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CONSELHO DE CLASSE: AVALIAÇÃO COLETIVA DO TRABALHO OU

JULGAMENTO SUBJETIVO DO ALUNO?

ÁURIA APARECIDA LORA1


MARIA LIDIA SICA SZYMANSKI2

RESUMO: O Conselho de Classe tem sido um espaço em que os docentes opinam


sobre suas impressões sobre o aluno, constituindo-se em um instrumento de julgamento
subjetivo, o qual, na maioria das vezes, deixa de contribuir para que a melhoria do
processo de ensino e aprendizagem. Entretanto, deveria ser um espaço de reflexão e
discussão da prática pedagógica e de avaliação coletiva, possibilitando reorganizar o
ensino quando necessário e até mesmo enriquecendo a proposta pedagógica da escola.
Esse descompasso gera a necessidade da busca de mecanismos que subsidiem sua
organização e a implementação de ações pedagógicas que tornem o Conselho de Classe
prático e produtivo. Pensar o Conselho de Classe significa pensar pela via da gestão
democrática e, portanto, pela possibilidade de decidir coletivamente, concebê-lo como
uma instância colegiada e de avaliação permanente do aluno e da prática pedagógica.
Nesse sentido o Conselho de Classe deve ser visto como um instrumento de
possibilidades transformadoras da escola, como espaço de geração de idéias e como um
espaço educativo, capaz de superar as relações fragmentadas e autoritárias da escola.
Trata-se de um dos únicos espaços existentes na escola, que permite a discussão e a
análise coletiva do processo ensino-aprendizagem. A análise histórica do sistema de
avaliação escolar revela que o sistema de notas não é inerente à prática educativa, e a
pedagogia da avaliação criou mais problemas para a educação do que resolveu, pois a
avaliação escolar converteu-se, num instrumento que contribui para a perversão das
relações pedagógicas. O Conselho de Classe deve ser pensado como um instrumento de
transformação da cultura escolar sobre avaliação e, conseqüentemente, da prática da
avaliação em sala de aula. Pois ele é o espaço de uma avaliação diagnóstica
possibilitando a construção conjunta do processo ensino e aprendizagem, e deve refletir
a ação e a realização da proposta pedagógica da escola.

PALAVRAS-CHAVE: Conselho de Classe. Avaliação. Ensino-aprendizagem.

1
Pedagoga graduada pela UEM/Universidade Estadual de Maringá, com Especialização em
Psicopedagogia pela UNIVEL/Cascavel. Professora Pedagoga PDE da Rede Pública, NRE –
Cascavel/Paraná. E-mail: aurialora@seed.pr.gov.br
2
Psicóloga e Pedagoga, Mestre e Doutora em Psicologia pela USP - Universidade de São Paulo, e Pós-
Drª em Psicologia, Desenvolvimento Humano e Educação-UNICAMP/SP. Professora Associada da
UNIOESTE/Universidade Estadual do Oeste do Paraná. E-mail: szymanski_@hotmail.com
INTRODUÇÃO

