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Inauguração do Sistema

Oligárquico
Publicação: 05 de Maio de 2009 às 00:00
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Durante a Primeira República (1889/1930), a exemplo da demais
unidades da Federação do Rio Grande do Norte conheceu o sistema
de oligarquias.

Coube ao fundador do Partido Republicano, Pedro Velho de


Albuquerque Maranhão, inaugurar o sistema olugárquico no Estado.
A base econômica dessa primeira oligarquia, caracteriza como
"personalista que evoluiu, mais tarde, para uma oligarquia tribal",
segundo Mariz (1980), foi o açúcar.

A marca registrada do governo de Pedro Velho foi manter sempre


os interesses da sua oligarquia, antecedendo aos do partido. Prova
dessa tendência foi o empenho do nosso primeiro oligarca em
indicar o seu irmão Augusto Severo de Albuquerque Maranhão para
disputar a sua vaga, na Câmara Federal, aberta quando veio
assumir o governo. Apesar da oposição de outros chefes políticos,
Augusto Severo foi eleito a 2 de maio de 1892, Entretanto, essa
eleição não foi homologada, sendo posteriormente anulada em
todo o País. Finalmente, no novo pleito realizado a 23 de abril de
1883, onde mais uma vez Pedro Velho impôs a candidatura do seu
irmão, Augusto Severo de Albuquerque Maranhão foi eleito para a
Câmara Federal. Pedro Velho conseguiu ainda nomear seu outro
irmão, Alberto Maranhão, secretário da sua administração.

O substituto de Pedro Velho no governo foi o desembargador


Joaquim Ferreira Chaves que, mesmo não pertencendo à família
Albuquerque Maranhão, era ligado por estreitos laços de amizade
aos membros da primeira oligarquia estadual.

Por volta de 1920, o eixo econômico do Estado se desloca do litoral


(açúcar e sal) para o interior (exportação de algodão e pecuária). É
nesse contexto que aparece a segunda oligarquia, liderada por Jos
é Augusto Bezerra de Medeiros, com bases políticas no Seridó,
onde predominava a atividade econômica de plantação e
exportação do algodão.
A segunda oligarquia é interrompida no governo de Juvenal
Lamartine, quando eclode a revolução de 3 de outubro de 1930,
que modificou significativamente o panorama do País.

Indústria Incipiente e Sistema


Financeiro
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No Rio Grande do Norte, o setor industrial era insignificante.
Mesmo no contexto regional, ocupava o sétimo lugar. Em número
de indústrias, estávamos apenas acima do Maranhão e do Piauí.

Os setores de alimentação e têxtil predominavam na incipiente


atividade industrial.

Quanto ao setor financeiro, o primeiro estabelecimento bancário


só apareceu no Rio Grande do Norte no governo de Augusto
Tavares de Lyra, em 1909. Era o Banco de Natal que, futuramente,
daria origem ao Bandern. Quase todo o Nordeste já possuía agência
do Banco do Brasil, mas o Rio Grande do Norte só foi inaugurar a
sua primeira agência no dia 14 de abril de 1917. No setor
financeiro ainda devem ser lembradas as iniciativas de Juvenal
Lamartine, responsável pela criação de bancos rurais e de caixas
em algumas cidades do interior, como Acari, Caicó, Macau etc.
Ulisses de Góis e Jovino dos Anjos foram responsáveis pelo
aparecimento de cooperativas, com o objetivo de facilitar o
crédito.

A Passagem da Coluna Prestes


no Estado
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Na República Velha, foram freqüentes os protestos de militares e
civis contra as fraudes eleitorais, que a inexistência do voto
secreto ensejava. Movimentos como "Os 18 do Forte de
Copacabana", no Rio de Janeiro, em 1922; a rebelião gaúcha de
1923, e a paulista, de 1924, atestam a insatisfação do povo contra
o processo eleitoral vigente.

