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Dentre as espécies pertencentes à flora da Caatinga, podemos citar o mandacaru, o


umbuzeiro e o juazeiro. Dentre as espécies pertencentes à fauna, podemos citar o
gavião-carcará, o mocó e a arara-azul-de-lear. Algumas espécies pertencentes à
Caatinga encontram-se em risco de extinção ou foram extintas, assim, são
importantes medidas de preservação para esse bioma, que é o menos protegido do
Brasil.

Na seca, a vegetação da Caatinga perde suas folhas, apresentando apenas os troncos


brancos.
Características gerais da Caatinga
A Caatinga é o único bioma cujos limites encontram-se totalmente dentro de
território brasileiro, ocupando uma área de cerca de 750 mil a 1 milhão de km², o
que corresponde a cerca de 10% do território brasileiro. Ela está distribuída
principalmente na região Nordeste do país, estando presente nos estados do Rio
Grande do Norte, Bahia, Ceará, Piauí, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e
apresentando uma faixa que se estende pelo estado de Minas Gerais. Possui um clima
semiárido, com temperaturas anuais elevadas e uma seca prolongada e cíclica. A
pluviosidade é de cerca de 500 mm a 1000 mm anuais, concentrada em uma estação com
duração de três a cinco meses. Em seu relevo predominam-se planaltos e chapadas e
seu solo é raso e pedregoso.

Flora da Caatinga
A flora da Caatinga é constituída por uma vegetação xerofítica, com adaptações para
desenvolver-se no clima semiárido. A vegetação é constituída por árvores de pequeno
porte e arbustos de troncos retorcidos com a presença de espinhos e que, durante a
seca, perdem suas folhas, sendo observada apenas a presença dos troncos brancos e
brilhosos, como se a mata estivesse morta. Apenas algumas plantas não perdem suas
folhas, como é o caso do juazeiro.

Além disso, é observada a presença de plantas que armazenam água, como as


cactáceas. Dentre elas podemos destacar a coroa-de-frade, o facheiro, o xique-xique
e o mandacaru, um dos símbolos desse bioma. A perda das folhas e a presença de
espinhos são adaptações dessas plantas contra a perda de água.

Além das plantas citadas, podemos destacar a presença de algumas plantas típicas,
como:

o umbuzeiro
o jatobá
a baraúna
a maniçoba
a mimosa
a aroeira
a macambira
Entre as inúmeras espécies de plantas encontradas na Caatinga, cerca de 323
espécies são endêmicas.

As cactáceas são plantas típicas desse bioma e apresentam a capacidade de armazenar


água em seus tecidos.
Fauna da Caatinga
A fauna da Caatinga é bastante diversificada, apresentando diversas espécies de
répteis (cerca de 97 espécies), anfíbios (cerca de 45 espécies), aves (mais de 200
espécies) e mamíferos (cerca de 178 espécies). Muitas das espécies de animais
encontradas na Caatinga são endêmicas, sendo 13 espécies de mamíferos, 23 de
lagartos, 20 de peixes e 15 de aves.

Dentre as espécies de animais que podem ser encontradas nesse bioma, podemos citar:

o sapo-cururu
a jiboia
a cascavel
o mocó
o preá
o tatú-peba
o gambá
o veado-catingueiro
o gato-do-mato
o galo-da-campina
o gavião-carcará
a asa-branca
Quando falamos em aves, é importante destacarmos a ararinha-azul (Cyanopsitta
spixii) e a arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari). A ararinha-azul habitava a
região da Caatinga, no entanto, o último exemplar foi visto na natureza no ano
2000, assim, essa espécie é considerada extinta. Já a arara-azul-de-lear encontra-
se em risco de extinção, com cerca de 150 exemplares.

A arara-azul-de-lear é uma ave da Caatinga que se encontra em risco de extinção.


Conservação da Caatinga
A Caatinga vem sofrendo ao longo do tempo com o processo de desmatamento,
principalmente para o uso do solo. Dentre as atividades realizadas nesse ambiente,
destaca-se a plantação da cana-de-açúcar. Com isso, diversas espécies são afetadas
pela destruição de seu habitat, podendo inclusive chegarem à extinção. Além do
desmatamento, a região sofre com os efeitos do aquecimento global. A redução nos
regimes de chuvas pode afetar de tal modo essa região do semiárido ao ponto de
transformá-la em deserto.

A Caatinga é o bioma menos protegido no Brasil, tendo menos de 2% de seu território


ocupado por áreas de conservação. É essencial a elaboração de medidas públicas para
a conservação desse bioma tão diverso e importante para que casos como o da
ararinha-azul citada não voltem a acontecer.

Ocupando quase 10% do território nacional, com 736.833 km², a Caatinga abrange os
estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas,
Bahia, sul e leste do Piauí e norte de Minas Gerais.

Ocupando quase 10% do território nacional, com 736.833 km², a Caatinga abrange os
estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas,
Bahia, sul e leste do Piauí e norte de Minas Gerais. Região de clima semi-árido e
solo raso e pedregoso, embora relativamente fértil, o bioma é rico em recursos
genéticos dada a sua alta biodiversidade. O aspecto agressivo da vegetação
contrasta com o colorido diversificado das flores emergentes no período das chuvas,
cujo índice pluviométrico varia entre 300 e 800 milímetros anualmente.
A Caatinga apresenta três estratos: arbóreo (8 a 12 metros), arbustivo (2 a 5
metros) e o herbáceo (abaixo de 2 metros). A vegetação adaptou-se ao clima seco
para se proteger. As folhas, por exemplo, são finas ou inexistentes. Algumas
plantas armazenam água, como os cactos, outras se caracterizam por terem raízes
praticamente na superfície do solo para absorver o máximo da chuva. Algumas das
espécies mais comuns da região são a amburana, aroeira, umbu, baraúna, maniçoba,
macambira, mandacaru e juazeiro.

No meio de tanta aridez, a Caatinga surpreende com suas "ilhas de umidade" e solos
férteis. São os chamados brejos, que quebram a monotonia das condições físicas e
geológicas dos sertões. Nessas ilhas é possível produzir quase todos os alimentos e
frutas peculiares aos trópicos do mundo. Essas áreas normalmente localizam-se
próximas às serras, onde a abundância de chuvas é maior.

Através de caminhos diversos, os rios regionais saem das bordas das chapadas,
percorrem extensas depressões entre os planaltos quentes e secos e acabam chegando
ao mar, ou engrossando as águas do São Francisco e do Parnaíba (rios que cruzam a
Caatinga). Das cabeceiras até as proximidades do mar, os rios com nascente na
região permanecem secos por cinco a sete meses do ano. Apenas o canal principal do
São Francisco mantém seu fluxo através dos sertões, com águas trazidas de outras
regiões climáticas e hídricas.

Quando chove, no início do ano, a paisagem muda muito rapidamente. As árvores


cobrem-se de folhas e o solo fica forrado de pequenas plantas. A fauna volta a
engordar. Na Caatinga vive a ararinha-azul, ameaçada de extinção. O último exemplar
da espécie vivendo na natureza não foi mais visto desde o final de 2000. Outros
animais da região são o sapo-cururu, asa-branca, cotia, gambá, preá, veado-
catingueiro, tatu-peba e o sagüi-do-nordeste, entre outros.

Cerca de 20 milhões de brasileiros vivem na região coberta pela Caatinga, em quase


800 mil km2 de área. Quando não chove, o homem do sertão e sua família precisam
caminhar quilômetros em busca da água dos açudes. A irregularidade climática é um
dos fatores que mais interferem na vida do sertanejo.

Mesmo quando chove, o solo pedregoso não consegue armazenar a água que cai e a
temperatura elevada (médias entre 25°C e 29°C) provoca intensa evaporação. Na longa
estiagem os sertões são, muitas vezes, semidesertos que, apesar do tempo nublado,
não costumam receber chuva.

Caatinga
Lana Magalhães Lana Magalhães Professora de Biologia

Caatinga é um bioma brasileiro que apresenta clima semiárido, vegetação com pouca
folhas e adaptadas para os períodos de secas, além de grande biodiversidade.

Esse bioma é encontrado em áreas do Nordeste do Brasil, nos estados do Maranhão,


Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e
parte de Minas Gerais. Toda essa área abrange cerca de 844 mil km2, ou seja, 11% do
território brasileiro.

O nome Caatinga significa, em tupi-guarani, "mata branca". Esse nome faz referência
a cor predominante da vegetação durante a estação de seca, onde quase todas as
plantas perdem as folhas para diminuir a transpiração e evitar a perda de água
armazenada. No inverno, devido a ocorrência de chuva, as folhas verdes e as flores
voltam a brotar.

Apesar de sua importância ecológica, calcula-se que 40 mil km2 da Caatinga já foram
transformados em quase deserto, o que é explicado pelo corte da vegetação para
servir como lenha e pelo manejo inadequado do solo.

Vegetação
Vegetação da Caatinga
Vegetação típica da Caatinga
A vegetação da caatinga constitui um tipo de vegetação adaptada à aridez do solo e
a escassez de água da região. Dependendo das condições naturais das áreas em que se
encontram, apresentam diferentes características.

Quando as condições de umidade do solo são mais favoráveis, a caatinga se assemelha


à mata, onde são encontradas árvores como o juazeiro, também conhecido por joá, ou
laranjeira do vaqueiro, a aroeira e a baraúna.

Nas áreas mais secas, de solo raso e pedregoso, a caatinga se reduz a arbustos e
plantas tortuosas, mais baixas, deixando o solo parcialmente descoberto.

Nas regiões mais secas aparecem também plantas cactáceas, como o facheiro, o
mandacaru, o xique-xique, que servem de alimento para os animais, na época de seca,
e as bromeliáceas (macambira).

Algumas palmeiras e o juazeiro, que possuem raízes bem profundas para absorver água
do solo, não perdem as folhas.

Outras plantas possuem um mecanismo fisiológico, o xeromorfismo, produção de uma


cera que reveste suas folhas que faz que percam menos água na transpiração, um
exemplo é a carnaubeira denominada "árvore da vida" ou árvore da providência, pois
tudo dela se aproveita.

A maioria das espécies tem espinhos, o que leva o vaqueiro da região usar roupa de
couro, para sua proteção.

Leia também sobre Flora da Caatinga.

Fauna
Ararinha-azul
A ararinha-azul é uma ave símbolo da Caatinga
A Caatinga abriga um grande número de espécies da fauna brasileira, como,
mamíferos, répteis, aves, anfíbios, entre eles, a cutia, o gambá, o preá, o veado-
catingueiro, o tatu-peba, gatos selvagens, a asa branca, e uma variedade de
insetos, que exercem grande importância para o bioma.

Entre as espécies que habitam a caatinga e estão ameaçadas de extinção podem ser
citadas a ararinha azul, o tamanduá-bandeira, o tatu-canastra, o cachorro do mato,
a águia-cinzenta, o lobo-guará, entre outras.

