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DISS 2012 Osinéia Albina Brunelli
DISS 2012 Osinéia Albina Brunelli
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
CUIABÁ-MT
2012
2
Cuiabá-MT
2012
3
B894c
Brunelli, Osineia Albina.
Concepções de EJA, de ensino e de aprendizagem de matemática de
formadores de professores e suas implicações na oferta de formação
continuada para docentes de matemática./ Osineia Albina Brunelli. --
Cuiabá (MT): Instituto de Educação/IE, 2012.
DEDICATÓRIA
A DEUS,
AO MEU ESPOSO,
AGRADECIMENTOS
Por compreender que só sabemos com exatidão quando conhecemos pouco, pois à
medida que vamos adquirindo conhecimentos, instala-se a dúvida, trago nesse momento o
poema de Mena Moreira que tão sabiamente escreve:
RESUMO
O trabalho que apresentamos é referente a uma pesquisa que tem por objetivo investigar e
compreender quais são as concepções de Educação de Jovens e Adultos, de ensino e de
aprendizagem de matemática dos professores formadores dos CEFAPROs (Centros de
Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica). Tais concepções são
relatadas em suas falas e em seus registros ao planejarem a formação dirigida aos professores
de matemática que atuam na Educação de Jovens e Adultos (EJA). A pesquisa se desenvolveu
tendo como foco a seguinte questão: em quais concepções de EJA, de ensino e de
aprendizagem de matemática os formadores de professores do CEFAPROs se
fundamentam para organizarem a formação continuada dos docentes de matemática
que atuam na EJA? Nesta pesquisa defendemos uma concepção de Educação de Jovens e
Adultos com as finalidades reparadora, equalizadora e qualificadora. Explicitamos o
entendimento de que esta modalidade de ensino deve considerar as especificidades e
diversidades de seus sujeitos. Evidenciamos a necessidade de uma EJA que compreenda que a
educação é um direito de todos e que deve acontecer ao longo da vida. Para a construção desta
discussão nos fundamentamos nos seguintes autores: Haddad (1994, 2001, 2002, 2009),
Fonseca (2005), Di Pierro (2004, 2005, 2008), Freire (1981, 1987, 1996, 2001, 2008), etc.
Posicionamo-nos também em defesa de um ensino de matemática que valoriza a construção
de estratégias de resolução de problemas, que busca incentivar a criatividade, a iniciativa
pessoal, as atividades em grupo, que procura trabalhar no sentido de promover a autonomia e
que contribua significativamente para a formação dos sujeitos da EJA. Para a construção desta
categoria conceitual nos apoiamos nos seguintes teóricos: D‘Ambrosio (1994, 2005),
Fiorentini (1995, 2003), Pontes (1982, 1992), Darsie (1999) entre outros. Defendemos ainda
que toda formação continuada deve contemplar a dimensão social da EJA. No início ela deve
ser geral abarcando toda a Proposta Curricular da EJA para proporcionar uma melhor
compreensão da modalidade. Em seguida, deve-se chegar a um contexto mais específico, que
é a questão metodológica de cada disciplina ou área do conhecimento. Assim, para esta
construção, dialogamos com os seguintes autores: Gonçalves (2000), Imbernon (2000),
Nóvoa (1992, 2009), Perrenoud (2003) entre outros. A metodologia utilizada foi a abordagem
qualitativa de análise interpretativa, teoricamente fundamentada em Bogdan & Biklen (1994),
Ludke & André (2004) e etc. Os dados foram coletados através de questionários e entrevistas
semi-estruturadas. A coleta de dados aconteceu no interior de três CEFAPROs e os sujeitos
foram quatro formadores de professores de matemática lotados nesses Centros. A importância
desse trabalho se revela, sobretudo, pela busca de caminhos que indiquem como acontece a
formação continuada dos professores de matemática que atuam na EJA na rede pública
estadual de Mato Grosso. A partir do referencial teórico citado e dos dados coletados,
instituímos como categorias de análise, a perspectiva tradicional e emancipadora de educação.
Em resposta a problemática desta investigação, concluímos que os formadores apresentam
concepções emancipadoras de EJA. Suas concepções de ensino e de aprendizagem de
matemática transitam entre as perspectivas tradicional e emancipadora, mantendo certa
tendência para a perspectiva emancipadora de Educação Matemática. Apesar dos formadores
demonstrarem concepções significativas de EJA, de ensino e de aprendizagem de matemática,
os dados da pesquisa nos revelaram que eles atualmente não organizam formação continuada
para os educadores de matemática que atuam na Educação de Jovens e Adultos, isto é,
inexiste uma formação continuada específica para esse educador.
ABSTRACT
The work presented refers to a research that has as intention, to investigate and understand the
conceptions of teaching and learning of Math by teachers from CEFAPROs (Center of
Formation and Updating on Professionals from Basic Education) in the Education of Youth
and Adults. Those conceptions are reported in their own speech and in their daily notes when
planning the directed formation to the Math teachers that act in the Education of Youth and
Adults (EJA). The research role played focusing the following question: in which
conceptions of EJA, of the teaching and learning of Math, do the teachers‟ trainers from
CEFAPROs, substantiate themselves to organize the continued formation of the Math
mentors that act in EJA? In this research we defend a conception that the Education of
Youth and Adults must be repairing, equalizer and qualifying. We clearly show that, in this
kind of teaching, it must be considered the peculiarities and the diversities of the subjects. We
evidence the necessity of an EJA that comprehends that education is everybody‘s rights and
that it must happen through our entirely life. To build this discussion, we substantiate on the
following authors: Haddad (1994, 2001, 2002, 2009), Fonseca (2005), Di Pierro (2004, 2005,
2008), Freire (1981, 1987, 1996, 2001, 2008), etc. We also protect a Math teaching that
valorizes the construction of strategies on solving problems, that pursue motivating the
creativity, the personal initiative, the group activities that try working the promotion of
autonomy and that contributes meaningly to the EJA‘s subjects. To the construction of this
conceptual category we had the support of the following authors: D‘Ambrosio (1994, 2005),
Fiorentini (1995, 2003), Pontes (1982, 1992), Darsie (1999) beyond others. In this research,
we also keep that all the continued formation must begin from a social dimension of EJA, that
in this case are general constructions that hope to give a better comprehension of the genre,
passing through steps that bring The Curriculum Purpose to reach a more specific context
which is the methodological question of each school subject or knowledge area. To provide
the discussion we dialog with the following authors: Gonçalves (2000), Imbernon (2000),
Nóvoa (1992, 2009), Perrenoud (2003) beyond others. The methodology used was the
qualitative approach of interpretative analysis, based in Bogdan & Biklen (1994), Ludke &
André (2004) and etc. The information were composed through part-structured questions and
interviews. Data was collected in three different CEFAPORs and the subjects were four
trainers of Math teachers. The meaning of this work revels, therefore, by the search of paths
that shows how the continued formation happens with teachers that act in EJA in the public
schools of the State of Mato Grosso. From the academic reference and the collected data, we
established as analysis categories, the traditional perspective and grown up of the educational
system. In response to the problem in this investigation, we conclude that trainers present free
conceptions of EJA. Their conceptions of teaching and learning of Math, surround between
the traditional and emancipated perspectives, keeping a tendency to the emancipated
perspective of Math teaching. Even though the trainers seem to show significant conceptions
of EJA, of teaching and learning Math, the data from the research show that nowadays, they
don‘t organize the continued formation to the teachers of Math that act in the Education of
Youth and Adults, it means that there isn‘t an specific continued formation to this educator.
Key words: Education of Youth and Adults; Mathematic Education; Trainer Teacher;
Continued Formation of EJA Teachers; Conception.
11
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................................18
2.2.5 O lúdico………………………………………………………………………………105
2.2.6 Modelagem matemática...............................................................................................106
2.2.7 Metacognição e estratégias metacognitivas na resolução de problemas
matemáticos...........................................................................................................................108
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................247
REFERÊNCIAS......................................................................................................................258
ANEXOS................................................................................................................................269
18
INTRODUÇÃO
Esse direito para jovens e adultos, assegurado pela Constituição Federal, organizou-
se na LDBEN como modalidade de ensino fundamental e médio, o que significa
assumir que para esse público há modos próprios de fazer a educação desses níveis
de ensino, segundo as características desses sujeitos e suas trajetórias e histórias de
vida, trabalho, de ser e estar no mundo. Com a finalidade de esclarecer aspectos da
LDBEN, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação
aprovou, em maio de 2000, o Parecer nº11, relatado pelo Conselheiro Carlos
Roberto Jamil Cury, fixando Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de
Jovens e Adultos e a Resolução que correspondente ao Parecer foi homologada pelo
Ministro da Educação em 5 de julho de 2000, adquirindo então força de lei
(ORIENTAÇÕES CURRICULARES DAS DIVERSIDADES
EDUCACIONAIS/EJA/MT, 2011, p.115-116).
científico necessário ao professor, mas que ela lhe possibilite segundo Shön (1995) refletir em
ação e sobre a sua ação. Neste estudo, denominamos de emancipador este modelo de
formação continuada.
Algumas vozes se destacam na história recente da educação de adultos no Brasil. Entre
elas, a de maior reconhecimento é a do pensador Paulo Freire. Freire lutou pela
conscientização das pessoas da sua condição social e do potencial individual que tem cada ser
de transformar sua realidade. Cada cidadão possui o direito de se educar e, segundo Freire, o
ato de educar-se permite ao homem a construção do seu processo de humanizar-se.
O chamado processo de conscienciação 1 apregoado por Freire exige do homem a
consciência da realidade associada à ação. Pensar, mas não agir é ineficaz, bem como ter
direito, mas não exigi-lo. A ação é necessária e, sobretudo, no caso da EJA. No campo da
Educação de Jovens e Adultos as contribuições de Paulo Freire não se restringiram apenas ao
aspecto pedagógico, os seus ideais foram além, pois visavam possibilitar a reflexão dos
sujeitos sobre a desumanização que sofriam e ao mesmo tempo, vislumbravam a possibilidade
de (re) construir processos que recuperariam a humanidade roubada.
Freire deixou para a Educação de Jovens e Adultos um legado. Esse legado afirmava
que a preocupação do bom educador não deveria ser apenas com a trajetória escolar, mas,
sobretudo, com trajetórias pessoais e humanas, trajetórias de homens, mulheres, indígenas,
negros e negras, trabalhadores que viviam experiências humanas em todos os espaços da vida
social. Sendo assim, uma das principais funções do educador consistia em agir de forma que
esse público escolar pudesse ter consciência da construção social que realizava e da
perspectiva cidadã a que tinham direito.
Apesar de muitas conquistas, observamos que a Educação de Jovens e Adultos
necessita avançar em muitos aspectos. Ainda presenciamos em algumas práticas educativas
um entendimento de EJA como suplência. Constatamos também a presença de um ensino não
direcionado às especificidades desse público, um ensino infanto-juvenil nos moldes da
modalidade de educação dita ‗regular‘. Percebemos que esses problemas se fazem presentes,
entre outros motivos, pela falta de qualificação profissional dos educadores para trabalharem
com a Educação de Jovens e Adultos.
Observa-se a priori, falta de formação específica para os profissionais da EJA. Tal
dificuldade é resultado das lacunas oriundas da formação inicial e que, em tese, a formação
1
Freire não aprovava o termo conscientização por sugerir que o sujeito deveria ser conscientizado por alguém.
Por isso, a opção pelo termo ‗conscienciação‘, juntando consciência e ação. Sugerindo que a consciência não é
adquirida ou implantada por alguém no educando, mas o próprio sujeito é quem realiza a ação de desenvolver
em si a consciência.
21
continuada é responsável por preencher. Nóvoa (2009) afirma que a formação inicial do
educador não inclui eixos fundamentais para o ofício de ensinar. Embora tenha havido uma
grande revolução no conceito de formação, ainda necessitamos progredir em muitos aspectos.
Ao refletirmos sobre a formação inicial, podemos constatar a fragilidade que as
licenciaturas em matemática apresentam no que se refere ao preparo do exercício da profissão
para as especificidades da EJA. São pouquíssimas as universidades que em seus cursos de
licenciatura discutem o ensino nessa modalidade. No estado de Mato Grosso são raros os
licenciandos que têm a oportunidade de cursarem matemática onde a matriz curricular
contemple essa modalidade de ensino. Todos os nossos sujeitos foram unânimes ao afirmarem
que a EJA não foi contemplada em seus cursos de graduação.
Discuto2 neste momento sobre as dificuldades dos educadores trabalharem com a EJA
levando em consideração a minha própria experiência profissional. Atuo como professora de
matemática da educação básica da rede pública do Estado de Mato Grosso há mais de dez
anos. Também atuei ministrando aulas no ensino superior por mais de oito anos. A minha
experiência como formadora de professores de matemática na Universidade do Estado de
Mato Grosso (UNEMAT) me possibilitou concorrer a uma vaga de formadora de professores
de matemática no Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica
(CEFAPRO) da cidade de Cáceres – MT.
O CEFAPRO é um Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação
Básica do Estado de Mato Grosso. É o órgão responsável pela execução da política de
formação da Secretaria de Estado de Educação – SEDUC/MT.
O seu público alvo são os profissionais da educação e o seu principal objetivo consiste
em executar a formação continuada desse público que atua no Ensino Fundamental e Médio.
Ou seja, dar atendimento a todas as modalidades de educação do Estado, que compreende a
Escola Organizada em Ciclos de Formação Humana, a Educação do Campo, a Educação
Indígena, a Educação Especial, a Educação Quilombola, incluindo também a Educação de
Jovens e Adultos (EJA)3.
Os CEFAPROs têm como funções: a disseminação das políticas oficiais de educação
do Estado de Mato Grosso e do Ministério da Educação; a realização de diagnóstico das
necessidades das unidades escolares; dar apoio e propor ações formativas junto às escolas da
rede pública de ensino; mediar as necessidades formativas dos professores e das políticas
2
Por se tratar de uma experiência pessoal dialogarei nesse momento com o leitor utilizando a primeira pessoa do
singular.
3
Texto Disponível em: http://www.seduc.mt.gov.br/conteudo.php?sid=79&parent=15
22
como formadora ou se quer como professora de EJA. Sem nem mesmo ter ministrado aulas
nesta modalidade, de repente tornei-me responsável pela formação dos seus professores.
Não me senti preparada para a nova função. Percebi então, a necessidade de investir
em minha formação. Comecei a questionar: existe formação específica para o formador de
professor que atua na EJA? Descobri então que o GRUEPEM (Grupo de Estudos e Pesquisas
em Educação Matemática) estava desenvolvendo pesquisas em Educação Matemática na
modalidade de Educação de Jovens e Adultos. Grupo esse, pertencente à linha de pesquisa
Educação em Ciências e Matemática do mestrado em Educação da Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT).
Um tanto frustrada por não me sentir preparada para exercer a nova função, decidi me
afastar das atividades do CEFAPRO para qualificação profissional. Participei da seleção,
pleiteando uma vaga no mestrado com um anteprojeto de pesquisa direcionado para a
Educação Matemática na modalidade de Educação de Jovens e Adultos.
Como mestranda e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação
Matemática tive a oportunidade de aprofundar a temática, redirecionar a pesquisa e dar maior
sustentação teórica ao projeto. O apoio encontrado nos membros do GRUEPEM, os estudos
realizados e as discussões levantadas no interior deste grupo referentes à EJA, reforçaram em
mim o desejo de desenvolver uma pesquisa nessa modalidade de ensino.
O mestrado me possibilitou ter acesso às pesquisas desenvolvidas e em
desenvolvimento sobre a Educação Matemática na Educação de Jovens e Adultos no Brasil.
As pesquisas desenvolvidas e em desenvolvimento no GRUEPEM, sob a orientação da
professora Drª Marta Maria Pontin Darsie, como as de Ribeiro (2007), Nogueira (2010), Leite
(2011), Vanin (2012), Camargo (2012), me auxiliaram significativamente na delimitação do
objeto de estudo. LEITE e DARSIE (2009), VANIN e DARSIE (2010) – integrantes do
GRUEPEM – realizaram um levantamento de pesquisas que possuíam como temática a
Educação Matemática na Educação de Jovens e Adultos. Este levantamento destacou a pouca
produção de pesquisas voltadas para esta temática. Chamou-me a atenção a pouca produção
de pesquisas em Educação Matemática na EJA e a partir de então tive a certeza que
desenvolveria a minha pesquisa nesta área.
O apoio encontrado no GRUEPEM me fez ampliar ainda mais os questionamentos
anteriormente levantados e passei a questionar: quem forma o formador de professor? Como o
formador de professor de matemática adquire experiência para gerir a formação continuada
dos professores que atuam na Educação de Jovens e Adultos? Quais são os saberes docentes
24
professores. Procuramos compreender o que as falas dos sujeitos e os seus planos de formação
podiam revelar a partir dos fundamentos teóricos, ou seja, a partir das categorias conceituais
levantadas nos capítulos anteriores (categorias a priori) e a partir também das categorias que
emergiram da coleta dos dados (categorias a posteriori).
Buscamos desenvolver a análise de tal forma que ela se constituísse num diálogo entre
pesquisador, teóricos e sujeitos investigados. Portanto, utilizamos fragmentos das falas dos
entrevistados expressas tanto nos questionários quanto nas entrevistas. Disponibilizamo-nos
também de dados coletados em outras situações informais e registrados em diário de campo.
Realizamos a interpretação das informações de cada sujeito da pesquisa, buscando uma
aproximação ou distanciamento do que apresentamos como categoria de análise neste
trabalho.
Portanto, a interpretação das informações obtidas através dos nossos instrumentos de
coleta, se desenvolveu por sujeitos, substanciadas em nosso aporte teórico. Iniciamos
realizando as análises das concepções de EJA, para em seguida efetuarmos respectivamente as
análises das concepções de ensino e de aprendizagem de matemática. Posteriormente
refletimos sobre a formação inicial e continuada dos sujeitos da pesquisa, e sobre as suas
concepções de formação continuada para docentes de matemática da EJA. Procuramos
também, refletir sobre as implicações das concepções dos formadores, na oferta de formação
continuada aos educadores de matemática que trabalham na EJA. Finalizamos este capítulo,
buscando compreender o que nos revelavam os planos de formação dos sujeitos desse estudo.
28
Paulo Freire
A educação de adultos no Brasil tem suas raízes na era colonial com a chegada dos
padres jesuítas, a partir de 1549. Com o objetivo principal de catequizar a população local,
basicamente formada por índios brasileiros, os catequistas traziam em seu plano de ação não
somente o ensino da religião cristã, mas a incubação de toda a cultura européia na nova terra e
isto, por óbvio, incluía a educação, ou a propósito, ―instrução‖, dos povos chamados ―sem,
lei, sem rei e sem religião‖.
Sabe-se que a educação de adultos surgiu no Brasil juntamente com a educação
elementar comum. Com o ensino das crianças os jesuítas também pretendiam ‗educar‘ os
pais. Para a realização da catequização dos nativos e colonizadores, os jesuítas necessitavam
oferecer-lhes certa ―instrução‖ que compreendia um processo de alfabetização e transmissão
do idioma português. No entanto, com a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, o
ensino é desorganizado sendo retomado somente no Império (1822-1889).
Durante a campanha, essa visão preconceituosa do analfabeto aos poucos foi sendo
transformada. O adulto analfabeto passa a ser considerado produtivo capaz de raciocinar e
resolver problemas, isso se deve ao desenvolvimento de teorias mais modernas da psicologia
que afirmavam que a capacidade de aprendizagem dos adultos não era inferior a capacidade
de aprendizagem das crianças.
Em 1947, o Ministério da Educação toma a iniciativa de produzir pela primeira vez na
história do país, material didático específico para o ensino da leitura e escrita dos adultos. Tal
fato se deve a dois fatores: difusão de um método de ensino e leitura para adultos denominado
Laubach, e a confiança na capacidade de aprendizagem de adultos defendida por Lourenço
Filho mediante a publicação de artigos que divulgavam estudos de psicologia experimental
realizados nos Estados Unidos nas décadas de 20 e 30.
Referente ao primeiro guia de leitura Ribeiro afirma:
Antes de entrar no estudo dessas palavras geradoras, Paulo Freire propunha ainda
um momento inicial em que o conteúdo do diálogo educativo girava em torno do
conceito antropológico de cultura. Utilizando uma série de ilustrações (cartazes ou
slides), o educador deveria dirigir uma discussão na qual fosse sendo evidenciado o
papel ativo dos homens como produtores de cultura e as diferentes formas de
cultura: a cultura letrada e a não letrada, o trabalho, a arte, a religião, os diferentes
padrões de comportamento e a sociabilidade. O objetivo era antes mesmo de iniciar
o aprendizado da escrita, levar o educando a assumir-se como sujeito de sua
aprendizagem, como ser capaz e responsável. Tratava-se também de ultrapassar uma
compreensão mágica da realidade e desmistificar a cultura letrada, na qual o
educando estaria se iniciando (RIBEIRO, V., 2001, p. 24-25).
das experiências que foram extintas no governo militar ditatorial. O pensamento Freriano foi
considerado por este governo como uma ameaça à ordem social, pois em sua educação
libertadora, Freire compreendia o analfabetismo como efeito da situação de pobreza, gerada
por uma estrutura social não igualitária. Deste modo, Ribeiro vem dizer que:
Era preciso, portanto, que o processo educativo interferisse na estrutura social que
produzia o analfabetismo. A alfabetização e a educação de base de adultos deveriam
partir sempre de um exame crítico da realidade existencial dos educandos, da
identificação das origens de seus problemas e das possibilidades de superá-los (V.,
2001, p. 23).
Além da dimensão social e política, os ideais defendidos por Freire tinham um forte
componente ético, que levaria o educador a um profundo comprometimento com os
educandos. Freire afirmava que o educador progressista deveria reconhecer que a prática
educativa é também prática política e a sua ação vai muito mais além da estreiteza de
procedimentos escolarizantes.
Neste contexto, o processo de conhecer abrangeria muito mais que a compreensão de
conteúdos. O ato de educar seria um processo de conscientizar, pois para Freire, em toda
história da humanidade sempre houve uma classe dominante e outra dominada e assim, a
história dos homens sempre seria uma história de lutas. Todavia, a essência da história reside
justamente na modificação da estrutura social por intermédio da confrontação do homem com
o seu meio. Freire a luz da filosofia marxista via o homem como ser condicionado, porém,
não determinado. O futuro em sua visão, não era algo dado, inexorável, mas construído
historicamente mediante lutas e enfrentamentos.
Os ideais Freirianos se sustentam em Marx ao afirmar que o homem está no processo
de conscientização quando é capaz de se perguntar o porquê de sua existência, de questionar a
sua realidade no sentido de desvelá-la. Marx corrobora que toda ciência seria supérflua se a
forma de manifestação e a essência das coisas coincidissem imediatamente (MARX apud
ANDERY, 1996).
Contudo, a educação proposta por Freire deixa de permear as políticas educacionais
com o golpe de 1964. O governo militar só permitiu a partir de então, a realização de
programas de alfabetização de adultos assistencialistas e conservadores. Após três anos, ou
seja, em 1967, ele mesmo, assume o controle desses programas, lançando o Mobral
(Movimento Brasileiro de Alfabetização).
35
50% das crianças reprovavam ou eram excluídas ao longo da 1.ª série do 1.º Grau;
30% da população era formada por analfabetos; 23% dos professores eram leigos e
30% das crianças estavam fora da escola. Além disso, oito milhões de crianças no
1.º Grau tinham mais de 14 anos, 60% de suas matrículas se concentravam nas três
primeiras séries que reuniam 73% das reprovações. O fracasso escolar entre os
alunos na 1.ª série do ensino de 1.º Grau passava a corresponder a 56% do total de
matrículas, sendo considerado seu ―ponto de estrangulamento‖. Nas décadas
posteriores, aqueles ex-alunos corresponderam à intensa demanda de jovens e
adultos não-alfabetizados ou com reduzido tempo de escolarização. Tais indicadores
estavam vinculados à realidade de 60% da população que vivia abaixo da linha da
pobreza (BRASIL, 2006, p. 19).
Com a Nova República, a partir de 1985, o governo federal rompeu com a política de
Educação de Jovens e Adultos do período militar, extinguiu o Mobral e criou a Fundação
Educar (Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos). Esta Fundação apoiou
técnica e financeiramente algumas iniciativas de educação básica de jovens e adultos,
conduzidas por prefeituras municipais e instituições da sociedade civil.
36
Não se trata de negar o acesso à cultura geral elaborada. Trata-se de não desprezar e,
sobretudo, não matar a cultura primeira do aluno. Trata-se de incorporar uma
abordagem do ensino-aprendizagem que se baseia em valores e crenças
democráticas e procurar fortalecer o pluralismo cultural num mundo cada vez mais
interdependente. Por isso, a filosofia primeira na qual o educador de jovens e adultos
precisa ser formado, é a filosofia do diálogo, que de acordo com Freire [...] “é esse
encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo [...]”. Podemos
assim considerar a pedagogia dialógica de Paulo Freire como sendo indispensável na
educação de jovens e adultos (2010, p. 28).
40
Por acreditar que entregar prescrições a serem seguidas não era suficiente para o
educador ser capaz de propiciar um ambiente de aprendizagem significativo, Freire propôs
uma educação que fosse capaz de permitir ao educando a emersão de sua condição de objeto
para a condição de sujeito ativo na construção de seu conhecimento.
Freire (1996, p. 47) afirmava que ―ensinar não era transmitir conhecimento, mas criar
as possibilidades para a sua própria produção ou construção‖. O ensino para Freire deveria ser
dialógico. O educador só seria capaz de oferecer uma educação dialógica se soubesse ouvir os
alunos. A educação na perspectiva Freiriana, não era apenas um ato de ensinar a fim de
promover a aquisição de conhecimento. Almejava educar para a autonomia e para a
liberdade. Isso era perfeitamente possível através do ato de ouvir os educandos, valorizando
seus mundos e suas concepções de vida para, a partir daí, promover a construção de um saber
libertário.
Contrário disto, o educador estaria desenvolvendo a educação bancária que nada mais
era que o simples ato de transferir e depositar conhecimentos. O aluno na concepção bancária
da educação era apenas um ser passivo onde [...] ―o educador tinha a tarefa de depositar neste,
o aluno, os conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da totalidade em que se
engendram‖ (IBIDEM, p. 65).
Neste modelo de educação o professor seria o sujeito e o aluno sempre o objeto,
objeto este que precisava ser ―enchido‖ pelo professor através dos seus depósitos. Neste
sentido, o aluno fixava, memorizava, repetia sem saber o que realmente significava e como
consequência, reproduzia um saber descontextualizado e alienado.
41
Contudo, outra perspectiva de educação idealizada e apontada por Freire entendia que
os estudantes e professores seriam agentes ativos e cooperavam para o aprendizado mútuo.
Essa perspectiva foi denominada pelo autor como ―Educação Problematizadora‖, também
conhecida como ―Educação Libertadora‖. Sobre tal perspectiva Nogueira elucida:
E ainda:
Discutir a Educação de Jovens e Adultos é primeiramente admitir que o seu público foi
excluído da escola ainda quando criança ou adolescente. É pensar no acanhamento que os
alunos da EJA manifestam quando são julgados pela sociedade e inclusive pelo poder público
como um mal do sistema regular de ensino.
Para muitos a existência de uma Educação de Jovens e Adultos se constituiu muito
mais como ―produto da miséria social do que do desenvolvimento. É consequência dos males
do sistema público regular de ensino e das precárias condições de vida da maioria da
população, que acabam por condicionar o aproveitamento da escolaridade na época
apropriada‖ (HADDAD, 1994, p. 86). Infelizmente esta concepção de EJA ainda se faz
presente apesar desta modalidade de educação ao longo da história ter passado por grandes
mudanças e sofrido influências de diversas tendências.
Gadotti e Romão (2007) afirmam que até a Segunda Guerra Mundial esta educação
era compreendida como uma extensão da educação formal para todos, integrada a educação
popular, ou seja, educação para o povo, voltada especificamente para a periferia da zona
urbana e zona rural.
Após a I Conferência Internacional sobre Educação de Adultos, esta modalidade de
educação passa a ser concebida como forma de educação moral que acontecia em ambientes
localizados fora da escola, que tinha por objetivo enfocar o respeito aos direitos humanos e a
construção de uma paz duradoura.
43
A educação de adultos [...] torna-se mais que um direito: é a chave para o século
XXI; é tanto consequência do exercício da cidadania, como condição para uma
plena participação na sociedade. Além do mais, a educação de adultos é um
poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecológico sustentável, da
democracia, da justiça, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento
socioeconômico e científico, além de ser um requisito fundamental para a
construção de um mundo onde a violência cede lugar ao diálogo e à cultura de paz
baseada na justiça. A educação de adultos pode modelar a identidade do cidadão e
dar um significado à sua vida. A educação ao longo da vida implica repensar o
conteúdo que reflita certos fatores, como idade, igualdade entre os sexos,
necessidades especiais, idioma, cultura e disparidades econômicas (2004, p. 41- 42).
Para esse propósito, Gadotti (2007) corrobora que a EJA deverá ser sempre uma
educação multicultural, uma educação que seja capaz de desenvolver o conhecimento e a
45
[...] almejamos que possa ser integralmente ensinado e, dessa forma, ascender à
humanização completa, não apenas um homem, ou muitos homens, mas todos os
homens em conjunto e cada um isoladamente, jovens, velhos, ricos, pobres, nobres,
plebeus, homens e mulheres, em resumo todo o ser humano; para que, finalmente,
todo o gênero humano seja instruído, qualquer que seja sua idade, estado, sexo,
nacionalidade [...] Assim como o mundo todo é uma escola para todo o gênero
humano do começo ao fim dos séculos, assim como a idade de cada homem é uma
escola do berço ao túmulo [...] Não há idade para aprender, e os limites impostos aos
homens pela vida e pela aprendizagem são os mesmos (COMÊNIO, 1957 s.p).
Ainda sobre esse ponto, Di Pierro (2004) menciona que a realidade observada em
relação à EJA existente nas escolas, não condiz com a concepção crítica de políticas de
Educação de Jovens e Adultos e muito menos oferece condições materiais para que os
educadores interessados desenvolvam um bom trabalho.
No entanto, existem ambientes educativos que apresentam concepções de Educação de
Jovens e Adultos diferenciadas. São concepções que contrapõem políticas de EJA expressas
por uma visão utilitarista, produtivista e compensatória. Os movimentos sociais populares têm
procurado desconstruir essas concepções hegemônicas, disseminando uma Educação de
Jovens e Adultos que luta pela emancipação dos seus sujeitos.
Por outro lado, os sujeitos da Educação de Jovens e Adultos têm sofrido influências da
sociedade instituída que acaba por lhes imprimir a concepção de que devem estudar ―para ser
alguém na vida‖, ou para ter ―acesso ao mercado de trabalho‖. Mesmo conhecendo a
realidade colocada no mercado, a escola tem externado algumas crenças e concepções que
acabam por acionar alguns desejos em relação à independência, principalmente econômica
(OLIVEIRA, 2007).
