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NOTÍCIAS

A mão invisível da milícia


Com milícia em expansão, confrontos policiais no Rio miram tráfico e somam só 3% em áreas de milicianos

I GOR M ELLO E LOLA F ER R EI R A


D O U OL E C OLABOR AÇ ÃO PAR A O U OL, N O R I O

Medo e demência/UOL
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N ÃO AC EITO

O dia 7 de abril de 2018 ainda não havia amanhecido quando dezenas de policiais civis chegaram ao Sítio 3
Irmãos, em Santa Cruz, zona oeste do Rio. A ação tinha o objetivo de prender o miliciano Wellington da Silva
Braga, o Ecko —chefe da Liga da Justiça, maior milícia do estado.

A operação foi um desastre: o criminoso fugiu durante troca de tiros que deixou quatro de seus seguranças
mortos. Autoridades policiais insistiram na versão de que um show de pagode, com venda de ingressos e
ampla divulgação, era uma reunião de paramilitares.

Não demorou para que as histórias de inocentes presos injustamente proliferassem na imprensa. Mais de
150 pessoas foram detidas, mas quase todas foram libertadas semanas depois, quando o MP (Ministério
Público) do Rio admitiu que não havia elementos para imputar crimes a 138 presos. Levantamento da Draco
(Delegacia de Repressão às Ações Criminosas) entregue à Defensoria Pública mostrou que 139 detidos
nunca tinham sido sequer investigados por envolvimento com grupos paramilitares.

Esse tipo de confronto armado entre policiais e paramilitares é raridade, como mostra levantamento inédito
feito pelo UOL com base em registros do Laboratório de Dados sobre Violência Armada Fogo Cruzado.

A análise de 2.959 tiroteios com a presença de agentes de segurança na cidade do Rio entre 5 de julho de
2016 e 30 de setembro de 2019 revela um padrão. Na prática, o Rio é uma cidade com duas polícias: uma
que promove incessante e violento confronto contra o tráfico de drogas e outra leniente com as milícias.

Para chegar a essa constatação, a reportagem analisou os locais onde esses confrontos armados ocorreram
a fim de checar se essas áreas eram dominadas pelo crime organizado e determinar quais grupos
criminosos atuavam ali. As trocas de tiros envolvem sobretudo a Polícia Militar, responsável pelo policiamento
ostensivo e por operações regulares em comunidades. Também há, em menor número, registros envolvendo
operações da Polícia Civil e das Forças Armadas —que atuaram no Rio durante intervenção federal na
segurança do estado, em 2018.

Apesar de já ocuparem parte considerável da cidade, as áreas de milícia foram palco de apenas 88 trocas
de tiro com as forças de segurança em mais de três anos —2,97% do total. Atualmente, conforme
levantamento feito pelo UOL com base em informações do MP do Rio, mais de 40% do território da capital já

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é dominado por esses grupos.

Por outro lado, 2.333 tiroteios se deram em favelas dominadas pelas três principais facções de traficantes do
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estado —o equivalente a 78,8% do total de tiroteios envolvendo agentes de segurança em mais de três anos.
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Esse movimento acontece em um cenário em que as milícias, apontadas hoje como a principal ameaça à
segurança no Rio, expandem seus tentáculos sobre territórios até então dominados pelo tráfico —não só com
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a tolerância da polícia em áreas já controladas por milicianos, conforme indica o levantamento, mas com a
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ajuda de agentes de segurança para tomada de comunidades, segundo investigações em curso no estado.
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Para a promotora Simone Sibilio, coordenadora do Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime
Você
Organizado) do MP, a Operação Intocáveis, pode cancelar
deflagrada emquando quiser
janeiro de 2019, dá um vislumbre dessa diferença.
A ação prendeu parte das lideranças do Escritório do Crime —milícia que controla a comunidade do Rio das
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Pedras, na zona oeste, que é investigada por ligação com a morte da vereadora Marielle Franco. Entre os
presos, está o major Ronald Paulo Alves Pereira, um dos líderes do grupo.

