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IMPORTÂNCIA DO ENFERMEIRO NO PARTO HUMANIZADO

IMPORTANCE OF THE NURSE IN HUMANIZED LABOR

Luiz Henrique Teixeira de Siqueira Neto1


Camile Cristina Salvador Ferronato2

RESUMO: O termo humanização vem sendo utilizada há anos, em especial na área da saúde. O
conceito de humanização ao parto inclui diversos aspectos, e está diretamente relacionado com a
mudança na cultura hospitalar voltada a saúde da mulher. O presente trabalho consistiu em uma
revisão bibliográfica. O enfermeiro, principalmente o enfermeiro obstetra, ocupa um lugar
importante na assistência ao parto. São encontradas muitas dificuldades durante o trabalho de
parto para se prestar assistência humanizada às mulheres Atualmente a desvalorização do parto
natural e a prática de intervenções cirúrgicas desnecessárias cada vez maior mostram a carência
de informação e educação em saúde para a população feminina. A valorização do parto
humanizado deve ser levada em consideração por aumentar a autonomia e o poder de decisão da
mulher. É papel do enfermeiro e da equipe multidisciplinar orientar a mulher sobre as vantagens
de um parto vaginal e humanizado para mãe e para o bebê, assim como as orientações para que
a mesma possa assumir o protagonismo e autonomia pré e pós parto.

Descritores: Parto humanizado. Assistência de enfermagem no parto. Humanização no parto e


nascimento

ABSTRACT: The term humanization has been used for years, especially in the area of health.
The concept of humanization at birth includes several aspects, and is directly related to the
change in the hospital culture focused on women's health. The present work consisted in a
bibliographical review. The nurse, especially the obstetrician nurse, plays an important role in
childbirth care. Many difficulties are encountered during labor to provide humanized assistance
to women. Today, the devaluation of natural childbirth and the practice of unnecessary surgeries
shows the lack of information and health education for the female population. The valuation of
humanized childbirth must be taken into account by increasing the autonomy and the decision
power of the woman. It is the role of the nurse and the multidisciplinary team to guide the
woman about the advantages of a vaginal and humanized delivery for the mother and the baby,
as well as the guidelines so that it can assume the protagonism and autonomy before and after
childbirth.
Keywords: Humanized delivery. Nursing care at childbirth. Humanization in childbirth and
birth

Descriptors: Humanized delivery. Nursing care at birth. humanization at childbirth

1
Bacharel em Enfermagem, Docente da Curso de Enfermagem da Faculdade UNIJIPA. Enfermeiro
Atenção Básica (Estratégia Saúde da Família) UBS Jucelino Cardoso de Jesus. Email:
lhtsneto@gmail.com
2
Docente do Curso de Enfermagem da Faculdade UNIJIPA. Email: mile_csf83@outlook.com
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1. INTRODUÇÃO

O termo humanização vem sendo utilizado há anos, em especial na área da


saúde. No campo de assistência ao parto, nos últimos anos vêm ocorrendo discussões
sobre o tema sendo esse, citado por diversos autores e organizações. A preocupação
principal é em torno da medicalização excessiva no parto. (DIAS; DOMINGUES, 2005)
O conceito de humanização ao parto inclui diversos aspectos, e está diretamente
relacionado com a mudança na cultura hospitalar, sendo necessário a organização de
uma assistência realmente voltada para as necessidades das mulheres e suas famílias.
Mudanças na estrutura física também são importantes, transformando o espaço
hospitalar num ambiente mais acolhedor e favorável à implantação de práticas
humanizadoras da assistência. Contudo, a humanização da assistência ao parto implica
também e, principalmente, que a atuação do profissional respeite os aspectos de sua
fisiologia, não intervenha desnecessariamente, reconheça os aspectos sociais e culturais
do parto e nascimento, e ofereça o necessário suporte emocional a mulher e sua família,
facilitando a formação dos laços afetivos familiares e o vínculo mãe-bebê. (DIAS;
DOMINGUES, 2005)
A partir da década de 80, a fim de resgatar a autonomia feminina na cena do
parto, o movimento feminista passou a criticar fortemente esse modelo obstétrico
tecnocrático, juntamente com outros setores da sociedade. Era questionado
principalmente a qualidade da assistência prestada durante o ciclo gravídico-puerperal, a
institucionalização do parto e o uso rotineiro de intervenções desnecessárias. Este
movimento culminou em conferências, documentos e na busca de evidências científicas
que articulassem as diversas áreas de conhecimento. (DIAS; DOMINGUES, 2005)
A atenção humanizada é um conceito amplo e envolve um conjunto de
conhecimentos, atitudes e práticas que visam a promoção do parto e do nascimento
saudáveis e a prevenção da morbimortalidade materna e infantil. Inicia-se no pré-natal e
procura garantir que a equipe de saúde realize procedimentos comprovadamente
benéficos para a mulher e o bebê, que evite as intervenções desnecessárias e que
preserve sua privacidade e autonomia. (DIAS, 2006)

