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Procedimento Descrição
Compilação de dados
para síntese sobre a
Estudo e utilização do situação presente e
Objetivo Assistência técnica comportamento total história do indivíduo
Corrente
Psicológica Contribuição
Fases Descrição
Aspecto Descrição
CONCORDÂNCIAS E DIVERGÊNCIAS
- ENTREVISTA: Parte do princípio de que cada indivíduo possui uma história de vida
organizada, na qual detalhes explícitos podem não ser conhecidos, sendo necessário
deduzi-los.
- ANAMNESE: Baseia-se na suposição de que o paciente conhece sua própria vida e está
apto a fornecer dados detalhados sobre ela.
- COMPORTAMENTO NÃO VERBAL: A entrevista considera que informações não explicitadas
podem emergir por meio do comportamento não-verbal do entrevistado, podendo
contradizer ou coincidir com expressões verbais conscientes.
Em diferentes sessões de entrevista, um indivíduo pode apresentar histórias ou esquemas
de vida atuais distintos, que podem complementar ou contradizer uns aos outros.
Certas lacunas, dissociações e contradições observadas na entrevista levam alguns
pesquisadores a questionar a confiabilidade desse método.
Dissociações e contradições refletem conflitos intrínsecos à personalidade do entrevistado,
proporcionando material valioso para análise clínica.
Conflitos apresentados pelo entrevistado podem não ser os fundamentais, e as motivações
declaradas frequentemente são consideradas como racionalizações.
Na entrevista, a simulação é encarada como uma parte dissociada da personalidade, não
plenamente reconhecida pelo próprio entrevistado.
Alguns entrevistados mantêm rigidamente uma história estereotipada e um esquema de
vida como meio de defesa contra a penetração do entrevistador.
Em entrevistas grupais (família, escola, fábrica), as divergências e contradições entre os
membros são mais evidentes, fornecendo insights valiosos sobre a dinâmica psicológica
individual em uma realidade compartilhada.
A técnica de entrevista está intrinsecamente entrelaçada com a teoria da personalidade,
sendo o grau de interação entre ambas determinante para a eficácia do entrevistador como
pesquisador.
A entrevista não se limita a "aplicar" instruções; ao contrário, envolve a investigação ativa
da personalidade do entrevistado, utilizando teorias e instrumentos de trabalho de maneira
integrada.
O OBSERVADOR PARTICIPANTE
A abordagem tradicional nas ciências naturais preconiza que a observação científica deve
ser objetiva, caracterizando-se pelo registro imparcial dos fenômenos externos, excluindo
as impressões subjetivas do observador. Esse modelo visa à verificabilidade por terceiros,
permitindo a reconstrução das condições da observação.
Contrapondo essa visão, o autor destaca que, na entrevista psicológica, o entrevistador não
é um observador passivo. Pelo contrário, ele se torna uma parte ativa do campo,
influenciando os fenômenos que ele mesmo registra. Isso levanta questionamentos sobre a
validade dos dados obtidos, uma vez que o observador condiciona o que observa.
O autor argumenta que a máxima objetividade é alcançada quando o sujeito observador é
incorporado como uma variável do campo em estudo. A crítica à observação em condições
naturais é rebatida, defendendo que a entrevista, ao ser uma situação "natural" para
estudar o fenômeno psicológico, não distorce as condições naturais, mas as representa.
Destaca-se que toda conduta humana ocorre em um contexto de vínculos e relações
humanas. A entrevista, portanto, não representa uma distorção das condições naturais;
pelo contrário, é considerada a situação "natural" na qual o fenômeno psicológico de
interesse se desenrola.
Embora cada situação humana seja única e original, o autor ressalta que isso não impede a
identificação de constantes gerais. Estas representam condições que se repetem com mais
frequência, permitindo a abstração e a criação de categorias de análise.
O autor rebate objeções à validade da entrevista como instrumento científico,
argumentando que as qualidades de qualquer objeto, inclusive na psicologia, são sempre
relacionais. As características derivam das condições e relações específicas em que o objeto
se encontra.
Critica-se o narcisismo subjacente ao campo científico da psicologia, onde cada indivíduo é
percebido como único. A entrevista é apresentada como uma oportunidade de confrontar
esse narcisismo, tanto por parte do entrevistado quanto do entrevistador, sendo um meio
para estabelecer abstrações e categorias de análise na pesquisa psicológica.