Foi no governo do presidente Artur Bernardes, que praticamente


cumpriu o seu mandato sob "Estado de Sítio:, com as garantias
constitucionais suspensas, que se organizou a "Coluna Prestes".

O principal objetivo dos comandados de Luís Carlos Prestes e


Miguel Costa era percorrer o Brasil, levantando o povo contra o
que consideravam "autoritarismo do presidente".

Os rebeldes entraram no Estado pela zona Oeste. Governava o Rio


Grande do Norte o Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros
(1924/1927), que procurou imediatamente se comunicar com o
presidente, recebendo a promessa de que seriam tomadas
providências para melhorar a segurança do Estado. Enquanto isso,
o governo mobilizava civis e militares para fazer frente aos
revolucionários.

A 26 de janeiro de 1926, o primeiro contingente da polícia militar,


sob o comando do tenente João Machado, seguiu para a zona
oeste. Algumas cidades do Seridó, temendo uma invasão pelo sul
do Estado, colocaram em alerta suas forças policiais.

Os combates entre rebeldes e as forças policiais do Rio Grande do


Norte ocorreram quase totalmente na região oeste. Pela cidade de
Luiz Gomes, os integrantes da coluna Prestes seguiram para a
Paraíba.

Coube ao governador Juvenal Lamartine recolher as armas que


haviam sido distribuídas.

A passagem da Coluna Prestes é o último acontecimento


significativo da República Velha no Rio Grande do Norte.

Duas Administrações de Alberto


Maranhão
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Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão nasceu em Macaíba,
no dia 2 de outubro de 1872, filho de Amaro Barreto de
Albuquerque Maranhão e D. Feliciana Pedroza de Albuquerque
Maranhão.

Os seus estudos iniciais foram realizados, primeiro, em Macaíba e,


depois, em Natal. Mais tarde, foi para Recife, onde se formou em
Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais de
Pernambuco, no dia 8 de dezembro de 1892, com 20 anos.

Alberto Maranhão se casou com D. Inês Barreto. Teve seis filhos:


Paula, Laura, Judite, Juvino, Cleanto e Caio.

Segundo Meira Pires, "sua educação esmerada, sua formação


moral, sua cultura, seu invulgar espírito (...) um largo pendor
diplomático pois sabia solucionar, com finura e habilidade
exemplares, as mais difíceis questões".

Participou, com brilhantismo, do "Congresso Literário", que


mantinha o jornal "A Tribuna". Com outros companheiros, fundou o
"Grêmio Polymathico". Dirigiu o jornal "A República", onde, como
afirma Meira Pires, "teve o ensejo de reafirmar o seu invencível
valor de jornalista e homem de letras escrevendo, sem assinar,
crônicas, tópicos e editoriais".

Exerceu a função de promotor público em Macaíba. Ocupou o cargo


de secretário de Estado na administração de Pedro Velho.

A 14 de junho de 1899, foi eleito governador do Estado, dirigindo


os destinos do Rio Grande do Norte no período de 1900 a 1904.

Durante sua administração, aprovou a lei nº 145, de 6 de agosto de


1900, pela qual "é o governador autorizado a premiar livros de
ciência e literatura produzidos por filhos domicialiados no Rio
Grande do Norte, ou naturais de outros Estados quando neste
tenham fixa e definitiva a sua residência". Essa lei promoveu o
desenvolvimento cultural do Estado, constituindo-se em fato
inédito no País.

No dia 24 de março de 1904, o governador inaugurou o Teatro


Carlos Gomes (hoje Alberto Maranhão), com sua renda destinada
para ajudar aos flagelados, vítimas da seca, que se encontravam
em Natal.

Concluída sua administração, foi eleito deputado federal, e


durante o exercício de seu mandato fez parte da Comissão de
Diplomacia.

