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Brazilian Journal of Development 23959

ISSN: 2525-8761

Refletindo as ciências cognitivas, autopoiése, enação e experiência:


contribuições de Varela, Maturana e Bateson

Reflecting cognitive sciences, self-poisony, enation and experience:


Varela, Maturana and Bateson contributions

DOI:10.34117/bjdv7n3-209

Recebimento dos originais: 08/02/2021


Aceitação para publicação: 10/03/2021

Aline Kartienne Lima de Morais Gurgel


Mestranda do Programa de Pós-
Graduação em Cognição, Tecnologias e Instituições da Universidade Federal Rural d
o Semi-Árido
Rua Francisco Mota, Bairro Pres. Costa e Silva, 572, Mossoró - RN, 59625-900
E-mail: linekarte@gmail.com

Gerciane Maria da Costa Oliveira


Doutora, Professora da Universidade Federal Rural do Semi-Árido
Rua Francisco Mota, Bairro Pres. Costa e Silva, 572, Mossoró - RN, 59625-900
E-mail:gerciane.oliveira@ufersa.edu.br

Francisco Souto de Sousa Júnior


Doutor, Professor da Universidade Federal Rural do Semi-Árido
Rua Francisco Mota Bairro, Pres. Costa e Silva, 572, Mossoró - RN, 59625-900
E-mail: franciscosouto@ufersa.edu.br

RESUMO
O presente estudo objetiva refletir acerca das contribuições de Humberto Maturana,
Francisco Varela e Gregory Bateson para a disciplina as Ciências Cognitivas,
Autopoiése, Enação e Experiência, componente curricular no Programa de Pós-
Graduação em Cognição, Tecnologias e Instituições da Universidade Federal Rural do
Semiárido. Tais autores embasaram as leituras e a estrutura metodológica do trabalho ao
longo dos três tópicos estruturados no artigo. Assim, o desafio de articular uma reflexão
envolvendo os três autores foi bastante desafiador, considerando a complexidade das
leituras. Tais reflexões evidenciaram um pensar mais crítico sobre meu papel nesse
mundo, o tipo de comunicação que estabeleço com o meio. Partindo do entendimento
que somos todos seres em evolução, vivemos uma constante busca do novo e de alguma
forma compreender nossa existência nesse mundo.

Palavras chave: Reflexão, Contribuições, Varela, Maturana, Bateson.

ABSTRACT
The present study aims to reflect on the contributions of Humberto Maturana, Francisco
Varela and Gregory Bateson to the discipline Cognitive Sciences, Autopoiesis, Enação
e Experiência, a curricular component in the Postgraduate Program in Cognition,
Technologies and Institutions of the Federal Rural Semiarid University . These authors
based the readings and the methodological structure of the work along the three topics

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structured in the article. Thus, the challenge of articulating a reflection involving the
three authors was quite challenging considering the complexity of the readings. These
reflections showed a more critical thinking about my role in this world, the kind of
communication I establish with the environment. Starting from the understanding that
we are all evolving beings, we live a constant search for the new and somehow
understand our existence in this world.

Keywords: Reflection, Contributions, Varela, Maturana, Bateson.

1 INTRODUÇÃO
O presente estudo foi pensado no vivenciar da disciplina as Ciências Cognitivas,
Autopoiése, Enação e Experiência componente curricular no do Programa de Pós-
Graduação em Cognição, Tecnologias e Instituições da Universidade Federal Rural do
Semiárido.
Nesse sentido, considero um desafio articular uma produção que elucida
Humberto Maturana, Francisco Varela e Gregory Bateson de modo que evidencio suas
concepções em tal extensão, especialmente relevante, possibilitando um pensar
aprofundado sobre questões provocativas e necessárias, permitindo elevar-me em uma
reflexão sobre o universo e tudo o que permeia nossa existência e nossa relação com o
meio em que vivemos.
Então, inicialmente irei refletir acerca dos termos, Autopoiése, cognição, enação
e experiências. O entendimento sobre o significado de Autopoiése foi muito bem
trabalhado ao longo dos debates e discussões em sala, inicialmente soa um tanto quanto
complexo: Poiesis – ―do grego: "o fazer, fabricação, produção, poesia, poema", que, por
sua vez, vem de poiein, "fazer".
Assim, Autopoiese é autoprodução, formado por sistemas que produzem
continuamente a si mesmos, sendo ao mesmo tempo produtor e produto, ou seja, a
explicação de tudo o que é vivo. Tais afirmações foram evidenciadas por meio de um
artigo publicado em 1974 por Humberto Matura e Francisco Varela.
Sobre Enação, Francisco Varela e col. (1993) destacam tratar-se de uma
abordagem que todo o conhecimento é inseparável do sujeito cognoscente, sujeito e
mundo constituem-se mutuamente. A mesma surge no campo das Ciências cognitivas,
tomando como base uma abordagem representacional sujeito e mundo.