O Conselho de Classe tem sido um instrumento de julgamento subjetivo do


aluno, espaço em que se faz uma confirmação de impressões sobre os resultados obtidos
por ele, deixando de lado outras questões pertinentes ao processo de ensino e
aprendizagem. Entretanto, deveria ser um espaço de reflexão e discussão das práticas
educacionais e de avaliação coletiva, possibilitando mudanças em tais práticas, baseadas
na proposta pedagógica da escola. Esse descompasso gera a necessidade da busca de
mecanismos que subsidiem sua organização e a implementação de ações pedagógicas
que venham tornar o Conselho de Classe prático e produtivo.
Sabe-se que este é um tema bastante comentado, visto que teoricamente deveria
estar intrínseco ao sistema de avaliação, portanto articulado a esse sistema na sua
totalidade, orientando as mudanças na prática educativa.
Porém, no âmbito dos estabelecimentos de ensino, de modo geral, há um
considerável descontentamento com esta instância formalmente constituída na
organização escolar, pois os profissionais da educação continuam fazendo uso deste
espaço meramente para a apresentação de notas de alunos.
Talvez muitos destes profissionais já possuam referencial teórico quanto à nova
concepção de Conselho de Classe e qual seu objetivo. Mas a idéia anterior está tão
arraigada que é necessário um longo processo de ação-reflexão-ação, a subsidiar
atitudes que promovam a adesão a essa nova concepção e suas possibilidades de
concretização na escola.
É preciso buscar uma nova relação entre a proposta e a concretização do
Conselho de Classe, que se encontra entre as práticas escolares que camuflam muito
bem os mecanismos de controle e exclusão social e de poder vigentes na sociedade. Na
verdade, este órgão trouxe em suas origens todas as contradições que fizeram parte do
momento histórico de implantação da Lei 5.692/71.
O trabalho escolar tem se mostrado bastante complexo quando se deseja atuar
numa perspectiva de transformação, mas apesar das dificuldades não se pode ser
coerente com o modelo socioeconômico neoliberal desejado pelos governantes e classes
dominantes do país. A análise crítica da própria prática e a busca de novos caminhos
pode favorecer a criação das condições para transformá-la.
Os profissionais da Educação precisam conscientizar-se de que fazem política o
tempo todo no próprio ambiente de trabalho e que podem aproveitar o Conselho de
Classe para desconstruir e redimensionar os equívocos quanto às práticas escolares
tradicionais, construindo novas práticas e processos democráticos de participação.
Não há pretensão de resolução dos problemas relativos ao tema proposto, nesta
comunicação, nem da realização de uma abordagem definitiva, visto que a Educação é
um processo em transformação. Entretanto, a partir de pressupostos fundamentados em
reflexões teóricas sobre as práticas cotidianas da escola, busca-se analisar o Conselho de
Classe como o produto de uma práxis que envolva ação e reflexão, sendo o professor
um protagonista desta produção, elaborada a partir de uma necessidade sentida pela sua
prática. Dessa forma, pretende-se contribuir para a redução da distância entre a teoria e
a prática, tendo como eixo principal a construção de um projeto que visa utilizar esta
instância colegiada como espaço de avaliação coletiva do trabalho escolar e de
articulação de mudanças, dentro de um processo de gestão democrática.

CONSELHO DE CLASSE: PERSPECTIVA HISTÓRICA

A análise histórica do sistema de avaliação escolar revela que o sistema de notas


não é inerente à prática educativa, e a pedagogia da avaliação criou mais problemas para
a educação do que resolveu, pois a avaliação escolar converteu-se, num instrumento que
contribui para a perversão das relações pedagógicas.
De fato, Esteban (2003, p.52-57) ao retomar a história da Pedagogia, afirma que
a prática da avaliação escolar com o caráter atual de notas, surgiu no século XIX com o
nome de “exame”. A partir da segunda metade do século XX, passou a chamar-se teste
por parecer mais científico. E, posteriormente, denominou-se avaliação, pela suposta
conotação acadêmica que este termo possuiria. Portanto, o conceito avaliação na
realidade é uma substituição do termo controle, na medida em que suas raízes referem-
se à situação de exame.
Conforme a autora, em decorrência de padrões histórico-sociais que se tornaram
crônicos em nossas práticas pedagógicas, a avaliação escolar assumiu a prática de
“provas e exames”, o que gerou um desvio no uso da avaliação. Em vez de ser usada
para a construção de resultados satisfatórios, tornou-se um meio de classificar e decidir
sobre a vida escolar do aluno.
Em conseqüência disso, tem um significado de poder e não assume o papel de
subsidiar a construção da aprendizagem.
A partir de uma política educativa neoliberal no século XX, o Conselho de
Classe legalizou a restrição à educação, como forma de exclusão cultural e, por
conseguinte social, incutindo nas pessoas que a avaliação é um elemento inerente a toda
ação educativa e não um elemento de controle individual e social (ESTEBAN, 2003).
Historicamente, o Conselho de Classe surgiu na França, por volta de 1945, pela
necessidade de um trabalho interdisciplinar com classes experimentais. Porém, só em
1958 esse conceito chegou ao Brasil, ainda que já em 1932, com o Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova, houvesse indícios de um ideário pedagógico brasileiro.
Entretanto, sua expansão formal começou a partir da Lei 5.692/71, pautada pela
influência tecnicista no sistema escolar, como decorrência da exacerbação do
capitalismo na economia e do autoritarismo no sistema político vigente com caráter
dissimulador, desenvolvendo inúmeras contradições nas práticas educativas.
Portanto, o Conselho de Classe trouxe em suas origens todas as contradições
que fizeram parte do momento histórico de implantação da própria lei. Nela, vêem-se
complexas contradições quanto à dicotomia teoria x prática. Como afirma Dalben(1995,
p.35)

