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Artigo Joã o - Reestruturaà à o
Artigo Joã o - Reestruturaà à o
GOIÂNIA – GO
Março/2014
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RESUMO
Introdução
regime de acumulação guarda estreita relação com um sistema de coerção social (modo de
regulação) eficaz para que a sociedade se adapte ao trabalho alienado.
Tal abordagem argumenta que o regime de acumulação necessita de hábitos e
normas “que garantem unidade do processo, isto é, a consistência apropriada entre
comportamentos individuais e o esquema de reprodução” (HARVEY, 2012, p. 117). Desta
forma, o modo de regulação cria a ambiência necessária para gestar comportamentos
adequados a determinado momento sócio histórico e econômico.
A fecundidade da relação desses elementos como impulsionadores do sistema
capitalista é enfatizada por Heloani (2011) que esclarece,
Essas mudanças foram tão expressivas que Harvey (2012), defende que houve uma
transição de um regime de acumulação fordista (este parcial em vários lugares do mundo)
para um novo regime de acumulação, mesmo que “não se tornaram hegemônicas em toda
parte” (ibidem, p. 179).
Para o autor o novo regime de acumulação surge da contestação da rigidez do
fordismo, acentuando a flexibilidade dos mercados e do mundo do trabalho. Por isso é
chamado de “regime de acumulação flexível”. Embora seja caracterizado pela
flexibilidade, cabe ponderar que, este novo regime de acumulação é fruto da lógica interna
da rigidez do sistema capitalista em prol da acumulação de capital, que se expressa em
crises cíclicas desse sistema e períodos de superacumulação, fenômenos conceituados por
Marx em “O Capital”.
Ao referir-se sobre a lei geral de acumulação capitalista define,
A produção de mais-valor, ou criação de excedente, é a lei absoluta desse modo
de produção. A força de trabalho só é vendável na medida em que conserva os
meios de produção como capital, reproduz seu próprio valor como capital e
fornece uma fonte de capital adicional em trabalho não pago (MARX, 2013, p.
695, grifo nosso)
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Considera-se que essa vitória ideológica e cultural foi possível pela composição de
um sistema de coerção social, mediador das condições materiais com as formas políticas e
ideológicas alinhadas ao liberalismo de mercado ou neoliberalismo. Trata-se de um sistema
regulatório das relações sociais, tendo no Estado e em outras instituições sociais como
lócus de reafirmação dos princípios neoliberais (CURY, 1987)
Harvey (2012) chama atenção que, as mudanças do capitalismo nas últimas décadas
denotam a emergência de um novo regime de acumulação, demarcado com a característica
predominante da flexibilidade com,
estrutural cria uma reserva de desempregados e imputa novos fardos a força de trabalho
(ANTUNES, 2013).
A automação das empresas tem seu peso nesse processo, de precarização das
condições e instabilidade do campo do trabalho. Para Rifkin (1995) existe uma
“reengenharia” nas empresas, associada às novas tecnologias, sobretudo, com o advento do
computador que tem diminuído drasticamente os índices de empregos. Nesse cenário, a
expansão do setor de serviços em contraposição à retração do campo industrial, tem sido
considerada um caminho para absorver os desempregados das indústrias. Todavia, Rifkin
(1995) alerta que existe um limite real de criação dos postos de trabalho do próprio setor.
Sobre o movimento do mundo do trabalho e a possível desaparição dos empregos
Antunes (2005), pondera que o trabalho social está mais “complexificado, heteroneizado e
ainda intensificado nos seus ritmos e processos” (p. 39). Assevera que hoje existe menos
trabalho estável e mais terceirizado, imbricado com o campo produtivo.
As reflexões de Harvey (2012) endossam tal visão ao destacar, que o fortalecimento
de empresas domésticas, comunitárias que prestam serviços para grandes empresas
ressurgiu com força no mundo do trabalho e alerta,
Parte do lucro total (ou do excedente) produzido numa área transfere-se entra
para outra. É a relação que se estabelece entre o centro e a periferia. Podemos
chamar a área perdedora de “periferia” e a área ganhadora de “centro”, nomes
que na verdade refletem a estrutura geográfica dos fluxos econômicos (p. 30).
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O cenário atual está permeado por profundas transformações gestadas nos campos:
econômico, político e social. Essa assertiva considera que realidade é um processo
delineado no devir histórico. No sentido, de que o homem faz a história, mas em condições
materiais estruturais que o condiciona sendo “um ser histórico que se produz e se modifica
em relação com os demais seres humanos” (FRIGOTTO, 2005, p. 63).
Por isso, ao abordar a realidade como construção histórica, é mister enfatizar que a
perspectiva dialética permeia as reflexões na busca de compreender “a maneira pela qual
se relacionam, encadeiam, e determinam reciprocamente, as condições de existência social
e as distintas modalidades de consciência” (IANNI, 1979, p. 23 apud GADOTTI, 2012, p.