"Eles [os milicianos] têm sim, proteção", diz, citando como exemplo o fato de Ronald estar prestes a chegar à
patente de tenente-coronel, na qual estaria apto a comandar batalhões de área ou unidades especializadas
da PM. "Não temos operação [de combate às milícias] sem a participação de agentes públicos."

Ainda de acordo com a promotora, embora ainda não existam provas cabais de que batalhões da PM estão
atuando a serviço das milícias, isso é uma hipótese plausível. "Não identificamos ainda a ação dolosa de um
batalhão, o que há é uma inferência [nesse sentido]. Mas a gente não descarta porque a omissão é clara",
pontua.

A conclusão é de que, na Cidade Maravilhosa, apenas determinados CEPs são alvo da política de confronto
que norteia a segurança pública há décadas.

A Secretaria de Estado da Polícia Militar do Rio de Janeiro defendeu rigor no combate a grupos criminosos,
mas não se manifestou sobre o resultado do levantamento do UOL.

Mapa: os 2,9 mil tiroteios envolvendo policiais e facções

sasa

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Com milícia em expansão, confrontos policiais no Rio miram tráfico e somam só 3% em áreas de milicianos

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MapHub

A cor dos pontos indica a facção envolvida no tiroteio: CV (Comando Vermelho), TCP (Terceiro Comando
Puro), ADA (Amigos dos Amigos) e milícias. Os pontos na cor preta representam confrontos em áreas sem
domínio de facções. Há ainda pontos onde foram identificadas disputas entre facções pelo controle do
território.

Ao clicar sobre os pontos, é possível ver informações detalhadas sobre cada troca de tiros: a facção
envolvida, a localidade, a região onde ela ocorreu, data e hora da notificação.

O Laboratório de Dados sobre Violência Armada Fogo Cruzado coleta os dados geolocalizados sobre as
trocas de tiros em três fontes diferentes: notificações feitas por usuários do aplicativo da plataforma, relatos
publicados na imprensa e informações oficiais divulgadas por órgãos de segurança pública. Os registros

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indicam a localização aproximada do confronto.

Com milícia em expansão, confrontos policiais no Rio miram tráfico e somam só 3% em áreas de milicianos

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As milícias: Da origem à expansão
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CDD e Gardênia: Vizinhas, mas com atuação diferenciada do


mesmo batalhão

Embora tenham uma presença histórica em diversos bairros da zona norte carioca, é na zona oeste que a
milícia nasceu, sofisticou seus métodos de atuação e partiu em uma expansão desenfreada pelo estado do
Rio.

Considerada o local de fundação das milícias, a comunidade do Rio das Pedras, em Jacarepaguá, registrou
somente uma troca de tiros com presença de policiais desde julho de 2016.

A favela é controlada pelo Escritório do Crime, grupo acusado de matar a vereadora Marielle Franco e o
motorista Anderson Gomes. A quadrilha domina outras comunidades no bairro vizinho do Itanhangá —entre
elas, está a favela da Muzema, onde dois prédios construídos por milicianos desabaram em abril, matando
24 pessoas.

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Na Gardênia Azul, outra comunidade de Jacarepaguá dominada há décadas por paramilitares, também
houve apenas um tiroteio. Uma rua —a Estrada do Gabinal— separa a comunidade da Cidade de Deus. As
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duas comunidades são patrulhadas mesma unidade da Polícia Militar: o 18º BPM (Jacarepaguá).
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Esse batalhão tem um histórico de acusações de ligação com milícias. Lá trabalharam juntos o ex-PM
Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano, chefe do Escritório do Crime, e Fabrício Queiroz, ex-
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assessor parlamentar pivô do escândalo envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho mais
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velho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
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Se na vizinha Gardênia reina a paz, a favela celebrizada pelo filme de Fernando Meirelles mantém o
Você pode
cotidiano violento exibido nos cinemas: foram 173 cancelar quando
confrontos comquiser
as polícias desde 2016 —o que lhe
confere o 2º lugar no ranking de tiroteios, ficando atrás apenas do Complexo do Alemão, na zona norte. A
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favela hoje é o principal território do Comando Vermelho na zona oeste carioca.