o Conselho de Classe teria o papel de recompor a estrutura fragmentária da


escola, baseada na divisão técnica do trabalho, articular de forma harmônica
as diversas partes do todo e garantir a dimensão avaliativa do processo
educacional como um todo.

Anteriormente à Lei 5.692/71, o Conselho de Classe não se apresentava como


instância formalmente instituída na escola, mas o Programa de Expansão e Melhoria do
Ensino Médio - PREMEN (1970) já o apresentava como tal. Somente a partir desta lei,
foram traçadas as diretrizes de sua operacionalização.

CONSELHO DE CLASSE: ESPAÇO DE ANÁLISE DO PROCESSO


EDUCATIVO

O presente estudo tem a intenção de refletir sobre o Conselho de Classe,


propondo alternativas que possam contribuir efetivamente para a redução da distância
entre a teoria e a prática. Parte-se da sua concepção e do seu significado para a prática
educativa, enquanto consciência crítica das ações pedagógicas do coletivo escolar e não
como mera exigência burocrática.
Ao refletir sobre o Conselho de Classe diante de uma perspectiva crítica de
educação, faz-se necessário abordá-lo como uma prática pedagógica dentro do processo
de gestão democrática. É importante assinalar que não há como analisar essa instância
separada dos processos de avaliação escolar, sabendo-se que tais processos são os seus
objetos de estudo.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN 9.934/96, aprovada
em 20/12/96, em seu Art. 3º, Inciso III descreve que o ensino será ministrado com base
no princípio da gestão democrática.
Assim, a gestão democrática na escola pública valoriza a participação de seus
segmentos constitutivos, compreendendo que o funcionamento da escola, exige uma
relação ao mesmo tempo objetiva, pela via da definição de ações, e subjetiva, por
envolver as impressões dos professores no processo de tomada de decisões.

Assim como, no Art. 12º, a mesma lei aponta como incumbência dos
estabelecimentos de ensino a elaboração e a execução de seus projetos
pedagógicos, assegurando a participação dos docentes no planejamento
escolar, que deve ser feito de maneira coletiva, articulado com as famílias e
a comunidade (DALBEN, 2004, p.74).

Isto implica no resgate da função social da escola, voltada para um trabalho


coletivo, incluindo todos os seus agentes. Deste modo, pensar o Conselho de Classe
significa pensar pela via da gestão democrática e, portanto, pela possibilidade de decidir
coletivamente, concebê-lo como uma instância colegiada e de avaliação permanente do
aluno e da prática pedagógica. Nesse sentido o Conselho de Classe deve ser visto como
um instrumento de possibilidades transformadoras da escola, como espaço de geração
de idéias e como um espaço educativo, capaz de superar as relações fragmentadas e
autoritárias da escola.
Para Dalben (1995, p.12) o Conselho de Classe é uma instância contraditória,
porque apesar de ser um mecanismo de organização prescritiva e burocrática do
processo de trabalho escolar, também é um dos únicos espaços existentes na escola que
permite a discussão e a análise coletiva do processo ensino-aprendizagem.
A gestão democrática é um princípio consagrado pela constituição vigente e
abrange as dimensões pedagógica, administrativa e financeira. Entretanto, exige uma
ruptura histórica na prática escolar. Implica o repensar da estrutura de poder da escola,
tendo em vista sua socialização.
Hoje, partindo de uma visão progressista de educação, que prega o trabalho
coletivo no interior da escola, nada mais deve ser feito de modo improvisado e
insignificante, porque cada ação está ligada a fins comuns, as ações individuais são
articuladas na ação coletiva. O conhecimento é fruto da reflexão sobre a ação, sobre a
realidade objetiva, conciliando teoria e prática.
A gestão democrática da escola emana da LDBEN 9.394/96 que em seu Art.14º
afirma que:
Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino
público na educação básica de acordo com as suas peculiaridades. Para
conferir essa autonomia à escola, a lei define os seguintes princípios:
I – participação dos profissionais da educação na elaboração do
projeto pedagógico da escola;
II – participação das comunidades em conselhos escolares ou
equivalentes.

