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FAC - Faculdade de Comunicação.
Disciplina - Roteiro, Produção e Direção para Web, Vídeo e Cinema.
Professora - Erika Bauer.
Aluno - Carlos Eduardo Silva Barbedo.
Matrícula - 12/0190877.
Exercício - Proposta de ideia para um roteiro.
Título - Uma viagem às escuras.
Obs.: Essa proposta de roteiro é inspirada em um conto publicado pela revista “Seleções”, cujo
título e autor eu não consigo me recordar.
Personagens:
- José.
- Virgílio (Avô de José).
- Ana (Avó de José).
- Jorge (Pai de José).
- Simone (Mãe de José).
- Sofia.
- Amélia (Tia de Sofia).
- Ananda (Mãe de Sofia).
- Luís (Amigo de José).
- Janete (Amiga de Amélia).
- Enfermeira do Hospital Municipal de Mogi das Cruzes.
- Dr. Walter (Médico do Hospital Municipal de Mogi das Cruzes).
- Vaqueiro.
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3. INTERIOR DE AUTOMÓVEL – DIA.
Virgílio está dirigindo. José, seu neto, está sentado ao seu lado. José está um pouco apreensivo com
o horário. Virgílio encontra uma vaga no estacionamento da estação de Mogi das Cruzes/SP.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
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JOSÉ Obrigado.
VIRGÍLO Vá com Deus.
Preciso sair daqui antes que o trem parta.
Virgílio dá um beijo na cabeça de seu neto. Retira-se da cabine do trem com os olhos marejados,
segurando as emoções, evitando chorar.
CORTA PARA:
7. INTERIOR DA ESTAÇÃO (PLATAFORMA) – DIA.
Virgílio caminha pela plataforma em direção à saída. Emocionado, fecha os olhos e sussurra um
mantra.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
CORTA PARA:
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10. INTERIOR BAIA DA ESCOLA PÉGASUS DE EQUITAÇÃO, EM MOGI DAS CRUZES –
DIA.
Luís observa o cavalo Rufus Baruck retornando à baia sozinho, sem José. Segura o animal e o
conduz ao interior da baia. Retira os arreios enquanto reflete sobre o que deve fazer. Pergunta a si
mesmo o que deve fazer. Decide sair para procurar José. Coloca os arreios em outra montaria e sai
cavalgando na mesma direção anteriormente seguida por José.
CORTA PARA:
Jorge e Simone, pais de José, chegam à Recepção do Hospital Municipal de Mogi das Cruzes.
Nervosos, caminham na direção de uma enfermeira que está atrás de um balcão. Virgílio e Ana,
pais de Jorge, chegam em seguida.
SIMONE Por gentileza, eu sou a mãe do paciente José, o rapaz que caiu
de um cavalo.
Sabe me dizer onde ele está?
Ele está mal?
ENFERMEIRA Soube que ele sofreu duas fraturas: uma no braço e outra no
crânio.
Está no CTI.
Vai ser necessário operá-lo.
Estávamos esperando pela família, pois precisamos colher a
autorização para o procedimento.
CORTA PARA:
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Tudo vai dar certo.
ANA Meu filho, como você está?
JOSÉ Estou cego. Simples assim.
ANA Mas não por muito tempo. Vamos encontrar uma saída.
Virgílio, sentado em uma cadeira no canto do quarto, repete o seu mantra sussurrando.
CORTA PARA:
14. INTERIOR DA ESTAÇÃO (PLATAFORMA) – DIA.
Virgílio segue o caminho de volta para o seu carro, pela plataforma, enquanto continua a recitar o
mantra em que pede que Deus cuide de José.
Sofia e Amélia cruzam com ele, andando em passo acelerado pela plataforma, com medo de perder
o trem. Sofia, cega, segura o braço esquerdo de Amélia e carrega uma bolsa com a outra mão.
Amália puxa a mala de rodinhas de Sofia.
CORTA PARA:
AMÉLIA Sofia, você se lembra das coisas que eu lhe contei sobre Janete, a
minha amiga de infância?
SOFIA A menina ruiva que pulava o muro da escola para jogar bola com os
meninos da rua? Claro que me lembro. Ele me parecia a mais
divertida de todas as suas colegas.
AMÉLIA Ela está na outra cabine. Quando eu passei pelo corredor, ela me
chamou e fez sinal para eu me sentar ao seu lado.
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SOFIA Sim, eu ouvi. Você não prefere ficar lá com ela? Colocar a conversa
em dia? Eu fico muito bem por aqui, não se preocupe comigo.
AMÉLIA Então, eu vou. Quero ver como está aquela moça. Depois, eu volto.