ENTREVISTA E INVESTIGAÇÃO
Crítica à visão equivocada que separa a investigação como uma tarefa elitista, distante dos
fatos cotidianos. Enfatiza que a entrevista não é apenas uma técnica diagnóstica, mas um
campo de trabalho para investigar a conduta e personalidade humanas.
Destaca que a entrevista é, essencialmente, um ambiente onde a investigação é conduzida.
Argumenta que a eficácia da entrevista requer a integração entre prática profissional e
pesquisa, desmistificando a ideia de uma separação entre ambas.
Enfatiza a importância de unir pesquisa e prática. Sugere que a verdadeira significância do
trabalho profissional é alcançada quando o profissional atua simultaneamente como
pesquisador, integrando teoria e prática.
Aborda a interconexão entre a formulação de hipóteses e a observação durante a
entrevista. Destaca que observar corretamente envolve formular hipóteses durante o
processo, ajustando-as com base nas observações contínuas.
Explica que observar, pensar e imaginar são elementos inseparáveis durante a entrevista.
Ressalta a importância da imaginação na investigação, enfatizando que a verdadeira
pesquisa demanda a integração desses processos dialéticos.
Destaca a necessidade de integrar indagação (investigação) e atuação (tarefa profissional),
considerando-os partes intrínsecas de um único processo. Reflete sobre a humanização da
prática ao compreender e ajudar outros seres humanos.
Recomenda a realização de pelo menos uma entrevista bem feita, mesmo em situações de
falta de tempo. Aborda como essa prática revela a utilidade de não ter tempo e a facilidade
de racionalizar e negar dificuldades.
O GRUPO NA ENTREVISTA
O autor descreve a dinâmica da entrevista, enfatizando que o entrevistador e entrevistado
formam uma unidade inter-relacionada, distinguindo-se de outros grupos. O entrevistado
desempenha um papel específico, introduzindo uma dinâmica única.
Destaca-se a interdependência entre entrevistador e entrevistado, mediada pela
comunicação. O processo envolve estímulos mútuos, sendo a palavra fundamental, mas
também reconhecendo a importância de elementos pré-verbais na comunicação.
A ênfase recai sobre a relevância da comunicação na revelação da personalidade do
entrevistado, particularmente nas relações interpessoais. O modo como alguém se
comunica fornece insights valiosos sobre seu relacionamento com os outros.
O autor destaca a importância da observação na entrevista, enfocando como o
entrevistador percebe como o entrevistado influencia, muitas vezes sem perceber, os
resultados da entrevista. São ressaltados momentos de mudança na comunicação e
obstáculos.
Menciona-se a contribuição de Ruesch, que propôs uma classificação da personalidade com
base nos sistemas predominantes de comunicação de cada indivíduo. Isso adiciona uma
camada de compreensão à análise da entrevista.
O autor ressalta que a comunicação não é apenas um elemento observado, mas é
fundamental em toda a relação interpessoal. Além disso, destaca que o entrevistador pode
influenciar essa comunicação para direcionar a entrevista.
TRANSFERÊNCIA E CONTRATRANSFERÊNCIA
Ao adentrar a dinâmica da entrevista, destacam-se dois fenômenos intrínsecos e cruciais: a
transferência e a contratransferência. A transferência refere-se à atualização, no contexto da
entrevista, de emoções, atitudes e comportamentos inconscientes por parte do
entrevistado, remanescentes de modelos estabelecidos durante seu desenvolvimento,
especialmente em suas interações familiares.
Este fenômeno da transferência revela-se fundamental, desdobrando-se em duas vertentes:
a transferência negativa e a positiva. Ambas coexistem, oscilando em predomínio relativo,
estabilidade ou alternância, e integram a esfera irracional e inconsciente da conduta do
entrevistado. Esses elementos, não totalmente controlados pelo paciente, surgem como
aspectos adicionais, acrescentando uma dimensão crucial ao entendimento da estrutura de
sua personalidade e dos conflitos que a permeiam.
Na transferência, o entrevistado projeta papéis no entrevistador, moldando sua conduta
com base nesses cenários previamente estabelecidos. Essa transposição de situações e
modelos para a realidade presente configura a entrevista como um terreno onde o já
conhecido se torna repetitivo.
