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A Mandala Florestal - a Gênesis do Feminino Iluminado

Criada por Maria Lalla Cy Aché, é um ciclo de 31 danças rituais inspiradas nas energias
femininas da Mãe Natureza que revelam em nós aspectos do sagrado feminino. São como 31
arquétipos da mitologia nativa brasileira que se manifestam dançando trazendo para o mundo sua
oração corporal.

São representações das múltiplas faces da Grande Mãe: a água do rio, o sol, a lua e as
estrelas, o som e o silêncio das matas brasileiras, bem como as sereias, as árvores, as pedras, cobras,
pássaros e onças, cada uma com o seu ensinamento/iniciação.

No início, bem antes do “descobrimento”, existia aqui, em terras Pindorama, um


matriarcado. Vivia-se em harmonia com a natureza, em liberdade, numa terra próspera e sem donos.
Cy, que significa “mãe”, um ventre livre e prazeroso, dançava em espirais galácticas e paria o
universo. Dava nome a tudo e todo o mundo tinha mãe. Assim, a Lua era Iacy e o sol Coaracy. Iacyara
era a mãe da luz do luar. O feminino era honrado e consagrado.

A Mandala Florestal nos ajuda a recontar essa História do Brasil “esquecida”. E nos lembra
também que houve o tempo das Amazonas, mulheres guerreiras, a última resistência desse
matriarcado, as que fugiram de suas tribos por não quererem se submeter a nova lei estabelecida
com a chegada de uma nova mitologia “o mito de Jurupari, o filho do sol”. Pela nova lei, as mulheres
passavam a ser propriedade dos maridos e não podiam mais escolher com quem iriam se deitar. Os
filhos não eram mais de todos. Elas não podiam mais cantar, dançar, rir e nem sequer falar, sem a
permissão dos maridos. Não podiam mais participar das festas sagradas e os rituais eram para a
incorporação do espírito do Jurupari (o nome Jurupari significa de boca fechada) à fim de estabelecer
as novas leis. Diz-se que esse foi o tempo do “ kiriri”, a tristeza das mulheres. As que se negaram a
obedecer, foram punidas e até mesmo condenadas à morte. O mito de Jurupari e a nova lei coincide
com a chegada dos colonizadores a essas terras e o mito persiste até hoje em muitas tribos
amazônicas, inclusive na Colômbia e no Peru. O mito de Cy foi aos poucos sendo esquecido. Contam
que ela foi punida por desobediência e transformada na estrela mais brilhante da constelação das
Plêiades.

Relegada a condição de lenda, essa parte da história do Brasil precisa ser contada para
honrar a resistência e a coragem de nossas ancestrais, para o benefício e autoestima de todas as
mulheres. As Amazonas fugiram do convívio com os homens e estabeleceram seu próprio território:
o reino das Pedras Verdes, no coração da Amazônia, próximo ao rio Nhamundá.

Através da música e da dança celebramos e nos conectamos com estes aspectos do Feminino
Iluminado, da nossa alma selvagem, não domesticada, sempre disponíveis para nos ajudar a
reconhecer dentro e fora de nós: a Força, a Beleza e a Sabedoria que nos habitam, nutrem e nos dão
coragem para enfrentar os desafios da existência.

Um desdobramento do trabalho anterior que tem no Livro e no CD “Juremar Yaci Uaruá” (de
Maria Lalla Cy Aché), seu primeiro movimento, a “Mandala Florestal” tem criado nas mulheres que
participaram destes círculos um sentimento de pertencimento a essa nova tribo urbana, suburbana e
rural: a tribo das Tekoimãs, que significa mulheres loucas e sem lei.
A Fruição Criativa da Natureza Feminina é Agora.
Trabalho dedicado a memória de Rui Pereira, amor e companheiro nessa vida e para sempre.

Viver é um rasgar-se e remendar-se. Guimarães Rosa

A Dança da Vida habita o tempo, vive o mundo e suas utopias. Na nossa Mandala
Florestal todas as forças estão disponíveis para a recriação e afirmação de um Feminino
sábio e potente. Tudo fica mais fácil quando o mundo ou o outro passam a fazer parte,
assim como você, de uma totalidade orgânica e sustentável.

A natureza não pode ser dissociada da cultura. Neste momento o mundo passa por
grandes transformações e o vírus covid 19 coloca em xeque o que chamamos de civilização.
O modelo antropocêntrico cede lugar ao biocentrismo, numa perspectiva plural aberta
também aos saberes não humanos, dos vegetais, dos animais, os geológicos etc. A
chave está na substituição da visão antropocêntrica e hierarquizada na relação do
homem com a natureza por uma cultura em rede, na qual o ser humano é apenas um
ponto em complexa rede interconectada. No contato com a natureza, na contemplação
dos ritmos de desenvolvimento natural, nós, mulheres vamos percebendo nossos ciclos
como formas de desenvolvimento espontâneo e sem esforço.

Assim, reencontramos nosso lugar na fruição criativa da natureza feminina. Os arquétipos


das forças luminosas da Natureza nos inspiram a Ser com simplicidade, a resgatar um
senso de pertencimento à grande família cósmica. Queremos conhecer o nosso lugar na
Mandala da Vida, experimentar as nossas múltiplas faces. Tudo está para ser recriado de
forma mais consciente.

Sinta o chamado para um novo tipo de “enraizamento” e de contato com a terra, como a
comunicação invisível das árvores através da rede micelial que se oculta no subterrâneo.
Assim também, no mundo inteiro, temos nos reconhecido e dado muitos passos a
frente, ocupando lugares estratégicos na sociedade e promovendo mudanças.

Em sororidade, estamos ressignificando o papel de mulheres em nossas próprias


existências, para a sociedade e o planeta. Novos paradigmas surgem e nos incitam a
mudanças de atitude nestes 3 níveis. E vai brotando em nós uma nova percepção de mundo
possível a partir do amor à vida e a natureza. A possibilidade de uma estrutura social mais
horizontal e equânime. Um instinto de sobrevivência capaz de operar uma autêntica
revolução política, social e cultural. Neste trabalho de ecologia profunda, queremos gerar
transformações em nossas próprias mentes, na sociedade e na relação com o meio
ambiente.

Boca do Mato, 09 de junho de 2021.


Carta/ Força 1 . Iakekan . A Rainha dos Ventos, o som do trovão

“Estou no meio da tempestade por minha própria vontade, para que todas as
minhas folhas mortas caiam e sejam levadas pelo vento.” Ruth Saint Dennis.

Quando ela se manifesta, rompendo o fino véu que separa o mundo da


manifestação do plano espiritual, sua Presença é proclamada com luz e som . Ela
é radiante de luz . Emanando o Raio do Destemor Feminino entre nós, ela
conclama as mulheres com o som do trovão a sacudir anos de submissão,
dependência e conformismo. Ela nos ajuda a sair da inércia e nos transforma em
guerreiras da paz e da preservação da natureza , assumindo a responsabilidade
por transformar a consciência de homens e mulheres para que possamos viver
num mundo mais justo e harmonioso. Ela é o fim do “kiriri” , o tempo da tristeza e
do silêncio das mulheres, que dominou por séculos nossas vidas com os valores
e leis do patriarcado.

Como mulheres e mães , temos a chance de re-educar a nós mesmas e aos


nossos filhos e parceiros para nos livrar de tantos condicionamentos limitadores
de felicidade. Chega de hierarquias caquéticas, dominação e competição. Todo
mundo tem direito a ser livre e feliz!

Que os ventos e raios de Yakekan, nos inspirem a promover mudanças


radicais em nossas vidas! Que a alegria da Deusa nos ensine a fazer isso com a
leveza ou com a fúria dos ventos, de acordo com a necessidade do momento,
mas que a gente sempre possa dançar com o vento , mexendo e remexendo,
tirando tudo do lugar, levantando a poeira, até que os bons ventos tragam um
novo tempo.

Com Iakekan aprendemos a trabalhar com a nossa própria respiração


consciente para transmutar o estado das coisas. A respiração que, em geral
acontece de forma mecânica, quando se torna consciente é uma ferramenta
muito poderosa. Uma prece de transformação. Vamos soprar prá bem longe o
que já não nos serve nesta vida. Até que suma de vez , purificando os ares em
torno do nosso campo magnético. Ela é rápida como um raio e nos liberta de
padrões velhos e desgastantes

Pergunta: O que já não serve mais para este momento da vida?

Mandinga: Faça uma lista de tudo que você quer soprar para bem longe do
seu campo magnético agora e conscientemente vá soprando e permitindo que
novas possibilidades surjam. Utilize também o som do seu maracá ou do seu
instrumento predileto para espalhar a energia que precisa ser mudada. Em breve
, novas configurações surgirão. Prepare-se para o novo com alegria!
Carta / Força 2 - Divina Caeté . A Mata Virgem – o Silêncio e o Som

A Divina Caeté é a mata virgem com todos os seus sons , sibilos e


sussurros. Começamos por transformar a nós mesmas. E para tanto, é preciso
entrar no silêncio, desenvolver a escuta da nossa voz interior, ou melhor, das
nossas vozes internas. São muitas: a da menina, a da sábia, a da mãe, a da filha,
a da amante, são tantas vozes quantas são as múltiplas faces da Deusa.

Se você entrar na mata virgem e parar para escutar os sons que ali
habitam, vai perceber a sinfonia cósmica da vida que pulsa ali. Da mesma forma,
se você parar para meditar e contemplar suas vozes internas, vai ficar
impressionado com a polifonia. Esta é a selva da tua alma. Esta prática é
fundamental para reconhecer aquilo que está harmonia e o que pode estar
precisando ser transmutado para gerar mais beleza e abundância na vida.

Quando nos alinhamos com o fluxo natural de desenvolvimento do cosmos.


Ficamos mais atent@s as oportunidades que estão de acordo com o nosso
propósito de vida. Ficamos mais conscientes de quem somos como seres
espirituais, contribuindo em nossa curta jornada no planeta para beneficiar e
abençoar a todos. O mundo ordinário nos desconecta da nossa espiritualidade e
nos faz viver como se pagar contas, consumir e produzir o que nos sustenta,
fosse o grande propósito da existência. Desatent@s, repetimos padrões de
pensamento e comportamento condicionados que só nos trazem mais do
mesmo.

Entre mais e mais em harmonia e mergulhe no silêncio, esta prática te


levará a desenvolver auto-conhecimento e plena atenção como ferramentas de
transformação de Si e do mundo. Respire. Profunda mente

Esta escuta vai fazer de você uma pessoa menos responsiva, mais
acolhedora e empática consigo mesma e com os outros. Quantas vezes tudo o
que precisamos é de alguém que saiba escutar. Artigo raro hoje em dia, são
preciosas as pessoas que não precisam emitir opinião sobre a vida do outro,
sendo apenas alguém que está silenciosamente ali, testemunhando o processo
de busca do outro, amorosamente, generosamente, respeitando os tempos da
respiração de cada um, para encontrar suas próprias respostas.

Pergunta: Você tem parado para ouvir as respostas que estão vibrando em
você neste momento? Você tem sido capaz de seguir a sua intuição?

Mandinga: Sente-se por alguns minutos num mesmo lugar na natureza e


observe o que está acontecendo ali em silêncio. Pense no que isto tem a ver com
você e o seu momento de vida. Repita este encontro consigo durante alguns dias
no mesmo lugar, perceba as mudanças que ocorrem alim acolha todas as
respostas que emergem do seu coração. Honre a tua sabedoria criativa.
Carta / Força 3. Jurema - A Cabocla Iluminada

A Jurema é uma árvore sagrada, é uma índia metafísica, é um ritual de


cura, é uma bebida feita da casca e das raízes dessa árvore ( Mimosa Hostilis)
que nos conecta com a sabedoria ancestral daqueles que andaram por essas
terras antes de nós, é uma medicina poderosa para despertar a nossa
consciência.

A entidade que conhecemos como Jurema é uma menina mestiça, cabocla:


nem branca, nem preta, nem índia. Uma mistura de tudo isso, como nós, mulheres
brasileiras. A Cabocla Jurema é considerada a rainha das matas e é muito
conhecida por sua beleza. É filha mais velha do cacique Tupinambá que a encontrou
bebezinha, abandonada no meio da mata. Ele a adotou e ensinou todos os segredos
das matas.

Essa linda e poderosa cabocla nos ensina que nenhuma dificuldade que se
apresente a nós é maior que a nossa coragem. Com ela conseguimos suportar com
paciência todas as situações difíceis que se apresentam em nossa vida. Caso você
esteja encontrando dificuldades para encontrar a coragem dentro de si, chame a
Cabocla Jurema, ela sempre irá lhe amparar.

Ela é a própria energia criativa e nutridora da Mãe Terra. Através da


conexão com essa guardiã da natureza, entendemos os ciclos da vida/morte/vida
com naturalidade e ficamos prontas para o movimento constante dos ciclos
evolutivos. A Jurema vem nos ensinar que quanto mais estamos em contato com
a Natureza, mais penetramos nessa compreensão pela observação da Vida e nos
curamos. Perdemos o medo da morte.Entendemos que estamos aqui de
passagem. Se você é da Jurema , não precisa ter medo de nada. A Jurema é
flecheira, conhece os inimigos internos e externos, visíveis e invisíveis. Ela nos
protege de todo o mal, nos guiando na selva da alma em direção à luz. Ela nos
ensina a ter foco e a alinhar o alvo com o desejo do coração. Nos ensina a não
distrair, a não se perder, a amar profundamente o que se quer alcançar. Dizem
que tudo que você ama verdadeiramente já está se movendo em sua direção.
Assim ela nos revela o paraíso na Terra, onde a abundância ,o amor, a saúde, a
riqueza e a prosperidade estão sempre disponíveis para quem tem olhos de
contentamento, coração agradecido e alegria de viver.

O culto da Jurema nasceu aqui no Brasil. Assim como a Umbanda e a


Capoeira, faz parte do nosso patrimônio imaterial. É considerada um Orixá
Brasileiro.

Pergunta: Para quê você precisa de coragem neste momento?

Mandinga : Invoque e cante para a Jurema pedindo a sua proteção. Sinta a


sua presença irradiando força e coragem para que você alcance as suas metas
maiores. Mantenha o foco naquilo que você ama.
Carta / Força 4 . Ierê - O Movimento das Águas

As águas, desde sempre, representam a energia das emoções. Com o


movimento das águas do rio, que contornam as pedras e seguem seu fluxo
natural, as pedras se arredondam e as superfícies tornam-se mais lisas e gentis.
Assim é na vida quando aprendemos a contornar situações e sem abrir mão dos
nossos princípios, nos deixamos polir, refinar e transformar com os
aprendizados que cada relacionamento ou experiência traz.

Somos seres que se constituem nas relações. É assim que amadurecemos


e nos refinamos. É através do outro, este espelho milagroso, que conseguimos
enxergar nossas partes mais inconscientes. As águas simbolizam essa força
insconsciente que nos conduz ao mistério da existência. As emoções são
redemoinhos que as vezes nos confundem a direção, mas sempre estão nos
lixando, limpando e refinando a nossa inteligência para decifrar as charadas que
a grande mestra Vida nos apresenta como desafios.

Pessoas com inteligência emocional, aprendem a fluir como as águas do


rio e a não se deixar reter por emoções negativas. Aprendem com a água dos rios
que elas não podem voltar atrás, sua missão é seguir em frente de volta ao lar do
oceano. Este sentimento de pertencimento ao fluxo natural da vida, nos deixa
mais alegres e em paz. A água nos refresca, purifica e vitaliza.