Em 1908 voltava a assumir o governo do Estado, realizando uma


profícua administração: fundou o Conservatório de Música; o
Hospital Juvino Barreto (hoje Onofre Lopes); o Derby Clube (para
incentivar o hipismo), e construiu a Casa de Detenção e o Asilo de
Mendicidade. Implantou a luz elétrica em Natal e, posteriormente,
os bondes elétricos. Inaugurou a Escola Normal, em 3 de maio de
1908. Reconstruiu o Teatro Carlos Gomes, que atualmente tem o
seu nome, dando-lhe as feições atuais e que foi entregue ao
público no dia 19 de julho de 1912.

Alberto Maranhão estendeu sua ação também ao interior, como


mostrar Itamar de Souza: "em São José de Mipibu, ele mandou as
águas de uma fonte natural e permanente para o abastecimento
d’água daquela cidade. Em Macaíba, sua terra natal, construiu o
cais de atracação, melhorando assim o transporte fluvial entre
aquela cidade e a capital do Estado. Em Macau, mandou fazer um
aterro, numa extensão de quatro quilômetros, ligando esta cidade
à estrada do sertão, à margem do rio Assu".

"Para facilitar o deslocamento de pessoas e produtos entre o sertão


e as cidades portuárias, ele construiu três mil quilômetros de
estradas carroçáveis em direção às cidades de Canguaretama e
Natal".

O segundo governo de Alberto Maranhão surpreendeu pelo


dinamismo, sendo considerado, por unanimidade, como a melhor
administração durante a República Velha. Nem tudo, porém, foi
positivo na segunda administração do oligarca potiguar que
procurou, abertamente, imortalizar os membros de sua família. O
município de Vila Flor teve o seu nome mudado para "Pedro Velho".
Além dessa homenagem, mandou fazer um busto do irmão que foi
colocado na "square Pedro Velho". Fazendo uma crítica ao ilustre
político potiguar, disse Itamar de Souza: "Este segundo governo de
Alberto Maranhão teve três características básicas: primeiro,
procurou imortalizar os membros da oligarquia aponto seus nomes
em municípios, repartições públicas, monumentos e praças;
segundo, monopolizou importantes setores da economia estadual,
favorecendo, assim, os amigos e correligionários, em detrimento
do erário público; e, terceiro, realizou uma grande e inovadora
administração com o dinheiro tomado emprestado no estrangeiro".

Alberto Maranhão, após deixar o governo, em 31 de dezembro de


1913, foi deputado federal, representando o seu Estado nessa
função, de 1927 até 1929.

Abandonado a vida política, saiu do Rio Grande do Norte e foi


morar com a família em Parati, no Rio de Janeiro.

Em 1918, publicou dois trabalhos: "Na Câmara e na Imprensa" e


"Quatro discursos históricos".

Faleceu no dia 01 de fevereiro de 1944, em Angra dos Reis, sendo


sepultado no outro dia, em Parati.

As Lutas sem Trégua de José da


Penha
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José da Penha Alves de Souza nasceu a 13 de maio de 1875, na
cidade de Angicos. Foram seus pais: José Félix Alves de Souza e
Maria Inácia Alves de Souza.

Em 1880, José da Penha foi para Fortaleza, onde estudou no


Colégio Militar. Depois, seguiu para o Rio de Janeiro, onde,
seguindo Aluízio Alves, fez toda a carreira militar; praça a 2 de
agosto de 1890, alferes a 3 de novembro de 1894, tenente a 8 de
outubro de 1898 e capitão a 2 de agosto de 1911". Desde jovem,
participava de polêmicas, conseguindo se destacar mesmo quando
seus adversários eram do nível de um Medeiros e Albuquerque ou
de um José Veríssimo.

Nasceu, ao que parece, para debater. Discutir. Liderar. "Seu


ardente ideal republicano, impregnado da proteção de Benjamim
Constant, o gosto pelo estudo da História dos Povos, a vivência
jornalística conduzindo-o à análise dos fatos diários,
principalmente os de formação da República emergente,
participação militar característica dos primórdios do novo regime,
o espírito polêmico, fariam inevitavelmente do jovem pensador-
militar um líder político", relata Aluízio Alves.