Durante esse processo, o entrevistado, muitas vezes inconscientemente, oferece aspectos
imaturos e irracionais de sua personalidade. Questões de dependência, onipotência e
pensamento mágico emergem, proporcionando ao entrevistador insights valiosos sobre as
expectativas do entrevistado em relação a ele, suas fantasias de ajuda e até mesmo
aspirações neuróticas de cura.
É importante salientar que a análise cuidadosa da transferência não apenas revela aspectos
fundamentais da personalidade do entrevistado, mas também oferece ao entrevistador uma
ferramenta para compreender e gerenciar as dinâmicas da entrevista. A capacidade de
interpretar essas projeções emocionais e utilizar esse conhecimento de forma terapêutica é
o que distingue um entrevistador experiente na exploração da complexidade humana.
Na contratransferência, englobam-se todos os fenômenos que surgem no entrevistador
como emergentes do campo psicológico configurado durante a entrevista. Esses fenômenos
representam as respostas do entrevistador às manifestações do entrevistado, refletindo o
impacto que estas têm sobre ele. Embora fortemente influenciados pela história pessoal do
entrevistador, sua manifestação em um determinado momento da entrevista decorre de
fatores específicos presentes nesse momento.
Por muito tempo, esses fenômenos foram considerados perturbadores da entrevista,
contudo, à medida que se reconheceu sua inevitabilidade, passaram a ser vistos como
elementos essenciais a serem registrados pelo entrevistador, configurando não apenas uma
observação externa, mas também uma auto-observação. A contratransferência não se limita
a uma percepção estrita; é um indício de grande significado, tornando-se uma ferramenta
valiosa para orientar o entrevistador em sua análise.
É essencial compreender que tanto a transferência quanto a contratransferência são
fenômenos inerentes a todas as relações interpessoais, sendo, portanto, também presentes
na entrevista. A distinção crucial é que, na entrevista, esses fenômenos devem ser utilizados
como instrumentos técnicos para observação e compreensão. A interação entre
transferência e contratransferência pode ser estudada como uma atribuição de papéis pelo
entrevistado e a percepção desses papéis pelo entrevistador.
Por exemplo, se a atitude do entrevistado irrita e causa rejeição no entrevistador, este deve
analisar e observar sua reação como resultado do comportamento do entrevistado. Isso visa
ajudar o entrevistado a corrigir uma conduta da qual ele mesmo se queixa, como a falta de
amizades ou o sentimento de não ser apreciado. A incapacidade do entrevistador em
objetivar e estudar sua reação, ou sua resposta com irritação e rejeição, indicaria uma
perturbação na manipulação da contratransferência, sugerindo dificuldades na condução
eficaz da entrevista.
ANSIEDADE NA ENTREVISTA
A ansiedade desempenha um papel crucial no desenvolvimento da entrevista, sendo
essencial que o entrevistador a observe atentamente, tanto em si mesmo quanto no
entrevistado. O entrevistador deve não apenas identificar o surgimento da ansiedade, mas
também avaliar seu grau, pois, embora a ansiedade seja um impulsionador nas relações
interpessoais, seu excesso pode desestabilizar a interação. Portanto, é fundamental detectar
permanentemente o limite de tolerância à ansiedade.
A ansiedade surge quando entrevistador e entrevistado se deparam com situações
desconhecidas, ainda não estabilizadas em termos de reações apropriadas. Essa
desorganização é a ansiedade, e o entrevistado busca ajuda quando se sente ansioso ou
perturbado por mecanismos de defesa diante dela. Durante a entrevista, tanto a ansiedade
quanto os mecanismos de defesa do entrevistado podem aumentar, pois enfrentam não
apenas uma situação externa nova, mas também o desconhecido em sua própria
personalidade. Se esses fatores não estão presentes, é responsabilidade do entrevistador
motivar o entrevistado a expressar sua ansiedade durante a entrevista.
A ansiedade pode ser delegada ou projetada em outra pessoa que solicita a entrevista e
manifesta interesse em sua realização. No caso do entrevistador, sua ansiedade é um fator
desafiador devido ao seu papel de motor do interesse na investigação e no desconhecido.
Manipular a ansiedade do entrevistador é complexo, pois é essencial para a eficácia da
investigação, exigindo que o pesquisador a tolere e a instrumentalize.
