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O Que São Os NFTs
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MUNDO
Jack Dorsey vendeu o NFT do primeiro tweet a ser publicado na plataforma. Esta imagem
que marca um momento histórico no desenvolvimento das redes sociais, custou 2,9
milhões de dólares (2,56 milhões de euros). Para muitos, a sigla NFT passou a ser
conhecida nesta altura, mas a corrida a estes registos já tinha começado anteriormente e
já fazia circular dezenas de milhões de dólares.
Não foi a única imagem milionária a ser vendida no decorrer de 2021. O NFT da obra de arte
de Beeple “The First 5.000 days”, por exemplo, foi vendida no primeiro leilão de arte digital
por 69 milhões de dólares (60,8 milhões de euros). A obra “The Merge”, da autoria de Pak,
bateu todos os recordes e tornou-se o NFT mais caro de sempre: 91,8 milhões de dólares
(80,9 milhões de euros).
Com estas notícias, surgem várias perguntas: a�nal o que é um NFT? E porque se está a
pagar tanto por eles? NFT é a sigla para Non-Fungible Token (registo não fungível, em
português) e representa um registo único e inalterável que é inserido numa cadeia de
blockchain – o mesmo sistema utilizado na base das criptomoedas -, tendo como objetivo
atestar a autenticidade de um determinado conteúdo e atribuir propriedade ao seu
detentor.
“Um NFT é uma representação digital de qualquer ativo que tenha um caráter
único, distinto e não igualável a qualquer outro”, explica Frederico Antunes,
CEO da RealFevr e presidente da Associação Portuguesa de Blockchain e
Criptomoedas (APBC). Este mecanismo pode ser utilizado em conteúdos de
arte digital, mas também em tudo o que diz respeito a registos que tenham um
número de série único – “em última instância, um bilhete para um jogo de
futebol também é ele próprio um NFT.”
Na lista dos NFTs mais lucrativos está também a imagem “Doge”: um cão que olha com ar
de estranheza em direção à câmara. O NFT desta fotogra�a, que é muitas vezes partilhada
nas redes sociais e fóruns como um meme, foi comprado por 4 milhões de dólares (3,5
milhões de euros). Mas isso signi�ca que esta imagem passou a ser privada?
Foto: Reprodução/Know Your Meme
Confuso? Imagine que fez um desenho e quer registá-lo como seu. Para isso poderá
introduzir numa plataforma de blockchain o registo do desenho que fez, ou seja, criar um
NFT. Depois disso, decide vender o seu desenho e respetivo NFT. Quando realizar a
transação, volta à plataforma para inserir um novo registo a atestar a venda do desenho na
blockchain. O NFT passará a apresentar a informação de quem criou o registo e de quem é
o atual proprietário.
Quem compra o seu desenho e o respetivo NFT não �ca impedido de o copiar e reproduzir o
conteúdo vezes sem conta. O registo apenas lhe dá posse do desenho e comprova que é
autêntico.
“Uma pessoa pode comprar uma mala da Louis Vuitton na loja o�cial – paga
entre cinco a 20 mil euros -, mas também pode ir à feira de Massamá e traz
uma Louis Vuitton na mesma. Mas não é verdadeira”, exempli�ca Frederico
Andrade, reconhecendo que a questão da contrafação pode existir também no
mundo digital. “A tecnologia blockchain garante que aquilo que se está a
comprar é efetivamente o ativo genuíno e não o contrafeito.”
Foto: Getty Images
Se o NFT é o registo, o que se está a comprar quando se compra um NFT? Muitas pessoas
têm dúvidas e não sabem ao certo o que se está a comprar. Será apenas o registo de
propriedade? Enquanto o NFT se refere apenas ao código de registo que é inserido na
blockchain, o conteúdo é disponibilizado numa plataforma interplanetária, a IPFS (sigla para
Sistema de Arquivos Interplanetário).
“Temos o NFT, que não é mais do que uma linha de código, e temos o ativo em
si. Para garantir que o ativo está colado à blockchain, precisamos de um
alojamento descentralizado. Atualmente usamos o IPFS – um alojamento de
imagens e vídeos descentralizado onde não é tecnicamente possível apagar
�cheiro. É essa ligação que �ca codi�cada no NFT, de maneira a que, quando o
NFT é transacionado, o ativo adjacente está necessariamente colado a ele“,
esclarece Frederico Antunes.
“Aquele registo nada diz sobre a propriedade do bem, nem quem compra tem
quaisquer direitos sobre o bem, a menos que o vendedor de facto faça algum
contrato nesse sentido”, a�rma André Gouveia, analista �nanceiro na Proteste
Investe. “Levanta muitas questões legais porque as próprias criptomoedas são
uma área um bocadinho cinzenta, um vazio legal.”
