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ISSN: 2525-8761
DOI:10.34117/bjdv7n3-209
RESUMO
O presente estudo objetiva refletir acerca das contribuições de Humberto Maturana,
Francisco Varela e Gregory Bateson para a disciplina as Ciências Cognitivas,
Autopoiése, Enação e Experiência, componente curricular no Programa de Pós-
Graduação em Cognição, Tecnologias e Instituições da Universidade Federal Rural do
Semiárido. Tais autores embasaram as leituras e a estrutura metodológica do trabalho ao
longo dos três tópicos estruturados no artigo. Assim, o desafio de articular uma reflexão
envolvendo os três autores foi bastante desafiador, considerando a complexidade das
leituras. Tais reflexões evidenciaram um pensar mais crítico sobre meu papel nesse
mundo, o tipo de comunicação que estabeleço com o meio. Partindo do entendimento
que somos todos seres em evolução, vivemos uma constante busca do novo e de alguma
forma compreender nossa existência nesse mundo.
ABSTRACT
The present study aims to reflect on the contributions of Humberto Maturana, Francisco
Varela and Gregory Bateson to the discipline Cognitive Sciences, Autopoiesis, Enação
e Experiência, a curricular component in the Postgraduate Program in Cognition,
Technologies and Institutions of the Federal Rural Semiarid University . These authors
based the readings and the methodological structure of the work along the three topics
structured in the article. Thus, the challenge of articulating a reflection involving the
three authors was quite challenging considering the complexity of the readings. These
reflections showed a more critical thinking about my role in this world, the kind of
communication I establish with the environment. Starting from the understanding that
we are all evolving beings, we live a constant search for the new and somehow
understand our existence in this world.
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo foi pensado no vivenciar da disciplina as Ciências Cognitivas,
Autopoiése, Enação e Experiência componente curricular no do Programa de Pós-
Graduação em Cognição, Tecnologias e Instituições da Universidade Federal Rural do
Semiárido.
Nesse sentido, considero um desafio articular uma produção que elucida
Humberto Maturana, Francisco Varela e Gregory Bateson de modo que evidencio suas
concepções em tal extensão, especialmente relevante, possibilitando um pensar
aprofundado sobre questões provocativas e necessárias, permitindo elevar-me em uma
reflexão sobre o universo e tudo o que permeia nossa existência e nossa relação com o
meio em que vivemos.
Então, inicialmente irei refletir acerca dos termos, Autopoiése, cognição, enação
e experiências. O entendimento sobre o significado de Autopoiése foi muito bem
trabalhado ao longo dos debates e discussões em sala, inicialmente soa um tanto quanto
complexo: Poiesis – ―do grego: "o fazer, fabricação, produção, poesia, poema", que, por
sua vez, vem de poiein, "fazer".
Assim, Autopoiese é autoprodução, formado por sistemas que produzem
continuamente a si mesmos, sendo ao mesmo tempo produtor e produto, ou seja, a
explicação de tudo o que é vivo. Tais afirmações foram evidenciadas por meio de um
artigo publicado em 1974 por Humberto Matura e Francisco Varela.
Sobre Enação, Francisco Varela e col. (1993) destacam tratar-se de uma
abordagem que todo o conhecimento é inseparável do sujeito cognoscente, sujeito e
mundo constituem-se mutuamente. A mesma surge no campo das Ciências cognitivas,
tomando como base uma abordagem representacional sujeito e mundo.
enação de um mundo e uma mente com base numa história de ações diversas
realizadas pelo ser no mundo. (VARELA et al. 1993,p.46).
Sobre esse olhar, Bateson considera fundamental o conceito de contexto, uma vez
que envolve processos considerados superficiais, geralmente presentes nas relações
pessoais, e processos mais profundos e antigos da embriologia e da homologia. Para ele,
a aprendizagem e a evolução acontecem em um contexto envolvendo o organismo e o
ambiente por meio de um processo interativo.