Ao lidar com a ansiedade do entrevistado, não se deve reprimir ou dissimulá-la através de
apoio direto ou aconselhamento. A abordagem correta envolve compreender os fatores que
desencadeiam a ansiedade e agir de acordo com essa compreensão. Se os mecanismos de
defesa predominam, o entrevistador deve desarmá-los para permitir a expressão de certa
ansiedade, indicando a possibilidade de enfrentar conflitos subjacentes. A manipulação
técnica da ansiedade deve considerar a personalidade do entrevistado e o benefício
potencial da mobilização da ansiedade, evitando ser excessivamente ativo e oprimindo o
entrevistado com conflitos intoleráveis. A consideração do "timing" da entrevista, ou seja, o
momento adequado para o entrevistado enfrentar e resolver seus conflitos, é um aspecto
desafiador que depende do grau e tipo de organização de sua personalidade.
O ENTREVISTADOR
O autor destaca que o entrevistador utiliza sua própria personalidade como instrumento de
trabalho, ressaltando que este inevitavelmente se envolve na relação interpessoal. Ao
estudar outros seres humanos, o entrevistador é confrontado com a necessidade de
examinar sua própria vida, personalidade, conflitos e frustrações.
Ele menciona a complexidade da vida e da vocação de profissionais como psicólogos,
médicos e psiquiatras, que lidam diariamente com o submundo da doença, conflitos,
destruição e morte. A simulação e dissociação são apresentadas como ferramentas
necessárias para o exercício dessas profissões, permitindo que os técnicos ajam como se
estivessem lidando com não-humanos.
O autor comenta sobre o treinamento médico, destacando a tendência inconsciente e
defensiva de tratar a aprendizagem pelo contato com o cadáver. Ressalta que, ao lidar com
seres humanos considerados como tal, surge a necessidade de superar bloqueios e defesas.
Aborda a demora da psicologia em se desenvolver e infiltrar-se na medicina e psiquiatria,
atribuindo isso aos processos defensivos. Destaca que, na psiquiatria e na psicologia, o
contato direto com seres humanos coloca os técnicos diante de sua própria vida, saúde,
doença, conflitos e frustrações.
Destaca a importância da dissociação para o entrevistador, que deve agir com identificação
projetiva com o entrevistado, ao mesmo tempo em que permanece fora dessa identificação,
observando e controlando o que ocorre. O autor sugere a necessidade de estudos sobre
psicologia, psicopatologia, formação profissional e equilíbrio mental.
Explora a natureza dinâmica da dissociação, indicando que projeção e introjeção devem
atuar continuamente. Enfatiza a necessidade de uma dissociação plástica para manter-se
nos limites de uma atitude profissional.
Aborda a oscilação entre ansiedade e bloqueio durante a entrevista. Destaca que a
passagem do normal ao patológico ocorre de modo imperceptível e alerta para os riscos de
condutas fóbicas ou obsessivas caso a dissociação seja inadequada.
Discute a aflição do médico, que pode resultar em uma fuga fóbica aos doentes, e a defesa
obsessiva, que leva a entrevistas estereotipadas. O bloqueio é mencionado como o
elemento por trás dessas condutas repetitivas.
Explora a alienação do psicólogo e do psiquiatra quando incapazes de lidar com seus
próprios conflitos. Destaca o perigo da projeção dos conflitos do terapeuta sobre o
entrevistado e a necessidade de evitar condutas rígidas e projetivas.
Apresenta um exemplo ilustrativo de um médico em treinamento que projetou seus
próprios medos em um diagnóstico. Destaca a importância de observar e resolver reações
contratransferenciais para utilizá-las como informação durante a entrevista.
Aborda a necessidade de o entrevistador desempenhar papéis fomentados pelo
entrevistado, mas sem assumi-los totalmente. Destaca que a intensidade da projeção do
entrevistador pode levar a reações fóbicas no próprio campo de trabalho.
Explora diferentes tipos de reações contratransferenciais provocadas por entrevistados e
destaca a importância de observá-las e resolvê-las continuamente. Sugere que, ao assumir
papéis, pode ocorrer a ruptura do enquadramento da entrevista.
Destaca indícios contratransferenciais, como fastio, cansaço, sono, irritação, bloqueio,
compaixão, carinho, rejeição, sedução, etc., que o entrevistador deve perceber e resolver
durante a entrevista.