A relação cognitiva se assenta na recuperação ou representação de


características ambientais extrínsecas e independentes do sujeito cognitivo.
Por outro lado, a abordagem da enação afirma que a cognição não é a
representação de um mundo prévio por uma mente pré-existente, mas sim, a

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enação de um mundo e uma mente com base numa história de ações diversas
realizadas pelo ser no mundo. (VARELA et al. 1993,p.46).

Nessa mesma linha de pensamento,define a cognição como essencialmente


autônoma. Sobre experiência, Varela e col. (1993), destaca ainda que a mesma exprime
a constituição de um mundo próprio, inerente a atividade de cognição. Sendo por
meio da experiência que emerge a fronteira entre eu e o mundo. Já Gardner (1996, p.19),
conforme citado por Pistoía (2009, p.117), define as Ciências Cognitivas ―como um
esforço contemporâneo com fundamentação empírica para responder questões
epistemológicas a natureza do conhecimento, seus componentes, suas origens, seu
desenvolvimento e, seu emprego‖.
Assim, é possível destacar também que os cientistas cognitivos valorizam a
importância dos estudos interdisciplinares, por meio de um diálogo mediando entre as
varias areas do conhecimento. Nessa linha de raciocínio, as reflexões se encontram
permeadas por meio dessa trama téorica unificada das Ciências da Vida e das Ciências
Sociais, direcionando um olhar mais atento sobre o mundo, sobre o outro e sobre nós
mesmos.
Diante desse cenário, penso que esse processo de evolução é constante, ou seja
uma explicação da fenomenologia, será sempre um vir-a-ser, uma explicação dos seres
vivos no compreender de sua existência. Uma vez que somos seres inacabados e isso nos
permite ao longo de nossa trajetória, sermos capazes de compreender nossa incompletude,
visto que somos continuamente um processo.
A condição humana é em parte espontaneidade natural, mas é também deliberação
artificial, nesse percurso chega a ser totalmente humano, seja humano bom ou mau, é
sempre uma arte da nossa existência. Nesse caminhar percebo que, nós humanos,
nascemos já sendo, mas só depois o somos de forma plena. Pois o que é próprio não é
tanto o mero aprender, mas aprender com outros e com nós mesmos. Seria isso possível?
Frente a tal realidade, somos instigados (as) a mudarmos o percurso de nossa
história por meio de um processo contínuo de transformação e desenvolvimento
humano, permeado por situações das mais diversas. Muitos são os conflitos que nos tiram
a paz, a sociedade anda emocionalmente doente, não podemos perder nossa capacidade
de comunicação e diálogo com o outro, com as diferenças. A intolerância também faz
parte desse contexto que precisamos mudar.