Confrontos despencam após milícia tomar Santa Cruz


Estimativas obtidas junto ao Ministério Público do Rio de Janeiro mostram que apenas a Liga da Justiça
controla totalmente nove bairros da zona oeste — Campo Grande, Inhoaíba, Cosmos, Paciência, Guaratiba,
Barra de Guaratiba, Pedra de Guaratiba, Sepetiba e Santa Cruz. Neles vivem aproximadamente 1 milhão de
pessoas (16,8% da população da capital fluminense).

Nas áreas controladas pelo grupo, houve apenas 45 registros de disparos de armas de fogo envolvendo
agentes de segurança em mais de três anos. Para efeito de comparação, somente a Vila Kennedy
(comunidade em Bangu controlada pelo CV) teve mais que o dobro de confrontos (93).

O bairro dominado pelo grupo com mais trocas de tiros é Campo Grande, com 26 registros de disparos de
armas de fogo com envolvimento policial em mais de três anos. Porém, os confrontos no bairro mais
populoso do Rio fogem do padrão estabelecido no resto da cidade: em Campo Grande, a maior parte deles
ocorre em vias de grande fluxo, e não em comunidades.

Campo Grande é também o berço da Liga da Justiça. Foi lá que o vereador Jerônimo Guimarães, o
Jerominho, e seu irmão Natalino Guimarães, deputado estadual, criaram as bases do que viria ser a
presença paramilitar no século 21: diversificaram as atividades criminosas para muito além da cobrança de
taxas de segurança e implementaram uma máquina de intimidação contra moradores e comerciantes das
áreas dominadas.

A violência brutal contra inimigos e testemunhas de crimes virou uma marca do grupo paramilitar: em
meados dos anos 2000, a cena de pessoas metralhadas por milicianos se tornou uma rotina em Campo
Grande e bairros vizinhos.

O grupo se expandiu, mesmo com a prisão dos seus dois líderes. O último reduto conquistado foi Santa Cruz
—bairro carioca mais distante do centro da cidade.

Historicamente, o Comando Vermelho sempre teve presença forte em Santa Cruz. Por isso, levou 11 anos
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para que os paramilitares expulsassem a facção da região. O confronto final ocorreu na favela de Antares,
principal reduto do CV no bairro, e teve uma data simbólica: 8 de outubro de 2018, dia seguinte ao primeiro
Com
turno da milícia
última em expansão, confrontos policiais no Rio miram tráfico e somam só 3% em áreas de milicianos
eleição.
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A expansão da milícia contou com o auxílio
D O U OL Eda Polícia
C OLABOR Militar
AÇ ÃO PAR A —seja enfraquecendo
O U OL, N O RIO os traficantes do CV com
operações, seja passando ao largo das áreas dominadas pelos paramilitares. De meados de 2016 até a
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conquista definitiva dos milicianos, Santa Cruz teve 37 confrontos com policiais. Destes, 29 ocorreram em
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comunidades controladas pelo tráfico e apenas quatro em territórios de milicianos.
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Depois que a Liga da Justiça consolidou seu domínio integral sobre Santa Cruz, foram registrados somente
dois confrontos com policiais. Desde o fimVocê
de pode cancelar
março, o Fogoquando quiser não cataloga ocorrências do tipo no
Cruzado
bairro.
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Investigação aponta ação de PMs para triunfo da milícia x


A mão invisível
tráfico da milícia
Com milícia em expansão, confrontos policiais no Rio miram tráfico e somam só 3% em áreas de milicianos
Um dos últimos embates entre a milícia e o CV em Santa Cruz evidenciou com clareza poucas vezes vista a
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colaboração da PM para a expansão Ddesses
O U OL E Cgrupos.
OLABOR AÇEm 30Ade
ÃO PAR O Ujulho
OL, N O de
R I O 2018, os paramilitares dominaram a