Esses, dentre outros indicativos legais, abrem espaço para que os sistemas de
ensino promovam a democratização da escola pública. Para tanto, é preciso garantir
espaços de atuação coletiva para que esse processo de democratização se efetive, pois
numa perspectiva democrática de organização escolar, a participação de todos os
segmentos da comunidade educativa é fundamental, ou seja:

É fundamental que os profissionais passem a organizar-se e solidarizar-se


em práticas comuns coletivas, em conformidade com projetos e objetivos
também comuns, eliminando a tendência corporativa de proteção de
espaços. E, nesse processo, é fundamental que o discente coloque-se como
sujeito ativo, reflexivo e participante das transformações (DALBEN, 1995,
p.175).

Sabe-se que um dos objetivos do processo educativo, portanto, do processo de


avaliação, do qual o Conselho de Classe faz parte, é desenvolver processos que tornem
professores e alunos sujeitos da história e agentes de transformações sociais.
Busca-se uma avaliação que auxilie o aluno num processo de aprendizagem
significativa, não se restringindo a uma avaliação apenas para a promoção. Espera-se
que o aluno aprenda. Portanto, a avaliação é um dos aspectos desse processo e a
promoção é uma decorrência. Se não houver aprendizagem significativa não haverá
transformação cultural, social e política.
O Conselho de Classe deve ser pensado neste mesmo referencial, como um
instrumento de transformação da cultura escolar sobre avaliação e, conseqüentemente,
da prática da avaliação em sala de aula. Assim, ele é o espaço de uma avaliação
diagnóstica da construção conjunta do processo ensino e aprendizagem, deve refletir a
ação e a realização da proposta pedagógica da escola. Não é apenas um espaço
burocrático, mas um espaço de reflexão pedagógica em que o professor e o aluno se
situem conscientemente no processo que juntos desenvolvem.
O Projeto Político Pedagógico da escola fundamenta as ações pedagógicas
necessárias para a melhoria da pratica escolar, e dentre essas ações o Conselho de
Classe, por possibilitar uma avaliação coletiva, é um espaço privilegiado de análise do
trabalho do professor e de todo o processo educativo.