Clima da Caatinga
Ameaças
Como acontece em muitos outros biomas, a Caatinga também sofre com uma série de
ameaças que comprometem a conservação da sua biodiversidade, sendo que um desses
riscos acontece por causa do tráfico de animais.

Dentre as principais ações responsáveis pela destruição da Caatinga estão:


desmatamento, queimadas, exploração dos recursos naturais e mudanças no uso do
solo.

Os órgãos ambientais do setor federal estimam que mais de 46% da área da Caatinga
já foi desmatada. Vale ressaltar que muitas espécies são endêmicas desse bioma, ou
seja, ocorrem apenas lá. Por isso, uma das formas de evitar o desaparecimento das
espécies é criar novas unidades de conservação na área.

Curiosidade
O "Dia da Caatinga" é comemorado desde 2003, no dia 28 de abril. Essa data
representa o nascimento do ecólogo João Vasconcelos Sobrinho (1908-1989), pioneiro
nos estudos do bioma.

Flora da Caatinga
A flora da Caatinga é constituída por uma vegetação xerofítica, com adaptações para
desenvolver-se no clima semiárido. A vegetação é constituída por árvores de pequeno
porte e arbustos de troncos retorcidos com a presença de espinhos e que, durante a
seca, perdem suas folhas, sendo observada apenas a presença dos troncos brancos e
brilhosos, como se a mata estivesse morta. Apenas algumas plantas não perdem suas
folhas, como é o caso do juazeiro.

Além disso, é observada a presença de plantas que armazenam água, como as


cactáceas. Dentre elas podemos destacar a coroa-de-frade, o facheiro, o xique-xique
e o mandacaru, um dos símbolos desse bioma. A perda das folhas e a presença de
espinhos são adaptações dessas plantas contra a perda de água.

Fauna da Caatinga
A fauna da Caatinga é bastante diversificada, apresentando diversas espécies de
répteis (cerca de 97 espécies), anfíbios (cerca de 45 espécies), aves (mais de 200
espécies) e mamíferos (cerca de 178 espécies). Muitas das espécies de animais
encontradas na Caatinga são endêmicas, sendo 13 espécies de mamíferos, 23 de
lagartos, 20 de peixes e 15 de aves.

Dentre as espécies de animais que podem ser encontradas nesse bioma, podemos citar:

o sapo-cururu
a jiboia
a cascavel
o mocó
o preá
o tatú-peba
o gambá
o veado-catingueiro
o gato-do-mato
o galo-da-campina
o gavião-carcará
a asa-branca
Quando falamos em aves, é importante destacarmos a ararinha-azul (Cyanopsitta
spixii) e a arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari). A ararinha-azul habitava a
região da Caatinga, no entanto, o último exemplar foi visto na natureza no ano
2000, assim, essa espécie é considerada extinta. Já a arara-azul-de-lear encontra-
se em risco de extinção, com cerca de 150 exemplares.

A arara-azul-de-lear é uma ave da Caatinga que se encontra em risco de extinção.


Conservação da Caatinga
A Caatinga vem sofrendo ao longo do tempo com o processo de desmatamento,
principalmente para o uso do solo. Dentre as atividades realizadas nesse ambiente,
destaca-se a plantação da cana-de-açúcar. Com isso, diversas espécies são afetadas
pela destruição de seu habitat, podendo inclusive chegarem à extinção. Além do
desmatamento, a região sofre com os efeitos do aquecimento global. A redução nos
regimes de chuvas pode afetar de tal modo essa região do semiárido ao ponto de
transformá-la em deserto.

A Caatinga é o bioma menos protegido no Brasil, tendo menos de 2% de seu território


ocupado por áreas de conservação. É essencial a elaboração de medidas públicas para
a conservação desse bioma tão diverso e importante para que casos como o da
ararinha-azul citada não voltem a acontecer.

O nome Caatinga vem do tupi-guarani e significa mata branca, uma referência à cor
dos troncos das plantas que perdem sua folhagem nos períodos mais secos. Nesse
bioma, o único exclusivamente brasileiro, pode-se aprender muito sobre resistência.
Em meio à paisagem seca em tempos de aridez, basta um pouco de chuva para tudo
ficar verde, florescer e germinar, fazendo a vida pulsar mais forte.

Ao contrário da imagem propagada de isolamento e solo rachado, a Caatinga abriga


uma grande diversidade de paisagens, povos e espécies da fauna e flora, ainda pouco
conhecidos por grande parte da população. Esse bioma tem uma importância
fundamental para a biodiversidade do planeta, pois 33% de sua vegetação e 15% de
seus animais são espécies exclusivas (endêmicas), que não existem em nenhuma outra
parte do mundo.

A Caatinga ocupa a área do Semiárido brasileiro, além de zonas de transição onde há


a interferência da vegetação de outros biomas¹. Em relação ao seu tamanho, ocupa
uma área² de quase 850 mil km², cerca de 10% do território nacional³, e está
presente nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas,
Sergipe, Bahia, Pernambuco e no norte de Minas Gerais. Apesar de sua importância, a
Caatinga possui 46% de sua área desmatada, o terceiro bioma mais degradado do
Brasil, atrás da Mata Atlântica e do Cerrado.

No que se refere à complexidade socioambiental, esse bioma está na região semiárida


mais povoada do mundo e detém a população mais pobre do Brasil. Esse quadro
ocasiona diversos problemas sociais, como condições de vida difíceis, desemprego e
alto índice de mortalidade infantil⁴.

Uma solução necessária para aqueles que vivem no Semiárido é saber tirar bom
proveito da Caatinga, o que resulta em profundo conhecimento sobre diferentes usos
da vegetação nativa, fundamental para a segurança e soberania alimentar e
nutricional, e para a geração de emprego e renda da população. As áreas em que as
comunidades vivem por meio do uso sustentável da biodiversidade possibilitam a
manutenção dos serviços ecossistêmicos fundamentais para a qualidade de vida e o
desenvolvimento econômico⁵.

O clima da Caatinga é o semiárido, o que carrega também importante conceito


político. Com chuvas irregulares ocasionando longos períodos de estiagem, as
populações da Caatinga precisaram aprender a conviver com essa característica. Isso
exigiu a luta e mobilização social por políticas que garantissem condições de vida
digna na região, como os programas de difusão de tecnologias de convivência com o
Semiárido. Uma das mais difundidas são as cisternas, que armazenam as águas das
chuvas para os períodos de estiagem, permitindo a produção da agricultura familiar
durante todo o ano.

Falando em tecnologias, há de se reconhecer que os povos desse bioma, talvez pela


pressão das tormentas da vida, têm uma criatividade para além da imaginação. Um
povo que consegue criar meios para conviver com o clima árido com o que tiver
disponível. Assim, geralmente com poucos recursos, dão um jeito de conseguir
aproveitar a pouca quantidade de água, armazenam de algum outro jeito e depois
ainda inventam mais um forma de reaproveitá-la. No quesito criatividade, esse povo
vai além, com as chamadas “engenhocas”, como bombas de água alternativas que não
necessitam energia e sistemas de irrigação caseiros.

Desse jeito a população da Caatinga vai mostrando sua força. Suas expressões
culturais diversas dão conta de passar o recado. Mostram sua realidade, brincam com
as palavras, fazendo com que a vida árida ganhe graça e alegria. A resistência do
bioma se confunde com a resistência do seu povo, que vem construindo um novo canto
sobre a Asa Branca. Onde antes só havia “terra ardendo e nem um pé de plantação”⁶,
agora tem também abundância e tem fartura na produção. Tem alimento para sobreviver
e também para vender. O povo antes judiado pela seca, aprendeu com a conviver com a
Caatinga.

Como bem disse a Declaração do Semiárido de 1999⁷, o sertão deve ser visto para
além das imagens eternizadas de quando a seca castiga, aquelas grandes áreas de
chão rachado, água turva e crianças passando fome. Essas imagens servem para dar o
sinal de alerta, mas reduzem a realidade da Caatinga que, para além de suas aridez,
é fonte de cultura e de criatividade. Que também esse bioma seja assim lembrado,
porque enquanto a terra arde e a asa branca já não canta, tem uma voz que faz
mostrar o seu encanto e uma mão que faz o sertão verdejar e o sertanejo se
alimentar
Referências:
(1) ARAÚJO FILHO, José Coelho de. Relação solo e paisagem no bioma Caatinga. In:
Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada, 14., 2011, Dourados: UFGD, 2011.
Disponível em <ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/38909/1/Coelho-XIV-
SBGFA-1.pdf>. Acesso em 18 jan. 2020.
(2) MMA. Unidades de conservação e Terras Indígenas do bioma Caatinga. The Nature
Conservancy, Ministério do meio Ambiente. Brasília: 2008. Disponível em
<www.mma.gov.br/estruturas/203/_arquivos/mapa_das_ucs.pdf>. Acesso em 18 jan. 2020.
(3) Caatinga. Ministério do Meio Ambiente. Disponível em
<www.mma.gov.br/biomas/Caatinga>. Acesso em 18 jan. 2020.
(4) IBGE/MMA. Mapa de biomas do Brasil – Primeira aproximação, 2004. Disponível em
< brasilemsintese.ibge.gov.br/territorio.html>. Acesso em 18 jan. 2020.
(5) XAVIER, Josilda Batista Lima Mesquita. Representações sociais e saberes de
mulheres quilombolas: tessituras e vida no bioma Caatinga. Tese (Doutorado) –
Universidade do Estado da Bahia (UNEB|). Programa de Pós-Graduação em Educação e
Contemporaneidade. Salvador, 2017. Disponível em
<www.cdi.uneb.br/site/wp-content/uploads/2017/11/VOLUME-Ie-II_TESE-
FINAL_CD.docx.pdf>. Acesso em 18 jan. 2020.
(6) Fragmentos da música “Asa Branca” de Luiz Gonzaga.
(7) Declaração do Semiárido – propostas da Articulação no Semiárido Brasileiro para
a convivência com o semiárido e combate à desertificação. Recife: 1999. Disponível
em <www.mma.gov.br/estruturas/sedr_desertif/_arquivos/declaracao_semiarido.doc>.
Acesso em 31 dez. 2019.

Povos e Comunidades Tradicionais da Caatinga

O Semiárido brasileiro, com sua paisagem mais aberta, se tornou propício para o
estabelecimento de populações humanas, cujos meios de vida as permitiram sobreviver
e reproduzir mesmo em meio à aridez¹. Certamente há um conhecimento acumulado por
gerações que permitiu o lidar com as condições adversas, como saber otimizar o
aproveitamento de água, o manejo de caprinos “pé duro” (raça crioula resultante de
seleção natural), a ampla utilização da flora (alimentação, saúde, ração animal
etc.) e o uso de sementes crioulas, com espécies mais adaptadas às peculiaridades
regionais.
Os povos da Caatinga, conhecidos como catingueiros, são sertanejos, vaqueiros,
agricultores, populações indígenas, quilombolas, entre outros. O bioma é o berço de
comunidades tradicionais, como os índios Tumbalala, os Xukurus e os Pankararu, e os
quilombolas de Conceição das Crioulas. Estes grupamentos humanos desenvolveram suas
próprias estratégias de sobrevivência e convivência com as condições da Caatinga.
São guardiões do conhecimento sobre o manejo de plantas, de suas propriedades e
usos medicinais, sobre a milenar técnica de busca de águas subterrâneas com
forquilhas (conhecida como hidroestesia²) e sobre os sinais da natureza que
antecedem as secas prolongadas e as chuvas.