Não sabia silenciar diante da injustiça.

Na análise de Câmara Cascudo, "o nome de José da Penha Alves de


Souza evoca o movimento da luta, o choque de idéias, a
controvérsia agitação, sonoridade (...). Nasceu armado cavaleiro,
de couraça e elmo, com bandeiras e montante, jurando combater
o bom combate. Toda a sua vida e uma série de guerrilhas, de
batalhas, de agonias, de sofrimentos, provocados, resistidos com
altivez, destemor e sobranceria invulgares".

José da Penha assistiu, no dia 3 de janeiro de 1904, atos de


violência praticados por policiais na cidade de Fortaleza.
Revoltado, escreveu um artigo, no outro dia, demonstrando seu
protesto. Militar, foi preso, sendo submetido ao Conselho de
Guerra. Foi absolvido. Sua esposa Altina Santos, não suportando o
sofrimento, suicidou-se com o revólver do marido.

José da Penha resolveu seguir para o Rio Grande do Norte para


lutar contra a oligarquia Maranhão, que dominava o Estado, como
sintetiza Aluízio Alves: "de Pedro Velho o governo foi para Ferreira
Chaves, deste para Alberto Maranhão, irmão de Pedro Velho, indo
em seguida para o genro, Tavares de Lyra, Antonio de Souza
preparou a volta de Alberto Maranhão, que, por sua vez, fez
retornar Ferreira Chaves, sucedido, num segundo mandato, por
Antonio de Souza, todos eles, nos intervalos, guindados à
representação do Congresso Nacional, e Tavares de Lyra e Ferreira
Chaves a ministérios".

Foi para mudar essa situação que José da Penha investiu contra a
liderança de Alberto Maranhão. Procurou o apoio de um juiz de
Caicó, José Augusto, que também combatia a oligarquia Maranhão.
Mas José Augusto também não era favorável ao candidato
escolhido pela oposição, argumentado a João da Penha: "se o
candidato da oposição fosse o senhor, nestas circunstâncias, eu o
apoiaria (...) O que se pretende é destrui-la para montar uma
oligarquia nacional, com o filho do presidente da República, que
nem sequer conhece o Rio Grande do Norte".

Estava certo o Dr. José Augusto. José da Penha, na realidade,


combateu o que poderia ser uma imposição de uma oligarquia
Ferreira Chaves, contra uma imposição do próprio José da Penha. E
o que é pior, ele pretendia impor uma pessoa totalmente estranha
ao Rio Grande do Norte, o tenente Leônidas Hermes da Fonseca,
que, por sinal, apresentava apenas uma qualidade: era filho do
presidente da República... O capitão José da Penha teria, sem
dúvida, muito mais chance de vitória caso ele próprio fosse o
candidato. Mas é possível que o seu pensamento fosse realmente o
de derrotar a oligarquia Maranhão: "O meu coração tem a dureza
daquelas pedras. E com este rochedo de carne, hei de esmagar a
oligarquia dominante".

José da Penha promovia, assim, a primeira campanha popular da


história do Rio Grande do Norte. Sendo também o primeiro a falar
diretamente com o povo. Fazendo uma campanha popular,
conclamando a população para derrubar uma oligarquia que
possuía figuras ilustres, de grande valor, como Alberto Maranhão.

Aluízio relata: "a campanha incendiou os ânimos de todo o Estado.


não foi um movimento restrito à capital, sempre mais sensível a
rebeliões populares. Não. As cidades do interior recebiam José da
Penha e seus caravaneiros com o povo nas ruas - homens,
mulheres, crianças -,aclamando-os, cantando o hino da campanha,
desfraldando bandeiras".