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Sobre esse olhar, Bateson considera fundamental o conceito de contexto, uma vez
que envolve processos considerados superficiais, geralmente presentes nas relações
pessoais, e processos mais profundos e antigos da embriologia e da homologia. Para ele,
a aprendizagem e a evolução acontecem em um contexto envolvendo o organismo e o
ambiente por meio de um processo interativo.
O contexto é, portanto compreendido por Bateson, como sendo categorias da
mente e somente por meio da socialização, introspecção, empatia e os pressupostos
culturais compartilhados é possível perceber como o outro vê determinado contexto. Em
outras palavras, se não se identifica o contexto, não é possível compreender nada.
Assim, o mesmo reveste-se de relevância tendo em vista que possibilita um novo
olhar sobre o mundo em que vivemos, permitindo reflexões que permeiam nossa
existência e experiências nos mais diferentes contextos. Para Bateson (1986), toda
experiência é subjetiva, ou seja, ela não existe na objetividade.
Nesse sentido, afirma que a experiência do exterior sofre sempre a intervenção do
órgão sensorial específico e de caminhos neurais. Para ele, a proposição de que nas esferas
seja da comunicação, organização, pensamento, aprendizado, e evolução, nada acontece
sem a informação.
Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo refletir acerca das
contribuições de Humberto Maturana, Francisco Varela e Gregory Bateson para a
disciplina as Ciências Cognitivas, Autopoiése, Enação e Experiência.
Metodologicamente, o artigo tem como embasamento as leituras em alguns dos
textos trabalhados ao longo da disciplina, entre eles destaco: A árvore do conhecimento
Mente e Natureza a unidade necessária, Por uma Antropologia da Comunicação:
Gregory Bateson, Naven, Conhecer as Ciências Cognitivas: Tendências e perspectivas.
Tais leituras envolvem os autores: Humberto Maturana (2001,1998), Gregory Bateson
(2008, 2009,1986) e Francisco Varela (2003 e 1994).
Assim, o estudo foi pensado e estruturado em três momentos. No primeiro, uma
abordagem acerca das contribuições de Humberto Maturana e Francisco Varela. No
segundo momento, uma reflexão frente às contribuições de Gregory Bateson e por último
as considerações finais.

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2 ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES DE FRANCISCO VARELA, HUMBERTO


MATURANA: O QUE NOS REVELAM OS ESTUDOS.
A reflexão inicial toma como base a leitura nos primeiros capítulos do Livro
intitulado ―A árvore Do conhecimento‖, foi um momento da disciplina que me chamou
profundamente a atenção e o qual queria fazer referência. Neste os autores Humberto
Maturana e Francisco Varela conduzem o leitor por um caminho favorável há um olhar
mais atento sobre nossa condição humana, ou seja, a condição de eternos aprendizes. Por
meio de questionamentos instigantes os autores nos convidam a um desafio de
aproximarmos das bases biológicas do entendimento humano.
Assim, por meio de uma abordagem sobre o papel das Ciências Sociais, com foco
na Economia, as Ciências Politicas e as Ciências da Educação, fazem alusão a indagações
relevantes sobre tais ciências, fundadas em uma adequada compreensão da natureza do
processo de aprendizagem humana, a partir do qual se questiona:

As ciências sociais, em particular a economia, as ciências políticas e as


ciências da educação, estão fundadas numa adequada compreensão da
natureza do processo de aprendizagem humana, a partir do qual se determina
a diversidade das condutas humanas? Caso não, poderiam elas vir a sê-lo? Ou
seja, poderia o ser humano desenvolver uma teoria capaz de dar conta dos
processos que geram. Sua própria conduta, incluída a conduta autodescritiva,
isto é, a conduta de descrição de si mesmo ou autoconsciência?
(MATURANA e VARELA, 1998, p.9).

A partir dessa perspectiva, parece-me importante assinalar , que falar do campo


da compreensão da natureza no processo de aprendizagem, é bastante complexo e
necessário. Em minha opinião, este é talvez um dos eixos mais relevantes, a necessidade
de nos conhecermos.
Não tão distante, em matéria de evolução, percebe-se que há um ponto de partida
– mas não há um ponto exato de chegada, muitas indagações são merecedoras de
respostas, haja vista estarmos em constante transformação, o processo de
autoconhecimento é contínuo, ele é bom e necessário, pois nos habilita para novas
mudanças e competências ao longo de nossa existência. A evolução humana nos
permite viver como eternos alunos da vida, em meio às relações que estabelecemos
diariamente com o meio, com o outro e com nós mesmos. Nessas condições como,

É possível explicar a grande dificuldade de poder atingir um desenvolvimento


social harmônico e estável (aqui e em qualquer parte do mundo) através do
vazio de conhecimentos do ser humano sobre a sua própria natureza? Noutras
palavras, será possível que nossa grande eficácia para viver nos mais diversos

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ambientes se veja eclipsada e por fim anulada diante de nossa incapacidade


para conviver com os outros? Será possível que a humanidade, tendo
conquistado todos os ambientes da Terra (inclusive o espaço extraterrestre),
possa estar chegando ao fim, enquanto nossa civilização se vê diante do risco
real de extinção, só porque o ser humano ainda não conseguiu conquistar a si
mesmo, compreender sua natureza e agir a partir desse entendimento?
(MATURANA E VARELA 2001, p.10).