O especialista na área �nanceira considera que este mecanismo tem muito potencial, mas
lembra que está ainda “numa fase inicial”, num “espaço muito eufórico”.
Por outro lado, Frederico Antunes sublinha que as leis que já existem também se aplicam a
este caso. “A lei da propriedade intelectual e da propriedade digital não se aplica apenas e
só aos ativos físicos, aplica-se também aos ativos digitais. A lei é transposta e adaptada à
nova realidade.”
E quem faz um NFT de algo que não lhe pertence? Voltando ao exemplo do desenho:
imagine que publicou o seu desenho num fórum ou numa rede social, alguém o viu e
decidiu fazer o registo de NFT numa blockchain. Qualquer pessoa poderá fazer um registo
sobre qualquer coisa, incluindo algo que não lhe pertença. No entanto, quem vai comprar o
NFT do seu desenho poderá ver na blockchain o autor do NFT e atribuir-lhe valor (ou não).
Frederico Antunes lembra que artigos contrafeitos também existem no mundo real.
“Eu posso ir ao [museu do] Louvre tirar uma fotogra�a do quadro da Mona Lisa
e criar um NFT. Esse NFT não tem valor absolutamente nenhum porque estou a
criar um NFT de uma coisa que não me pertence. Estou a cometer um ato
ilícito, é crime. Por outro lado, se for o Louvre – que é o detentor do quadro – a
lançar o NFT o�cial, com a representação digital o�cial da Mona Lisa, esse terá
necessariamente valor”, exempli�ca.
Além de royalties, os NFTs podem incluir todo o tipo de indicações. Por exemplo, a empresa
de fast food norte-americana Taco Bell criou 25 NFTs de GIFs promocionais da marca e, a
acompanhar, iam 500 dólares (440 euros) em cartão de oferta. Os NFTs foram vendidos em
30 minutos.
O FUTURO: PODEM OS NFTS SER USADOS EM CASAS, TERRENOS E
AUTOMÓVEIS?
Para já, a criação de NFTs está mais ligada à arte, assumindo um caráter de
“colecionismo”, um termo utilizado por Miguel Pupo Correia. Mas o potencial desta
tecnologia pode ir muito além de simples imagens, memes ou músicas. Existem já NFTs
que podem ser trocados por objetos: uma empresa criou 500 NFTs de cubos de tungsténio
que correspondem, de forma aleatória, a cubos de diferentes dimensões.
“Estes NFTs que estão a surgir são casos mais ou menos anedóticos. Mas, de
facto, há a possibilidade de os NFTs serem utilizados para representarem
outras coisas – como uma propriedade física, um imóvel, um terreno, um
automóvel. Isso é possível, neste momento a barreira é legal. Eu posso fazer
um NFT a dizer que tenho a minha casa e vendê-lo, mas depois não tenho
nenhuma maneira de, perante o tribunal, provar que a casa é minha porque
comprei o NFT”, explica o professor.
Também André Gouveia reconhece o potencial que os NFTs podem ter na transação de
bens físicos. Reconhece que o ato de compra e venda tem vindo a avançar nos últimos
anos, mas “o processo do registo de bens ainda é muito arcaico”. Ao comprar um NFT de
bens físicos, atualmente, ainda é necessário concretizar a compra e venda seguindo a
burocracia aplicada a cada caso.
“A nossa casa também só é nossa porque há um registo público que diz que
nós comprámos a casa. Isso é verdade, mas ninguém copia a minha casa de
um lado para o outro e ninguém está a tentar dizer que não tenho nenhum
contrato, por isso tenho de sair”, acrescenta.
Para Frederico Andrade, os NFTs são, sem dúvida, caminho a seguir. Não só para no setor
imobiliário ou de vendas, mas até para o registo dos cidadãos.
Mas esta visão, embora partilhada, tem diferenças. Frederico Antunes defende um sistema
descentralizado – como o que acontece atualmente com as plataformas de blockchain -,
aberto a toda a gente e em que os Governos não podem interferir. Já Miguel Pupo Correia
admite a possibilidade de cada um dos países – ou a União Europeia como um todo –
possa criar a sua própria blockchain, onde serão registados os ativos físicos.
A tecnologia tem um carácter disruptivo, e estes avanços podem abrir portas a novas
formas de ver o mundo. Se há 20 anos não imaginávamos ter a tecnologia a permitir o
teletrabalho, por exemplo, quem sabe se daqui a 20 anos os bebés não passam a ser
registados em NFTs.