Entretanto, a EJA tem significado muito mais para alguns de seus sujeitos, ela é vista
como espaço de construção de saberes e satisfação pessoal; como meio de acompanhar o
desenvolvimento dos filhos no ambiente escolar; lugar de fuga do trabalho; espaço de sonho,
brincadeira e descanso; ambiente para a construção de fortes amizades; ou seja, a concepção
de uma EJA para além de seu sentido puramente funcional (profissional).
O Brasil atualmente vem dedicando mais atenção para com a área da EJA e tem
manifestado uma visão mais emancipadora sobre a modalidade. Nos eventos preparatórios a
VI CONFINTEA, o país demonstrou conceber a Educação de Jovens e Adultos como um
campo específico de direitos e de responsabilidades político-educacional, expressando o
Documento Nacional Preparatório o seguinte texto:
Para tanto, a EJA deve ser compreendida em sua diversidade e multiplicidade, sob os
aspectos social, econômico e cultural. A diversidade na EJA não pode ser entendida como
desigualdade. Ser diferente não significa ser desigual, todavia a desigualdade tem sido a
marca da diversidade em nosso país.
Mas quem são essas pessoas? Onde se encontram e por que lá estão? Como vivem?
Quais são seus anseios e expectativas?
A diversidade que constitui a sociedade brasileira abrange jeitos de ser, viver, pensar
e agir que se enfrentam. Entre tensões, entre modos distintos de construir
identidades sociais e étnico-raciais e cidadania, os sujeitos da diversidade tentam
dialogar entre si, ou pelo menos buscam negociar, a partir de suas diferenças,
propostas políticas que incluam a todos nas suas especificidades sem, contudo,
comprometer a coesão nacional, tampouco concepções e propostas de EJA voltadas
à formação humana que passam a entender quem são esses sujeitos e que processos
político-pedagógicos deverão ser desenvolvidos para dar conta de suas necessidades,
desejos, resistências e utopias (BRASIL, 2009, p. 28).
Oliveira (1999) defende a existência de três campos que contribuem para a definição
do lugar social dos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos: a condição de não serem mais
crianças, a condição de serem sujeitos excluídos do processo escolar e por último a condição
de serem membros de determinados grupos culturais.
Mesmo sendo as três condições ora citadas determinantes para destacar as
especificidades dos sujeitos da EJA, a autora anteriormente mencionada enfatiza o aspecto
sociocultural como marca decisiva do que se tem concebido atualmente como Educação de
Jovens e Adultos. Ela afirma que o ―território da educação não diz respeito a reflexões e ações
educativas dirigidas a qualquer jovem ou adulto, mas delimita um determinado grupo de
pessoas relativamente homogêneo no interior da diversidade de grupos culturais da sociedade
contemporânea‖ (IBIDEM, p. 59).
Então, ao falarmos sobre a Educação de Jovens e Adultos, estamos dizendo de uma
ação educativa direcionada a um sujeito portador de uma escolarização básica incompleta ou
até mesmo nunca iniciada e que acaba por acontecer nos bancos escolares já na idade adulta
ou na juventude (FONSECA, 2007). A interrupção de seu processo escolar não acontece
devido uma simples negação de prestação de serviços, mas sim por pertencer a uma fração
significativa da sociedade que se encontra a margem, excluída do mercado de trabalho, da
escola e da maioria dos bens de consumo.
50
O espaço escolar inicialmente criado para atender crianças e adolescentes acaba sendo
o mesmo destinado à educação de pessoas jovens e adultas. É de causar estranhamento que na
prática, ainda se pode optar por incorporar os alunos não-crianças nas turmas ‗regulares‘ do
ensino fundamental. O que implica a realização de ―um trabalho pedagógico não direcionado
para as demandas e as possibilidades próprias de outras faixas etárias que não aquelas para as
quais aquele nível de ensino foi originalmente idealizado‖ (FONSECA, 2007, p. 18).
O funcionamento da escola dita regular, o projeto político pedagógico a estrutura dos
tempos, espaços e currículos são pouco flexíveis. Somado a isto, existem os constrangimentos
pelos quais os sujeitos da EJA acabam por passar, que vão do simples fato de estarem ao lado
de crianças ou adolescentes que possuem outro ritmo, outros questionamentos, outras atitudes
e inclusive outros tipos de respostas para as questões levantadas, até o incômodo do espaço
físico. A maioria das instalações existentes nas escolas são dimensionadas para a acolhida de
crianças, os mobiliários, a trilha sonora e as decorações acabam sendo direcionados para
atender as especificidades infantis.
Sabe-se que a ação pedagógica de um educador deve diferenciar-se substancialmente
quando dirigida a crianças e quando dirigida a adultos, porém a maioria dos professores de
EJA trabalha mais de um período, dois, até três, e em algum deles acaba lecionando também
com crianças. Vê-se de forma não rara, o uso da mesma abordagem metodológica para os dois
públicos. Justificam-se afirmando que os sujeitos da EJA não tiveram muitas oportunidades
de brincar quando crianças. Portanto, a escola agora lhes proporciona o resgate dos aspectos
lúdicos da vida. Contudo ―o fato de terem brincado pouco quando criança, não deveria tornar-
se o motivo para levá-los a participar de certas brincadeiras que os infantilizem e os
constrangem‖ (ALVARES, 2010, p. 39).
Ao adulto, pensar sobre o que pensa e sobre como pensa, e falar sobre esse pensar,
como forma não apenas de comunicar esse pensamento, mas de dar-lhe forma,
critério, razão e importância social, é mais que um exercício cognitivo individual: é
uma ação social, é a conquista da perspectiva coletiva de um fazer antes solitário e
que quer tornar-se comunitário nessa oportunidade – talvez única, provavelmente
rara – de conhecimento solidário que a escola lhe pode proporcionar (IBIDEM, p.
25).
maturidade, estará lhe fornecendo não apenas a cultura letrada, mas também estará
contribuindo para consolidar a sua inserção social, cultural e política na sociedade. Enfim, os
sujeitos da EJA não voltam à escola para recuperar um tempo supostamente perdido e que
ficou no passado, mas para satisfazer necessidades do presente.
visão tradicional da escola, onde o professor ainda é o detentor do saber e o aluno é apenas
um receptor passivo deste ensino. Revelam um interesse profundo pelo conhecimento,
reservam um afeto reverencial ao professor, procuram estabelecer um clima de solidariedade e
apreço pelas situações de aprendizagem fazendo um grande esforço para se manterem atentos
em horários tão avançados (ALVARES, 2010).
Por sua vez, os jovens adultos já deixaram a adolescência e possuem idade superior a
16 anos. Boa parte deles trabalha – a maioria no mercado informal – e já constituíram família.
O ritmo de sua aprendizagem na maioria das vezes é mais rápido do que o do aluno maduro,
demonstrando possuir mais habilidade para executar os procedimentos escolares. Geralmente
os seus representantes carregam a marca da exclusão que recentemente sofreram da escola
regular, revelando ainda, baixa autoestima e atitude indisciplinar. O público da EJA é
formado em grande parte por estes alunos, que em sua maioria foram:
Contudo, seja jovem ou o adulto mais maduro, os alunos da EJA procuram a escola
não apenas para obter maiores qualificações para o mercado de trabalho. Eles a procuram na
expectativa de alcançar reconhecimento social. Para o sujeito da EJA o letramento acaba por
ser o maior objetivo de sua escolarização, pois para ele, o domínio do conhecimento
legitimado pela escola é um dos principais mecanismos para se sentir incluído socialmente.
Portanto, a existência de adultos e idosos nas salas de aula da EJA configura-se em um
fértil ambiente para as situações de ensino e de aprendizagem. A diversidade de idades,
experiências de vida, valores, tradições culturais, maneiras de falar e de compreender o
mundo, são situações que se trabalhadas de maneira positiva pelo educador de EJA, podem se
constituir em propostas pedagógicas fecundas capazes de valorizar o que é diverso sem
transformá-lo em desigual.
Os adultos analfabetos têm uma experiência que os ajuda a ver e organizar o mundo
e a si mesmo no mundo – visão eivada ao mesmo tempo de sonhos, fantasias,
expectativas, realizações e muitas limitações: dores, frustrações que afetam a sua
autoestima e sua inserção na sociedade, onde são excluídos política, social e
economicamente, marcados frequentemente por uma história de fracasso escolar
(CORMELATO, 1998, p. 13).
Além disso, o descrédito na instituição escolar que deveria ter lhes ensinado aquilo que
eles não aprenderam, a mágoa por apresentarem um desempenho escolar abaixo do esperado
pelos educadores e, somado a isso, a ineficácia entediante das estratégias de ensino
desenvolvidas enquanto eles ali permaneceram, podem ser as circunstâncias que
desencadearam o processo de desistência.
Essa situação é decorrente talvez da sua primeira passagem pela escola onde:
57
Toda relação com o saber é também relação consigo próprio: através do ―aprender‖,
qualquer que seja a figura sob a qual se apresente, sempre está em jogo a construção
de si mesmo e seu eco reflexivo, a imagem de si [...] sabe-se que o sucesso escolar
produz um potente efeito de segurança e de reforço narcísico, enquanto que o
fracasso causa grandes estragos na relação consigo mesmo (CHARLOT, 2000, p.
72).
Não obstante, eles acabarão culpando a si mesmos como os únicos responsáveis pelo
fracasso e desistência da escola. Agem desta forma por carregarem a marca da ideologia do
sistema escolar que retira de si toda e qualquer responsabilidades no que se refere aos maus
desempenhos dos alunos, atribuindo exclusivamente a estes, a culpa pelo baixo rendimento.
Entretanto, sabemos que se ativarmos as nossas memórias e procurarmos lembranças
do tempo da escola, perceberemos que os professores imprimiram maiores recordações em
nosso cérebro que os próprios conteúdos estudados. Lembramos dos educadores como
aqueles que nos auxiliaram a tomar as importantes decisões, aqueles que nos ajudaram nas
escolhas profissionais, aqueles com quem nada aprendemos, ou até mesmo, aqueles que
sequer gostaríamos de encontrar na rua. Essas lembranças nos ajudam a compreender o papel
determinante que os professores possuem no que diz respeito ao sucesso ou fracasso escolar
de seus alunos.
Desta forma, o bom acolhimento e a valorização do aluno pelo professor de Educação
de Jovens e Adultos, podem garantir a abertura de um canal de aprendizagem com maiores
possibilidades de êxito. O reconhecimento da existência de uma sabedoria do sujeito,
proveniente de sua experiência de vida, de sua bagagem cultural e de suas habilidades
58
profissionais certamente contribuirá para que ele resgate uma autoimagem positiva,
fortalecendo desta maneira a sua autoconfiança (ALVARES, 2010).
Em síntese, sabe-se que as classes de EJA são bastante diversificadas, sendo comum o
fato de todos terem mais de 14 anos, trabalharem em atividades não qualificadas e trazerem
histórias de fracasso escolar. Portanto, conhecê-los bem, é importante para se obter melhores
resultados e êxito no processo de ensino e aprendizagem. Uma vez reconhecida às
especificidades desse público e partindo de sua realidade, o educador poderá conduzir melhor
o processo de aprendizagem das diversas disciplinas (Plano Estadual de Educação/MT, 2006).
Sabemos que boa parte dos alunos da EJA é formada por estudantes que trabalham no
mercado formal ou informal. Levando em consideração que esse fato constitui-se em mais
uma das características marcantes desse público, discutiremos a seguir sobre o trabalho na
Educação de Jovens e Adultos.
Sabe-se que, no sistema capitalista o objetivo é sempre aumentar o capital. Para tanto,
busca-se expandir a produção e ampliar-se os lucros. A necessidade de intensificar a produção
trouxe uma significativa modificação no processo de trabalho. Ao invés do trabalhador
executar as diversas etapas de operações e ser o gestor do seu próprio trabalho, este se divide
em partes isoladas e são distribuídas a diferentes operários que passam a ser rigorosamente
vigiados e controlados externamente, por um ou mais supervisor hierarquicamente superior ao
trabalhador e a serviço do capital.
O trabalhador forçado a vender a sua força de trabalho ao capital por lhe faltarem
meios materiais para produzir mercadorias, agora atrela-se definitivamente ao
capital, em virtude de sua incapacidade de fazer o trabalho independentemente;
passa a ser, desta forma, um acessório da oficina. Suas forças intelectuais ficam
inibidas em função da parcialidade do seu trabalho; essas forças intelectuais
concentram-se no capital, e passam a confrontar-se com ele, como propriedade que
lhe é estranha e como poder que o domina. (MARX apud KUENZER, 2001, p. 43).
62
que para as classes populares, o acesso a escola básica é condição necessária, apesar de não
ser suficiente para garantir uma qualificação humana que a permita lutar pelos seus direitos
fundamentais.
A educação básica oportunizada pela escola não exclui a necessidade de uma
formação profissional mais específica, que poderá ser realizada em instituições públicas ou
privadas. O que se sabe é que sem a primeira formação de caráter básico e de
responsabilidade da escola, toda formação profissional específica se tornará uma simples
técnica de adestramento.
Para Marx, o adestramento e a alienação de pessoas são fatos reais cuja existência é
inquestionável, no entanto o importante é que o indivíduo compreenda que toda realidade
social pode ser transformada. Na concepção marxista não existe determinismo histórico, o
homem constrói a sua história; lembrando Freire, somos seres condicionados, porém jamais
determinados. ―Não há razões ontológicas, mas sim construções históricas perversas, que
definem que os trabalhadores, as classes populares, tenham de ter uma educação, trabalho,
lazer, cultura e etc., de segunda categoria (FRIGOTTO, 1994, p. 52).
Diante deste cenário, é de extrema importância a mobilização da classe trabalhadora
no sentido de se buscar maior coesão para se fazer os enfrentamentos necessários, para obter
as transformações sociais, onde se possa de fato garantir a inclusão dos indivíduos que se
encontram à margem da sociedade. Um dos principais mecanismos de transformações sociais
e de inclusão, é a garantia de uma boa educação e de um trabalho digno que seja capaz de
promover a humanização do homem através da mudança na estrutura social do trabalho.
Para obter tais mudanças, Marx citado por Kuenzer afirma que é necessário:
consciência leve efetivamente a uma organização dos trabalhadores e que tal organização
estabeleça relação de conflitos e lutas em busca de dias melhores.
Até porque, sabe-se que para os sujeitos da Educação de Jovens e Adultos, restam
apenas os empregos da informalidade, o subemprego, a sobrevivência mais imediata. Cabe-
lhes, portanto, viver em um cenário marcado pela instabilidade, hoje faz uma coisa e amanhã
outra, vive-se do que aparecer. Para eles, não existe uma configuração clara de trabalhador.
―E estar atrás do que aparece é não ter horizonte, é não construir um caminho. Não projetar-se
no tempo como horizonte é estar atrás do tempo, não controlar o seu tempo humano‖
(ARROYO, 2007, p. 8). Desta forma não se vive da esperança de um futuro, vive-se dando
um jeito no presente.
Essa situação nos obriga a mudar o discurso em relação à educação. Alguns
educadores, talvez boa parte deles, a coloca como a porta de entrada para um futuro promissor
que talvez nunca venha. Devemos nos preocupar primeiramente em garantir um mínimo de
dignidade no presente e não apenas fazermos promessas de um futuro que talvez não chegue.
Portanto, que formação torna-se necessária para o enfrentamento dessa realidade?
Se observarmos o currículo da educação básica regular ou da EJA, logo perceberemos
que estão voltados para o emprego formal e seguro, eles não foram pensados para situações
instáveis. Para esse cenário, qual currículo de EJA é pertinente? É possível que estejamos
elaborando currículos com a finalidade de oferecer capacitação para trabalhos que sequer
existam.
Acreditamos que seja necessário muito mais conhecimento para sobreviver neste clima
de vulnerabilidade do que para sobreviver em um ambiente seguro no trabalho. Para tanto,
devemos pensar em um currículo que leve em consideração as especificidades dos discentes
da Educação de Jovens e Adultos.
Na intenção de melhor compreendermos a situação da EJA no Estado de Mato Grosso,
apresentaremos em seguida algumas considerações sobre os financiamentos destinados a essa
modalidade de ensino, bem como sua oferta.
Em nível nacional, a Educação de Jovens e Adultos tanto para a escola como para os
estudantes, tradicionalmente continua sendo encarada como uma complementaridade
superficial de aprendizagem, que busca principalmente mais a aquisição da certificação que o
conhecimento. Porém, dados apresentados pelo IBGE, relatam que essa realidade em Mato
65
Grosso parece ter começado a mudar. Entretanto, temos ciência que o Estado ainda possui
uma imensidão de dificuldades e desafios a enfrentar.
Apesar de nem sempre se disporem de estatísticas confiáveis, os programas de EJA
têm sido crescentemente procurados por um público heterogêneo, cujo perfil vem mudando
em relação à idade, expectativas e comportamento. A Secretaria de Estado de Educação/MT
fala a respeito desses sujeitos procurando destacar suas principais características. Afirma ser
um jovem ou adulto que historicamente vem sendo excluído, quer pela impossibilidade de
acesso à escolarização, quer pela exclusão da educação regular ou pela incompatibilidade de
horários entre escola e trabalho.
Relata que são alunos que estão inseridos no mercado de trabalho ou que ainda
esperam nele ingressar; não visam apenas à certificação para manter sua situação profissional,
mas esperam chegar ao ensino médio ou a universidade para ascender social ou
profissionalmente. São pessoas que tiveram que romper barreiras preconceituosas, geralmente
transpostas em função de um grande desejo de aprender. São capazes de responder pelos seus
atos e palavras, além de assumirem responsabilidades diante dos desafios da vida. Enfim, são
sujeitos que quando chegam à escola, trazem consigo muitos conhecimentos, que podem não
ser aqueles sistematizados pela unidade escolar, mas são ―saberes nascidos dos seus fazeres‖.4
Mesmo diante dos dados ora apresentados, da descrição do perfil dos alunos da
Educação de Jovens e Adultos por parte da SEDUC/MT e da manifestação do Estado em
ofertar uma EJA concebida mediante os ideais Freirianos, temos observado que a sociedade
mato-grossense tem enfrentado dificuldades para superar a concepção de EJA como
suplência. A este respeito, o Plano Educacional do Estado esclarece:
A intenção de fazer com que o aluno da EJA permanecesse em sala de aula por muito
tempo causou um esvaziamento de seu contingente acarretando um elevado índice de evasão
deste público nas escolas. Outro fator negativo dessa organização curricular foi o crescimento
4
Disponível em: http://www.seduc.mt.gov.br/perfilalunoeja
66
das matrículas nos exames de massa da EJA. Constatou-se que boa parte dos alunos
matriculados preferiu buscar a prova de certificação, mesmo tendo ciência do grau de
dificuldade do teste, do que permanecer por 9 anos assistindo as aulas pouco produtivas do
ensino noturno.
Outro fator que pode ter contribuído para o aumento da evasão escolar dos alunos da
EJA diz respeito ao tempo. Quase não há diferença entre o ensino médio (na faixa de idade
série) para a EJA/Médio, nota-se claramente que o tempo e as práticas didáticas
desenvolvidas na Educação de Jovens e Adultos são basicamente as mesmas do ensino dito
―regular‖. Preocupados com os elevados índices de evasão do público da EJA, foi realizado
em 2005 um censo referendo onde os estudantes evadidos da Educação de Jovens e Adultos
puderam expor o motivo que os levaram a abandonar os estudos. O quadro a seguir apresenta
o resultado dessa pesquisa:
Trabalho 74.156
Desinteresse 20.409
Outros 26.404
TOTAL 142.260
Nota-se que os motivos ―desinteresse e outros‖ podem estar associados aos dois fatores
anteriormente citados. Devido à publicação de pesquisas com índices preocupantes e até
mesmo ameaçadores, o Estado implantou no ano de 2002 o Programa Estadual da EJA. A
implantação desse programa provocou uma série de debates e reflexões sobre a metodologia
de ensino e organização curricular (tempos e espaços) da Educação de Jovens e Adultos. Essa
discussão permeou tanto os sistemas educacionais como as entidades comprometidas com o
desenvolvimento de políticas de atendimento desta modalidade de ensino na rede pública
estadual. Contudo, as discussões levantadas na maioria dos casos, não foram capazes de
provocar mudanças significativas no contexto da EJA, ocorrendo apenas uma transposição de
conteúdos de uma modalidade para outra (PEE, 2006).
67
5
Entrevista divulgada no site da SEDUC/MT, 2010. Disponível em: http://www.seduc.mt.gov.br
6
Conforme dados da SEDUC/MT no documento Agenda Territorial
69
7
Conforme dados do censo de 2010 do IBGE
71
Desde que o Governo Federal demonstrou descaso para com a Educação de Jovens e
Adultos, deixando-a a mercê da boa vontade dos governos municipais e estaduais, o Governo
do Estado de Mato Grosso afirma ter se empenhado em implantar programas e projetos
direcionados a atender as exigências dessa modalidade. A este respeito, esclarece Soares:
Os governos estaduais têm criado projetos e programas com formatos bem distintos.
Em muitos deles a EJA não tem sido assumida como prioridade na educação. Entre
aqueles que elaboraram um programa para a área com forte impacto no atendimento
podemos citar o Paraná, o Mato Grosso e Rio Grande do Sul (2002, p. 8).
Todavia, o empenho demonstrado pelo Governo do Estado de Mato Grosso ainda não
foi suficiente para garantir a toda população o direito a educação. Para que todos tenham
acesso a uma educação pública e de qualidade, é necessário que os investimentos do governo
sejam ampliados.
A tabela 02 apresenta os gastos do governo com a Educação de Jovens e Adultos no
período 2007-2010:
8
Dados retirados do site oficial da SEDUC/MT
73
da área afirmam que na prática escolar ainda prevalece uma concepção supletiva de Educação
de Jovens e Adultos. Desconstruir essa concepção cristalizada nos espaços escolares para
conceber a EJA em uma perspectiva reparadora, qualificadora e equalizadora, ainda é um
desafio.
Em um período mais recente da história da educação de adultos, notamos a presença
significativa do educador Paulo Freire. Esse autor desenvolveu um ‗método‘ específico para a
alfabetização desse público deixando um grande legado para essa modalidade de educação.
Publicou trabalhos que discutiam a superação de um ensino pautado em uma perspectiva de
educação bancária destacando a necessidade da efetivação de uma prática educativa por ele
denominada problematizadora. Na visão do autor o ensino deveria contemplar não apenas os
conteúdos escolares, ele deveria possibilitar ao educando um posicionamento crítico perante a
sua realidade no sentido de desvelá-la.
Quanto às especificidades da Educação de Jovens e Adultos e de seus sujeitos,
observamos que os estudantes dessa modalidade de ensino possuem características singulares.
São jovens ou adultos que normalmente não tiveram boas experiências escolares, são pessoas
que foram excluídas do processo sócio-educativo, ou se quer tiveram a oportunidade de
ingressarem em uma unidade escolar. São sujeitos privados da maioria dos bens de consumo,
discriminados socialmente, encontrando-se em uma situação de exclusão. Boa parte possui
família e já estão inseridos de maneira formal ou informal no mercado de trabalho. Mas, são
sujeitos que trazem uma bagagem de conhecimentos tácitos acumulados ao longo da vida e
que necessitam que esses conhecimentos tenham um tratamento respeitoso por parte do
educador.
Assim, ao procurarmos destacar as mais diferenciadas conceitualizações concernentes
à situação da Educação de Jovens e Adultos no decorrer de seu processo histórico,
constatamos a presença de perspectivas distintas de EJA. De um lado, encontramos uma
perspectiva de Educação de Jovens e Adultos concebida como suplência, ou seja, uma
modalidade de ensino compreendida como uma educação repositora da escolaridade formal, e
por outro, a defesa de uma EJA com as finalidades reparadora, equalizadora e qualificadora,
ou seja, uma educação que pretende incluir ao invés de fomentar a exclusão, uma modalidade
que seja capaz de levar em consideração a diversidade de seus sujeitos, enfim, uma Educação
de Jovens e Adultos que compreende que a educação é um direito de todos e que deve
acontecer ao longo da vida. A essa perspectiva da EJA, chamamos de emancipadora. Dessa
forma, para melhor distinguirmos as duas perspectivas de Educação de Jovens e Adultos,
apresentamos a seguir um quadro síntese das suas concepções.
74
Devido a nossa pesquisa ser direcionada pela questão: em quais concepções de EJA,
de ensino e de aprendizagem de matemática os formadores de professores do
CEFAPROs se fundamentam para organizarem a formação continuada dos docentes de
matemática que atuam na EJA, e na intenção de obtermos resposta ao nosso problema,
discutiremos a seguir, sobre as concepções de ensino e de aprendizagem de matemática.
76
Paulo Freire
se referem ao aspecto individual e, as que são construídas mediante o confronto das nossas
elaborações com as dos outros, dizem respeito ao aspecto social.
Sabe-se que os professores são os responsáveis pela organização das experiências de
aprendizagem dos alunos. Portanto, podem influenciar as suas concepções. Dessa forma,
como os educadores veem a matemática e o modo como se aprende matemática, é de
fundamental importância para a construção das concepções dos educandos e de suas
aprendizagens.
Ainda prevalece a crença, no contexto educacional e, em particular, no ensino de
matemática na EJA, de que as pessoas que não dispuserem de capacidade de abstração
suficiente para seguirem as informações demonstradas pelo professor e estarem habilitadas a
reproduzirem todas as etapas indicadas para a realização dos exercícios, não terão condições
de aprender. Sabe-se, porém que para que ocorra a aprendizagem dos conhecimentos
matemáticos estudados em sala de aula, ou até mesmo aqueles registrados em livros didáticos,
torna-se necessário que os raciocínios desenvolvidos estejam fundamentados em instrumentos
cognitivos bem elaborados.
Como é o educando que acaba por revelar as dificuldades e os pontos negativos do
trabalho desenvolvido pelo professor é comum que ele seja apontado como o único
responsável pelo fracasso do ensino. Para desconstruir essa crença é preciso adquirir a
consciência de que para desenvolver a prática docente não é suficiente possuir apenas o
conhecimento científico, mas ainda, conhecer aquele a quem se deseja comunicar o saber.
Defendemos o posicionamento de Micotti (1999) ao afirmar que a renovação do ensino
não consiste, apenas, em mudança de atitude do professor diante do saber científico, incide
também, em maneiras de compreender como o aluno compreende, constrói e organiza o
conhecimento.
Para compreender o processo cognitivo do aluno, o educador necessita investigar como
se dá a interação desse sujeito com o objeto de estudo. Todavia, o professor só terá condições
de realizar este trabalho se planejar situações que propiciem aos alunos oportunidades de
apresentarem suas ideias e opiniões. Portanto, conhecer a maneira como os alunos se
apropriam do saber matemático no contexto da EJA é de extrema importância para o processo
educativo. Sobre este ponto, Bkouche, Charlot e Rouche esclarecem:
A escola cumpre funções que lhe são dadas pela sociedade que, por sua vez,
apresenta-se constituída por classes sociais com interesses antagônicos [...] Fica
claro, portanto, que o modo como os professores realizam seu trabalho, selecionam
e organizam os conteúdos escolares, ou escolhem as técnicas de ensino e a
avaliação, tem a ver com pressupostos teórico-metodológicos, explicita ou
implicitamente (1985, p. 19).
80
Sendo assim, um educador que define a matemática como uma ciência exata,
logicamente organizada, a - histórica ou pronta e acabada, com certeza apresentará uma
prática pedagógica diferente daquele que a concebe como uma ciência viva, dinâmica e
historicamente construída pelos homens a serviço dos interesses e necessidades sociais.
Da mesma maneira, o professor que tem a concepção de que o aluno aprende
matemática por meio de memorização de fatos, acontecimentos, normas ou regras
transmitidas pelo educador ou pela repetição enfadonha de exercícios, também terá uma
postura em sala de aula diferente daquele que acredita que o aluno aprende construindo os
conceitos através de ações reflexivas sobre materiais e atividades, ou por intermédio de
situações-problema e problematizações do conhecimento matemático (FIORENTINI, 1995).
Por certo, as concepções apresentadas pelos professores acerca da matemática, do seu
ensino e de sua aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos, podem estar relacionadas a
algumas perspectivas que se propuseram explicar como se dá o processo de construção do
conhecimento no indivíduo. Assim, para melhor compreendermos o nosso objeto, torna-se
relevante refletirmos sobre as bases epistemológicas que sustentam algumas das concepções
de ensino e de aprendizagem em matemática presentes hoje nas instituições escolares.
Saxes (1991) relata três grandes escolas de pensamento que se propuseram a explicar
com se dá o processo de apropriação do conhecimento pelo indivíduo: a empirista concebida
filosoficamente por Locke e pedagogicamente por Gagné; a inatista/racionalista de origem
filosófica em Platão e a construtivista/interacionista fundamentada filosoficamente em Kant.
Sabe-se que qualquer ação educativa escolar traz em si uma teoria do conhecimento, e
que essas teorias têm se preocupado em explicar como se origina e como evolui o
conhecimento no homem. As concepções de ensino e de aprendizagem estão diretamente
ligadas à maneira pela qual se acredita que origina e evolui o conhecimento no aluno. Sendo
assim, a postura de determinado professor em sala de aula dependerá do modo como ele
acredita que se dá o conhecimento.
Para a visão empirista, o mundo exterior é a fonte do conhecimento, que se vai
formando através da experiência. Já a concepção inatista/racionalista coloca a necessidade de
estruturas fundamentais de conhecimento a fim de organizar a experiência em categorias e
sistemas lógicos admitindo que tais estruturas são geneticamente pré-programadas.
Por outro lado, para a posição construtivista/interacionista, os aspectos fundamentais
do conhecimento não veem pré-formados nos genes nem são diretamente adquiridos do
mundo exterior, mas são antes construídos pelo próprio indivíduo. A visão construtivista
81
ganha espaço na psicologia com os trabalhos de Jean Piaget e a sua introdução na área da
Educação Matemática se deve a Ernest von Glasersfeld.
Na intenção de identificarmos e compreendermos como as teorias do conhecimento
influenciam, ou até mesmo determinam as concepções de ensino e de aprendizagem dos
sujeitos envolvidos nessa investigação, discutiremos a seguir, de forma mais detalhada sobre
estas três grandes escolas.
Os racionalistas também afirmavam que não se pode confiar nos sentidos, pois eles
podem nos enganar levando a ilusões perceptivas.
Na busca pelo poder da razão, os racionalistas elegeram o rigor, a precisão e a certeza
da matemática, como caminhos ou instrumentos nos quais se pode alcançar a precisão e a
verdade absoluta.
De acordo com BECHER (1992), a concepção racionalista admite que o indivíduo
torna-se capaz de conhecer porque já traz algo, ou inato ou programado, na bagagem
hereditária para amadurecer mais tarde, em etapas previstas. Tal concepção também é
conhecida por apriorismo.