Uma pessoa em harmonia com seu espírito é como um rio fluindo. Ela vai
aonde quer, sem pretensão, apenas sendo ela mesma. Ela também tem margens,
curvas, profundidade, pedras e... ao mesmo tempo, é a água que flui e o
movimento é a força invisível que faz as águas fluírem. Água e Terra em
harmonia e complementaridade. Dois princípios femininos que juntos nos
harmonizam e modelam nossas personalidades, trazendo refinamento emocional
e beleza.

Ierê é este eterno mistério de brilhos e reflexos. E, se desde sempre somos


o que devemos Ser, o que adicionamos nesta vida de expectativas e frustrações,
de batalhas cotidianas pela sobrevivência, são apenas pesos inúteis que
carregamos para nada. Desta vida só levaremos o fluxo de experiências que nos
constituíram, nada mais. Fluindo e dançando, nos purificamos. O movimento se
encarrega de eliminar as cargas inúteis para nos deixar mais leves e luminos@s.

Pergunta: Quais as mágoas que você ainda carrega e permite que te


prendam ao passado?

Mandinga: Tome um banho de cachoeira , permitindo que todas as mágoas


antigas sejam perdoadas , entendendo que o passado foi de acordo com o nível
de consciência daquele momento , mas que é no presente que podemos desatar
os nós que ainda nos prendem ao que já passou. Liberte-se dessa dor. Essa
prisão impede o seu movimento progressivo. Se não puder ir até o rio , faça
visualizações banhando-se em águas luminosas e curativas. Seja como a água
do rio, deixe o passado para trás e siga o seu destino.

Carta / Força 5 . Tatacy , A estrela Guia

Tatacy, a mãe do fogo em tupi, é a estrela mais brilhante do céu. A


primeira a surgir e a última a desaparecer. Rege a mudança luminosa que
transforma o dia em noite e a noite em madrugada, até o sol nascer em todo o
seu esplendor. A bela estrela da manhã é conhecida entre nós como o
planeta Vênus.

Os indígenas pensavam que se tratavam de duas estrelas que apareciam


em períodos diferentes: a estrela matutina (kaaru mbija), que chamamos de
estrela D’alva, e a vespertina (ko’e mbija), que chamamos de Vésper, cada uma
delas visível por cerca de 263 dias.

São muitos os mitos atribuídos ao planeta Vênus pelos povos originários.


Diferentes nações e cosmovisões produzem mitologias diferentes. Os tupis-
guaranis chamam o planeta Vênus, quando aparece como estrela vespertina,
de “Mulher da Lua”. Nesta mitologia a Lua é masculina. Eles contam que a
mulher da Lua é muito linda, vaidosa e nunca envelhece. Ela só fica ao lado do
seu marido enquanto ele é jovem, afastando-se dele à medida que fica mais
velho e gordo.

Segundo a mitologia Taurepang, de Roraima, a lua , chamada de Kapei


também é masculina e tem duas mulheres uma de manhã cedinho ( a estrela
matutina ) que vive a leste e outra vespertina (a oeste). Kapei , a lua, sempre está
com uma delas. Primeiro vai com uma que lhe dá muita comida e ele fica cada
vez mais gordo. Depois vai com a outra, que lhe dá pouca comida e ele emagrece
cada vez mais.As duas mulheres são inimigas e ficam sempre separadas uma da
outra .

O interessante dos mitos é que ambos tratam do equilíbrio que vêm das
alternâncias. Não há mal que sempre dure , nem bem que nunca se acabe.
Na nossa Mandala Florestal, Tatacy rege as transições, do mais denso ao
mais sutil, da escuridão para à luz. Ela nos ajuda a entrar em contato com
nossos aspectos inconscientes, egóicos para tornar consciente o trabalho de
transformação interior, trazendo luz ao que está na escuridão da ignorância,
permitindo-nos fazer escolhas que tragam amadurecimento, crescimento e
benefício para si e para todos.
Pergunta: O que está precisando ser equilibrado para trazer mais
beleza, amor e harmonia para minha vida?
Mandinga: Tatacy nos dá a permissão para brilhar. Quais os aspectos
luminosos, dons e talentos que tenho deixado de cultivar e manifestar no
mundo. Entre em contato com o que nutre a sua alma com o fogo do
entusiasmo. Faça aquilo que mais gosta e compartilhe com o mundo toda a
sua luz e o seu amor.

Carta / Força 6 – A Mãe do Ouro, o desejo e seus mistérios.

Há controvérsias sobre a origem da lenda, mas acredita-se que ela surgiu na


época do ciclo do ouro (final do século XVII e início do XVIII). Nesse período, a
extração de ouro era a principal atividade econômica no país que ocorreu sobretudo,
nos estados de Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais.

A Mãe do ouro é um mito que conta que existe uma bola de fogo que com sua
presença mostra a localização de jazidas de ouro que não devem ser exploradas.
Ela é a guardiã dos segredos e riquezas da terra, como ouro e pedras preciosas. Por
esse motivo, ela é conhecida como a protetora da natureza, principalmente dos rios
e montanhas. Acredita-se que por conta de sua atuação, ainda existam algumas
jazidas de ouro que não foram exploradas.

É nas noites de lua nova ou nas madrugadas que essa bola de fogo se
transforma numa bela mulher, voando pelos ares. Ela habita cavernas, e, cuida das
mulheres que são maltratadas pelos maridos e, portanto, infelizes nos casamentos.
Assim, com sua beleza estonteante ela leva os maridos indesejados para uma caverna
longe de sua família. Ali, a Mãe-de-Ouro os prendem o resto de suas vidas.
Igualmente, ela arruma outros maridos que farão felizes as esposas.

Por fim, há também uma versão muito conhecida da lenda em que um


escravo trabalhava dias procurando ouro para seu patrão cruel. A Mãe do Ouro
vendo o infeliz cansado de procurar e certo de que sofreria maus tratos por seu
dono, apareceu indicando exatamente onde ele deveria buscar. Além disso, a Mãe-
de-Ouro deixou claro que o ajudaria, mas que ele nunca deveria dizer as pessoas o
local da mina. No entanto, após levar ouro suficiente para seu patrão, ele quis logo
saber onde o escravo tinha encontrado. Embora tenha tentado guardar o segredo,
acabou por revelar o local, isso claro, depois de receber muitas açoitadas de seu
patrão maldoso. Ao chegar no local, o patrão ambicioso guardava o que podia do
precioso metal, foi quando um grande desabamento aconteceu e matou o infeliz.

Nossa história tem um final mais feliz e ensinamentos sobre o desejo e como
ele nos move em boa direção desde que não nos deixemos capturar pela ambição
desmedida. Maria era uma mulher simples que apreciava a natureza e as luzes do
pôr do sol num magnífico final de tarde. Caminhava pela estrada que corria à beira
do Rio Grande, quando viu sair de uma caverna uma nuvem de vaga-lumes e no
meio deles uma grande bola de fogo que se transformou numa linda mulher que
voava pelo céu com seus cabelos de arco-íris que pingavam gotas que ao tocarem a
terra se transformavam em pedras preciosas: ametistas, esmeraldas, topázios, rubis
e turmalinas. Imediatamente, Maria se lembrou da lenda que dizia que se você
fizesse um pedido à Mãe do Ouro no intervalo de tempo em que uma gota caia de
seus cabelos e antes de tocar a terra, a Mãe do Ouro atenderia o seu pedido. E
assim, maravilhada com aquela visão, Maria pediu para ser filha da Mãe do Ouro. A
visão sumiu e Maria seguiu seu caminho para casa.

Estava cansada e naquela noite foi dormir cedo embalada pela visão
deslumbrante da Mãe do Ouro. Acordou de madrugada e viu ao lado de sua cama
uma nuvem cor de rosa. Ainda sem saber se estava sonhando, Maria rolou da cama
para a nuvem que a transportou pela floresta até a beira do rio, onde ficava a gruta
onde Maria tinha visto a Mãe do Ouro. A nuvem entrou na caverna e lá Maria viu
maravilhada um palácio de pedras preciosas, onde uma festa acontecia com pompa
e circunstância: boa música, os melhores vinhos, as mais apetitosas comidas,
homens e mulheres belíssimos se acarinhavam amorosamente. Um deles convidou
Maria para dançar e era como se voassem pelo espaço luminoso. Rodopiaram até
uma cama perfumada de ervas, com lençóis macios e ali Maria experimentou uma
noite de amor inesquecível! Na medida em que se vislumbrava a luz da manhã,
Maria percebeu outras mulheres que lhe disseram que se ela quisesse voltar na
próxima lua nova, tinha que guardar segredo do que acontecia ali e assim ela
permaneceria tendo o privilégio de ser mais uma das filhas queridas e protegidas
pela Mãe do Ouro. A nuvem cor de rosa levou Maria de volta a sua cama e ela
acordou para mais um dia ordinário com o coração leve e a alma nutrida por aquela
noite especial.

Pergunta: Quais os seus desejos mais profundos? Você está apegado a alguma
crença antiga que ainda impedem o desfrute do prazer?

Mandinga: Imagine a visão da Mãe do Ouro e cada vez que uma gota se desprende
de seus cabelos, faça rapidamente um pedido, antes que a gota toque o chão.
Mantenha segredo dos seus desejos mesmo depois de concretizados. Consagre um
cristal com a intenção de realizar um desejo e enterre-o em um vaso com uma planta
guardiã que deve ser muito bem cuidada.

Carta / Força 7 – Naruna, a Líder das Amazonas

Com a chegada dos europeus na Terra Pindorama, surge também uma nova
mitologia, fruto da tentativa de aproximar as narrativas do sagrado para estabelecer
conexão entre o colonizador e o povo originário. Veja como o novo mito tem muitas
analogias com a narrativa do Velho Testamento para o mito de Adão e Eva.
Ceucy comeu de um fruto que era proibido às mulheres em período fértil. O
sumo da fruta mapati escorreu pelo seu corpo até as suas partes íntimas e assim,
ela engravidou e deu a luz ao filho do sol: o Jurupari (que significa boca fechada).
Ele veio trazendo a nova lei que decretava que a partir daí; as mulheres passariam a
ser propriedade dos maridos e deviam ser obedientes a eles, permanecendo
caladas, cuidando das tarefas da oca, da colheita e dos filhos. Não deveriam mais
cantar, nem dançar, nem tocar flautas, o que passava a ser prerrogativa dos homens
em dias especiais de festa na grande maloca. As flautas quando tocadas, de certa
forma secreta, faziam com que o espírito do Jurupari se manifestasse trazendo
novas leis e ordens superiores. As mulheres não podiam participar da cerimônia e
nem mesmo se aproximar da grande maloca sob pena de morte.
Ceucy, com muitas saudades do filho, resolveu se aproximar da maloca nem
que fosse para vê-lo de longe e foi fulminada por um raio e morreu. Jurupari foi
chamado para ressuscitar a mãe, mas decidiu que assim ela serviria de exemplo
para as outras mulheres que ousassem desobedecer. Como concessão especial,
por ser ela sua mãe, Jurupari a transformou na estrela mais brilhante da constelação
de Plêiades e elevou-a ao céu, de onde se diz que olha tudo o que acontece no
mundo que ela criou.
Essa nova mitologia que marca a passagem do matriarcado para o
patriarcado no Brasil, inaugura também o tempo do “Kiriri”, a tristeza e o silêncio das
mulheres. O mito da Grande Mãe Brasileira Cy desaparece e as mulheres passam a
ter que obedecer cegamente aos seus maridos.
Muitas delas não quiseram se submeter a nova lei e fugiram de suas tribos,
levando suas filhas, deixando que os homens cuidassem e educassem os filhos
homens e se organizaram na tribo das Icamiabas (mulheres sem marido) ou
Tekoimãs (mulheres loucas ou mulheres sem lei).
O mito de origem da lenda das Amazonas é da etnia kamaiurá e narra a
história das Icamiabas, mulheres que combatiam em pé de igualdade com os
homens que se aventuravam em terras Amazônicas nos séculos V e VI e está
relacionado com a descoberta do Eldorado. Quando o conquistador
espanhol Francisco de Orellana desceu o rio pelos Andes em busca de ouro, a
vitória das Icamiabas contra os invasores espanhóis, foi narrada ao rei Carlos I.
Muitos embates com as Amazonas aconteceram depois disso segundo relatos de
diferentes navegadores.
A Grande Mãe das Icamiabas era Yaci, a lua. A tribo vivia nas proximidades
do rio Nhamundá, mantendo seus rituais e tradições. Na Festa da Vitória recebiam,
durante uma noite, os guerreiros Guacaris, de uma tribo vizinha, para uma noite de
amor. Preparavam um banquete à beira do Lago de Yaci Uaruá, no reino das Pedras
Verdes. Quando a lua cheia estava a pino, caminhavam em procissão, levando nos
ombros potes de água de cheiro que derramavam no lago cristalino para o banho de
iniciação das cunhãs que tinham sangrado pela primeira vez. As jovens índias
mergulhavam no lago e traziam um barro verde que, depois de modelados e, em
contato com o ar, endureciam como pedra. Confeccionavam amuletos mágicos e
protetores em forma de animais ou genitálias, chamados de muiraquitãs. Eram
oferecidos como salvo conduto para os guerreiros guacaris poderem circular pelo
território do Reino das Pedras Verdes. Fazia parte do ritual o mergulho na água sob
o reflexo da lua. Essa descrição contempla o princípio feminino em sua forma mais
pura. Durante o ritual, as índias mais velhas, tomavam uma bebida feita da casca de
uma árvore sagrada e empunhando seus maracás, cantavam a noite inteira. Depois
de nove meses nasciam as crianças, fruto de uma noite de amor na festa da Vitória.
Se nascesse um menino, era entregue aos guerreiros para criá-los após o tempo da
amamentação, mas, se fosse uma menina, ficava com elas.
Naruna, era o nome da líder das Amazonas ou Icamiabas, precursora de uma
resistência feminista. Ela nos inspira a criar as nossas próprias leis, a dar um passo à
frente em direção ao protagonismo de quem luta pelo que é justo, para preservar a
Mãe Terra. Treina as mulheres da tribo para serem excelentes arqueiras e a saber
como se defender. Propõe uma liderança não hierárquica, horizontalizada, onde o
trabalho e as responsabilidades são distribuídos entre todos. Lidera com naturalidade
e organicidade, levando em conta a segurança das mulheres da comunidade.
Passaram a se pintar e usar ornamentos. Fazia parte do ritual dançarem e cantarem
incessantemente, para abrir os caminhos da floresta. Exaltam o ritmo, a
musicalidade e a dança, usando linguagens expressivas importantes para o
padrão de consciência matriarcal, onde o espírito-lua que celebra os ciclos e a
impermanência se sobrepõe ao ego cristalizado e individualista.
Não se sabe da total veracidade da história, e também não se sabe se as
Icamiabas de fato existiram ou não. Mas elas estão presentes em relatos dos
colonizadores espanhóis e, até hoje, suas histórias são contadas na região. Elas
existem, ainda que no imaginário coletivo.
Pergunta: Você sabe para onde está direcionando a sua vida? É capaz de
fazer escolhas conscientes em fidelidade a si?
Mandinga: Estabeleça uma meta e dedique-se diariamente a fazer uma ação
na direção almejada. Um bom arqueiro alinha o seu centro cardíaco com o centro do
alvo a ser atingido.Trabalhe para manter a energia constante e não perder o foco.
Ajude suas amigas a conquistar suas metas. Faça o que estiver ao seu alcance.