A campanha se desenrolar num clima tenso, propício para que se


cometesse violência. Com ameaça de proibição de comícios da
oposição.

José da Penha empolgava com sua oratória que, na opinião de


Câmara Cascudo, "era calorosa e acre, irritada, vergostante,
panfletária, satírica:.

No dia 20 de julho de 1913, ocorreu um tiroteio que durou


quarenta minutos. A casa em que José da Penha estava hospedado
foi cercada pelo Batalhão de Segurança, desde a véspera. No
tiroteio, D. Leontina, companheira de José da Penha, foi ferida. Os
seus adeptos foram presos e logo depois soltos.

A primeira campanha popular terminaria de maneira melancólica.


José da Penha foi abandonado pelo seu próprio candidato que, na
realidade, jamais assumiu a candidatura... Falando sobre o
assunto, Aluízio Alves considera que "a repercussão na imprensa do
Rio, as versões espalhadas de que partira de José da Penha e de
seus amigos, o tiroteio, o incitamento à greve, dias antes, a
fábrica de tecidos, fundada por Juvino Barreto, na Ribeira, foram
os últimos atos necessários para desvendar o mistério: a primeira
campanha popular do Rio Grande do Norte não tinha candidato".

Joaquim Ferreira Chaves partiu, então, sozinho para a eleição, que


se realizou no dia 14 de setembro de 1913.

E, em 27 de setembro de 1913, José da Penha inicia a sua viagem


de volta para o Ceará, via Recife. No Ceará, ele havia sido eleito
deputado estadual.

Pouco depois, Franco Rabelo convocou José da Penha para


combater os adeptos do padre Cícero. No dia 2 de fevereiro de
1914, partiu com duzentos homens para combater mais de mil
guerreiros. Armados e treinados pelo governo federal. Ao se
despedir do povo de Fortaleza, vaticinou: "Vou porque não posso
faltar. É só voltarei vitorioso ou morto".

E foi o que aconteceu. Morreu combatendo. Suas tropas, contudo,


venceram os jagunços, na batalha de Miguel Calmon, no dia 22 de
fevereiro de 1914.

Limite e Charqueada Criam


problema
Publicação: 05 de Maio de 2009 às 00:00
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No século XVIII, o Ceará e o Rio Grande do Norte ainda não tinham
seus limites demarcados.

Mossoró e Açu, quando fundaram as suas primeiras charqueadas, se


tornaram rivais das "oficinas" cearenses. Medidas são tomadas para
acabar com as charqueadas do Rio Grande do Norte, inclusive
fechando os portos de Açu e de Mossoró. As carnes secas só
poderiam ser fabricadas no Ceará. Para fabricá-las, porém, era
necessários o uso do sal produzido no Rio Grande do Norte...

A Câmara de Aracati sugere estender seus limites, penetrando em


território potiguar. O pedido foi indeferido, com a ressalva de que
as vilas limítrofes deveriam concordar com tal medida, caso
contrário, a reivindicação seria levada para a decisão real. Caso as
vilas limítrofes nada obstassem, seria realizada a demarcação.
Aquirás (Ceará) e Açu (RN) protestaram. Contrariando o que ficou
determinado, o ouvidor substituto, Manoel Leocárdio Rademarker,
mandou dar posse dos terrenos em litígio à vila de Aracati,
ignorando os protestos.

Estava criado o problema.

O território limítrofe continuou sem ser demarcado. O Ceará,


porém, não desistiu. Em 1894, volta ao assunto, impetrando uma
ação no Supremo Tribunal, alegando "conflito de jurisdição", que
se transformou posteriormente em "ação de limites".

A 13 de julho de 1901, a Assembléia Estadual do Ceará elevou


Grossos à condição de Vila, em uma área pertencente ao Rio
Grande do Norte: Tibau. Grossos etc. Em seguira, o presidente do
Ceará, Pedro Augusto Borges, sancionou aquela resolução...