Discute o risco de psiquiatras inexperientes recorrerem a receitas medicamentosas para
evitar lidar com os dados da entrevista. Compara isso ao que os psicólogos fazem
frequentemente com os testes, enfatizando a importância de não trabalhar isoladamente.
Destaca a necessidade de psiquiatras e psicólogos não trabalharem isoladamente,
incentivando a formação de grupos de estudo e discussão para evitar estereotipias e
enfrentar as dificuldades profissionais. O isolamento é apontado como um fator que
encobre as dificuldades com a onipotência.
O ENTREVISTADO
O autor destaca que explorar os aspectos de uma entrevista é desafiador dada a extensa
gama de tópicos nas áreas de psicologia, psiquiatria e psicopatologia. Ele opta por focar em
situações específicas na psicologia clínica, onde as preocupações, percepções de mudanças
ou ansiedades pessoais levam as pessoas a buscar entrevistas. O autor ressalta que, em
certos casos, as ansiedades intensas podem levar os entrevistados a negar e resistir
ativamente durante a entrevista, assegurando que nenhum problema anormal seja
percebido pelo profissional.
O autor apresenta a definição ampla de "doente" como qualquer pessoa que busca uma
consulta. No entanto, ele ressalta que essa definição pode carecer de validade real. Mesmo
assim, ele destaca que o entrevistador deve aceitar esse critério como um estímulo para
investigar minuciosamente o que está subjacente às resistências, negações ou ocultações do
entrevistado. Essa abordagem sugere que, embora o rótulo de "doente" possa ser amplo, é
um ponto de partida que motiva a exploração mais profunda das preocupações e problemas
do indivíduo durante a entrevista.
FUNCIONAMENTO DA ENTREVISTA
O funcionamento da entrevista é fundamentalmente configurado pelas variáveis da
personalidade do entrevistado, conforme destaca o autor. Isso implica que o que o
entrevistador oferece deve ser suficientemente ambíguo para permitir um engajamento
mais profundo da personalidade do entrevistado. No entanto, há uma área delimitada em
que a ambiguidade não deve existir, envolvendo os fatores que afetam o contexto da
entrevista: tempo, lugar e papel técnico do profissional.
O tempo refere-se a um horário e a um limite na extensão da entrevista, enquanto o espaço
abrange o ambiente no qual a entrevista ocorre. O papel técnico exige que o entrevistador
não se apresente como um amigo em um encontro casual, evitando compartilhar suas
próprias experiências de vida ou entrar em relações comerciais ou de amizade. O único
benefício pretendido deve ser o recebimento de honorários e o interesse científico ou
profissional.
A entrevista não deve ser usada como uma gratificação narcisista para demonstrar
onipotência. A curiosidade do entrevistador deve ser limitada ao necessário para o benefício
do entrevistado. Reações contratransferenciais, como rejeição, rivalidade ou inveja, não
devem ser respondidas ou abordadas, mas sim consideradas como dados da entrevista.
O autor destaca a importância de reconhecer e distinguir diferentes tipos de silêncio
durante a entrevista, trabalhando com base nesse conhecimento. Além disso, enfatiza que a
"descarga" emocional intensa e a catarse não são ideais, pois podem resultar em uma
relação persecutória.
O fim da entrevista deve ser respeitado, e a reação à separação é um dado importante.
Avaliações sobre o estado do entrevistado ao partir e a contratransferência do entrevistador
são cruciais. O autor sugere que, mesmo em instituições com restrições de tempo, seja
reservado um período para realizar pelo menos uma entrevista diária em condições ideais,
evitando estereotipias e racionalizações de evitação fóbica. Além disso, destaca a
importância do trabalho em grupo, enfatizando que psicólogos e psiquiatras não devem
trabalhar isolados para evitar alienação no trabalho.
A INTERPRETAÇÃO
O autor aborda a questão crucial de saber se a interpretação deve ser empregada em
entrevistas com propósitos diagnósticos. Existem diversas posições sobre isso, e uma delas,
exemplificada por Rogers, sugere não apenas evitar interpretações, mas também limitar
perguntas, encorajando o entrevistado a continuar por meio de técnicas como repetir a
última palavra dita ou estimular com gestos ou olhares.
