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Prof.

Rui Pereira, Unicv


A reforma universitária não pode reduzir-se nem sequer consitir principalmente
na correção de abusos. Reforma é sempre criação de novos usos (...) Em outras
palavras, a raíz da reforma universitária está em acertar plenamente com a sua
missão (...) O ensino superior consiste, pois no profissionalismo e na
investigação (...) O ensino – e a educação em geral, englobam três termos: o
que se deveria ensinar – o saber; o que ensina o mestre e o que o discípulo
aprende. (GASSET, J. Ortega y (2001 [1930]). La Missión de la Universidad,
Buenos Aires, pp. 5-11)

É unânime e consensual entre nós, que necessitamos mudar as práticas da nossa Universidade
Pública (Unicv), particularmente, quando o governo de Cabo Verde acabou de criar as
condições logísticas para uma nova era da Universidade Pública. Embora a UniCV compreenda
outras missões segundo os seus Estatutos (Cf. Decreto-Lei nº 4/2016), precisamos mudar as
práticas universitárias, de forma que estas possam tornar possível a realização da missão para
qual foi criada: a formação e não a mera informação dos cidadãos caboverdianos e a sua
preparação para inserção no mercado de trabalho.
Ao contrário do que se poderia pensar, a misssão da Universidade – instituição cuja origem se
centrava na tentativa de encontrar respostas às necessidade universais do ser humano, donde o
seu significado (Universal) originário quando foi criada na Idade Média, hoje, ela deveria passar
por prioridades como (1) ensino das profissões intelectuais e técnico-profissionais, (2)
investigação científica e preparação de futuros investigadores. Como dizia Edgar Morin, é
necessário educador os educadores. Sem isso, toda a retórica de alguns revolucionários em
termos de uma instituição humanista, significa um salto no escuro, pois humanismo significa
cuidado dos homens e das suas práticas valorativas.
A Universidade Pública (Unicv) deveria, em princípio, ser uma instituição de iniciação à
investigação científica capaz de diferenciar a questão, o que se pode ensinar da questão o que se
poderia aprender, mas também consciente da necessidade de uma reflexão permanente de um
gabinete de inovação pedagógica, que lideraria um programa anual de reflexão sobre o processo
ensino-aprendizagem em todos os seus graus, uma vez que os formandos da Universidade
ocupam funções em todos os graus de educação e do mercado laboral global. Esse ideal da
universidade deveria também priorizar uma educação não tanto centrada no ensino e no mestre
ou nos bons salários dos seus dirrigentes, mas sim nos alunos, o que significaria fazer valer a
pedagogia de autonomia (e responsabilidade), que remonta a Rosseau, Kant, Pestalozzi, Fröbell,
Paulo Freire, etc. Como dizia, o médico e filósofo alemão, Karl Jaspers, "a razão de ser da
Universidade exclui a política ativa da Universidade como tal (...) As discussões devem servir à
pesquisas, não à propaganda (...) A função da ciência, portanto, não é a de estabelecer
programas, mas de elucidar as condições, de pensamento e de facto, da política, seja ela qual
for". (JASPERS, K. Volk und Universität in Hoffnung und Sorge (Povo e Universidade in
Esperança e Cuidado, p. 56). Urge renovar a UniCV, para que ele possa desenvolver práticas
estratégicas, que possibilitem a excelência e qualidade no ensino e investigação, novos usos e
funcionalidades capazes de responder os desafios globais da nação cabo-verdiana.
Referências:
GASSET, J. Ortega y (2001 [1930]). La Missión de la Universidad, Buenos Aires, pp. 5-11.
JASPERS, K. (1948). Volk und Universität in Hoffnung und Sorge (Povo e Universidade in
Esperança e Cuidado), p. 56.

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