Carta / Força 8 – Sabará, a Pedra Reluzente

Quando percebemos que somos uma consciência encarnada num corpo


humano a fim de cumprir uma trajetória de aprendizado e ensinamento, começamos
de fato a refletir sobre o nosso propósito de vida. Nesta busca de uma visão de
mundo com mais lucidez, os cristais nos ajudam a encontrar essa clareza e
equilíbrio.
Os cristais são o DNA da Terra e guardam a indelével lembrança das forças
poderosas que os moldaram. Seja qual for a forma ou tamanho, a sua estrutura
cristalina pode absorver, conservar, concentrar e emitir energia, especialmente na
faixa de onda eletromagnética.

Antigamente as pedras preciosas e semipreciosas só eram usadas por reis e


sacerdotes. Desde a Idade da Pedra, homens e mulheres usam joias e talismãs de
cristal que têm não só uma função ornamental como também de proteção. Os
cristais podem ser usados e programados para várias finalidades como: proteção,
abundância, amor, intuição, cura, espiritualidade, poder…

Ter Sabará, a pedra reluzente, como energia aliada nos ajuda a manifestar a
coragem de Ser quem se é, a ter clareza e discernimento no pensar, a fazer a
palavra andar, a alinhar pensamento, sentimento e ação. É uma ousadia pensar
originalmente, além do que está pré-estabelecido e velho. Ela é aquela que tem a
audácia de derrubar velhos altares e abrir novos caminhos para solucionar velhas
questões.

Pergunta: Você tem sido fiel a si mesma, manifestando suas idéias e


emoções com clareza?

Mandinga: Para programar um cristal, segure-o na mão e abra-se para a


orientação superior. Tenha em mente o propósito pelo qual você gostaria de usá-lo.
Seja específico. Se quiser usá-lo para atrair um amor, descreva exatamente que tipo
de amor está procurando. Se estiver interessado em cura, diga precisamente para
que doença você precisa do cristal e o que quer que aconteça. Quando tiver
formulado a programação, entre em sintonia com o cristal, depois de assegurar-se
de que se trata do cristal certo para o seu propósito. Então, diga em voz alta
novamente: “Eu programo este cristal para [mencione seu propósito]”.

Depois disso, deixe o cristal no bolso, num lugar onde você possa vê-lo com
frequência, ou use-o como um amuleto em um colar ou pulseira.

Carta / Força 9 – Samaúma – A Senhora do Tempo

Viemos a este mundo com um tempo certo para viver nossas experiências e
aprendizados. É um tempo curto e precisamos aproveitá-lo para cumprir nossa
missão na Terra. E que espécie de missão é essa? Num mundo de sofrimento,
viemos aqui para desafiar o tempo/espaço desta existência para aprender como
sermos felizes e trazer benefício aos seres com quem convivemos neste planeta.

A Samaúma é uma das maiores árvores da Amazônia e pode alcançar 65


metros. Nem um grupo formado por 28 pessoas, todas de braços esticados e mãos
dadas, foi suficiente para dar um abraço em torno de toda a Vovó. Vovó é o nome de
uma samaúma com mais de 45 metros de perímetro, árvore que vive na Floresta
Nacional do Tapajós, unidade de proteção federal criada em 1974, que, na margem
direita do Tapajós, engloba enormes áreas de mata nativa e árvores centenárias.
Segundo os moradores, Vovó teria 1.200 anos.
No percurso até Vovó, samaúmas mais modestas servem para mostrar como
alguns povos indígenas se comunicavam na mata - uma pancada certa na árvore
provoca um estrondo. A samaúma também é fundamental para os povos da floresta
amazônica,pois bater em suas raízes, chamadas de sapopembas faz com que elas
ecoem por grandes distâncias, anunciando a presença de alguém em seu tronco,
avisando da presença de invasores ou de pessoas perdidas na mata. É considerada
o telefone da floresta.

Sua copa aberta, frondosa e horizontal permite avistá-la ao longe servindo de


referencial e ponto de apoio na orientação de navegantes e mateiros. A largura de
suas sapopembas (raízes) também impressiona e é fundamental à biodiversidade:
ela consegue retirar a água das profundezas do solo amazônico e trazer os minerais
não apenas para abastecer a si mesma, mas também pra repartir com outras
espécies. Sua copa, por sua vez, serve como guarida para pequenos animais que se
abrigam sob ela. A árvore apresenta propriedades medicinais desde as cascas,
folhas e raízes, e é considerada pelos povos da floresta, uma árvore com poderes
mágicos, protegendo inclusive as demais árvores e os habitantes da floresta onde
ela vive. Por isso, aqui no nosso Juremar nós a elegemos como o Verdadeiro
Refúgio. Os indígenas consideram que ela é “a mãe” de todas as árvores.

Pergunta: Quem ou o quê você considera um verdadeiro refúgio para os


momentos de crise? Você tem acolhido pessoas que possam estar precisando da
sua proteção?

Mandinga: Construa um lugar de acolhimento, de respiro, um lugar para


relaxar e se sentir seguro. Um casulo para as suas transformações. Compartilhe
com quem precisa. Pode ser um cantinho dentro de casa ou algum lugar na natureza
onde você se sinta seguro e relaxado. O seu lugar de poder.

Capítulo 10 – Caiena – a Gira das Gargalhadas.

Caiena, Mestra Paulina, Ritinha, Maria do Bagaço, Maria do Acais, Luziara,


Madalena, são tantas que faltariam linhas para caber o nome de todas. Mas o certo,
é que são amadas pelo seu povo, que dão a elas os nobres títulos de madrinhas,
mães, mestras ou, simplesmente amigas.

Caiena e suas companheiras de fato são atemporais. Onde elas passam


transmitem sabedoria, consciência de si, no aspecto feminino do respeito pelo corpo
e pela autovalorização pessoal. Além, claro, de sua forma peculiar de lidar com
certas situações e de não se preocupar com as críticas em torno de sua presença e
dos seus trabalhos. É um desafio ser uma Mestra, num espaço onde o homem tem
papel preponderante. Mas, atualmente, muitos terreiros já tem a predominância da
mulher (Mestra/madrinha/mãe de santo), no comando desse legado. É muito bom
saber que essas casas desapegaram de “antigas tradições” e hoje, elevam o culto
dando maior visibilidade a elas, as Mestras da Jurema. Não deixando obviamente,
de saudar com toda pompa e respeito; os senhores mestres.

Mestras traduzem com fineza e respeito o sentimento humano, por caberem a


elas a direção de trabalhos, simpatias e feitiços ligados ao amor. Ambientes onde há
presença de Mestras sempre é carregado de graça e descontração. São capazes de
rir de si mesmas e de pessoas que se acham muito importantes. Não dramatizam as
adversidades ou as dramatizam até o ridículo. Mostram todo seu aprendizado, sua
ciência e o conhecimento adquirido no cotidiano e na trajetória de Mestra Juremeira.

No tarô elas correspondem ao Arcano da Roda da Fortuna e de fato tem sabedoria


de sobra para nos ensinar a nos manter centradas em meio ao caos que as vezes
assola nossas vidas. Podemos nos sentir muito dispersas quando às vezes
precisamos de atenção múltipla: crianças, contas, o trabalho e todas as nossas
outras responsabilidades. Você pode estar passando por uma grande mágoa ou
tentando resolver uma coisa, então um telefone começa a tocar ou uma mensagem
de texto entra. Todo mundo no trabalho quer tudo pra ontem, e multitarefas virou
palavra da moda. É fácil ficar desgastado e sem energia - como se você fosse um
pato na galeria de tiro apenas indo para frente e para trás até que algo acerte você.
Pergunta: Você é capaz de transformar energia negativa em positividade? Você é
capaz de rir de si mesm@ e do seu sentimento de auto importância?

Mandinga: Centramento é o que precisamos quando estamos no meio de uma


situação caótica, cheia de interferências, altos e baixos. Para reforçar sua conexão
consigo mesm@ e encontrar equilíbrio é preciso colocar as coisas em perspectiva.
Pare por alguns minutos e traga sua atenção para a respiração. Parece óbvio, mas
no momento em que você está sob intensa pressão é comum não perceber que sua
respiração acelera na mesma velocidade em que você tem a sensação de que nada
mais vai dar certo. Controle-a, expire mais longamente. Distancie-se - Respire fundo
– de novo, essa é a chave—dê dois passos para trás e avalie, com um olhar “de
fora” o que se passa à sua frente. Permita que os céus se movam.

Carta / Força 11. Amanacy – A Mãe da Chuva

A origem do nome Amanacy é Tupi: significa a Mãe da chuva e é também o


nome do pássaro que anuncia a chuva. Não encontrei muitas referências mitológicas
a esta face da Grande Mãe, mas citações nos revelam que era uma regente do
tempo; quando ficava com raiva trazia as nuvens escuras de chuva e as
tempestades, causando grandes prejuízos e devastações e o bom humor deixava o
céu da cor dos seus olhos.

É um arquétipo que nos fala de destruição e fertilidade. Punindo os que vivem


em desarmonia com a natureza e garantindo boa colheita para os que trabalham
conscientemente gerando e distribuindo riquezas. Ela nos ensina a preservação dos
recursos naturais, para garantir o futuro das próximas gerações. A chuva são as
lágrimas da Grande Mãe Natureza vendo como a humanidade trata com desprezo
toda a preciosa beleza e perfeição que é oferecida generosa, abundante e
graciosamente.

Nestes tempos de tanta desigualdade social, é bom meditar sobre a forma


como estamos usando os recursos naturais do planeta, cuidando do nosso lixo e
consumo com consciência e responsabilidade pelas consequências. A Mãe Terra
não aguenta mais tanto lixo.

Pergunta: Você está consciente da necessidade de usar os recursos naturais


do planeta com responsabilidade? O que tem feito a este respeito? Tem sido
solidária e feito ações para minimizar o sofrimento dos que tem menos condições do
que você?

Mandinga: Vamos reverenciar Amanacy: recolha água da chuva em vasilhas


para nossos altares e trabalhos mágicos, lembrando que este é um recurso precioso,
gerador de vida. Guarde-as para seus rituais e medicinas. Celebre você também o
poder purificador da chuva, tome um banho de chuva, dance na chuva, “lavando”
sua alma e seus aborrecimentos. Peça a Amanacy que suas dádivas venham na
medida certa. Faça uma guia de lágrimas de Nossa Senhora para lembrar sempre
do olhar compassivo de Amanacy.

Carta/ Força 12 – Iracy , a Mãe do Mel

Iracy é uma Deusa nativo-brasileira da tribo Ikpeng que vive na região do


Xingu, no estado do Mato Grosso. A Deusa do mel nos ensina a usufruir da doçura
da vida e a crer que nosso trabalho traz recompensas. Ela revela o dom de cada um
para que sejamos capazes de amar o que fazemos e trazer benefícios para todos.
Celebre a Deusa Abelha sempre que você precisar redescobrir a alegria de viver,
quando você precisar de sorte e quando quiser agradecer pelo que você é e recebeu
nesta Vida.
Iracy é uma mulher transformada em abelha. Sua dádiva – o mel – era
acolhida entre os diversos povos indígenas como um néctar muito especial. Muitas
tribos festejam a “Festa do Mel”, uma comemoração da coletividade, com festas e
danças.

O nome científico da classe das abelhas – Hymenoptera – que significa “asas


de véu” refere-se ao hymen, o véu que ocultava o altar interno nos templos da
Deusa, assim como sua contraparte no corpo feminino. A defloração era um ato
sagrado realizado com a bênção da Deusa no seu aspecto de Hymen, a padroeira
da noite de núpcias e da lua de mel, que tinha a duração de um ciclo lunar e
menstrual. A combinação de sangue menstrual com mel era considerada
antigamente o elixir sagrado da vida, o néctar criado por Afrodite e ingerido pelos
seus sacerdotes e adeptos.

Aqui no Brasil e também em outras partes do mundo, recentemente, as


abelhas estão morrendo aos milhões por causa do uso de agrotóxicos. A vida das
abelhas é crucial para o planeta e para o equilíbrio dos ecossistemas, já que, na
busca do pólen, sua refeição, estes insetos polinizam plantações de frutas, legumes
e grãos. Esta polinização é indispensável, pois é através dela que cerca de 80% das
plantas se reproduzem. Einstein dizia que se as abelhas fossem extintas, em pouco
mais de 4 anos os homens também seriam extintos por falta de alimento. Morreriam
de inanição.
Pergunta: Você tem manifestado a sua doçura recentemente? Percebe como
isso é poderoso, gerando empatia e boa vontade no seu entorno?
Mandinga: Dizem que Iracy tem a magia que faz com que os amantes se
lembrem um do outro. Você só precisa pedir a ela que faça o seu amor lembrar de
você e imediatamente isto acontece. Peça a Iracy que revele os seus dons, ela é
uma espécie de fada-madrinha, assim você se manifesta em espontânea
originalidade, oferecendo para o mundo suas melhores qualidades e virtudes. Use o
mel como medicina para atrair bons fluidos: na boca para adoçar a palavra, na
testa para trazer a lucidez, nas portas para atrair o amor dos deuses, no corpo
para aumentar a energia e no altar para buscar respostas...

Carta / Força Treze – Ibiracy, a Mulher Árvore

Há muito tempo atrás, antes de aparecerem os humanos de duas patas na


Terra, todas as mulheres, antes de serem mulheres foram árvores, tinham raízes
que as faziam ser uma com a Mãe Terra, mãos compridas e ressecadas feitas de
troncos e cascas, e compridos cabelos que se cobriam de folhas, flores, frutos e
pássaros que cantavam na primavera.
Elas viviam nos recantos mais belos, nutriam-se do sol, da água, do vento e
nunca estavam sozinhas, pois estavam rodeadas por todas as criaturas do bosque
tanto terrenas como todas as criaturas mágicas que possas imaginar. Também eram
cuidadas e nutridas pela árvore mais sábia de todas, à que chamavam “Avó Árvore”,
uma árvore tão antiga que conhecia todos os segredos sobre a vida e sobre a morte.

As Mulheres Árvore tinham muitos poderes, comunicavam-se sem usar as


palavras, moviam os elementos sem ter mãos e podiam sentir a todos os seres da
natureza através da rede profunda que formavam com as suas raízes por debaixo da
terra.

Um dia, começaram os tempos de guerra, mortes e destruição, alguns dizem


que a causa foi a ambição pelos reinos, pelo poder e pelas riquezas. Foi uma época
terrível, onde muitas Mulheres Árvore foram convertidas em madeira e queimadas
como forma de gerar calor. Com estes acontecimentos, para poder manter vivas as
suas filhas, a Avó Árvore permitiu que se desenraizassem e ganhassem pés para
que pudessem correr e esconder-se longe de perigo. Assim, as Mulheres Árvore
tiveram que aprender a caminhar e a sobreviver sozinhas, em troca perderiam as
suas raízes e o seu vínculo com a Mãe Terra e todos os seres que nela habitavam, o
que lhes causava uma grande dor e tristeza, mas era a única forma de sobreviver e
conservar a tradição das Mulheres Árvore.

Então, a Avó Árvore, com o desejo de nunca mais separar-se deste bosque
de donzelas e num ato de amor profundo pelas suas filhas, abençoou todas as
mulheres com uma árvore no seu ventre, e esta árvore transformou-se no que hoje é
o nosso útero. Assim todas as mulheres podem recuperar o seu enraizamento à Mãe
Terra nutrindo-se do seu amor, pois o útero é o vínculo com a sua verdadeira
essência. No seu centro está a forma de como recuperar a razão primeira do que é
ser mulher. E o maravilhoso da bênção da Avó Árvore é que tenhamos ou não um
útero físico, sempre teremos um útero energético que ninguém nunca nos poderá
tirar.