E você, por sinal, parece que também vai ficar em ótima companhia.
Me dá uma beijoca.
SOFIA Não. É minha tia. Mas eu a adoro, converso com ela como se fosse
uma amiga.
O telefone celular de Sofia toca. O som é de uma música clássica: “Trenzinho Caipira”, de Heitor
Villa-Lobos.
CORTA PARA:
Conversa telefônica.
A ligação foi feita por Ananda, mãe de Sofia e irmã de Amélia, que permaneceu em casa.
Estava preocupada. Queria saber se as duas haviam conseguido embarcar no trem. E se estava tudo
bem.
A cena passa a ser dividida ao meio. Mostra, concomitantemente, as duas personagens, Sofia e
Ananda, em conversa telefônica.
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SOFIA Não. Ela está na cabine ao lado. Encontrou a Janete. As duas estão
colocando a conversa em dia. Você se lembra dela?
ANANDA Sim. Ela é um amor. Se você falar com ela, mande-lhe lembranças.
Beijos e boa viagem, minha filha.
Quando chegar me ligue. Eu fico preocupada.
SOFIA Ligo sim, mamãe. Beijos.
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JOSÉ Sim, muito! E, principalmente, a partir de agora!
JOSÉ Sim, mas todos nós também não temos? Talvez seja injusto dizer que
os gênios sejam mais difíceis de se lidar do que as outras pessoas.
Afinal, o que realmente acontece é que eles ficam em evidência.
E não deve ser fácil viver sob os holofotes, assediado todo o tempo,
sendo reconhecido por onde passa. Eu enlouqueceria.
JOSÉ Enlouquecer?
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SOFIA Na verdade, eu não tenho ideia. Isso seria muito novo para mim.
SOFIA Ah! Quem me dera. Ainda não estou pronta para isso.
Sinceramente, tenho muito chão pela frente.
É importante manter os pés no chão, dar um passo de cada vez.
SOFIA Você vai se decepcionar. Sou uma iniciante, estudo piano somente
há três anos. Conheço muita gente que toca bem melhor do que eu.
JOSÉ Mas, e esse perfume? E essa voz doce? E esse charme? E essa
conversa deliciosa? Quem mais os tem? Acredito que ninguém.
SOFIA Nossa! Meu perfume; minha voz... assim eu vou acabar ficando sem
graça.
JOSÉ Acontece que tudo tem um tempo certo para ser feito. Se deixarmos
para depois, a oportunidade vai embora.
E eu acredito que o melhor momento para me aproximar de você
seja antes de ficar famosa.
Sofia sorri novamente.
SOFIA Não precisa ter pressa. Vai demorar muito até que eu fique famosa.
JOSÉ Não preciso ter pressa? Quando esta viagem terminar, eu preciso
saber como reencontrá-la. Caso contrário, vou ficar sem poder ouvir
o Villa-Lobos.
Aliás, eu quase me esqueci de um pequeno detalhe: você é
comprometida?
Sofia sorri.
JOSÉ Sinceramente, não sei. Mas você já sorriu algumas vezes para mim.
Se fosse comprometida, não seria assim.
Você cortaria as minhas asas.
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SOFIA Você acha que eu sorri para você? Eu sorri para mim. Sorri porque
eu quis. Porque tive vontade.
E que estória é essa de asas? Você está cheio de asas aqui dentro?
Essa cabine não é muito apertada para as suas asas?
JOSÉ Todos esses sorrisos. Toda essa simpatia... isso é coisa de mulher
que não tem compromisso.
SOFIA Você está dizendo que eu estou encalhada? Que estou carente? Que
eu estou te dando mole?
JOSÉ Eu nunca diria isso. Você é o tipo de mulher que só fica encalhada se
quiser.
JOSÉ Mas que você me deu mole, desde que eu cheguei aqui... ah! Isso
deu.
Todo esse papo de estar apaixonada por Villa-Lobos... não sei como
eu fui cair nessa.
SOFIA Mas é a mais pura verdade. Minha mãe me ensinou a gostar de Villa-
Lobos. E, agora, eu estou cada vez mais apaixonada. Não posso?
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JOSÉ Claro que pode. Mas estou ficando com ciúmes. O que ele tem de tão
especial? Por que ele é melhor do que o Carlos Gomes, por
exemplo?
JOSÉ Sim. Mas porque a música de Villa-Lobos seria tão melhor que as
demais?
Sofia sorri.
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JOSÉ Sim, com certeza. Quando preciso estudar ou fazer algum trabalho,
sempre peço que diminuam o volume da conversa, da televisão ou
do rádio.
