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Programa de Pós-Graduação em Educação

(Mestrado e Doutorado)
Universidade Federal de São Paulo – Departamento de Educação
(campus Guarulhos)

SEA - Procedimentos Metodológicos da Pesquisa na área


de Formação de Professores
Professores:
Isabel Melero Bello
Itale Luciane Cericato
Umberto de Andrade Pinto
Alunas:
Caroline Carmo
Márcia Regina Marques
Marina Prado Gomes
PESQUISA EM EDUCAÇÃO: Abordagens Qualitativas

Menga Lüdke: nasceu em Campinas (SP). Filósofa, é


doutora em Sociologia, professora titular da PUC-RJ e
autora de diversos livros e artigos no campo da formação
de professores.

Marli E. D. A. André: graduada em Letras e em Pedagogia.


Mestrado em Educação PUC RJ, doutorado em Psicologia em
Educação na University of Illinois (USA). Assumiu a coordenação do
Mestrado Profissional em Educação na PUC SP, faleceu em jan/2021
Capítulo 2: abordagens qualitativas de pesquisa: a
pesquisa etnográfica e o estudo de caso
Bogdan e Bikler (1982) - Cinco características básicas da Pesquisa Qualitativa em Educação
(p.11-13)
1. Tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu
principal instrumento;
2. Os dados coletados são predominantemente descritivos;
3. A preocupação com o processo é maior do que com o produto;
4. O “significado” que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial
pelo pesquisador;
5. A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo.
Em resumo: “a pesquisa qualitativa ou naturalística envolve obtenção de dados descritivos,
obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo
do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes.”
2.1. A abordagem etnográfica na pesquisa educacional

Spradlye, 1979: Etnografia tem um sentido próprio: é a descrição de um sistema de significados


culturais de um determinado grupo.

Wolcott, 1975: preocupação em pensar o ensino e a aprendizagem dentro de um contexto


cultural amplo, relacionar o que é aprendido dentro e fora da escola. Discute critérios para
utilização na escola, resumidos por Firestone e Dawson (1981): (p.14)

1. O problema é redescoberto no campo (flexibilidade);


2. O pesquisador deve realizar a maior parte do trabalho de campo pessoalmente;
3. O trabalho de campo deve durar pelo menos um ano escolar;
4. O pesquisador deve ter tido uma experiência com outros povos de outras culturas;
5. Combinação de vários métodos de coleta (destaca a observação direta e entrevistas);
6. O relatório apresenta uma grande quantidade de dados primários (material produzido pelos
informantes - histórias, canções).
2.1.1. Pressupostos de uma pesquisa etnográfica
“A etnografia como “ciência da descrição cultural” envolve pressupostos
específicos sobre a realidade e formas particulares de coleta e apresentação de
dados”.

Wilson (1977) - a pesquisa etnográfica fundamenta-se em dois conjuntos de


hipóteses sobre o comportamento humano: (p.15)

1. Naturalista-ecológica (indivíduo em seu ambiente natural)


2. Qualitativo-fenomenológica (Pesquisador: papel subjetivo de participante e
objetivo de observador)
2.1.2. Método
Segundo Stubbs e Delamont (1976) a natureza dos problemas é que determina o método.
Geralmente o pesquisador trabalha passando por três etapas: (p.15-17)

1. Exploração: seleção e definição de problemas (lugar do estudo, contatos para entrada em


campo);
2. Decisão: seleção de dados necessários para compreender e interpretar o fenômeno;
3. Descoberta: a explicação da realidade (tentativa de encontrar os princípios implícitos ao
fenômeno estudado e de situar as várias descobertas num contexto mais amplo).

“A abordagem etnográfica parte do princípio de que o pesquisador pode modificar os seus


problemas e hipóteses durante o processo de investigação.”
2.1.3. Papel do observador

Hall (1978) – características essenciais para um bom etnógrafo: (p.17)

● Tolerar ambiguidades;
● Trabalhar sob sua própria responsabilidade;
● Inspirar confiança;
● Comprometimento;
● Autodisciplina;
● Sensível a si mesmo e aos outros;
● Maduro e consistente;
● Guardar informações confidenciais.
2.2. Estudo de caso: Potencial em Educação

O estudo de caso se destaca por se constituir numa unidade dentro de um sistema mais amplo.

2.2.1. Características ou princípios fundamentais do estudo de caso naturalístico: (p.18-21)

1.Visam à descoberta;
2.Enfatizam a “interpretação em contexto”;
3.Retratam a realidade de forma completa e profunda;
4.Variedades de fontes de informação;
5.Revelam experiências vicárias e permitem generalizações naturalísticas;
6.Procuram representar os diferentes e às vezes conflitantes pontos de vista presentes numa
situação social;
7.Os relatos de estudo utilizam uma linguagem e uma forma mais acessível.
2.3 Desenvolvimento de um estudo de caso

Nisbet e Watt (1978) – Fases do desenvolvimento do Estudo de Caso: (p. 21-24)

● Aberta ou exploratória;
● Coleta de dados;
● Análise sistemática e a elaboração do relatório.

Superpõem em diversos momentos, sendo difícil precisar as linhas que as separam.