Esta árvore que está em nosso útero nos conecta com a vida e a morte.
Quando damos nascimento à uma criança, estamos no mesmo instante
condenando-a à morte. Isto porquê a natureza da vida-morte-vida é uma só. É
através da observação e da comunhão com as árvores que aprendemos sobre a
natureza cíclica. Esta é uma das faces misteriosas do Divino Feminino que
precisamos honrar.
Quando nos aproximamos da natureza com respeito, humildade e entrega,
ela compartilha muitos de seus segredos. Dizem que todas as respostas estão
dentro de nós e sinto que elas podem ser acessadas com bastante facilidade
quando estamos entre árvores, rios, mares, animais, flores.

Ao observar os ciclos da natureza da vida-morte-vida, compreendi


definitivamente o que significa o velho ditado: “não há mal que sempre dure, nem
bem que nunca se acabe”. Porque a transformação constante é necessária à
manutenção de toda vida. É preciso aceitar a transformação. Observando a natureza
cíclica, percebemos como nossos próprios corpos e toda a vida em nosso entorno,
tudo, absolutamente tudo, passa por nascimento, plenitude e declínio, seguido de
um renascimento e assim por diante. Neste exato instante milhões de células da sua
pele morrem e outras tantas nascem, num milagre cotidiano.

Foi apenas quando compreendi esses ciclos de vida-morte-vida que entendi


que morremos e nascemos várias vezes na mesma vida. São muitas mortes que
temos de enfrentar de projetos, relacionamentos, vínculos, modo de fazer certas
coisas, enfim, quantas dessas situações chegam ao seu clímax e precisam
naturalmente caminhar para seu fim.

Para Clarissa Pinkola Estés, autora do Best Seller “Mulheres que correm com
os Lobos”, amar significa emergir de um mundo de fantasias para um mundo real,
onde o amor duradouro é possível. O que morre? As ilusões, as expectativas, a
voracidade de querer tudo, de querer que tudo seja lindo, tudo isso morre. Como o
amor sempre provoca uma descida até a natureza da morte, podemos perceber por
que é preciso grande poder sobre si mesmo e plenitude da alma para assumir esse
compromisso. (...)
“Às vezes aquele que está fugindo da natureza da vida-morte-vida insiste em
pensar que o amor é apenas uma dádiva. No entanto, o amor em sua plenitude é uma
série de mortes e de renascimentos. Deixamos uma fase, um aspecto do amor, e
entramos em outra. A paixão morre e volta. A dor é espantada para longe e vem à
tona mais adiante. Amar significa abraçar e ao mesmo tempo suportar inúmeros finais
e inúmeros recomeços — todos no mesmo relacionamento.”

As perguntas e mandinga são sugeridas pela própria Clarissa Pinkola Estés em seu livro.

Mandinga: meditar sobre a natureza da vida-morte-vida” , respondendo para si


mesma as seguintes perguntas:

• Ao que eu preciso dar mais morte hoje, para gerar mais vida?
• O que eu sei que precisa morrer mas hesito em permitir que isso ocorra?
• O que precisa morrer em mim para que eu possa amar?
• Qual é a não-beleza que eu temo?
• Que utilidade pode ter para mim hoje o poder do não-belo?
• O que deveria morrer hoje?
• O que deveria viver?
• Qual vida tenho medo de dar à luz?
• Se não for agora, quando?
Carta / Força Catorze – Diarum, a onça preta

Aprendi com Kaká Werá Jacupé que a arte da espreita está ligada ao
coração, assim como a mestria da consciência de Ser está ligada a mente e a
mestria do propósito ou intento, como ele chama, está ligada ao espírito.

Nesta batalha silenciosa para alcançar nossos objetivos, temos que ter um
domínio sistemático do nosso comportamento. A espreita é uma forma de relacionar-
se com as pessoas visando afinar e desenvolver o observador de Si.

Segundo Castaneda, as mulheres são naturalmente mais afeitas à espreita que


os homens, Ele nos ensina que temos que aprender 4 passos: implacabilidade,
esperteza, paciência e doçura .

“A arte da espreita é um conjunto de procedimentos e atitudes que possibilita a


um guerreiro conseguir o melhor de qualquer situação concebível. “

Para isso seguem algumas regras básicas:

• escolher o campo de batalha

• descartar tudo o que não é necessário pois seu objetivo é ser simples e direto
ao ponto

• cada batalha é a batalha da sua vida, não se pode descuidar

• relaxar e confiar, sem nada temer para que os guias possam nos ajudar

• diante de dificuldades intransponíveis, recuar por um momento. Dar um tempo


e se ocupar com outra coisa

• comprimir o tempo. Um instante é uma eternidade e essa eternidade pode ser


decisiva

• olhar para frente por detrás da cena.

Estas regras gerais sobre a arte da espreita me remetem a atitude da nossa


Diarum, a onça preta. Ela prepara cuidadosamente o bote antes de atacar e é
praticamente impossível escapar dela. Ela observa primeiro todos os detalhes,
comprime o tempo e parte para cima sem nenhuma dúvida ou receio, calculadamente.

Na tradicional sadhana tibetana, a Mandala de Tara, o atributo equivalente é a


Feroz Compaixão. A energia da Mãe que impede qualquer perigo na proteção de seus
filhos. Ela grita, bate, faz o que for preciso para trazer consciência de que há um perigo
iminente que precisa ser eliminado. Ela não age só por instinto, mas por compaixão,
faz o que precisa ser feito.

Diarum, a onça preta, é este olho brilhante que tudo pressente como no
ensinamento da espreita de Carlos Castaneda e ao mesmo tempo tem a capacidade
de dar o bote e fazer o que precisa ser feito para trazer consciência a uma situação
perigosa, eliminando os obstáculos do caminho da beleza e da harmonia. Com ela
aprendemos a dar limites e inspirar respeito e admiração.

Pergunta: Com o quê você tem sido excessivamente condescendente? Quais os


limites ou ações enérgicas são necessários para trazer equilíbrio à uma situação?

Mandinga: Espreitar significa observar secretamente. Eleja quem ou o quê você


deseja espreitar e tente fazer isso ficando invisível . Respire pela boca e pelos poros
com se você fosse uma peneira, esconda-se o melhor que puder e observe de um
bom lugar onde você veja tudo e ao tempo esteja não seja percebido. É como
brincar de detetive. Revele-se quando e se achar apropriado.

Carta / Força 15 – Yara , a Sereia Brasileira

“Se gostei e gozei muito do Amazonas, a verdade é que vivi metido comigo por todo
o caminho largo de água”. O turista Aprendiz – Mário de Andrade.

A palavra Iara é de origem indígena. Yara significa “aquela que mora na


água”. Contam os índios da região amazônica que Iara era uma excelente guerreira.
Os irmãos tinham ciúmes dela, pois o pai a elogiava muito. Certo dia, os irmãos
resolveram matar Iara. Porém, ela ouviu o plano e resolveu matar os irmãos, como
forma de defesa. Após ter feito isso, Iara fugiu para as matas. Mas o pai a perseguiu
e conseguiu capturá-la. Como punição, Iara foi jogada no Rio Solimões. Os peixes
que ali estavam a salvaram e, como era noite de lua cheia, Iacy, em sua compaixão,
a transformou numa linda sereia.

A lenda conta que é nos rios do norte do país, nas pedras das encostas, que
Yara costuma viver. Ela tem longos cabelos; ora verdes, ora castanhos, um
espelho e um pente. Seus cabelos são fortes e ela se admira no espelho, na
mesma hora em que sai da água para venerar e se banhar à luz da lua. É de uma
beleza apaixonante, e por isso pode cegar quem a vê ou encantá-lo com seu canto,
atraindo a pessoa para o seu lar nas profundezas do rio, de onde as vítimas nunca
mais voltam. Os poucos que conseguem emergir acabam ficando loucos em função
dos encantamentos da sereia. Neste caso, conta a lenda, somente um ritual
realizado por um pajé muito poderoso pode livrar o homem do feitiço.
Há quem diga que se tornou um espírito vingativo. Ser encantado pela beleza
da Yara é algo irreversível: ou se submerge na escuridão dos rios e ali se fica para
sempre, ou se permanece na solidão da vida coletiva, sempre com a cabeça e/ou o
coração atraídos por ela. A Yara vem evocar a anima em seu aspecto sentido como
ameaçador, aspectos que num período da história foram abominados num caldeirão
de outras qualidades e por isso muitas de nós foram queimadas na fogueira,
torturadas, vigiadas e violentadas, porque tinham sabedoria, sensualidade
aflorada, autonomia em relação às escolhas sexuais e reprodutivas. Muitas de nós
fomos sufocadas na sombra daqueles que têm a atitude da consciência rígida e
polarizada. A Yara também pode simbolizar uma versão vingativa do encontro dos
índios brasileiros com os portugueses.
Instabilidade, imprevisibilidade, eros aflorado, princípio do prazer, são
ameaças ao controle e à razão, características do padrão de consciência
patriarcal. Também são qualidades atribuídas ao demônio, representado no
Arcano XV do Tarô, o aspecto Dionisíaco, impossível de controlar.
O envolvimento com a sensualidade anímica que encontramos facilmente
nas histórias de sereia fica também concentrada nas mulheres que representam as
que são banidas, marginalizadas, demonizadas, encontradas na figura de Eva,
Lilith ou de prostitutas. À partir da “caça às bruxas " na Idade Média, surgiu um
novo modelo de feminilidade: a mulher como esposa ideal— passiva, obediente,
parcimoniosa, casta, de poucas palavras e sempre ocupada com suas tarefas"
(FEDERICI, em Calibã e a Bruxa). Para os Jesuítas também foi impossível associar
a Grande Mãe Brasileira Cy em sua dança extática e criativa com a pura e casta
Virgem Maria, em sua imagem distorcida pelo patriarcado. Cy também foi caçada.
Mais uma vez na história do Brasil, a postura europeia colonialista,
cartesiana, fálica, de exclusão, negação, imposição da razão, com algo de
paranoico, avança sobre as tentativas de sobrevivência de um povo mais
abrangente, integrado, agregador, bastante relacionado ao princípio feminino. Nas
diferentes culturas indígenas no Brasil, uma coisa é certa somos todos filhos e parte
da Mãe Terra. A discriminação com respeito ao feminino presente nas
caboclas indígenas e na cultura afrodescendente remete à inquisição contra as
bruxas medievais que receberam projeções negativas do feminino, que passou a
ser visto como perigoso a serviço de instrumentos de controle e dominação,
sobretudo do ponto de vista reprodutivo.
O espelho que a Yara carrega, ou ainda que ela representa, nada mais é do
que o reflexo sombrio daquilo que quem a olha não é capaz de enxergar em si
mesmo. A Yara da mitologia brasileira simboliza, dentro dos sincretismos culturais, a
integração das características femininas de sedução e fertilidade de Oxum e de
Yemanjá, de origem africana, da serenidade e proteção das santas católicas de
origem europeia, e da agressividade e independência das caboclas, de origem
indígena.
Pergunta: Você tem alguma aspiração ou desejo que não admite?

Mandinga: Consagração do espelho mágico. Prepare e decore seu espelho


mágico. Magnetize o seu espelho com a seguinte oração: “Meu nome é… (o nome com
que você foi batizado nesse Juremar ou seu nome espiritual) e sou um ser luminoso,
chei@ de vida, sabedoria, força e beleza. Eu sou poderos@ e canalizo todo o poder e
energia do meu espírito imortal. Eu estou em comunhão com a minha natureza
essencial e sou uma energia dinâmica e ilimitada. Eu sou Vontade. Eu Sou Amor. Eu
Sou Luz. Olhe para o seu espelho e perceba que a divindade está na Presença, na
força e expressão do olhar de quem olha através de seus olhos. Abra-se para o
aspecto da oração, que é estar em comunhão com o espírito. E, assim, de repente,
perceba que é @ Deus/a que está rezando para @ Deus/a. A pessoa que você
conduziu para ser você mesmo é apenas um espelho no qual a luz divina reflete sobre
si mesma. Agradeça à divindade que te habita e agradeça por ser quem você é.
Aprecie e olhe amorosa e compassivamente este ser maravilhoso que é você. Guarde
cuidadosamente o seu espelho mágico envolvido num pano de sêda e use-o
intuitivamente como ferramenta de lembrança de si, para ampliar sua visão espiritual e
como escudo de proteção. Use seu espelho voltado para fora, quando precisar se
proteger das projeções de outras pessoas, devolvendo a elas a sua própria energia e
imagem.

Carta / Força 16 – Oribá, a Rainha das Vassouras

Não se sabe a exata origem das Bruxas, constam relatos de que elas existem
desde os primórdios da humanidade. As práticas de bruxaria envolvem rituais
simbólicos desde os tempos neolíticos, onde havia ilustrações dos rituais de
adoração às deusas da fertilidade dos povos primitivos. Dessa forma, as
experiências visionárias, rituais de caça e cerimônias de cura sempre estiveram
presentes nos símbolos e metáforas de várias culturas. Por aqui, também tivemos
nossas bruxas: raizeiras, benzedeiras e parteiras. Mas desde sempre, mulheres de
sabedoria incomodavam por transgredir as hierarquias e valores patriarcais.

Mas as vassouras ficaram associadas às bruxas da Idade Média e até hoje


quando elas são representadas, estão sempre voando com uma vassoura entre as
pernas. Isso sempre me intrigou até que eu descobri a história do vôo das
vassouras!
Durante a idade média uma droga começou a ser comumente usada pelas
pessoas para induzir o sono e até mesmo alucinações, essa droga era um fungo
chamado ergot of rye (esporão de centeio), esse fungo é da onde o LSD é extraído,
então você pode entender o que ele é capaz de fazer.

Essas drogas eram muito comuns entre mulheres pagãs na Europa daquele
período. Elas gostavam de usar para se embriagarem e terem um escape da horrível
realidade que elas viviam. Contudo, a maioria dessas ervas e fungos provocava uma
série de efeitos colaterais como náusea, vômito e alergias quando ingeridas, e não
demorou muito para que as bruxas descobrissem que todos esses problemas
podiam ser eliminados se as poções fossem absorvidas através da pele. E mais: que
algumas partes do corpo absorviam essas substâncias de maneira mais eficiente,
que eram as glândulas sudoríparas das axilas e as mucosas da genitália feminina.
Com esse conhecimento em mãos, logo a mulherada começou a produzir poções
mais espessas e bálsamos afrodisíacos, e, como as vassouras estavam sempre por
perto, logo elas começaram a ser usadas com fins recreativos — por assim dizer.

Oribá tem uma vassourinha cheia de florzinha. Ela varre os caminhos , varre
todo o nosso lar, varre prá longe os feitiços e ela pode inté voar.” No passado, a
mulherada costumava fazer uso de ervas para fazer suas vassouras e também para
preparar suas medicinas. Aqui no Brasil , temos uma erva chamada vassourinha de
Nossa Senhora muito usada pelas mulheres de sabedoria de várias Tradições
religiosas para limpar energéticamente suas casas e os lugares onde faziam seus
rituais. E também usavam outras ervas de poder de acordo com o resultado que
queriam obter. Ervas e mulheres andam juntas desde muito tempo. A intimidade das
mulheres com as vassouras dispensa toda a explicação.
O mundo espiritual não é muito diferente do mundo físico e ambos estão
completamente interligados. Então é fácil entender que é preciso limpar
energeticamente o seu corpo, sua casa e o local do seu ritual quando percebemos
que a energia está estagnada, perceba como o ambiente fica pesado, perceba a
densidade da energia que esse hábito de negligenciar a limpeza do ambiente e do
campo energético traz, você não precisa ser médium pra perceber isso.