Tais questionamentos servem para pensarmos que não é tão fácil assim, porém,
desvelar esse feixe de vínculos que une o sujeito de múltiplas maneiras, com o mundo e
com os outros. Nesse sentido, aprender a conviver em harmonia em uma sociedade plural,
torna-se um grande desafio nos dias atuais, haja vista que vivemos em uma sociedade
cada vez mais competitiva, onde o saber é produzido pelo sujeito confrontando outro
sujeito.
A partir desta perspectiva, percebe-se a grande influencia dos padrões sociais na
vida dos indivíduos, vivemos em uma sociedade ―adoentada‖ permeada por padrões,
regras e normas que nos são impostas diariamente, a cada instante, novas descobertas e
invenções somam-se àquelas que já conhecemos. É possível compreender que, a condição
humana é em parte espontaneidade natural, mas é também deliberação artificial,
nesse percurso chega a ser totalmente humano, seja humano bom ou mau é sempre uma
arte.
Nesse caminhar penso que, nós humanos, nascemos já sendo, mas só depois o
somos de forma plena por meio de um longo caminho de conhecimento e autoavaliação.
Pois o que é próprio não é tanto o mero aprender, mas aprender com outros e com nós
mesmos e na forma de ver e observar o mundo a nossa volta.
Para Maturana (2001, p.127), o conhecimento é, portanto construído por um
observador como uma capacidade operacional, onde ele ou ela, atribui a um sistema vivo,
que por sua vez, pode ser ele ou ela própria, a partir do momento que aceita as suas ações
como adequadas num domínio cognitivo especifica nessa atribuição.

Por essa razão, há tantos domínios cognitivos quantos forem os domínios de


ações — distinções, operações, comportamentos, pensamentos ou reflexões
— adequadas que os observadores aceitarem, e cada um deles é
operacionalmente constituído e operacionalmente definido no domínio
experiencial do observador pelo critério que ele ou ela usa para aceitar como
ações — distinções, operações, comportamentos, pensamentos ou reflexões
— adequadas as ações que ele ou ela aceita como próprias deste domínio.3
Chamo o critério que um observador usa para aceitar certas ações como ações
que definem e constituem um domínio cognitivo de critério de aceitabilidade
que define e constitui esse domínio cognitivo.

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Não tão distante, Maturana (1998) destaca também que, toda a vez que o
observador se propõe a sair do sistema que observa, ou seja, quando o mesmo se
distancia, possibilita a criação de um novo sistema e esse, o observador, passa a também
se envolver nesse novo contexto. O observador por sua vez distinguiu partes de uma
unidade, segmentando-a em componentes, passando a tratá-la, portanto como uma
unidade composta.
A organização é compreendida nesse contexto como uma relação entre os
componentes que fazem com que a unidade seja o que afirmamos que é. A estrutura é
conceituada como um conjunto de componentes e de relações que compõem uma
unidade particular. A estrutura é variável, variada e particular, mas a organização é
invariante.
Ainda sobre esse aspecto, o autor vem destacar que tudo o que é dito por um
observador a outro observador, que pode ser ele mesmo, se emprega a todas as nossas
atividades, das mais simples as mais complexas situações. Outro ponto de destaque na
fala do autor tem como foco a ―capacidade de reprodução, o exemplo da mula que teria
que ser excluída da lista dos seres vivos, evidenciaria por sua vez um erro‖.
Outra perspectiva merecedora de atenção é o que Maturana (1998) veio chamar
como sistema, que opera com base em um conceito de sistemas abertos, que segundo o
autor, jamais chamaríamos de ―vivas‖. Frente a essa afirmativa, nos convida a refleti r
sobre uma questão que considera crucial: Como distinguir um ser vivo de uma máquina
que produz substancias químicas, por exemplo, também composta de componentes
complexos e processos de produção que interagem na realização de um todo
organizado?
Considerando a complexidade da questão, percebemos que tal teoria é um
convite a revermos postulados gerais, afirmações, particulares e modo de ver e de
raciocinar a que estamos habituados. O conhecimento é outro ponto em destaque nesse
perspectiva. O que nos encanta ao longo do texto é o convite a pensarmos: O que vive o
vivente? Como interagimos no meio onde vivemos? O que conhecemos? Como
conhecemos? O que é necessário para conhecer algo? Como saber se sabemos algo?
Como nos organizamos?
Tais questionamentos vão de encontro ao que Maturana (1995) se propõe
explicar. Para ele, conhecer é viver, viver é conhecer. Ora, se uma explicação é uma
reformulação da experiência, aceita enquanto tal pela pessoa que pergunta, é essa pessoa