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favela do Rola. A comunidade era importante por ser vizinha da favela de Antares —que ficaria totalmente
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cercada pela Liga da Justiça, caso a comunidade aliada fosse tomada.
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Imagens feitas por equipes de TV e flagrantes publicados por moradores nas redes sociais mostravam
dezenas de criminosos vestidos de preto. Você
Elespode cancelar
usavam quando quiser
máscaras, coletes à prova de balas e fuzis para
sustentar o tiroteio.
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O confronto suspendeu a circulação do BRT Transoeste e das linhas de ônibus, além de impedir milhares
pessoas de irem ao trabalho ou à escola naquela manhã.

Enquanto moradores relatavam um cenário de caos, a PM —que deveria agir para encerrar a guerra— a
estimulava. Fotos distribuídas pelas redes sociais mostram um grupo de policiais calmamente no local.
Alguns deles interditavam a avenida Cesário de Melo, um dos principais corredores viários da zona oeste,
para garantir a livre circulação dos milicianos. Outros chegaram a ser flagrados ao lado dos bandidos, em
uma interação amistosa.

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Reprodução
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As imagens fizeram com que a Corregedoria da PM abrisse uma investigação contra um sargento, uma cabo
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e dois soldados do 27º BPM (Santa Cruz).tempo real e não perder nenhuma
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As 150 páginas do procedimento, obtido com exclusividade pelo UOL, mostram que os PMs —embora
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alegassem terem confundido os milicianos com policiais— não tinham como não saber que se tratavam de
bandidos. A Corregedoria pediu à Justiça medidas duras, como a prisão preventiva dos policiais e a quebra
AC EITO
N ÃO
de seus sigilos telefônicos, mas não foi atendida.

No pedido de prisão, os investigadores citam o filósofo chinês Confúcio para lembrar que uma imagem vale
mais que mil palavras. Destacavam o impacto daqueles flagrantes.

O documento afirma que os policiais incorreram no crime de inobservância da lei, previsto no Código Penal
Militar: "Observa-se por parte dos policiais militares (...) uma postura enxague em relação às normas e
regulamentos, onde pode ser enquadrado no Art. 324 do Código Penal Militar (...) (Deixar, no exercício da
função, de observar lei, regulamento ou instrução, dando causa direta à prática de ato prejudicial à
administração militar)", conclui.

Atualmente, o caso encontra-se nas mãos do Ministério Público, ainda sem denúncia à Justiça.

Dados obtidos pelo UOL por meio da Lei de Acesso à Informação revelam que, entre 2008 e 2018, apenas
81 PMs foram expulsos dos quadros da corporação por envolvimento com milícias. A PM argumenta que o
crime de milícia só foi tipificado em 2012 e que, "há exclusões decorrentes de crimes acessórios inerentes à
prática de milícia", mas não deu novos números.

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Tráfico de drogas: o "melhor negócio" da milícia
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O levantamento feito pelo UOL mostra que a ação policial violenta é rara em áreas de milícia. Isso não ocorre
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porque o tráfico de drogas e outros crimes sejam menos frequentes nesses territórios. Pelo contrário,
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estimativas de investigadores dão conta de que importante?
notícia a venda de drogas já é a maior fonte de receitas de diversos
grupos paramilitares, entre eles, a Liga da Justiça.
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É cada vez mais frequente que essas quadrilhas aceitem a entrada de criminosos oriundos de facções de
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tráfico. As traições ganharam até mesmo uma gíria no mundo do crime, que repercute nas redes sociais: "o
muro tá baixo". A expressão quer dizer que um grupo rival está ativamente aliciando membros de outra
facção —seja para promover um golpe interno, seja para obter novos combatentes em caso de áreas
disputadas por duas quadrilhas. O próprio Ecko, chefe da Liga da Justiça, foi traficante antes de ingressar na
milícia.