A Caatinga e os sertanejos ficaram mais conhecidos pelo Brasil e o mundo a partir


de uma história ícone dos sertões, a do temido cangaceiro Virgulino Ferreira da
Silva³, mais conhecido como Lampião ou o “Rei do Cangaço”. Apesar de ser uma
história marcada por conflitos e muito sangue, há de se reconhecer que Lampião
difundiu a imagem do sertão. Já se passaram mais de 80 anos após sua morte e ele
continua presente em cantigas sertanejas, nas vestimentas ornadas, na literatura de
cordel, no teatro, no cinema, em escolas e museus.

Semelhante aos sertanejos, estão aqueles conhecidos pelos trajes de couro (que os
protegem da vegetação espinhosa e do sol quente) e por percorrer o sertão a cavalo
e cuidar de gado: os vaqueiros⁴. O grande desafio deles é a busca por água, o que
faz com que percorram grandes distâncias até onde haja uma fonte para os animais. O
vaqueiro é tão importante no cenário da Caatinga, que até possui um dia nacional,
20 de julho, bem como celebrações tradicionais como as vaquejadas, uma forte
expressão popular da Caatinga.

Segundo a Carta dos povos Indígenas do Cerrado e da Caatinga⁵, habitam hoje na


Caatinga, 45 povos indígenas com uma população em torno de 90 mil habitantes,
distribuídos em 36 Terras Indígenas, e que ocupam uma área de quase 140 mil
hectares. Dentre elas, as de maior tamanho são: a Terras Indígenas Kambiwá e a
Xukuru, em Pernambuco, e Pankararé e Brejo do Burgo, na Bahia, que juntas totalizam
aproximadamente 107 mil ha.

Kambiwá é a maior terra indígena no bioma e está localizada no estado de


Pernambuco, com pouco mais de 31 mil hectares⁶. Esse povo, assim como muitos outros
que habitam os sertões, desde o século XVII, foi expropriado de sua terra para a
constituição de fazendas⁷. Com isso, buscaram abrigo nos brejos e na região de
Serra Negra. Atualmente, contabilizam uma população de aproximadamente 3 mil
indígenas e vivenciam um processo de resgate de sua identidade étnica.

Os indígenas da Caatinga, a exemplo do que também ocorre nos demais biomas, vivem
em áreas reduzidas e sofrem intensas pressões que ocasionam graves impactos
sociais, culturais e ambientais. Uma lástima, pois cada grupo indígena possui suas
características peculiares, riquezas culturais e seus modos de vida em harmonia com
a natureza. Na Caatinga estão presentes os Atikum, Fulni-ô, Jenipapo-Kanindé,
Jiripancó, Kariri-Xokó, Kantaruré, Kiriri, Kaimbé, Kambiwá, Kapinawá, Pankararé,
Pankararu, Pitaguary, Potiguara, Pipipan, Tingui Botó, Tremembé, Tucumanduba,
Truká, Tumbalalá, Tuxá, Xakriabá, Xukuru Kariri, Xocó, entre outros muitos povos
indígenas, raízes do povo brasileiro.

Embora presentes em maiores quantidades no Cerrado, na Caatinga também há as


comunidades de Fundos e Fechos de Pasto. Sua origem no bioma remonta o período
colonial, quando no Vale do São Francisco, com os antigos currais de Garcia
D’Ávila, no oeste da Bahia, desenvolviam criação de pequenos animais e cultivo de
subsistência, podiam caçar, pescar e coletar outros alimentos, principalmente
frutos⁸. O modo de vida dessas comunidades está baseado na utilização de áreas de
pastoreio comuns para a criação de bovinos, caprinos e/ou ovinos e extrativismo de
plantas alimentícias e medicinais.
Há ainda os povos cujos ofícios os denominam. É o caso dos pescadores artesanais,
presentes tanto em rios quanto nos açudes da Caatinga, os quais o labor da pesca
possui um significado muito maior, envolve laços de identidade, pertencimento,
respeito e conhecimento dos espaços em que ocupam. Somente na Bahia são ao menos
130 comunidades de pescadores artesanais, localizadas próximos aos rios do estado,
principalmente no São Francisco e no Paraguaçu⁹.

Não exatamente um povo, mas um tipo de caatingueiro que vale destaque quando se
pensa no sertão, são aqueles que sabem ver os sinais e prever as chuvas, o chamados
“Profetas do sertão”, cada qual com seus conhecimentos, alguns passados ao longo
das gerações, ou mesmo fruto de visões e sonhos. Há de se admirar que anualmente,
desde 1996, existe o Encontro de Profetas Populares10, cujo desafio é prever se o
ano vai ser de fartura ou de seca.

Cabe, ainda, enaltecer o papel da mulher no contexto da Caatinga. É comum


noticiarem as secas com imagens de mulheres carregando grandes bacias ou latas na
cabeça. Certamente, por estarem em contato próximo com a água, desempenhando suas
atividades produtivas nos quintais e no cotidiano familiar, as mulheres possuem
papel fundamental na convivência com o Semiárido.

Historicamente as mulheres passaram (e ainda passam) por muitas condições de


desigualdade, subordinadas em relação aos homens nos diferentes espaços, seja nas
suas famílias, no trabalho e na política. Pouco a pouco vê-se no contexto da
Caatinga esse quadro mudando, com as mulheres unindo-se em coletivos e
protagonizando suas lutas para garantir seu direitos, como acesso à água e
alimentos, em quantidade e qualidade; acesso à terra; trabalho e renda; educação;
saúde11 e outros. Esses coletivos têm desempenhado papel fundamental para a
autoestima das mulheres e para geração de trabalho e renda com uso sustentável da
Caatinga. São diversas cooperativas e associações de mulheres, clube de mães, entre
outros, que desempenham com muito profissionalismo atividades como: plantios de
quintais produtivos; beneficiamento de frutos nativos; produção de artesanatos,
cosméticos, e muitas outras. O fortalecimento dessas instituições têm propiciado um
protagonismo ainda maior dessas mulheres guerreiras, que vêm levando sua voz em
diferentes espaços de tomada de decisão, garantindo melhores condições de vida para
suas famílias e comunidades.

A Caatinga e seus mistérios,


suas secas, suas plantas e seu povo.
Falta chuva, falta água,
mas chove coragem.
Nesse povo que leva a vida
Do jeito que a vida leva.
Assim como as plantas,
No sertão se adaptou.
E deu frutos, filhos, terras, lutas, histórias
e o suor que a terra molhou.
Elisa Sette
Referências:
(1) ALBUQUERQUE, Ulysses Paulino de; MELO, Felipe P. L.. Socioecologia da Caatinga.
Cienc. Cult., São Paulo , v. 70, n. 4, p. 40-44, Out. 2018 . Disponível em
<http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-
67252018000400012>. Acesso em 31 dez. 2019.
(2) GNADLINGER, João. A busca da água no serão com a vara indicadora um introdução
à hidroestesia. Juazeiro, BA: IRPAA, 2001. 33p. Disponível em
<irpaa.org/fotos/file/a_busca_da_agua_com_a_vara_indicadora.pdf>. Acesso em 31 dez.
2019.
(3) AINSENCHER, Semira Adler. Lampião (Virgulino Ferreira da Silva). Pesquisa
Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em
<basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar./index.php?option=com_content&id=320>.
Acesso em 31 dez. 2019.
(4) MACHADO, Regina Coeli Vieira. Vaqueiro do Nordeste Brasileiro. Pesquisa Escolar
Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em
<basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?
option=com_content&view=article&id=132&Itemid=1>. Acesso em 31 dez. 2019.
(5) Carta dos Povos Indígenas do Cerrado e da Caatinga – Desafios para a Gestão
Ambiental e Territorial das Terras Indígenas. Fundação Nacional do Índio – Funai.
01. Out. 2018. Disponível em <www.funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/5058-
carta-dos-povos-indigenas-do-Cerrado-e-da-Caatinga-desafios-para-a-gestao-
ambiental-e-territorial-das-terras-indigenas>. Acesso em 31 dez. 2019.
(6) MMA. Unidades de conservação e Terras Indígenas do bioma Caatinga. The Nature
Conservancy, Ministério do meio Ambiente. Brasília: 2008. Disponível em
<www.mma.gov.br/estruturas/203/_arquivos/mapa_das_ucs.pdf>. Acesso em 18 jan. 2020.
(7) FIALHO, Vânia; BARBOSA, Wallace de Deus. Kambiwá. Povos Indígenas no Brasil –
portal do Instituto Socioambiental (ISA). Disponível em
<pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kambiw%C3%A1>. Acesso em 18 jan. 2020.
(8) Articulação Fundo de Pasto apresenta contribuições das comunidades para
preservação da Caatinga. IRPAA Convivência com o Semiárido. 30. Nov. 2011.
Disponível em <irpaa.org/noticias/374/articulacao-fundo-de-pasto-apresenta-
contribuicoes-das-comunidades-para-preservacao-da-Caatinga>. Acesso em 18 jan.
2020.
(9) RIOS, Kássia Aguiar Norberto Rios. Comunidades tradicionais pesqueiras da
Bahia: um histórico de contradições e resistência. XXIII Encontro Nacional de
Geografia Agrária. Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão/SE: nov. 2006.
Disponível em
<geografar.ufba.br/sites/geografar.ufba.br/files/rios_comunidades_tradicionais_pesq
ueiras_da_bahia_contradicoes_e_resistencia_enga2016_0.pdf>. Acesso em 18 jan. 2020.
(10) MARREIRO, Flávia. Sinas da Natureza – Profetas do sertão miram o horizonte
para farejar chuva. Folha de S. Paulo. 18. Jan. 2004. Disponível em
<www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1801200406.htm>. Acesso em 18 jan. 2020.
(11) CONTI, Irio Luiz; SCHROEDER, Edni Oscar. Convivência com o Semiárido
Brasileiro: Autonomia e Protagonismo Social. Fundação de Apoio da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul – FAURGS, REDEgenteSAN, Instituto Ambiental Brasil
Sustentável – IABS, Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o
Desenvolvimento – AECID, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome –
MDS / Editora IABS, Brasília-DF, Brasil – 2013. Disponível em
<www.asabrasil.org.br/images/UserFiles/File/convivenciacomosemiaridobrasileiro.pdf>
. Acesso em 31 dez. 2019.