Os aprioristas acreditavam que o conhecimento se dá em cada indivíduo porque esse já
traz em seu sistema nervoso o programa já definido, e com o passar do tempo, será atualizado.
―O mundo das coisas ou dos objetos tem função apenas subsidiária: abastece com conteúdo,
as formas existentes a priori (determinadas previamente)‖ (BECKER, 1992 apud DARSIE,
1999, p. 12).
Sendo assim, é decorrente desta corrente a concepção de aprendizagem e de ensino
que indicam que cada indivíduo já traz o programa pronto em seu sistema nervoso, e que ao
nascer, já está determinado se será ou não inteligente. Deste modo, alguns nascem para
aprender e aprendem facilmente, outros, não nasceram para o estudo, portanto, quando
fracassam, os fracassos são apenas deles. Na visão racionalista, ninguém ensina, a pessoa
aprende praticamente por si. Conhecimento é apenas algo que precisa ser ‗despertado‘ no
aluno. Matemática, física, as exatas, não é pra qualquer um, no entanto, quem nasceu com
predisposição a coisa, não precisa de muita explicação (DARSIE, 1999).
84
Desta forma, na dinâmica de sala de aula, são inexpressivas as situações que permitem
os educandos refletirem sobre o conhecimento matemático, sobre sua aplicabilidade e
relevância. Neste modelo de transmissão do conhecimento matemático, historicamente
construído, valoriza-se muito decorar regras. Em tal modelo, as experiências são situações
didáticas apresentadas de forma preconcebida, ―descontextualizada, atemporal e geral, porque
é preocupação do matemático comunicar resultados e não o processo pelo qual os produziu‖
(BRASIL, 2001, p. 28). A matemática torna-se um fim em si mesmo, cristalizando a crença
de que esse conhecimento não está acessível a todos, mas apenas a alguns iluminados
(PAULA, 2010).
86
Tal posicionamento se assemelha com o que Paulo Freire (1987, 2005) denominou
Método Bancário, o qual promove a alienação social, cultural e política, por promover a
dependência do conhecimento do outro.
Estudiosos das concepções empirista e racionalista afirmam que ao observar a
realidade escolar, percebe-se que os professores não possuem um posicionamento apenas
racionalista em relação ao ensino e aprendizagem de matemática. Ao serem questionados
sobre o que é e como se dá o conhecimento, conclui-se que dificilmente o educador é capaz
de romper com o vaivém entre o empirismo e apriorismo. Nota-se que a explicação empirista
não convence então se lança mãos de argumentos aprioristas. E na primeira oportunidade,
volta ao empirismo, e o mesmo acontece com explicações aprioristas (BECKER, 1992).
[De acordo com] Kamii (1988) Piaget é um interacionista relativista que crê na
construção do conhecimento pela interação da experiência sensorial e da razão,
indissociáveis uma da outra. Assim, o conhecimento não nasce com o indivíduo,
nem é dado pelo meio social. O sujeito constrói o conhecimento na interação com o
meio físico e social, e esta construção vai depender tanto das condições do indivíduo
como das condições do meio (DARSIE, 1999, p. 14).
Piaget através de suas pesquisas irá mostrar que o sujeito humano é um projeto a ser
construído. Sujeito e objeto não têm existência prévia, a priori: eles se constituem
mutuamente, na interação.
Na teoria da Equilibração Piagetiana ou da (auto-regulação), Piaget abarca os vários
aspectos da questão de saber como o indivíduo constrói conhecimento.
87
Esta tendência se distingue das demais por apresentar uma postura crítica e reflexiva
diante do saber escolar, diante do processo de ensino e de aprendizagem, e também diante do
papel sócio-político da educação escolar. Sendo assim, tal perspectiva concebe a metodologia
de ensino como:
descoberta.
Professor é o Professor é Professor é também aprendiz,
condutor do veículo que problematizador e responsável
processo de media a relação pela mediação didático-
aprendizagem e entre aluno e pedagógica entre conhecimento
detentor do saber. conhecimento já científico e conhecimento
pronto. cotidiano, planejando situações
de aprendizagem que suscitem
desafios de forma que o educando
estruture seu pensamento em
níveis cada vez mais complexos.
Ênfase em Ênfase na A ênfase está nos processos pelos
programas, na matemática que quais se estrutura e se dá a
disciplina e no contextualiza por construção do conhecimento
professor. si só. Toma-se a pelos educandos. Para a
matemática pela promoção de uma autonomia
matemática. intelectual sempre maior.
Ensinar é uma O ensino é Para quem ensina o conhecimento
transmissão de centrado no não é pronto e acabado, mas se
conteúdos prontos aluno, que é o constitui pela interação do
e acabados responsável pela homem, com o meio e o mundo
(livresco). aprendizagem e das relações sociais.
carrega uma
visão estática e
dogmática em
relação às ideias
matemáticas.
Fonte: Paula (2010)
Portanto, a utilização dessa metodologia em sala de aula por parte do professor requer o
desenvolvimento de um bom planejamento, exige também do educador desenvoltura no sentido
de saber improvisar, haja vista que algumas situações problema muitas vezes emergem no
momento da aula.
Portanto, ensinar através da resolução de problemas não é tarefa fácil. Onuchic e Allevato
apresentam este mesmo entendimento ao salientarem que:
Ensinar com problemas é difícil. As tarefas precisam ser planejadas a cada dia,
considerando a compreensão dos alunos e as necessidades do currículo. Entretanto,
há boas razões para se fazer esse esforço: Resolução de Problemas coloca o foco da
atenção dos alunos sobre ideias e sobre o dar sentido; desenvolve o poder
matemático; permite ir além da compreensão do conteúdo que está sendo
construído; desenvolve a crença de que os alunos são capazes de fazer matemática e
de que matemática faz sentido (2004, p. 223).
Quando os conteúdos matemáticos são tratados pelo professor de forma isolada, eles
deixam de ser compreendidos pelos alunos como instrumentos que podem ser utilizados para
resolver problemas e construir novos conceitos. Deste modo, são fundamentais as conexões
que os alunos da EJA estabelecem entre o próprio conhecimento matemático, entre as demais
áreas do conhecimento e entre as situações do seu cotidiano para a construção de uma
aprendizagem matemática significativa. Determinado conhecimento só se constrói de fato,
quando passa a ser apresentado em situações diferentes daquela inicialmente proposta, ou
seja, quando é apresentado em outros contextos além daquele que lhe deu origem, portanto
quando é transposto para novas situações.
Outro recurso sugerido pela Proposta Curricular da EJA é a valorização dos
conhecimentos prévios do educando. Este instrumento se mostra, especialmente no público da
EJA, um subsídio importante para a construção da aprendizagem. A este respeito Nogueira
pontua:
Em muitos casos, entretanto, o que direciona a prática da sala de aula é ainda o livro
didático e, em geral, as atividades ali propostas se referem a uma série de exercícios
rotineiros que necessitam da aplicação direta de um algoritmo, de maneira que
privilegia exclusivamente a matemática em seu aspecto formal em detrimento de
outros possíveis conhecimentos que o aluno já possa ter (2010, p. 80).
Ainda nesta discussão, Almeida esclarece que quando se refere à Educação de Jovens
e Adultos, é de extrema importância considerar:
[...] os mecanismos por eles utilizados para sobreviverem numa sociedade letrada
(apanhar o ônibus, identificar preços dos produtos, dividir o salário no fim do mês,
guardar o número de telefone, etc.); os conhecimentos e experiências que eles
trazem (1998, p. 15).
A luz deste entendimento, Coll (1999) citado por Nogueira (2010) enfatiza que quando
o educando está a frente de um novo conteúdo a ser aprendido, ele o faz baseado numa série
de conceitos, concepções, representações e conhecimentos adquiridos no decorrer de suas
experiências anteriores, que utiliza como instrumento de ―leitura‖ 9 e interpretação,
9
A palavra ―leitura‖ empregada nesta perspectiva é expressa em seu sentido mais amplo de percepção das
informações que estão impregnadas em nossa realidade, ou seja, de tudo que está em nossa volta; mas,
simultaneamente, também expressa seu sentido mais restrito e específico de leitura de um texto escrito, já que os
100
problemas de matemática propostos em sala de aula, quase sempre (mesmo que não seja o mais recomendável),
são propostos através do registro de um enunciado.
101
tecnológico, com certeza fará uso destes recursos em sua prática educativa. O uso destes
recursos na atividade docente traz significativas contribuições para o processo de ensino e de
aprendizagem de matemática.
Sabemos que a linguagem gráfica possibilita novas formas de representação e permite
novas estratégias de abordagem de problemas variados, gerando nos alunos um crescente
interesse pela realização de projetos e atividades de investigação. Segundo os PCNs estes
recursos tecnológicos podem ser utilizados nas aulas de matemática com várias finalidades,
por exemplo, como ―fonte de informação, como auxiliar no processo de construção do
conhecimento e como meio de desenvolver autonomia pelo uso de softwares que possibilitem
pensar, refletir e criar soluções‖ (1998, p. 44).
O envolvimento dos estudantes na busca da informação tem uma série de efeitos que
se relacionam com a intenção educativa dos projetos. Em primeiro lugar, faz com
que assumam como próprio o tema, e que aprendam a situar-se diante da informação
a partir de suas próprias possibilidades e recursos. Mas também lhes leva a envolver
outras pessoas na busca de informação, o que significa considerar que não se
aprende só na escola, e que o aprender é um ato comunicativo, já que necessitam da
informação que os outros trazem. Mas, sobretudo, descobrem que eles também têm
uma responsabilidade na sua própria aprendizagem, que não podem esperar
passivamente que o professor tenha todas as respostas e lhes ofereça todas as
soluções, especialmente porque, como já foi dito, o educador é um facilitador e, com
frequência, um estudante a mais (HERNÁNDEZ; VENTURA, 1998, p. 75).
104
2.2.4 Etnomatemática
2.2.5 O lúdico
D‘Ambrósio apud Alves (2001, p. 23), diz que a verdadeira ―educação é uma ação
enriquecedora para todos os que com ela se envolvem, e sugere que em vez de despejar
conteúdos desvinculados da realidade nas cabeças dos alunos, deve-se aprender com eles,
reconhecer seus saberes, e juntos buscar novos conhecimentos‖. Todavia, para alcançar tal
propósito, é fundamental que o indivíduo conviva em um ambiente rico de materiais e
oportunidades, de modo que possa construir e elaborar seus conhecimentos.
É dever de cada educador proporcionar um ambiente propício para que a
aprendizagem aconteça. A utilização de atividades lúdicas constitui-se numa das maneiras de
garantir tal ambiente, pois de acordo com Alves (2001) os jogos propiciam condições
agradáveis e favoráveis para o ensino da matemática, uma vez que, com este tipo de material,
o indivíduo é motivado a trabalhar e pensar tendo por base o material concreto, descobrindo,
reinventando e não só recebendo informações. Desta forma, os jogos podem desenvolver
conceitos, motivar os alunos, propiciar a solidariedade entre os colegas, desenvolver o senso
crítico e criativo, estimular o raciocínio e descobrir novos conceitos.
Paulo Freire
Percebe-se cada vez mais que as unidades escolares não estão contribuindo para que se
tenha uma sociedade com um bom potencial crítico e criativo. De acordo com Alves:
Portanto, como se livrar do ensino árido e dos exercícios exaustivos, se foi desta
maneira que a formação inicial de boa parte dos docentes foi desenvolvida e que em momento
algum lhes foi possibilitado um contato mais próximo com uma prática pedagógica
112
diferenciada? Sendo assim, na intenção de refletirmos sobre a questão ora colocada, tendo
consciência das lacunas deixadas pela formação inicial, compreendendo que o conhecimento
é dinâmico e que estamos em constante processo de formação, é que temos clareza da urgente
necessidade de se buscar uma formação mais significativa e continuada.
Entretanto, são grandes os desafios a serem enfrentados, porque muitos dos
educadores não estão dispostos a abandonar a rocha sobre a qual firmaram seus passos
durante toda a formação inicial para se aventurarem em novas formas de saber e de como
ensinar este saber. Tal revolução (chamamos de revolução porque exige quebra de estrutura
para a (re) construção de novas bases) mudaria o cenário educacional que se tem a vista. A
esse respeito, D‘Ambrósio pontua:
Angulo define o professor formador como ―o professor que trabalha em uma ―escola
universitária‖ de formação de professores‖ (1992, p. 18). Para o autor os professores
formadores são,
[...] aquelas pessoas que possuem uma titularidade em seu emprego ou numa
posição ―economicamente dura‖, nos colégios, escolas universitárias e faculdades de
educação, ensinam a alunos principiantes e avançados na educação profissional, e
conduzem investigações ou se envolvem em estudos acadêmicos relativos à
educação profissional (ANGULO, 1992, p. 18 – tradução livre).
[...] não existe um acordo para determinar qual é o conhecimento dos formadores, ou
quais são as teorias ou princípios sobre a formação. Seus conhecimentos procedem
da tradição acadêmica curricular e das experiências vividas anteriormente em outros
níveis educativos. (IBIDEM, p. 18).
entre aqueles que fizeram pesquisa (no sentido amplo), aqueles que não fizeram,
mas são ―passadores‖ de suas aquisições, e aqueles que se valem mais dos saberes
profissionais (saberes da ação, saberes da experiência);
entre os especialistas (seja qual for sua área) e a nebulosa daqueles que trabalham
sobre a totalidade dos problemas profissionais (por exemplo, em análise de práticas,
intervenção em estabelecimento de ensino, acompanhamento de projetos ou
supervisão);
que ―a esmagadora maioria dos que formam professores provêm do mundo dos professores.
Ensinaram, ou ainda ensinam, em escolas, em colégios ou em liceus, dividindo-se entre seu
estabelecimento de ensino e suas funções de formadores‖ (2003, p.10).
Sobre as pesquisas dos autores acima citados, Bitencourt afirma:
No caso dos formadores, sujeitos deste estudo, todos são provenientes do mundo dos
professores. Eles conhecem de perto a realidade das escolas porque estiveram nelas na
condição de professores escolares. Fazer parte do corpo efetivo de professores da educação
básica do Estado de Mato Grosso constitui-se numa das condições para atuar nos Centros de
Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica – CEFAPRO. Ao explicar essa
exigência, a Secretaria de Estado de Educação apresenta o mesmo entendimento revelado por
Bitencourt (2006) ao afirmar que as escolas necessitam de professores que conhecem com
certa proximidade os seus espaços educativos, pois na visão da SEDUC/MT esses
profissionais poderão preparar os professores ‗dentro da realidade necessária das escolas‘.
Porém, Fiorentini (2004a) elucida que no Brasil:
10
O formador-prático é o professor escolar com larga experiência na educação básica, mas com pouca formação
teórica e científica. Necessariamente esse formador não precisa ser um pesquisador. Não lhe são exigidas as
atividades de pesquisa e extensão, a sua atuação se limita apenas a docência.
117
Porém, na prática isto nem sempre se verifica. O fato que nos parece real no contexto
brasileiro é que os professores formadores não possuem um lócus específico de formação, ou
seja, diferem dos professores da educação básica. Estes últimos têm na licenciatura, além da
formação específica, uma preparação pedagógica para atuarem neste nível de ensino. Isto é,
eles têm algumas disciplinas que os preparam para lecionarem com crianças e adolescentes.
O que observamos é que a formação docente para o ensino superior no Brasil não está
regulamentada no sentido do estabelecimento de um lócus específico de formação. Na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o leitor pode ser induzido a pensar que a formação
docente se dará nos cursos de pós-graduação lato sensu e stricto sensu, porém estes, como já
mencionamos, em muitos casos, não se configuram como obrigatórios no momento da
contratação do quadro docente, apesar de constar nessa mesma lei a exigência de pelo menos
um terço de seus quadros com titulação em nível de pós-graduação stricto sensu nas
universidades e Centros de Formação (MELO, 2010).
Para Pimenta (2002) temas como, formação acadêmica, conceitos, conteúdos
específicos, ideais, objetivos, regulamentação e código de ética, deveriam ser contemplados
nos processos de profissionalização continuada. Contudo, na visão da autora, nos cursos de
mestrado e doutorado, são poucas as oportunidades de se aperfeiçoar nestes aspectos da
formação docente.
O mesmo entendimento é revelado por Masetto (2003) ao relatar que estes cursos
preparam o pesquisador que, geralmente, aprofunda seus conhecimentos em uma área
específica. No entanto, são poucos os cursos de pós-graduação stricto sensu que se dispõem a
discutir aspectos pedagógicos da docência do ensino superior, como se faria necessário. Dessa
forma, apesar da legislação destinar os cursos de pós-graduações como lócus de preparação
do professor formador, parece-nos não ser nesses cursos que essa qualificação, na realidade
acontece.
Percebe-se que:
A formação inicial dos professores de matemática que atuam como formadores nas
universidades, centros de ensino e institutos é do ponto de vista da certificação de
um curso superior, de bacharelado, tendo sido preparados nessa modalidade para
lidar com a prática científica da matemática, e de licenciados, inicialmente aptos a
lidar com a prática pedagógica dessa área, atuando na segunda metade do Ensino
Fundamental e no Ensino Médio. Assim, [...] os cursos e programas de formação
continuada e as reflexões produzidas no interior das instituições, passam a ter
importância vital para a formação docente do formador (MELO, 2010, p. 33).
118
Os resultados dessas pesquisas, na visão dos autores, pouco tem sido incorporados à
prática de formação de professores e levados em consideração durante os processos
de reestruturação curricular dos cursos de licenciatura em matemática. Contudo,
muitas dessas pesquisas, avaliam os autores, ―têm trazido novas compreensões sobre
o processo de formação de professores de matemática, fato que certamente
contribuirá para alterar, a longo prazo, esse quadro‖ (p. 35 – Grifos do autor).
Portanto, diante de tão poucas pesquisas é pouco provável que teremos condições de
melhor formarmos matematicamente o professor da educação básica, seja na formação inicial
119
ou continuada. Contudo, não seria justo de nossa parte depositar toda a responsabilidade pela
má formação do educador do ensino fundamental e médio apenas sobre os formadores de
professores. Somos cientes que estes formadores não tiveram uma formação profissional
direcionada para a formação de professores.
Frente a esta situação, é de se esperar que este formador enfrente dificuldades para
planejar as suas atividades pedagógicas de forma diferenciada daquela que recebeu em seu
curso de graduação. Se o educador fez uma licenciatura em matemática, espera-se que ele
tenha tido algumas noções sobre psicologia, didática e prática de ensino, entretanto tais
noções não são suficientes para que o formador seja capaz de conduzir a formação dos
docentes.
Sendo assim, o que falar dos formadores que não fizeram uma licenciatura, mas sim
um bacharelado? Sobre esse ponto, Gonçalves pontua:
Diante de tal situação, Zeichner e Liston (1987) afirmam que mudar certas rotinas
presentes na formação de professores tem se revelado uma tarefa difícil devido à inexistência
de uma formação pedagógica de alguns formadores de professores.
São muitos os pesquisadores que apontam a necessidade de oferecer formação
pedagógica aos formadores de professores por intermédio de programas de pós-graduação.
Acreditando que desta maneira, os formadores estariam ‗capacitados‘ para desenvolverem
suas atividades nos cursos de licenciaturas ou em cursos de formação continuada. Entretanto,
para Gonçalves o caminho apontado, a princípio não seria o mais indicado, pois as
―disciplinas de conteúdos pedagógicos, não garantem que os conteúdos de ensino sejam
ressignificados epistemologicamente e pedagogicamente‖ (2000, p. 54).
Ainda segundo o mesmo autor, essas disciplinas:
O sentido de experiência que defendemos neste estudo (o qual para nós é importante
para o desenvolvimento profissional dos formadores) foi elaborado tendo por fundamento
autores como: Tardif, Lessard e Lahaye (1991), Gauthier (1998), Freire (1999), Larrosa
(1996) entre outros.
Ao procurarem apresentar uma definição para o termo experiência, esses autores não
manifestaram consenso. Larrosa (1996) revela o entendimento de que a experiência se
constitui em si mesma como uma ação formadora. Para Tardif et. al. (1991) a experiência é
entendida como uma ―instância de produção de saberes, o que segundo eles, é colocado às
práticas e não distanciado destas como são os saberes curriculares, os saberes da disciplina e
os da ciência da educação‖ (GONÇALVES, 2000, p. 150).
Tardif et. al. (1991) e Gauthier (1998) focam a experiência no âmbito do ensino e da
atividade docente. Esses autores definem segundo Gonçalves, que os saberes da experiência
ou da prática são aqueles saberes que:
11
Segundo Perrenoud (1993) apud Gonçalves (2000), os sociólogos designam por habitus o conjunto de
disposições e esquemas que formam, conforme Bourdieu (1980), uma ‗gramática geradora de práticas‘. Com
este conceito, afastamo-nos da imagem da ação como implementação de uma resposta pré-programada retirada
de repertório acabado (racionalidade técnica).
122
com que essas experiências são vividas e a liberdade de vivê-las, são aspectos importantes
para a formação.
Barth (1993) esclarece que não é a experiência em si mesma que faz com que o
professor aprenda com a própria experiência, mas sim, os diferentes contatos que ele vive, ou
seja, é a qualidade das experiências por ele vividas e a forma como estas são produzidas que
podem proporcionar-lhe a produzir o saber da experiência.
Sobre esse assunto, Perrenoud (1998) esclarece que:
Quando nós ouvimos as histórias dos outros e contamos a nossa própria, nós
aprendemos a dar sentido às nossas práticas pedagógicas como expressões do nosso
conhecimento prático pessoal, que é o conhecimento experiencial que estava
incorporado em nós como pessoas e foi representado em nossas práticas
pedagógicas e em nossas vidas (1993, p. 1).
Na verdade, a teoria vem a partir do que ocorre em uma prática. Ela ganha força no
momento em que ela é uma reflexão de uma prática. Eu diria que a teoria é uma
reflexão sobre uma prática, essa reflexão vai aprimorar essa prática. Ao aprimorar a
prática, vão surgir a necessidade de mais teoria e isso cria um círculo onde a teoria e
a prática se auto-alimentam.
12
Palestra proferida no IMEC/UNICAMP em 08/09/1997 (GONÇALVES, 2000).
124
[...] o professor tomaria sua própria prática como objeto de reflexão, contrapondo a
ideia da racionalidade técnica, isso porque a prática educacional comporta
momentos de incertezas e singularidades que escapam das aplicações de técnicas
normalmente derivadas da bagagem do conhecimento profissional acadêmico. São
esses momentos de incertezas, espaços e tempos da ação docente que vêm sendo
considerados na formação do formador, pois a partir deles o professor reflete sobre
sua prática e toma decisões baseadas em sua formação e em seu conhecimento
prático (2010, p. 38).
[...] os aportes teóricos produzidos pela pesquisa em Educação Matemática não são
arbitrariamente oferecidos aos professores, mas buscados à medida que forem
necessários e possam contribuir para a compreensão e a construção coletiva e
alternativas de solução dos problemas da prática docente nas escolas. O professor,
nessa perspectiva de educação contínua constitui-se num agente reflexivo de sua
prática pedagógica, passando a buscar, autonomia e/ou colaborativamente, subsídios
teóricos e práticos que ajudem a compreender e a enfrentar os problemas e desafios
do trabalho docente (FIORENTINI E NACARATO, 2005, p. 9)
Cada vez se exige mais das instituições formadoras de professores uma formação de
qualidade. A estrutura social vigente, regida pelas regras do capitalismo, tem exigido
profissionais mais qualificados para o mercado de trabalho. Não é possível satisfazer as
demandas atuais com o ensino tradicional, espera-se que as instituições formadoras tenham a
capacidade de inovar, (re) significar as práticas pedagógicas e introduzir novas metodologias
no ensino.
Essa realidade tem levado muitas instituições formadoras a repensarem a formação de
seus formadores. Observa-se atualmente na formação do formador certa preocupação em
priorizar uma qualificação específica buscando um envolvimento direto com a profissão.
Espera-se que os seus saberes e competências construídos no ambiente de trabalho sejam
assuntos de debates e reflexões no âmbito das formações desenvolvidas. Exige-se ainda da
formação do formador não apenas a construção individual de formas de atuar em sua área
específica, mas também um processo de aprendizagem organizacional coletivo.
Esse cenário evidencia a complexidade e a importância do estudo sobre os saberes e
fazeres dos professores em seu cotidiano. Neste trabalho, concentramo-nos no entendimento
de como o formador aprende e transforma saberes sobre a formação de professores. Buscamos
também com a realização deste estudo a identificação dos diversos tipos de saberes do
formador, bem como as relações que estes têm com a sua formação.
127
Gonçalves (2000) fundamentado em Vilar (1990) afirma que ao longo dos anos o
desenvolvimento profissional dos formadores foi denominado por diferentes termos, contudo
com o mesmo significado que temos hoje. Segundo o autor, muitas das nomenclaturas
utilizadas são conhecidas atualmente pelos educadores, dentre elas, ele cita: reciclagem de
docentes, aperfeiçoamento de professores, treinamento ou aperfeiçoamento em serviço,
formação permanente, entre outras.
De acordo com o mesmo autor, as definições de diversos teóricos sobre este assunto
concentravam-se, em primeiro momento, em termos como: melhora, troca ou
aperfeiçoamento das competências docentes, em outros momentos, apareciam nomenclaturas
como: processo, estratégias, mecanismo de intervenções.
Entre as diversas definições, destacava-se a de Vilar (1990) que fundamentada em
Joyce (1980) defendia que:
129
Segundo Gonçalves (2000), pode-se afirmar que todo profissional em sua prática
apresenta algum avanço, ou seja, ao atuar todo formador se desenvolve profissionalmente,
pois de uma forma ou de outra, todo educador incorporará alguma coisa nova ao seu fazer
pedagógico. Contudo, segundo o autor, a experiência e a prática não dão garantia de melhoria
ao trabalho docente. Mesmo incorporando coisas novas à sua prática, o formador poderá estar
longe do que se considera ser um bom profissional da educação. Assim, é importante também
que o formador estude e reflita teoricamente sobre sua prática. Sem essa condição ele sempre
dependerá das técnicas e saberes elaborados por outros, a reflexão na ação e sobre a ação, lhe
possibilitará a sua emancipação.
O desenvolvimento profissional, segundo Imbernón, pode apresentar-se através de
uma conotação funcionalista, o autor nos alerta sobre o perigo desta concepção, pois nesta
visão o desenvolvimento profissional se define:
Ensinar exige pesquisa. Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses
dois que-fazeres encontram-se um no corpo do outro. Enquanto ensino, continuo
buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me
indago. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a
novidade (p. 32).
Segundo D‘Ambrosio (2001) todo educador ao iniciar a sua carreira, vai desenvolver o
seu trabalho de acordo com as concepções que lhe foram apresentadas no decorrer de sua
formação. Basicamente procurará aproximar o seu fazer pedagógico da prática que viu algum
mestre fazendo e que de certa forma lhe impressionou. Provavelmente deixará de fazer algo
que viu e não aprovou. Em suma, irá desenvolver a sua prática baseada no que aprendeu nos
cursos de formação e no que observou – durante a sua condição de aluno – das práticas de
seus professores.
Ao passo que vai exercendo a profissão o professor passa a refletir sobre o seu
trabalho, no sentido de poder aprimorá-lo. Ao refletir sobre a ação, o educador busca
teorizações que por sua vez modifica a prática. A reflexão da ação introduz novas práticas e a
sua execução permite novas teorizações, este movimento acontece de forma dialética.
D‘Ambrosio (2001) conclui que o que estamos acostumados a chamar de pesquisa
nada mais é do que o elo entre a teoria e a prática. Portanto, na visão do autor o professor se
torna um pesquisador na medida em que reflete sobre sua ação e teoriza sua prática. O mesmo
autor, citado por Dalcin define o professor-pesquisador como:
[...] Aquele que encara a pesquisa como ato de construir novas ideias e
entendimentos, ou seja, uma ação que resulta em aprendizagem. A pesquisa pode
gerar nova compreensão sobre a matemática de seus alunos, sobre a realidade de sua
sala de aula, sobre a sua prática pedagógica, sobre a qualidade de seu currículo,
sobre a matemática em si, ou sobre a aprendizagem matemática. Esses são apenas
alguns exemplos do que um professor-pesquisador poderá modificar em seu
esquema de compreensão como resultado do ato de pesquisar (D‘AMBROSIO, 2006
APUD DALCIN, 2010, p. 149).
132
No entanto, outra concepção de formação tem sido revelada por pesquisadores como
Altet, Paquay e Perrenoud, ao afirmarem que:
Sob esta ótica, a formação deve oferecer ao professor instrumentos intelectuais que
sejam importantes ao conhecimento, favorecendo a capacidade de interpretar situações
complexas e diversas oriundas do contexto escolar. ―Tal formação deve envolver os
professores em tarefas de formação comunitária para dar à educação escolarizada a dimensão
de vínculo entre saber intelectual e a realidade social, com a qual deve manter estreitas
relações‖ (IBIDEM, p. 40).
Diante deste cenário, onde o professor cada vez mais perde sua autonomia e o trabalho
docente está diante de um processo sistemático de desvalorização, o que se espera das
formações de professores? Que tipo de professores estas formações pretendem formar?
Professores funcionários ou reflexivos, técnicos ou investigadores, aplicadores ou conceptores
curriculares? Nóvoa (1992) destaca que estes questionamentos devem permear os programas
de formação de professores.
Toda proposta de formação de professores deve estar coerente com o projeto político
pedagógico da comunidade escolar a qual os educadores pertencem. A formação não deve
acontecer desvinculada dos projetos e necessidades da escola. As unidades escolares se
constituem em territórios próprios onde a autonomia dos professores pode-se concretizar. Ela
é o ambiente de intervenção, de investigação e de formação dos professores.
Demailly (1992, p.146) afirma que ―uma parte significativa da formação contínua de
professores funciona segundo a forma escolar‖. A autora define a forma escolar de ensino
como aquela organizada por um poder legítimo exterior aos alunos e até mesmo exterior aos
professores. Estas formações possuem um programa pouco negociável definido por instâncias
superiores aos formandos e formadores, e cabe a eles apenas cumprir o que à priori já está
estabelecido.
Entretanto, ―os professores necessitam ser protagonistas ativos nas diversas fases dos
processos de formação: na concepção e no acompanhamento, na regulação e na avaliação‖
(NÓVOA, 1992, p. 30). Precisamos avançar de uma formação sobre os professores para uma
formação com os professores e até para uma formação pelos professores.
Para que a formação continuada dos professores de matemática que atuam na
modalidade de Educação de Jovens e Adultos seja significativa, é importante que se leve em
consideração os desenvolvimentos pessoal, profissional e organizacional sugerido por Nóvoa.
A formação deve proporcionar um ambiente propício para os professores refletirem sobre
suas práticas. E a reflexão destas, poderá vir a ser o primeiro passo para que sejam alcançadas
importantes transformações na maneira de conceber e desenvolver o ensino de matemática na
EJA.