A parceria de diversas quadrilhas de milicianos —inclusive a Liga da Justiça— com a facção TCP (Terceiro
Comando Puro) já foi documentada em uma série de investigações do MP e da Polícia Civil. Assim que
dominam uma nova área, os milicianos terceirizam a venda de drogas, ficando com uma parte do lucro
obtido.

 Temos informes concretos da ligação do TCP com a milícia. A facção vende drogas
com a milícia. Cada comunidade que tomam do Comando Vermelho, eles colocam
os buchas [do TCP] para vender, da mesma forma que ocorre nas comunidades
dominadas pelo tráfico.

Luiz Antônio Ayres, promotor

Ayres investiga a milícia na zona oeste há mais de 20 anos e hoje é titular da 20ª Promotoria de Investigação
Penal de Campo Grande.

O sociólogo José Cláudio Souza Alves é um dos maiores estudiosos da ação das milícias no Rio. Professor
da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) e morador da Baixada Fluminense, ele afirma que
há relatos de áreas que são alugadas por milicianos para que o TCP atue.

Essa espécie de outorga ocorre após a expulsão do CV —seja por milicianos e integrantes de grupos de
extermínio, seja pela ação das polícias.

 Após isso, a milícia aluga pro TCP, quando não quer ela própria o controle. Porque
o controle têm ônus. Quando já há uma situação estabelecida que é favorável a
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ela, a milícia cede e aluga para que a facção assuma.

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José Cláudio Souza Alves, sociólogo
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Apesar de acobertarem o tráfico e outras atividades criminosas consideradas prioritárias pela política de
segurança pública —como o roubo de cargas—, as milícias não têm sido os alvos preferenciais de prisões.
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Dados divulgados pelo próprio governador Wilson Witzel (PSC) em novembro dão conta de que, até aquele
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momento, cerca de 1% dos presos no estado eram milicianos —377 das 30.792 prisões.
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Delegado aposentado, Cláudio Ferraz esteve na linha de frente da repressão às milícias quando comandou
Você
a Draco (Delegacia de Repressão a Ações pode cancelar
Criminosas quando quiser entre 2007 e 2011. Depois assumiu o
Organizadas)
órgão responsável por regulamentar o transporte alternativo no município —uma das principais fontes de
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recursos dos paramilitares.

Segundo ele, hoje esses grupos vêm mantendo sob sua proteção todas as atividades criminosas que
ocorrem em suas áreas de influência. Por um lado, isso faz com que haja uma aparente paz, já que sua
penetração nas forças de segurança garante que não haverá conflitos. Por outro, permite que o crime
maximize seus lucros.

"O que se percebe claramente é que essas milícias, considerando a interlocução com a máquina do Estado,
estão galgando um patamar de fazer a gestão e arbitragem de todas as atividades ilegais que ocorrem em
sua área de atuação. O roubo de carga, a receptação, a falsificação de bebidas, o contrabando de cigarros,
a venda de armas, o roubo de caixas eletrônicos, o tráfico de drogas, a extorsão, a cobrança de
estacionamento clandestino, as construções irregulares, a grilagem de terras. Tudo passa por eles", resume.

A promotora Simone Sibilio, coordenadora do Gaeco do MP-RJ, diz que as investigações do órgão chegam à
mesma conclusão.

"Você sabe que a milícia ocupou uma área quando os índices de criminalidade começam a cair. É o crime
organizado regulando a mancha criminal", explica.

Comando Vermelho: o alvo preferencial das polícias

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O levantamento do UOL mostra que grande parte dos confrontos com forças policiais ocorre em
comunidades da zona norte do Rio controladas pelo CV (Comando Vermelho), maior e mais antiga facção de
tráfico no estado. No total, 56% dos tiroteios ocorreram em áreas dominadas pelo grupo.

A cada cinco registros de embates com as polícias na cidade, um acontece nas principais favelas
controladas pelo Comando Vermelho: Complexo do Alemão, Jacarezinho e Complexo do Chapadão, na
zona norte, além de Vila Kennedy e Cidade de Deus, na zona oeste.