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A autonomia da mulher durante o processo de trabalho de parto deve ser


respeitada pelos profissionais de saúde, com direito reservado por lei a ter um
acompanhante de sua livre escolha, de serem informadas dos procedimentos que serão
submetidas e de ter seus direitos de cidadania respeitados. Sendo assim, é defendido um
processo que respeita a individualidade das mulheres, sua cultura, crenças, valores e
diversidade de opiniões, ou seja, respeitar e criar condições para que todas as áreas do
ser humano sejam respeitadas e atendidas, são elas, espirituais, psicológicas e
biológicas. (CARVALHO et al., 2008)
Como coadjuvantes desta experiência estão os profissionais de saúde que
desempenham importante papel. Têm a oportunidade de colocar seu conhecimento a
serviço do bem-estar da mulher e do bebê, reconhecendo os momentos críticos em que
suas intervenções são necessárias para assegurar a saúde de ambos. (DIAS, 2006)
Para incentivar o parto humanizado, a Organização Mundial de Saúde, o
Ministério da Saúde e outros órgãos não-governamentais, têm proposto mudanças
nessa assistência, incluindo o resgate do parto natural, com estímulo da atuação da
enfermeira obstetra na assistência à gestação e parto. (CASTRO; CLAPIS, 2005)
Porém devido ao modelo de saúde atual, a mulher por vezes não tem noção do
que seria o respeito à individualidade e satisfaz-se simplesmente por encontrar o leito
obstétrico disponível para acolhê-la para parir. Nesse contexto, a assistência a mulher
perdeu seu ponto principal, que é a própria mulher. (CASTRO; CLAPIS, 2005)
Nesse contexto, o profissional de enfermagem tem um papel importante que
começa na assistência a mulher e ao recém-nascido, garantindo uma atenção
humanizada, individualizadas e ampla. Além de promover ações que promovam a
maternidade em sua complexidade, possibilitando sua autonomia quanto aos cuidados
no pré-natal, parto, primeiros cuidados com o bebê. (CAMILLO et al., 2016)
A partir dessa problematização, o objetivo do presente estudo, foi identificar a
importância da equipe de enfermagem em relação a humanização da assistência ao
parto, buscando evidenciar, através dos discursos, as ações desenvolvidas no processo
de nascimento.

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2. METODOLOGIA

O presente trabalho consistiu em uma revisão bibliográfica, realizada em artigos


de pesquisa desenvolvidos no Brasil, que respondam a temática, publicados em
português no período entre 1996 e 2017 em locais como Scientific Eletronic Library
Online (SciELO) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) do Ministério da Saúde (MS).
Para busca de informações sobre a temática foram utilizados os seguintes DeCS –
Descritores em Ciências da Saúde: “Parto humanizado”, “Assistência de enfermagem
no parto”, “Humanização no parto e nascimento”, associando a seus termos sinônimos.
Foram selecionados 20 artigos, pela credibilidade dos sites que realizaram a
pesquisa, documento ou artigo, sendo selecionados os 16 que viriam a contribuir para a
execução desse trabalho.

3. HUMANIZAÇÃO DO PARTO

O enfermeiro, principalmente o especialista enfermeiro obstetra, ocupa um lugar


importante na assistência ao parto, sendo capaz de direcional e sensibilizar a equipe
multiprofissional para um olhar mais humanizado e assim mudar o atual cenário da
obstetrícia. (CARVALHO et al., 2008)
A humanização como um processo que requer a articulação de diferentes níveis
de administração do sistema de saúde, boas condições de infraestrutura, habilidades
técnicas científicas e ética profissional. (MOURA, 2017)

3.1 Dificuldades para implementação do parto humanizado

São encontradas muitas dificuldades durante o trabalho de parto para se prestar


assistência humanizada às mulheres. Essas dificuldades estão diretamente relacionadas a
necessidade de profissionais capacitados e sensibilizados para estar nesse momento,
onde a mulher encontra-se mais suscetível a sentimentos como alegria, medo e dor,
portanto necessitando de atenção e apoio emocional. Além da necessidade de que
estejam disponíveis recursos tecnológicos e infraestrutura adequada. (MOURA, 2017)