2.3.1 A fase exploratória: (p.22)
● Fundamental para definição mais precisa do objeto de estudo.
● Especificar as questões, estabelecer os contatos iniciais, localizar os
informantes e as fontes de dados para o estudo.
● Visão de abertura para realidade tentando captá-la como ela realmente é
devendo existir em todo o processo do trabalho.
2.3.2 Delimitação do estudo: (p.22)
● Determinar os focos de investigação para atingir uma compreensão mais
completa do estudo.

2.2.3 A análise sistemática e a elaboração do relatório: (p.22)


● Juntar as informações, analisá-las e torná-las disponíveis aos informantes (fase
exploratória).
● Exemplo: Após um determinado período em campo, o pesquisador pode
preparar um relatório curto, trazendo a análise de um determinado fato, o registro
de uma observação ou a transcrição de uma entrevista.
2.3.4 A prática do estudo de caso: (p.23)

● Problema do estudo de caso: o típico ou atípico e a generalização dos resultados.

Stake (1978) - semelhanças de muitos aspectos de situações vivenciadas,


estabelecendo uma “generalização naturalística”.

“O estudo de caso parte do princípio que o leitor vá usar esse conhecimento tácito
para fazer as generalizações e desenvolver novas ideias, novos significados, novas
compreensões.” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 23)

O estudo de caso “qualitativo” ou “naturalístico” oferece elementos preciosos para uma


melhor compreensão do papel da escola e suas relações com outras instituições.
Capítulo 3 - Método de coleta de dados: observação,
entrevista e análise documental
Observação
“Para que se torne um instrumento válido e fidedigno de investigação científica, a
observação precisa ser antes de tudo controlada e sistemática. Isso implica a
existência de um planejamento cuidadoso do trabalho e uma preparação rigorosa
do observador.” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 25)

● O que a observação possibilita?

“[...] a observação permite a coleta de dados em situações em que é impossível


outras formas de comunicação." (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 25)
Relação observador/participante

Pesquisa participante

1) participante total;
2) participante como observador;
3) observador como participante;
4) observador total.
(JUNKER, 1971, apud LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 28)
Período de duração da observação

“A decisão sobre a extensão do período de observação deve


depender, acima de tudo, do tipo de problema que está sendo
estudado e do propósito do estudo.” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 29)
Conteúdo das observações

Separam em duas partes:

Descritiva: Reflexiva:

1. descrição dos sujeitos; 1. reflexões analíticas;


2. reconstrução do diálogo; 2. reflexões metodológicas;
3. descrição do local; 3. dilemas éticos e conflitos;
4. descrição de eventos especiais; 4. mudanças na perspectiva do
5. descrição das atividades; observador;
6. comportamentos do observador. 5. esclarecimentos necessários.
Entrevista

“Na medida em que houver um clima de estímulo e de aceitação


mútua, as informações fluirão de maneira notável e autêntica.”
(LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 34)
Análise documental
“[...] a análise documental pode se constituir numa técnica valiosa de abordagem de dados
qualitativos, seja complementando as informações obtidas por outras técnicas, seja
desvelando aspectos novos de um tema ou problema.” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 38)

“[...] a análise documental busca identificar informações factuais nos documentos a partir de
questões ou hipóteses de interesse.” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 38)

● O que é considerado documento?

“[...] desde leis e regulamentos, normas, pareceres, cartas, memorandos, diários pessoais,
autobiografias, jornais, revistas, discursos, roteiros de programas de rádio e televisão até
livros, estatísticas e arquivos escolares.” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 38)
Análise dos dados

Seleção dos documentos -> Análise do conteúdo

A análise de conteúdo é “uma técnica de pesquisa para fazer inferências válidas e replicáveis dos
dados para o seu contexto” (KRIPPENDORFF, 1980, p. 21 apud LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 41)

“[...] a análise de conteúdo pode caracterizar-se como um método de investigação do conteúdo


simbólico das mensagens. Essas mensagens, diz ele, podem ser abordadas de diferentes formas
e sob inúmeros ângulos. Pode, por exemplo, haver variações na unidade de análise, que pode ser
a palavra, a sentença, o parágrafo ou o texto como um todo. Pode também haver variações na
forma de tratar essas unidades. Alguns podem preferir a contagem de palavras ou expressões,
outros podem fazer análise da estrutura lógica de expressões e elocuções e outros, ainda, podem
fazer análises temáticas. O enfoque da interpretação também pode variar. Alguns poderão
trabalhar aspectos políticos da comunicação, outros os aspectos psicológicos, outros, ainda, os
literários, os filosóficos, os éticos e assim por diante.” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 41)
Referências

LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação:


abordagens qualitativas. São Paulo: E.P.U., 1986.
Para reflexão:
1- Se for realizar uma pesquisa etnográfica, quanto tempo planeja ficar em
campo, já que o tempo da pesquisa é limitado? Como se planejou?

2- Como pensa em manter o sigilo dos dados coletados?

3- Como pensa em registrar os dados obtidos em uma entrevista?

4- Caso realize análise documental, quais serão os documentos analisados? Eles


são acessíveis?

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