Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
À "PRÃXIS”
ITINERÁRIOS DO
IDEALISMO CONTEMPORÂNEO
CAMINHO
15 |coJeccõo universitária
O AUTOR
INTRODUÇÃO .................................................................................. 13
NOTAS.............................................................................................. 55
I. Introdução................................................................................... 69
N O T A S .................................................................................................... 149
1.
Uma questão fundamental pode não se apresentar como
uma questão primeira. Geralmente, não se apresenta como
uma questão primeira. Tanto na ordem do viver, como na
ordem do agir, com o na ordem do pensar, o que primeiro
cai sob a consideração de um olhar reflexivo e suscita a sua
atenção indagante pode, na verdade, não se identificar de
pronto com aquilo que de fundam ental se encontra em jogo
nesse m esmo objecto de tematização.
A pergunta pelo fundam ento é sempre uma pergunta
mediata e mediada. Uma pergunta que envolve e reflecte um
compromisso prévio com a própria questão que está a ser
examinada. Ê por isso que a estrutura da compreensão, em
bora passando pela descrição inteligível do objecto de pesquisa,
se não reduz <* um seu acompanhamento como que fenom e-
rtológico. O dar razão constitutivo da inteligibilidade remete
para outras camadas do ser que desde o fundo da sua própria
presença se anunciam.
A inventariação serial de cadeias causais é, sem dúvida,
um indício e um a expressão desta procura de fundam entos
ou razões, se bem que em gerei se reconduza a uma rememo-
14 JOSÉ BARATA-MOURA
2.
A questão do materialismo é uma questão fundamental,
porque o ser na sua concreção é fundamento e horizonte de
fundamentação.
O materialismo não é, portanto, praticamente uma ques
tão de opção. A nossa colectiva pertença prática a um real
em devir e transformação não é uma questão preliminar de
opção. É, sim, o solo ou terreno — consistente e movente —
que possibilita as opções, o horizonte concreto em que se vão
determinando.
A contradição de materialismo e idealismo não se estabe
lece nem se resolve por uma questão de opção. A materiali
dade do real tem estatuto ontológico, não é um instituto
DA REPRESENTAÇÃO A tPRÀXIS» 15
jurídico. Não se decreta; e por isso também não se revoga,
por subtis e espirituosas que sejam as argumentações ou por
intensa e determinada que se afigure a «vontade política».
Discute-se, debate-se, por certo; mas o propósito mesmo de a
denegar teoreticamente é simultânea afirmação prática da sua
presença histórica, da sua actualidade deveniente.
3.
4.
5.
Já é tempo de concluir.
A tese de Kant sobre o ser aponta, em nosso entender,
para a posição de uma materialidade incógnita, mas necessária.
A leitura heideggeriana interpreta fundamentalmente a posi
ção como relação (do sujeito à coisa) e não como afirmação
da materialidade do seu núcleo objectivo.
DA REPRESENTAÇÃO A «PRÁXISi 51
Isto é, K ant proclama inegavelmente a idealidade das
determinações formais que o conhecimento requer para orde
nar o diverso e o poder conhecer; mas, de modo algum, advoga
a completa idealidade de todos os elementos ou instâncias
em presença. Há dados — em si, indeterminados formalmente,
no sentido de que toda a determinação é subjectiva, mas, por
isso mesmo, determ ináveis— com que é indispensável contar
(até para que algo — Etwas — possa ser conhecido e não apenas
pensado*5) e que têm uma radicação material.
Para Kant, a «posição» em que o ser consiste é fundamen
talmente: posição de uma matéria incognoscível, mas presente.
Na interpretação de Heidegger, a «posição» é essencial
mente relação ou ligação com uma subjectividade unificadora:
a posição reside na articulação da forma e da matéria.
Como Heidegger escreve:
«Je grõsser das Denkwerk eines Denkers ist. das sich keineswegs
mit dem Umfang und der Anzahl seiner Schriften deckt, um so reicher
ist das in diesem Denkwerk Ungedachte, d. h. jenes, was erst und
allein durch dieses Denkwerk ais das Noch-nicht-Gedachte herauf-
kommt.», Heidegger, Der Satz vom G rundf Pfullingen, Neske, 1965*
pp. 123-124.
No ensaio sobre Platão e a verdade, Heidegger afirmava também:
Por tudo isto se vê, uma vez mais, que, também no terreno
fundamental da ontologia, a ambiguidade merleau-pontyana,
tomada na sua radicalidade, é sempre algo de muito relativo.
É uma ambiguidade anunciada e presumida. Não é uma ambi
guidade efectiva. Os supostos em que o pensamento de Mer-
leau-Ponty assenta não são ambíguos.
