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Pesquisa de Campo
5.1
Introdução
5.2
Método
5.2.1
Participante
permanece por pouco tempo com elas. A sra. E. relata também que tem “medo”
de deixar suas filhas com ele, “medo de que algo ruim possa acontecer com
elas”.
E. relata que suas duas outras filhas sempre foram “normais” e que se
sente muito triste com a condição de T. Afirma que gostaria que ela “fosse
como as outras crianças” e tem o desejo de que ela, algum dia, possa “namorar,
ler, escrever”...
T. não apresenta controle de esfíncteres e se alimenta sozinha, porém,
com as mãos. Ao longo de todo o processo de acompanhamento clínico com a
paciente, realizei um trabalho de orientação à Sra. E., com relação ao
desenvolvimento da autonomia de sua filha, para que ela pudesse ensiná-la a
realizar o controle esfincteriano e a se alimentar com o uso de talheres. Outra
orientação dada foi com relação à importância dela ter um tempo diário para
poder brincar com T., cerca de uma hora mais ou menos. Porém, E. sempre se
mostrou muito resistente a isto, dizendo que não sabe como brincar com ela,
que prefere deixá-la “assistindo a DVDs”.
Quando completou 3 anos de idade, T. começou a frequentar a escola,
sendo assistida pela equipe de educação inclusiva da rede municipal. Ao final
da intervenção, tinha 3 anos e 9 meses.
97
5.2.2
Procedimento
meios utilizados para se estabelecer algum tipo de vínculo com a criança. Além
disto, foram empregados também com o objetivo de se buscar obter tanto uma
coordenação afetiva quanto uma sintonia afetiva com a criança. Desta maneira,
pôde haver uma contribuição não só para o desenvolvimento do engajamento
afetivo como para o desenvolvimento da comunicação não-verbal e
comunicação verbal da criança autista.
Estes dois últimos conceitos mencionados, coordenação afetiva
(Tronick, 1989) e sintonia afetiva (Stern, 1992), são considerados conceitos-
chave para a intervenção. A coordenação afetiva ocorre quando se reponde às
expressões, musicais ou comportamentais da criança, sem que haja equiparação
transmodal, seja por intensidade, por tempo ou por tonalidade; o que hás c de
fato, é um “mover junto com criança, em torno de um objetivo em comum”
(Tronick, 1989), objetivo este que pode ser a própria interação musical, ou
mesmo a construção por ambos, terapeuta e criança, de uma determinada frase
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1- Olhar para a face: a criança direciona o olhar para a face da outra pessoa,
não especificamente para os olhos da outra pessoa;
2- Olhar para um objeto segurado por outra pessoa: a criança direciona o olhar
para um objeto que outra pessoa tenha pegado ou lhe mostrado;
3- Contato ocular: a criança olha especificamente para os olhos da outra
pessoa;
4- Sorriso responsivo: a criança sorri em resposta a um sorriso de outra pessoa
ou simplesmente dentro de uma interação;
5- Vocalizações não-referenciadas: a criança emite sons que não têm um valor
referencial, não se referem aparentemente a nenhum objeto específico;
6- Vocalizações melódicas: a criança emite sons também não-referenciados a
um dado objeto, mas de maneira melódica;
100
1 - Seguir o apontar: a criança direciona seu olhar para onde o dedo da outra
pessoa está indicando, não para o dedo da outra pessoa;
2 - Proto-declarativo: a criança aponta para compartilhar seu interesse pelo
objeto com outra pessoa (Bates, 1976);
3 - Proto-imperativo: a criança aponta para um determinado objeto para pedir
este objeto a outra pessoa (Bates, 1976);
4 - Imitação: a criança repete de maneira idêntica um gesto feito por outra
pessoa, não apenas igualando a forma, mas sim realizando o mesmo gesto;
5 - Timing: uma pulsação regular no tempo é igualada (Stern, 1992), quando,
por exemplo, um determinado comportamento da mãe e um determinado gesto
do bebê obedecem à mesma batida temporal;
6 - Som referenciado (fala): a criança pronuncia um determinado som que se
refere a um objeto específico.
5.2.3
Resultados
análise dos dados, que será feita por meio de figuras de colunas. A parte
descritiva visa a qualificar o dado empírico.
Divido todo o período relacionado à intervenção clínica em três fases,
correspondentes a algumas alterações no comportamento e repertório interativo
de T.. A primeira fase corresponde a uma aproximação entre terapeuta e
paciente, à iniciação dos primeiros jogos interativos e a uma familiarização de
T. com os instrumentos musicais, bem como à aquisição pela mesma, de algum
padrão rítmico; na segunda, há um aumento do repertório interativo da paciente
e uma variação no seu padrão rítmico; e, a terceira fase, corresponde à
manutenção deste padrão rítmico, a uma nova ampliação do repertório
interativo da paciente, bem como ao aparecimento da primeira vocalização
referenciada.
PARTE DESCRITIVA
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mediante a aplicação do CARS, que foi aplicado por mim a T.. O resultado
obtido foi de 37 pontos, o que confirmou o diagnóstico previamente
estabelecido de autismo infantil ou transtorno autista, sendo considerado, a
partir desta escala, como um autismo severo. T. pode ser considerada uma
criança autista não-verbal, uma vez que não apresenta o desenvolvimento da
fala referenciada, restringindo-se apenas a vocalizações que não possuem um
valor referencial, em seguida, tal diagnóstico foi comunicado à sra. E..