Pergunta: Onde você percebe que precisa fazer uma limpeza energética? No seu
corpo, casa, altar, em tudo?

Mandinga: a limpeza energética com a vassoura, feita artesanalmente com ervas


serve para limpar miasmas astrais, energias negativas que entram na casa, entre
outros...
Quais ervas você pode usar para fazer uma vassoura?

Ervas como arruda, quebra demanda, comigo-ninguém-pode, entre


outras poderosíssimas que tiram energias negativas presentes na casa
que podem ser causadas por espírito encarnados ou não, mas é sempre
bom fazer uma meditação pra tentar entender melhor qual energia
presente pode estar atrapalhando a harmonia do lar para entender
melhor qual erva usar.

Como usar a vassoura?

Você pode “varrer” o lugar com a vassoura tocando ou não o chão, você
pode colocá-las atrás de sua porta de entrada da casa ou de cômodos
específicos, vai de você escolher isso como vai usar e com qual
frequência. Use sua intuição.

Não se esqueça de procurar a vassourinha de Nossa Senhora. Oribá,


nossa bruxa brasileira adora essas vassourinhas de florzinha.
Capítulo 17 – Catxerê a Estrela Guia, a Rainha do Céu.

O mito
Esta é a história de Catxerê, a mulher estrela, que desceu do céu, dormiu
com o índio e ensinou os Kraô a plantar e preparar o milho, batata, inhame,
mandioca e amendoim.

Foi assim:
O último rapaz solteiro da tribo dormia sozinho, sobre a sua esteira, no pátio
da aldeia. Uma estrela o viu lá de cima, e, condoída, resolveu casar com ele. Para
isso, transformou-se em um sapo e, pula que pula, subiu em seu peito. O
dorminhoco acordou assustado e, com um tapa, atirou-o no chão. Mas então o sapo
virou formosa mulher e dormiu com o jovem.

Pela manhã, a cunhantã diminuiu de tamanho. Ficou tão pequenininha que


pediu ao noivo que a guardasse na cumbuca que estava pendurada no fumeiro.
Durante o dia, o índio tirou a cumbuca de lugar, destampou-a e sorriu para a moça
que lá estava encerrada. Quando saiu para caçar, recomendou que ninguém
mexesse naquilo, mas a irmã dele, cheia de curiosidade, abriu-o e descobriu lá
dentro a minúscula mulher.

Ao voltar, examinou o nó tradicional da sua tribo e compreendeu que


alguém havia violado seu segredo. Zangado, declarou que viveria com Catxerê,
como marido e mulher. Arrumou as suas camas dentro de casa. À noite, ele tirou a
moça da cumbuca e Catxerê cresceu, tornando-se alta e bonita. Pela manhã foram
banhar-se juntos no rio, e ela viu uma árvore grande, cheia de espigas, que os
periquitos beliscavam. Catxerê ensinou então, aos Kraô como se planta, colhe e
prepara o milho, assim como a mandioca, o inhame e o amendoim, que até então
não eram conhecidos, pelos indígenas que se alimentavam de pau puba.

Mandou o rapaz fazer uma roça. Ensinou-lhe a derrubar com o facão, a


carpir, a plantar. Depois disse: “Agora volto ao céu, onde vivem meus parentes, e
trarei mudas de batata, inhame, mandioca, amendoim, para plantar na roça”. Logo
depois voltou. Tudo foi plantado e os índios adotaram para sempre as plantas ali
cultivadas.

Uma noite, porém, quando o índio andava a caça, apareceram em sua casa
cinco homens que, sabendo de sua ausência, violentaram a mulher-estrela. Depois
deitaram-se para dormir. Ela aproveitou o seu sono e cuspiu na boca de todos eles,
matando-os. Os Kraô davam grande importância mágica ao cuspe. Quando o marido
voltou, contou-lhe tudo e subiu para o céu. E nunca mais voltou....
Inúmeras são as Deusas-Estrelas por nós conhecidas na mitologia. Nossa
brasileirinha deusa Catxerê é uma divindade estelar que nos desperta a intuição e
nos ajuda a perder o medo de nos mostrar como somos, sem máscaras,
manifestando o nosso direito essencial de brilhar em paz. Ela confia em si mesma,
no outro e na própria existência.
Pergunta: Quais as suas maiores qualidades? Quais os dons que você
aprecia em Si?
Mandinga: Faça uma lista das coisas que você herdou de seus
antepassados e que você considera uma boa herança: qualidades do corpo físico,
emocional, mental e espiritual. Faça um inventário e faça um pequeno ritual de
agradecimento pelos dons e heranças genéticas que o constituem. Aprecie-se e
brilhe em paz.

Carta / Força 18 – Yaci, a mãe da Lua

Do ponto de vista arquetípico a lua representa o inconsciente, as nossas


emoções mais profundas, nossas memórias ancestrais. Estas marcas cármicas que
vêm de padrões familiares precisam ser dissolvidos através do perdão. O Perdão é a
grande prática e lição que precisamos aprender aqui. É a única forma de dissolver
os nós em que ficamos aprisionados e com o que aprisionamos também os outros.
Ouvi de um grande mestre sufi que o Perdão significa que você desiste
completamente de querer que o passado possa ter sido diferente do que foi.
Significa deixar o passado no passado e criar conscientemente uma relação melhor
hoje para ter o que celebrar no futuro. De nada adianta remoer o passado. Isso não
muda nada. “Hoje, já foi o seu futuro!”
Yaci era a própria Mãe Natureza, seu nome sendo composto de Ya (senhora)
e Cy (mãe), a senhora Mãe, fonte de tudo, manifestada nos atributos da Lua, da
água, da natureza, das mulheres e das fêmeas.
Cy – ou Si – representa, portanto, a origem de todas as criaturas, animadas ou não,
pois tudo o que existe foi gerado por uma mãe que cuida da sua preservação, do
nascimento até a morte. Sem Cy (mãe), não há nem perdura a vida, pois ela é a
Mãe Natureza, o princípio gerador e nutridor da vida. Ela é a senhora absoluta dos
ritmos da vida e da morte e rege todos os ciclos.
Ela aparecia em duas formas: Yaci Omunhã (Lua Nova) e Yaci Icaua (Lua
Cheia). É dito que Sumá, deusa guerreira da ira, era sua filha com Tupã. Também
teria sido mãe de Aracy com o mortal Itaquê.
Tornou-se mãe dos frutos, presidindo a vida vegetal, e controlava os gênios
das florestas como o Saci, o Boitatá e o Curupira. Ela teria ensinado ao primeiro pajé
como apaziguar os espíritos malignos e a conversar com as almas dos
antepassados.

Em algumas mitologias dos povos originários, Yaci também assume


aspectos masculinos como já vimos nos mitos de Tatacy e na lenda da Vitória Regia.

São muitas as lendas sobre Yaci,


Conta a lenda que Jaci é a deusa da lua e da noite, dos amantes e da reprodução
na mitologia tupi-guarani. Filha-irmã de Tupã, pois acreditam que Tupã disse "não
terei apenas filhos, pois todos são meus irmãos, e irmãs, mesmo que venham de
mim" sendo assim, todos os deuses tupi-guarani (brasileiros) são tidos como filhos-
irmãos de Tupã. Yaci foi criada por para ser a Rainha da Noite e trazer suavidade e
temor para os homens. Mas, depois que a criou, Tupã caiu de amores pela sua
beleza e a tomou como sua esposa.

O amor de Guaraci e Yaci

Outra lenda conta que Jaci foi criada pelo Deus Sol Guaraci (ou Coaraci). Um
dia, Guaraci estava muito cansado e por isso teve que fechar os olhos para
descansar um pouco. Com os olhos fechados, tudo foi abraçado pela escuridão e
então, para iluminar tudo enquanto ele dormia, ele criou a lua, Yaci. Ela era tão linda
que Guaraci logo se apaixonou. Infelizmente, quando ele abria os olhos para admirar
a lua, ela sempre desaparecia. Então ele criou Rudá, o Amor e seu mensageiro,
para que ele pudesse dizer a Yaci o quanto ele a amava. Além disso, Guaraci criou
as estrelas para estarem com ela enquanto ele dormia.

Outra versão: Yaci estava vagando pela Floresta amazônica, quando viu
Guaraci. Ele era um guerreiro bonito, com olhos de fogo, pele dourada, e uma
energia radiante. Guaraci observou Yaci e caiu fulminado de amor com sua beleza
prateada e sua timidez. Conforme eles declaravam seu amor um pelo outro, Guaraci
começou a queimar com tal paixão que ele percebeu que estava colocando a Terra
em perigo. Ao mesmo tempo, Yaci estava tão dominada pelo amor que ela começou
a chorar lágrimas de felicidade, que quase inundaram a Terra.
Incapazes de controlar suas emoções, Yaci e Guaraci decidiram que seria
perigoso demais eles ficarem juntos. Relutantemente, eles concordaram nunca se
encontrarem no mesmo local novamente. Guaraci logo esqueceu Yaci, que se
certificou de nunca aparecer antes que Guaraci durma. No entanto, Yaci ficou tão
inconsolável que ela chorava todas as noites. Suas lágrimas escorriam sobre as
folhas das árvores, formando poças no chão da floresta e descendo pelas
montanhas, criando assim o grande Rio Amazonas.

Pergunta: Você se sente preso a algum aspecto do passado. O que precisa ser
perdoado para que todos os envolvidos possam ser livres e felizes?

Mandinga: A Lua é a senhora de todas magias, mas a mais poderosa e difícil é o


Perdão. Para consagrar Yaci, celebramos ao luar, com as águas. Perdoar é desatar
todos os nós emocionais com que prendemos uns aos outros, assim reconhecemos
com humildade que não podemos modificar o passado, mas que temos o nosso
poder de enfrentar nossas tendências destrutivas no presente e nos transformamos.
Olhamos para o outro sem julgar e entendemos que todos nós falhamos e
cometemos erros, ferindo uns aos outros, mas com o perdão podemos dar um novo
nascimento às nossas relações.

Carta / Força dezenove – Coaracy , o sol radiante

Apesar deste astro ser considerado o princípio masculino na visão dualista


atual, a análise dos vocábulos nheengatu, como propõe Barbosa Rodrigues, nos
revela sentido diferente. Guará significa “vivente”, e cy é “mãe”, o que formaria a
“Mãe dos seres viventes”, a força vital que anima todas as criaturas da natureza, a
luz que cria a vida animal e vegetal. Assim como em outras tradições e culturas
(japonesa, nórdica, eslava, báltica, australiana e nativa americana), o Sol era
considerado uma Deusa, o que nos faz deduzir que para os tupi a vida e a luz solar
provinham de uma Mãe (Ci) e que só mais tarde foi transformada em Pai.

No matriarcado Pindorama, Guaraci ou Coaracy, era a Mãe Sol, uma energia


primordial, vitalizadora. Ela acalma os pesadelos e põe fim a todas as guerras, nos
fazendo lembrar que não existe nada que não seja a Unidade É a própria
manifestação da compaixão em ação. O amor que cura tudo. A consciência que
surge iluminando e trazendo lucidez em meio ao caos. Coaracy criou os elementos a
partir da sua luz, irradiando a partir de seu centramento.

Se tudo na natureza tem mãe (ou Cy). O dia que nasce é Coaracy, a “Mãe deste
dia”, revelando a primeira visão do sol matinal que nasce para todos, tingindo o céu
de vermelho, emanando um halo de luz rosa amorosa e compassiva. Coaracy nos
mostra que a vida continua e deve ser aproveitada. Como Força Feminina, Coaracy
possui grande energia ensinando-nos a estar presentes no aqui e agora, no hoje
abençoado, nos convida a deixarmos nossa marca no mundo a cada dia, vivendo
plenamente a realidade do agora.
Pergunta: O que precisa ser vivificado hoje?

Mandinga : Aproveite e viva plenamente o presente de mais um dia, 24 horas


inteirinhas para você Ser e desfrutar o Amor.

Carta / Força Vinte – Atiara, o fio de Luz

Um texto antigo chamado Avatamsaka Sutra descreve o universo como uma


rede infinita gerada pelo desejo de Indra, uma divindade hindu. Em cada
conexão dessa rede infinita há uma jóia maravilhosamente polida e
infinitamente facetada, que reflete, em cada uma de suas facetas, as
facetas de todas as outras jóias da rede , infinitamente. Quando qualquer
jóia nessa rede infinita é alterada de qualquer forma, todas as outras jóias
na rede também mudam.

“A profunda inter-relação sugerida pela história da rede de Indra – embora, no


momento, seja apenas uma analogia à teoria científica contemporânea – pode
algum dia revelar-se um fato científico. E essa possibilidade, por sua vez, transforma
toda essa idéia de cultivar a compaixão de uma idéia interessante em uma questão
concreta de imensas proporções. Com uma simples mudança de perspectiva, você
pode não apenas alterar a própria experiência, mas também mudar o mundo.”
Yongey Mingyur Rinpoche, em “A Alegria de Viver”.

Num dos sonhos em que recebi ensinamentos sobre o oráculo do Xamaiar uma
das imagens que veio nitidamente foi a mandala da flor da vida. Como uma teia
luminosa ela envolvia o corpo de quem deveria ser tratado. Neste trabalho de cura à
distância que desenvolvemos como uma das práticas do Juremar Yaci Uaruá,
visualizamos essa teia luminosa vibrando no campo do que está sendo curado em
diversas cores, de acordo com a intuição do xamã para finalmente unificarmos todas
as cores num branco cristalino que se expande infinitamente envolvendo o paciente,
o xamã até finalmente envolver todo o planeta e além.

Neste momento, junho de 2021, estamos vivendo uma pandemia que nos afeta
planetariamente há mais de um ano e o ensinamento de Mingyur Rimpoche sobre
como a compaixão pode mudar o mundo, faz muito sentido para nós. Trabalhando
simplesmente com a visualização da Teia da Flor da Vida, vivificamos o planeta
como um todo para resistirmos ao sombrio aspecto da morte de entes queridos que
o vírus carrega todos os dias.

Atiara é o fio de luz e magnetismo que nos interconecta e que forma a


inteligência cósmica unificada em tudo o que existe.

Pergunta: Quem são as pessoas que com você formam esta rede de apoio
mútuo e que a quem quando você está bem ou mal, isso afeta.

Mandinga: Estabeleça uma rede de pessoas com quem você convive.


Desenhe num papel um coração e escreva ali o nome das pessoas mais próximas e
que você mais ama. Contorne o coração central, desenhando um outro com os
nomes de quem é importante para todos que estão no coração interno e vá
desenvolvendo essa rede aos poucos. Perceba como todos nos afetam direta ou
indiretamente. Comece já a cuidar destas relações como partes de Cy/si mesma.

Carta / Força Vinte e Um – Cy , a Grande Mãe brasileira

Carta / Força Vinte e Dois – Iamana , a Flauta Mágica

A palavra tupi também nos remete a essa conexão: tu significa “som” e pi é


“pé” ou “assento”. Então concluímos que para os povos originários nós somos como
flautas tocadas por Nhanderu Tenondé, o primeiro som criador. Na verdade, a
sabedoria indígena é uma tradição vivencial, é uma tradição mais cantada do que
oral. Como diz poeticamente o Kaká Werá é uma tradição cantante: “Nhanderu é
música infinita desde sempre que ecoa em um ritmo cadenciado, vibrando a luz da
vida. Muitos lhe chamam de respiração do sempre-viver. Nhamandú inspira e
quando sopra seu hálito, a existência simplesmente acontece.”
Desde a morte de Ceucy e seu exílio na constelação de Plêiades, a Lei do
Jurupari impôs que as mulheres perdessem o seu direito de tocar suas flautas de
paxiúba, uma palmeira amazônica que anda para alcançar a luz. As flautas
representam um instrumento de conexão com o Divino e uma espécie de cetro do
poder criativo.