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quem decide o que conta como explicação satisfatória. E enfatiza que, o ato cognitivo
básico é o ato de distinguir, no qual destacamos uma unidade do fundo em que ela está.
O autor destaca ainda, que somos hoje o presente de uma prolongada deriva
filogenética e ontogenética. Chamada de deriva, pois compreende ser um trajeto sem
destino predeterminado, embora não seja aleatório, é um percurso que vai se fazendo nas
interações dos indivíduos em seu ambiente. O determinismo estrutural, pondo em foco o
conhecer como fenômeno biológico, como uma ação afetiva na constituição e
estabilização dos mundos vividos por todos nós.
Sobre esse olhar, os autores nos chamam a refletir também sobre a seguinte
questão: É possível explicar a grande dificuldade de poder atingir um desenvolvimento
social harmônico e estável? Tal indagação é merecedora de um estudo e avaliação ainda
mais aprofundado, considerando sua complexidade e dificuldade.

Quando nos incluímos, em nossa reflexão sobre uma dada questão, aquele que
conhece, ou seja, quem faz a questão/pergunta, e incluímos o próprio processo
de fazer a pergunta (na circularidade fundamental), então a questão (pergunta)
adquire um novo significado e uma nova existência para nós (VARELA
et,al,1993:30 apud BOUYER,2006,p.9 ).

Nesse contexto, Varela (1994), vai destacar em sua fala acerca dos limites de se
conhecer o ato de conhecer: Como pode a mente conhecer, observar a si mesma no ato de
conhecer? Para além, ele ainda demonstrou que a mente não funciona como um sistema
que por sua vez elabora representações de um mundo exterior.
Para ele, o conhecimento surge como algo que resulta de regras e forças que
acontecem, por sua vez, em um determinado contexto histórico e também social. E que,
se está na mente significa afirmar que a mente que conhece está inserida nesse mesmo
contexto histórico e social.
Suas ideias partem da introdução as Ciências cognitivas, por meio de uma visão
atual e também futura. Tomando como base para seus estudos o espírito humano, o
comportamento humano, o comportamento animal e menciona acerca do desempenho de
computadores. Buscando dessa forma, uma abordagem que envolve um conjunto de
percepções sobre o reconhecimento e também sobre a compreensão.
Nesse sentido, entendo que os autores Maturana e Varela, nos encantam por meio
de um convite a mergulharmos em um profundo repensar a natureza de nossa condição
social humana. Para os autores, ainda não aprendemos a nos conduzir de maneira a poder
ampliar o que eles consideram como a escala da ação (para toda a comunidade).

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Para os autores, devemos tanto quanto possível, buscar o realizável, no presente


humano para um presente ainda mais humano, não para o que eles chamam de utopias
não realizáveis, permeada na negação de grupos culturais entre si ou em discursos
permeados por verdades absolutas.