20). Nessa perspectiva, a totalidade do sistema histórico capitalista é considerada uma
unidade em movimento de contrários (CURY, 1987).
Partindo da premissa dialética é que, a Escola de Regulação discute o movimento
do capitalismo. Nesta linha teórica, quando “um paradigma industrial se instaura, ele, por
conseguinte, passa a influenciar o próprio modo de regulação e a estrutura
macroeconômica que o havia determinado num primeiro momento” (HELOANI, 2011, p.
15). Trata-se de um movimento dinâmico no interior do próprio sistema capitalista entre
regime de acumulação, modo de regulação e organização do trabalho.
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conceito de educação ampliada ao falar de “uma educação plena para toda a vida” (2008,
p. 55) que ocorre nos espaços de inserção social.
Trata-se da compreensão da educação contextualizada. Por isso, coadunamos com
Lombardi (2008) que assevera,
não faz o menor sentido discutir abstratamente sobre a educação, pois esta é uma
dimensão da vida dos homens que se transforma historicamente, acompanhando
e articulando-se ás transformações dos modos de produzir a existência dos
homens (p.04) .
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O sistema global de internalização que Mészáros (2008) descreve corrobora com o modo de regulação
discutido por Harvey (2012) e Heloani (2011).
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dado seu objeto imaterial como ideias, valores, símbolos, hábitos, atitudes, habilidades,
conhecimentos e competências que configuram comportamentos e atitudes. Destaca-se que
mesmo que a educação seja imaterial, ela repercute no sujeito que mobiliza as ideias,
valores, conhecimentos pela vida afora (SAVIANI, 2012; PARO, 2006)
Embora a educação exerça uma influência coercitiva na sociedade, atribuir-lhe o
papel fulcral de transformar a realidade recorrente nos discursos do campo politico é uma
visão demasiada ingênua, pela complexidade de aspectos que relacionados materializam o
projeto social capitalista (CURY, 1987; MÉSZÁROS, 2008; SAVIANI, 2012). Essa
ponderação recoloca a educação formal em uma abordagem realista, nos limites da sua
intervenção na sociedade, mas não desconsidera sua importância na construção de
consentimento coletivo das classes sociais, nem tampouco de resistência a lógica
capitalista (CURY, 1987).
Deve-se ponderar que a educação tem ganhado contornos a partir dos embates
políticos da luta de classes sociais entre burgueses e proletários. Nessa disputa sua função
pode variar de “promover ajustes que resolvessem disfunções sociais ou mesmo para
revolucionar a ordem existente” (CAMBI, 1999 apud LOMBARDI, 2008, p. 6),
reafirmando sua importância no modo de regulação, uma vez que, há o vínculo estrutural e
estruturante com as determinações reprodutivas do sistema capitalista (MÉSZÁROS,
2008).
A educação formal na contemporaneidade tem servido aos preceitos neoliberais que
defende, enfaticamente, concepções pautadas no individualismo para potencializar a
produtividade de mais capital. Deste modo, em larga medida, tem municiado o capitalismo
de força de trabalho com comportamentos sociais ajustados à lógica capital. Partindo desse
viés, que algumas transformações realizadas na educação formal proveniente do processo
de reestruturação produtiva do capitalismo são abordadas.
Diante da relação histórica da educação com o mundo do trabalho pode-se falar que
a valorização do capital nas últimas décadas exige da educação “trabalhadores de novo tipo
e, em decorrência, de uma nova pedagogia” (KUENZER, 2005, p. 87). Sobre as mudanças
ocasionadas pela reestruturação produtiva na educação Kuenzer (2005) pondera,
Algumas considerações
REFERÊNCIAS
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1987.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio. 7.ª ed., Curitiba: Positivo, 2008.
GENTILI, Pablo. Três teses sobre a relação trabalho e educação em tempos neoliberais. In:
LOMBARDI, José Claudinei; SAVIANI, Demerval; SANFELICE, José Luís (orgs.).
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2005. (Coleção educação contemporânea). (p. 45-60).
GIDDENS, Anthony. A terceira via. Trad. Maria Luiza X. DE a. Borges. Rio de Janeiro:
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LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação
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MARX, Karl. O capital Livro I. Tradução: Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013.
MÉSZÁROS, István. A educação para além do Capital. Trad. Isa Tavares. 2 ed. São
Paulo: Boitempo, 2008.
PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública. 3 ed. São Paulo: Ática,
2006.
RIFKIN, Jeremy. O fim dos empregos: o declínio inevitável dos níveis de empregos e a
redução da força global de trabalho. Trad. Ruth Gabriela Bahr. São Paulo: Makron
Books, 1995.