136
Sendo assim, precisamos de uma boa formação que atenda as reais necessidades dos
professores, que não seja fruto de políticas homogêneas impostas a toda coletividade docente.
Que ela seja capaz de permitir ao professor da EJA emergir de uma condição de mero
transmissor de conhecimentos, para uma condição de agente libertador, conscientizador e
promovedor da construção do conhecimento.
É preciso libertar-se primeiro para poder libertar a outrem. Os olhos de quem ensinam
precisam ser abertos para a necessidade de uma formação dinâmica centrada em seus saberes
sociais transdisciplinares, para que envolvidos no contexto social, propiciem aos seus
educandos, oportunidade de liberdade através do saber.
Todavia, a maneira pela qual alguns educadores ainda insistem em ensinar matemática
torna-se um grande desafio para que as verdadeiras mudanças ocorram. Entretanto,
acreditamos que não cabe apenas ao professor tal mudança, ―sabemos hoje que não basta
mudar apenas o profissional; é preciso mudar também os contextos em que ele intervém‖
(HOLLY APUD NÓVOA, 1992, p. 28). As escolas não podem mudar sem o empenho dos
professores, e estes não podem mudar sem uma transformação das instituições em que
trabalham. Portanto:
Há que se pensar em uma escola do diálogo, onde todos são reconhecidos, não em
sua individualidade, mas em sua unicidade. Uma escola que desenvolva o ouvir, o
falar, o comunicar. Uma escola que desenvolva o compromisso de ir além, [...] além
do que os livros já falam, além das possibilidades que lhe são oferecidas, além dos
problemas mais conhecidos. (FAZENDA, 1991, p. 19).
O desafio está em ir além, portanto em caminhar por lugares nunca trilhados. Sobre
este ponto, Alves (2003) afirma que há um tempo no qual o professor ensina aquilo que sabe e
domina muito bem, depois vem o tempo que ele ousa e se dispõe a caminhar por caminhos
ainda desconhecidos, ou seja, ele se dispõe a aprender junto com os alunos. De acordo com o
mesmo autor, se de fato quisermos avançar e melhorar a qualidade do ensino de matemática
em nossas escolas é preciso que cada educador reflita em que tempo está.
Como o nosso trabalho particularmente trata da formação continuada de professores
de matemática no contexto da Educação de Jovens e Adultos, apresentaremos a seguir
algumas considerações que julgamos ser importantes.
137
A formação contínua em vários países mostra que esta continua a ser marcada pelo
academismo, em que se valoriza a aquisição de saberes e não a sua construção pelos
professores, necessariamente entendidos como autores sociais que constroem seus
saberes em circunstâncias e contextos específicos (2003, p. 475).
Segundo Corôa (2006) essa maneira de formar é a que prevalece em nosso país e se
reflete nos educadores de matemática de nossas unidades escolares que, formados sob esse
paradigma, não veem o ato educativo de forma plural e complexa. Eles consideram (devido à
formação que tiveram são levados a acreditar nisso) todo o processo educativo apenas como a
transmissão de conhecimentos adquiridos durante a sua vida escolar ou em sua formação
inicial e continuada. Portanto, suas atuações em sala de aula acabam por colocar todos os
alunos nas mesmas condições, como se as turmas fossem homogêneas, acreditando que todos
os alunos possuem a mesma forma de aprender, deixando deste modo, de levar em
consideração as especificidades de determinados grupos de alunos, como por exemplo, os
alunos da Educação de Jovens e Adultos.
Sendo assim:
138
Deste modo, o que serve de base para o educador desenvolver a sua prática docente
acaba sendo a sua própria história e as suas experiências como aluno. Foi durante esse
processo que, observando, aprendeu a valorizar o comportamento que lhe pareceu mais
interessante e adequado. Diante disto, procura desenvolver a sua prática relacionando-a a
maneira que julga ser a mais próxima daquela que foi capaz de atender as suas necessidades
de quando era aluno (CORÔA, 2006).
Sendo assim, podemos afirmar que ao desenvolver a sua prática docente, o professor
fundamenta-se nas experiências que acumulou ao ter sido aluno da educação básica e muito
pouco daquilo que aprendeu em sua formação inicial. Entretanto, se este professor não foi
aluno da Educação de Jovens e Adultos, ou seja, não passou por esta modalidade de ensino,
convém questionarmos, que experiência este professor adquiriu para trabalhar nesta
modalidade? Que saberes este professor precisa para desenvolver a sua prática educativa na
EJA?
Já que os cursos de formação inicial não são capazes de formar o professor de
matemática para atuar na Educação de Jovens e Adultos, fica então a cargo da formação
continuada resolver tal problema. Sendo assim, nos questionamos: como deve ser a formação
continuada de professores de matemática para a EJA?
Acreditamos que toda formação continuada deve começar por formações que
contemplem a dimensão social da EJA, que são no caso formações gerais que visam
proporcionar uma melhor compreensão da modalidade, perpassando por formações que
abarquem as propostas curriculares até se chegar a um contexto mais específico, que é a
questão metodológica de cada disciplina ou área do conhecimento.
Pensamos ainda, que toda formação continuada de professores de matemática que
atuam na Educação de Jovens e Adultos deve ser realizada com acompanhamento sistemático
do professor formador para se ter garantia de um retorno ao trabalho que será desenvolvido
em sala de aula. Esta formação não pode deixar de considerar a prática do dia a dia, buscando
sempre aproximar a escola do convívio dos alunos. Tal formação deve buscar melhorias para
a prática destes professores, deve também preocupar-se em debater questões teóricas, realizar
reflexões sobre o conteúdo matemático trabalhado na EJA e ainda investigar os
139
[...] deve ser feita numa estreita relação com a prática cotidiana, com
acompanhamento sistemático ao professor, para que se possa garantir algum retorno
desta ação ao trabalho efetivo em sala de aula. Os ―treinamentos‖ esporádicos, os
cursos aligeirados e os programas de alfabetização sem continuidade garantida são
avaliados nas pesquisas como instrumento de desserviço à EJA, pois criam
expectativas que não serão correspondidas, frustram alunos e professores e reforçam
a concepção negativa de que não há o que fazer nesta modalidade de ensino
(HADDAD, 2002, p. 18-19).
Portanto, acreditamos que a trajetória de formação para este ensino requer permanente
processo de capacitação profissional e ainda assim, temos a impressão de que a conclusão de
diversos cursos sejam eles de curta ou longa duração, não serão capazes de elucidar todos os
questionamentos referentes às dificuldades de aprendizagem em matemática na EJA.
Assim, repensar a prática em sala de aula, deve ser o fazer constante do professor
reflexivo, pois o principal objetivo do ensino de matemática em tal modalidade é oferecer
uma aprendizagem que garanta o retorno destes alunos jovens e adultos ao exercício da
cidadania, sem deixar de lado os seus conhecimentos e vivências prévias sobre a matemática,
ligadas às atividades exercidas fora da escola.
140
Portanto, o seu trabalho consiste na busca de uma adequação metodológica entre estes dois
saberes.
Darsie (1993), afirma que o fracasso do ensino é resultado da má formação dos
educadores, é fruto ainda de uma concepção sobre o processo ensino-aprendizagem
fundamentado em uma abordagem filosófica e psicológica tradicional, que se utiliza de
princípios de uma didática que prioriza a memorização de símbolos e a descoberta de
produtos finais.
No modelo tradicional de educação o aluno é considerado o único responsável pelo
fracasso escolar. Entretanto, percebemos a presença de outra perspectiva que entende que o
fracasso escolar é consequência deste modelo tradicional de educação. Assim, nessa
perspectiva, o insucesso escolar não é exclusivamente do aluno. O fracasso é da escola, é
também do tipo de ensino oferecido. Ensino este, que é pensado apenas do ponto de vista de
quem ensina e jamais de quem aprende. Um ensino que não leva em consideração o
conhecimento já construído pelo aluno que chega a escola.
No caso dos discentes da EJA, que são jovens ou adultos, sabe-se que eles possuem
uma bagagem de conhecimentos ainda maior se comparado ao das crianças e adolescentes e,
desconsiderar todo este conhecimento é o mesmo que ignorar sua linguagem e a sua cultura.
Observa-se que a formação de professores em todos os tempos tem se fundamentado
em uma prática tradicional de ensino. Segundo Darsie (1993), quando a formação busca
romper com este modelo, algumas vezes é capaz de fazê-lo apenas teoricamente, contudo
observando a prática de sala de aula, percebe-se claramente que esta não foi capaz de romper
com tal concepção de ensino estando ainda pautada em uma perspectiva tradicional.
Diante de tal situação, acreditamos que a formação do professor é um dos elos da
corrente do fracasso escolar, um elo que se rompido resultará em mudanças significativas no
processo de ensino e de aprendizagem de matemática na Educação de Jovens e Adultos.
De acordo com Darsie:
Paulo Freire
Por ser a nossa pesquisa direcionada pela questão: ―em quais concepções de EJA, de
ensino e de aprendizagem de matemática os formadores de professores do CEFAPROs
se fundamentam para organizarem a formação continuada dos docentes de matemática
que atuam na EJA, optamos pela abordagem metodológica qualitativa e de análise
interpretativa porque acreditamos que, entre as suas potencialidades, a abordagem qualitativa
possibilita ao investigador a busca da explicação aprofundada levando assim, à compreensão
de fenômenos complexos como os que fazem parte do contexto educacional. Para obtermos
respostas ao problema da investigação, optamos por esta metodologia, confiando que ela nos
possibilitaria uma interpretação mais coerente dos dados coletados.
Na realização desta investigação, assumimos a concepção de pesquisa qualitativa
definida por Bogdan e Biklen como ―um termo genérico que agrupa estratégias de
investigação que partilham de determinadas características: ricos em pormenores descritivos
relativos a pessoas, locais e conversas, e de complexo tratamento estatístico‖ (1994, p. 16).
Ao discutir sobre a investigação qualitativa, Saraiva (2001) complementa a concepção
acima citada, esclarecendo que a real importância dessa abordagem é permitir o trabalho com
seres humanos e possibilitar a captura, através dos instrumentos de coleta de dados
adequados, as experiências destes. Para este autor:
A investigação qualitativa traz para o centro das atenções o estudo dos seres
humanos como tal, formulando as questões para investigar em toda a sua
complexidade e em todo o seu contexto. Trata-se de uma abordagem que rejeita
encarar as pessoas como uma soma de medidas psicológicas e tem a pretensão de
147
Número de municípios
Turnos de Funcionamento
Ano de Fundação
Modalidades de ensino
matemática
Do Centro
atendidos
CEFAPROs
atendidas
Escola Organizada em
Ciclos de Formação
Humana, Educação
Matutino,
Especial, Educação de
Vespertino
PINTADO 1998 33 05 52 12 Jovens e Adultos,
e Noturno
Educação Indígena,
EMIEP, Educação do
Campo.
Escola Organizada em
Ciclos de Formação
Humana, EJA,
Matutino,
Educação do Campo e
Vespertino
PIRAPUTANGA 1997 30 02 80 14 o EMIEP (Ensino
e Noturno
Médio Integrado à
Educação
Profissionalizante).
Escola Organizada em
Ciclos de Formação
Humana, Educação
Especial, Educação de Matutino
TUVIRA 1997 46 04 179 11 Jovens e Adultos, Vespertino
Educação Indígena, e Noturno
EMIEP, Educação do
Campo, Educação
Quilombola
14
Os pseudônimos dados aos Centros selecionados são nomes populares de espécies de peixes comuns na região
pantaneira. É uma homenagem ao lugar onde morei por 13 anos (Cáceres/MT), não é a terra onde nasci, porém é
o lugar que aprendi a amar.
150
Ano de conclusão
da pós-graduação
PROFESSORES
responsabilidade
do formador no
Pós-Graduação
da graduação
Formador de
ano de 2011
licenciatura
FORMADORES
Magistério
Tempo de
Tempo de
Professor
cursou a
sob a
Nome
Idade
15
Para preservar a identidade dos investigados, os nomes apresentados são fictícios.
151
FERNANDA ligados à prática Não Beija- Flôr, sobre organização do Currículo na EJA e
educativa Avaliação.
Sim. Práticas pedagógicas a partir de temáticas (2007).
EJA: Vale apena pensar... (2007). Repensar o Fazer
pedagógico de matemática (2008). Matemática na
MAGDA Não Não alimentação e na escola (2008). Oficinas de reflexão:
temática para educação de jovens e adultos de
matemática (2008).
Trabalho com as teorias Com os professores que trabalham na EJA, fiz alguns
que fundamentam a trabalhos, mas eles foram sobre elaboração de currículo
LUANA educação, como Não para jovens e adultos e avaliação. Com Matemática,
currículo, planejamento, trabalhei em programas de Alfabetização de adultos,
avaliação dentre eles estão o Letração e o Alfa.
Quanto à triangulação de informações Baraldi (1999, p. 19) também nos relata que é
de extrema importância ―a triangulação, ou seja, a recorrência a uma variedade de dados,
coletados em diferentes momentos, em situações variadas, utilizando-se de recursos
variados‖, sendo assim, no decorrer de nossa investigação, visando o recolhimento das
informações necessárias, na busca de uma triangulação metodológica dos dados, utilizamos os
seguintes instrumentos: questionários, entrevistas e análise documental dos planos de
formação dos formadores de professores.
4.3.1 Questionários
Os documentos constituem também uma fonte poderosa de onde podem ser retiradas
evidências que fundamentem afirmações e declarações do pesquisador. Representam
155
ainda uma fonte ‗natural‘ de informação. Não são apenas uma fonte de informação
contextualizada, mas surgem em um determinado contexto e fornecem informações
sobre esse mesmo contexto (1986, p. 39).
Ainda sobre a análise documental, de acordo com (HOLSTI, 1969, p.17, Apud
LÜDKE & ANDRÉ, 1986), existem pelo menos três situações básicas nas quais o uso desse
instrumento é apropriado:
4.3.3 Entrevistas
ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo. Baraldi, também
define esse instrumento de coleta de dados como:
[...] outra forma de entrevista que articula duas modalidades (entrevista estruturada e
não-estruturada). Essa modalidade é muito utilizada nas pesquisas educacionais,
pois o pesquisador, pretendendo aprofundar-se sobre um fenômeno ou questão
específica, organiza um roteiro de pontos a serem contemplados durante a entrevista,
podendo, de acordo com o desenvolvimento da entrevista, alterar a ordem dos
mesmos e, inclusive, formular questões não previstas inicialmente (2006, p. 121).
As categorias para análise dos dados emergiram da própria construção teórica sobre a
temática da investigação, das informações que encontramos nos questionários respondidos, da
leitura dos documentos que foram selecionados para a análise e das transcrições das respostas
encontradas nas entrevistas.
158
Por ter sido a nossa pesquisa amparada metodologicamente por uma abordagem
qualitativa, todos os dados, independente de qual tenha sido o instrumento de coleta, foram
detalhadamente estudados e analisados. Ao interpretarmos minuciosamente as informações
obtidas procuramos compreender as concepções presentes nas falas dos professores e nos
registros dos planos das formações por eles ministradas. Compreender tais concepções
revelou-se de extrema importância, pois estas concepções em nosso entendimento têm
implicações diretas nas práticas formativas dos sujeitos da pesquisa.
Deste modo, esperamos que a reflexão, análise e compreensão sobre o conteúdo expresso
nas falas dos sujeitos desta investigação e nos registros de seus planos de formação, se constituam
em mecanismos capazes de construir condições essenciais para as transformações necessárias e
emergentes do contexto atual onde estes personagens estão inseridos.
No presente capítulo, apresentamos e interpretamos os dados coletados sobre as
concepções de EJA, de ensino, de aprendizagem de matemática e de formação continuada dos
formadores de professores. Em momento algum da análise buscamos fazer juízo de valor.
Procuramos apenas compreender o que as falas dos sujeitos e os seus planos de formação podiam
revelar a partir dos fundamentos teóricos, ou seja, a partir das categorias conceituais levantadas
nos capítulos anteriores (categorias a priori) e a partir também das categorias que emergiram da
coleta dos dados (categorias a posteriori).
Procuramos desenvolver a análise de tal forma que ela se constituísse num diálogo entre
pesquisador, teóricos e sujeitos investigados. Portanto, utilizamos fragmentos das falas dos
entrevistados retirados tanto dos questionários quanto das entrevistas. Disponibilizamo-nos
também de dados coletados em outras situações informais e registrados em diário de campo.
Estes fragmentos nem sempre estarão juntos, aparecerão no diálogo conforme se fizerem
necessários. Utilizamos esta estratégia na interpretação com o propósito de facilitar a observação
das recorrências, semelhanças e contradições dos dados.
162
Os dados de Fernanda revelam que ela compreende que o público da EJA não estudou
no tempo apropriado não por preguiça, ou por não ter vontade de aprender, mas por pertencer
a uma parcela excluída da sociedade que não teve a oportunidade de frequentar a escola no
tempo devido. Para ela a EJA como modalidade da educação básica, é um espaço onde este
grupo tem a possibilidade de ser incluído no processo de escolarização. Este entendimento
pode ser comprovado quando Fernanda afirma que a EJA é: “... uma modalidade necessária,
pois ela possibilita às pessoas que por motivos diversos não tiveram oportunidade no
decorrer de suas vidas e atividades, dentro da regularidade/normalidade do processo de
escolarização, ter a oportunidade do processo de escolarização, ter a oportunidade de
poder estudar.” (1Q1, Fernanda). O mesmo posicionamento também é revelado por
Fernanda durante a realização da entrevista, quando ela esclarece: ―a EJA pra mim é uma
oportunidade nova dentro do espaço formal de educação para aqueles que não tiveram
oportunidades de estudar em seus tempos devidos (E1, Fernanda).
Fernanda reconhece que a EJA tem por função reparar uma falha, isto é, oportunizar o
acesso a educação que muito tempo foi negado a esse público. “Eu vejo a EJA mais como
uma função reparadora no sentido mesmo de reparar ou corrigir um erro cometido com
163
essas pessoas que por muito tempo estiveram excluídas do processo educacional” (E1,
Fernanda). Tal reparação é preconizada no parecer 11/200016 que traz para a EJA três
funções: equalizadora, qualificadora e reparadora. Esta última é destacada por Fernanda
quando ela revela que a sociedade e especialmente o poder público tem uma dívida social para
com essas pessoas que não tiveram acesso a escolarização.
Fernanda acredita que em nosso Estado o investimento na EJA é incipiente e que há
descaso para com a modalidade: ―vejo que na educação em geral, o investimento é
insuficiente, na EJA a carência é maior ainda. Tanto por parte do estado, da escola,
como dos profissionais no modo como encaram a EJA‖ (3Q1, Fernanda). Esta consciência
é importante, pois reforça sua opinião sobre a relevância desta modalidade de ensino. Sobre
este mesmo assunto, pesquisas como a de Nogueira (2010) têm afirmado que ao elaborar seus
PDE (Plano de Desenvolvimento Econômico), muitas unidades escolares têm revelado
descaso no momento de destinar recursos para a modalidade.
Fernanda revela ser consciente de que este descaso não se dá apenas pelo poder
público, mas acontece entre os próprios professores. Muitas vezes este descaso se manifesta
na não preocupação em planejar melhor as atividades e oferecer uma educação de qualidade,
afinal para estes estudantes basta apenas um ensino voltado para o atendimento de suas
necessidades imediatas como apanhar um ônibus ou dominar as quatro operações básicas para
lidar com o sistema monetário. Este entendimento foi evidenciado na entrevista quando
Fernanda afirma: “no meio educacional entre os professores, ainda existe esse
preconceito. Afinal não tem muito investimento, as coisas acontecem precariamente,
ninguém se esforça muito, eu acredito que ainda existe esse preconceito. [...] Tem
professores que pensam assim: eu vou pra Educação de Jovens e Adultos porque o que
eu fizer lá está bom, não tem muita cobrança, afinal são alunos de EJA!” (E2, Fernanda).
Fernanda nos mostra como o preconceito para com esta modalidade se manifesta na
escola e na sociedade ao relatar que ―eu tinha um preconceito com a EJA eu achava assim
que ela era o porão da educação, tanto é que quando eu fui dar aula na EJA eu fui
porque não tinha ponto17 suficiente. Não sobraram aulas para mim nas turmas que eu
queria, portanto tive que ficar com turmas de EJA, estava receosa de contar para
parentes meus que estava dando aulas na EJA, porque tinha um preconceito tipo
16
Parecer que regulamenta a Educação de Jovens e Adultos no Brasil.
17
A Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso através das Assessorias Pedagógicas e unidades escolares
fazem a contagem dos pontos dos professores a todo final ou início de ano. As turmas são escolhidas levando em
consideração a ordem decrescente da pontuação dos professores (os professores com maior pontuação escolhem
primeiro). Os pontos são contados a partir da titulação, carga horária de participação em eventos, tempo de
serviço e etc.
164
“nossa onde você foi parar‖! (E1, Fernanda). Neste momento, Fernanda destaca que no
início tinha preconceito com a EJA, no entanto, no decorrer de sua fala ela nos revela a
superação deste, o que nos leva a entender seu atual envolvimento e reconhecimento do valor
desta modalidade. Este relato de Fernanda corrobora o que Haddad (2002) esclarece ao
afirmar que existem muitos preconceitos em boa parte das análises das pesquisas sobre o
professor de EJA. Seus trabalhos são julgados insignificantes. A EJA, seus alunos e o próprio
professor desta modalidade são vistos como um estigma no próprio ambiente educativo. Os
colegas de profissão e as próprias Secretarias de Educação manifestam tal julgamento.
A fala de Fernanda nos revela que assim que assumiu as aulas na EJA ela não
reconhecia que esta modalidade de ensino e os seus alunos possuíam certas especificidades,
destacando que o ensino que ela ministrava para o público da Educação de Jovens e Adultos
era nos moldes do ensino reconhecido como regular, isto é, Fernanda oferecia aos seus alunos
um ensino infantilizado e distanciado de suas realidades. Fernanda dá evidências desta
interpretação quando revela: "quanto à diferença da EJA em relação às demais
modalidades, eu aprendi foi no dia a dia de sala de aula na EJA. Minha primeira turma
foi do segundo segmento, e eu preparava a aula como se fosse para alunos „normais‟ da
sétima ou oitava série (adolescentes ou pré-adolescentes). Só que na EJA, a gente tem
todo tipo de aluno. Eu tinha aluno de 14 a 65 anos de idade. A sala era totalmente
heterogênea, e foi na prática que eu aprendi que não sabia preparar aulas para EJA,
que eu aprendi que não sabia quem era esse aluno da EJA e como ele se comportava”
(4Q1, Fernanda).
Quanto à questão das salas heterogêneas, acreditamos que a concentração de diversas
faixas etárias comumente encontradas em turmas de EJA, dificulta o desenvolvimento de um
bom trabalho nesta modalidade. Pois, entendemos que os desejos, expectativas e
necessidades do adolescente, do jovem e do idoso são distintas. Além disso, compreendemos
que o sujeito possui formas singulares em cada etapa de desenvolvimento humano. Portanto,
defendemos que as turmas de EJA devem ser formadas levando em consideração as
necessidades e especificidades deste público.
O reconhecimento das especificidades do público da EJA é recorrente na entrevista
quando Fernanda esclarece: ―bem, agora eu já tenho um conhecimento razoável do que
seja a EJA. Quando eu comecei trabalhar com a EJA eu não tinha noção do que se
tratava. Eu só reproduzia aulas do que eu achava ideal, uma aula genérica. Uma aula
para baixinhos, adolescentes, adultos. A mesma aula que eu trabalhava para as crianças
e adolescentes eu reproduzia na EJA‖ (E1, Fernanda).
165
A afirmação de que o professor também aprende com a sua prática pode ser
comprovada a partir do seguinte relato: ―eu me lembro bem que em um ano eu fiquei com
todas as sextas séries do noturno (EJA), nessa etapa se inicia o estudo com os números
inteiros e entra em cena a questão do jogo de sinais, eu tentava dar aula como se
estivesse em uma sala regular onde eu iria introduzir pela primeira vez os números
inteiros, nem me dava conta que aquele povo tinha anos de experiências, que lidavam
com dinheiro, ou seja, conviviam com situações cotidianas que necessitavam desse
conhecimento. Eu ia com a aula preparada e de repente eu ouvia no comentário dos
alunos: é por isso que a gente fica com a conta negativa, então eu comecei a pensar...
Gente eles já têm experiência, no cotidiano eles já convivem com esse tipo de situação. A
partir de então, eu fui aprendendo com eles a maneira de dar aulas‖ (E2, Fernanda).
Esta situação permitiu que Fernanda compreendesse que a ação de um educador deve
diferenciar-se substancialmente quando dirigida a crianças e quando dirigida a adultos. Ao
considerar as experiências dos alunos e reconhecer que com eles pode aprender a professora
nos mostra mais uma vez a sua concepção de uma educação que pode emancipar o sujeito,
neste caso o próprio professor, antes preso a uma concepção tradicional de EJA.
Frente ao que nos relatou Fernanda, notamos que ela entende que os alunos da EJA
necessitam de um ensino específico voltado para as suas necessidades, cuja particularidade é
apresentada pelo perfil distinto de seus educandos, jovens e adultos na condição de excluídos
que foram do sistema educacional e possuidores de uma riqueza de conhecimentos
provenientes de suas experiências pessoais e coletivas. Assim, podemos novamente afirmar
que ao apresentar este entendimento, Fernanda mais uma vez se remete a uma compreensão
da EJA como emancipadora.
Questionada sobre como o professor de EJA deve proceder para levar em
consideração as especificidades dos alunos, Fernanda revelou: ―antes de qualquer coisa, o
professor precisa conhecer os alunos da EJA para ter conhecimento de suas reais
necessidades, interesses e motivações” (E2, Fernanda). Neste momento, a fala de Fernanda
evidencia que é de grande valor pedagógico tanto para o professor, quanto para o educando,
que o educador aborde temas que estejam ligados aos interesses dos alunos. Para Fernanda o
ensino partindo do interesse e motivação dos educandos consiste na superação de um ensino
baseado na memorização e assimilação passiva de conteúdos, o que nos leva a inferir que
para ela, um ensino nestes moldes, implica na superação de um modelo de educação livresco
e sem relação com a vida do estudante. O posicionamento de Fernanda se aproxima do que
167
afirma Libâneo (1985) ao elucidar que as experiências de ensino devem satisfazer ao mesmo
tempo, os interesses dos alunos e as exigências sociais.
E ainda, segundo Fonseca (2005), é dever da escola e de todo professor desenvolver
estratégias para conhecer os educandos, realizando para tal, um diagnóstico do seu atual
público, e assim, elaborar diversas propostas pedagógicas a fim de garantir-lhes um ensino de
matemática mais próximo da realidade a qual pertencem.
Solicitamos que Fernanda nos esclarecesse sobre quais conhecimentos seriam
necessários para um professor atuar em matemática no contexto da EJA, diante de tal
questionamento Fernanda elucidou: ―acho que primeiro conhecer um pouco mais sobre
como se processam as aprendizagens nas respectivas fases de vida que encontramos na
EJA. Conhecer mais sobre as motivações das pessoas que frequentam a EJA (seus
interesses)‖ (6Q1, Fernanda). Este mesmo entendimento é evidenciado por Fernanda durante
a entrevista quando relata: “o educador deve ainda, conhecer as diversas formas de
aprender dos alunos, suas motivações e seus interesses‖ (E2, Fernanda). Ao afirmar que o
professor deve conhecer os seus alunos, a fim de melhor planejar suas aulas, para torná-las
mais significativas aos estudantes, Fernanda revela uma tendência emancipadora de
Educação Matemática na EJA.
Ao reconhecer a necessidade de o professor conhecer a maneira pela qual seus alunos
aprendem, Fernanda parece entender que o ensino de matemática na EJA deve estar centrado
na aprendizagem dos alunos. Contudo, ainda não existem pesquisas ou teorias que nos
orientem como os adultos aprendem. Existem teorias como as de Piaget entre outros, que
indicam como as crianças e adolescentes aprendem, mas em relação à aprendizagem na fase
adulta, ainda não temos estudos que respondam como se processa.
18
Voltaremos a discutir sobre este assunto mais adiante quando estivermos analisando o bloco específico da
formação.
173
elementos essenciais para a construção de suas aprendizagens. Esta interpretação pode ser
verificada quando ela afirma que o aluno da EJA aprende matemática: ―partindo do que ele
já sabe, relacionando com questões do seu dia a dia‖ (1Q3, Fernanda). Novamente
verificamos que prevalece na fala de Fernanda apenas o papel funcional da matemática. No
entanto, sobre este aspecto, a Proposta Curricular da EJA (BRASIL, 2002) deixa evidente a
necessidade tanto do aspecto funcional quanto do formativo para o processo ensino-
aprendizagem desta ciência, destacando a importância de se manter um equilíbrio entre eles.
Fernanda explicita que a razão pela qual os alunos não aprendem matemática está no
fato deles não gostarem da disciplina. Em sua opinião, os estudantes não gostam da
matemática devido aos bloqueios que possuem em relação a esse conhecimento. Essa
interpretação pode ser constatada quando Fernanda elucida: ―os que têm dificuldades
apresentam essa dificuldade em nível elevado, no sentido de terem inclusive bloqueios
em relação ao conhecimento matemático. Muitos se sentem incapazes de aprender
matemática e por isso não gostam de matemática‖ (2Q3, Fernanda),
Segundo Fernanda, os bloqueios surgem devido ―aos anos de experiências anteriores
em que eles [os alunos] se sentiam impotentes em relação à matemática‖ (E4, Fernanda).
E ainda, que o surgimento de bloqueios nos alunos acontece em decorrência ―da própria
estrutura da matemática e da maneira como alguns professores apresentam essa
disciplina para os alunos‖ (E4, Fernanda).
Fernanda apresenta outro grupo de estudantes que apesar de não terem bloqueios,
enfrentam dificuldades para aprender matemática em consequência da falta de assiduidade:
―outros alunos têm suas aprendizagens dificultadas, pois faltam muito, mas eles
aprendem‖ (4Q3, Fernanda). Essa informação é recorrente quando Fernanda afirmar na
entrevista que: ―eles faltavam muito e não podiam ser promovidos por falta de
assiduidade [...] Os adolescentes faltavam muito e ficavam defasados‖ (E4, Fernanda).
Para Fernanda as dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos se resumem
a bloqueios adquiridos em etapas anteriores, a defasagem por falta de assiduidade ou ainda, é
resultante de concepções equivocadas de matemática.
Pois, em sua opinião ―a visão de matemática também é importante para o
desenvolvimento do ensino e da aprendizagem de matemática na sala de aula. Veja bem,
eu via a matemática como um instrumento, uma ferramenta, uma técnica, um saber
pronto acabado e que eu (professora) tinha a função de apresentar aos alunos. Tudo o
que eu estava trabalhando já estava construído bonitinho, numa arquitetura perfeita e
que eu tinha que levar para os meus alunos que não tinham isso. Hoje eu não vejo mais
175
processo contínuo. Dessa forma, podemos concluir que a professora, na verdade, não teve
formação continuada na EJA durante o tempo em que trabalha no CEFAPRO. Este relato de
Fernanda nos levou a questionar os motivos da falta de investimentos na formação dos
formadores de professores de matemática.
