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Prefácio
"Nessa teoria o trabalho histórico como o que ele manifestamente é: uma estrutura verbal na
forma de um discurso narrativo em prosa. As histórias (e filosofias da história também)
combinam certa quantidade de 'dados', conceitos teóricos para 'explicar' esses dados e uma
estrutura narrativa que os apresenta com um ícone de conjuntos de eventos presumivelmente
ocorridos em tempos passados. Além disso, digo eu, eles comportam um conteúdo estrutural
profundo que é em geral poético e, especificamente, linguístico em sua natureza, e que faz as
vezes do paradigma pré-criticamente aceito daquilo que deve ser uma explicação eminentemente
'histórica'. Esse paradigma funciona como o elemento 'meta-histórico' em todos os trabalhos
históricos que são mais abrangentes em sua amplitude do que a monografia ou o informe de
arquivo." p.11
"Mas tentei primeiro identificar as dimensões manifestas - epistemológicas, estéticas e morais -
do trabalho histórico e só depois penetrar até o nível mais profundo em que essas operações
teóricas fundam suas sanções pré-críticas implícitas. Ao contrário de outros analistas da escrita
histórica, não suponho que a subestrutura 'meta-histórica' do trabalho histórico consista nos
conceitos teóricos explicitamente utilizados pelo historiador para dar a suas narrativas o aspecto
de uma 'explicação'. Acredito que tais conceitos compreendem o nível manifesto do trabalho,
visto que aparecem na 'superfície' do texto e podem comumente ser identificados com relativa
facilidade. [...] Para os argumentos há os modos do formismo, do organicismo, do mecanicismo
e do contextualismo; para as elaborações de enredo há os arquétipos da estória romanesca**, da
comédia, da tragédia e da sátira; e para a implicação ideológica há as táticas do anarquismo, do
conservantismo, do radicalismo e do liberalismo. Uma combinação específica de modos
constitui o que chamo de 'estilo' historiográfico de determinado historiador ou filósofo da
hsitória." p.12
"Mas, conquanto recentes filósofos analíticos tenham conseguido aclarar até que ponto é
possível considerar a história como uma modalidade de ciência, pouquíssima atenção tem sido
dada a seus componentes artísticos. Através da exposição do solo linguístico em que se
constituiu uma determinada ideia da história tento estabelecer a natureza inelutavelmente poética
do trabalho histórico e especificar o elemento prefigurativo num relato histórico por meio do
qual seus conceitos teóricos foram tacitamente sancionados." p.13
Em suma, é minha opinião que o modo tropológico dominante e seu concomitante protocolo
linguístico compõem a base irredutivelmente 'meta-histórica' de todo trabalho histórico. E
sustento que esse elemento meta-histórico nas obras dos historiadores magistrais do século XIX
constitui as 'filosofias da história' que implicitamente mantêm suas obras e sem as quais eles não
poderiam ter produzido os tipos de obras que produziram." p.13
Conclusões: "As conclusões gerais que extraio do meu estudo da consciência histórica
oitocentista podem ser assim sumariadas: 1) não pode haver 'história propriamente dita' que não
seja ao mesmo tempo 'filosofia da história'; 2) os modos possíveis de historiografia são os
mesmos que os modos possíveis de filosofia especulativa da história; 3) esses modos, por sua
vez, são na realidade formalizações de intuições poéticas que analiticamente os procedem e que
sancionam as teorias particulares usadas para dar aos relatos históricos a aparência de uma
'explicação'; 4) não há apodicticamente premissas teóricas infalíveis em que se possa de forma
legítima assentar uma justificativa para dizer que um dos modos é superior aos outros por ser
mais 'realista'; 5) em consequência disso, estamos irremediavelmente presos a uma escolha entre
estratégias interpretativas opostas em qualquer esforço de refletir sobre a história em geral; 6)
como corolário disso, os melhores fundamentos para escolher uma perspectiva da história em
lugar de outra são em última análise antes estéticos ou morais que epistemológicos; e
finalmente, 7) a exigência de cientificização da história representa apenas a declaração de uma
preferência por uma modalidade específica de conceptualização histórica, cujas bases são ou
morais ou estéticas, mas cuja justificação epistemológica ainda está por estabelecer." p.14