Durante esta primeira consulta, T. mexeu em vários objetos que se
encontravam na sala de atendimento, como, por exemplo, em folhas, carimbo,
canetas, etc. Em um dado momento, ofereci-lhe uma caneta e um papel. A
paciente hesitou um pouco, parecia que não tinha prestado atenção na minha
oferta. Entretanto, após algum tempo, pegou a caneta e fez vários rabiscos
sobre a folha de papel. Não direcionou o olhar para mim em nenhum momento
do atendimento, embora o tenha feito para a mãe, uma única vez, quando
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cantou e bateu palmas para ela. Ainda assim, T. não sustentou o contato ocular
com sua mãe.
As sessões referentes à linha de base da pesquisa, foram realizadas nos
dias 01/08/07, 08/08/07 e 15/08/07, correspondendo às sessões 1, 2 e 3,
respectivamente. Os objetos utilizados foram apenas caneta, folhas de papel e
carimbo nas duas primeiras sessões e instrumentos musicais, como violão,
pandeiro e chocalho, além de bola, na terceira sessão. Na primeira delas, a
paciente utilizou o carimbo, apertando-o sobre uma folha e, posteriormente,
sobre o chão. Utilizou também a caneta, fazendo rabiscos sobre uma folha.
Direcionou o olhar para mim apenas uma vez ao longo da consulta, de forma
espontânea, porém não sustentou o contato, que foi extremamente breve. Em
um momento do atendimento, T. buscou a bolsa da mãe. Esta a colocou em um
lugar de difícil alcance para ela. A paciente então aplicou tapas sobre a mãe e
chorou. E. deu a bolsa à filha que a virou sobre o chão, colocando todos os
objetos para fora. Na segunda sessão, ocorreu também um episódio no qual T.
se mostrou estressada, por querer ficar com a mãe, ao lado de fora da sala. No
entanto, quando a chamei para entrar na sala, aceitou e logo se acalmou. No
terceiro atendimento da linha de base, já utilizei os instrumentos musicais. T.
se encontrava calma nesta sessão, seu comportamento expressava contornos de
ativação de baixa intensidade. Emitia algumas vocalizações, inclusive,
104
afetivo que houve entre mim e a paciente foi relativamente fraco. Encaminhei-
a, após estas sessões, para tratamento fonoaudiológico.
L in h a d e Bas e In te rve n ç ão
1ª Fas e 2ª F as e 3ª F as e
3
Enganjamento
2 afetivo:
1 ‐ Frac o;
2 ‐ Médio;
3 ‐ Forte
1
S es s ões 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
E ngajamento afetivo
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instigação, quando se cantava piu-piu e atirei o pau no gato por mais de uma
vez. Na segunda fase, apareceu espontaneamente em duas sessões, nas mesmas
situações que havia aparecido na fase anterior, além dos jogos interativos de
contar de 1 a 10 ou de se cantar o “alfabeto da Xuxa” para a paciente. Na
terceira fase, apareceu em 9 sessões, espontaneamente. Houve também ao
longo de toda a intervenção um aumento na frequência e na duração deste
comportamento (ver figura 2, abaixo e figura 5, pág. 116).
1ª Fas e 2ª F as e 3ª Fas e
Pres ente 3
es pontaneamente
Pres ente s ob
2
Induç ão
A us ente
1
S es s ões 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
L in h a d e Bas e In te rve n ç ão
C ate g o r ias
Qu an titativas 1ª Fas e 2ª Fas e 3ª Fas e
3
Pres ente
Es pontaneamente
Pres ente s ob 2
Induç ão
A us ente 1
S es s ões 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
Pres ente s ob
Induç ão
2
A us ente 1
S es s ões 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
E ngajamento afetivo
O lhar para a fac e
O lhar para um objeto s egurado por uma outra pes s oa
C ontato oc ular
S orris o res pons ivo
L in h a d e Bas e In te r ve n ç ão
C ate g o r ias
Qu an titativas 1ª Fas e 3ª Fas e
2ª Fas e
3
Pres ente
Es pontaneamente
Enganjamento
Pres ente s ob 2 afetivo:
Induç ão 1 ‐ Frac o;
2 ‐ Médio;
3 ‐ Forte
A us ente 1
S es Ss ões
es s 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
E ngajamento afetivo
V oc aliz aç ões não‐referenc iadas
V oc aliz aç ões melódic as
Enganjamento
Pres ente s ob 2 afetiv o:
Induç ão 1 ‐ F rac o;
2 ‐ Médio;
3 ‐ F orte
A us ente
1
S es s ões 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
Engajamento afetiv o
R ec iproc idade
A ntec ipaç ão
A lternânc ia de turno
C ontingênc ia
C ate g o r ias L in h a d e B as e In te r v e n ç ão
2ª F as e 3ª F as e
Qu an titativ as 1ª F as e
Pres ente 3
Es pontaneamente
A us ente 1
S es s ões 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
Eng ajamento afetiv o
Timing
S eg uir o apontar
Proto‐dec larativ o
Proto‐imperativ o
Imitaç ão
F ala referenc iada
5.3
Discussão