Quando investigamos o motivo pelo qual os formadores não estão participando de
formação continuada, entendemos a lógica econômica empregada na alocação dos recursos
destinados à modalidade de Educação de Jovens e Adultos. O investimento é empregado na
formação de apenas alguns professores formadores que se encubem de repassar o
conhecimento adquirido aos demais profissionais da área. “Agora nos CEFAPROs há dois
professores que são os encarregados da EJA, eles que participam das formações
relacionadas a EJA, sempre que eles veem de um encontro fazem os repasses, mas de
maneira muito superficial, nada especificamente direcionado as questões sobre ensino-
aprendizagem em matemática para EJA” (2Q4, Fernanda).
Esta mesma informação é recorrente na entrevista quando Fernanda esclarece:
“existem atualmente dois profissionais no CEFAPRO que são responsáveis pela
modalidade EJA. São eles que participam de todas as formações que a SEDUC/MT
organiza” (E5, Fernanda). E a formadora nos aponta mais um dado relevante para a nossa
interpretação quando revela: ―a orientação dada é a seguinte: esses profissionais
participam das formações e depois socializam com os demais formadores. Mas, na
prática isso não acontece. Imagina, você vai a uma formação de quatro dias e depois vai
socializar em uma hora, dá para imaginar o que tal socialização representa (E5,
Fernanda).
A ineficácia de tal método de formação é destacada por Fernanda na fala acima,
quando ela afirma a pretensão de realizar o repasse de todo o conhecimento adquirido em um
encontro de quatro dias em apenas uma hora. Mas, para além da questão temporal a
professora destaca também a questão das temáticas abordadas: “... os assuntos tratados
nessas formações não contemplam as especificidades das disciplinas, são assuntos mais
gerais como indisciplina, drogas, legislação, normatizações, especificidades da
modalidade, alcoolismo, etc.” (E5, Fernanda). Assim, Fernanda esclarece que com essa nova
forma de gerir a formação continuada da EJA, os formadores de matemática foram
impossibilitados de refletirem sobre as questões específicas do processo ensino-aprendizagem
da matemática neste espaço de formação oportunizado pela Secretaria de Estado de Educação.
Esta afirmação pode também ser comprovada na fala de Fernanda quando ela elucida
que: ―os demais formadores do Centro se afastaram da modalidade devido a essa nova
179
19
A Sala do Formador é o espaço de formação continuada dos formadores de professores do CEFAPRO. Essa
formação é realizada no próprio Centro, sendo coordenada pelo coordenador pedagógico do CEFAPRO. Os
temas abordados, segundo a Secretaria de Educação, são discutidos de acordo com as necessidades formativas
dos formadores e das escolas.
180
Fernanda reconhece que apenas a formação inicial, não prepara o professor para a
docência, explicitando o seu entendimento de que na formação continuada este preparo
também não vem acontecendo, ou se vem, é de forma incipiente. Em sua opinião, para que a
formação continuada contribua para o desenvolvimento profissional dos educadores, ela deve
atacar os problemas vivenciados pelos professores, portando deve partir de suas realidades e
concentrar-se nas especificidades do ensino e da aprendizagem de cada conhecimento
disciplinar. Esta interpretação pode ser verificada quando Fernanda esclarece que uma boa
formação continuada: ―é aquela formação que deve dar conta das reflexões sobre as
questões com as quais nos deparamos na atividade de docência e que cuja formação
inicial nunca será capaz de contemplar, que trata realmente do aprofundamento nas
questões do processo ensino-aprendizagem que estamos agora vivenciando” (1Q5,
Fernanda).
Nesta fala Fernanda revela o mesmo entendimento apresentado por Melo (2010) ao
elucidar que a formação continuada do educador deve superar o paradigma da racionalidade
técnica e partir de um modelo que valoriza as realidades presentes nos cotidianos dos
professores, considerando seus conhecimentos e saberes, lhes possibilitando assumir como
principais sujeitos neste processo, fazendo com que reflitam sobre o próprio fazer docente,
trazendo para o ambiente de sua atuação, mudanças significativas.
Perguntamos a Fernanda como deve acontecer a formação continuada do docente de
matemática que atua na EJA, isto é, o que esta formação necessariamente precisa contemplar.
Frente a tal questionamento, Fernanda se posicionou da seguinte maneira: “é comum os
jovens e adultos já terem conceitos construídos (de maneira espontânea ou através de
processo de escolarização). Alguns conceitos construídos “erroneamente” ou uma visão
distorcida ou enganosa dos mesmos. A formação pode auxiliar o professor a
desconstruir conceitos para construção de novos, ou seja, como ir do erro ao „correto‟‖!
(2Q5, Fernanda). Nesta fala Fernanda nos sinaliza que ela reconhece a possibilidade de
trabalhar o erro para além da verificação, ou seja, não só como constatação da não-
aprendizagem ou ideia equivocada. Mas, como o resultado de uma aproximação contínua com
o objeto de estudo, construção feita pelo sujeito no percurso de sua aprendizagem. Ao revelar
tal consciência, entendendo que o erro pode receber um tratamento diferenciado por parte do
professor, Fernanda se remete a uma perspectiva emancipadora de formação.
Em outros momentos, Fernanda também elucidou que a formação continuada desse
educador deve ―começar pela construção de um currículo adequado para educação na
EJA, e esse currículo deve partir da especificidade de cada unidade escolar, ligada
184
que são ou deveriam ser responsáveis pela formação destes educadores também carecem de
tal formação?
Assim, Fernanda nos revela concepções significativas que podem contribuir para o
desenvolvimento de um bom trabalho na EJA. Porém, estas concepções não são colocadas em
prática, uma vez que, atualmente não existe uma oferta de formação específica para este
público de professores. Portanto, as concepções de Fernanda NÃO implicam na formação dos
educadores de matemática da Educação de Jovens e Adultos, pois não existe esta formação.
As falas de Fernanda nos permitiram concluir também, que não existe uma formação
continuada específica devido à nova organização dos Centros de Formação. Segundo ela, tal
estrutura distanciou os formadores dos CEFAPROs desta modalidade de educação. E devido a
isto, a Educação de Jovens e Adultos para os formadores de professores de matemática, não é
mais foco de discussão, ou seja, a EJA atualmente, para estes formadores, não é mais
prioridade. Esta fala de Fernanda reforça o que nos revela Di Pierro (2004) ao afirmar que a
EJA ainda é vista com desprezo e discriminação tanto por parte do poder público quanto por
parte dos próprios educadores.
Os dados de Luana nos permitem compreender que ela considera a EJA uma
modalidade necessária e acredita que ela deve atender a dois objetivos. O primeiro consiste no
imediato preenchimento da lacuna deixada pela falta dos conhecimentos matemáticos que o
afastamento da escola gerou neste público, o que a professora chama de “imediatismo da
situação”. O segundo é visto por ela como função principal da EJA, que é ensinar com
criticidade estes conhecimentos aos sujeitos desta modalidade. Esta afirmação pode ser
verificada no seguinte relato: ―considerando a situação educacional brasileira, com tantas
pessoas que por algum motivo se afastaram da escola ou nunca foram para uma, essa é
uma modalidade necessária, primeiramente, pensando no imediatismo da situação para
corrigir a falha, mas com o objetivo principal de trabalhar os conhecimentos necessários
com mais criticidade para este grupo de sujeitos” (1Q1, Luana).
O entendimento de que a EJA deve proporcionar criticidade ao sujeito também é
evidenciado em sua fala quando Luana afirma que a EJA possui a seguinte função: ―inserir o
sujeito dessa modalidade num processo educativo crítico capaz de subsidiar suas
necessidades educativas com mais precisão e clareza” (2Q1, Luana). Acreditamos que ao
mencionar a necessidade de um processo educativo crítico, Luana esteja ressaltando que o
188
ensino de matemática na EJA não deve preocupar-se apenas com a transmissão dos conteúdos
escolares, mas que ele deve possibilitar ao educando um posicionamento crítico perante a sua
realidade no sentido de compreendê-la, de interpretá-la.
Sobre este assunto, Freire (1996) relata que para que os estudantes da EJA tenham
condições de agir com criticidade, é necessário superar um ensino pautado em uma
perspectiva de educação bancária. O autor destaca a necessidade da efetivação de uma prática
educativa por ele denominada problematizadora, onde o ensino deve contemplar não apenas
os conteúdos escolares, mas também possibilitar a autonomia e emancipação do sujeito,
permitindo que ele tenha condições de agir com criticidade perante a sua realidade a fim de
desvelá-la.
Ao relatar que estes estudantes são ―possuidores do mesmo direito à educação da
qual, os que estão em idade normal ao sistema educativo possuem” (1Q1, Luana), Luana
reconhece que o aluno jovem ou adulto possui o mesmo direito à educação que o aluno
criança ou adolescente, revelando o mesmo entendimento apresentado pela Proposta
Curricular da EJA ao expressar que a educação para este público específico não se constitui
em benefícios prestados, mas em direito constitucional garantido (BRASIL, 2002).
Luana relata o descaso para com a Educação de Jovens e Adultos e responsabiliza o
poder público pelo baixo investimento na modalidade e pela sua pouca qualificação para gerir
a formação continuada dos professores de EJA. Evidências desta informação se apresentam
quando Luana considera a oferta e o investimento na EJA “muito incipiente, falo isso em
virtude de não possuir grande experiência em EJA” (3Q1, Luana). Luana reclama também
a falta de informação por parte da Secretaria de Educação no que diz respeito a esta
modalidade. Esta afirmação pode ser constatada quando ela afirma: ―no trabalho
desenvolvido pelo Centro não recebemos informes, via SEDUC, sobre o que tem
acontecido, principalmente porque as discussões no Estado não chegam até nós, elas são
passadas diretamente às escolas que fazem a EJA e de lá elas são respondidas sem o
nosso conhecimento” (3Q1, Luana). A nosso ver, esta fala de Luana é no mínimo
preocupante por ser ela uma das pessoas responsáveis pela formação continuada dos
educadores de matemática que atuam na EJA.
Luana acredita que o que diferencia a Educação de Jovens e Adultos das demais
modalidades de educação é o perfil do público ao qual a EJA atende. Esta informação se
evidencia quando Luana explica: “acredito que seja o sujeito desse processo” (4Q1, Luana).
Além de reconhecer as especificidades dos alunos da EJA, Luana revela que para estes
estudantes seria necessária uma proposta pedagógica diferenciada, tal afirmação pode ser
189
comprovada quando ela esclarece: ―aliado a esse sujeito estão as diferenças no trato
educativo, no currículo/conhecimento a ser veiculado” (4Q1, Luana).
Este mesmo entendimento de que os alunos da EJA têm características diferentes dos
estudantes da educação ‗regular‘ é evidenciado na entrevista quando Luana revela: “a faixa
etária com que trabalha a Educação de Jovens e Adultos, você já pega alunos que tem
uma experiência de vida grande, se você fala da experiência de vida infantil pra
trabalhar, calcula a experiência de vida adulta pra você trabalhar o conhecimento
formal (E1, Luana). Ao esclarecer que um dos fatores que diferencia o aluno da EJA do aluno
do ensino regular são os conhecimentos tácitos (oriundos de suas vivências) que estes
estudantes possuem e ao sinalizar a importância de se considerar estes conhecimentos no
processo educativo, Luana nos dá indicações que as suas concepções caminham em direção a
um modelo emancipador de EJA.
Um entendimento bem próximo deste posicionamento revelado por Luana é
apresentado por Coll (1990) ao afirmar que a aprendizagem não é uma simples cópia do
conteúdo a aprender, mas implica em processo de construção ou reconstrução em que o que
os alunos já trazem de conhecimento tem um papel decisivo.
Luana defende que a EJA tenha uma matriz curricular própria, pois a seu ver, nem
todos os conteúdos matemáticos são significativos para esta modalidade, assim em seu modo
de pensar “é necessário que esse professor saiba quais conteúdos serão importantes para
que o conhecimento matemático seja vivenciado com qualidade e tenha significado para
o jovem adulto aprendiz” (6Q1, Luana). No entanto, ao se referir a esta questão dos
conteúdos serem ensinados de forma significativa, Luana explicita apenas a necessidade de se
valorizar o conhecimento matemático produzido pelos educandos da EJA não evidenciando
também como importante para promover uma aprendizagem significativa, o resgate do
processo histórico-cultural deste conhecimento.
Questionamos então, quais seriam os conteúdos que poderiam ser significativos aos
estudantes da EJA. Frente a esta questão, Luana afirmou: “aquele que seja objeto de
interesse deste público, com questões ligadas ao seu cotidiano” (2Q2, Luana). Nesta sua
fala, Luana percebe a relevância de relacionar o contexto escolar com a realidade dos alunos.
Esta sua atitude é positiva, e revela que Luana considera importante contemplar no ensino de
matemática a sua dimensão funcional, todavia, ao evidenciar apenas a função pragmática do
conhecimento matemático, ela deixa de mencionar a necessidade de outra dimensão desta
ciência, que de igual modo, é importante, que é o seu papel formativo voltado para o
190
Portanto, diante do que tem nos revelado os dados, inferimos que as concepções de
Luana acerca da Educação de Jovens e Adultos caminham para o modelo emancipador. As
suas falas vão ao encontro dos ideais de uma concepção de Educação de Jovens e Adultos
comprometida com a construção da cidadania e emancipação do sujeito.
Luana afirma que o ensino de matemática deve estabelecer conexões com o cotidiano
dos alunos. Ela relata também que este ensino precisa ser adequado à maturidade intelectual
dos estudantes. Esta opinião está expressa na fala : “o ensino da Matemática é importante,
desde que seja objeto de interesse deste público, com questões ligadas ao seu cotidiano,
ou seja, que o enfoque do conteúdo seja adequado a esta etapa do desenvolvimento
humano” (2Q2, Luana). Ao reconhecer que este público necessita de um tratamento
metodológico específico, isto é, diferenciado daquele dado para o público infanto-juvenil,
Luana demonstra concepções que se aproximam de um modelo emancipador de Educação
Matemática.
Este mesmo entendimento de que o conteúdo matemático deve estar inserido no
contexto sociocultural dos alunos e que ele deve ser adequado às etapas de desenvolvimento
humano também pode ser comprovado na entrevista quando Luana afirma: “o profissional da
matemática diz: vou trabalhar com as quatro operações, então ele dá uns probleminhas
infantis para o aluno trabalhar com a adição, e aí? O quê que cotidianamente esse
adulto lida e que o conceito de adição está impregnado em sua realidade?” (E5, Luana).
Ao evidenciar um ensino adequado às etapas de desenvolvimento humano, isto é,
diferente daquele destinado ao público infanto-juvenil, Luana revela um entendimento bem
próximo do apresentado por Fonseca (2007) quando a autora relata que não se deve admitir
que na prática ainda exista a opção de agrupar os alunos jovens ou adultos em turmas
regulares do ensino fundamental e médio.
Acreditamos que esta atitude implica no desenvolvimento de um trabalho pedagógico
não dirigido especificamente para as demandas e possibilidades destes sujeitos. Porém, além
de enturmá-los em classe apropriada, é necessário que o professor perceba que os estudantes
da Educação de Jovens e Adultos apresentam idades e perfis bem distintos entre si e distintos
também dos alunos de outras modalidades, e diante deste reconhecimento, é de igual modo
192
importante, que ele desenvolva um trabalho, onde de fato essas peculiaridades sejam
consideradas.
A visão de que o ensino de matemática na EJA deve manter estreitas relações com as
vivências dos alunos é novamente comprovada quando Luana enfatiza que uma boa maneira
de ensinar matemática nesta modalidade seria: “trabalhando com as situações cotidianas,
com análises de contas de serviços públicos prestados, listas de compra, localização
espacial entre outros” (3Q2, Luana). Este mesmo parecer é recorrente na entrevista quando
ela afirma: ―as questões sociais estão gritando, a lida com as questões bancárias, a lida
com as questões de consumo, existem pessoas que não sabem como trabalhar o gasto da
energia elétrica, o gasto de água, então a gente tem um campo riquíssimo para se
trabalhar a matemática, você tem aí uma infinidade de conteúdos matemáticos não
hierarquizados, mas conteúdo matemático” (E3, Luana).
Ao reconhecer que é importante certa proximidade entre os conteúdos de matemática e
o contexto sociocultural dos alunos, Luana nos permite inferir que os seus ideais estão
próximos de uma concepção emancipadora de Educação Matemática, todavia quando ela
menciona apenas a função funcional da matemática deixando novamente de contemplar a sua
função formativa para o ensino desta disciplina, ela nos dá indicações de que considera a
primeira função como a mais importante para a efetivação do processo ensino-aprendizagem.
Neste momento de sua fala, Luana nos dá indícios de que ela não considera relevante manter
o equilíbrio entre estas duas funções da matemática.
Luana critica um ensino formal, linear e distanciado das realidades dos discentes da
EJA, isto é, um ensino centralizado no domínio das regras e utilização das fórmulas, pautado
no formalismo, onde a matemática tem seu valor nos axiomas, definições e teoremas, ou seja,
em outras palavras, nas fórmulas matemáticas. Luana afirma também que na prática de sala de
aula, é este ensino que ainda prevalece: ―pensar no conhecimento matemático formalizado,
você vai pensar em algo um pouco fechado, duro, é a situação que a gente tem visto por
aí, apesar de a gente ouvir o discurso das pessoas dizendo que mudou isso, mudou
aquilo, quando você vai pra prática de registro formal, ele continua igual, aquela dureza
do conhecimento, a linearidade, o pré-requisito está sempre presente” (E3, Luana). Ao
reprovar este modelo formalista e tradicional, no qual cada conteúdo é um elo de uma
corrente, um pré-requisito para o que vai sucedê-lo, Luana nos sinaliza uma visão de ensino
de matemática que se fundamenta em uma perspectiva emancipadora de Educação
Matemática.
193
Diante do que nos tem revelado Luana, inferimos que ela define a matemática como
uma atividade desenvolvida pelo homem, portanto determinada socioculturalmente pelo
contexto em que é realizada. Assim, acreditamos que o conhecimento matemático não é
concebido por Luana como um conhecimento pronto, acabado e isolado do mundo, mas como
um saber prático, relativo, dinâmico, não universal, produzido histórico-culturalmente nas
mais variadas práticas sociais. Ao revelar tal consciência, Luana também evidencia uma
concepção emancipadora de Educação Matemática.
Luana esclarece que a superação de um modelo de ensino fundamentado em uma
perspectiva tradicional de educação pode acontecer quando o educador propuser um ensino
contextualizado, voltado para o atendimento das necessidades dos estudantes. Esta afirmação
pode ser verificada quando ela enfatiza: “acho que na formação tinha que ter uma parte
bem prática, e quando eu falo da prática é de pensar que conteúdos nós estamos
trabalhando? Esses e esses. Então como trabalhar isso socialmente? Cotidianamente? O
que tem de representação desse conteúdo para o cotidiano? Porque trabalhar os
conteúdos tradicionais como a gente tem visto por aí, pra mim não resolve muito não”
(E5, Luana).
Além de destacar a relevância da prática, Luana também evidencia a importância do
aporte teórico para o desenvolvimento do trabalho docente: “o fato de enfatizar a prática
não significa que deprecio a teoria, não é isso, penso que essas questões práticas elas
devem estar profundamente ligadas à teoria, até pra que gente consiga dar significado
àquela prática diferenciada, porque senão, eu vou só aplicar fórmula mesmo, que pra
nós é muito mais fácil” (E5, Luana). Ao revelar tal consciência, Luana se aproxima do que
nos relata D‘Ambrósio (1997) ao pontuar que no fazer docente a teoria e a prática se auto-
alimentam. A teoria é uma reflexão sobre uma prática. Segundo o mesmo autor, a teoria é
decorrente de uma prática e o aprimoramento da prática faz surgir a necessidade de mais
teoria, criando-se um círculo, onde teoria e prática são interdependentes.
No entanto, quando se refere ao ensino de matemática na EJA, a fala de Luana não
contempla algumas abordagens que a nosso ver são importantes para o ensino desta disciplina
escolar. Dentre elas podemos citar: a resolução de problemas, os jogos, as tecnologias da
informação e comunicação, a modelagem matemática, a etnomatemática, a metacognição e as
estratégias metacognitivas. O fato de não mencioná-las nos leva a questionar se Luana
conhece e se utiliza estes recursos ao desenvolver suas atividades formativas junto aos
educadores de matemática da EJA.
194
Por outro lado, o modelo tradicional de ensino se revela quando Luana destaca apenas
a dimensão funcional da matemática não entendendo que a função formativa desta ciência é
de igual modo importante no ensino desta disciplina. A mesma perspectiva se apresenta
quando Luana deixa de contemplar para o ensino de matemática na EJA algumas abordagens
metodológicas como: a etnomatemática, a resolução de problemas, as TICs, a modelagem
matemática, os jogos, a história da matemática e etc.
Portanto, ao analisarmos as concepções de Luana acerca do ensino de matemática na
EJA, observamos que suas convicções migram entre as perspectivas emancipadora e
tradicional de Educação Matemática. Em alguns momentos a sua fala defende um ensino de
matemática que promove a construção da cidadania e emancipação do sujeito, em outros, a
sua fala reforça um ensino voltado apenas para satisfazer as necessidades mais imediatas dos
educandos da EJA, isto é, um ensino que não ultrapassa as fronteiras de uma formação
profissional e utilitária. No entanto, apesar de transitar entre as duas categorias de análise,
observamos que as concepções de Luana em relação ao ensino de matemática na EJA
demonstram certa tendência ao modelo emancipador de Educação Matemática.
Luana nos dá evidências de que acredita que os estudantes da EJA possuem cada um a
sua própria maneira de aprender. Essa interpretação pode ser comprovada quando ela relata
que o professor precisa “primeiramente conhecer o sujeito que faz essa modalidade e sua
forma de aprender” (1Q3, Luana). Ao reconhecer que as pessoas são diferentes e a forma de
aprender depende da maneira particular de cada um, ou seja, os alunos aprendem ao seu jeito
e ao seu tempo, Luana parece compreender que os alunos da EJA, assim como qualquer
estudante de outras modalidades de ensino, possuem ritmos de aprendizagem diferentes.
Portanto, inferimos que na visão de Luana é necessário que o educador tenha este
conhecimento de como o aluno aprende para melhor articular o seu posicionamento em sala
de aula, para que a sua ação seja um instrumento promovedor e facilitador da aprendizagem
dos alunos.
Esta fala de Luana também sugere que é preciso que o educador realize um
diagnóstico a fim de levantar informações sobre o público no qual irá desenvolver o seu
trabalho. Este posicionamento leva-nos a crer que para Luana tal diagnóstico permitirá que o
professor ministre um ensino que promova a aprendizagem, pois considerará a maneira de
196
aprender dos alunos e, além disso, estará mais próximo do contexto sociocultural destes
estudantes. Fonseca (2007) apresenta um mesmo entendimento ao afirmar que a realização de
um diagnóstico dos alunos permite que o educador ofereça ao seu público escolar um ensino
condizente com a realidade na qual os estudantes estão inseridos.
Este entendimento de que os conteúdos escolares devem se aproximar do contexto
sociocultural dos alunos se apresenta quando ela defende que: “depois de conhecer o sujeito,
acredito que o educador deve trabalhar com os conteúdos matemáticos inseridos em
questões práticas imersas no cotidiano de cada jovem adulto que procure a educação
formal” (1Q3, Luana). Este mesmo parecer se evidencia quando Luana esclarece que as
atividades de matemática contribuirão para a aprendizagem dos alunos quando partirem de
seus contextos, de seus interesses e de suas necessidades, pois elas precisam ter “praticidade
e aplicabilidade. O aluno precisa perceber a utilidade do conhecimento que está sendo
discutido” (3Q3, Luana).
Observamos novamente que ao se referir ao processo ensino-aprendizagem de
matemática, Luana sequer menciona a dimensão formativa do conhecimento matemático, ela
se limita apenas ao aspecto funcional desta ciência. Escapa da compreensão da professora a
necessidade de se manter o equilíbrio entre estas duas funções ao ensinar matemática na EJA.
Sobre este assunto Duarte (1986) revela que o processo ensino-aprendizagem de matemática
deve necessariamente contemplar não apenas a sua dimensão funcional, mas também a sua
dimensão formativa, caso contrário, este processo estará privando o estudante de ter acesso a
este bem cultural que é a apropriação do conhecimento matemático em sua completude e
totalidade.
Na opinião de Luana o sujeito não aprende através de uma única maneira “o aprender
para mim... Não existe uma forma, algo que eu descreva assim: fulano aprende dessa
maneira, não” (E4, Luana). Para ela a aprendizagem é complexa uma vez que “o
aprendizado acontece de diversas formas, e a todo o momento se aprende algo sem
necessariamente identificar essa metodologia é adequada” (E4, Luana).
Devido a isso, Luana relata que para aprender o aluno necessita muito mais que apenas
uma metodologia apropriada, assim para possibilitar um ambiente propício à aprendizagem, o
educador precisa desenvolver diversas habilidades, pois “a questão da aprendizagem é
bastante relativa. Não sei te dizer com clareza, metodologia tal, prática tal, acho que não
é isso, é um conjunto, é uma sensibilidade, é um olhar diferente, para poder perceber o
brilho do aprendizado ou o descontentamento pela não aprendizagem na expressão das
pessoas, acho que é isso” (E4, Luana). É por também compreender esta complexidade da
197
ação docente que Gonçalves (2000) afirma que o ato de ensinar requer do professor uma
diversidade de saberes e competências.
Luana enfatiza que os alunos da EJA possuem dificuldades para aprender matemática
e que estas dificuldades estão “ligadas ao formalismo da escola, tais como adequação ao
planejamento do professor, às diferenças no próprio aprendizado coletivo e
principalmente se o conhecimento matemático não se encontrar compatível com a sua
vivência cotidiana, ou seja, contextualizado” (2Q3, Luana). Acreditamos que estes fatores
citados podem prejudicar a aprendizagem não somente dos alunos da EJA, mas também dos
estudantes das outras modalidades de educação. Observamos que nesta fala de Luana, a ação
docente tem a maior responsabilidade pelo surgimento das dificuldades de aprendizagem dos
alunos.
Esta opinião de que a ação docente é a maior responsável pelo surgimento de
dificuldades de aprendizagem nos alunos é recorrente na entrevista quando Luana afirma que
tais dificuldades acontecem em virtude do “formalismo educativo, a pouca diferenciação
que se faz desse sujeito aprendente para os outros sujeitos, também inseridos no
contexto educativo” (E4, Luana). E esta mesma visão se apresenta quando Luana descreve
que para os educandos superarem suas dificuldades de aprendizagem é necessário que os
educadores os “olhem no lugar de origem, ou seja, adultos em busca de formação” (5Q3,
Luana). Percebemos que é recorrente na fala de Luana a concepção de que o professor é o
maior responsável pelo surgimento das dificuldades de aprendizagem dos alunos. Parece-nos
que escapa de sua compreensão que toda a comunidade escolar e o poder público também têm
participação neste processo.
Também é recorrente em sua fala o entendimento de que uma boa caracterização do
público da EJA é o caminho mais indicado para promover a aprendizagem dos estudantes,
uma vez que, esta ação possibilita que o docente ministre um ensino que considere o contexto
social, cultural e econômico dos discentes. Isto é, a caracterização destes alunos permite um
ensino mais próximo de suas vivências, ensino este, que vai se comprometer em atender as
suas necessidades e especificidades.
Luanda, questionamos o motivo pelo qual ela não teria participado destas formações. Em
resposta a esta questão Luana esclareceu: “em todo esse tempo atuando no Centro, não me
lembro de nenhum convite para o formador ou para o CEFAPRO de minha cidade”
(E8, Luana). Esta fala de Luana para nós é bastante significativa por ser ela uma das pessoas
responsáveis pela formação continuada de todos os educadores de matemática da rede pública
estadual de ensino, incluindo neste público, os professores de matemática da EJA.
Evidências de que não existe formação continuada em EJA para o formador de
professores de matemática, podem ser comprovadas quando Luana revela: ―para nós aqui,
dizer que houve uma formação para o formador de matemática, eu duvido” (E8, Luana).
Evidências de que no Centro ao qual Luana trabalha também se utiliza o mesmo método de
formação utilizado pelo Centro de Formação em que Fernanda atua, podem ser encontradas
quando ela relata: “eu já soube de algumas formações na EJA em Cuiabá, mas daqui,
sempre vai o profissional responsável pela EJA, ou quando muito, a SEDUC já envia
direto para o CEJA20 e de lá vão os professores” (E8, Luana). Observamos através da fala
de Luana, que a seu ver, este método de formação parece não ser o mais apropriado. Diante
do que ela nos informou, notamos que sequer é feito, mesmo que de forma superficial, o
repasse das formações em que o professor formador responsável pela EJA participa.
Questionamos se Luana tinha conhecimento de que estas formações realizadas em
Cuiabá, das quais ela havia nos dito ter ciência, eram específicas ou não para o professor de
matemática. Ela nos respondeu o seguinte: “não. Se aconteceu formação específica, foi
direta para o CEJA e de lá se enviou o professor de matemática” (E8, Luana). Esta fala de
Luana mais uma vez nos permite verificar a inexistência de uma formação continuada para o
formador de professores de matemática que atua no CEFAPRO.
No intuito de investigarmos de forma mais aprofundada a questão da inexistência de
uma formação para o professor formador do CEFAPRO, perguntamos a Luana se na sala do
formador, tem sido contemplada alguma discussão sobre a matemática na EJA. Luana
esclareceu o seguinte: “na verdade a gente tem estruturado a sala do formador de forma
diferente para contemplar essa diversidade de segmentos e de ações, e como a EJA é a
modalidade que menos nos chama, então é a modalidade que nós menos estudamos” (E9,
Luana). Diante desta informação, interrogamos se Luana não notava nesta atitude certo
descaso para com a modalidade EJA. Ela nos respondeu: “Sim. Sei que a gente poderia
20
Os CEJAs (Centros de Educação de Jovens e Adultos) são unidades escolares mantidas pela Secretaria de
Estado de Educação/MT. Essas unidades só ofertam a Educação de Jovens e Adultos. Elas são destinadas a
atender apenas a alunos que possam ser inseridos em turmas de EJA.
200
fazer mais, mas veja bem, como a gente anda em função... Como vou te dizer... Nós
somos laborais do trabalho. Agora nessa contagem de pontos isso ficou claro, a gente
ficou tão voltado para a tarefa, que se for ver, não participamos de grandes eventos. Um
ou outro evento que teve em nossa folha, por quê? Porque a gente ficou ligado à tarefa”
“Esse é o problema, e aí a gente não tem dedicado tempo a EJA” (E9, Luana).