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A dificuldade inicial para a implantação do projeto era a quantidade de


enfermeiras obstetras insuficientes, porém após 1998 com o apoio do Ministério da
Saúde, abriram-se novos cursos de especialização na área obstetrícia, e assim
capacitaram 854 profissionais para a rede SUS. (BRASIL, 2001)
Em segundo momento a dificuldade foi em relação aos médicos com aceitação à
presença das enfermeiras obstetras diretamente na assistência ao parto, assim resultando
no pronunciamento do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj),
com a publicação de uma resolução que colocava sob responsabilidade do profissional
médico toda a assistência praticada dentro do hospital, inclusive aquela praticada por
enfermeira na assistência ao parto de baixo risco. Na mesma publicação, colocava
também a obrigatoriedade da informação aos usuários do serviço de saúde de que na
instituição os partos eram assistidos tanto por médicos quanto por enfermeiros. Estas
medidas têm o objetivo claro de, em última instância, pressionar o médico para que ele
não abra espaço na assistência ao parto de baixo risco para a enfermeira obstetra.
(DIAS; DOMINGUES, 2005)
Atualmente a desvalorização do parto natural e a prática de intervenções
cirúrgicas desnecessárias cada vez maior mostram a carência de informação e educação
em saúde para a população feminina. A falta de informação e autonomia faz com que as
mulheres se sintam cada vez menos capacitadas para escolher e fazer valer seus desejos
e direitos, e assim tenham dificuldade em participar das decisões em relação ao parto.
Esse fator poderia ser solucionado ou ao menos amenizado com a prática da
humanização na assistência ao parto e nascimento. (MARQUES, 2006)
A assistência a mulher na rede pública pode se tornar constrangedora desde o
início, com dificuldades que se inicia na busca por uma vaga, ou sem opção por ter
apenas uma unidade assistencial. Quando conseguem o local e a internação, esta é feita
com a separação da família e com permanência durante o pré-parto em espaço coletivo,
sem qualquer privacidade ou atenção as suas necessidades obstétricas. (DIAS;
DOMINGUES, 2005)
A proposta de humanização do parto sofre influência diretas e envolvem a
aderência dessa proposta por gestores e profissionais, assim como a sua capacitação.
(TEXEIRA, 2009)

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3.2 O retorno ao natural

A categoria natureza aparece com frequência nesse contexto de parto


humanizado, e parece ser um ponto de acordo entre as vertentes médica e alternativa. A
argumentação alternativa está associada ao processo fisiológico humano e do parto.
Segundo autores encontrados na literatura, a assistência ao parto é definida como
um resgate do acompanhamento do trabalho de parto respeitando a fisiologia destes
momentos, oferendo suporte emocional não só para a mulher, mas englobando a família
ou outras pessoas que a parturiente escolheu para estarem ao seu lado. Também faz
parte desse processo respeitar o desejo da mulher, levando esse momento a ser vivido
em sua plenitude e apesar de preconizar uma menor intervenção médica, o conceito de
humanização prevê que toda a tecnologia perinatal existente atualmente possa ser
utilizada para a garantia de maior segurança não só para as mães como também para os
bebês. (DIAS, 2006)
Outro fator sendo ampliado, é as características do espaço físico onde o trabalho
de parto acontecerá, reforçando a ideia de que a mulher não se encontra em uma
situação de doença. A visão de um espaço onde não se perceba estar em ambiente
hospitalar, que seja mais acolhedor e que ofereça maior liberdade de movimentação
para a parturiente foram implantados aos conceitos de humanização. (DIAS, 2006)
Para a Organização Mundial da Saúde (1996) são condenados os excessos de
intervenções utilizadas com intuito de acelerar o trabalho de parto, sendo essas
prejudiciais e ineficazes. O modelo de atenção nas maternidades tem como objetivo
adequar o parto em um processo fisiológico e de duração variável de mulher para
mulher. (OMS, 1996)

3.3 Parto Humanizado

Acredita-se que a chave da humanização do parto é o pré-natal pois neste


período pode-se oferecer à mulher orientações adequadas para toda a gestação, parto e
pós-parto, podendo também servir para conscientiza-las de seus diretos. (CARVALHO
et al., 2008)