Dessas cinco, apenas o Chapadão não foi contemplado com uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). O
programa de pacificação do governo Sérgio Cabral (MDB), implantado pelo ex-secretário de Segurança
José Mariano Beltrame, é alvo de críticas por parte dos especialistas na área por atingir quase
exclusivamente comunidades dominadas pelo CV.

Entre as consequências dessa escolha, está a migração de criminosos para comunidades da região
metropolitana e do interior do Rio. Cidades antes pacíficas, como Angra dos Reis, na Costa Verde, hoje
convivem com constantes tiroteios, armas de grosso calibre e crescimento expressivo em seus índices de
criminalidade.

Em maio, Witzel foi criticado por participar de uma operação da Polícia Civil na cidade. Ele foi filmado em um
helicóptero enquanto um sniper atirava de fuzil contra uma tenda em um monte, usada por evangélicos para
orações. Antes, o governador gravou um depoimento ao lado de policiais em que anunciou o fim da ação de
criminosos em Angra: "Acabou a bagunça", bradou.

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As promessas de Witzel estão longe de se cumprir: em dezembro, sete corpos foram abandonados em frente
ao Corpo de Bombeiros de Angra. Eles seriam vítimas de uma chacina cometida por traficantes contra uma
quadrilha rival.

Assim como ocorre na zona oeste da capital, Angra dos Reis também é uma área de crescente interesse das
milícias.

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Jose Lucena/Estadão Conteúdo

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Na Praça Seca, operações policiais ajudaram milícia
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A expansão das milícias vem mirando sobretudo as áreas dominadas pelo CV: além da favela de Antares,
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paramilitares vêm patrocinando guerras pelo controle de comunidades na Praça Seca, no outro extremo da
zona oeste. N ÃO AC EITO

O bairro, que faz parte da região de Jacarepaguá, é estratégico para os planos de longo prazo dos
milicianos: representa a divisa entre as zonas oeste e norte da cidade, ficando perto de bairros importantes
como Madureira.

Um informe da Polícia Civil, ao qual o UOL teve acesso, mostra que o domínio mudou de mãos. Depois dos
primeiros ataques em 2017, o CV retomou o domínio da Praça Seca, com os milicianos tendo controle
apenas da comunidade da Chacrinha. O cenário mudou no fim de 2018. Uma aliança entre milicianos da
Liga da Justiça, de Jacarepaguá e do Campinho realizou uma ofensiva e retomou diversas comunidades.

Na região, é comum entre moradores o relato de que a PM —e sobretudo o 18º BPM (Jacarepaguá)— foi
decisiva para que a milícia retomasse as comunidades. Desde julho de 2016, houve 90 tiroteios com as
polícias na região da Praça Seca: 73 em áreas do tráfico e apenas sete da milícia.

Em maio, o MP e a Polícia Civil deflagraram a Operação Entourage, que prendeu integrantes de uma milícia
de Jacarepaguá. O grupo é comandado pelo miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, que
chegou a ser apontado como um possível articulador da morte de Marielle Franco.

Na denúncia contra 22 integrantes da quadrilha, os promotores afirmam que o grupo "também possuía outras
formas perniciosas de interagir com o Poder Público". Os milicianos atuaram lado a lado com a PM em uma
operação em comunidade dominada pelo tráfico na região.

"A súcia [milícia], em ao menos uma ocasião, chegou a atuar em conjunto com policiais militares em
operação voltada para a repressão ao tráfico de drogas em áreas de interesse da organização criminosa",
declararam os promotores.

Autoridades apontam reservadamente que, após dominarem a Praça Seca, os milicianos terão como próximo
alvo a Cidade de Deus.