O contexto é, portanto compreendido por Bateson, como sendo categorias da
mente e somente por meio da socialização, introspecção, empatia e os pressupostos
culturais compartilhados é possível perceber como o outro vê determinado contexto. Em
outras palavras, se não se identifica o contexto, não é possível compreender nada.
Assim, o mesmo reveste-se de relevância tendo em vista que possibilita um novo
olhar sobre o mundo em que vivemos, permitindo reflexões que permeiam nossa
existência e experiências nos mais diferentes contextos. Para Bateson (1986), toda
experiência é subjetiva, ou seja, ela não existe na objetividade.
Nesse sentido, afirma que a experiência do exterior sofre sempre a intervenção do
órgão sensorial específico e de caminhos neurais. Para ele, a proposição de que nas esferas
seja da comunicação, organização, pensamento, aprendizado, e evolução, nada acontece
sem a informação.
Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo refletir acerca das
contribuições de Humberto Maturana, Francisco Varela e Gregory Bateson para a
disciplina as Ciências Cognitivas, Autopoiése, Enação e Experiência.
Metodologicamente, o artigo tem como embasamento as leituras em alguns dos
textos trabalhados ao longo da disciplina, entre eles destaco: A árvore do conhecimento
Mente e Natureza a unidade necessária, Por uma Antropologia da Comunicação:
Gregory Bateson, Naven, Conhecer as Ciências Cognitivas: Tendências e perspectivas.
Tais leituras envolvem os autores: Humberto Maturana (2001,1998), Gregory Bateson
(2008, 2009,1986) e Francisco Varela (2003 e 1994).
Assim, o estudo foi pensado e estruturado em três momentos. No primeiro, uma
abordagem acerca das contribuições de Humberto Maturana e Francisco Varela. No
segundo momento, uma reflexão frente às contribuições de Gregory Bateson e por último
as considerações finais.
Tais questionamentos servem para pensarmos que não é tão fácil assim, porém,
desvelar esse feixe de vínculos que une o sujeito de múltiplas maneiras, com o mundo e
com os outros. Nesse sentido, aprender a conviver em harmonia em uma sociedade plural,
torna-se um grande desafio nos dias atuais, haja vista que vivemos em uma sociedade
cada vez mais competitiva, onde o saber é produzido pelo sujeito confrontando outro
sujeito.
A partir desta perspectiva, percebe-se a grande influencia dos padrões sociais na
vida dos indivíduos, vivemos em uma sociedade ―adoentada‖ permeada por padrões,
regras e normas que nos são impostas diariamente, a cada instante, novas descobertas e
invenções somam-se àquelas que já conhecemos. É possível compreender que, a condição
humana é em parte espontaneidade natural, mas é também deliberação artificial,
nesse percurso chega a ser totalmente humano, seja humano bom ou mau é sempre uma
arte.
Nesse caminhar penso que, nós humanos, nascemos já sendo, mas só depois o
somos de forma plena por meio de um longo caminho de conhecimento e autoavaliação.
Pois o que é próprio não é tanto o mero aprender, mas aprender com outros e com nós
mesmos e na forma de ver e observar o mundo a nossa volta.
Para Maturana (2001, p.127), o conhecimento é, portanto construído por um
observador como uma capacidade operacional, onde ele ou ela, atribui a um sistema vivo,
que por sua vez, pode ser ele ou ela própria, a partir do momento que aceita as suas ações
como adequadas num domínio cognitivo especifica nessa atribuição.
Não tão distante, Maturana (1998) destaca também que, toda a vez que o
observador se propõe a sair do sistema que observa, ou seja, quando o mesmo se
distancia, possibilita a criação de um novo sistema e esse, o observador, passa a também
se envolver nesse novo contexto. O observador por sua vez distinguiu partes de uma
unidade, segmentando-a em componentes, passando a tratá-la, portanto como uma
unidade composta.