A nosso ver esta fala de Luana é preocupante, pois ela nos relata que o formador de
professores está envolvido em tantas atividades que não lhe sobra tempo para o estudo. É
impossível não questionarmos como o formador vai gerir a formação dos educadores da
educação básica, se ele não teve formação inicial e continuada? Como se este fato não fosse o
bastante, para agravar ainda mais a situação ele não encontra tempo para gerir a sua
autoformação.
Luana acredita que a formação continuada destinada aos professores que atuam com
os estudantes da EJA deve lhes auxiliar no reconhecimento das especificidades destes
educandos, deve lhes ajudar a compreender como se processam as aprendizagens dos alunos e
ainda prepará-los para que sejam capazes de oferecer um ensino de matemática significativo a
este público. Esta afirmação pode ser verificada quando Luana esclarece que seria necessário
a estes educadores “uma formação que consiga fazer um diferencial entre essa
modalidade e as outras, que trabalhe, exatamente naquilo que a diferencia, ou seja, atue
com ferramentas para que esse professor possa conhecer o sujeito que faz essa
modalidade e sua forma de aprender e, por último que discuta os conteúdos que fazem
com que esse conhecimento matemático seja vivenciado e tenha significado para o
sujeito aprendiz” (7Q1, Luana).
Um parecer bem próximo deste mencionado por Luana também se evidencia quando a
formadora afirma que a formação continuada deve contemplar “antes de tudo, informações
sobre o universo de interesse desse grupo, com adequação de estratégias de ensino para
cada conteúdo e que este venha ligado a um contexto que provoque interesse ao jovem
adulto para continuar estudando, e isso penso que é tarefa do professor, mas para ele
fazer isso é necessário que algo aconteça para sacudi-lo dessa formação homogênea, em
que todos aprendem de forma igual” (2Q5, Luana).
201
Neste seu posicionamento Luana nos permite inferir que para ela a aprendizagem da
matemática não resulta apenas no desenvolvimento de habilidades, ou na fixação mecânica de
determinados conceitos ou ainda na realização de uma gama de exercícios, como acredita a
pedagogia tradicional ou tecnicista. Assim, para Luana, bem como para Fiorentini (1995), o
estudante aprende matemática de forma significativa, quando atribui sentido e significado às
ideias matemáticas, sendo capaz de pensá-las de forma a estabelecer relações, justificando,
analisando, discutindo e criando.
Quando Luana destaca a necessidade de o professor conhecer como o aluno aprende,
ela revela o mesmo entendimento apresentado por Darsie (1999) ao afirmar que é necessário
que o educador procure conhecer como o educando constrói e organiza o conhecimento, a fim
de que este docente seja capaz de ministrar um ensino que favoreça a aprendizagem de seus
estudantes. E ainda, quando reconhece que o público da EJA possui um perfil distinto dos
públicos de outras modalidades, e que devido a este fato, é necessário o desenvolvimento de
um trabalho pedagógico diferenciado, Luana evidencia um posicionamento bem próximo
daquele revelado por Alvares (2010) quando a autora esclarece que os estudantes da EJA
possuem modos de viver e de compreender o mundo bem diferentes dos alunos do ensino
‗regular‘, portanto, a ação docente deve necessariamente considerar estas diferenças.
Contudo, como já mencionamos anteriormente, precisamos desenvolver pesquisas
para conhecermos como os alunos da EJA aprendem, pois ainda não temos teoria que discute
como o sujeito adulto constrói o conhecimento. O que temos são apenas pistas e sugestões,
não temos pesquisas fundadas na psicologia como as de Jean Piaget, para dizer como se
processam as aprendizagens na fase adulta.
Luana também informou que a formação continuada do professor de matemática que
atua na EJA deve acontecer sempre vinculando teoria e prática: “eu penso que a formação
continuada para o profissional da EJA deveria ser pensada com nuances de prática No
entanto, essas questões práticas devem estar profundamente ligadas à teoria, até pra que
a gente consiga dar significado àquela prática diferenciada” (E5, Luana). De acordo com
Gonçalves, 21 ainda não existe uma teoria que discute a formação continuada dos docentes de
matemática que atua na EJA, precisamos construí-la. Entretanto, nesta sua fala Luana parece
reconhecer que para a superação de um modelo de formação centralizado na racionalidade
técnica é necessário que no interior desta formação exista um espaço para que os educadores
possam refletir sobre o desenvolvimento de suas práticas. O mesmo entendimento é revelado
21
Fala do Profº Drº. Tadeu Oliver Gonçalves, proferida em minha defesa de mestrado, realizada dia 24/05/2012,
no Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT.
202
que atua nas outras modalidades, talvez por isso ele ainda não tenha construído a sua
identidade” (5Q1, Luana). Ao revelar nesta sua fala a importância de termos professores
envolvidos apenas com a modalidade EJA, Luana nos leva a inferir que ela avalia como
negativa a grande rotatividade de docentes que atua na Educação de Jovens e Adultos.
Também defendemos que devemos ter educadores incumbidos a atuar exclusivamente na
EJA. Pois, isto facilitará a nossa busca pela construção de uma identidade própria para o
educador de matemática dessa modalidade de educação.
Notamos que a afirmação de que não existe uma formação continuada específica para
os docentes de matemática da EJA é recorrente na entrevista quando Luana afirma: “pois é,
na nossa prática como formadores, essa formação pra mim não acontece. Eu não sou a
pessoa mais indicada para responder essa questão, porque eu sou do tipo de pessoa que
não tenta mascarar as coisas” (E6, Luana).
Diante desta informação, questionamos o motivo pelo qual esta formação não
acontece. Luana nos respondeu o seguinte: “ela não acontece por falta de convite das
escolas e do CEJA que trabalha com essa modalidade. Até hoje eu não vi nenhum
profissional da matemática do CEFAPRO ser chamado por alguém do CEJA ou das
escolas para desenvolver algum trabalho para os professores de matemática de lá, não
vi, não somos chamados para acompanhar uma semana de estudo, para planejar algum
tipo de ação de formação continuada” (E6, Luana). Esta fala de Luana apenas reforça o que
nos afirma Haddad (2009) ao revelar que existe um descaso generalizado para com esta
modalidade de educação, tanto os governos quanto a própria comunidade escolar manifestam
pouca preocupação para com a EJA.
Perguntamos a Luana se na ―Sala do Educador‖22 não existe espaço para que esta
formação aconteça. Ela nos respondeu da seguinte forma: “o projeto é de responsabilidade
da própria escola, não é que o formador seja um espectador, mas ele media essa
situação, e às vezes a escola não vê nessa mediação o professor formador como sujeito
daquela prática formativa e capaz de dizer assim: não, a gente podia pensar uma
formação desse jeito, daquele jeito, vamos fazer isso” (E6, Luana). Diante do que nos tem
revelado Luana, parece-nos que escola e formador não se veem como parceiros no processo
de formação. Em conversas informais com alguns educadores, constatamos que em muitos
22
A Sala do Educador é um projeto de formação continuada da Secretaria de Estado de Educação de Mato
Grosso. Esse projeto tem como público alvo os professores da educação básica da rede estadual de ensino. Ele é
planejado e desenvolvido no interior de cada unidade escolar sob supervisão e acompanhamento do professor
formador do CEFAPRO. Normalmente as escolas realizam um encontro por semana, totalizando no final do ano
letivo uma carga horária de aproximadamente 80 horas de formação.
204
casos as escolas veem os professores formadores do CEFAPRO muito mais como alguém
responsável da SEDUC para garantir que de fato esta formação aconteça, do que um sujeito a
mais que está ali presente para auxiliá-los no planejamento e desenvolvimento de suas
atividades formativas.
Luana também afirma que este projeto de formação continuada tem contribuído muito
pouco para que mudanças significativas aconteçam. Segundo ela, os professores não veem
neste projeto, um grupo de estudo no qual eles podem se desenvolver profissionalmente. Esta
afirmação se verifica quando Luana evidencia que: “pra mim a sala do educador virou um
espaço do professor buscar uma certificação para a contagem de ponto que culmina na
escolha de aula no início do ano letivo. Por exemplo, ele faz no último tempo, não é algo
como um grupo de estudo. Não tem prazer em estudar e pra mim a formação
continuada sem esse prazer, sem essa necessidade, não tem fundamento, ela não tem
aplicabilidade, eu faço algo, porque sou obrigado. Hoje tem a formação, então vou pra
sala esperar alguém ler um pouco, o quê que mudou nesse cenário? Mudou muito pouco,
pouquíssima coisa mudou” (E6, Luana).
Esta fala de Luana mais uma vez nos indica, que a ausência de uma política de
formação continuada específica para estes docentes, tem contribuído para que tais
profissionais continuem carecendo de uma formação significativa que resulte em mudanças
nas suas práticas educativas. Esta interpretação pode ser verificada quando Luana afirma que:
“eu pessoalmente não vejo políticas que possibilitem essa formação, tem toda uma
discussão de EJA teórica, por outro lado, tem uma EJA acontecendo cotidianamente, e
nessa base eu não vejo a movimentação” (E12, Luana).
Luana afirma também, que o Estado não tem professor de EJA, ele tem apenas
professores, e esta falta de identidade para o professor que atua nesta modalidade, constitui-se
num grave problema para que as formações aconteçam. “os professores estão na EJA hoje,
mas podem estar no ensino fundamental regular amanhã, depende da oportunidade que
eles terão para arrumarem um emprego. Se a gente tivesse profissionais dedicados á
EJA, talvez tivéssemos aí um fundamento para centrar uma formação, um olhar, para
esse professor” (E12, Luana).
Neste momento perguntamos se Luana acreditava que o Estado não via esta
necessidade de ter um profissional exclusivo para atuar na EJA. Ela respondeu: “eu acho que
o Estado age com essa mesma dificuldade que nós temos enquanto grupo de professores.
Porque quem é responsável por essa formação do formador são outros professores, ou
muitas vezes alguns técnicos da Secretaria. Se como professor ele não consegue enxergar
205
essa necessidade, e como técnico da SEDUC ele vai dar conta de enxergar? Acho que é
mais difícil ainda” (E12, Luana). Nesta sua fala, Luana nos leva a questionarmos como o
formador poderá formar professores, se os responsáveis pela sua formação, também carecem
da mesma formação?
Perguntamos a Luana o que poderia ser feito para resolver esta situação, isto é, o que
fazer para que os profissionais da EJA venham a ter uma formação que realmente contemple
as especificidades da matemática na Educação de Jovens e Adultos? Ela respondeu: “eu diria
que precisa de atitude. Eu acho que atitude em todas as instâncias, atitude de quem é
responsável na SEDUC pela modalidade de jovens e adultos, atitude do professor
formador do CEFAPRO, atitude dos CEJAs e das escolas que trabalham com essa
modalidade, porque pra mim, eu não vejo essas atitudes” (E12, Luana). Esta fala de Luana
nos permite inferir que no seu entendimento, as questões da EJA devem extrapolar o plano
das discussões, tomando um rumo diferente do que se tem tomado até o presente momento.
Isto é, para que mudanças aconteçam, é necessário avançar do campo das discussões para o
nível das ações, ou seja, além de refletir é preciso agir.
Os dados de João nos permitem afirmar que ele acredita que a EJA é uma modalidade
de educação necessária. Em sua opinião, e também na opinião dos demais sujeitos desta
investigação, esta necessidade se revela, sobretudo, devido à existência de um numero
expressivo de pessoas que se encontram excluídas do processo educativo e que visualizam
nessa modalidade, a possibilidade de serem incluídas no ambiente escolar e até mesmo na
sociedade. Esta afirmação se verifica quando João esclarece que “nessa modalidade é
possível atender a um público marcado pela exclusão social, público este, que teve seu
percurso formativo interrompido, por diversos motivos, ou até mesmo nunca tiveram
acesso à educação escolar, ficando dessa forma às margens da sociedade. Por meio da
modalidade EJA é possível devolver a esse público o direito à educação que lhe foi
negado” (1Q1, João).
O mesmo parecer é recorrente na entrevista, quando João relata “eu visualizo a EJA
como uma oportunidade para aquele educando que por diversos motivos teve o seu
percurso formativo interrompido. A EJA vem para estar resgatando esse público que
perdeu o contato com o ambiente escolar, no sentido de estar inserindo novamente esse
sujeito para que se alfabetize ou prossiga em seu percurso formativo” (E1, João).
Ao reconhecer que a educação é um direito desse povo que por muito tempo viveu
excluído, João revela o mesmo entendimento apresentado por Brasil (2002) ao afirmar que as
conquistas sociais consagradas pela Constituição Federal de 1988 permitiram que o país
pudesse garantir o direito à educação gratuita não só aos que se acham na denominada idade
própria, mas também aqueles que pelas mais diversas circunstâncias não usufruíram deste
direito antes de chegarem à vida adulta.
João reconhece que o poder público e a própria sociedade precisam reparar o dano
causado a estas pessoas que não puderam usufruir o direito à educação na idade considerada
apropriada. “Eu vejo a EJA como uma oportunidade, mas não é um favor que as
autoridades ou que o governo presta a esses sujeitos, mas é uma dívida que o poder
público tem que sanar com essas pessoas” (E1, João). Ao admitir que o poder público
possui uma dívida com o público da EJA e que esta dívida precisa ser sanada, João nos dá
indícios de que reconhece que uma das funções da Educação de Jovens e Adultos é atuar
como reparadora, isto é, agir tendo o propósito de corrigir um erro cometido.
Evidências podem ser constatadas de que João compreende que na EJA devem ser
contempladas de forma equilibrada as duas dimensões do conhecimento matemático. “A
função da modalidade EJA é de atender ao seu público estimulando e lhes
proporcionando o acesso ao conhecimento escolar, possibilitando assim que o aluno
209
vejo que os interesses também são distintos, dependendo da região da cidade a forma em
que é ofertada, a EJA vai reunir pessoas que possuem interesses muito distante” (E2,
João).
Além de mencionar que a EJA é uma modalidade com características próprias, João
em sua fala cita algumas destas características: “atender a um público que tem como
principal característica a exclusão social; os alunos não possuem uma família
estruturada; a prioridade desse público na maioria das vezes é o de suprir as
necessidades básicas para a sobrevivência, ficando a saúde, educação em plano
secundário; a diversidade etária dos alunos; a carga horária anual; tempo em que o
aluno pode dedicar ao estudo no dia a dia; a ausência de uma formação específica para
os professores que atuam na modalidade” (4Q1, João). Quanto à ausência de formação
específica, nós assim como Luana, entendemos que um dos motivos pelo qual esta formação
não existe, é a falta de uma identidade própria para o docente de matemática que atua nessa
modalidade de educação.
Quando reconhece que a EJA possui suas especificidades João revela a mesma opinião
apresentada por Oliveira (1999). A autora também defende que o público da Educação de
Jovens e Adultos possui características que lhes são próprias. Entretanto, acreditamos que ao
mencionar as especificidades da EJA, João esteja sinalizando a necessidade de um trabalho
pedagógico dirigido para o atendimento de tais especificidades.
garantido, reconhecendo que esta modalidade deve atuar no sentido de corrigir ou reparar um
dano causado, João também sinaliza uma visão emancipadora de EJA.
Quando admite que a Educação de Jovens e Adultos possui certas especificidades e
que o trabalho do educador deve ser guiado levando em consideração essas particularidades,
João ainda se remete a uma perspectiva emancipadora de EJA. Portanto, diante do que os
dados nos revelaram, inferimos que as concepções de João se sustentam em um modelo
emancipador de Educação de Jovens e Adultos.
João acredita que não é apenas importante ensinar matemática na EJA, é mais que
isso; é um direito que todo cidadão possui de ter acesso à educação em geral, e como o
conhecimento matemático é parte deste todo, ele deve ser garantido aos alunos desta
modalidade. “Porque o aluno da EJA, assim como todo cidadão, tem direito à educação
e, dessa forma, direito de ter acesso ao conhecimento matemático, este imprescindível
para desenvolver as suas capacidades intelectuais” (2Q2, João).
Esta fala de João nos dá indicações de que ele entende que os estudantes da EJA,
assim como qualquer outro, devem ter acesso ao conhecimento matemático. Ao mencionar
que este conhecimento é indispensável para o desenvolvimento das capacidades intelectuais
dos alunos, João leva-nos a inferir que para ele, o público da Educação de Jovens e Adultos
necessita muito mais que um ensino pragmático de matemática. Este posicionamento de João
contrapõe o entendimento cristalizado no interior das unidades escolares que afirma que para
o aluno da EJA basta apenas um ensino funcional, isto é, um ensino que lhe auxilie em seu
cotidiano, haja vista que este aluno dificilmente terá condições de prosseguir em seus estudos.
João reconhece que estes educandos necessitam de um ensino de matemática que
transcenda ao aspecto puramente operacional desta ciência, acreditando que eles também têm
o direito á educação e que este processo de educar-se deve acontecer ao longo da vida. “Não
esperamos que os alunos da EJA apenas sejam alfabetizados, ou apenas conclua o ensino
fundamental ou a educação básica, nós aguardamos que se for do interesse deles ou se
for o projeto de cada um cursar um curso superior, que isso seja perfeitamente possível”
(E4, João).
Este entendimento de João é positivo e está de acordo com a Declaração de Hamburgo
(2004) que destaca que o sentido da EJA amplia-se para além da escolarização devida como
212
Portanto, diante do que os dados nos têm revelado, concluímos que as concepções de
João acerca do ensino de matemática na EJA se pautam em um modelo emancipador de
Educação Matemática.
5.3.3 As concepções de João acerca da aprendizagem de matemática na Educação de
Jovens e Adultos
questões do mundo do trabalho. “Eu penso que atrelando o que o professor quer
trabalhar, relacionando o conteúdo matemático com questões do mundo do trabalho, já
aumenta ou pelo menos já melhora a questão do interesse, de prender a atenção desse
aluno na aula de matemática” (E3, João). Nesta sua fala João revela entender que para os
conteúdos matemáticos serem mais significativos aos alunos eles precisam estar mais
próximos de suas realidades, reconhecendo neste momento, à relevância de se contemplar a
dimensão funcional da matemática no ensino desta disciplina.
Este mesmo entendimento é apresentado pela Proposta Curricular da EJA (2002) e
também por D‘Ambrosio (2005) quando os autores revelam que os conteúdos matemáticos
não devem ser tratados pelo professor de forma isolada, pois eles deixam de ser
compreendidos pelos alunos como instrumentos que podem ser utilizados para resolver
problemas e construir novos conceitos. São fundamentais as conexões que os alunos da EJA
estabelecem entre o próprio conhecimento matemático, entre as demais áreas do
conhecimento e entre as situações do seu cotidiano para a construção de uma aprendizagem
matemática significativa.
Entretanto, João novamente manifesta também a sua preocupação com o aspecto
formativo da matemática. “É bom que o professor não se esqueça da necessidade de se
contemplar também a dimensão formativa da matemática” (E3, João). Com esta fala,
revela que compreende a importância desta dimensão do conhecimento matemático para a
aprendizagem dos alunos. Ao manifestar tal consciência, João nos permite inferir que as suas
concepções caminham para uma perspectiva emancipadora de Educação Matemática.
João também acredita que o trabalho com temas transversais pode ser um dos
caminhos que o professor poderá utilizar para possibilitar uma aprendizagem significativa aos
seus alunos. Em sua visão, estes temas favorecem o estabelecimento de conexões entre os
conteúdos matemáticos e o cotidiano dos educandos e entre outras áreas do conhecimento.
“Existem outras possibilidades, como a questão da economia solidária, preservação do
meio ambiente e sustentabilidade. São temas mais gerais que eu classificaria como temas
transversais, que perpassam por várias disciplinas e a matemática tomando posse
também dessas temáticas e utilizando-as como maneira de desenvolver o interesse dos
alunos poderá contribuir significativamente para promover a aprendizagem dos
estudantes da EJA” (E3, João). Ao evidenciar a necessidade de uma aprendizagem com
significado e próxima da realidade do estudante, João se remete a uma concepção de
aprendizagem matemática que se sustenta em um modelo emancipador de educação.
218
João compreende que o professor não é o único responsável pelo fracasso escolar dos
alunos ao admitir que além da ação docente, existem outros fatores causadores de dificuldades
de aprendizagem nos educandos. “Em minha opinião um dos motivos principais seria a
falta de ligação entre o conhecimento escolar e a expectativa dos alunos em se encontrar
na escola um conhecimento que possa ajudá-lo a superar as suas necessidades
profissionais e também sociais, porém seria imaturo indicar essa como a única
causa/motivo para o fracasso escolar do aluno da EJA na aprendizagem matemática,
pois existem muitos outros fatores externos ao ambiente escolar, ligados a questão social,
que contribuem para tal “fracasso” (4Q3, João).
Pensamos que ao citar fatores externos ao ambiente escolar como possíveis causas de
dificuldades de aprendizagem em matemática, João esteja na verdade reconhecendo as
especificidades dos alunos da EJA, isto é, pai ou mãe de família, pessoas trabalhadoras que
possuem obrigações e responsabilidades. Nesta sua fala João reconhece que para esse sujeito
permanecer na escola às vezes se torna um grande desafio, pois além das dificuldades
enfrentadas cotidianamente e o cansaço depois de um dia inteiro de trabalho, ele ainda tem
mais uma jornada diária, que é a sua busca pelo conhecimento.
João enfatiza que considerar as expectativas dos alunos contribui para o processo de
aprendizagem. Ele parece entender que uma das formas do educador auxiliar os sujeitos da
EJA a superarem as suas dificuldades e limitações é reconhecer que estes alunos vêm para a
escola esperando encontrar neste ambiente educativo algo que venha contribuir para melhorar
a sua vida pessoal e profissional. “Um primeiro passo seria considerar que as expectativas
dos alunos da EJA ao retornarem/ingressarem no processo escolar, são importantes no
processo de aprendizagem” (5Q3, João).
Nesta sua fala, João mais uma vez nos dá elementos de que acredita que ao professor
levar em consideração as expectativas e anseios dos discentes da EJA, ele tem a possibilidade
de ministrar um ensino de matemática mais próximo da realidade e necessidade destes
educandos. João revela com esta atitude que as suas concepções se fundam em um modelo
emancipador de Educação Matemática.
João nos informou que em seu curso de formação inicial a Educação de Jovens e
Adultos não foi contemplada. Entretanto, diferente dos demais sujeitos desta pesquisa, João
nos revelou que participou de formação continuada de matemática na EJA. Contudo, na
entrevista João nos relatou que a formação em que ele participou foi organizada pela
Secretaria Municipal de Várzea Grande quando ainda era professor da modalidade. Na
220
condição de formador do CEFAPRO, ele não declara a sua participação em nenhum curso de
formação continuada. “Eu me recordo de uma formação que tive da rede municipal de
Várzea Grande, porque já fui professor de lá. Essa formação trabalhou alguns tópicos
de matemática, mas isso foi em 2001 e 2002, quando eu ainda estava na condição de
professor da escola, como formador do CEFAPRO não” (E9, João).
João considera nula a formação continuada do formador de professores de matemática
do CEFAPRO para a EJA, pois segundo ele: “inexiste uma formação específica para os
professores formadores de matemática, assim como para os demais formadores das
outras áreas” (4Q4, João). Esta informação é recorrente na entrevista quando João esclarece:
“para a matemática na EJA não existe. Sempre a formação tem abordado temas gerais,
ou voltada para a questão do livro didático” (E10, João).
Propomos a João a seguinte questão: você acredita que esta formação não existe por
quê? Ele respondeu o seguinte: “falta de uma política de formação que atenda às questões
disciplinares da EJA” (E10, João). Neste seu posicionamento João evidencia que existe a
possibilidade de o formador ter acesso a uma formação continuada específica para a
matemática na EJA, o que impede que este formador tenha tal formação é a falta de empenho
do poder público para fomentar políticas de formação nesta área. Esta fala de João reforça o
que nos afirma Haddad (2002) ao esclarecer que ainda existem muito descaso e preconceitos
para com essa modalidade de educação.
Perguntamos a João: se o formador de professores de matemática do CEFAPRO não
tem formação inicial e continuada para trabalhar na EJA, onde você acredita que ele se
capacita para atuar como formador nessa modalidade? “acredito que seja na prática, veja
bem, comecei como professor da rede municipal de Várzea Grande no ano de 1999 e
durante os anos em que atuei nesta rede de ensino foram desenvolvidos vários encontros
formativos sobre a modalidade” (3Q4, João).
Esta informação de que o educador aprende a ser formador de professores através da
sua experiência como docente da educação básica e através do desenvolvimento de sua
própria prática de formador, também se evidencia na entrevista quando João esclarece: “por
meio da prática, acertando e errando muitas vezes. Mais errando do que acertando,
ouvindo os professores que estão atuando nessa modalidade... Buscando leituras em
artigos e livros, analisando práticas que foram desenvolvidas por colegas que estão em
sala de aula, isto é, gerindo a sua autoformação” (E11, João). Neste posicionamento de
João, notamos que o Centro de Formação onde ele trabalha não é diferente do Centro onde
Luana atua. Ambos carecem de um trabalho colaborativo entre os formadores de professores.
221
Esta fala de João também reforça o nosso entendimento de que o professor formador
não possui um lócus específico de formação. Sobre este assunto Gonçalves (2000) esclarece
que os formadores se formam à medida que exercem a profissão, adquirem experiência,
participam de diversos cursos de formação, discutem com seus pares, procuram o
conhecimento científico através de leituras de textos, livros e etc.
É por isso mesmo, que acreditamos que o professor aprende a ser formador, ou seja,
ele constrói a sua aprendizagem para a docência, quando começa ser capaz de estabelecer
ligações entre a sua formação formal, sua experiência como professor na educação básica e
sua experiência como formador de professor.
No entanto, para João, não é qualquer prática realizada pelo professor que permitirá
que ele se desenvolva profissionalmente. “Não acredito que qualquer prática possa
possibilitar ao formador o seu desenvolvimento profissional, somente aquelas que estão
relacionadas com a atividade docente a ser desenvolvida e que por sua vez não
acontecem de forma pontual e estática” (4Q5, João). Ao reconhecer que o professor se
desenvolve profissionalmente através da realização do seu trabalho e, ao mesmo tempo ao
entender que não é toda prática que contribui para o melhoramento da ação docente, João
demonstra o mesmo entendimento revelado por Gonçalves (2000) e Mello (2010) ao
relatarem que a experiência é uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento do
professor. No entanto, segundo os autores, não é qualquer experiência, isto é, não é toda
experiência que permite ao formador formar-se e desenvolver-se profissionalmente. Somente
a prática reflexiva acompanhada da pesquisa pode permitir a aprendizagem da docência.
Devido a esta realidade, João afirma que a formação continuada tem muitos desafios a
vencer. “O que se aprende na licenciatura simplesmente não dá conta de responder as
questões desse público específico da EJA. A formação continuada viria então a
complementar essas necessidades formativas” (E5, João). Este entendimento de João
reforça o que nos esclarece Melo (2010) ao revelar que a formação inicial não tem
possibilitado uma formação adequada para o exercício do ofício de professor. Segundo o
autor, os educadores acabam vendo na formação continuada a possibilidade para a
qualificação profissional, depositando nesta formação as expectativas de se constituir como
professor.
João afirma que uma boa formação continuada para os docentes de matemática da EJA
deve necessariamente contemplar “a questão pedagógica da EJA, a questão de quais são as
tendências que podem ser utilizadas no ensino de matemática, tendências que já deram
certo, com o propósito de suprir o que o professor não viu na formação inicial... A
questão da legalidade, quais são as leis que regem, quais são os direitos e deveres dos
alunos da EJA. Eu acredito que a formação deveria ter essa direção, é obvio que não
poderia ser um curso curto, poderia ser vários cursos... Esses cursos deveriam ter
módulos que a todo ano fossem reaplicados aos novos professores” (E5, João).
Um entendimento bem próximo deste revelado por João se apresenta em outro
momento de sua fala, quando ele esclarece que a formação continuada para o professor da
EJA deve “começar por formações que contemplem a dimensão social da EJA, que são
formações gerais que proporcionam uma melhor compreensão da modalidade,
perpassando por formações que abarquem as propostas curriculares para a modalidade
até se chegar à questão metodológica de cada disciplina ou área do conhecimento” (7Q1,
João).
Nesta sua fala João reconhece que a formação continuada precisa de uma articulação
entre conteúdos científicos, os conteúdos pedagógicos e as necessidades do sistema escolar,
revelando dessa forma, concepções que se sustentam em um modelo emancipador de
formação. Ao perceber que a formação continuada na EJA precisa superar os modelos de
formação aligeirados, João revela o mesmo entendimento apresentado por Haddad (2002) ao
assegurar que os ―treinamentos‖ esporádicos, os cursos aligeirados e os programas sem
continuidade garantida são avaliados nas pesquisas como instrumento de desserviço à EJA.
João parece compreender que para oferecer um ensino de qualidade aos estudantes da
Educação de Jovens e Adultos os modelos de formação desenvolvidos atualmente precisam
ser transformados. “Eu penso que os Centros de formação têm estruturas para dar conta
223
de fazer essa formação, só basta organizar, ter vontade, ter política para dar esse
suporte aos professores que às vezes são recém graduados, ou mesmo aqueles mais
experientes, mas que não tiveram experiência com a EJA e estão nessa modalidade pela
primeira vez, seria um suporte necessário que esses professores teriam no Centro de
Formação” (E5, João). Esta fala de João nos levou a entender que apesar dele demonstrar
concepções emancipadoras de formação continuada, pareceu-nos que na prática esta formação
vem acontecendo de forma bem distante daquela por ele concebida ou idealizada.
Portanto, perguntamos a João como vem atualmente acontecendo a formação
continuada para os educadores de matemática que trabalham na EJA. “O CEFAPRO nunca
se responsabilizou diretamente por essa formação, ou não se exigiu isso” (E6, João).
Evidencias de que esta formação não ocorre também podem ser encontradas quando João
esclarece “ultimamente nós não temos desenvolvido formação para professores da EJA.
Há uns dois ou três anos atrás a gente contemplou algumas discussões nesse sentido, mas
depois da nova estrutura 23 de 2009 para cá, não temos realizado essa formação” (E7,
João).