3 O QUE NOS REVELAM OS ESTUDOS SOBRE GREGORY BATESON:


CAMINHOS PARA A REFLEXÃO SOBRE SUA VIDA E OBRA E
CONTRIBUIÇÕES
Conhecer as obras de um dos mais importantes Biológo, Antropólogo e
Epistemólogo da comunicação humana, Gregory Bateson, foi ao mesmo tempo
complexo, desafiador e inspirador. Seus estudos têm como foco as questões da
comunicação humana. Assim, perceber sua paixão por coisas vivas e tudo o que se
conecta as criaturas vivas, foi encantador.
É importante acentuar que, por uma ligação entre as análises afetiva e cognitiva,
tornada possível pela persistência da cismogênese, faz com que Bateson proponha uma
relação entre estímulos e reações para compreender como ethos e eidos são inculcados no
indivíduo. Tal discussão expressa o interesse do autor nos processos de
aprendizagem, intimamente ligados às suas reflexões posteriores sobre teoria da
comunicação e cibernética.
Partindo desse entendimento, é possível destacar o eixo que melhor define sua
obra e personalidade que seria seu olhar de presença e respeito às diferenças, a
necessidade de se maravilhar com tudo o que é vivo e que, entre si interage, pensador
sistêmico e epistemólogo da comunicação, incorrera também pela psiquiatria,
psicologia, sociologia, lingüística, ecologia e cibernética.
Há outro ponto que me chamou profundamente atenção e ao qual queria fazer
referência. Sua obra é plurivalente, circular, em perpétuo movimento e perpassa por
vários territórios do saber, ou seja, pensador e pensamento interdisciplinar. Esse
contexto nos ajuda a melhor compreender as questões acerca das relações entre indivíduos
e sociedade, os processos culturais e o que ele chama de trama entre o mundo vivo mais
amplo (ecossistemas), no qual se inserem e evoluem.
Assim, em seu artigo intitulado Ciências do conhecimento de 1979, buscou
estudar a Biologia objetivando melhor compreender a educação, medicina holística e
também tradicional, as relações entre os pais e os filhos, conservantismo, radical ismo,
no governo e na religião. Foi então na Epistemologia, ramo da história natural, uma

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biologia que envolvesse o conhecimento, que se aproximou de outra forma de designar o


campo da ecologia do espírito, ou ecologia da mente.
Sobre a mente Bateson (2009), compreende tratar-se de um modelo de
organização. Por sua vez, consciência é uma propriedade da mentação em qualquer nível,
das simples células aos seres humanos. Para o autor, o desenvolvimento do pensamento
abstrato, da linguagem simbólica e de várias outras capacidades humanas, depende
fundamentalmente de um fenômeno que é característico da mente humana. E destaca que,

(...) A mente é imanente não só no corpo, mas também nos caminhos e nas
mensagens fora do corpo. Existem manifestações mais amplas da mente, das
quais nossas mentes individuais são apenas subsistemas. O meio ambiente não
só está vivo como também é dotado de mente, assim como os seres humanos.
O mundo está organizado em estruturas de múltiplos níveis, o que implica o
reconhecimento de que também existem diferentes de mente. (BATESON,
2009, p.125).

Nesse sentido, o autor evidencia que a mente, o espirito, o pensamento e a


comunicação envolvem e também ultrapassam o significado semântico de cada uma
dessas palavras e passam a construir dimensão externa do corpo que compõe parte da
realidade de cada indivíduo.
A mente foi encarada como uma construção social, uma vez que segundo
Bateson os nossos conceitos surgem a partir do nosso discurso e moldam o modo como
pensamos. Para tanto, desenvolveu a concepção de ― processo mental‖, no âmbito de
um movimento intelectual que abordava o estudo cientifico da mente e do
conhecimento, a partir de uma perspectiva interdisciplinar sistêmica.
Entre suas várias contribuições,, destaco um dos livros mais importantes de sua
biografia, intitulado de ―Passos para uma Ecologia da Mente‖, publicado em 1972 em
Nova Iorque. A obra apresenta uma abordagem sobre comunicação animal e humano. O
termo Passos foi pensado devido não existir uma nova Ciencia que discuta tais
conceitos. O livro apresenta quatro temas: a antropologia, a psiquiatria, a evolução
biológica e a genética, a nova epistemologia construída pela teoria dos sistemas e a
ecologia.
Os estudos de Bateson (2009) também permeiam pela cismogênese,
compreendida como uma relação simétrica em que o indivíduo está em relação com o
outro, mesmo de forma inconsciente. Nesse sentido sobre cismogênese está o conceito de
troca. Para tanto, essa troca com foco de outras realidades, foi evidenciado pelo autor na
sua experiência que envolveu observações junto ao povo Iatmul na Nova Guiné, em