A organização é compreendida nesse contexto como uma relação entre os
componentes que fazem com que a unidade seja o que afirmamos que é. A estrutura é
conceituada como um conjunto de componentes e de relações que compõem uma
unidade particular. A estrutura é variável, variada e particular, mas a organização é
invariante.
Ainda sobre esse aspecto, o autor vem destacar que tudo o que é dito por um
observador a outro observador, que pode ser ele mesmo, se emprega a todas as nossas
atividades, das mais simples as mais complexas situações. Outro ponto de destaque na
fala do autor tem como foco a ―capacidade de reprodução, o exemplo da mula que teria
que ser excluída da lista dos seres vivos, evidenciaria por sua vez um erro‖.
Outra perspectiva merecedora de atenção é o que Maturana (1998) veio chamar
como sistema, que opera com base em um conceito de sistemas abertos, que segundo o
autor, jamais chamaríamos de ―vivas‖. Frente a essa afirmativa, nos convida a refleti r
sobre uma questão que considera crucial: Como distinguir um ser vivo de uma máquina
que produz substancias químicas, por exemplo, também composta de componentes
complexos e processos de produção que interagem na realização de um todo
organizado?
Considerando a complexidade da questão, percebemos que tal teoria é um
convite a revermos postulados gerais, afirmações, particulares e modo de ver e de
raciocinar a que estamos habituados. O conhecimento é outro ponto em destaque nesse
perspectiva. O que nos encanta ao longo do texto é o convite a pensarmos: O que vive o
vivente? Como interagimos no meio onde vivemos? O que conhecemos? Como
conhecemos? O que é necessário para conhecer algo? Como saber se sabemos algo?
Como nos organizamos?
Tais questionamentos vão de encontro ao que Maturana (1995) se propõe
explicar. Para ele, conhecer é viver, viver é conhecer. Ora, se uma explicação é uma
reformulação da experiência, aceita enquanto tal pela pessoa que pergunta, é essa pessoa
quem decide o que conta como explicação satisfatória. E enfatiza que, o ato cognitivo
básico é o ato de distinguir, no qual destacamos uma unidade do fundo em que ela está.
O autor destaca ainda, que somos hoje o presente de uma prolongada deriva
filogenética e ontogenética. Chamada de deriva, pois compreende ser um trajeto sem
destino predeterminado, embora não seja aleatório, é um percurso que vai se fazendo nas
interações dos indivíduos em seu ambiente. O determinismo estrutural, pondo em foco o
conhecer como fenômeno biológico, como uma ação afetiva na constituição e
estabilização dos mundos vividos por todos nós.
Sobre esse olhar, os autores nos chamam a refletir também sobre a seguinte
questão: É possível explicar a grande dificuldade de poder atingir um desenvolvimento
social harmônico e estável? Tal indagação é merecedora de um estudo e avaliação ainda
mais aprofundado, considerando sua complexidade e dificuldade.
Quando nos incluímos, em nossa reflexão sobre uma dada questão, aquele que
conhece, ou seja, quem faz a questão/pergunta, e incluímos o próprio processo
de fazer a pergunta (na circularidade fundamental), então a questão (pergunta)
adquire um novo significado e uma nova existência para nós (VARELA
et,al,1993:30 apud BOUYER,2006,p.9 ).
Nesse contexto, Varela (1994), vai destacar em sua fala acerca dos limites de se
conhecer o ato de conhecer: Como pode a mente conhecer, observar a si mesma no ato de
conhecer? Para além, ele ainda demonstrou que a mente não funciona como um sistema
que por sua vez elabora representações de um mundo exterior.
Para ele, o conhecimento surge como algo que resulta de regras e forças que
acontecem, por sua vez, em um determinado contexto histórico e também social. E que,
se está na mente significa afirmar que a mente que conhece está inserida nesse mesmo
contexto histórico e social.
Suas ideias partem da introdução as Ciências cognitivas, por meio de uma visão
atual e também futura. Tomando como base para seus estudos o espírito humano, o
comportamento humano, o comportamento animal e menciona acerca do desempenho de
computadores. Buscando dessa forma, uma abordagem que envolve um conjunto de
percepções sobre o reconhecimento e também sobre a compreensão.