Convivência com o Semiárido


duas mulheres conversam na beira da cisterna
O clima da Caatinga é semiárido, o que influencia diretamente a disponibilidade
hídrica da região. Este tipo climático é marcado por baixa umidade e irregularidade
de chuvas, com longos períodos de escassez pluviométrica – que podem chegar a oito
ou nove meses. Essa característica influencia os rios, em sua maioria
intermitentes, que secam em algumas épocas, e interferem no ambiente e nos seus
povos de uma forma bastante particular. Os principais rios perenes da Caatinga são
o São Francisco e o Parnaíba.

As secas sempre ocorreram no Nordeste, no entanto, ela se tornou mais grave para as
populações, tornando-as mais vulneráveis, conforme modificações na paisagem foram
feitas, com o estabelecimento de fazendas e a realização de desmatamentos para a
agropecuária. Grandes períodos de secas foram, ao longo da história, responsáveis
por dizimar populações e inúmeros animais, e promover êxodos rurais.

Desde 1859, há registro de intervenções do governo brasileiro para lidar com essas
questões¹. Após a extensa seca de 1877 a 1879, foram recomendadas a construção de
açudes (que serviriam para armazenar água, tornando-a disponível nos anos de seca)
e a transposição do Rio São Francisco para bacias temporárias do Ceará. Esse rio,
conhecido como Velho Chico, nasce em Minas Gerais, mas 80% de suas águas estão na
Caatinga. Conhecido como um dos mais importantes rios do Brasil, é a via navegável
mais relevante da região.

Concretizando as recomendações feitas ainda no século XIX, o primeiro grande açude


foi concluído em 1906, estratégia essa que foi replicada ao longo dos anos e nos
diferentes estados. Os açudes foram, então, se consolidando como uma infraestrutura
necessária para que a população tivesse acesso à água, frente à realidade de secas
e rios intermitentes. Atualmente, são contabilizados 70.000 açudes construídos² no
Semiárido (por governos federais, estaduais e municipais, particulares e de
cooperação), tornando a região com maior número de reservatórios dessa natureza do
planeta. São aproximadamente 37 bilhões de m³ de água, um terço do que o São
Francisco despeja anualmente no Atlântico.

A outra recomendação – a transposição do Rio São Francisco – é ainda hoje um tema


controverso. Iniciadas em 2007, as obras da transposição visam direcionar água do
rio para reservatórios no Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba. Segundo
a Agência Brasil, até 2019 os investimentos nesse projeto já somavam R$1,4 bilhão³.
O maior projeto hídrico já realizado pelo governo brasileiro foi previsto para
inaugurar em 2012, adiado para 2016, mas ainda hoje não foi concluído⁴. Estima-se
que com as obras concluídas, 12 milhões de pessoas serão beneficiadas com acesso
regular à água.

Algumas dessas políticas, no entanto, são expressão do que veio a ser denominado
como “indústria da seca”. A seca vista como algo a ser combatido, cujas respostas
se limitam à construção de grandes empreendimentos, que acabam por beneficiar a
minoria rica às custas da maioria mais pobre⁵. Essa “indústria” contribuiu para um
aumento da concentração de terras e da água por grandes proprietários e da fome e
miséria. Muitos poços e açudes eram construídos em propriedades privadas, o que fez
essa associação da concentração de terras com a das águas. Com esse fato, as
medidas eram paliativas e se preocupavam em unicamente aumentar a disponibilidade
de água, sem considerar o contexto socioestrutural do semiárido. A agenda da seca
era sempre pautada como resultado de aspectos naturais do clima da região, onde as
verdadeiras causas não eram colocadas em discussão⁶.

Certamente é uma combinação de fatores que agrava a questão da seca. Se por um lado
há alta insolação e alta taxa de evaporação, por outro, há pouca quantidade de
chuvas e solos com rochas praticamente impermeáveis – que não possibilitam a
estocagem natural de água⁶. Ou seja, quando a chuva cai, a maior parte dela
evapora, em vez de infiltrar no solo. Por esse motivo, os açudes permitem
aproveitar a água não infiltrada, tornando-a disponível para uso por um espaço
maior de tempo. No entanto, somente a água dos açudes, muitas vezes, não é
suficiente para garantir seu fornecimento a todos. Com isso faz-se necessário a
adoção de outras medidas para permitir uma convivência com o Semiárido com
qualidade de vida.

O termo acima mencionado surgiu para conceituar que, sim, conviver com o Semiárido
é possível, pois não é possível combater a seca, ela é inerente àquela região. Uma
proposta de desenvolvimento que tenha como base a viabilidade de se viver nessa
realidade, cabendo aos habitantes o direito a políticas efetivas de desenvolvimento
econômico e humano, ambiental e cultural, científico e tecnológico para lidar com
essa realidade. Em outras palavras, o Semiárido é viável quando existe vontade
individual, coletiva e política para isso. Segundo a Declaração do Semiárido⁷,
devem ser tomadas medidas, como: viabilizar o conviver com as secas; orientar os
investimentos no sentido da sustentabilidade; fortalecer a sociedade civil; incluir
mulheres e jovens no processo de desenvolvimento; conservar, reabilitar e manejar
os recursos naturais e buscar meios de financiamentos adequados.
A declaração indica também algumas medidas de convivência, como o fortalecimento da
agricultura familiar, a difusão do uso de tecnologias e metodologias adaptadas ao
Semiárido e a universalização do abastecimento de água. Na prática, é necessário
viabilizar meios de estocar água e produzir/armazenar alimentos, incluindo para os
animais, de forma a suprir as necessidades por todo o ano e possibilitar a
soberania e segurança alimentar e nutricional das comunidades. Para isso, deve-se
considerar que cada gota d’água disponível pode ser aproveitada, com captação de
água da chuva e armazenamento; reuso de águas; diminuição das perdas e do
desperdício; plantio de culturas menos exigentes de água; criação de animais mais
resistentes à seca; utilização de métodos de irrigação eficientes; tecnologias
sociais como barraginhas, barragens subterrâneas, cisternas (há vários tipos como
calçadão, chapéu de Padre Cícero, Enxurrada) e outras tantas práticas.

Atualmente, ao andar pelo Sertão, é comum ver casas simples com cisternas de
armazenamento de água. Isso é resultado, principalmente, do Programa um milhão de
Cisternas (P1MC)⁸, uma iniciativa da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA)
iniciada no início dos anos 2000, com o objetivo de promover o acesso à água para o
consumo humano e para a produção de alimentos, com a implementação de tecnologias
sociais simples e de baixo custo. Para promover a convivência com a escassez de
chuva, o programa tem difundido a utilização da tecnologia de cisternas de placas,
reservatórios que armazenam água da chuva para utilização nos oito meses mais
críticos de estiagem. Esse programa foi incorporado pelo governo brasileiro, por
meio do Ministério do Desenvolvimento Social, como Programa Nacional de Apoio à
Captação de Água de Chuva e outras Tecnologias Sociais (Programa Cisternas),
atuando com famílias rurais de baixa renda atingidas pela seca ou falta regular de
água, com prioridade para povos e comunidades tradicionais.

A estratégia de construção de cisternas confere autonomia às famílias, uma vez que


descentraliza a fonte e, assim, possibilita que cada família seja gestora de sua
própria água. Democratizar o acesso à água quebra os mecanismos de funcionamento da
chamada “indústria da seca”, que foram por muito tempo ferramentas de manipulação
política e eleitoral das comunidades. Além disso, a metodologia aplicada no P1MC,
em vez de ter um caráter assistencialista, no qual soluções prontas são dadas às
comunidades, propicia que cada família se envolva em todo o processo e se aproprie
da tecnologia.

Outro ponto crucial na questão da oferta de água no nordeste tem a ver com a
salinização, resultado da pouca quantidade de água disponível no subsolo que fica
mais suscetível a processos de aumento de concentração salina, devido aos sais
liberados pelas rochas. Para aumentar a disponibilidade de água doce, algumas
práticas já são feitas, como a dessalinização – já existem entre 3.500 a 4.000
dessalinizadores⁹ pelo Semiárido, fruto de programas governamentais, como o Água
Doce, e de ONGs. Além disso, há estudos para viabilizar a agricultura com o uso
dessa água¹⁰ e a utilização de plantas biorremediadoras (retiram quantidades altas
de sal do solo) na recuperação de áreas degradadas pela salinização.

Já existe um mar de tecnologias e práticas disponíveis para possibilitar a


convivência com o Semiárido. Cabe então chegar a quem precisa, garantindo água em
qualidade e quantidade necessárias para uma vida digna e saudável a todos que vivem
nesse bioma.

Convivência com o Semiárido


duas mulheres conversam na beira da cisterna
O clima da Caatinga é semiárido, o que influencia diretamente a disponibilidade
hídrica da região. Este tipo climático é marcado por baixa umidade e irregularidade
de chuvas, com longos períodos de escassez pluviométrica – que podem chegar a oito
ou nove meses. Essa característica influencia os rios, em sua maioria
intermitentes, que secam em algumas épocas, e interferem no ambiente e nos seus
povos de uma forma bastante particular. Os principais rios perenes da Caatinga são
o São Francisco e o Parnaíba.

As secas sempre ocorreram no Nordeste, no entanto, ela se tornou mais grave para as
populações, tornando-as mais vulneráveis, conforme modificações na paisagem foram
feitas, com o estabelecimento de fazendas e a realização de desmatamentos para a
agropecuária. Grandes períodos de secas foram, ao longo da história, responsáveis
por dizimar populações e inúmeros animais, e promover êxodos rurais.

Desde 1859, há registro de intervenções do governo brasileiro para lidar com essas
questões¹. Após a extensa seca de 1877 a 1879, foram recomendadas a construção de
açudes (que serviriam para armazenar água, tornando-a disponível nos anos de seca)
e a transposição do Rio São Francisco para bacias temporárias do Ceará. Esse rio,
conhecido como Velho Chico, nasce em Minas Gerais, mas 80% de suas águas estão na
Caatinga. Conhecido como um dos mais importantes rios do Brasil, é a via navegável
mais relevante da região.

Concretizando as recomendações feitas ainda no século XIX, o primeiro grande açude


foi concluído em 1906, estratégia essa que foi replicada ao longo dos anos e nos
diferentes estados. Os açudes foram, então, se consolidando como uma infraestrutura
necessária para que a população tivesse acesso à água, frente à realidade de secas
e rios intermitentes. Atualmente, são contabilizados 70.000 açudes construídos² no
Semiárido (por governos federais, estaduais e municipais, particulares e de
cooperação), tornando a região com maior número de reservatórios dessa natureza do
planeta. São aproximadamente 37 bilhões de m³ de água, um terço do que o São
Francisco despeja anualmente no Atlântico.

