma questão essencial e urgente, e totalmente ligada à


educação, surge na Roda Viva por inicia va da bancada, não de Haddad.

Seja como for, ele responde que tem “concordâncias e discordâncias desse
estudo. Aliás, recebi hoje esse estudo. E.... Vamos pegar um caso
considerado bom, exitoso. O Fundeb. O Fundeb, do ponto do ponto de vista
da União, colocou 15 bilhões por ano no Nordeste, mais Pará e Amazonas.
Por quê? Porque eram os Estados que nham o menor inves mento por
aluno no país, era metade do de São Paulo, para você ter uma ideia. Então a
união falou: ‘não, nós vamos bancar e vamos aumentar o inves mento por
aluno de 10 estados da federação (oito do nordeste e dois do norte)’. Só

https://archive.vn/IT11i#selection-425.1-425.20 18/22
09/07/2020 Valter Pomar: Haddad na Roda Viva
ficou de fora Sergipe, que já nha um inves mento por aluno alto. O que
que aconteceu com a educação do Nordeste, básica? Toda ela reagiu, a
ponto de ficar melhor do que a do Sul e a do Sudeste. Hoje você tem
Pernambuco, Ceará, Maranhão, Piauí veram crescimentos importantes.
Teve Estado que nem o dinheiro novo recebeu da União, mas que fez um
bom trabalho: Goiás, por exemplo. A Raquel Teixeira era secretária, muito
minha amiga por sinal, governo do Marconi Perillo até, do PSDB, e o Espírito
Santo, na gestão do Paulo Hartung, teve êxito na educação, sem dinheiro
novo do governo federal. Então, qual é a minha a tude, vamos prestar
atenção no que dá certo, esses estados que eu falei tão indo muito bem
educação”.

Deixo aos amigos do Espírito Santo e de Goiás o prazer de contar o que


pensam das polí cas implementadas por Raquel Teixeira e por Paulo
Hartung, respec vamente, que como o ministro interino da educação,
parecem ter aos olhos de Haddad muita excelência técnica...

E passemos para a pergunta de Vera: Mas como faz então com o


Fundeb?” E Vera Rosa engata: “Porque acaba agora em dezembro.

E aí Haddad fala, finalmente, em prorrogar e ampliar. E elogia Pernambuco e


Ceará onde, segundo o jornalista Balthazar, uma parte do dinheiro é
distribuída de acordo com critérios de eficiência (...) De acordo com o
desempenho você recebe mais de um município que a gente ver um
desempenho melhor recebe mais dinheiro do que outros. Você concorda
com esse modelo? Você acha que esse modelo deve de ser adotado,
fazendo na prorrogação do Fundeb para que uma parte do dinheiro fosse
atribuída por esse critério?

Haddad responde que é “controverso, mas é inegável que no Ceará deu


certo. É controverso porque é o seguinte: você vai punir quem tá indo mal?
O aluno da cidade que tá indo mal vai ser punido? Tem uma discussão
filosófica que é importante registrar. E que não dá para desconsiderar. Você
vai punir o aluno porque o prefeito foi ruim? qual o sen do disso? Contudo
ele criou uma dinâmica de concorrência lá boa”.

Novamente, deixemos para os colegas do Ceará a questão e passemos para


a próxima questão, da Vera Magalhães: tem muita gente agora, inclusive
aqui no twi er, perguntando se a candidatura do Jilmar Ta o é a seu ver
compe va, se não teria sido melhor o PT apoiar, por exemplo, o
Guilherme Boulos.

Haddad fala de Porto Alegre, fala do Rio de Janeiro, e diz que “em São Paulo,
pelo fato de a gente ter governado três vezes a cidade, é natural o PT querer
ter candidato”. E rela viza as pesquisas e reforça a ideia da renovação.

Aí Vera Rosa lembra da eleição de 2016, e pergunta se é o caso agora de


aproveitar a campanha municipal para dar um tom nacional na disputa?

Haddad diz que “sempre tem que dar um tom nacional. Porque ao contrário
do que dizem, na minha opinião, ela não é um prognós co do que vai
acontecer na eleição presidencial, ela é um acerto de contas do que
aconteceu na eleição anterior, isso sim, é um recado de como estão as coisas
em relação à eleição anterior, ela não ela não é um bom preditor do que vai
acontecer daqui para frente”.

https://archive.vn/IT11i#selection-425.1-425.20 19/22
09/07/2020 Valter Pomar: Haddad na Roda Viva
Vera pergunta se a vitória do Dória e de outras pessoas em 2016 não era
um prenúncio de que havia um eleitorado propenso a votar na Direita?

Haddad diz que “achava que sim” e conta uma história sobre Dória que a
Vera afirmou contradizer a resposta dada, pelo próprio Haddad, “sobre a
questão da eleição municipal (não) ser um bom prognós co para a
nacional”.