SOFIA Villa-Lobos nos ensina que o silêncio mais importante é aquele que
nós conseguimos estabelecer em nossas mentes, em nossa alma.
Você sabia que o “Trenzinho Caipira” foi composto em uma viagem
de trem semelhante a esta?
JOSÉ Não.
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percorrer, todas sendo filmadas a partir de uma perspectiva de dentro do trem. Aparecem os olhos
de Villa-Lobos fixos em seu bloco de notas. Posteriormente, são mostrados os semblantes de alguns
passageiros. A câmera focaliza a mão de Villa-Lobos escrevendo. São mostradas as paisagens e as
nuvens. Villa-Lobos está dedilhando o violão. A câmera mostra as árvores e os rios. Villa-Lobos
sorri.
Dentro dessa alternância de imagens – viagem do trem e viagem da criação musical –
a música de fundo não cessa, mas o som do violão passa a ser gradativamente substituído pelo de
uma orquestra que continua a tocar o “Trenzinho Caipira” em um processo de mixagem.
CORTA PARA:
17. INTERIOR DE UM TEATRO GRANDE E IMPONENTE – NOITE.
CORTA PARA:
18. INTERIOR DA CABINE DO TREM – DIA.
José sorri.
JOSÉ Sofia, eu consegui visualizar tudo o que você disse.
Villa-Lobos é, realmente, extraordinário.
Sinceramente, não dá para entender por que uma trajetória de vida
tão bonita e uma música tão genial permanecem desconhecidas do
grande público brasileiro.
SOFIA Acredito que essa seja uma questão de natureza política que nunca
recebeu a devida atenção.
Existem muitos interesses por trás da falta de investimento em
educação e cultura. Eu pretendo dedicar a minha vida a esse assunto.
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A música de alta qualidade já me fez muito bem, e eu quero
proporcionar o mesmo benefício aos outros.
JOSÉ Por que você diz que existem muitos interesses que são contrários à
divulgação da música clássica?
JOSÉ A música pode fazer com que a pessoa fique mais inteligente?
JOSÉ Você vai me condicionar direitinho? Vai fazer com que eu fique
mais inteligente? Onde você estuda música?
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SOFIA Eu estudo no Conservatório Musical do Município de Mogi das
Cruzes. Passo, praticamente, o dia inteiro lá.
JOSÉ Então eu irei até lá só para ouvir Villa-Lobos ao piano. Só, não!
Corrijo-me! Vou querer conversar com você mais um pouco. Quero
aprender mais sobre a nossa música clássica. E também sobre a
história da nossa cultura.
SOFIA Um povo que não valoriza a sua própria cultura, que não pensa em
suas raízes, que não estuda a sua própria História, faz uma viagem às
escuras, sem saber para onde vai, ao sabor das surpresas que lhe são
impostas por pessoas mal intencionadas.
JOSÉ Eu juro que não estou mal intencionado. Será que estou?
SOFIA Não sei. Mas vou ficar esperando o seu contato e a sua visita. Já se
esqueceu do meu número de telefone? Aposto que sim!
Sofia sorri.
SOFIA Isso mesmo. Está certo! Não é que ele gravou?
José sorri.
JOSÉ Mas o que você estava apostando mesmo?
Posso escolher?
O trem diminuiu sua marcha, preparando-se para estacionar no seu destino final – Estação da Luz,
em São Paulo/SP.
Amélia abre a porta e entra na cabine. Janete permanece na porta da cabine. As duas estão felizes
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SOFIA Vai bem, obrigada. Quando falei com ela por telefone, pediu que lhe
mandasse lembranças.
JANETE E põe prazer nisso! (ela o diz dando uma piscadela para Amélia).
Depois de todos terem se despedido, as três mulheres se preparam para sair da cabine.
Sofia se levanta e permanece indecisa, um pouco apreensiva, sem vontade de sair da cabine e se
afastar de José. Fica decepcionada pela falta de atitude de José.
José sorri e permanece sentado em seu lugar, disfarçando a sua deficiência visual.
Um homem com roupas de vaqueiro entra subitamente na cabine e esbarra em Sofia que quase cai.
As mulheres soltam exclamações.
Ele retira o seu chapéu e pede mil desculpas pela sua falta de jeito.
As mulheres o desculpam e, por fim, saem da cabine.
O vaqueiro se senta no lugar onde estava Sofia.
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Parece capa de revista!
Cabelos compridos e lisos, rosto simétrico, corpo escultural.
Ela estava de óculos escuros, então demorei a ver seus olhos.
JOSÉ Olhos? Eram bonitos? O que o Senhor achou dos olhos dela?
FIM
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