A outra recomendação – a transposição do Rio São Francisco – é ainda hoje um tema


controverso. Iniciadas em 2007, as obras da transposição visam direcionar água do
rio para reservatórios no Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba. Segundo
a Agência Brasil, até 2019 os investimentos nesse projeto já somavam R$1,4 bilhão³.
O maior projeto hídrico já realizado pelo governo brasileiro foi previsto para
inaugurar em 2012, adiado para 2016, mas ainda hoje não foi concluído⁴. Estima-se
que com as obras concluídas, 12 milhões de pessoas serão beneficiadas com acesso
regular à água.

Algumas dessas políticas, no entanto, são expressão do que veio a ser denominado
como “indústria da seca”. A seca vista como algo a ser combatido, cujas respostas
se limitam à construção de grandes empreendimentos, que acabam por beneficiar a
minoria rica às custas da maioria mais pobre⁵. Essa “indústria” contribuiu para um
aumento da concentração de terras e da água por grandes proprietários e da fome e
miséria. Muitos poços e açudes eram construídos em propriedades privadas, o que fez
essa associação da concentração de terras com a das águas. Com esse fato, as
medidas eram paliativas e se preocupavam em unicamente aumentar a disponibilidade
de água, sem considerar o contexto socioestrutural do semiárido. A agenda da seca
era sempre pautada como resultado de aspectos naturais do clima da região, onde as
verdadeiras causas não eram colocadas em discussão⁶.

Certamente é uma combinação de fatores que agrava a questão da seca. Se por um lado
há alta insolação e alta taxa de evaporação, por outro, há pouca quantidade de
chuvas e solos com rochas praticamente impermeáveis – que não possibilitam a
estocagem natural de água⁶. Ou seja, quando a chuva cai, a maior parte dela
evapora, em vez de infiltrar no solo. Por esse motivo, os açudes permitem
aproveitar a água não infiltrada, tornando-a disponível para uso por um espaço
maior de tempo. No entanto, somente a água dos açudes, muitas vezes, não é
suficiente para garantir seu fornecimento a todos. Com isso faz-se necessário a
adoção de outras medidas para permitir uma convivência com o Semiárido com
qualidade de vida.

O termo acima mencionado surgiu para conceituar que, sim, conviver com o Semiárido
é possível, pois não é possível combater a seca, ela é inerente àquela região. Uma
proposta de desenvolvimento que tenha como base a viabilidade de se viver nessa
realidade, cabendo aos habitantes o direito a políticas efetivas de desenvolvimento
econômico e humano, ambiental e cultural, científico e tecnológico para lidar com
essa realidade. Em outras palavras, o Semiárido é viável quando existe vontade
individual, coletiva e política para isso. Segundo a Declaração do Semiárido⁷,
devem ser tomadas medidas, como: viabilizar o conviver com as secas; orientar os
investimentos no sentido da sustentabilidade; fortalecer a sociedade civil; incluir
mulheres e jovens no processo de desenvolvimento; conservar, reabilitar e manejar
os recursos naturais e buscar meios de financiamentos adequados.

A declaração indica também algumas medidas de convivência, como o fortalecimento da


agricultura familiar, a difusão do uso de tecnologias e metodologias adaptadas ao
Semiárido e a universalização do abastecimento de água. Na prática, é necessário
viabilizar meios de estocar água e produzir/armazenar alimentos, incluindo para os
animais, de forma a suprir as necessidades por todo o ano e possibilitar a
soberania e segurança alimentar e nutricional das comunidades. Para isso, deve-se
considerar que cada gota d’água disponível pode ser aproveitada, com captação de
água da chuva e armazenamento; reuso de águas; diminuição das perdas e do
desperdício; plantio de culturas menos exigentes de água; criação de animais mais
resistentes à seca; utilização de métodos de irrigação eficientes; tecnologias
sociais como barraginhas, barragens subterrâneas, cisternas (há vários tipos como
calçadão, chapéu de Padre Cícero, Enxurrada) e outras tantas práticas.

Atualmente, ao andar pelo Sertão, é comum ver casas simples com cisternas de
armazenamento de água. Isso é resultado, principalmente, do Programa um milhão de
Cisternas (P1MC)⁸, uma iniciativa da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA)
iniciada no início dos anos 2000, com o objetivo de promover o acesso à água para o
consumo humano e para a produção de alimentos, com a implementação de tecnologias
sociais simples e de baixo custo. Para promover a convivência com a escassez de
chuva, o programa tem difundido a utilização da tecnologia de cisternas de placas,
reservatórios que armazenam água da chuva para utilização nos oito meses mais
críticos de estiagem. Esse programa foi incorporado pelo governo brasileiro, por
meio do Ministério do Desenvolvimento Social, como Programa Nacional de Apoio à
Captação de Água de Chuva e outras Tecnologias Sociais (Programa Cisternas),
atuando com famílias rurais de baixa renda atingidas pela seca ou falta regular de
água, com prioridade para povos e comunidades tradicionais.

A estratégia de construção de cisternas confere autonomia às famílias, uma vez que


descentraliza a fonte e, assim, possibilita que cada família seja gestora de sua
própria água. Democratizar o acesso à água quebra os mecanismos de funcionamento da
chamada “indústria da seca”, que foram por muito tempo ferramentas de manipulação
política e eleitoral das comunidades. Além disso, a metodologia aplicada no P1MC,
em vez de ter um caráter assistencialista, no qual soluções prontas são dadas às
comunidades, propicia que cada família se envolva em todo o processo e se aproprie
da tecnologia.

Outro ponto crucial na questão da oferta de água no nordeste tem a ver com a
salinização, resultado da pouca quantidade de água disponível no subsolo que fica
mais suscetível a processos de aumento de concentração salina, devido aos sais
liberados pelas rochas. Para aumentar a disponibilidade de água doce, algumas
práticas já são feitas, como a dessalinização – já existem entre 3.500 a 4.000
dessalinizadores⁹ pelo Semiárido, fruto de programas governamentais, como o Água
Doce, e de ONGs. Além disso, há estudos para viabilizar a agricultura com o uso
dessa água¹⁰ e a utilização de plantas biorremediadoras (retiram quantidades altas
de sal do solo) na recuperação de áreas degradadas pela salinização.
Já existe um mar de tecnologias e práticas disponíveis para possibilitar a
convivência com o Semiárido. Cabe então chegar a quem precisa, garantindo água em
qualidade e quantidade necessárias para uma vida digna e saudável a todos que vivem
nesse bioma.

Estratégias para conservação

Padre Cícero, importante ícone religioso no sertão e que ainda hoje possui devotos
por todo nordeste, ensinava aos romeiros os preceitos ecológicos¹: não derrubar o
mato, nem mesmo um só pé de pau; não tocar fogo no roçado nem na Caatinga; não
caçar e deixar os bichos viverem; não criar o boi nem o bode soltos, fazer cercados
e deixar o pasto descansar para se refazer. Ele dizia ainda para não plantar serra
acima nem fazer roçado em ladeira muito em pé; deixar o mato protegendo a terra
para que a água não a arraste e não se perca a sua riqueza. Falava para plantar
cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer,
até que o sertão todo seja uma mata só; aprender a tirar proveito das plantas da
Caatinga, que podem ajudar a conviver com a seca. Concluía que se o sertanejo
obedecer a estes preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando e
o povo terá sempre o que comer. Se não obedecesse, dentro de pouco tempo, o sertão
todo viraria um deserto só.

Esses preceitos traduzem de forma direta e simples muito do que deve ser feito para
a conservação do bioma. Primeiro é conservar o que se tem, não permitindo que haja
mais devastação, recuperar o que foi degradado e adotar meios de vida que permitam
obter os recursos necessários sem que haja necessidade de se devastar ainda mais o
bioma. Busca-se, assim, garantir um desenvolvimento sustentável da região.

As populações tradicionais e os povos indígenas merecem destaque especial no que se


refere às estratégias de conservação, pois, considerando que seus meios de vida
propiciam a conservação da Caatinga, lutar pelos seus direitos é fundamental. Cabe,
então, fortalecer os coletivos para que atuem nos espaços de decisão, levantando
suas bandeiras e mostrando sua realidade.

Outro aspecto necessário para a conservação é saber tirar proveito dos recursos de
forma sustentável, como bem ensinam os povos da Caatinga. A valorização de plantas
nativas possui um enorme potencial, conforme já mencionado na seção sobre a flora
da Caatinga. É fundamental que, para isso, haja mais estudos na região, por se
tratar de um dos biomas menos conhecidos do Brasil, “pela combinação de
investimentos inadequados, baixa capacidade regional de pesquisa e difíceis
condições de trabalho – altas temperaturas e difícil acessibilidade”⁸.

Um passo fundamental para o fortalecimento das ações de conservação do bioma é sua


inserção como Patrimônio Nacional na Constituição Federal. Uma demanda que tramita
juntamente com a do bioma Cerrado desde 2003 (PEC 51/2003). Atualmente a proposta
de emenda ainda está em pauta no Congresso Nacional, na versão formulada em 2010
(PEC 504/2010). Essa medida é estratégica para a conservação do bioma, pois assim
seria formalizada a relevância do bioma para o país. Já se passaram praticamente 10
anos de tramitação da PEC, foi aprovada pelo Senado, mas ainda aguarda a sanção da
Câmara. Há uma petição online com quase 600 mil assinaturas e diversas organizações
da sociedade civil que se mobilizam para pressionar sua aprovação.

Uma importante prática para “conservar o que se tem” é a criação e gestão de


unidades de conservação. A Caatinga possui 201 delas, totalizando quase 75 mil km²,
o que corresponde a aproximadamente 9% do território do bioma². Da área
contemplada, pouco mais de 7% corresponde à categoria de uso sustentável e 1,7% à
de proteção integral. Com esses números, a Caatinga ganha a posição de bioma com a
menor quantidade de áreas protegidas³. Seria de fundamental importância para a
conservação do bioma aumentar essa abrangência e, ainda, buscando meios de integrar
as áreas protegidas.

Cabe destacar que a primeira Floresta Nacional (Flona) brasileira está na Caatinga.
Em 1946, a Flona do Araripe-Apodi⁴ foi criada com o intuito de manter as fontes de
água do Semiárido – o parque se encontra numa área de chapada, onde a água se
acumula – e barrar o avanço da desertificação no nordeste. Na década de 1990, foi
criada a APA Chapada do Araripe⁵, abrangendo a Flona do Araripe-Apodi. No processo
de criação da APA, foram identificadas 307 nascentes na base da Chapada do Araripe,
das quais oito alimentam a bacia do Rio Parnaíba, 54 a do São Francisco e 245 a do
Jaguaribe. Por esse motivo, quando as secas assolam o sertão, essa região úmida se
torna refúgio para a fauna, evidenciando a necessidade de protegê-la.