Notas
«Was ich kann [...] das ist eine praktische Mõglichkeit. Nur
zwischen praktischen Móglichkeiten kann (das ist ein andres, theo-
retisches “kann”) Thema meines Willens sein. Ich kann nichts wollen,
was ich nicht bewusstseinsmassig vor Augen habe, was nicht in meiner
Macht, in meiner Fãhigkeit liegt.», Husserl, Ideen II, p. 258.
M «Être corps, c’est être noué à un certain monde, [...] et notre
corps n ’est pas d’abord dans Tespace: il est à 1’espace.», Merleau-
-Ponty, PhP, p. 173.
37 «Dans le geste de la main qui se lève vers un objet est enfer-
mée une référence à Tobjet non pas comme objet representé, mais
comme cette chose très déterminée vers laquelle nous nous projetons,
auprès de laquelle nous sommes par anticipation, que nous hantons.»,
Merleau-Ponty, PhP, pp. 160-161.
" É a unidade intersensorial de um mundo e as instâncias da
sua constituição que aqui se encontram em causa:
«A visão e o movimento são maneiras específicas de nos
relacionarmos com objectos, e se, através de todas estas expe
riências, uma função única se exprime é o movimento da
existência, que não suprime a diversidade radical dos con
teúdos, porque os liga, não colocando-os a todos sob a domi
nação de um “eu penso” , mas orientando-os para a unidade
intersensorial de um “mundo” .»,
non pas en les plaçant tous sous ia domination d ’un 39*44je pense**, mais
en les orientant vers l'unité intersensorielle d’un “monde” .», Merleau-
-Ponty, PhP, p. 160.
* «La première vérité est bien 44Je pense”, mais à condition qu*on
entende par là 44je suis à moi” en étant au monde.», Merleau-Ponty,
PhP, p. 466.
39 « [...] le mouvement à faire peut être anticipé, sans 1’être par
une représentation, et cela même, n ’est possible que si la conscience
est définie non comme position explicite de ses objets, mais plus
généralement comme référence à un objet pratique aussi bien que
théorique, comme être au monde, si le corps de son côté est défini
non comme un objet parmi tous les objets, mais comme le véhicule
de 1’être au monde.», Merleau-Ponty, PhP, p. 163.
31 «La 44chose” naturelle, 1'organisme, le comportement d’autrui
et le mien n*existent que par leur sens, mais le sens qui jaillit en eux
n*est pas encore un objet kantien, la vie intentionnelle qui les cons-
titue n ’est pas encore une représentation, la “compréhension” qui y
donne accès n*est pas encore une intellection.», Merleau-Ponty, SC,
241.
33 «L’histoire de Papraxie m ontrerait comment la description de
la Praxis est presque toujours contaminée et finalement rendue impos-
sible par la notion de représentation.», Merleau-Ponty, PhP, p. 161.
33 «Le sens profond, philosophique, de la notion de praxis est de
nous installer dans un ordre qui n ’est pas celui de la connaissance,
mais celui de la communication, de 1'échange, de la fréquentation. II
y a une praxis prolétarienne qui fait que la classe existe avant d*être
connue.», Merleau-Ponty, Les Aventures de la dialectique (doravante:
AD), Paris, Gallimard, 1955, p. 78.
34 «Merleau-Ponty unterstreicht die Rolle sprachlicher Kommu-
nikation.», A. Schmidt, «Praxis», Kritische Theorie. Humanismus.
Aufklãrung, Stuttgart, Reclam, 1981, p. 150.
39 «Die W irklichkeit konstituiert sich im Rahmen einer um-
gangssprachlich organisierten Lebensform kommunizierender Gruppen.
Wirklich ist, was unter den Interpretationen einer geltenden Symbolik
erfahren werden kann.», J. Habermas, Erkenntnis und Interesse,
Frankfurt am Main, Suhrkamp, 1981 *, p. 237.
39 Referindo-se às condições dos primórdios da grande indústria
e à situação da massa dos trabalhadores, escreve Marx:
« [...] esta massa é já uma classe face ao capital, mas
ainda não para si própria.»,
« [...] cette masse est déjà une classe vis-à-vis du capital, mais pas
encore pour elle même.», K. Marx, Misère de la philosophie, II. 5:
Oeuvres, ed. M. Rubel, Paris, Gallimard, 1965, vol. i, p. 135.