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especial, o ritual Naven compreendido como uma iniciação dos meninos na vida
adulta e que se dá através de condutas simétricas entre estes e os adultos mais velhos.
Sobre o Naven, é possível destacar também que o mesmo foi publicado em abril
de 1927 a março de 1933. Bateson procurava a si mesmo, buscando compreender o ofício
do Antropólogo nessa experiência por meio de uma abordagem holística das sociedades
humanas. Assim, por meio de um simples ritual Iatmul buscava compreender
e entender o triplo ponto de vista que envolvia questões estrutural, sociológico e
cognitivo/emocional presentes eidos e ethos. Existem, portanto, uma diferença entre
ambos.
Nesse entendimento, a cismogênese, que Bateson define como ―criação da
separação‖. Demonstrar o potencial disjuntivo da relação entre as diferentes ênfases
emocionais atribuídas a cada sexo (derivada da análise do ethos). A cismogênese
também foi notada na descrição dos padrões de separação da estrutura social Iatmul
(perceptíveis pelo prisma sociológico) e nos modos de operação dos dois tipos de
dualismo encontrados no pensamento Iatmul (que se mostram pelo exame do eidos).
O Eidos, corresponde ao que o autor classifica como a expressão dos aspectos
culturalmente normatizados dos processos cognitivos dos indivíduos. Já o Ethos que
consiste na expressão dos aspectos culturalmente normatizados dos instintos e das
emoções dos indivíduos). Ou seja, um estudo da natureza da explicação.
Nessa troca, o vivo se constitui e se define como um sistema de comunicação.
Ainda sobre esse pensar, a análise do Naven nos possibilita compreender também que a
mesma encontra-se repartida em um ponto de vista sociológico e como muito bem nos
afirma Bateson tal ritual envolve ponto de vista também eidológico-cognitivo e outro
etológico-afetivo.
Ao longo dos estudos, Bateson retoma de Ruth Benedict: a idéia de que ―uma
cultura, tanto quanto um indivíduo, representa um modelo mais ou menos consistente de
pensamento e de ação. (Precisamos primeiro compreender as molas emocionais e
intelectuais) e com base na idéia de Benedict, Bateson refinará o conceito de Pattern
(estrutura, modelo, configuração, padrão).
Assim, a ligação entre as análises afetiva e cognitiva, tornada possível pela
persistência da cismogênese que proponha uma relação entre estímulos e reações para
compreender como ethos e eidos são inculcados no indivíduo. A mesmo expressa o
interesse do autor nos processos de aprendizagem, intimamente ligados às suas
reflexões posteriores sobre teoria da comunicação e cibernética.

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Nessa linha de reflexão, forjará o conceito de Cismogênese e tratará de definir


dois dos seus tipos: Simétrica e Complementar a Cibernética participará de dois
feedback (positivo e negativo). Assim sendo, ultrapassará o campo crítico de Bronislaw
Malinowski que tinha razão ao dizer que, para existir, uma sociedade deve ―funcionar‖.
Sobre esse pensar, Bateson acrescentará algo complementar e essencial: toda sociedade é
dinâmica, isto é, em constante processo de equilíbrio. Ela não pode existir, deste modo,
sem ser um espaço (e um sistema, sempre singular) de constantes trocas, relações e
interações entre seus membros.
Portanto, como muito bem nos afirma Bateson (2009); Kloeckner, Rocha, e
Ursulino (2019), a experiência é sempre datada. Por meio das interações entre os sujeitos
e o caminho nas circunstancias em que o meio físico, simbólico e também social
sinaliza. Nesse cenário, é possível compreender que os aspectos mais subjetivos de um
dado contexto que, por vezes, tende a ser o mais significativos, os pontos mais detalhados
e singulares são aqueles que de alguma forma guardam aspectos mais significados na
relação entre o aprendiz e o aprendente. Nessa linha de pensamento, o homem é para
Bateson um ser que aprende, e por sua sensibilidade as experiências ambientais, ocupa o
foco principal de sua atenção.