Na versão Ye’pâ-masa da etnia Tukano, as mulheres roubaram as flautas de


paxiúba mas, inicialmente, não sabiam mais o que fazer com os instrumentos, e
foram os peixes que as ensinaram a soprá-los. Então passaram a tocá-las e a fazer
tudo que os homens faziam, como pescar e caçar com arco e flecha, enquanto eles
passaram aos afazeres femininos, como preparar comida e colher mandioca. A partir
de então, fugiram dos homens levando os miria-põ’ra. Quando o velho Muhî-pũú, pai
dos homens para os quais era dirigida a dádiva divina, depois de muito persegui-las,
finalmente encontrou as mulheres, elas já estavam tocando a música do Jurupari
perfeitamente, embriagadas, e já estavam realizando o ritual completo. Ele, então,
furioso, enfiou um grande aerofone, simiômi’i-põrero entre as coxas de sua filha e
soprou, fazendo um som tão assustador que as mulheres largaram os instrumentos
e fugiram com medo. Apenas uma delas conseguiu ficar com um, curto e roliço,
colocando-o dentro de sua vagina, e assim formou-se o canal do útero por onde
nascem as crianças. O mito Tukano também associa o som da paxiúba à primeira
menstruação.

Entre os Kamayurá, Tukanos e outras etnias do Alto Xingu e do noroeste


amazônico, quando estes instrumentos são executados as mulheres são proibidas
de vê-los, correndo o risco de estupro coletivo. As flautas de jupati e os trompetes de
paxiúba, os miria-po’rã nunca podem ser vistos (nunca) pelas mulheres, sendo
guardados na casa dos homens. Como as mulheres nunca podem ver os miriá-põra,
sob risco de morte, elas demonstram medo dos instrumentos, lembram da
morte/castigo de Ceucy e se afastam de todo o universo simbólico do Jurupari.
Aqui no nosso Juremar, recebemos as flautas de paxiúba do pajé Raimundo
da tribo Dessana na expedição que fizemos à Amazônia em 2011, trocando nossas
experiências na ativação do raio feminino do destemor, nos conectando com as
mulheres da tribo, ouvindo as histórias sobre o Jurupari que hoje está mais
associado a uma espécie de demônio colonizador e opressor. Assim, ao tocar
nossas flautas hoje, abrimos portais dimensionais e o som criativo cura as feridas do
passado. A flauta mágica agora é nova mente de Mamãe.

Pergunta: Você percebe o poder que existe por trás daquilo que você mais teme?

Mandinga: Use um instrumento de sopro ou a sua própria voz para entoar uma
melodia da alma que permite que você se conecte com os aspectos mais elevados e
profundos da sua alma. Permita que estes sons se expandam , ampliando o seu
campo magnético. Sinta-se envolto nestas ondas sonoras que se expandem infinita
mente. Procure usar o som das vogais.
Carta / Força Vinte e três – Kaolim , A fumaça do Cachimbo

“Só pega no Cachimbo, quem sabe pegar


Só manda fumaça, quem sabe mandar”.
(ponto de Jurema)

O termo "Catimbó" nas línguas Tupi e Guarani, significa respectivamente


"fumaça de mato" e "vapor de erva". Atualmente, essa expressão "Catimbó" é um
dos nomes que identificam o que alguns pesquisadores consideram ser uma das
mais antigas religiões brasileiras: o também chamado "Catimbó-Jurema", "Jurema",
"Jurema Sagrada" e "Culto aos Senhores Mestres".
O Catimbó é bem diferente das religiões afro-brasileiras. Toda a Força do
Catimbó está na Fumaça, e nas ervas, sendo o fumo especialmente preparado. Os
trabalhos vão pelo ar, com o vento, no tempo junto com sua fumaça. O principal
elemento é a árvore da Jurema e cada Mestre tem uma erva de fundamento. No
catimbó essa erva é o elemento principal de cada mestre, além da Jurema. A jurema
é uma árvore que floresce no agreste e na caatinga nordestina. Da casca de seu
tronco e de suas raízes faz se uma bebida mágica e sagrada que alimenta e dá
forças aos “encantados do outro mundo” que são os Mestres da Jurema. Este culto
se difundiu dos sertões e agrestes nordestinos em direção às grandes cidades do
litoral onde elementos de outras matrizes étnicas entraram em cena. Desse modo, o
símbolo da árvore que liga o mundo terreno ao além, embora amarga ( muito
amarga), dá sapiência aos que dela se alimentam, ganha novos significados, e
passa a ser a árvore que escondeu a “sagrada família” dos soldados de Herodes,
durante a fuga para o Egito. A Jurema é um pau sagrado que dá Força e Ciência ao
bom Mestre Curador. O pajé juremeiro defuma, receita e aconselha.
Como todo instrumento sagrado fazer um cachimbo requer concentração,
reza, uso de algumas ervas especiais, dependendo do uso, se enterra durante
algum tempo junto a raiz de alguma árvore, arbusto ou planta que tenha significado
com o uso a que se destina ou o mestre que o utilizará. Os cachimbos devem ser
consagrados. O cachimbo pode ser usado para defumar o espaço e as pessoas.
Deve ser guardado com cuidado. Se não vai usá-lo deve ser despachado na mata.
O discípulo usa o seu cachimbo para curar doenças, chamar os Mestres e
enviar suas magias e encantamentos. Esta é uma grande diferença dos ritos
africanos onde coloca-se o trabalho no chão. A magia vai pelo ar. Juremeiros mais
experientes usam o cachimbo soprando ao contrário. A boca é colocada no
caldeirão e sopra-se o ar forçando a passagem de forma que ele saia pelo canudo.
O Ar deve sair quente. O processo começa com o braço apontado para o chão e
gradativamente vai subindo o braço até que ele aponte para o céu. Concentrando no
que se quer fazer e limpando a mente de todo o resto. Quando se chega ao final,
conclui-se batendo o pé esquerdo no chão e afirmando o que se quer para a direita
ou para a esquerda de acordo com o que se quer. A Força do discípulo é medida
pela eficiência que a Jurema responde à sua fumaça, ou seja, o fato da Jurema
encontrar o seu destino e surtir o seu efeito. Este processo é feito pelos Mestres e
também pelos discípulos sem os mestres acostados. Em algumas ocasiões pode-se
enviar a fumaça de maneira mais discreta: fumando o cachimbo de forma habitual,
sopra-se a fumaça ao invés de suga-la. A fumaça sai calmamente pelo caldeirão do
cachimbo, enquanto mantemos a mente focada no que se quer, mandando a fumaça
para o seu destino pela direita ou pela esquerda conforme a intenção. Normalmente
se usa para mandar a fumaça para pessoas que estão no mesmo recinto e não se
quer mostrar que está fazendo isso.

Pergunta: O que você gostaria de comunicar agora aos seus mestres, para
que eles possam te ajudar a penetrar na dimensão do mistério, compreender um
problema ou revelar as possíveis saídas para um dilema?

Mandinga: o cachimbo no Catimbó é a forma como conversamos com nossos


mestres e com a Jurema. Para se ter força no Catimbó deve-se usar o cachimbo
continuamente, acendê-lo todos os dias à noite em momentos de tranquilidade
fumando e conversando mentalmente com os mestres.

Carta / Força Vinte e Quatro – Boiuna , a cobra grande

Na região amazônica esta cobra gigantesca vai singrando pelos rios, virando
barcos, transformando-se em homem e em mulher. A necessidade de sentir,
degustar, banhar-se, animar todas as espécies vivas coloca a água doce em
primeiro plano, tanto no que diz respeito à realidade, como no mais profundo do
inconsciente. Na imaginação, a água doce representa a primeira bebida, tão doce
quanto o leite materno. O simbolismo da Cobra Grande encarna o psiquismo
misterioso, a mãe obscura e constitui-se como um dos arquétipos mais importantes
da alma humana, nos quais a água exerce o papel de fundamento da vida, do
mundo, de um povo. Sobre a terra, entre os frutos de árvores monumentais, a cobra
grande é a Senhora das Transformações. Guardiã da energia vital é a Mãe que dá
simultaneamente a vida e a morte a seus filhos. Como o símbolo alquímico, oroboros
representa uma serpente que morde a própria cauda e contém as idéias de
movimento, continuidade, auto fecundação e, em consequência, eterno retorno.
Constelação importante na astronomia indígena brasileira, conhecida como
serpentário, é arquétipo essencial da mitologia nativa brasileira, presente na cestaria
e no trançado de várias tribos amazônicas. De fato, existem cobras enormes,
grossas e compridas como os troncos das árvores, e quase todos que costumam
viajar pela complexa teia aquática da região amazônica, bem como os ribeirinhos e
moradores das matas, conhecem e contam histórias da Cobra Grande. A Boiúna é
uma corruptela de Mboi (cobra) e Una (preta), mas também é chamada de boiaçu,
boiuaçu ou boiguaçu.
O mito da Origem da Noite compõe o imaginário dos povos da floresta,
expressando a aura mítica que envolve o cenário da Amazônia e é contado assim: “
As águas se confundiam com as trevas e a noite dormia no fundo do rio. Não havia
animais; todas as coisas falavam. A Cobra Grande era a Senhora da Noite. Amana
era também, a primeira mulher e guardava todas as suas estrelas num caroço de
tucumã. A filha da Cobra Grande, a bela Meruri, casara- se com um moço valente,
mas não queria dormir com ele porque a noite não existia. - Se queres dormir
comigo, manda buscar a noite no fundo do rio, dizia a filha da Cobra Grande. O
marido era um grande e poderoso guerreiro, Poromina Minari, que ao invés de
cuidar do assunto pessoalmente, ordenou aos seus criados que fossem cumprir a
missão. Os servos foram e trouxeram a noite encerrada no caroço de tucumã. A
Cobra Grande, antes de entregá-lo aos servos, ordenou que ele não fosse aberto
em hipótese alguma, pois do contrário todas as coisas se perderiam. No meio do
caminho os servos ouviram barulhos que vinham de dentro do coco de tucumã,
assim: tem, tem... xiiiiiiiiiiiiiiiiiii. Não controlaram a curiosidade e o abriram. Era o
barulho dos grilos e sapos que cantam à noite. De repente, tudo foi ficando escuro e
a noite pesou sobre a natureza. As coisas começaram a se transformar: nasceram
os animais, os pássaros, os peixes. Nesse momento, Merurí viu Tatacy (o planeta
Vênus) brilhar no céu e disse à Poromina Minari: - A madrugada vem chegando. Vou
separar o dia da noite. E fitando profundamente os olhos do guerreiro, tirou um fio do
seu próprio cabelo e, enrolando-o nos dedos da mão esquerda, delicadamente
ordenou: - Tu serás o Cajubin da cabeça branca, de quem mais tarde nascerão
todos os acauãs. Assim, Merurí fez o Cajubin, do fio de cabelo. Pintou-lhe de barro
branco a cabeça e os pés com tinta vermelha do urucum e deu-lhe a ordem de
cantar no romper da madrugada para acordar toda a mata, duas horas antes do sol
chegar. Quando os criados chegaram, Merurí, pela desobediência, transformou-os
em coatás, de pelos negros e braços longos, para sempre a pular de galho em
galho. Assim nasceram os macacos”. (Couto Magalhães, 1935: 231).
Outra lenda nos fala de Norato, filho da Cobra Grande, irmão gêmeo da
Cobra Maria. Norato é um bom moço, mas que sofre com sua condição de não
poder permanecer sempre na sua forma humana. Cobra Maria, malvada, é morta
pelo irmão. Sombra e sexualidade sob controle, Norato pode ser humano. Cobra
Norato, dorme aos pés da Virgem Maria de Belém, repetindo a iconografia
consagrada da Virgem Imaculada Conceição, que mantém a serpente sob seus pés.
Nítida influência jesuítica nos mitos amazônicos. Mesmo subjugada, a cobra é
associada à mulher e a energia sexual. Cidadãos de Belém afirmam que a cidade foi
feita sobre a morada da cobra. E quando a Cobra se mexe... A cidade estremece.
Seu corpo ligaria uma Igreja à outra, a cabeça no altar da Catedral da Sé - onde está
a imagem de Santa Maria de Belém - e a cauda sob o altar da Basílica de Nazaré. A
Mboi-Açu, como uma procissão, ondula no trajeto de uma igreja a outra. Raul Bopp
dedicou à Cobra Norato um poema que é ícone da produção modernista brasileira.
Nossos ancestrais influenciaram nossas escolhas, medos, sonhos, impulsos
e, também, a nossa etnia, nossas crenças e inspirações. Herdamos força, beleza e
sabedoria, mas , também, herdamos padrões negativos. Para honrar nossa
ancestralidade nativa precisamos perdoá-los, para curar as feridas dessa terra, em
especial no que diz respeito às mulheres que aqui viviam e reinavam no matriarcado
Pindorama.
O primeiro ponto é recordar/descobrir as memórias do passado. Nosso
passado não acaba, ele acontece todos os dias. Na alma, a raiz ancestral é tão
profunda que pode alterar o destino dos descendentes. Em nossos genes está
codificada a nossa herança. Somos programados pelo nosso passado. Quando nos
libertamos dos padrões negativos de nossos antepassados podemos curar nossa
árvore genealógica, fortalecer nossa linhagem espiritual, avançando como
consciência. Segredos, mentiras familiares, que se baseiam no medo, vergonha e
culpa têm sido mapeados através dos processos de constelação familiar e de
terapias de vidas passadas. São um fardo para toda a linhagem. Através da
consciência dos padrões negativos que nos aprisionam, podemos liberar não só a
nós mesmos, mas toda a linhagem através de preces e rituais. Isso também se
aplica a carmas coletivos. Cabe a nós, fazer um poderoso trabalho de cura para
perdoar todos os aspectos negativos que herdamos de nossos antepassados
individual e coletivamente. Em especial, damos atenção aos padrões negativos e
limitadores que herdamos de nossas ancestrais femininas subjugadas por séculos e
condenadas a um lugar de coadjuvância discreta, onde rir, cantar e dançar é coisa
de mulher “sem dono”.
Perguntas e Mandinga: vamos modelar em argila uma linda cobra e no interior
do corpo de barro vamos colocar os nomes dos nossos antepassados familiares e
dos mestres das nossas linhagens espirituais. Munid@s de lápis e papel, nos
visualizamos envolvid@s numa luminosidade brilhante e acendemos uma vela na
intenção de todos os nossos ancestrais. Escrevemos em pequenos pedaços de
papel os nomes dos nossos ancestrais e os colocamos dobradinhos ou enrolados no
interior da cobra. Vamos recorrendo a nossa memória para nos lembrar o máximo
possível em sua ordem de surgimento neste mundo: pais, avôs e avós, bisavós,
tataravós e assim por diante…Também, incluímos num segundo momento aqueles
que são nossos padrinhos e madrinhas espirituais, nossos mestres de todas as
tradições às quais nos vinculamos até este momento da nossa jornada sobre a terra.
Nos perguntamos: 1 - O que de mais valioso eu herdei da minha família? Escreva a
resposta num pedacinho de papel, enrole a resposta delicadamente e insira no
corpo da nossa cobra. 2 - Qual a melhor maneira de oferecer essas qualidades ao
mundo? Escreva a resposta num pedacinho de papel e novamente, enrole e insira
no corpo da nossa cobra. 3 - Quais as tendências negativas dentro de mim que
vieram do passado? Queime na vela acesa, uma a uma, as anotações feitas em
pequenos pedaços de papel. Apenas as cinzas e restos são colocados sobre a mãe
cobra... 4 - Qual a melhor maneira de curar esse ciclo? Proceda da mesma maneira
como nas perguntas anteriores, colocando as respostas nos papéis enrolados no
corpo da cobra. Ao final do trabalho levem a cobra inteira ou aos pedaços para
dissolver em algum lugar da natureza. Nós cobrimos todo o nosso corpo com argila
cosmética e nos imaginamos como filhos da cobra grande. Na medida em que a
argila vai secando vamos mentalizando todos os padrões negativos que queremos
transformar. Em seguida, quando estivermos prontos, mergulhamos no lago, na
piscina ou no chuveiro da ducha, para nos lavar e purificar de todos esses padrões.
Carta / Força Vinte e Cinco - A Vitória Régia

Os lagos e rios amazônicos são espelhos naturais de Iaci, a lua. As cunhãs


(jovens índias) ao vê-la refletida, sentiam-se inspiradas para o amor. O sonho de
tocar a lua e as estrêlas era o mais recorrente entre elas. Nas aldeias as mães
contavam para as filhas que quem tocasse a Lua ou as estrelas, se transformaria
numa delas. Assim as cunhãs suspiravam quando ela se mostrava majestosa no
céu, derramando prata sobre os lagos.