Esta informação é recorrente quando João afirma que se distanciou dessa modalidade
depois que os Centros de Formação adotaram o atual modelo de formação. “Na estrutura
atual do CEFAPRO, tem-se um formador específico que compõe a área da diversidade e
trabalha com a EJA” (E6, João). Contudo, João nos revela que o trabalho desenvolvido por
este formador na EJA não contempla as especificidades da matemática. “Esse formador faz
um acompanhamento geral. Portanto, se discute muito as questões da EJA, mas de
forma geral e nunca de forma específica, e no caso da matemática não se tem uma
discussão específica” (E6, João). Esta informação é recorrente quando João revela “hoje
nesse CEFAPRO não tem formação em matemática para a EJA. As falas são
generalistas e abordam muito mais o aspecto legal do que o aspecto pedagógico em si”
23
Na verdade o CEFAPRO antes do projeto ―Sala de Professor‖, atualmente denominado ―Sala do Educador‖,
realizava com bastante frequência os encontros formativos. As unidades escolares escolhiam as temáticas do seu
interesse, os CEFAPROs agendavam os encontros e os formadores se deslocavam até as escolas para
ministrarem as formações. Essas formações tinham carga horária diversificadas, elas eram estabelecidas de
acordo com as necessidades da escola. A partir do momento em que o projeto ―Sala do Educador foi implantado
nas unidades escolares, a determinação recebida foi que os encontros formativos fossem reduzidos ou extintos. O
projeto Sala do Educador é desenvolvido durante todo o ano letivo no interior de cada escola do Estado sob a
supervisão e acompanhamento de um professor formador do CEFAPRO. Hoje, o trabalho no Centro de
Formação é para ser desenvolvido por área do conhecimento. A EJA é uma das modalidades de educação que
compreende a área denominada diversidade. Existe desde 2009 em cada CEFAPRO um formador responsável
por esta área e pela EJA. É este profissional que acaba participando das formações realizadas pela Secretaria de
Estado de Educação. Deste modo, com esta estrutura, o formador que não estiver responsável pela EJA no
CEFAPRO ou não estiver acompanhando o projeto ―Sala do Educador‖ em um Centro de EJA ou em uma escola
que ofereça a modalidade, ele fica impossibilitado de planejar ou desenvolver formação para este público.
224
(E7, João). Esta informação de João apenas reforça o que os autores e estudiosos da área vêm
afirmando sobre o descaso que se tem para com esta modalidade de educação.
Perguntamos a João o motivo desta carência de formação para o professor de
matemática que trabalha com a EJA. Ele respondeu: “nesse processo de reestruturação,
essa é uma das lacunas que foram deixadas em aberto, primeiro que quando se seleciona
um profissional para trabalhar com a modalidade EJA, deve se considerar que esse
profissional não é multidisciplinar, ele vai ter uma disciplina de origem e que a única
forma dele dar conta de responder a todas as áreas do conhecimento é se ele conseguir
articular o diálogo entre as diversas áreas e entre as próprias disciplinas que compõem a
área” (E8, João). Este posicionamento de João reforça o nosso entendimento de que a
formação continuada realizada através da forma como vem sendo desenvolvida pelos Centros
de Formação, não tem contribuído para a formação específica dos educadores da EJA.
A fala de João nos revela que esse formador encarregado pela EJA no Centro de
Formação não tem conseguido promover este diálogo. “Esse papel de articulador me
parece que ele não veio como atribuição desse formador de EJA. Então, o formador que
entra no Centro de Formação para trabalhar com essa diversidade da EJA, está tendo o
entendimento de que ele sozinho tem que dar conta das áreas, o que não ocorre porque
isso é humanamente impossível” (E8, João). Neste momento, mais uma vez João sinaliza
que a maneira pela qual está estruturada a formação continuada para os docentes da Educação
de Jovens e Adultos, não tem permitido que esses profissionais tenham uma formação que
contemple as especificidades de cada disciplina escolar.
Segundo João é justamente nas especificidades disciplinares que se concentram os
maiores problemas e dificuldades dos educadores da EJA. “Na questão específica de cada
disciplina é onde nós temos mais carência de compreensão da EJA, carência da
compreensão pedagógica de como lidar com os alunos dessa modalidade” (E6, João).
Nesta sua fala, João mais uma vez reconhece as especificidades dos alunos da EJA, revelando
entender que para este público, o educador precisa desenvolver um trabalho diferente do
realizado com os alunos do ensino ‗regular‘. Com este entendimento João demonstra que
possui concepções que se sustentam em um modelo emancipador de formação.
Esta mesma interpretação pode ser ainda comprovada quando João reforça: “a forma
como o educador vai lidar com esse aluno, o tratamento que o professor precisa dar
para esse aluno, o ritmo de ensino que o educador tem que estar imprimindo ali, é
diferente” (E8, João). A formação continuada na visão do professor deveria auxiliar o
educador a reconhecer tais diferenças a fim de que ele seja capaz de organizar o processo
225
indispensável a este professor que precisa lidar com as questões específicas destes estudantes,
João também se remete a um modelo emancipador de formação continuada.
Este mesmo modelo é revelado quando João afirma que a formação continuada dos
educadores de matemática da EJA precisa contemplar assuntos mais gerais sobre a
modalidade, como as questões legais e o perfil dos alunos. Este modelo ainda se evidencia,
quando ele admiti que esta mesma formação precisa discutir as questões metodológicas para o
ensino de matemática.
Ao acreditar que é necessária a criação de políticas públicas que promovam a
formação tanto para os formadores do CEFAPRO, quanto para os professores escolares que
trabalham com a EJA, João se remete a um modelo emancipador de formação.
Ao reconhecer que os educandos da EJA necessitam de um tratamento pedagógico
diferente daquele dado aos estudantes da educação ‗regular‘, destacando a necessidade de
uma proposta pedagógica que contemple as especificidades do público desta modalidade,
João também sinaliza um entendimento que se funda em um modelo emancipador de
formação continuada.
E finalmente, esta mesma perspectiva pode ser constatada, quando João reconhece que
ainda não está preparado para o desenvolvimento de um trabalho significativo na EJA devido
a sua pouca formação na área, demonstrando desta maneira, que compreende que para estes
estudantes também é necessário que o professor estude, pesquise e planeje.
Portanto, diante do que nos revelou João sobre o campo complexo da formação
continuada do formador e do professor de matemática da EJA, concluímos que as suas
concepções se embasam em uma perspectiva emancipadora de formação continuada.
Apresentamos a seguir um quadro síntese das concepções de João a respeito das
categorias conceituais da pesquisa.
Os dados de Magda revelaram que ela reconhece que atualmente no Brasil existe um
grande contingente de pessoas que ainda vive excluído do processo de escolarização, e que
esse grupo, apesar de ter vivido em condições adversas, possui hoje assegurado
constitucionalmente, o direito à educação. Este entendimento se evidencia quando ela elucida
que considerada a EJA uma modalidade necessária ―porque existem muitas pessoas com
pouco estudo. Acho que hoje a sociedade tem uma dívida com aquelas pessoas que não
estudaram. Agora eles já têm esse direito garantido em lei” (1Q1, Magda). Ao destacar
que a sociedade possui uma dívida com as pessoas que foram privadas de estudarem no
período considerado apropriado, Magda revela uma das funções da EJA, a reparadora,
preconizada no parecer 11/2000. Esse parecer expressa que uma das funções desta
modalidade é atuar no sentido de reparar o direito à educação não atribuído na infância.
O entendimento de que a EJA é um espaço onde os seus sujeitos têm a oportunidade
de serem inseridos no processo de escolarização, também é reforçado na entrevista, quando
Magda esclarece ―a EJA na verdade é uma oportunidade de educação para jovens e
adultos que não estudaram na idade deles correta” (E1, Magda).
Magda compreende que os estudantes da EJA possuem suas especificidades e que
devido a isto, estes alunos precisam de um tratamento metodológico diferenciado. Na “EJA
tem que trabalhar de forma diferenciada para atender as necessidades do seu público
que é diferente do ensino regular” (2Q1, Magda). Esta atitude de Magda é positiva e nos
sinaliza que as suas concepções de Educação de Jovens e Adultos caminham em direção a
uma perspectiva emancipadora de EJA.
Para Magda essa modalidade de educação deve primar para “educar para cidadania”
(2Q1, Magda). Segundo ela, a EJA deve também possibilitar aos educando ―uma visão
crítica da sociedade” (2Q1, Magda). Ao mencionar uma educação que promova a cidadania
e criticidade, Magda nos leva a acreditar que sua postura é de uma educadora que defende
uma formação matemática comprometida com a emancipação do sujeito. Este posicionamento
de Magda se aproxima do que revela Fiorentini (1995) ao pontuar que é função da educação,
zelar pela formação de indivíduos não-alienados, críticos e criativos, que saibam situar-se
historicamente no mundo.
Para Magda o diferencial da EJA se encontra na idade dos seus alunos, no
conhecimento que estes estudantes possuem quando ingressam na escola e, sobretudo no
tratamento metodológico específico que este público requer. Esta visão é por Magda expressa
quando afirma que o que distingue a Educação de Jovens e Adultos das demais modalidades
da educação básica seria: “a faixa etária, a metodologia diferenciada que deve levar em
229
conta as suas necessidades e o conhecimento prévio dos alunos” (4Q1, Magda). Esta sua
fala reforça o nosso entendimento de que ela reconhece as especificidades dos discentes da
EJA e as considera. Esta atitude nos sinaliza que as suas concepções caminham em direção a
um entendimento de Educação de Jovens e Adultos pautado em uma perspectiva
emancipadora de EJA. Vale ressaltar que sobre este aspecto, Fonseca (2007) elucida que toda
proposta curricular da EJA deve estar voltada para o atendimento de seus alunos, levando em
consideração suas necessidades e experiências.
Ao destacar a necessidade de se considerar os conhecimentos prévios dos alunos,
Magda revela entender que os saberes que os educandos possuem são significativos para a
construção de suas aprendizagens, evidenciando que o educador comprometido com uma
educação emancipadora, por certo, levará em conta tais conhecimentos durante a realização
de seu trabalho. Sobre este assunto, a Proposta Curricular da EJA (BRASIL, 2002), bem
como, Almeida (1998) e Nogueira (2010), entre outros, enfatizam ser de extrema importância
para o processo pedagógico, considerar os conhecimentos trazidos pelos discentes.
Magda acredita que o Estado não tem investido o suficiente na Educação de Jovens e
Adultos, pois em sua visão, este investimento “ainda é baixo perto da necessidade da
demanda do Estado” (3Q1, Magda). Este entendimento revela o seu reconhecimento da
importância e da necessidade desta modalidade de educação e a sua preocupação quanto à
qualidade do ensino ministrado.
Para ministrar um ensino de matemática eficiente Magda evidencia que o educador da
EJA precisa dominar os conteúdos da matemática e ter o conhecimento de como ensiná-los.
Esta informação pode ser constatada quando Magda esclarece que os saberes necessários aos
educadores para desenvolverem o trabalho na EJA são: ―conhecimento dos conteúdos
específicos da área, conhecimentos metodológicos e didáticos da Matemática elementar”
(6Q1, Magda). Este mesmo posicionamento é revelado por Darsie (1993) ao relatar que o
ofício do educador consiste em adquirir o conhecimento matemático, compreender como o
indivíduo aprende, conhecer como estrutura o conhecimento matemático e, entre esses
saberes, construir o saber pedagógico necessário ao ensino de matemática na EJA.
conceitos matemáticos e tomar uma postura frente a elas com mais clareza” (2Q2,
Magda). O posicionamento de Magda nos revela que ela reconhece a importância do papel
funcional da matemática no ensino desta disciplina.
Evidências são encontradas de que Magda também entende que o ensino de
matemática na Educação de Jovens e Adultos, deve ir além do aspecto puramente funcional
quando ela relata que o conhecimento matemático “auxilia dando suporte no raciocínio e
argumentação” (2Q2, Magda).
No entanto, observamos através do posicionamento de Magda, certo prevalecimento
do aspecto funcional da matemática quando ela menciona que no ensino desta disciplina, o
educador deve trabalhar ―usando a problematização de forma que tenha significado para
a vida desses jovens e adultos, porque não dá para trabalhar a matemática
descontextualizada de onde eles vivem, porque essa maneira não atrai mais eles” (E3,
Magda). Este mesmo entendimento é recorrente no questionário quando Magda revela que o
professor deve “utilizar metodologias adequadas, que considerem o conhecimento prévio
dos alunos, trabalhando a matemática a partir de temas que contemplem assuntos
sociais. Eles são pessoas que trabalham, que já têm outras vivências e já estão bem
aprofundados, muitas vezes só falta sistematizar formalmente” (3Q2, Magda). Neste
momento de sua fala, o ensino de matemática contempla apenas um aspecto de sua função.
Parece-nos que escapa da compreensão da formadora a necessidade de se manter o equilíbrio
entre esses dois papéis da matemática. Sobre este ponto, a Proposta Curricular da EJA relata:
Duarte (1986) também afirma que o ensino de matemática contemplando apenas a sua
dimensão funcional permite que este ensino seja desenvolvido assistematicamente,
contribuindo para que as camadas populares continuem sem o domínio desta ferramenta
cultural.
Por apresentar opiniões divergentes a respeito desta questão, questionamos se de fato,
Magda reconhece ou não a necessidade de um trabalho que contemple de forma equilibrada o
papel funcional e formativo da matemática.
Magda não contemplou em sua fala a necessidade de se trabalhar a matemática através
do uso das tecnologias, jogos ou materiais manipuláveis. Não foram citados como importantes
para o ensino desta disciplina, o uso da abordagem de resolução de problemas, a história da
matemática, a Etnomatemática, a modelagem matemática e a valorização das heurísticas
pessoais dos alunos no processo de resolução das atividades desenvolvidas. Tão pouco,
encontramos em sua fala alguma referência onde ela pudesse nos levar a inferir que o foco do
ensino de matemática encontra-se na verdade na aprendizagem dos alunos. Também não
encontramos evidências de que Magda reconheça que os educadores necessitam investigar a
maneira pela qual os alunos aprendem.
Entretanto, o seu entendimento contrapõe a visão de um ensino de matemática
racional, rigoroso, mecanizado e desvinculado da vida social dos alunos. Centrado
unicamente na pessoa do professor, que expõe e demonstra tudo no quadro negro, utilizando-
se de técnicas de ensino como ―siga o modelo‖.
Para Magda a matriz curricular de matemática da EJA não deve ser diferente das
matrizes de outras modalidades da educação básica. Pois, em sua visão os estudantes da
Educação de Jovens e Adultos possuem o direito de aprenderem todos os conteúdos
matemáticos contemplados na matriz curricular do ensino ‗regular‘. Essa afirmação pode ser
comprovada quando Magda relata que para o público da EJA é necessário o “conhecimento
da matemática elementar, lógica matemática, geometria. Enfim, devem ser trabalhados
com os alunos da EJA todos os conteúdos que são trabalhados em outras modalidades”
(4Q2, Magda). Nesta fala, Magda dá evidências de uma concepção emancipadora de ensino
de matemática ao compreender que os alunos da EJA devem ter acesso a todo conhecimento
matemático sistematizado, isto é, devem adquirir essa ferramenta cultural em sua totalidade.
Em relação ao ensino de matemática, notamos posicionamentos divergentes, ora
Magda demonstra um entendimento de que para os alunos da EJA basta apenas uma formação
matemática utilitária, isto é, uma formação mais imediata, voltada para a resolução dos seus
233
problemas diários, ora ela revela uma compreensão de que para este público, assim como para
qualquer outro, a matemática deve ser ensinada em sua completude e totalidade.
Neste estudo defendemos um ensino de matemática que contemple de forma
equilibrada os seus dois papéis. Convém enfatizarmos também, que ao proporcionarmos um
ensino de matemática em sua totalidade, estamos oferecendo condições aos alunos da EJA
para que eles possam dar prosseguimento em seus estudos. Ao agirmos desta forma, estamos
caminhando, conforme a Declaração de Hamburgo (2004), para uma oferta de Educação de
Jovens e Adultos numa perspectiva de aprendizagem ao longo da vida.
em consideração a maneira pela qual os alunos aprendem. Isto é, quando ela não esclarece que
o ensino deve ser focado no modo de aprender dos alunos.
Portanto, diante do que nos tem revelado, Magda nos leva a inferir que as suas
concepções referentes ao ensino de matemática na Educação de Jovens e Adultos, transitam
entre as perspectivas emancipadora e tradicional de ensino de matemática, migrando entre
uma formação matemática voltada para a construção da cidadania e emancipação do sujeito e
uma formação matemática imediatista e utilitária.
Conhecer como o aluno aprende, isto é, compreender como o sujeito constrói seu
conhecimento, é de fundamental importância para o processo ensino-aprendizagem, pois essa
informação ajuda o educador a organizar melhor o ensino para que este venha favorecer ou
facilitar a aprendizagem do estudante. No entanto, o que se observa é que o professor de
matemática da EJA, ou de qualquer outra modalidade de educação, tem pouca ou nenhuma
formação que o auxilie a entender como ocorre cognitivamente o processo de aprendizagem
do educando. Até porque, como já mencionamos em outros momentos deste estudo, não
temos a nossa disposição pesquisas e teorias fundadas na psicologia que nos dizem como o
sujeito adulto constrói o seu conhecimento.
Segundo Magda, o que determina se o aluno vai ou não aprender matemática é a
maneira de ensinar do professor. Essa afirmação pode ser verificada quando ela esclarece: “o
aluno não é incapaz de aprender matemática. O que vai determinar se ele aprende ou
não é a maneira de ensinar do professor” (2Q3, Magda).
Esta mesma visão de que o professor é o único responsável pelas dificuldades dos
alunos se revela, quando Magda afirma que as causas ou motivos que levam os educandos da
EJA a fracassarem em matemática se apresentam: “devido a matemática ser trabalhada
formalmente ou abstratamente, sem considerar os conhecimentos prévios dos alunos”
(4Q3, Magda). Nesta sua fala, Magda reforça que toda dificuldade de aprendizagem do aluno
é resultante apenas do mau desempenho do trabalho docente.
Não discordamos de que a matemática trabalhada da maneira mencionada por Magda
prejudique a aprendizagem dos alunos, mas questionamos o fato de que todas as causas da
não aprendizagem dos estudantes estejam no trabalho do professor. Defendemos um
posicionamento diferente neste estudo. Não concordamos com o modelo tradicional de
educação ao responsabilizar apenas o aluno pelo baixo rendimento escolar, mas também não
entendemos que seja apenas o professor o responsável pelo fracasso do ensino.
Esta mesma visão ainda é revelada por Magda, quando esta relata que a superação das
dificuldades de aprendizagem dos alunos ocorre quando “o professor passa a utilizar
metodologias diferenciadas direcionadas às especificidades da EJA, quando ele passa a
considerar os conhecimentos prévios dos alunos e quando ele passa a usar temáticas
atrativas a fim de tornar as aulas mais significativas” (5Q3, Magda). Nesta sua fala Magda
sinaliza que uma mudança no trabalho do professor pode melhorar o desempenho escolar dos
estudantes. Entretanto, Holly citado por Nóvoa (1992) afirma que para melhorar o processo
ensino-aprendizagem ―não basta mudar apenas o profissional; é preciso mudar também os
contextos em que ele intervém‖ (p. 28). Isto é, as escolas não podem mudar sem o empenho
236
dos professores, e estes não podem mudar sem uma transformação do sistema e das
instituições em que trabalham.
Magda afirma que as atividades matemáticas devem ser significativas, devem
considerar o que o aluno já sabe e estar de acordo com a sua maturidade. Esta informação
pode ser comprovada quando ela diz que: “as atividades sejam significativas para os
alunos, que a problemática seja direcionada a idade do público, que leve em
consideração os conhecimentos prévios dos alunos” (3Q3, Magda). Nesta sua fala Magda
reconhece o perfil dos alunos da EJA, e esclarece que para estes estudantes não se deve
ministrar um ensino como aquele ministrado para o público infanto-juvenil. Ao destacar a
importância dos conhecimentos prévios dos alunos, Magda manifesta o mesmo entendimento
revelado por Nogueira (2010) quando relata que estes saberes devem ser considerados e
utilizados pelos professores no processo ensino-aprendizagem. A atitude de Magda neste
momento nos dá indicações de que as suas concepções se aproximam dos ideais de uma
perspectiva emancipadora de Educação Matemática.
Quando questionada se na sua formação inicial foi trabalhado algum tema relacionado
à EJA, Magda respondeu: “não” (1Q4, Magda). Diante da constatação de que a graduação
não lhe possibilitou formação para atuar na Educação de Jovens e Adultos, lhe perguntamos
se a formação continuada teria lhe oferecido esta formação. Frente a tal questionamento
Magda respondeu: ―Não. Somente autoformação” (2Q4, Magda).
Magda nos informou que em quatro anos atuando como formadora no CEFAPRO não
participou de nenhuma formação continuada que tenha contemplado a área de Educação
Matemática na EJA. Ao investigarmos o motivo pelo qual ela não teria participado de
formações na Educação de Jovens e Adultos, fomos informados de que um colega de trabalho
teria participado de todas as formações oferecidas pela Secretaria de Estado de Educação.
Esta afirmação pode ser verificada quando Magda relata: ―quem participava das formações
era o meu colega do CEFAPRO, também formador de professores de matemática, ele ia
a todas as formações de EJA” (E8, Magda).
Questionamos se este formador era responsável pela modalidade, ou se existia algum
acordo no Centro para que apenas ele participasse destas formações. Diante deste
questionamento Magda evidenciou: ―não, ele não era responsável, de certa forma foi um
gancho, porque eu estava trabalhando com o Gestar, eu estava em outras formações e
acabou ele indo pra EJA, mas não foi uma coisa decidida tipo, você vai pra cá e eu vou
para lá. Ele foi à primeira formação, e como já havia ido à primeira, acabou
participando de todas” (E8, Magda). Perguntamos se Magda tinha ciência de quantas
formações aconteceram. Ela nos respondeu: “não sei, como eu disse, estava envolvida com
o Gestar” (E8, Magda).
No entanto, em outro momento, quando perguntamos como Magda classificava a
formação continuada para os formadores de professores de matemática que atuam na EJA, ela
afirmou: “insuficiente. Porque não existe uma formação específica em matemática para o
formador na EJA, embora pense que tal situação não seja um empecilho para os
formadores desenvolverem sua autoformação” (4Q4, Magda). Por apresentar informações
238
divergentes, somos levados neste momento a indagar se de fato existe ou não, formação
continuada para o formador de professores da EJA no Centro ao qual Magda atua.
Magda afirma que a experiência que adquiriu para trabalhar com o público da EJA é
resultante de estudos individuais ou coletivos desenvolvidos na área. Portanto, a sua
capacitação para gerir a formação continuada dos educadores de matemática da EJA se deu a
partir de: “reflexões e estudo com a equipe de trabalho (autoformação)” (3Q4, Magda).
Mesmo afirmando que a formação inicial e continuada não ofereceram formação
específica para a EJA, Magda revela que estes contextos formativos foram significativos para
o desenvolvimento do seu trabalho na Educação de Jovens e Adultos. Esta informação pode
ser constatada quando ela esclarece: “a formação inicial foi importante, pois ter
conhecimentos matemáticos me possibilitou transpor tais conhecimentos para o trabalho
desenvolvido na modalidade EJA. De igual modo, a formação continuada. Embora não
tenha participado de formação específica para EJA, as formações continuadas me
possibilitaram ter outro olhar para a Educação Matemática, e que de certo, esse novo
olhar pode ser transposto ao desenvolver a formação para professores da EJA. O
conhecimento adquirido através da experiência também contribuiu significativamente,
pois o desenvolvimento da prática possibilita reflexão sobre ela e assim reconduzir o
processo” (5Q4, Magda).
Neste seu posicionamento, Magda revela um entendimento de que mesmo na ausência
de uma formação inicial ou continuada, o professor se desenvolve profissionalmente.
Segundo Gonçalves (2000) e Melo (2010) o educador também aprende com o
desenvolvimento de seu trabalho e com os estudos que realiza, isto é, o docente aprende
mediante a reflexão que ele faz na prática e sobre a prática.
Em síntese, os dados nos revelam que Magda não teve formação específica para atuar
como formadora de professores de EJA; pois a modalidade não foi contemplada na graduação
e na formação continuada. Esta realidade só reforça o nosso entendimento de que o formador
não possui um lócus específico de formação. Os dados têm nos revelado também, que o
processo formativo do formador se dá informalmente, no dia a dia com o desenvolvimento de
sua própria prática docente. Ele acontece através das trocas de experiências com os colegas,
ele se efetiva mediante leituras individuais e coletivas e ele ainda é construído por cada
formador individualmente ao gerir a sua autoformação.
Para Magda uma boa formação continuada para os educadores de matemática da EJA
seria “aquela que permite a realização de reflexões a partir de textos teóricos, aquela que
também permite a elaboração de forma colaborativa de projetos temáticos visando o
desenvolvimento desses projetos em sala de aula” (7Q1, Magda). O mesmo
posicionamento é apresentado na entrevista quando ela afirma que o formador deve: ―sempre
trabalhar com textos de reflexão, sobre temas matemáticos... Com temáticas, vamos
dizer assim... Problematização a partir de temas geradores, mas também pode ser com
complexo temático maior e aí dentro disso ele trabalha algumas situações matemáticas,
partindo para uma problematização, a partir das leituras que ele já tenha feito, e da
realidade daqueles profissionais que estão lá buscando formação” (E6, Magda).
Nesta sua fala, Magda evidencia um modelo de formação que se embasa em uma
perspectiva Freiriana. Nesta perspectiva, o processo formativo se inicia com o formador
realizando uma investigação a respeito da realidade existencial do grupo junto ao qual ele vai
atuar. Ao mesmo tempo, ele faz um levantamento do universo deste grupo, para extrair a
partir das suas vivências, os temas geradores. Diante deste universo o formador seleciona as
temáticas que possuem maior densidade de sentido e trabalha numa perspectiva
problematizadora, visando sempre oferecer não apenas uma formação disciplinar, mas
proporcionar também ao sujeito uma formação política.
Este entendimento pode ser reforçado pelo seguinte relato: “a formação deve
possibilitar que eles reflitam sobre os problemas sociais, culturais e a partir disso,
trabalhar com o professor para ele também conseguir fazer essas leituras, e de certa
forma, planejar suas atividades com temas que sejam do grupo que ele esteja
trabalhando, que sejam significativas para eles. Que seja contextualizado, mas sempre
dentro de uma perspectiva que seja problematizadora” (E5, Magda).
Um entendimento bem próximo deste revelado por Magda é apresentado por
Gonçalves (2000) e Melo (2010) ao esclarecerem que a formação continuada deve considerar
os saberes do educador, isto é, ela deve valorizar os conhecimentos adquiridos pelo professor
durante o desenvolvimento do seu trabalho. Esta formação deve se aproximar da realidade
educativa do professor e ao mesmo tempo, deve garantir-lhe uma participação ativa no
desenvolvimento do seu processo formativo.
No entanto, Magda nos revelou que na prática, esta formação continuada por ela
idealizada não ocorre. Esta afirmação pode ser verificada quando ela esclarece que:
“atualmente nos CEFAPROs essa formação praticamente não existe. Há pouca
formação específica, somente a dois ou três anos que está sendo ofertada especialização
240
na área (Proeja, ofertado pelo IFMT em convênio com a SEDUC/MT), mas essa
formação não é de responsabilidade dos formadores dos CEFAPROs (5Q1, Magda).
Indícios de que na prática esta formação não acontece também podem ser verificados
quando na entrevista Magda elucida: “eu sei que hoje os professores da EJA têm uma
formação mais ampla que é o trabalho por temáticas, eu sei que deve ser mais
direcionado para realidade desse jovem e adulto que está lá na escola. Agora se existe
formação pra isso, eu posso te dizer que eu não sei. Eu não participei de nenhuma esse
ano” (E7, Magda). Nesta sua fala, Magda nos leva a inferir que no Centro de Formação em
que ela trabalha a Educação de Jovem e Adulto não é prioridade. Ao nos fazer tal revelação,
Magda confirma o que Haddad (2009) esclarece ao afirmar que a EJA ainda é preterida pelo
poder público, pelos Centros de Formação, pelas escolas e inclusive pelos profissionais da
docência.
Apesar de João ser o formador que mais ministrou formação continuada na Educação
de Jovens e Adultos, ele também nos revela que devido à nova estrutura do CEFAPRO, fazem
pelo menos quatro anos que ele não ministra formação específica para os educadores de
matemática desta modalidade. “Enquanto formador do Centro de Formação, nesses
últimos anos, eu não ministrei formação específica para matemática na EJA.
Infelizmente não. Mas isso ocorre porque com esta nova estrutura, o foco sempre são as
questões mais gerais da EJA. Não se tem mais a preocupação com as disciplinas
isoladas.” (E12, João).
Magda admitiu na entrevista que ministrou formação continuada para os educadores de
matemática da EJA em 2008. ―Em 2008 eu também ministrei formação específica de
matemática para a EJA. Se eu não me engano era reflexões... Bom, não me lembro
mais” (E10, Magda).
Esta informação de que Magda ministrou formação específica de matemática na EJA
pode ser verificada no quadro 08 desta dissertação, localizado na página 153. Neste quadro
temos a informação de que Magda ministrou as seguintes formações: “Práticas pedagógicas
a partir de temáticas (2007). EJA: Vale apena pensar... (2007). Oficinas de reflexão:
temática para educação de jovens e adultos de matemática (2007). Repensar o Fazer
pedagógico de matemática (2008). Matemática na alimentação e na escola (2008)”.
Diante desta informação, solicitamos que Magda nos fornecesse os planos destas
formações que ela ministrou em 2008. “Veja bem, os planos das formações que eu tinha
comigo eu passei para você. Como já faz tempo, não sei te dizer se eu perdi quando
formatei o computador. Além disso, às vezes a gente fazia o projetinho da formação,
mas como não era cobrado pra gente fazer...” (E11, Magda). Neste momento de sua fala,
Magda revela que perdeu ou que talvez não elaborou o plano destas formações, já que a
coordenação do Centro de Formação não exige ou não cobra tais planos.
Diante desta fala da professora, parece-nos que tanto o formador quanto o seu
coordenador não compreendem que o planejamento é muito importante para a prática
pedagógica de todo profissional da docência. Ao planejar o educador age tendo por objetivo
organizar e nortear o seu trabalho. Além disso, o planejamento apresenta a dimensão da
importância de cada aula, os seus objetivos, bem como o tipo de cidadão que se pretende
formar.
Quanto ao planejamento didático Fusari afirma que:
245
Em inúmeras situações de nossas vidas, mesmo nas mais corriqueiras, [...] temos
que planejar, ou seja, estabelecer antecipadamente um plano organizado de ações
visando atingir algum objetivo. Temos que considerar que estratégias usaremos, que
recursos e que tempo serão necessários, que etapas deverão ser percorridas. Na
execução de planos, fatalmente ocorrem imprevistos que exigem sua revisão e
adaptação; mas isso não invalida o papel orientador de nossas antecipações.
Comparando o que foi planejado com o que foi realizado, podemos reunir elementos
para melhorar planos futuros (BRASIL, 2001, p. 209).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao chegarmos nesta etapa, podemos afirmar que nos sentimos mais felizes e
realizados. Envolvidos na busca de melhor compreendermos as concepções presentes nas
falas dos formadores, somos honestos em relatar que em diversos momentos nos
reconhecemos nas falas dos sujeitos, ora numa perspectiva tradicional, ora numa perspectiva
emancipadora, diante das mesmas dúvidas e sentindo as mesmas inquietações.