E aí, para provar que meus médicos nham razão, Andrea do Valor faz uma
pergunta rápida, preto no branco, assim preto no branco, em 2022, se for
o caso, o senhor aceitaria ser vice do Flávio Dino?

Segue o diálogo:

Andrea (VALOR)
Tô falando de uma chapa à esquerda...

Haddad
Olha, eu, quando eu só perguntado. Olha, acho que o PCdoB tem todo o
direito de ter candidato a presidente.

Vera
Preto no branco, senão eu vou ter que cortar.

Haddad
O PCdoB tá considerando lançar candidato a presidente, qual é o problema
nisso?

Vários
Mas o senhor aceitaria ser o vice?

Haddad
O primeiro turno serve para isso, para definir cada par do... Se tem uma
proposta diferente, que jus fique o lançamento de um candidato, tem que
lançar dois.

Vera
Eu preciso mesmo encerrar.

Balthazar
Então é não?

Vera
Ele não sabe, gente.

Haddad
Não sei.

Vera
Pronto.

Sem mais, vou tomar meu chá. Receita médica.

Mas antes, um comentário: por razões que em alguns casos são


compreensíveis, muita gente bateu palmas para o desempenho de Haddad
nesta Roda Viva. Mo vo pelo qual, sem dúvida, haverá quem não aprecie os
comentários feitos anteriormente. Mas, na minha opinião, esta entrevista é
https://archive.vn/IT11i#selection-425.1-425.20 20/22
09/07/2020 Valter Pomar: Haddad na Roda Viva
muito ilustra va da confusão polí ca que existe em alguns setores do PT. Se
isto não se alterar, será muito di cil sair, pela esquerda, da imensa crise em
que o país está me do. Por pensar assim, prefiro ser cri cado por apontar
os problemas que vi, do que por calar acerca deles.

Aliás, como diria Haddad, conto com a boa vontade dos que sabem que
estou agindo de boa-fé, que estou agindo com o mesmo obje vo que eles.

A íntegra da entrevista pode ser vista aqui: h ps://youtu.be/XYav1njDgp0

Devido ao adiantado da hora, deve ter escapado uma boa quan dade de
erros. Em horário mais cristão, serão corrigidos.

Postado por Orientação Militante às 02:22

8 comentários:

leny 8 de julho de 2020 10:37


Muito bom, Valter.

Responder

Alice Branco 8 de julho de 2020 11:38

Ai, Valter, fiquei ate com azia...porra, nenhuma pergunta respondida a (meu) contento? Mad,
te agradeço, de coração, você infringir os conselhos médicos e nos facilitar a análise - meu
médico me proibiu de assistir, ouvir...diz que altera demais tudo aqui dentro. Mas, ler eu
posso. Grande abraço e bom chá (de quê?)
Responder

Milton Temer 8 de julho de 2020 11:48

Valter, como sempre, incisivo e muito bem articulado. Só me fica faltando compreender: por
que a corrente que politicamente lidera não consegue se impor ao campo majoritário
acomodado, que ainda tem em Haddad sua referência política maior? Lula não tem nada a
ver com isso?
Responder

Unknown 8 de julho de 2020 12:37

irreeprochável.
Responder

Carlos Vieira 8 de julho de 2020 15:00


O ônibus do velho PT passou lotado e não para mais neste ponto Pomar, continue tomando
seu chá e seus remédios, Haddad não é Lula, nem Lula é Haddad,até para salvar a história
da democracia brasileira, dentro do PT a diversidade de ideias não é única, estamos em
2020 e o genocida Bolsonaro é Presidente.

Responder

Onete Lopes 8 de julho de 2020 17:33


Puts. Senti um grande alívio ao ler sua crítica... Eu não tinha gostado da entrevista. Não
consegui moment emque assistia, encontrar o caminho das respostas mais sensatas em
algumas das perguntas, mas para outras eu que soucsou uma ingenua na polícia e mais
ainda sobre como lidar com as cobras desta imprensa consegui de pronto articular o enredo
e fiquei desculpfuriosa.Tentei até desculparodesculpar Haddad, mas ainda não o tinha
conseguido. Agora ficou mais complicado

Responder

Unknown 8 de julho de 2020 21:12


Análise excelente, Valter! Foi como se Haddad estivesse com medo de enfrentar os
jornalistas e suas perguntas capciosas. Como um gato manso que quer dormir na cama da
madame, ele evita mostrar as unhas. O que ele espera angariar com esse cálculo? A que
madame ou madames ele pensa poder agradar? Sobraram momentos para solapar as

https://archive.vn/IT11i#selection-425.1-425.20 21/22
09/07/2020 Valter Pomar: Haddad na Roda Viva
premissas das perguntas e jogar educada mas firmemente a real bem na lata daquele povo!
Vale a penas revisares e publicares teu texto. Estás de parabéns!
Responder

Antonio Machado 8 de julho de 2020 22:24


Ler tudo isso para ver que o Valter nao gostou da s respostas de Haddad, sente em uma
roda e responda a direita de mwlhor forma entao amigo...
Responder

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