Passada as estratégias de conservação, o próximo passo é reflorestar a Caatinga, ou


melhor, reCaatingar. Termo que tem sido usado muito apropriadamente por projetos e
iniciativas no bioma, que significa recuperar as áreas de Caatinga. Além disso,
dando um passo além, já existem diversas experiências na região, como manejo
florestal sustentável, plantios sustentáveis, com técnicas como agrofloresta⁶,
plantios integrados com lavoura, pecuária e floresta⁷, quintais produtivos, criação
de abelhas nativas etc. Essas práticas garantem produção durante todo o ano, pela
diversificação de espécies, recuperação do solo, envolvimento comunitário, melhoria
na alimentação e saúde (por aumentar diversidade de alimentos na mesa), a criação
de animais saudáveis e geração de renda.
Uma ação pontual, mas que vale destaque quando se fala em conservação do bioma, é o
Plano de Ação Nacional Ararinha Azul⁹, que visa criar meios para que a espécie
retorne à Caatinga. Considerada extinta na natureza, atualmente existem somente 163
indivíduos criados em cativeiro, dos quais apenas 13 estão no Brasil. Para o
sucesso da iniciativa, é crucial que as áreas de soltura estejam em condições
ambientais adequadas, com espécies utilizadas pela ave tanto para o estabelecimento
de ninhos quanto para obtenção de alimentos.

Como bem fala o ditado, melhor prevenir do que remediar. O exemplo anterior mostra
claramente o grande esforço para remediar um mal, algo que vai demandar muito
recurso, tempo e estudos. Cabe agora fortalecer as ações de conservação do que
ainda resta do bioma, para que não seja necessário outras iniciativas como a da
Ararinha azul.

Certamente um ponto crucial para a conservação da Caatinga é a valorização do bioma


em todos seus aspectos e a manutenção do modo de vida de seus povos, que conservam
o bioma por meio do uso. Para isso, são fundamentais as políticas públicas e
iniciativas que disseminem as tecnologias de convivência com as peculiaridades da
região semiárida, a exemplo do Programa um milhão de Cisternas (P1MC), do Programa
Uma Terra e Duas Águas (P1+2) e de outras mencionadas no texto “Convivência com o
Semiárido”.

Faz-se necessário traduzir aos olhos de quem governa o encanto daqueles que da
Caatinga fazem brotar músicas e poesias, reconhecendo a beleza de suas paisagens
secas, a versatilidade de suas plantas, a importância de sua biodiversidade e a
riqueza de seu povo.

https://ispn.org.br/biomas/caatinga/
https://www.biologianet.com/ecologia/caatinga.
https://brasilescola.uol.com.br/brasil/caatinga.htm
https://www.noclimadacaatinga.org.br/dia-de-defesa-da-fauna-quantas-especies-estao-
ameacadas-de-extincao-na-caatinga/

Caatinga é um bioma brasileiro que apresenta clima semiárido, vegetação com pouca
folhas e adaptadas para os períodos de secas, além de grande biodiversidade.
Esse bioma é encontrado em áreas do Nordeste do Brasil, nos estados do Maranhão,
Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e
parte de Minas Gerais. Toda essa área abrange cerca de 844 mil km2, ou seja, 11% do
território brasileiro.

O nome Caatinga significa, em tupi-guarani, "mata branca". Esse nome faz referência
a cor predominante da vegetação durante a estação de seca, onde quase todas as
plantas perdem as folhas para diminuir a transpiração e evitar a perda de água
armazenada. No inverno, devido a ocorrência de chuva, as folhas verdes e as flores
voltam a brotar.

Apesar de sua importância ecológica, calcula-se que 40 mil km2 da Caatinga já foram
transformados em quase deserto, o que é explicado pelo corte da vegetação para
servir como lenha e pelo manejo inadequado do solo.

Vegetação
Vegetação da Caatinga
Vegetação típica da Caatinga
A vegetação da caatinga constitui um tipo de vegetação adaptada à aridez do solo e
a escassez de água da região. Dependendo das condições naturais das áreas em que se
encontram, apresentam diferentes características.

Quando as condições de umidade do solo são mais favoráveis, a caatinga se assemelha


à mata, onde são encontradas árvores como o juazeiro, também conhecido por joá, ou
laranjeira do vaqueiro, a aroeira e a baraúna.

Nas áreas mais secas, de solo raso e pedregoso, a caatinga se reduz a arbustos e
plantas tortuosas, mais baixas, deixando o solo parcialmente descoberto.

Nas regiões mais secas aparecem também plantas cactáceas, como o facheiro, o
mandacaru, o xique-xique, que servem de alimento para os animais, na época de seca,
e as bromeliáceas (macambira).

Algumas palmeiras e o juazeiro, que possuem raízes bem profundas para absorver água
do solo, não perdem as folhas.

Outras plantas possuem um mecanismo fisiológico, o xeromorfismo, produção de uma


cera que reveste suas folhas que faz que percam menos água na transpiração, um
exemplo é a carnaubeira denominada "árvore da vida" ou árvore da providência, pois
tudo dela se aproveita.

A maioria das espécies tem espinhos, o que leva o vaqueiro da região usar roupa de
couro, para sua proteção.

Fauna
Ararinha-azul
A ararinha-azul é uma ave símbolo da Caatinga
A Caatinga abriga um grande número de espécies da fauna brasileira, como,
mamíferos, répteis, aves, anfíbios, entre eles, a cutia, o gambá, o preá, o veado-
catingueiro, o tatu-peba, gatos selvagens, a asa branca, e uma variedade de
insetos, que exercem grande importância para o bioma.

Entre as espécies que habitam a caatinga e estão ameaçadas de extinção podem ser
citadas a ararinha azul, o tamanduá-bandeira, o tatu-canastra, o cachorro do mato,
a águia-cinzenta, o lobo-guará, entre outras.

Saiba mais, leia também:

Características da Caatinga
Animais da Caatinga
Clima da Caatinga
Ameaças
Como acontece em muitos outros biomas, a Caatinga também sofre com uma série de
ameaças que comprometem a conservação da sua biodiversidade, sendo que um desses
riscos acontece por causa do tráfico de animais.

Dentre as principais ações responsáveis pela destruição da Caatinga estão:


desmatamento, queimadas, exploração dos recursos naturais e mudanças no uso do
solo.

Os órgãos ambientais do setor federal estimam que mais de 46% da área da Caatinga
já foi desmatada. Vale ressaltar que muitas espécies são endêmicas desse bioma, ou
seja, ocorrem apenas lá. Por isso, uma das formas de evitar o desaparecimento das
espécies é criar novas unidades de conservação na área.

Curiosidade
O "Dia da Caatinga" é comemorado desde 2003, no dia 28 de abril. Essa data
representa o nascimento do ecólogo João Vasconcelos Sobrinho (1908-1989), pioneiro
nos estudos do bioma.

Veja mais sobre:

Caatinga
A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro e compreende cerca de 11% do
território nacional e 70% da Região Nordeste. Apresenta uma grande biodiversidade.

Paisagem da caatinga.
A Caatinga concentra-se na Região Nordeste do país, cujo clima é semiárido. Sua
vegetação apresenta características adaptadas à escassez de chuva.
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A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, ocupando, aproximadamente, uma


área de 734.478 km2, que corresponde a cerca de 70% da Região Nordeste e 11% do
território nacional. O nome “Caatinga” possui origem tupi-guarani e significa
“floresta branca”. Essa denominação representa as características da vegetação
desse ecossistema, cujas folhas caem no período da seca.

Leia também: Quais são os principais biomas do mundo?

Tópicos deste artigo


1 - Características da Caatinga
2 - Localização da Caatinga
3 - Clima da Caatinga
4 - Vegetação da Caatinga
5 - Flora da Caatinga
6 - Mapa Mental: Caatinga
→ Características de algumas espécies da flora da caatinga
7 - Fauna da Caatinga
8 - Solo da Caatinga
9 - Quais são os “tipos de caatinga”?
10 - Hidrografia da Caatinga
11 - Devastação da Caatinga
Características da Caatinga
A Caatinga apresenta diversas particularidades, principalmente em relação à
adaptação climática das plantas e animais. Esse bioma é afetado por secas extremas
e períodos de estiagem, característicos do clima semiárido. Por essa razão, a
vegetação precisou desenvolver mecanismos de sobrevivência em razão da pouca
disponibilidade de água. A fauna é bastante diversificada e também é marcada pelas
adaptações ao clima, como as recorrentes migrações nos períodos de estiagem.

Localização da Caatinga
A Caatinga localiza-se na Região Nordeste do Brasil e compreende os estados da
Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, Alagoas, Pernambuco, Sergipe e
Bahia. Também ocorre em algumas faixas da Região Sudeste que ficam ao norte do
estado de Minas Gerais.

Localização da Caatinga no Brasil


A Caatinga localiza-se principalmente na região Nordeste, abrangendo nove estados.
Clima da Caatinga
O clima que compreende a região da Caatinga é o tropical semiárido. Esse clima é
marcado por longos períodos de estiagem, isto é, sem chuvas. O índice pluviométrico
é abaixo dos 800 mm/ano. As temperaturas são geralmente elevadas, com uma média de
27 ºC, podendo alcançar números maiores, superiores a 32 ºC. Durante o período de
chuva, os índices pluviométricos podem atingir os 1000 mm/ano. Já nos períodos mais
secos, há uma baixa, chegando a 200 mm/ano.

Saiba mais: Clima e vegetação da região Nordeste

Vegetação da Caatinga
Árvores secas e cactos na caatinga.
Algumas espécies da vegetação da Caatinga perdem suas folhas no período de seca.
A vegetação da Caatinga apresenta características de adaptação ao longo período de
seca e grande diversidade de espécies vegetais, muitas delas endêmicas
(desenvolvem-se apenas nessa região). A vegetação da Caatinga apresenta três
estratos:

arbóreo: com espécies que variam entre 8 e 12 metros de altura;

arbustivo: com espécies que variam entre 2 e 5 metros de altura;

herbáceo: com espécies com altura abaixo de 2 metros.

As principais características da vegetação são árvores baixas, troncos tortuosos e


que apresentam espinhos e folhas que caem no período da seca (com exceção de
algumas espécies, como o juazeiro). O cair das folhas é um mecanismo para evitar a
perda excessiva de água e também diminuir a ocorrência de processos fotossintéticos
para que as plantas entrem em estágio de economia de energia. Outra característica
marcante é que as raízes das plantas cobrem o solo para que seja possível armazenar
água durante o período de chuva.

Algumas espécies de cactáceas, como o mandacaru, apresentam uma característica


peculiar: suas folhas são modificadas em espinhos para evitar que a planta perca
água pelo processo de transpiração. Os espinhos são também um mecanismo de defesa
dessas plantas a fim de evitar que animais alimentem-se delas.

Vale dizer também que os cactos, que compõem a formação vegetal desse bioma,
apresentam grande capacidade de armazenamento de água. Há também plantas que
apresentam em suas folhas uma espécie de cera para evitar também a perda de água.