37 Como Lukács escreve:
«Ora, a reacção racionalmente adequada que desta ma
neira é imputada [zugerechnet] a uma situação típica deter-
154 JOSÉ BARATA-MOURA
«So ist das proletarische Denken vorerst bloss eine Theorie der
Praxis, um erst allmáhlich (freilich oft sprungweise) sich in eine die
Wirklichkeit umwalzende praktische Theorie zu verwandeln.», G.
Lukács, «Die Verdinglichung und das Bewusstsein des Proletariats»,
GK; W, vol. ii , p. 394.
13# «Le réalisme révolutionnaire ne vise jamais, comme Faction
technique, aux resultats extérieurs seulement, il ne veut qu’un résultat
qui puisse être compris, car, s’il ne Fétait pas, il n’y aurait pas révo-
lution. Chaque acte révolutionnaire est efficace non seulement par ce
qu’il fait, mais par ce qu’il donne à penser. L ’action est pédagogie des
masses, et c’est encore agir que d’expliquer aux masses ce que l’on
fait.», Merleau-Ponty, AD, p. 114.
144 nldeen kónnen nie iiber einen alten Weltzustand, sondem
immer nur iiber die Idee des alten Weltzustandes hinausfiihren. Ideen
kónnen iiberhaupt nichts ausfúhren. Zum Ausfiihren der Ideen bedarf
es der Menschen, welche eine praktische Gewalt aufbieten.», K. Marx-
-F. Engels, Die heilige Familie; MEW, vol. n, p. 126.
141 «L*idée d’une philosophie transcendentale, c*est-à-dire celle de
la conscience comme constituant 1 ’univers devant elle et saisissant les
objets mêmes dans une expérience externe indubitable, nous parait
une acquisition définitive comme première phase de la réflexion.»,
Merleau-Ponty, SC, p. 232.
143 «En fait et en droit, la loi est un instrument de connaissance
et la structure un objet de conscience. Elles n ’ont de sens que pour
penser le monde perçu.», Merleau-Ponty, SC, p. 157.
143 «Toute la connaissance, toute la pensée objective vivent de
ce fait inaugural que j’ai senti, que j ’ai eu [...] une existence singu-
lière qui arrêtait cFun coup mon regard, et pourtant lui promettait
une série d’expériences indéfinie [...]. L'intentionalité qui relie les
moments de mon exploration, les aspects de la chose, et les deux
séries Fune à Fautre, ce n'est pas Factivité de liaison du sujet spirituel,
ni les purés connexions de Fob-jet, c’est la transition que j’effectue
comme sujet charnel d’une phase du mouvement à Fautre, toujours
possible pour moi par príncipe parce que je suis cet animal de percep-
tions et de mouvements qui s*appelle un corps.», Merleau-Ponty, «Le
philosophe et son ombre», EP, pp. 258-259.
Num outro ensaio também dirá:
V o lu m e s p u b lic a d o s :
O JOVEM MARX
Nlkolal Láplne
DE TALES A EINSTEIN
História da Física e da Quím ica
Jean Roamorduc
ANTERO DE QUENTAL
Vida e Legado de Uma Utopia
ó scar Lopea
N e s te liv ro , dosé B a c o n s c iê n c ia e g o i c a
r a t a - M o u r a , s it u a n p a ra o te rre n o da
d o -s e no c am p o d a p rá tic a «.itersuBjfHr-
filo s o fia , a b o rd a a l tiv a .
gu n s itin e rá rio s do D a í o títu lo : D a Re
id e a lis m o c o n te m p o p resen tação à «P rá-
râ n e o , p ro c u ra n d o x is * . D a í ta m b é m as
s u r p r e e n d e r a q u e la a r tic u la ç õ e s e m fc !e -
* q u e é ta iv e z «ua m a tíz a m e n te s u rp re -
te n d ê n c ia a c tu a l roais enrtfveis no percurso
S ig n ific a tiv a : a d e ir q u e se d e sen h a de
e m p re e n d e n d o um Kant 3 M erieau-
p ro g re s s iv o e n c a m i -P o n ty . pasmando por
n h a m e n to do te rre n o H e ld e g g e r.
re p r e s e n ta tiv o da O c ritic ís m o tra n s
c e n d e n ta l Kantiano é
a s s u m id a r n e n t e u m
id e a lis m o da re p re
sentação. H e id e g g e r
não p re te r te assu-
í ir-se nem c o it u
idoãíicVa nem coroe
filó so fo s u b m e tid o ac
p a ra d ig m a d a re p re
s e n ta ç ã o . M e r í e a u -
-P onty s em ao n i v ei
dds supostos escapar
ao i d e a l i s m o , p r e
te n d e no e n ta n to fu-
, * t..
Faculdade da Latri a m da Lisboa
A*
W
iiv a .