Uma cunhã, chamada Naiá, acreditava que a lua escolhia as moças mais
bonitas para virar estrelas que brilhariam para sempre no firmamento. A índia Naiá
era mesmo muito linda, sensível e muito sonhadora. Todos os homens da aldeia
queriam conquistar o seu coração, mas Naiá só pensava em a ser escolhida pela
lua. Queria tocá-la, aprisioná-la entre os dedos e embriagar-se na sua luz redentora.
Todas as noites de lua cheia, Naiá fazia como todas as cunhãs da tribo, que subiam
nas árvores, nas mais altas colinas, e tentavam em vão tocar a lua. Naiá foi ficando
triste. Já não dormia mais… Passava as noites caminhando na beira do Lago e
cantando para chamar a atenção da lua para si.

Numa noite, de lua cheia, em que Naiá descia de uma das altas colinas que
cercavam a aldeia, caminhando cansada de volta para casa, viu a lua brilhante e
silenciosa a banhar-se nas águas misteriosas do lago. A cunhã sorriu vitoriosa. O
seu sonho estava próximo. Perseguira a lua nos lugares mais altos da mata e agora
ela estava ali, mansa e à mão, pronta para satisfazer seu sonho. Naiá, finalmente,
tocaria a lua. Sem pensar duas vezes, atirou-se às águas em busca da lua. Quanto
mais tentava tocar o astro prateado, mais se afundava e encontrava apenas a
escuridão. E ao que pensou tocá-la, afundou sumindo nas águas...

Do alto do céu, a lua assistiu a tudo, condoída com o infortúnio de tão bela
jovem e não podendo satisfazer seu desejo de levá-la para o céu em forma de
estrela, transformou-a na bela estrela das águas, a linda planta aquática que é a
Vitória Régia... cuja beleza e perfume delicado são inconfundíveis. Dizem que o local
onde o fato aconteceu é o lago Espelho da Lua, situado no município de Faro,
próximo ao rio Nhamundá, na região do baixo amazonas paraense...

Pergunta: O que você está disposto a fazer para se tornar quem você
realmente quer ser?

Mandinga: A condição indispensável para o processo de auto-transformação é


a vontade e a coragem de ser fiel a si. A sorte segue a coragem! Para se
transformar numa estrela é preciso fazer o trabalho necessário para mudar hábitos
e comportamentos, superando a inércia que o mantém fora do movimento da vida.
Cada indivíduo possui, em estado potencial, a plasticidade que permite
transformar e criar a vida que se deseja experimentar. Através do pensamento
chega-se à ação. A ação muda o mundo. Comece já a Ser como deseja e seja feliz!

Carta / Força Vinte e Seis - Kanarô , a arara gigante amarela

Este mito aprendi com o cacique Yawanawa, Biraci, reza a lenda que os
primeiros habitantes da floresta queriam saber o que havia lá longe, do outro lado da
margem rio, onde ninguém nunca havia chegado e mal podiam avistar. Neste tempo os
bichos também falavam e o primeiro homem foi falar com o Jacaré para ver se ele
podia levar alguns homens até lá. O Jacaré percebendo o tamanho da curiosidade dos
homens resolveu negociar o serviço: se você me trouxerem comida todos os dias , aí
eu levo vocês para conhecer a outra margem daqui há algumas luas. Mas só não pode
me trazer carne de filhote de jacaré, certo?

Os dias se passaram com os homens levando boa caça para o jacaré e nada de
chegar o evento da famosa travessia. O jacaré no bem bom ia enrolando e adiando
para poder comer cada vez mais sem se esforçar, às custas da curiosidade dos
humanos. Aquilo já estava cansando os homens, até que um deles resolveu que o
jacaré já estava abusando e ao invés de buscar a caça no meio da floresta matou ali
mesmo uns filhotes de jacaré pensando que no meio do resto da caça dos outros
homens, o jacaré nem ia notar a diferença. Mas que engano, ninguém percebeu a
mentira do preguiçoso, exceto o Jacaré, é claro!

No dia seguinte, o Jacaré anunciou ter chegado a hora da travessia, deixou que
subissem em suas costas tantos quanto podia levar e partiram em direção à outra
margem. No meio da travessia, o Jacaré começou a sacudir o seu corpo e todos foram
lançados longe: um foi parar na China, outro no fim do mundo, outro no Rio de Janeiro,
uns foram parar até além do oceano, cada um mais longe que o outro, em lugares que
nunca tinham visto antes e não sabiam mais como voltar para casa, para sua família, e
seus amigos da tribo.

Então o primeiro homem do mundo que tinha ficado na margem esperando prá
saber o resultado da aventura ficou também com muita saudade dos seus amigos e
entrando em sintonia com o vôo da grande arara amarela levou uma mensagem
através do canto kanaro para lembrar a cada humano espalhado pelo mundo que
éramos todos da mesma tribo, que vínhamos da mesma fonte sagrada, que somos
todos parentes.

Kanaro é um canto sagrado arquetípico dos yawanawá. "Kanarô", para os índios


Yawanawá, significa uma saudade imensa, uma saudade de chorar!
"Kanarô, terê-tê-intê, Kanarô terê-tê-intê...", canta todo o povo Yawanawá, reunido logo
de manhã cedo em grandes rodas formadas no meio do terreiro central da aldeia Nova
Esperança. Nus da cintura para cima e pintados em incríveis desenhos (kenês),
capturados durante as viagens espirituais das mulheres que tomam Uni, os índios
dançam e cantam antigas e belas canções, que mais parecem hinos e que falam da
floresta, dos animais, das aves, da água, do vento, do ar.
Este canto nos conduz ao tempo e ao vento que nos leva ainda hoje com a
Arara gigante amarela, a ave que voa mais alto no mundo, atravessando de um lado
para outro do rio, levando a mensagem de saudade e a pureza para os corações dos
homens, das mulheres, das crianças e dos velhos. Voamos com ela rumo a um mundo
novo, cheio de paz, saúde, solidariedade, amor e alegria.
E como ensina o Biraci : “Kanarô não se traduz. Ela tem uma tradução sentimental. É
um canto que fala da lembrança aos parentes ou a alguém que você gosta muito, da
saudade dessas pessoas. É um canto que traz a melodia mais antiga da nossa
civilização, onde o homem canta com saudade de sua família.”

Pergunta: Quem são as pessoas queridas, muito importantes em nossas vidas que
andam esquecidas, perdidas no tempo/espaço?

Mandinga: Leve uma mensagem de amor, um canto significativo e, se puder faça


contato direto. Se não for possível , só cante e dedique o canto da sua alma . Lembre-
se das coisas boas vividas junto e diga ou escreva sobre como essas lembranças são
importantes para você. Desfrute da partilha, lembrando que somos todos Um.

Carta / Força Vinte e Sete – A Caamanha, a mãe do Mato

Uma das faces da mãe escura é a Caamanha, a Mãe do Mato que protege as
florestas e os animais silvestres, punindo quem produz os desmatamentos, as
queimadas, os caçadores , invasores e mineradores. Ela pune toda e qualquer
violência contra a natureza.

O terror causado pela Mãe do Mato era tão grande que os trabalhadores que
atuavam na floresta usualmente desatavam suas redes, por medo que a Mãe do
Mato, protetora dos animais fabulosos, colocasse nelas gravetos enfeitiçados, que
teriam efeito de morfina e fariam os homens cair em sono profundo para serem
devorados por animais.

Câmara Cascudo, o principal folclorista do Brasil, descreve "Caamanha" como


um mito original do Pará que teria sido expandido e adaptado para outras regiões do
Brasil. São as versões regionais do mito, como Caipora (Caapora), Curupira ou
Comadre Fulozinha, que acabaram se tornando mais populares que o mito original.

A Comadre Fulozinha, por exemplo, é mais conhecida no nordeste brasileiro.


Nessa versão, é descrita como o espírito de uma menina cabocla de longos cabelos
negros. Em todas as versões é considerada uma protetora das matas, que castiga
aqueles que ousam desrespeitar a natureza.

Curupira ou Caapora são sêres fantasmagóricos, descritos como peludos e


com os pés voltados para trás, as vezes com aspecto feminino, São guardiãs da
floresta que levavam os caçadores e invasores do seu Santuário a se perderem nas
matas,punindo-os com pesadelos ou até mesmo a morte.
Pergunta: Você é uma guardiã da natureza? Já precisou enfrentar pessoas
que sujam os rios, cortam árvores, envenenam árvores ou plantações, caçam ou
maltratam animais silvestres?

Mandinga : Faça uma ação capaz de produzir consciência ecológica. Pode ser
um cartaz, uma campanha ou algo que seja capaz de criar um impacto e se for
preciso denuncie onde os santuários da natureza estiverem sendo agredidos. Muitas
vezes uma boa conversa educativa pode gerar grandes transformações e se a
destruição persistir, é preciso impedir mais violência contra a Mãe Terra..

Carta / Força Vinte e Oito – Yushã Kuru , a fêmea roxa

Ela é a nossa Bruxa Brasileira e sua história começa na Origem dos Remédios
da Mata. Para os kaxinawá, Yushã Kuru é aquela que detém o poder máximo de curar
ou de matar.Com ela aprendemos a não temer o nosso próprio poder e a usá-lo com
consciência. O mito nos ajuda a descobrir os nossos dons e usá-los com sabedoria,
compaixão e humildade. Assim, não corremos o risco de cair na mesma armadilha que
capturou a nossa bruxa brasileira: o poder pessoal, centrado no ego e na manipulação.

A história começa assim: Os índios de antigamente, recém surgidos no mundo,


pensaram e discutiram juntos sobre como seria quando as pessoas adoecessem: um
deles deu a idéia que quando cada um deles morresse, se transformaria em remédio
na mata e, assim, poderiam ser usados para garantir a vida dos seus parentes. Yushã
Kuru, uma mulher conhecida como a Fêmea Roxa, falou assim: ─ Eu acho muito
importante a idéia de vocês. Melhor mesmo é virar remédio. Vou ensinar a vocês como
poderão fazer isso. Vou ensinar aos nossos parentes. E todos concordaram com essa
idéia: ─ Isso é verdade. Você conhece muito bem a mata e sabe fazer os remédios.
Você vai nos ensinar como fazer e, também, aos nossos filhos e netos. Yushã Kuru, a
Fêmea Roxa, deu muitos conselhos e surgiram os remédios. Uns eram venenos para
matar: Olho Forte, Beru Paepa, Mijo Amargo e Isu Muka. Outros eram para coceira,
picada de cobra, picada de escorpião, aranha, para reumatismo e para o fígado. A
velha Fêmea Roxa observava bem as folhas e os pés das árvores: ─ Esse mato não é
remédio forte, dizia ela. Mas, a Fêmea Roxa, Yushã Kuru, não ensinava nada a
ninguém. Preparava os remédios sempre escondida de todo mundo. A única pessoa
para quem ela ensinava era para o neto dela, que aprendeu tudinho:como preparar o
veneno para botar feitiço no outro e, às vezes, com mato venenoso, tirar o espírito da
pessoa.Quando a mulher moça ou o homem rapaz crescia bonito, ela botava feitiço.
Quando o homem era trabalhador ou quando esculhambavam com a velha Fêmea
Roxa, aí mesmo é que ela botava um feitiço para essas pessoas morrerem. Na aldeia,
o povo não sabia o que a Fêmea Roxa fazia. Passou muito tempo sem ninguém
perceber a situação.

Um dia, o genro da velha Yushã Kuru foi caçar na mata. Quando saiu da caçada,
resolveu ir pegar barro para fazer panela e tigela. O lugar onde pegavam barro para
fazer cerâmica era o mesmo da caçada. Lá, o genro viu a velha Yushã Kuru
concentrada preparando uns remédios. O genro veio escondido para pegar a velha
sem avisar e fez amor com ela à força, que gritava: ─ Me solta. Quem é que faz esse
mal comigo? Quando o genro acabou, botou a velha Fêmea dentro do buraco de onde
tiravam o barro e correu pela mata. Yushã Kuru ficou lutando para sair, até que
conseguiu. Nessa hora, ela viu as costas do genro e falou assim: ─ É homem morto
aquele que me fez mal. Voltou para sua casa chorando e pegou o mato venenoso no
caminho para matar o genro. Quando chegou em casa, foi pescar no igarapé. Pegou
piaba e mandim mole, temperou com o veneno e embrulhou na palha de sororoca para
muquinhar. Quando o genro chegou da caçada, ela deu o peixe para ele comer. No dia
seguinte, ele morreu. Todo mundo chorava de dó, até que o filho dele, neto dela,
descobriu e disse assim: ─ Olha, meu pai morreu porque minha avó envenenou ele. O
nosso pai está morrendo por causa da minha avó. Ela é que sabe botar feitiço no outro.
O neto foi pegar o cesto da avó. O cesto estava cheio de coração, tudo em fileirinha.
Quando a velha Fêmea pegava o coração para botar feitiço e veneno, a pessoa morria.
Ela colocava dentro do cesto arrumado em carreirinha. Cada um tinha um nome: um
era aquele do homem trabalhador e o outro da moça bem bonita. Tinha muita carreira
no cesto grande da velha Yushã Kuru.

O neto descobriu todos os segredos da velha e contou para o povo, que ficou
muito assustado. ─ Ah, essa velha feiticeira! Desse jeito, não presta para viver com
nosso povo. Se ela não morrer, vai acabar com todo mundo. Então, resolveram matar
Yushã Kuru. Muitos homens ajeitaram suas armas. Quando a velha Fêmea soube
dessa conversa, fugiu para a mata. Eles caçaram, caçaram e nada de Yushã Kuru.
Resolveram pedir ajuda a um rapaz, chamado de grilo zarolho, para ajudar na caçada
da velha. Este rapaz era muito danado. Ele enxergava até muito distante. O rapaz grilo
pulou no terreiro, olhou e falou: ─ Lá está a velha Yushã sentada. Vocês podem ir, que
vão encontrar com ela nessa direção. As pessoas foram procurando, até que
encontraram. Ela estava bem escondida e sentada. Falaram com ela. Ela acreditou na
conversa, desistiu de fugir e acompanhou as pessoas, no rumo da sua casa. Quando já
estavam perto de sua casa, a velha Fêmea Roxa falou assim: ─ Eu vou no mato cagar.
E fugiu de novo. As pessoas caçaram e procuraram novamente. Não acharam. Então,
voltavam para casa e chamavam o rapaz grilo de novo. Ele sempre dizia onde a Fêmea
Roxa estava, mas ela sempre fugia, danada que era, até que um dia, finalmente,
mataram a velha Fêmea Roxa. Dizem que foi assim.