Rui Barbosa Defende o Rio


Grande do Norte
Publicação: 05 de Maio de 2009 às 00:00
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O governador potiguar, Alberto Maranhão, protestou. Os norte-rio-
grandenses que moravam na área disputada, reagiram... Os dois
governos (Ceará e Rio Grande do Norte) mandaram tropas para o
local. Prevaleceu, entretanto, o bom sendo e o conflito armado foi
evitado...

A controvérsia foi levada para uma decisão através do


arbitramento, sendo o resultado favorável ao Ceará.

Pedro Velho convidou Rui Barbosa para defender a causa do Rio


Grande do Norte. Narra Nestor Lima: "Assumindo o patrocínio por
parte do Rio Grande do Norte, ele formulou uma memória
exaustiva do assunto, encarando-o sob todos aspectos, chegando
às conclusões magistrais da obra em que se demonstrou, com a
clarividência dos axiomas, a verdade em favor do bom direito ao
Rio Grande do Norte". Foi uma brilhante defesa. Como resultado, o
jurista Augusto Petrônio, através de três acórdãos (30/09/1908,
02/01/1915 e 17/07/1920) deu ganho de causa ao Rio Grande do
Norte, definitivamente.

Tavares de Lyra, uma "Relíquia


Nacional"
Publicação: 05 de Maio de 2009 às 00:00
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Augusto Tavares de Lyra se entusiasmou, ficou totalmente
empolgado com a defesa da causa do Rio Grande do Norte, na
questão de limites com o Ceará, na chamada 'Questão de Grossos".
Foi, na realidade, incansável. Publicou dois estudos, reunidos em
volume, que forneceram importantes subsídios para que Rui
Barbosa elaborasse as suas "Razões Finais".

Augusto Tavares de Lyra nasceu no dia 25/12/1872, em Macaíba.


Filho do coronel Feliciano Pereira e de D. Maria Rosalina.

A respeito desse ilustre filho de Macaíba, Carlos Tavares de Lyra


escreveu: "sóbrio no trajar, de gestos cometidos, palavra fácil, de
limite suave; argumentador seguro, de prodigiosa memória, capaz
de citar fatos e episódios com surpreendente precisão de
pormenores, impressionou, certamente, a todos que tiveram a
fortuna de ouvi-lo; no Parlamento Nacional, no plenário do
Tribunal de Contas, na cátedra de professor, na tribuna ,de
conferencista (...) Homem raro, raríssimo, pelo saber, pelas
virtudes, pela coerência, pela compostura moral, social, política,
de 85 anos lúcidos de vida dedicados à pátria, à cultura, à família
(...). Viveu uma grande e gloriosa vida; uma vida em linha reta,
limpa e clara".

Augusto Tavares de Lyra fez o curso de Humanidades, em Recife.


Em 1892, era bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela
Faculdade de Direito de Recife. Escolheu advogar em Natal, onde
exerceu mais duas profissões: a de jornalista, sendo redator
político do jornal "A República", e a de professor de História Geral
e do Brasil, no Atheneu Norte-rio-grandense, de 1892 a 1894. A
partir dessa data, surgiu no cenário nacional, elegendo-se
deputado federal, cargo que exerceu até o ano de 1904. Foi nesse
período que ele se empolgou com a defesa do seu Estado, na
questão de limites contra o Ceará. Pesquisando, começou a se
interessar pela História e Geografia do Brasil e do Rio Grande do
Norte. Em 1902 já tinha publicado "Questão de Limites entre os
Estados do Ceará e do Rio Grande do Norte". Dois anos mais tarde
publicou "Apontamentos sobre a questão de limites entre o Ceará e
o Rio Grande do Norte".