Outra característica marcante das espécies vegetais encontradas na Caatinga é a


capacidade de algumas plantas de realizar fotossíntese e produzir nutrientes mesmo
que não apresentam folhas. Isso se deve ao fato de que essas espécies possuem caule
verde com células constituídas por clorofila, que é o pigmento responsável por
captar a luz e garantir que organismos consigam produzir seu alimento por meio da
fotossíntese.

Destacam-se na Caatinga as seguintes espécies de vegetação:

bromélias

xique-xique

mandacaru

embiratanha

acácia

juazeiro

macambira

maniçoba

umbu

mimosa

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Flora da Caatinga
Mandacaru, espécie típica da caatinga.
O mandacaru é uma espécie de cacto da flora da Caatinga
A flora da Caatinga é bastante diversificada. O período de floração varia conforme
a região, o regime de chuvas e a qualidade dos solos. Segundo a Embrapa, a Caatinga
apresenta cerca de 1.981 espécies de plantas. Destacam-se os cactos, como o
mandacaru e xique-xique; as bromélias, como a macambira; e as leguminosas, como a
catingueira.

Mapa Mental: Caatinga


Mapa Mental: Caatinga

*Para baixar o mapa mental, clique aqui!

→ Características de algumas espécies da flora da caatinga


Cumaru: espécie de planta adaptada à maior parte dos solos, especialmente aos solos
arenosos e profundos. Apresenta caules que soltam lascas finas, deixando à mostra a
camada mais nova, que possui coloração verde. Essa espécie corre risco de ser
extinta por causa da grande exploração.

Ipê-roxo: espécie de planta cujo nome representa a coloração das suas flores.
Durante a sua floração, a planta perde as folhas, ficando em destaque as flores,
que formam densos buquês. Por causa da grande procura dessa espécie para
ornamentação, dada a sua exuberância, está ameaçada de extinção.

Juazeiro: espécie de planta cujas folhas permanecem verdes no período de seca por
ter raízes que captam umidade no subsolo. É uma das poucas espécies que não perdem
suas folhas durante a estiagem. Pode atingir até 16 metros.

Macambira: espécie de bromélia que se desenvolve sob a exposição do sol. Apresenta


folhas suculentas, que são utilizadas para alimentação de gado e também para
produção de farinha e pirão. Seu talo é bastante utilizado para revestir telhados.

Fauna da Caatinga
Macaco-prego, espécie da fauna da Caatinga.
O macaco-prego é um exemplo de espécie da fauna da Caatinga.
A fauna da Caatinga é bastante diversificada, mas não tão conhecida, havendo
diversas espécies de animais endêmicos. Os animais que se encontram na região
abrangida por esse bioma apresentam características de adaptação ao clima, assim
como as plantas, como o desenvolvimento de hábitos noturnos, comportamentos
migratórios e “hibernações" (capacidade de algumas espécies de lidar com condições
climáticas hostis).

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a Caatinga apresenta:

178 espécies de mamíferos;

591 espécies de aves;

117 espécies de répteis;

79 espécies de anfíbios;

241 espécies de peixes;

221 espécies de abelhas.

Dos animais encontrados nesse bioma, destacam-se:

ararinha-azul

sapo-cururu

onça-parda

macaco-prego

asa-branca

cotia

tatu-bola

sagui-do-nordeste

preá

tatu-peba

veado-catingueiro
sagui-do- nordeste

guigó-da-caatinga

jacaré-de-papo-amarelo

Solo da Caatinga
Solo arenoso da Caatinga
O solo da Caatinga possui texturas argilosas e arenosas, dificultando a infiltração
da água das chuvas.
O solo da Caatinga é definido, segundo o Sistema Brasileiro de Classificação dos
Solos, como raso a profundo. É rico em minérios, mas pobre em matéria orgânica, em
razão das características do clima, da hidrografia e da vegetação da região. As
texturas são arenosas e argilosas.

O mais comum nesse bioma é o solo raso e pedregoso, o que dificulta o armazenamento
de água. As colorações variam entre tons avermelhados e cinzentos. Mesmo com essas
características, ainda assim esse solo é utilizado para a criação de animais. Como
principais produtos agrícolas cultivados na Caatinga, podemos citar o licuri, umbu,
caju e maracujá.

Leia também: Como ocorre a lixiviação dos solos?

Quais são os “tipos de caatinga”?


Falar em “tipos de caatinga” não é adequado. O termo correto é fitofisionomias. São
fitofisionomias da Caatinga:

Caatinga arbórea: composta por florestas que apresentam árvores que podem atingir
até 20 metros de altura.

Caatinga arbustiva: composta por árvores baixas com até 8 metros de altura, como o
xique-xique e a macambira.

Mata seca: composta por florestas situadas próximo de encostas e topos de serras.
As folhas permanecem, em sua maioria, no período de seca.

Carrasco: composto por arbustos de caules finos e tortuosos. Essa fitofisionomia é


típica da região oeste da Chapada do Ibiapaba, localizada entre os estados do Piauí
e do Ceará, e do sul da Chapada do Araripe, localizada na divisa dos estados do
Ceará, Piauí e Pernambuco.

Hidrografia da Caatinga
Rio São Francisco, um dos poucoss rios perenes da caatinga.
O Rio São Francisco é um dos poucos rios perenes presentes na Caatinga.
A hidrografia da região compreendida pelo bioma Caatinga apresenta rios que são, em
sua maioria, intermitentes ou temporários, isto é, rios que correm apenas no
período das chuvas e que secam durante a estação da seca. O rio perene (que
apresenta água corrente o ano todo) mais conhecido desse bioma é o rio São
Francisco. Os rios da Caatinga nascem geralmente nas encostas das serras.

São exemplos de rios da Caatinga:

Rio Poti

Rio Jaguaribe

Rio Parnaíba
Devastação da Caatinga
A Caatinga é considerada uma das 37 regiões do planeta que devem ser conservadas,
pois contribui para a manutenção das características climáticas locais e globais,
além de apresentar grande biodiversidade. Sua preservação é fundamental,
principalmente porque esse bioma é o berço de diversas nascentes que abastecem o
sertão nordestino.

Gado pastando na caatinga.


O bioma Caatinga é um dos mais devastados do Brasil, tendo sua área destinada a
atividades agropecuárias, que aumentam o desmatamento.
A região semiárida abrangida por esse bioma é a mais povoada do mundo, sendo
habitat para cerca de 28 milhões de pessoas, que tiram do bioma os recursos
necessários para a sua sobrevivência. Além dessa intensa exploração dos recursos
naturais, há o aumento da expansão da fronteira agrícola para viabilizar a produção
agrícola e pecuária, acarretando então o aumento do desmatamento. Segundo o Ibama,
até 2008, o desmatamento na Caatinga chegava a 45%. Dados do MapBiomas (Sistema de
Monitoramento dos Biomas do Brasil) apontam que a Caatinga perdeu aproximadamente
11 milhões de hectares entre 2000 e 2016.

Fontes

ASSOCIAÇÃO CAATINGA. Conheça e conserve a Caatinga. Disponível em:


http://www.terrabrasilis.org.br/ecotecadigital/images/abook/pdf/2sem2015/novembro/
Nov.15.33.pdf.

EMBRAPA. Preservação e uso da Caatinga. Disponível em:


https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/122743/1/00081410.pdf.

ASA — Articulação Semiárido Brasileiro. Caatinga: um bioma entre a devastação e a


conservação. Disponível em:
http://www.asabrasil.org.br/116-acervo/o-candeeiro/1317-dona-creuza-e-dona-josefa-
guardias-de-sementes-saberes-e-amizades.

Outras espécies endêmicas da Caatinga são os roedores Kerodon rupestris e Wiedomys


pyrrhorhinos. Os veados Mazama americana e Mazama gouazoubira, o caititu (Pecari
tajacu), o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) e a cutia Dasyprocta primnolopha são
alguns dos mamíferos amplamente distribuídos na Caatinga.

Introdução

A fauna da Caatinga é representada por grupos diversificados e ricos em endemismos.


Assim, como as plantas, os animais se adaptaram às condições da região, ao
desenvolverem hábitos noturnos, comportamento migratório e processos fisiológicos,
como a estimação, tipo de “hibernação” em ambientes quentes. Há poucos estudos
elaborados com a fauna silvestre da região. Os que já estão realizados, são
voltados para a identificação e quantificação de grupos específicos ou relacionados
a processos ecológicos, como polinização e dispersão.
As aves são as mais representativas, com cerca de 510 espécies de pássaros, das
quais 20 já se encontram na lista das ameaçadas de extinção, entre elas, a
ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) e arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari), em
consequência do tráfego de animais silvestres.Os mamíferos estão representados por
cerca de 150 espécies. Porém, se acredita que este número seja bem maior, quando
forem intensificados os estudos com roedores e morcegos. Alguns de seus
representantes já se encontram também na lista de espécies ameaçadas. Os felinos
estão entre os primeiros dessa lista em decorrência da caça que vem diminuindo sua
população e a dos animais que fazem parte de sua dieta alimentar. A herpetofauna é
representada por 47 espécies de anfíbios e 47 de serpentes. Os lagartos, com 44
espécies, se destacam pelo grande número de espécies endêmicas encontradas,
principalmente nas Dunas do rio São Francisco-BA. Alguns apresentam comportamento
interessante, a exemplo dos sapos, que podem ficar enterrados e sem comer durante o
período das secas (estivação). Estudos feitos na região de Ouricuri-PE evidenciaram
casos de povoamentos distintos relacionados com as estações seca e úmida, o que
permitiu estabelecer uma tipologia para cada estação.

De modo geral, a diversidade da fauna da Caatinga está sendo alterada em


decorrência de pressões antrópicas sobre o habitat natural dos animais e de
práticas extrativistas como a caça e a pesca sem controle. Para preservar este
grupo há necessidade de se aumentar as áreas de preservação bem como a
fiscalização, evitando não só o tráfego de animais silvestres, como a caça e pesca
predatórias.

Merecem destaque espécies ameaçadas de extinção como a onça-parda (Puma concolor),


a onça pintada (Panthera onca), o gato-do-mato (Leopardus tigrinus) o guigó-da-
Caatinga (Callicebus barbarabrownae), que é o único primata endêmico desse bioma, e
o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), espécie endêmica do Brasil.

Natureza e arqueologia

Serra da Capivara, um tesouro na caatinga "mais perto'


Formações rochosas colossais e o maior conjunto de pinturas rupestres do mundo
integram parque nacional no Piauí, que entra em rota de voo comercial em dezembro

GW
Gustavo Werneck
02/08/2022 04:00 - atualizado 01/08/2022 23:24
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Pedra Furada
Beleza natural dos paredões, como a Pedra Furada, símbolo do parque, estão entre as
atrações
(foto: GUSTAVO WERNECK/EM/D.A PRESS)

São Raimundo Nonato (PI) – As últimas cores outonais pontuam os caminhos na


caatinga, tingindo de ocre, cinza, branco e vermelho a vegetação desse bioma único
no mundo e presente na região do semiárido brasileiro, de forma especial no
Nordeste. Nesses movimentos que a natureza faz e o homem parece copiar há milênios,
os tons da terra são encontrados também, magnificamente, nos paredões e grutas da
Serra da Capivara, o colossal conjunto de formações rochosas que atrai os olhares
maravilhados de visitantes de todo canto. As pinturas rupestres, registro gráfico
daqueles que viveram há mais de 10 mil anos, não só encantam como transportam
homens e mulheres para a pré-história com escalas espetaculares nas cenas de dança,
caça, luta, animais e contatos íntimos, como um possível um beijo.