Secretaria daAPM
mão invisível
defende da milícia
rigor contra milícias, mas silencia
sobre levantamento
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Por meio de nota, o órgão defendeu punição de desvios de conduta de agentes de segurança, com a
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tomada de medidas como, por exemplo, a expulsão dos quadros da corporação.
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Questionada, a pasta não se manifestou sobre o levantamento do UOL que mostra repressão violenta contra
o tráfico e leniência em relação às milíciasVocê
porpode cancelar
parte quando quiser
de agentes de segurança.

A secretaria também não comentou as investigações


N ÃO apresentadas na reportagem sobre suspeitas de apoio
AC EITO

de PMs na tomada de territórios por milicianos. Disse apenas que atua no combate a este tipo de crime ao
lado da Polícia Civil e Ministério Público.

O UOL também pediu à secretaria entrevistas com seus dirigentes, mas não obteve retorno.

Leia a seguir a íntegra da nota:

A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar do Rio de Janeiro reitera a posição do
Comando da Corporação de que as quadrilhas de milícias precisam ser combatidas com rigor, como
qualquer outra facção criminosa.

A Corregedoria Geral da Polícia Militar atua na apuração de desvios de conduta de policiais militares para
que as medidas cabíveis sejam tomadas, inclusive com a exclusão dos quadros da instituição.

Vale ressaltar também a atuação da Secretaria de Estado de Polícia Militar em parceria com a Secretaria de
Estado de Polícia Civil e com o Ministério Público estadual no combate a este tipo de crime. As unidades
operacionais participam de ações para cumprimento de mandados de prisão e de busca e apreensão
expedidos pela Justiça contra integrantes dessas quadrilhas.

Considerando que sua demanda relata o período de 2008 até 2018, cabe informar também que a tipificação
de constituição de milícia privada foi incluída em 2012 no Código Penal. Antes deste prazo, podem ter
ocorridos exclusões porém sem a inclusão do referido delito pela sua inexistência até então. No entanto, há
exclusões decorrentes de crimes acessórios e inerentes à prática de milícia.

A mão invisível da milícia


Com milícia em expansão, confrontos policiais no Rio miram tráfico e somam só 3% em áreas de milicianos

I GOR M ELLO E LOLA F ER R EI R A


D O U OL E C OLABOR AÇ ÃO PAR A O U OL, N O R I O

Medo e demência/UOL
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N ÃO AC EITO

Sem confronto, milícia não vende segurança

Fontes na Polícia Civil e no MP ouvidas pelo UOL sustentam que os confrontos constantes em áreas
dominadas pelo tráfico interessam a milicianos. Com um discurso moralizador, esses grupos usam o medo
causado pelos embates entre tráfico e polícia para justificar seu domínio sobre comunidades, ao mesmo
tempo que, ao se estabelecerem em um novo local, travestem a extorsão a moradores e comerciantes como
uma taxa de segurança para impedir a volta dos traficantes.

Via de regra, esses grupos paramilitares têm em postos estratégicos agentes do braço armado do Estado —
como policiais militares, civis, bombeiros e membros das Forças Armadas.

Delegado aposentado da Polícia Civil, Cláudio Ferraz é categórico ao destacar que a vida dupla mantida
por policiais milicianos gera conflito de interesses que afeta a política de segurança pública como um todo,
por vezes fazendo com que as forças do Estado sejam manipuladas para atender a interesses desses
grupos.

"O grande perigo disso é o alinhamento desses agentes do Estado participando do poder público e
trabalhando em paralelo no crime, como se fossem dois universos paralelos: o legítimo e o ilegítimo. Eles
ganham com a desregulamentação e a desordem", explica.
A mão invisível da milícia
 OCom
traficante quer paz para vender o seu produto. Já o miliciano quer guerra. Se
milícia em expansão, confrontos policiais no Rio miram tráfico e somam só 3% em áreas de milicianos
não tiver confronto, como ele vai vender a segurança? Se não mantiver a
I GOR M ELLO E LOLA F ER R EI R A
sociedade em estresse, a Dmercadoria dele,
O U OL E C OLABOR AÇ ÃO PAR que
A O U OL,é NaO Rsegurança,
IO não existe.

Medo e demência/UOL

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