A entrevista, sendo uma experiência vital significativa para o entrevistado, desempenha um
papel normativo ou de aprendizagem. Mesmo em entrevistas diagnósticas, o autor
argumenta que ela é, em parte, terapêutica. O primeiro fator terapêutico destacado é a
compreensão do entrevistador, que deve comunicar elementos dessa compreensão ao
entrevistado. O autor defende a interpretação, especialmente quando a comunicação está
prestes a ser interrompida ou distorcida. Além disso, a intervenção interpretativa é
necessária para relacionar o que o próprio entrevistado expressou.
A interpretação deve ser orientada pelo nível de ansiedade que está sendo resolvido e
criado durante a entrevista. A principal diretriz para a interpretação é sempre o benefício do
entrevistado, evitando que o entrevistador descarregue suas próprias ansiedades. O autor
ressalta que as interpretações são hipóteses que devem ser verificadas no campo de
trabalho pela resposta que mobilizam.
Ele aconselha que o iniciante na entrevista se concentre inicialmente na compreensão do
entrevistado antes de se aventurar na interpretação. O objetivo ideal de uma entrevista é
operativo, buscando compreender e esclarecer um problema ou situação trazida pelo
entrevistado como o motivo central. O autor alerta para a necessidade de evitar
interpretações fora de contexto e de timing, destacando que, em alguns casos, o silêncio é
mais apropriado do que interpretar. Ele enfatiza que a formação do psicólogo inclui
aprender a discernir quando é necessário ficar em silêncio, especialmente quando há uma
compulsão excessiva para interpretar.
INFORME PSICOLÓGICO
O informe psicológico desempenha o papel crucial de condensar e resumir conclusões
relacionadas ao objeto de estudo, com foco neste contexto no estudo da personalidade.
Este tipo de informe pode ser aplicado em diversos campos da atividade psicológica, e sua
elaboração deve ser orientada pelos objetivos específicos do estudo em questão.
O autor esclarece que, no campo da medicina, um estudo abrangente pode envolver três
diagnósticos distintos: médico, psiquiátrico e psicológico. Por exemplo, um paciente pode
apresentar um surto esquizofrênico (diagnóstico psiquiátrico), associado a insuficiência
cardíaca (diagnóstico médico) e uma personalidade obsessiva (diagnóstico psicológico). Esse
exemplo ilustra a diferenciação entre os três tipos de informes, que nem sempre ocorrem
simultaneamente.
A ordem de redação do informe não necessariamente reflete a ordem de coleta de dados ou
de deduções. O autor sugere uma estrutura organizada, abordando os seguintes pontos:
Dados pessoais: informações como nome, idade, sexo, estado civil, nacionalidade, domicílio
e profissão.
Procedimentos utilizados: detalhes sobre entrevistas, testes, jogos de desempenho de
papéis, registros objetivos, questionários, entre outros.
Motivo do estudo: quem solicitou o estudo e quais são os objetivos. Considerações sobre a
atitude do entrevistado e suas motivações conscientes.
Descrição do grupo familiar: informações sobre a família, incluindo status socioeconômico,
constituição, dinâmica, saúde dos membros, e como a família se relaciona com a
comunidade.
Problemática vital: um relato sucinto da vida do entrevistado, conflitos atuais,
desenvolvimento, perdas, mudanças, temores, aspirações e como ele enfrenta essas
situações.
Padrões de conduta: descrição dos padrões predominantes e acessórios, além de mudanças
observadas.
Traços de caráter e de personalidade: avaliação dos traços, incluindo dinâmica psicológica,
ansiedade, defesas, organização patográfica, maturidade da personalidade, entre outros.
Resultados detalhados: em informes mais rigorosos, incluir os resultados de cada teste e
exame complementar realizado.
Conclusão: diagnóstico e caracterização psicológica do indivíduo e seu grupo, respondendo
aos objetivos específicos do estudo.
Possibilidade prognóstica: fornecer uma perspectiva psicológica para o futuro,
fundamentando-se nos elementos abordados.
Orientação possível: indicar se são necessários novos exames e qual seria a forma possível
de remediar, aliviar ou orientar o entrevistado, de acordo com os objetivos do estudo ou as
necessidades da instituição solicitante.
Esse guia, ressalta o autor, não é um formulário preenchível, mas sim uma estrutura flexível
que deve ser adaptada conforme os objetivos e contexto de cada estudo.