Você está na página 1de 1

Sobre a determinação e a liberdade humana, ou se o lívre arbítrio é uma mera ilusão?

Sobre a determinação e a liberdade humana, ou se o livre arbítrio é uma mera ilusão?

O determinismo é a posição filosófica baseada na ideia de que as nossas ações têm origens em
causas anteriores, que originam inevitavelmente certos efeitos, dadas certas circunstâncias e as
leis da natureza, i. e, leis invariáveis, que governariam tudo o que acontece, inclusive, o
comportamento humano. Ao encarar o problema da escolha livre, o determinismo vê nele uma
ilusão (Daniel Dennet), pois há sempre motivos inconscientes (freudianismo), processos de
condicionamento (behaviorismo de B. K. Skinner e John B. Watson), genéticos e ambientais
(genética e ecologia), que nos determinam e tornam difícil a aceitação de que escolhemos
livremente as nossas ações. Contra a ideia de escolhas livre, o determinismo sustenta, segundo
James Rachels (Os Problemas de Filosofia, Cap. 9), os seguintes princípios: (1) tudo o que
fazemos é causado por forças que não controlamos e (2) se as nossas ações são causadas por
forças que não controlamos, então nós não agimos livremente. Deles, deduz a conclusão: logo,
nunca agimos livremente. Porém, os críticos do determinismo (libertarismo e compatibilismo)
argumentam que a liberdade é um facto da nossa experiência como sublinha John Searle (Mente,
Cérebro e Ciência), também ele, um crítico do compatibilismo.
Assim, para o libertarismo, a tese determinista de que (1) “tudo o que fazemos é causado por
forças que não controlamos” é falsa, pois nem todas as nossas ações estão causalmente
determinadas, pois algumas delas revelam-nos o sentido e o facto da liberdade. Da mesma
forma, o facto de não podermos prever as nossas decisões mostra que não estamos
determinados. Igualmente, seria difícil aceitar a ideia de responsabilidades pessoais, se todas as
nossas ações estivessem determinadas como sublinharam Boécio (A Consolação da Filosofia) e
Santo Agostinho (O Livre Arbítrio).
Já o compatibilismo (Hobbes, Hume, Kant e Mill, etc.), outra teoria crítica do determinismo,
recusa a segunda tese dessa corrente filosófica - (2) se as nossas ações são causadas por forças
que não controlamos, então nós não agimos livremente, pois acredita que somos livres apesar de
sermos causalmente determinados, ou seja, somos simultaneamente determinados e livres, no
sentido em que a liberdade deve ser entendida como “isento de coerção”, pois “livre não
significa não causado, mas isento de coerção”, i. e, do modo como a ação é causada. O facto do
determinismo levar a consequências de difícil solução, nomeadamente, o perigo de eliminarmos
a ideia de responsabilidades individuais pelas nossas ações, constitui a razão pela qual, o
libertarismo e o compatibilismo, querem manter a ideia da liberdade, do livre-arbítrio da
vontade e a ideia de escolhas livre como condições da responsabilidade humana. A título de
exemplo, todo o Direito Penal assenta na premissa da liberdade humana sem a qual seria difícil
aceitar as ideias de imputabilidade de penas como sabemos desde a tragédia Rei Édipo de
Sófocles.
.

Você também pode gostar