O CONSELHO DE CLASSE E A AVALIAÇÃO ESCOLAR

Na Indicação 001/99, a lei determina que a avaliação não seja apenas um


instrumento classificatório, mas deva acompanhar a construção da aprendizagem,
indicando um processo contínuo e cumulativo, incorporando todos os resultados
obtidos. O que acontece na prática é que “a avaliação que deveria ser um
acompanhamento do processo educacional, acabou tornando-se o objetivo deste
processo, na prática dos alunos e da escola; é o famoso estudar para passar”
(VASCONCELLOS, 2005, p. 32).
Conforme Haydt (2004, p.19-28), quanto à modalidade, a avaliação pode ser
diagnóstica, formativa e somativa. A avaliação diagnóstica consiste em uma sondagem
para verificação dos pré-requisitos para novas aprendizagens e também para detectar
dificuldades específicas, tentando identificar suas causas. Em síntese, é uma avaliação
para conhecer os alunos. Na perspectiva da avaliação formativa, faz-se um controle para
constatar se os objetivos previstos para o processo ensino-aprendizagem foram
alcançados. Também fornecem-se dados para o aperfeiçoamento do processo
pedagógico, objetivando formar e adquirir conhecimentos. A avaliação somativa tem
função classificatória. Objetiva classificar os resultados de aprendizagem alcançados
pelos alunos, de acordo com os níveis de aproveitamento estabelecidos. É usada para
promoção dos alunos. Sua utilidade é mais administrativa do que pedagógica.
Torna-se pertinente uma reflexão maior do que seja uma prática de avaliação
formativa, que supõe um domínio do currículo e dos processos de ensino e
aprendizagem em geral (PERRENOUD, 1999, p.123). Isto significa que a avaliação
formativa só evoluirá juntamente com a diferenciação do ensino, com a qualificação
pedagógica e profissionalização dos professores. Nesta avaliação não há igualdade para
todos, mas uma diferenciação em respeito à individualidade de cada um. Essa
concepção confronta-se com as estruturas do sistema e suas normas de organização que
obrigam a oferecer sempre a mesma coisa a todos, não há regulação individualizada das
aprendizagens e não há pedagogia diferenciada.
Vale ressaltar que “a avaliação é um processo contínuo que visa um diagnóstico
para superar as dificuldades... ” (VASCONCELLOS, 2005 p.123). É nesse sentido, que
a aprendizagem efetua registros permanentes do aproveitamento escolar, indicando a
necessidade de recuperação em tempo hábil. Revela ainda, a possibilidade de aceleração
de estudos para alunos com atraso escolar, possibilitando também os avanços nos cursos
e nas séries e mantendo a obrigatoriedade dos estudos de recuperação.
Com base na legalidade, é que o Conselho de Classe, instância formalmente
constituída na organização escolar, tem o sentido de acompanhamento de todo o
processo de avaliação, analisando e debatendo os componentes da aprendizagem. Como
instrumento democrático, garante o aperfeiçoamento do processo de avaliação, tanto
social como pedagogicamente.
Segundo Dalben (1995, p.112), o Conselho de Classe foi implantado para
cumprir uma função essencialmente avaliativa na perspectiva de conseguir a visão
global do aluno para o atendimento individualizado de suas potencialidades, objetivo
fundamental da Lei 5.692/71. Assim, “o Conselho de Classe teria como papel
fundamental dinamizar o processo de avaliação por intermédio da riqueza das análises
múltiplas de seus participantes, e estruturar os trabalhos pedagógicos segundo essas
análises coletivas, permitindo-se um fazer coletivo” (DALBEN, 1995, p.112). Fica
claro o papel de avaliador do ensino, nessa instância colegiada.
Enfatiza ainda Dalben (1995, p.16) que “o Conselho de Classe é uma das
instâncias formalmente instituídas na escola, responsável pelo processo coletivo da
avaliação da aprendizagem do aluno”. E “... guarda em si a possibilidade de articular os
diversos segmentos da escola... [tendo] por objeto de estudo o processo de ensino, que é
o eixo central em torno do qual se desenvolve o processo do trabalho escolar”
(DALBEN, 1995, p.16).
O Conselho de Classe é um órgão colegiado, dentro da organização da escola,
onde professores e equipe pedagógica devem reunir-se para refletir e avaliar o
desempenho dos alunos, permitindo assim, que se desenvolva o processo educativo de
reflexão e discussão coletiva sobre o fazer de toda a escola (DALBEN, 1995). Assim,
permite um olhar de conjunto e a percepção da dinâmica de construção do projeto
pedagógico. Isto o torna uma instância relevante com um espaço privilegiado na
organização do trabalho escolar, possibilitando transformações na escola, no sentido de
superar suas relações fragmentadas e autoritárias, ou seja, provoca reflexões e gera
novas ações, produzindo práticas transformadoras.
Baseando-se nessas colocações, pode-se supor que a concepção fragmentária da
prática pedagógica seja um dos entraves do funcionamento do órgão enquanto instância
colegiada de construção coletiva. Portanto, tentar articular as diversas percepções sobre
o aluno na tentativa de percebê-lo numa visão de totalidade, é o papel do Conselho de
Classe. Pressupõe-se que através da soma das diversas óticas, as tomadas de decisões
são mais acertadas.
Contudo, o que se observa na prática é que tais articulações não acontecem entre
os elementos participantes dessa instância. Precisa-se repensar novas práticas para o
Conselho de Classe, mas é difícil a mudança, porque exige também mudança de postura
do professor em relação à avaliação propriamente dita, quanto à educação e à sociedade.
É necessária uma tomada de posição: estar a serviço da reprodução ou da transformação
social. Faz-se na verdade, uma opção política no sentido de educar para manter a
ideologia da classe dominante ou buscar tais transformações sociais.
O Conselho de Classe, como instância interdisciplinar, apresenta três
características básicas que o distinguem de outros órgãos colegiados: a participação dos
profissionais que atuam no processo pedagógico da escola, possibilitando um olhar de
conjunto; a centralidade da avaliação escolar como foco de trabalho; e a sua
organização interdisciplinar, que exige uma nova postura do professor diante do seu
objeto de trabalho científico e diante da relação da ciência com o ser humano, visto que
a percepção contextualizada do aluno engloba também a contextualização das
disciplinas ensinadas.
Acrescenta Perrenoud (1999, p.71-72), que a obsessão da eqüidade formal
atrapalha muito a aprendizagem, pois não é possível tratar a todos os alunos como se
tivessem o mesmo ritmo individual de aprendizagem. As diferenças sócio-culturais são
ignoradas, tendo em vista um ensino padronizado, segundo um modelo ideal. Esquece-
se de que a formação do homem se relaciona com seu mundo social. Ainda, a adoção de
novos meios de ensino, novos métodos de aprendizagem, novas tecnologias
modernizam as práticas pedagógicas sem questionar seus fundamentos. Precisa-se de
mudanças mais profundas, que só podem ser pensadas através de um novo sistema de
avaliação (idem, idem).
Ressalta ainda Perrenoud (1999, p.21): “A parcela de avaliação formativa em
toda avaliação contínua, pretende mostrar que não há ruptura total entre avaliação
tradicional e avaliação formativa”. Seria conveniente aproveitar boa parcela do que
existe de avaliação tradicional, sem uma ruptura total, ligando-a à avaliação formativa,
que também já faz parte da pedagogia, para enfim criar uma pedagogia diferenciada,
permeada por uma avaliação coerente. O mecanismo prioritário não é suprimir toda
avaliação somativa ou certificativa, mas criar condições de aprendizagens mais
favoráveis para todos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentro do processo de avaliação escolar desenvolvido pela escola, o Conselho