Pergunta: Como você tem usado o seu poder de curar? Como você tem trabalhado
com os seus venenos internos: a raiva, a inveja, o desejo de vingança?

Mandinga : Prepare o seu caldeirão ( pode ser imaginário) e coloque ali todos os
ingredientes para transformar venenos em poções curativas. Vá fazendo esta alquimia
e transformando tristeza em alegria , ódio em amor, inveja em admiração, trabalhe para
si e também para curar situações de amigos, parentes . Perceba como a sua intenção
é poderosa e curativa.

Carta / Força Vinte e Nove – A Jurema Sagrada , a árvore ancestral


A Acácia está em todo o mundo, mas essa espécie da Mimosa - a Mimosa
Tenuiflora, Mimosa Hostilis ou Mimosa Nigra - floresce na região onde o mapa diz
hoje ser Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Tudo que nasce nos Agrestes
e Sertões nordestinos precisa ser profundo pra buscar água, para sobreviver.
Nesses lugares do Brasil, as raízes compridas sustentam árvores que vivem mais de
200 anos e guardam um segredo que faz resistir milênios de ciência.
Com suas raízes: cascas, mel, gengibre, hortelã, cravo, canela e mistérios do
além, a vivência ritualística revela os motivos de essa planta ser um símbolo do
Sagrado para a sabedoria milenar ameríndia. É Catimbó. Tecnologia indígena, é
ponte ancestral construída por Tabajaras, Potiguares, Fulny-ôs e Cariris.

Câmara Cascudo afirma que o catimbó nordestino seria a união de 3 etnias


que formam o povo brasileiro: os negros com os ritmos, invocações e ritos, os
europeus com a concepção de magia, processos de encantamento e orações
transmitidas oralmente, e, por fim, o uso de plantas, o maracá, os mestres invisíveis,
o cachimbo, viriam como contribuição dos povos originários.

A forte presença de elementos do catolicismo se deve ao mito que conta que


quando a virgem, fugindo de Herodes, no seu êxodo ao Egito, escondeu o menino
Jesus num pé de jurema, que fez com que os soldados romanos não o vissem,
imediatamente, ao contato com o corpo divino, a árvore, encheu-se de poderes
sagrados.

De todo este hibridismo resulta que na Jurema os discípulos aprendem na


convivência, trabalhando e ajudando nas casas e nos rituais. Pajés, juremeiros e
catimbozeiros são afinal sacerdotes e sacerdotisas que há muito rompem fronteiras:
aproximando mundos diversos. A ciência da Jurema começou com os povos
originários e incluiu excluídos em busca de libertação. Os negros africanos
escravizados encontraram as aldeias e, nelas, a Jurema que os levou mata adentro
para os quilombos. Ciganos, homossexuais. Gente da feitiçaria europeia, da
pajelança, do catolicismo popular, do esoterismo moderno, da psicoterapia
psicodélica, do cristianismo esotérico. Gente que anda para se encontrar.

Os espíritos de Índios, Caciques, Pajés e Caboclos são o fundamento


principal da Jurema. São os mestres encantados invocados sempre no início dos
cultos e relacionados aos guerreiros indígenas falecidos e que por sua sabedoria
são enterrados nos pés das Juremas Sagradas. Estes seres espirituais são enviados
ao Mundo dos Encantados, às cidades do Juremar, das matas e rios com o
conhecimento de ervas medicinais, banhos e rezas.

A Jurema Sagrada é tipicamente brasileira, tão familiar que não se apaga


nem com séculos de preconceitos: é um cheiro de chá de vó no quintal dos fundos
da casa, é quando a alma abraça o chão, é como voltar prá casa. A fumaça roda o
mundo e traz um bom recado. Salve a Fumaça! Salve a Jurema Sagrada ! Salve os
mestres e as mestras da Jurema! Ninguém pode mais que Deus.
Pergunta: Você reconhece em si as culturas que te trouxeram ensinamentos
que te constituem? A quais linhagens e egrégoras espirituais você se conectou
nesta vida? Isso te traz benefício? Você se sente protegido e beneficiado por estas
conexões?
Mandinga: Prepare um altar para honrar os seus ancestrais consanguíneos ,
mas principalmente , os mestre encarnados ou não que se dedicaram a te ensinar.
Coloque flores, luzes, incensos e sinta a conexão e como todos eles fazem parte de
você.
Carta / Força Trinta – Iracema , a Virgem dos Lábios de Mel

Iracema foi escrito em 1865 por José de Alencar (1829-1877) e conta a


história de amor entre a indígena que dá nome à obra e o colonizador português
Martim. Iracema pertence ao povo tabajara e é a filha virgem do pajé. Martim é
amigo dos pitiguaras – habitantes do litoral e aliados dos colonizadores portugueses,
inimigos dos tabajaras – habitantes do interior e aliados dos franceses, e está
perdido em território inimigo. O encontro entre os dois dá início a um romance que
serve de lenda para contar a colonização do Estado do Ceará, no século XVII.De
fato é muito mais a criação de um mito de origem do que seria o povo e a nação
brasileira, pensada, no caso de José de Alencar, como fruto do encontro do
colonizador português com a terra americana.
Os traços atribuídos a Iracema são como a exuberante natureza local. Ela é
apresentada como “a virgem dos lábios de mel”, cujos cabelos eram mais negros
que a asa da graúna e o sorriso mais doce que o favo da jati. Essa harmoniosa
relação, entretanto, dura somente até o contato da índia tabajara com o colonizador.

O amor entre eles é duplamente interditado, pois Martim além de estrangeiro


está ligado a nação inimiga e Iracema tem um papel relevante entre os
tabajaras, “Sua mão fabrica para o pajé a bebida deTupã, a Jurema Sagrada”.
Iracema viola o segredo de sua tribo e prepara a bebida para Martim que,
entorpecido, possui a jovem índia e, quando desperto, torna-se seu esposo.
Iracema passa a viver um amor feito de renúncia e sacrifícios e se vê
obrigada a abandonar a sua gente. Não podia viver entre os brancos, nem entre os
inimigos pitiguaras. Abandonada por Martim, exilada, carregava em seu ventre o
fruto de uma nova formação – o mameluco: nem índio, nem europeu, mas brasileiro.
Só e saudosa de Martim, Iracema dá à luz ao filho Moacir, que signica filho da
dor e o entregue a Martim, pois Iracema quase morre no parto. Martim recebe o filho
das mãos de Iracema, assiste a morte da esposa e a enterra ao pé de um coqueiro.
A forma como Iracema é lembrada ofusca as inúmeras violências por ela
sofridas no livro. Iracema é lembrada como a virgem dos lábios de mel, mas quase
nunca como a esposa abandonada sem leite nos seios para alimentar Moacir. Ao
mesmo tempo, Iracema, ao longo dos seus 150 anos de publicação, transformou-se
em um mito incessante: não para de se reproduzir, de se expandir. Iracema, muitas
vezes, se confunde com a própria mata criadora e infinita. Iracema é mãe-terra, é
mata-virgem, é lábios de mel, é guardiã do segredo jurema. Iracema não morreu,
transcendeu e subiu ao céu , como nos desenhos que ilustram o romance m
expostos na Casa de Iracema, em Fortaleza.
No entanto, o mito sacrificial, a doce escravidão de Iracema tomado no sentido
da imolação voluntária do índio ao branco, tende, com sérias implicações ideológicas, à
abstrair a violência do processo de colonização e legitimar a posse do continente pelo
europeu. Moacir. o filho da dor é essa mistura de raças que sintetiza um passado
ligado a colonização e um futuro incerto. Tupi or not Tupi, é ainda hoje a questão da
nossa brasilidade.
Em 1850, 15 anos antes da publicação de Iracema, o Império decreta a Lei da
Terra, que tem como objetivo tomar ainda mais as terras indígenas. O critério para que
os índios continuassem nas suas terras era que eles fossem reconhecidos como
índios. O reconhecimento viria do Estado. O Ceará foi a primeira província a negar a
existência de índios identificáveis nas suas aldeias e se apoderar de suas terras.

Após mostrar que os portugueses conseguiram conquistar o Ceará, Alencar, na


última frase da parte narrativa do romance, escreve: “Tudo passa sobre a terra”. A
frase permite várias leituras. Mãe-terra, terra propriedade, terra do barro. A terra é uma
fonte de vida, espaço de criação e transformação. Sem terra, não há vida. Ao tirar as
terras de indígenas, tira-se o direito de viver, trata-se, portanto, de uma política de
extermínio. Um extermínio paradoxal, pois são também os índios convocados para a
formação dessa imagem idílica de brasilidade, de um passado hegemônico.

A colonização foi um crime, é um fantasma que se perpetua no momento em


que, por exemplo, a revista Playboy estampa na sua capa uma big brother cearense
vestida/despida de Iracema e convoca o colonizador a desbravar a mata virgem. Não
sabemos a idade de Iracema, provavelmente muito jovem. Ela possui os lábios de mel,
mas é virgem. Na mata virgem, o colonizador mata a virgem. Estamos diante de um
crime, não podemos esquecer disso.

O termo Coca-Colas remete a um episódio ocorrido em Fortaleza durante a


segunda grande guerra. Com o processo de apropriação da elite da Praia de Iracema,
na década de 20, uma mansão fora erguida na rua Tabajaras, principal rua do bairro e
nome da tribo a qual pertencia Iracema. O prédio, na segunda guerra, foi arrendado às
tropas americanas e transformado em um cassino pelos oficiais, sob a denominação de
U.S.O. (United States Organization). São comuns relatos de que esse clube tornou-se
um atrativo para as moças, que se dirigiam ao local para namorar os oficiais
americanos, ficando conhecidas na cidade como coca-cola, como referência ao
refrigerante que ainda não era consumido em Fortaleza. O turismo sexual no Nordeste
brasileiro parece ser ainda uma ferida do passado que precisa acabar.

Pergunta - Como a questão da colonização cultural interfere na tua auto estima e


na valorização ou desvalorização do que somos como povo brasileiro?

Mandinga – Pinte o seu rosto com urucum e lápis preto e olhe-se no espelho.
Veja a beleza da estética da cultura dos nossos povos originários. Sinta-se parte da
tribo brasileira .Valorize a nossa força, beleza e sabedoria ancestral.

Carta / Força Trinta e Um – Dona Vulva, o portal do prazer e da criação.


O prazer da mulher sempre foi um tabu gigantesco, talvez o maior de todos.
Tanto que as religiões ocidentais se esmeraram muito para criar alegorias que
sustentam o quanto o corpo feminino é o abrigo do pecado.

Por milênios nos calaram, não tivemos acesso aos conhecimentos do


Matriarcado e do feminino, fomos cobertas com burcas e desinformação sobre nossos
corpos e alma. Perdemos nossos poderes e saberes...

Por que tanto segredo? Para entender por que este órgão sexual passou tanto
tempo no obscurantismo, é preciso ter em conta algumas questões sociais e políticas.
Vivemos em uma sociedade que ainda é extremamente misógina, feita por homens e
para homens. Dentro desse contexto, as mulheres foram criadas para serem
coadjuvantes de suas próprias vidas, educadas para apoiar, para servir e reproduzir.
Por isso, faz muito sentido que nossa maior ferramenta de sexualidade tenha sido
reprimida por tantos séculos.

É uma cultura do silêncio, uma dificuldade em usar as palavras - porque estão


ocultas na linguagem ou só são usadas como chacota. E há o facto de que enquanto
o pénis é uma coisa 'exterior', sobre a qual há a noção de que são todos diferentes,
a vulva, apesar de exterior, está mais escondida, até da própria pessoa. São muitas
as mulheres que me perguntam se a masturbação vicia? Eu gosto de responder que
“tanto quanto chocolate!”
A sexualidade das mulheres tem historicamente uma tradição de ocultação,
de não dito, de não explorado, de ignorado - como um continente submerso. Daí que
tenham surgido nos últimos anos uma série de obras que visam, ou se anunciam
para "quebrar o tabu", "desfazer os mitos", "esclarecer as dúvidas", "desvendar os
segredos" ou simplesmente "celebrar a vagina". Dona Vulva agradece!
É realmente preciso derrubar o tabu para poder liberar as mulheres que ainda
têm receio de se tocarem, de se conhecerem. A masturbação é muito importante
para as mulheres tanto na fase reprodutiva quanto na pós-menopausa. A prática
melhora a lubrificação e a libido.
Inspiradas na Medicina Feminina Mexicana , usamos uma prática muito antiga
de introduzir Yonis ( ovos) de obsidiana ou de outras pedras semipreciosas em
nossas vaginas. A Obsidiana, vindo direto do centro da terra, das lavas vulcânicas,
age através da limpeza e ativação da matriz feminina, mostrando o que está oculto.
Padrões e memórias que ficam presas no útero e no inconsciente, causando
desarmonias e conflitos internos são liberadas para uma nova conexão e resgate
consigo mesma. É uma experiência profunda, podendo ser na verdade uma grande
transformação curativa.
O propósito desta medicina é trabalhar em todos níveis da alma feminina.
Desde suas raízes profundas, junto a sua linhagem ancestral, sanando as dores e
traumas que carregamos de outros tempos, como também a abertura e fluidez do
canal vaginal, e seus anéis musculares, tonificando o assoalho pélvico, despertando
a sexualidade consciente e sagrada, até o resgate de alma da sua verdadeira
potência feminina junto a esse divino centro de poder.
Pergunta : Você tem se conectado com o seu centro de prazer? Tem
desenvolvido uma relação de intimidade e autoconhecimento com essa sua
amável caverna?
Mandinga: Descubra o prazer de se tocar. Explore a sua caverna e todas as
zonas erógenas do seu corpo. Permita-se esta revolução. Dona vulva agradece e
retribui com espasmos de êxtase e felicidade.

Créditos da fotografias do Baralho:

1 – Iakekan – Rosenara Silva, Ézio


2 – Divina Caeté – Alcides, Shirlinny, Júlio
3 – Jurema – Alcides
4 – Ierê – Perla Braga
5 – Tatacy - ?
6 – Mãe do Ouro – Rui Pereira
7 – Naruna – Maria Lalla
8 – Sabará – Alcides
9 – Samaúma – Maria Lalla
10 – Caiena – Claudiane Pires
11 – Amanacy – Claudiane Pires
12 – Iracy – Claudiane Pires, Alcides
13 – Ibiracy – Alcides
14 – Diarum – Alcides
15 – Iara –
16 – Oribá - Claudiane
17 – Catxerê – Maria Lalla
18 – Yaci – Ohana , Juremar de Espanha
19 – Coaracy – Juremar de Espanha
20 – Atiara - Alcides
21 – Cy – Claudiane Pires
22 - Iamana –
23 Kaolim – Claudiane Pires
24 – Boiuna – Ézio
25 – Vitória Régia –
26 – Kanarô –
27 – Caamanha –
28 – Yushã Kuru –
29 – Jurema Sagrada – Gislane Mateus
30 – Iracema –
31 – Dona Vulva -

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