Em 1904, uma nova experiência: governador do Estado, fazendo


uma grande administração, concluída em 1906. O conselheiro
Afonso Pena, impressionado pela inteligência do orador, resolveu
convidá-lo para ser o futuro ministro de Justiça e Interior. Tavares
de Lyra aceitou o convite, exercendo tal função com eficiência até
1909. Lançou, em 1907, "Algumas notas sobre a História do Rio
Grande do Norte".

Após a morte do presidente Afonso Pena, Tavares de Lyra


abandonou momentaneamente a vida pública.

Em 1910 foi eleito senador da República, deixando a função em


1914 para assumir o ministério da Viação e Obras Públicas, até
1918. Foi na presidência de Venceslau Brás que exerceu por duas
vezes, interinamente, a pasta da Fazenda. Nessa época, publicou
"Domínio Holandês no Brasil especialmente no Rio Grande do
Norte" (1915). Alguns anos depois, em 1921, lançou "História do Rio
Grande do Norte", sua obra mais importante.

No dia 26 de outubro de 1918 foi nomeado ministro do Tribunal de


Contas, tomando posse do cargo em novembro. Em 1940, se
aposentou, justamente quando estava na presidência daquele
Tribunal.

O decreto de 11 de janeiro de 1952, publicado no Diário Oficial,


mandava "inscrever o nome do ministro Augusto Tavares de Lyra no
referido "Livro do Mérito", como merecedor dessa alta distinção,
conforme parecer da competente Comissão".

O presidente Getúlio Vargas considerou Augusto Tavares de Lyra


como "uma relíquia nacional", no discurso que pronunciou no salão
de honra do Palácio do Catete, em cerimônia realizada no dia 15
de agosto de 1953, que oficializou a inscrição do nome do
eminente potiguar no Livro do Mérito. Recebeu congratulações de
expressivas instituições de todo o País.
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro mandou cunhar
medalha de ouro, alusiva aos 80 anos de vida do ministro Tavares
de Lyra. Esse Instituto dedicou ao ilustre potiguar uma edição
especial de sua revista. O Instituto Histórico e Geográfico do Rio
Grande do Norte seguiu o exemplo, dedicando o vol. LII de sua
revista 1a memória do ministro Augusto Tavares de Lyra, em 1959.

Tavares de Lyra faleceu na capital federal no dia 21 de dezembro


de 1958.

Opções do Sertanejo
Abandonado e Pobre
Publicação: 05 de Maio de 2009 às 00:00
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O sertão brasileiro, mais particularmente o interior do Nordeste,
passava por uma crise social sem precedentes durante o final do
século XIX e o início do século XX. O sertanejo se sentia
abandonado pelas autoridades, isolado da civilização, e sofria com
uma infra-estrutura que beneficiava os grandes proprietários das
fazendas, os "coronéis", que se tornaram os donos do sertão. A vida
girava em torno desses "coronéis". Eles protegiam e perseguiam,
mandava e desmandavam. Na política, cometiam todo tipo de
fraude para beneficiar seus candidatos. Em seus territórios,
dependendo da maior ou menor liderança, nada se fazia sem a sua
determinação. Os humildes, portanto, estavam sob o seu domínio.

Os coronéis cometiam arbitrariedades e suas vítimas não tinham a


quem recorrer. "A situação dos pobres do campo no fim do século
XX, e mesmo em pleno século XX, não se diferenciava daquela de
1856. Era mais do que natural, era legítimo, que esses homens sem
terra, sem bens, garantias, buscassem uma "saída" nos grupos de
cangaceiros, beatos e conselheiros, sonhando a conquista de uma
vida melhor. E muitas vezes lutando por ela a seu modo, de armas
nas mãos", comentou Rui Facó.

Coronéis, cangaceiros e fanáticos fazem parte de uma mesma


realidade. Os coronéis organizavam grupos armados para, através
deles, exercerem o poder. Esses homens armados antecederam o
cangaço. No instante em que se libertaram do jugo dos coronéis e
passaram a fazer justiça pelas próprias mãos, se transformaram em
cangaceiros.