A realização deste estudo nos possibilitou refletir sobre nossa própria dinâmica
pessoal no processo de construção dos conhecimentos para docência em matemática.
Reconhecemos que avançamos bastante, já não somos mais os mesmos. Contudo, estamos
cientes que temos muito que aprender e melhorar.
Neste momento, chegamos ao que poderia ser definido como o desfecho de uma
caminhada. No entanto, pensamos sim, que adentramos no início de uma nova etapa onde
almejamos a abertura de novas possibilidades, de outros momentos importantes, bem como,
de novas oportunidades para se aprender e construir outros significados acerca do objeto deste
estudo. Portanto, não queremos por um ponto final a esta reflexão, pois não consideramos
como conclusivo o que aqui discutimos. Ressaltamos que não chegamos ao fim, porque
reconhecemos também que nenhuma pesquisa é definitiva. Portanto, jamais tivemos a
pretensão de dar conta da complexidade que envolve as temáticas constituídas como foco de
investigação deste trabalho.
Somos cientes que as interpretações e análises apresentadas admitem outros olhares,
pois segundo Boff (1997) cada um lê com os olhos que tem e interpreta a partir de onde os
pés pisam. Portanto, o nosso ponto de vista, é apenas a vista de um ponto.
Assim, não é nosso intuito apresentar um resultado conclusivo e generalizado, e muito
menos tecer julgamentos sobre os aspectos revelados, observados e analisados a respeito das
concepções dos sujeitos envolvidos neste estudo. Destacamos neste instante, o objetivo de
apresentarmos algumas respostas e questionamentos obtidos durante o processo de
investigação, orientado pelo problema desta pesquisa: em quais concepções de EJA, de
ensino e de aprendizagem de matemática os formadores de professores do CEFAPROs
se fundamentam para organizarem a formação continuada dos docentes de matemática
que atuam na EJA?
Na busca por respostas que pudessem nos auxiliar a alcançar os objetivos relacionados
à questão central desta investigação, iniciamos este estudo apresentando os motivos que nos
levaram a desenvolvê-lo, seguidos da problemática e dos objetivos, bem como de sua
248
relevância para o meio acadêmico. Na sequência buscamos subsídios teóricos que pudessem
nos auxiliar, tanto na construção quanto na análise do experimento.
Ao realizarmos a revisão de literatura para a construção do fundamento teórico de
nosso estudo, constatamos a presença de perspectivas distintas de EJA. De um lado,
encontramos uma perspectiva de Educação de Jovens e Adultos concebida como suplência,
isto é, uma modalidade de ensino compreendida como uma educação repositora da
escolaridade formal não realizada na infância ou adolescência. A esse modelo de EJA,
chamamos de ―tradicional”.
Por outro lado, identificamos outra perspectiva de Educação de Jovens e Adultos, que
nesta investigação estamos denominando “emancipadora de EJA”. Tal perspectiva entende
que esta modalidade deve ser ofertada com as finalidades reparadora, equalizadora e
qualificadora. Neste novo modelo, a EJA é concebida como uma educação inclusiva capaz de
levar em consideração a diversidade de seus sujeitos. Neste ideário, a educação é um direito
de todos e deve acontecer ao longo da vida.
A revisão da literatura também nos possibilitou ter acesso à informação de que boa
parte das concepções de ensino e de aprendizagem de matemática presentes atualmente no
ambiente escolar é teoricamente sustentada pelo empirismo, racionalismo e interacionismo.
Assim, ao analisarmos com mais profundidade as concepções fundamentadas no empirismo e
racionalismo, notamos que essas se aproximam de um ideário de ensino de matemática que
neste trabalho estamos denominando “tradicional”. Ao investigarmos mais detalhadamente
as concepções que possuem como base o interacionismo, percebemos que as suas convicções
convergem para o entendimento de um modelo que convencionamos chamar “emancipador
de Educação Matemática”.
No processo de busca pela fundamentação teórica de nosso estudo, também foi
possível encontrarmos perspectivas distintas de formação continuada de professores. De um
lado, constatamos uma perspectiva que denominamos “emancipadora de formação
continuada”. Em tal modelo, a formação continuada se constrói através de um trabalho de
reflexividade crítica sobre as práticas e de (re) construção permanente de uma identidade
pessoal. Esta perspectiva reconhece a necessidade de uma articulação entre conteúdos
científicos, os conteúdos pedagógicos e as necessidades do sistema escolar. Ela também
acredita que o professor aprende a ser educador por meio da intersecção que é capaz de fazer
entre a sua formação formal e as suas experiências, admitindo que a aprendizagem da
docência não tem tempo nem espaço, ela se faz e se refaz constantemente.
249
prática, pois atualmente no Centro de Formação onde Luana atua, não existe uma oferta de
formação continuada específica para este público de professores. Portanto, as concepções de
Luana NÃO implicam na formação continuada dos educadores de matemática da Educação de
Jovens e Adultos, pois não existe esta formação.
Estes mesmos dados também nos revelaram que Luana não teve formação específica,
seja inicial ou continuada, para trabalhar com a EJA. As suas experiências com a Educação de
Jovens e Adultos foram adquiridas através do seu contanto como formadora da modalidade
nos programas de EJA do governo federal. Portanto, as suas concepções emancipadoras não
foram construídas na condição de formadora de professores de EJA do CEFAPRO.
As falas de Luana nos permitiram concluir também, que não existe uma formação
continuada específica para os educadores da Educação de Jovens e Adultos porque a
modalidade não é prioridade. Segundo Luana, esta formação não acontece devido à falta de
atitude dos profissionais responsáveis pela EJA. Portanto, acreditamos que se a Educação de
Jovens e Adultos não é prioridade para os professores, para os formadores de professores,
para o CEFAPRO e para o poder público, é porque de acordo com Haddad (2009) a
modalidade ainda é vista com desprezo e discriminação por parte dos responsáveis pela sua
oferta.
O posicionamento de João nos permitiu concluir que as suas concepções de EJA se
sustentam em um modelo emancipador. A sua atitude frente ao ensino de matemática nessa
modalidade de educação, nos revelou concepções que se apóiam em uma perspectiva
emancipadora de Educação Matemática. O seu posicionamento em relação à aprendizagem
dessa disciplina oscila; ora, se aproxima de uma perspectiva tradicional, ora, evidencia
concepções que se embasam em um ideário emancipador de educação. Porém, mesmo
migrando entre as perspectivas emancipadora e tradicional de Educação Matemática, as
suas convicções demonstraram certa tendência para o modelo emancipador. A sua fala
também nos deu elementos para concluirmos que as suas concepções de formação continuada
se fundam em uma perspectiva emancipadora de formação.
Em síntese, João nos revelou concepções positivas que podem contribuir para o
desenvolvimento de um trabalho significativo na EJA. Porém, estas concepções não são
colocadas em prática, uma vez que, atualmente no CEFAPRO em que ele atua, não existe
uma oferta de formação continuada específica para os docentes de matemática dessa
modalidade. Portanto, as concepções de João NÃO implicam na formação dos educadores de
matemática da Educação de Jovens e Adultos.
252
reconstruído a partir daquilo que os educadores da EJA trazem para o contexto da sala de
aula.
O planejamento neste caso vai distinguir o perfil do formador e revelar exatamente a
sua concepção; se é para uma EJA como suplência/tradicional ou para uma EJA
emancipadora. O formador terá uma série de fatores que levará em conta ao planejar. Se não
existe o planejamento, possivelmente ele não fez nada disso. Portanto, ele pode estar
repetindo o que traz o livro didático, o plano do ano passado ou o mesmo plano da educação
dita ‗regular‘.
Desta forma, para que seja possível a realização de um trabalho significativo com os
educadores de matemática da EJA, é necessário que o formador tenha a responsabilidade de
elaborar os planos didáticos das formações ministradas com definições claras a respeito das
estratégias, recursos e avaliação utilizados, bem como os objetivos esperados.
Os dados nos revelaram ainda, que não existe uma formação inicial e continuada para
o professor formador do CEFAPRO, que contemple as especificidades da Educação
Matemática na EJA. Portanto, a formação inicial e continuada dos formadores não lhes
auxiliara na construção de suas concepções emancipadoras de EJA, de Educação Matemática
e de formação continuada. Essa construção, segundo eles, se deu na prática, seja na condição
de professor de EJA ou na condição de formador de professores de matemática.
Pesquisas têm revelado que a formação inicial não tem preparado o licenciado em
matemática não apenas para o trabalho na EJA, mas inclusive para o trabalho nas demais
modalidades de educação. Ainda precisamos avançar bastante tanto na formação inicial
quanto na continuada, para que o professor de matemática tenha o preparo necessário para o
desenvolvimento de suas atividades docentes seja na EJA ou em qualquer outra modalidade
de ensino.
As falas dos sujeitos em geral revelaram a ausência de um trabalho colaborativo entre
os formadores dos Centros de Formação, entre a própria gestão destes Centros, entre gestores
das escolas e inclusive entre os próprios professores de matemática que trabalham com a
Educação de Jovens e Adultos. Compactuamos com os sujeitos desta investigação quando
eles afirmam que é indispensável a existência de um trabalho colaborativo entre todos os
responsáveis pela EJA. Se de fato queremos que seja desenvolvido um bom trabalho nesta
modalidade, precisamos nos conscientizar sobre tal necessidade.
Os dados também nos permitiram verificar que atualmente a formação continuada
ofertada ao educador de matemática da EJA, é igual à de qualquer professor de matemática.
Isto é, a formação que este profissional participa não leva em conta as demandas e
255
identidade é provável que não se crie políticas de formação tanto inicial quanto continuada
para estes profissionais. A grande rotatividade de professores que trabalham na modalidade
por certo é um problema que precisa ser resolvido. Se as pessoas estão hoje, mas
provavelmente não estarão amanhã, dificilmente existirá mobilização para que mudanças
ocorram.
Portanto, a nosso ver, a formação continuada realizada através deste método adotado
pelos Centros de Formação, não tem contribuído para a formação específica dos educadores
da EJA. A maneira pela qual está estruturada a formação continuada para os docentes da
Educação de Jovens e Adultos, não tem permitido que estes profissionais tenham uma
formação que contemple as especificidades de cada disciplina escolar.
Além das dificuldades acima citadas, a falta de tempo para o estudo, indiretamente
tem contribuído para a inexistência desta formação. Os formadores reclamaram que estão
envolvidos em tantas atividades que não lhes sobram tempo para dedicar-se ao estudo. Desta
maneira, é impossível não levantarmos as seguintes questões: como o formador vai gerir a
formação dos educadores da EJA, se ele não teve formação inicial e continuada que o
habilitasse para isto? E ainda, como ele vai buscar esta formação, se ele não encontra tempo
para gerir a sua autoformação?
Diante da atual situação, é urgente que o poder público responsável pela educação do
Estado, juntamente com os Centros de Formação, percebam a necessidade de mudanças. As
atuais demandas da educação requerem novas reconfigurações das propostas pedagógicas
destinadas ao sistema público de ensino, exigindo um redirecionamento de políticas e
iniciativas de Educação de Jovens e Adultos, que reconheçam neste público a sua identidade
sociocultural.
O sistema estadual de ensino deve esforçar-se para ampliar o acesso e a permanência
de jovens e adultos em cursos de EJA. Deve regularizar o fluxo escolar e respeitar as
concepções da Educação de Jovens e Adultos defendidas em nível nacional e internacional.
Deve também incentivar e promover políticas públicas para qualificar as funções da EJA —
reparadora e equalizadora — de modo a constituir o direito de todos à educação,
independentemente da idade e, avançar para que a função qualificadora possa integrar-se,
também, às políticas destinadas para todos os sujeitos depois de 14 anos (ORIENTAÇÕES
CURRICULARES DA EJA/MT, 2011).
Sabemos que a luta por políticas públicas a favor da EJA é antiga. Os avanços são
modestos e insuficientes. A existência de leis ou de uma orientação no papel, não garante sua
257
prática. Há que se criar uma cultura capaz de envolver os sujeitos em propostas significativas
para a Educação de Jovens e Adultos.
Por fim, cremos que é necessário considerarmos a afirmação de Freire (2005, p. 95):
―[...] o melhor discurso é o exercício de sua prática‖, portanto não podemos, após este estudo,
deixar de socializar nossas constatações e de promover a reflexão em conjunto com os demais
formadores de professores de EJA, buscando propostas inovadoras que ajudem no
aperfeiçoamento desta modalidade de educação e, em especial, no ensino de matemática neste
contexto.
Explicitamos esta nossa intenção porque acreditarmos que é nosso dever lutar por uma
educação de qualidade. Assim como Freire (2001), vislumbramos uma educação melhor, uma
vida melhor e um mundo melhor para o nosso povo. No entanto, não somos ingênuos em
pensar que estas coisas se construirão se estivermos de ―braços cruzados‖, pois segundo
Freire (2005) devemos estar bem abertos à advertência de Marx, a da necessária radicalidade
que nos faz sempre despertos a tudo que diz respeito à defesa dos direitos humanos.
Além do que já mencionamos neste trabalho, gostaríamos ainda de ressaltar, que a
limitação temporal de dois anos para realização deste estudo, nos permitiu investigar apenas o
que pensam e o que propõem os formadores de professores dos CEFAPROs para a formação
continuada dos educadores de matemática da EJA. Portanto, a nossa pesquisa procura
compreender esta questão a partir do olhar dos formadores. Mas como sabemos que os
professores que atuam nesta modalidade de educação precisam ser protagonistas desta
formação, temos ciência de que eles necessitam ter participação ativa neste processo. Assim,
mesmo não sendo objeto de nosso estudo, acreditamos ser relevante para a compreensão deste
fenômeno, o desenvolvimento de pesquisas que procuram responder a outras questões que
neste momento nos inquietam: o que pensa e o que propõe o professor de matemática da
Educação de Jovens e Adultos para a sua formação continuada? Quais seriam as ações das
escolas, dos CEJAS e dos Centros de Formação diante da resposta desta questão?
258
REFERÊNCIAS
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BKOUCH, R., CHARLOT, B., ROUCHE, N. Faire des mathematics: le plaisir du sens.
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259
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CACHAPUZ, A. F. Do que temos, do que podemos ter e temos direito a ter na formação de
professores: em defesa de uma formação em contexto. In: BARBOSA, R. L. L. (Org.).
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2000.
______. Educação para uma sociedade em transição. São Paulo: Papirus, 1994.
______. Alguns modos de ver e conceber o ensino de matemática no Brasil. In: Revista
Zetetiké, ano 3, n° 4, 1995.
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e práticos In: GERALDI, C. (org). Cartografias do 42 Educação & Sociedade, ano XXII, nº
74, Abril/2001 trabalho docente: Professor(a)-pesquisador(a). Campinas: Mercado das
Letras, ALB, 1998.
FREIRE, P. Ação Cultural para a Liberdade e outros Escritos. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e
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______. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários a Prática Educativa. 33ª ed. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
______. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários a Prática Educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 1999.
______. Pedagogia do Oprimido. 17ª Ed. Rio de Janeiro – RJ: Paz e Terra, 1987.
GAUTHIER, C. et al. Por uma teoria da pedagogia: pesquisa contemporânea sobre o saber
docente. Trad. Francisco Pereira. – Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 1998.
______. (Org.) Vidas de Professores. Coleção Ciências da Educação. Porto: Porto Editora 2ª
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OLIVEIRA, V. F. Se tiver criança na sala eu não fico. In: Educação de Jovens e Adultos
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______. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
______. Saber refletir sobre a própria prática, objetivo central da formação de professores?
Faculdade de Psicologia e das Ciências da Educação. Universidade de Genebra, 1998.
SCHÖN, D. A. Introduction. In D. A. Schön (Ed.), The reflective turn: Case studies in and on
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SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 1986.
VAN DER VEER, R.; VALSINER, J. Vygotsky, uma síntese. São Paulo: Loyola, 1996.
ANEXOS
CARTA DE APRESENTAÇÃO
AUTORIZAÇÃO DO CEFAPRO
AUTORIZAÇÃO DO PROFESSOR FORMADOR
QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO DO CEFAPRO
QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO DO PROFESSOR FORMADOR
QUESTIONÁRIO Q1- BLOCO EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
QUESTIONÁRIO Q2 – BLOCO DE ENSINO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
QUESTIONÁRIO Q3 – BLOCO DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS
Q4 – BLOCO DE FORMAÇÃO CONTINUADA DO FORMADOR DE
PROFESSOR DE MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Q5 – BLOCO DE FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR FORMADOR E
DO EDUCADOR DE MATEMÁTICA DA EJA
ROTEIRO DA ENTREVISTA DA FORMADORA FERNANDA
ROTEIRO DA ENTREVISTA DO FORMADOR JOÃO
ROTEIRO DA ENTREVISTA DA FORMADORA LUANA
ROTEIRO DA ENTREVISTA DA FORMADORA MAGDA
270
UFMT/PPGE/IE Nº
Prezado Senhor (a)
__________________________________________
Profª Dra. Marta Maria Pontin Darsie
Orientadora
__________________________________________
Prof. Drª Tânia Maria Lima Beraldo
Coordenador do PPGE
ILMO. SR
PROFº (a)
M.D. DIRETOR (a) DO CEFAPRO DE _____________
Cuiabá, abril de 2011.
271
AUTORIZAÇÃO DO CEFAPRO
Ciente: ___________________________________________
272
AUTORIZAÇÃO DO PROFESSOR
Ciente: ___________________________________________
273
Solicito sua colaboração para responder a este questionário de caracterização, que tem por
objetivo levantar informações que serão importantes para o desenvolvimento de uma pesquisa
de mestrado. Quanto às informações obtidas, quando citadas na pesquisa, será preservado o
anonimato. Agradecemos pelo seu tempo, atenção e pela valiosa colaboração.
Professor (a) gostaria de contar com sua colaboração para responder a este questionário de
caracterização, que tem por objetivo levantar informações que serão importantes para o
desenvolvimento de uma pesquisa de mestrado. Quanto às informações obtidas, quando
citadas na pesquisa, será preservado o anonimato. Agradecemos pelo seu tempo, atenção e
pela valiosa colaboração.
1. DADOS PESSOAIS
a)Nome completo:__________________________________________________b) Data de
nasc.:_________________ c)Naturalidade:__________________ d) Situação Funcional: ( )
Efetivo ( ) Interino e)E-mail: ____________________________________________
Sexo:________________________
2. FORMAÇÃO ACADÊMICA
a) Graduação
Curso:______________________________________________Instituição:______________
Ano de ingresso: ________ Ano de conclusão: _________ Cidade/Estado: ______________
3. EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
a)Quantos anos você tem de magistério?__________________
b) Há quantos anos você atua como professor formador de matemática no CEFAPRO? ____
c)
Nome da(s) escola(s) em que você trabalha Ha quanto tempo Turnos
como professor formador de matemática trabalha nela(s)?
275
Assinatura do professor:________________________________________________________
276
Mestranda: Osinéia Albina Brunelli Orientadora: Profª Drª Marta Maria Pontin Darsie
Solicito sua colaboração no sentido de responder ao presente questionário. As informações obtidas
serão utilizadas na dissertação de Osinéia Albina Brunelli, mestranda da Linha de Pesquisa Educação em
Ciências e Matemática do Instituto de Educação da UFMT.
O objetivo deste é investigar as concepções de EJA e suas especificidades enquanto modalidade. Os
dados disponibilizados não serão repassados a terceiros. Caso estes dados sejam utilizados na dissertação, os
nomes reais serão mantidos em absoluto anonimato.
Todas as informações serão extremamente importantes para a análise dos resultados, portanto, a
sinceridade de suas respostas é fundamental.
Antecipadamente agradecemos o tempo que você investirá no preenchimento deste questionário, o
cuidado e a atenção que dispensará na realização deste trabalho.
1) Você considera a Educação de Jovens e Adultos uma modalidade necessária? Por quê?
2) Para você, qual é a função da EJA enquanto modalidade de ensino?
3) Em nosso estado, como você avalia o investimento e a oferta da EJA? Justifique sua
resposta.
4) O que diferencia a EJA das demais modalidades?
5) Como você considera a formação dos professores que atuam na EJA?
6) Para você, que conhecimentos são necessários para um professor atuar em matemática na
EJA?
7) No seu entendimento, que tipo de formação continuada é mais indicada para os professores
de matemática que atuam na EJA?
Assinatura do professor:___________________________________________________
MUITO OBRIGADA
277
Mestranda: Osinéia Albina Brunelli Orientadora: Profª Drª Marta Maria Pontin Darsie
3) Para você, que conhecimentos matemáticos são essenciais aos discentes da EJA?
Assinatura do professor:___________________________________________________
MUITO OBRIGADA
278
Mestranda: Osinéia Albina Brunelli Orientadora: Profª Drª Marta Maria Pontin Darsie
Solicito sua colaboração no sentido de responder ao presente questionário. As informações obtidas
serão utilizadas na dissertação de Osinéia Albina Brunelli, mestranda da Linha de Pesquisa Educação em
Ciências e Matemática do Instituto de Educação da UFMT.
O objetivo deste é investigar a aprendizagem de matemática no contexto da Educação de Jovens e
Adultos. Os dados disponibilizados não serão repassados a terceiros. Caso estes dados sejam utilizados na
dissertação, os nomes reais serão mantidos em absoluto anonimato.
Todas as informações serão extremamente importantes para a análise dos resultados, portanto, a
sinceridade de suas respostas é fundamental.
Antecipadamente agradecemos o tempo que você investirá no preenchimento deste questionário, o
cuidado e a atenção que dispensará na realização desse trabalho.
4) Para você, quais são as causas e/ou motivos que levam o aluno da EJA a ―fracassar‖ em
matemática?
5) O que pode ser feito para ajudá-los a superar estas dificuldades de aprendizagem?
Assinatura do professor:___________________________________________________
MUITO OBRIGADA
279
4) Caso você não tenha obtido formação específica para atuar na EJA em sua formação inicial
ou continuada, onde então adquiriu capacitação para organizar e executar a formação
continuada dos educadores desta modalidade?
5) Para cada um dos itens abaixo, atribua um valor de 0 a 5 que corresponda, para você, à
influência destes contextos formativos na sua prática como formador de professor para a EJA.
Comente os valores atribuídos para cada um desses itens observando a seguinte escala: (0 -
nula; 1 - muito fraca; 2 - fraca; 3 - regular; 4 - boa; 5 - muito boa.)
6) Você se sente preparado para ser formador (a) de professor para a EJA? Justifique sua
resposta.
CUIABÁ-MT, ____ de ______de 2011.
Assinatura do professor:___________________________
MUITO OBRIGADA
280
Mestranda: Osinéia Albina Brunelli Orientadora: Profª Drª Marta Maria Pontin Darsie
Solicito sua colaboração no sentido de responder ao presente questionário. As
informações obtidas serão utilizadas na dissertação de Osinéia Albina Brunelli, mestranda da
Linha de Pesquisa Educação em Ciências e Matemática do Instituto de Educação da UFMT.
O objetivo deste é investigar a formação continuada do formador e dos educadores de
matemática da EJA. Os dados disponibilizados não serão repassados a terceiros. Caso estes
dados sejam utilizados na dissertação, os nomes reais serão mantidos em absoluto anonimato.
Todas as informações serão extremamente importantes para a análise dos resultados,
portanto, a sinceridade de suas respostas é fundamental.
Antecipadamente agradecemos o tempo que você investirá no preenchimento deste
questionário, o cuidado e a atenção que dispensará na realização deste trabalho.
2) Em sua opinião uma boa formação continuada para educadores de matemática na EJA
deve necessariamente contemplar o quê? Como ela deve acontecer?
3) Você me informou que a sua aprendizagem da docência para atuar na EJA se deu na
prática. Em sua opinião, qualquer prática pode possibilitar ao formador o seu
desenvolvimento profissional, isto é, toda prática leva o educador a aprendizagem da
docência? Justifique.
4) Quais são os saberes necessários aos formadores para gerirem a formação continuada dos
educadores de matemática da EJA?
281
lotada, esse formador que responde pela modalidade também é responsável em planejar e
executar a formação continuada para os professores de matemática que trabalham com a EJA.
6) Como deve ser a formação continuada para os docentes que lecionam na EJA, ou seja,
em seu modo de pensar, o que essa formação deve contemplar?
7) Quando questionamos se você teria participado de momentos de formação continuada
na área da Educação Matemática na EJA, você nos relatou que participou de apenas um
encontro. Você nos informou também que a sua capacitação para exercer a função de
professora ―se dá mesmo é no dia a dia, pesquisando, lendo, trocando experiência com os
colegas”. Você está no CEFAPRO há um bom tempo, não é verdade? Quantos anos? Não se
lembra de mais alguma formação continuada na área da Educação Matemática na EJA
oferecida pela SEDUC/MT?
8) Você também me informou que não possui nenhum plano de formação continuada ou
registros de oficinas ministradas especificamente para docentes de matemática que lecionam
na EJA. Levando em consideração todo o tempo em que você é formadora de Matemática no
CEFAPRO, você não se lembra de ter ministrado alguma formação destinada especificamente
para estes professores em questão?
9) Em sua opinião, porque a formação continuada para os docentes de matemática que
lecionam na EJA não existe?
283
Identificação:
Entrevistado: João
Data: 21/12/2011
Iniciaremos nesse momento uma entrevista com o professor João. Gostaríamos
professor de informá-lo que as informações coletadas por esse instrumento de pesquisa serão
utilizadas na dissertação de Osinéia Albina Brunelli, mestranda da Linha de Pesquisa
Educação em Ciências e Matemática do Instituto de Educação da UFMT.
Objetivo desta entrevista é investigar as concepções de EJA, de ensino e de
aprendizagem de matemática, a formação continuada de docentes de matemática que
lecionam na EJA e a formação continuada de formadores de professores de matemática dos
CEFAPROs. Os dados coletados não serão repassados a terceiros. Caso estes dados sejam
utilizados na dissertação, os nomes reais serão mantidos em absoluto anonimato.
Todas as informações serão extremamente importantes para a análise dos resultados,
portanto, a sinceridade de suas respostas é fundamental. Antecipadamente agradecemos o
tempo que você nos disponibilizou para a realização dessa entrevista, bem como o cuidado e a
atenção dispensados na realização desse trabalho.
3) Como deve ser ensinada ou quais metodologias devem ser utilizadas no ensino de
matemática na Educação de Jovens e Adultos?
5) Como deve ser a formação continuada para os docentes de matemática que lecionam na
EJA, ou seja, em seu modo de pensar, o que essa formação deve contemplar?
6) E na prática como acontece a formação continuada para os educadores que atuam nessa
modalidade da educação básica?
9) Você está no CEFAPRO há um bom tempo, não é verdade? Quantos anos? Não se lembra
de alguma formação continuada na área da Educação Matemática na EJA oferecida pela
SEDUC/MT?
10) Onde então adquiriu capacitação para organizar e executar a formação continuada dos
educadores dessa modalidade?
11) No questionário de caracterização você destacou que ministrou diversas formações para
os professores da EJA, porém não sei se estou equivocada, mas me pareceu que a maioria,
foram formações mais gerais sobre a modalidade. Gostaria que nos esclarecesse se algumas
daquelas formações que você citou, foram especificamente destinadas aos educadores de
matemática, ou seja, foram formações em que se discutia a Educação Matemática na
Educação de Jovens e Adultos?
12) Você possui o plano de formação ou algum registro dessas formações desenvolvidas?
Identificação:
Entrevistado: Luana
Data: 07/12/2011
Iniciaremos nesse momento uma entrevista com a professora formadora Luana.
Gostaríamos professora de informá-la que as informações coletadas por esse instrumento de
pesquisa serão utilizadas na dissertação de Osinéia Albina Brunelli, mestranda da Linha de
Pesquisa Educação em Ciências e Matemática do Instituto de Educação da UFMT.
O objetivo desta entrevista é investigar as concepções de EJA, de ensino e de
aprendizagem de matemática, a formação continuada de docentes de matemática que
lecionam na EJA e a formação continuada de professores formadores de matemática dos
CEFAPROs. Os dados coletados não serão repassados a terceiros. Caso estes dados sejam
utilizados na dissertação, os nomes reais serão mantidos em absoluto anonimato.
Todas as informações serão extremamente importantes para a análise dos resultados,
portanto, a sinceridade de suas respostas é fundamental. Antecipadamente agradecemos o
tempo que você nos disponibilizou para a realização dessa entrevista, bem como o cuidado e a
atenção dispensados na realização desse trabalho.
5 - Como deve ser a formação continuada para os docentes de matemática que lecionam na
EJA, ou seja, em seu modo de pensar, o que essa formação deve contemplar?
6 - E na prática como acontece a formação continuada para os educadores que atuam nessa
modalidade da educação básica?
286
8 - Você também me informou que não possui plano de formação continuada ou registros de
oficinas ministradas especificamente para docentes de matemática que lecionam na EJA.
Levando em consideração todo o tempo em que você é formadora de Matemática no
CEFAPRO, você não se lembra de ter ministrado alguma formação continuada sob a
responsabilidade da Secretaria de Educação de Mato Grosso destinada especificamente para
estes professores em questão?
Identificação:
Entrevistado: Magda
Data: 19/12/2011
Iniciaremos nesse momento uma entrevista com a professora formadora Magda.
Gostaríamos professora de informá-la que as informações coletadas por esse instrumento de
pesquisa serão utilizadas na dissertação de Osinéia Albina Brunelli, mestranda da Linha de
Pesquisa Educação em Ciências e Matemática do Instituto de Educação da UFMT.
O objetivo desta entrevista é investigar as concepções de EJA, de ensino e de
aprendizagem de matemática, a formação continuada de docentes de matemática que
lecionam na EJA e a formação continuada de professores formadores de matemática dos
CEFAPROs. Os dados coletados não serão repassados a terceiros. Caso estes dados sejam
utilizados na dissertação, os nomes reais serão mantidos em absoluto anonimato.
Todas as informações serão extremamente importantes para a análise dos resultados,
portanto, a sinceridade de suas respostas é fundamental. Antecipadamente agradecemos o
tempo que você nos disponibilizou para a realização dessa entrevista, bem como o cuidado e a
atenção dispensados na realização desse trabalho.
1)O que significa a EJA para você? Qual é a sua função enquanto modalidade de ensino da
educação básica?
4) Como deve ser a formação continuada para os docentes de matemática que lecionam na
EJA, ou seja, em seu modo de pensar, o que essa formação deve contemplar?
5) E na prática como acontece a formação continuada para os educadores que atuam nessa
modalidade da educação básica?
6) Em sua opinião, porque a formação continuada para os docentes de matemática que
lecionam na EJA não existe?
288
8) Nos documentos que recebi encontrei um plano de um curso de formação continuada para
os educadores da EJA coordenado por você e ministrado por um colega no ano de 2007.
Considerando apenas os três últimos anos, você possui algum plano de formação ministrada
ou oficinas trabalhadas para os docentes de matemática que lecionam na EJA?