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Os profissionais devem desenvolver habilidades para que prestem assistência


humanizada a mulher, relacionados ao contato, favorecendo sua adequação emocional a
gravidez e ao parto, podem também ajuda lá a superar os medos as ansiedades e as
tensões. (DIAS; DOMINGUES, 2005)
O processo depende de uma mudança na cultura hospitalar que está implantada
atualmente, com ações que tornem o local mais acolhedor e favorável a implantação de
práticas humanizadas, assim como é dependente da atuação do profissional, que respeite
os aspectos fisiológicos, sociais e culturais do parto e não intervenha
desnecessariamente. (DIAS, 2006)
Portanto, a assistência humanizada tem caráter amplo e envolve um conjunto de
conhecimento, práticas e atitudes que visam não só a promoção do parto, mas também
um nascimento saudável e a prevenção da morbimortalidade materna e perinatal, como
o pré-natal. Garantindo que a equipe realize procedimentos que sejam benéficos, para a
mulher e para o recém-nascido, evitando intervenções desnecessárias, preservando a
privacidade e autonomia da mulher já que o nascimento é um evento fisiológico e é
considerado um dos mais marcantes na vida. (MACHADO, 2006)
Assim, fica claro ser imprescindível na assistência de enfermagem o
embasamento teórico-prático, sendo de suma importância o estreitamento de laços
afetivos entre profissional e parturiente, demonstrando que as ações de enfermagem vão
além do saber técnico e constituem a humanização do cuidado. (CARVALHO et al.,
2008)
Segundo Moura et al., (2017) o protagonismo da mulher é um dos princípios da
assistência humanizada, nessa perspectiva, é necessário que os profissionais da saúde
adquiram a percepção de que a mulher é por direito, a protagonista do seu parto e assim
reflita na forma de cuidar. Essa forma de olhar não deve ser exclusiva à atenção
hospitalar, e sim deve-se iniciar desde a atenção básica, e assim desde o pré-natal a
mulher já tenha acesso a todas informações necessárias para o planejamento do seu
parto.
Outro fator é relacionado a dor durante o trabalho de parto, sendo que é algo
natural e real, não deve ser subestimado, porém pode ser administrado, sendo

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transformado em vez de agoniante, uma experiência positiva e alegre. (MACHADO,


2006)
Ainda hoje é possível encontrar hospitais públicos que afastam a mulher de seus
familiares durante o parto, sendo submetidas a uma série de procedimentos de indicação
e resultados duvidosos, com o objetivo de acelerar o processo do parto e assim diminuir
o tempo de trabalho dos profissionais, a fisiologia é modificada por intervenções que
tem o objetivo de acelerá-lo, independente dos desejos ou eventuais riscos para a mulher
ou para o bebê. É comum encontrar mulheres que não foram informadas das
intervenções executadas, assim como, abandonadas após o parto sem nenhum tipo de
suporte físico ou emocional, com dor, em jejum, seminua, em um ambiente estranho e
com profissionais desconhecidos. (DIAS; DOMINGUES, 2005)
O enfermeiro deve estar atento as queixas e outras manifestações que possam
indicar alguma irregularidade, assim como, ir orientando a gestante sobre a evolução da
dilatação e do trabalho de parto, ensinando condutas a serem tomadas, como as técnicas
respiratórias a cada contração e relaxamento nos intervalos. (MARQUES et al., 2006)
De forma geral, pode-se dizer que a sala de parto é um local de difícil
permanência para os profissionais devido ao parto envolver tantas dores e ser
considerado um “sofrimento” e diante dessas dores pouco podendo ser feito. Não sendo
oferecido remédios e apoio emocional em excesso. Por esses motivos, permanecer no
pré-parto ao lado de mulheres se queixando de dores e não poder evitar, torna-se um
sacrifício. Nesse contexto, portanto, o grande desafio para os profissionais que estão
prestando assistência a mulher, é conseguir minimizar o sofrimento das parturientes
tornando daquele momento uma experiência de crescimento e realização para a mulher
e sua família. (MARQUES et al., 2006)
Portando a atuação da enfermeira na assistência a mulher no processo de
parturição é considerada como uma possibilidade de redução da morbimortalidade
materna e perinatal. Com ações que poderão diminuir intervenções desnecessárias, além
de privilegiar a parturiente como ser ativo no processo do parto e assim conduzindo
uma assistência mais humanizada. (BARROS, 2004).
O trabalho de parto deve ser abordado com ética profissional, aplicável a todas
as situações de atenção à saúde. A adequada identificação da equipe médica, de