de Classe quer ser um instrumento eficaz de produção de pequenas transformações
educativas possíveis, visando às grandes transformações sociais. Isto só acontecerá se as
escolas se dispuserem a colaborar, na construção de uma sociedade participativa e
democrática, justa e igualitária.
Porém, como afirma Esteban (2003, p.58-63), o caráter instrumental e
disciplinar da avaliação é ainda facilmente encontrado nas atuais práticas pedagógicas,
ocultando os problemas sociais através de uma política educativa de corte neoliberal,
adaptando os indivíduos a situações de dominação. Só encaminhamentos pedagógicos
alienantes, podem levar o aluno a aceitar seu trabalho refletido numa nota nesta prática
de avaliação. Isso não é bom, precisa-se recuperar a escola como espaço de reflexão,
debate e organização de pensamentos, assim a questão nota será secundária.
Para superar essa concepção vigente de avaliação é necessário construir
coletivamente propostas de enfrentamento e de intervenções pedagógicas que envolvam
professores, alunos, equipe pedagógica, direção e pais. A família, muitas vezes, tem na
avaliação o vínculo mais constante com a escola. Mudar a concepção de avaliação
significa privá-los de seus pontos de referência habituais: se a nota está “azul”ou
“vermelha”.
Essa mudança exige uma profunda reorganização dos tempos e espaços
escolares, um repensar a respeito das relações de poder que têm marcado a escola e sua
função social, assumida através de suas práticas. Fica, portanto, um desafio. O Conselho
de Classe, enquanto órgão colegiado, responsável pelo processo coletivo de avaliação
de aprendizagem, tentar romper o isolamento do trabalho escolar, buscando a discussão
e reflexão coletiva sobre a prática avaliativa de maneira mais ampla, democrática e
pertinente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei nº9. 394/96, de 20/12/1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da


Educação Nacional.

DALBEN, Â. I. L. de F. Conselhos de classe e avaliação: Perspectivas na gestão


pedagógica da escola. Campinas: Papirus, 2004.

________. Trabalho escolar e Conselho de Classe. Campinas: Papirus, 1995.

ESTEBAN, M. T.(org.). Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. Rio de


Janeiro: DP&A, 2003.

HAYDT, R. C. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. São Paulo: Ática, 2004.

PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens- entre


duas lógicas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

VASCONCELLOS, C. dos S. Avaliação: concepção dialética-libertadora do


processo de avaliação escolar. São Paulo: Libertad, 2005.

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