Nesse sentido, entendo que os autores Maturana e Varela, nos encantam por meio
de um convite a mergulharmos em um profundo repensar a natureza de nossa condição
social humana. Para os autores, ainda não aprendemos a nos conduzir de maneira a poder
ampliar o que eles consideram como a escala da ação (para toda a comunidade).
(...) A mente é imanente não só no corpo, mas também nos caminhos e nas
mensagens fora do corpo. Existem manifestações mais amplas da mente, das
quais nossas mentes individuais são apenas subsistemas. O meio ambiente não
só está vivo como também é dotado de mente, assim como os seres humanos.
O mundo está organizado em estruturas de múltiplos níveis, o que implica o
reconhecimento de que também existem diferentes de mente. (BATESON,
2009, p.125).
especial, o ritual Naven compreendido como uma iniciação dos meninos na vida
adulta e que se dá através de condutas simétricas entre estes e os adultos mais velhos.
Sobre o Naven, é possível destacar também que o mesmo foi publicado em abril
de 1927 a março de 1933. Bateson procurava a si mesmo, buscando compreender o ofício
do Antropólogo nessa experiência por meio de uma abordagem holística das sociedades
humanas. Assim, por meio de um simples ritual Iatmul buscava compreender
e entender o triplo ponto de vista que envolvia questões estrutural, sociológico e
cognitivo/emocional presentes eidos e ethos. Existem, portanto, uma diferença entre
ambos.
Nesse entendimento, a cismogênese, que Bateson define como ―criação da
separação‖. Demonstrar o potencial disjuntivo da relação entre as diferentes ênfases
emocionais atribuídas a cada sexo (derivada da análise do ethos). A cismogênese
também foi notada na descrição dos padrões de separação da estrutura social Iatmul
(perceptíveis pelo prisma sociológico) e nos modos de operação dos dois tipos de
dualismo encontrados no pensamento Iatmul (que se mostram pelo exame do eidos).
O Eidos, corresponde ao que o autor classifica como a expressão dos aspectos
culturalmente normatizados dos processos cognitivos dos indivíduos. Já o Ethos que
consiste na expressão dos aspectos culturalmente normatizados dos instintos e das
emoções dos indivíduos). Ou seja, um estudo da natureza da explicação.
Nessa troca, o vivo se constitui e se define como um sistema de comunicação.
Ainda sobre esse pensar, a análise do Naven nos possibilita compreender também que a
mesma encontra-se repartida em um ponto de vista sociológico e como muito bem nos
afirma Bateson tal ritual envolve ponto de vista também eidológico-cognitivo e outro
etológico-afetivo.
Ao longo dos estudos, Bateson retoma de Ruth Benedict: a idéia de que ―uma
cultura, tanto quanto um indivíduo, representa um modelo mais ou menos consistente de
pensamento e de ação. (Precisamos primeiro compreender as molas emocionais e
intelectuais) e com base na idéia de Benedict, Bateson refinará o conceito de Pattern
(estrutura, modelo, configuração, padrão).
Assim, a ligação entre as análises afetiva e cognitiva, tornada possível pela
persistência da cismogênese que proponha uma relação entre estímulos e reações para
compreender como ethos e eidos são inculcados no indivíduo. A mesmo expressa o
interesse do autor nos processos de aprendizagem, intimamente ligados às suas
reflexões posteriores sobre teoria da comunicação e cibernética.
4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Por meio do estudo passei a refletir de forma a compreender que a condição de
desenvolvimento é sempre algo aberto, nossa formação enquanto seres humanos, a vida
e nosso papel nesse imenso universo, é um ponto importante que devemos levar em conta.
Por meio de um mergulho em nossas próprias ações na forma de observar o mundo e os
sujeitos e o contexto para darmos sentido e significado a nossa existência.
REFERÊNCIAS