Os cangaceiros foram imediatamente classificados de "bandidos",


pelas autoridades e pela elite sertaneja. Na realidade, eles
estavam fora da lei, porque não se enquadravam dentro nas regras
vigentes na região: obediência total aos grandes proprietários.
Alguns fazendeiros de menor prestígio, para fugir dos desmandos
dos "coronéis", faziam aliança com cangaceiros...

Os coronéis podem cometer todo tipo de violência, tomar terras,


cometer assassinatos, sem problemas, porque representavam a
sociedade, uma comunidade machista, a lei, o poder.

As oligarquias se auto-intitulavam defensores dos bons costumes,


contrárias, portanto, à ação dos "bandidos". O que elas defendiam,
na realidade, eram seus bens, uma situação que lhes dava somente
privilégios. Por outro lado, os homens humildes do sertão, rudes,
sem instrução, ofendidos e humilhados, pensando em vingança,
não podiam agir de outra maneira, a não ser através da violência.
O cangaço foi, num certo sentido, um levante contra o absolutismo
dos coronéis, e filho da miséria que reinava numa estrutura
latifundiária obsoleta e injusta.

O pequeno agricultou, o trabalhador do campo, sonhava com um


mundo diferente, onde não houvesse seca, com rios perenes e
onde, sobretudo, ninguém passasse fome e houvesse o império da
justiça... Era o mundo que os "beatos" e místicos prometiam para
seus adeptos. Os trabalhadores rurais queriam dialogar com Deus,
mas não sabiam como agir em busca do caminho que levasse, todos
eles, para o Paraíso. Faltavam, entretanto, sacerdotes. Na
ausência dos padres, homens simples, analfabetos ou não,
impressionados com a realidade em que viviam, apelavam para o
sobrenatural, rezavam e chegavam a imaginar a si próprios
enviados de Deus, para livrar o povo do pecado e da miséria,
através da oração e de sacrifícios... Para eles somente assim os
nordestinos poderiam atingir a felicidade eterna!

Os dois maiores místicos foram: padre Cícero Romão Batista e


Antonio Conselheiro, ambos cearenses! O primeiro exerceu uma
grande influência em todo o Nordeste e ainda hoje mantém
adeptos no Rio Grande do Norte.

Diferente dos demais, o padre Cícero possuía uma grande cultura e


era profundo conhecedor do sertão. Acontece que sua fama de
"milagreiro" despertou uma reação negativa na própria Igreja
Católica.

O padre Cícero é a própria síntese do sertão nordestino: não foi


apenas um fazedor de milagre. Foi muito mais. Com o passar do
tempo, cresceu o seu poder, exercendo grande influência política.
Passou a ser um "coronel". Conviveu com cangaceiros. Teve,
inclusive, um encontro com Lampião, dando-lhe a patente de
capitão. O que muitos não podiam compreender era a sua opção
pelos pobres, provocando um conflito com a ala conservadora da
Igreja. Sobre ele, ponderou Neri Feitosa: "Propôs-se a si mesmo ou
recebeu de Deus a missão de levantar o ânimo do nordestino
humilhado e sofredor, injustificado em seus direitos, embaraçados
na saída do túnel de suas desditas".

Como chefe político, sofreu também oposição daqueles que


seguiram orientação contrária à sua maneira de agir.

O Nordeste, naquela época, era uma região onde predominava a


miséria, ignorância e a violência.

Diante desse quadro, é compreensível que o homem rude, não


fazendo parte dos protegidos dos coronéis, optasse pelo cangaço
para fugir da prepotência dos policiais ou procurasse seguir os
beatos, para se redimir de seus pecados e conseguir, através da
oração e do sacrifício, atingir a felicidade eterna...

Os cronistas urbanos, quase sempre combatiam a ação dos


assaltantes, enquanto os cantadores, geralmente exaltavam os
cangaceiros e também os místicos.

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