Vamos, portanto, no embarque imediato em direção a um diamante bruto de múltiplas


facetas, incrustado em cidades onde vivem pessoas espontâneas e acolhedoras,
dispostas a trazer, à luz do sol ou das estrelas, histórias surpreendentes, e que
se sentem extremamente gratas quando o turista diz ter gostado do lugar.
“Comentários assim nos deixam bem satisfeitos”, diz o taxista José Dias de Santana,
o seu Deto, de 70 anos, apaixonado pela terra natal e pronto para fazer “as
vontades” dos visitantes, o que se traduz em conduzi-los aos pontos turísticos, sem
pressa, falar dos atrativos e mostrar suas descobertas. “Não sou guia, mas sei
muito daqui”, orgulha-se.

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Antes de iniciarmos a viagem, uma boa notícia. A partir de 15 de dezembro, começa a


operar comercialmente o Aeroporto Internacional de São Raimundo Nonato, que fica a
9,4 quilômetros do Centro da cidade. De acordo com a Empresa de Administração
Aeroportuária (Esaero), contratada pelo governo do Piauí, por licitação, para
administração do aeroporto nos próximos quatro anos, serão dois voos semanais, da
Azul, procedentes de Petrolina e Recife (PE). A expectativa é grande na região,
pois a operação abre caminho para maior fluxo turístico e cria oportunidades de
trabalho. “Estamos esperançosos”, diz um estudante de arqueologia. Atualmente, o
indicado é ir de avião até Petrolina (distante 300 quilômetros de São Raimundo
Nonato) e depois pegar um ônibus, táxi ou van. Da capital Teresina até o local são
521,9 quilômetros, tornando-se inviável essa rota.

Desenhos
Desenhos feitos há mais de 10 mil sobre as rochas
(foto: GUSTAVO WERNECK/EM/D.A PRESS)

DE QUEIXO CAÍDO Localizado no Sudeste do Piauí, criado em 1979 e administrado pelo


Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Parque Nacional
Serra da Capivara é, como se diz popularmente, “de cair o queixo”. A paisagem reúne
a beleza das trilhas, o silêncio absoluto quebrado apenas pelo canto dos pássaros
ou vento forte nas alturas dos blocos de arenito, o olhar arisco do mocó, roedor
que dá as boas-vindas entre as frestas, e, claro, a marca registrada gravada nas
lapas e paredões.

Trilhas
As trilhas não exigem preparo de atleta, mas é preciso muita disposição, estimulada
pela beleza do loca
(foto: GUSTAVO WERNECK/EM/D.A PRESS)

As pinturas rupestres da região, o maior conjunto desse tipo de arte no mundo,


encontram-se presente em cerca de 900 abrigos sob rocha arenítica, dos mais de 1,4
mil sítios arqueológicos encontrados na área (arqueológica) da Serra da Capivara,
com boa estrutura de visitação, incluindo acessibilidade, distribuídos pelos
municípios de São Raimundo Nonato (cidade-polo da região), João Costa, Brejo do
Piauí e Coronel José Dias, o mais próximo do parque.

roedor mocó
Pode observar também a fauna, como o roedor mocó
(foto: GUSTAVO WERNECK/EM/D.A PRESS)

Em cada canto, paira a figura quase mítica da arqueóloga Niède Guidon, de 89,
paulista de origem francesa que chegou a São Raimundo Nonato na década de 1970 e
lutou pela fundação do parque nacional, sem deixar de lado a questão socioeconômica
e melhores condições de vidas das famílias. Um exemplo está na produção de
cerâmica, com os motivos das pinturas rupestres, que fazem a alegria de quem viaja
e quer levar uma “lembrancinha” para os amigos.
Entre as obras de Niède Guidon, e abertas à visitação, estão o Museu do Homem
Americano, inaugurado em 1998 em São Raimundo Nonato, sob gestão da Fundação Museu
do Homem Americano (FUMDHAM), e o Museu da Natureza, em funcionamento há quatro
anos, em Coronel José Dias. Instalada no meio da caatinga, a construção em forma de
espiral avermelhada sobressai sem competir com a beleza dos blocos de arenito.

Reconhecido em 1991 como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e, dois anos depois, tombado pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Parque Nacional
Serra da Capivara, onde curiosamente não há esse tipo de roedor, se agiganta aos
olhos de quem chega pelo potencial arqueológico, etnográfico e paisagístico.

O VENTO FAZ A CURVA Impossível conhecer todo o patrimônio natural em poucos dias,
avisa, com simpatia e conhecimento, o arqueólogo e nativo da comunidade de Zabelê,
Iderlan de Souza, da agência de turismo Quipá. “O parque nacional é formada pelas
serras da Capivara, Talhada, Vermelha e Branca, então precisaríamos de meses para
conhecer tudo. Mas o visitante, nos passeios, terá uma boa visão do conjunto”. Vale
dizer que, para entrar no parque, é preciso de guia credenciado pelo ICMBio, que
mantém uma relação de nomes no site oficial, e também de táxi ou mototáxi. “Se não
for assim, a pessoa será impedida de entrar nas portarias”, acrescenta outro guia e
conhecedor da área, o professor de história Evair do Nascimento Lima.

No primeiro dia, o turista pode conhecer o Desfiladeiro da Capivara, que inclui as


tocas do Pajaú, de Entrada do Pajaú, do Barro, Inferno, de Entrada do Baixão da
Vaca e do Baixão do Paraguaio. Os nomes se traduzem por cânions, boqueirões e topo
das serras, onde parece que o vento faz a curva de tão forte e revigorante. Em
completa harmonia com o meio ambiente, e sempre lembrado pelos guias de que “o
sertão já foi mar”, o visitante pode imaginar, no desenho dos maciços, as torres de
castelos medievais, catedrais, enfim, tudo está aberto à imaginação. Se bateu
aquela fome, o almoço será no restaurante Trilhas da Capivara, na comunidade de
Sítio do Mocó, em Coronel José Dias, com comidinhas bem saborosas.

No dia seguinte, prepare as canelas e use sapato confortável, de preferência tênis


com reforço, para conhecer o Circuito Sítio do Meio – Toca do Boqueirão do Pedro
Rodrigues, Toca do Sítio do Meio, com vistas panorâmicas – e o Circuito Pedra
Furada, com destaque para a Toca do Boqueirão da Pedra Furada, Tocas da Fumaça I,
II e III, Tocas do Carlindo e a Pedra Furada, um cartão-postal símbolo do parque
nacional e que merece fotos e selfies. O almoço, desta vez, será na Cerâmica
Artesanal Serra da Capivara, no Sítio Barreirinho, na zona rural de Coronel José
Dias. Há uma lojinha com vários tipos de peças e camisas feitas pelas costureiras
da região.

AS ANDORINHAS CHEGARAM O dia termina, em clima tranquilo e inesperado, no Sítio


João Pimenta, reserva particular fora do parque, administrado por Paulo Sérgio dos
Santos Silva. Lá pelas 17h30, a natureza prepara um belo espetáculo no lusco-fusco.
Milhares de andorinhas chegam “para dormir” nas cavidades dos paredões e
impressiona a velocidade do voo. “Nenhuma erra o alvo”, brinca Iderlan, que, diante
da paisagem, dá explicações sobre formações geológicas, povos pré-históricos, uso
do Carbono 14 para datação de sítios arqueológicos e, claro, a importância de Niède
Guidon, que foi sua mestra e deu novo rumo a essa região do Sudeste do Piauí.
Atentos, quase já sob as estrelas, o repórter e Paulo Sérgio ouvem e mergulham nas
palavras que aguçam ainda mais as belezas e mistérios da Serra da Capivara.

NÃO DEIXE DE VISITAR


» Museu da Natureza

A visita começa com as origens da Terra e da vida, passa por todo o processo de
formação da Terra, mostra a evolução dos mamíferos, em ambiente virtual e exposição
de fósseis encontrados na região. A entrada é por um buraco negro. Pessoas de todas
as idades vão curtir o simulador de voo de asa delta sobre a região. Fica em
Coronel José Dias, a 30 quilômetros de São Raimundo Nonato.

» Museu do Homem Americano

Durante os últimos 50 anos, a equipe científica da Fundação do Museu do Homem


Americano (Fumdham) estudou a região. No local, há uma exposição que mostra a
chegada do “Homo sapiens” ao Sudeste do Piauí, e o desenvolvimento tecnológico e
cultural do povos que aí viveram.

» Pedra Furada

Cartão-postal, símbolo do parque nacional e merecedor de fotos e selfies. Cenário


de grande beleza, com um anfiteatro e iluminação especial à noite. Em julho, o
ponto turístico tem programação cultural,
a chamada Ópera da Pedra Furada.
Faz parte do Circuito da Pedra Furada,
em Coronel José Dias.

» Cerâmica Artesanal
Serra da Capivara

Fica no Sítio Barreirinho, na zona rural de Coronel José Dias. Há uma lojinha com
vários tipos de peças e camisas feitas pelas costureiras da região. 0s visitantes
podem assistir ao processo de produção das peças feitas com argila e muita
criatividade.

DICAS DE VIAJANTE

Junho e julho são os meses mais indicados para fazer os passeios na Serra da
Capivara. Os dias são mais frescos e chega a fazer um "friozinho" de madrugada. De
dezembro a maio também está em alta, “pois é época de chuva e a vegetação está toda
verde”, diz o guia Iderlan de Souza, da agência de turismo Quipá.

Para contratar um guia na região, procure as indicações no site do ICMBio. A


entrada no parque só é permitida com um profissional credenciado.

Não é preciso ser atleta para percorrer as trilhas, mas vale muita disposição.
Pessoas com deficiência têm acessibilidade garantida, pois há passarelas adequadas
em alguns sítios arqueológicos.

As lojinhas, nas portarias do parque, não aceitam cartão de crédito ou PIX. Então é
bom levar dinheiro vivo para comprar bonés, chaveiros, camisetas, canetas e outras
lembranças. Na cerâmica, cartões e PIX são bem-vindos.

Se o viajante for de ônibus de Petrolina (PE) para São Raimundo Nonato, o melhor é
consultar, com antecedência, horário e valor da passagem no site das empresas.

Há poucos hotéis em São Raimundo Nonato. Então é indicado fazer a reserva com
antecedência. Em Coronel José Dias, município mais próximo do Parque Nacional, tem
a Pousada e Restaurante Trilhas da Capivara.

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