4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Por meio do estudo passei a refletir de forma a compreender que a condição de
desenvolvimento é sempre algo aberto, nossa formação enquanto seres humanos, a vida
e nosso papel nesse imenso universo, é um ponto importante que devemos levar em conta.
Por meio de um mergulho em nossas próprias ações na forma de observar o mundo e os
sujeitos e o contexto para darmos sentido e significado a nossa existência.

Enquanto uma reflexão sobre o conhecer, sobre o conhecimento, é uma


epistemologia. Enquanto uma reflexão sobre nossa experiência com outros
na linguagem, é também uma reflexão sobre as relações humanas em geral, e
sobre a linguagem e a cognição em particular. Vivemos, e não como
propriedades intrínsecas do humano, são aspectos comuns a esses estudos.
Ainda, linguagem e cognição são entendidas aí como inextricavelmente
entrelaçadas, indelevelmente presentes em todas as nossas atividades, e os
fenômenos nelas produzidos inelutavelmente diversos. (MATURANA,
2001,p.9)

Assim, em matéria de evolução percebe-se que há um ponto de partida – mas não


há um ponto exato de chegada, pois estamos em constante transformação, o aprendizado
humano é contínuo, ele é bom e necessário, pois nos habilita para novas mudanças e

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competências que necessitamos ao longo de nossa existência. A evolução humana nos


permite viver como eternos alunos da vida, em meio as relações que estabelecemos
diariamente com o meio, com o outro e com nós mesmos.
Com base nessa reflexão, somos nós, os únicos responsáveis pelo mundo que
sonhamos e queremos, somos os únicos capazes de refletir e repensar nosso papel nesse
universo. Assim, em meio a uma sociedade que clama por harmonia e respeito, somos
responsáveis pela transformação e evolução que desejamos. As contribuições de
Maturana, Varela e Bateson foram essenciais nesse processo de reflexão. Pois partimos
de uma leitura sobre nós e sobre o mundo á nossa volta permitindo vislumbrar o que
somos e onde estamos.
Assim, após as leituras, passei a pensar de forma mais aprofundada sobre quem
somos e sobre o nosso papel nesse mundo, como nos comunicamos, as diferenças
culturais, os diferentes contextos que nos distanciam e ao mesmo tempo nos
aproximam. Somos todos seres em evolução, vivemos uma constante busca do novo e de
alguma forma compreender nossa existência.
Nesse cenário, como muito bem coloca Gregory Bateson (1986), que nada tem
significado a não ser que seja visualizado como estando em algum contexto, nesse
sentido, contexto está diretamente ligado a outra noção indefinida chamada de
―significado‖. Para ele, sem contexto, palavras e ações não têm qualquer
significado.
É preciso uma maior compreensão do contexto no qual estamos inseridos para
compreensão do universo que nos cerca. Par Gregory seja qual for o significado da
palavra contexto, ela é uma palavra apropriada, a palavra necessária, na descrição de
todos esses processos distantemente relacionados.
Não tão distante penso que estamos esquecendo que somos os únicos seres que
necessitamos uns dos outros. Tais inquietações são pertinentes, pois precisamos
repensar nossa sociedade, tão carente de amor, respeito, afeto, ética, solidariedade e
justiça social.

Neste sentido nos referíamos ao fato de que as mudanças que resultam da


interação entre os seres vivos e os seus ambientes são ocasionadas por
agentes perturbadores, mas determinadas pela estrutura do sistema
perturbado. (Maturana, 992, p. 96).

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Reflete um olhar necessário para a mente e natureza e para os processos de


comunicação, educação. Tudo isso, encontra-se presente nas relações que estabelecemos
com o meio, com os seres vivos e com a natureza, ao longo de nossas existência. Assim,
não podemos perder a nossa capacidade de sonhar, não um sonho utópico, mas um sonho
possível, repleto de encantamento pela vida, amor ao próximo, às diferenças e por tudo
que podemos realizar sem negar o outro.
Deixo aqui, portanto um convite para buscamos melhor compreender o conhecer,
atentando conforme os pensamentos de Humberto Maturana, para nossa experiência
cotidiana como seres biológicos que (con) vivem na linguagem, que essa busca pelo
conhecer, traga para nossa compreensão o que chamamos de conhecer e agir no mundo,
permitindo assim, a construção de um mundo e um futuro melhor para cada um de nós.

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