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enfermagem e outros profissionais de saúde, o respeito e a privacidade da parturiente


além de outros aspectos devem ser obedecidos com rigor no manejo do parto (BRASIL,
2001)
Para o futuro, os profissionais de saúde buscam assumir o compromisso de
modificar a assistência atual, proporcionando um novo pensamento e conscientização
dos direitos da mulher. Não se pode perder de vista que, se o nascimento “[...] é o
espelho da cultura de um povo, já estamos na hora de sentar junto e repensar a
assistência que, como sociedade, prestamos à mulher no ciclo grávido puerperal”
(GRIBOSKI, 2006)
A valorização do parto humanizado deve ser levada em consideração por
aumentar a autonomia e o poder de decisão da mulher, com uma relação menos
autoritária entre o profissional de saúde e a parturiente, com ações mais efetivas para
uma boa evolução do trabalho de parto e para a saúde da mulher e do bebê.
(TEIXEIRA; BASTOS, 2009)
O modelo atual de assistência, a humanização do parto está ligada a mudanças
de atitude, filosofia de vida e percepção de si e do outro como ser humano. A
sensibilidade, informação, comunicação, decisão e a responsabilidade devem ser
compartilhadas entre a mulher, a família e os profissionais da saúde. Nesse contexto, o
parto humanizado consiste em um conjunto de condutas e procedimentos que tem a
finalidade a promoção do parto e nascimento saudáveis. (TEIXEIRA; BASTOS, 2009)
Entre as conquistas adotadas na humanização do parto e nascimento, está a Lei
no 11.108, de abril de 2005, que garante à parturiente um acompanhante durante o
trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde –
SUS (TEIXEIRA; BASTOS, 2009)
No entanto, ainda se faz necessário iniciativas governamentais para que sejam
executadas essas ações, assim como, a participação social efetiva, garantindo serviços
qualificados de saúde, reduzindo a mortalidade materna e neonatal. No Brasil desde o
ano 2000 está implementado o Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento
(PHPN), afim de garantir a diminuição da morbimortalidade materno infantil. Porém
não atingiu seu objetivo da forma esperada. (DIAS; DOMINGUES, 2005)

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Em 2011 o Ministério da Saúde Lançou o programa Rede Cegonha, uma vez que
objetiva a implementação de um novo modelo de atenção à saúde da mulher e da
criança, que garanta acesso, acolhimento e resolutividade e reduza, dessa forma, os
índices de mortalidade materno infantil. (MOURA, 2017)
Em relação à cesariana, é possível notar que indicações sem necessidade
resultam em perigos desnecessários a mãe e ao bebê, como maior permanência no
hospital, além de poder gerar transtornos respiratórios neonatais e prematuridade
iatrogênica, assim a indicação da cesariana indiscriminada e sem controle é condenada
pelo processo de assistência humanizada, pois com o parto humanizado o índice de
mortalidade materna diminui em até 12 vezes. (BRASIL, 2004).
Portanto, o respeito pelo direito da mulher a privacidade, a redução de riscos e
complicações está diretamente relacionado ao trabalho de parto humanizado, estando
todos os aspectos ligados a esses fatores, bem estar físico e emocional, transformando
esse momento único e especial, aliado com uma assistência humana e de qualidade,
contando com o apoio familiar durante a parturição. (CARVALHO et al., 2008)

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a literatura analisada, é possível observar que o enfermeiro


obstetra tem um destaque junto a parturiente para auxiliar a paciente na assistência ao
parto humanizado, levando em consideração sua autonomia nos centros de parto
normal, capacidade de direcionar e sensibilizar a equipe de enfermagem e também a
equipe multiprofissional, além de transmitir tranquilidade e segurança a parturiente.
Nessa visão, nota-se que as atividades da enfermagem ultrapassam o saber
técnico e constituem-se na humanização do cuidado e assim sendo fundamental para
humanização do parto. É papel do enfermeiro e da equipe multidisciplinar orientar a
mulher sobre as vantagens de um parto natural e humanizado para ela e para o bebê,
assim como as orientações para que a mesma possa assumir o protagonismo e
autonomia pré e pós parto, sendo que para isso, essa forma de cuidar humanizado deve
ser iniciada desde a atenção básica até o momento do parto.

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Porém ainda há muito a ser feito, pois, a assistência a mulher no período


gravídico puerperal no Brasil ainda está inserida no modelo onde a cesariana é o foco
principal das mulheres grávidas e dos profissionais envolvidos no parto. Por isso, é
necessário a valorização do parto humanizado e a conscientização além da educação em
saúde para a população, sendo abordado que o parto normal é o mais aconselhável e
natural para a mulher e para o bebê. Para isso a implementação de programas de
educação e apoio ao parto normal é um dos principais métodos para mudar e diminuir
os procedimentos invasivos e desnecessários aos quais a mulher é submetida.
Portanto cabe aos profissionais envolvidos ampliar seu método de assistência,
seus conhecimentos e rever suas práticas com o objetivo de humanizar o cuidado, tendo
em vista o cuidado com o ser humano como um todo.

REFERÊNCIAS

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