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Tal conduta se deu contra este prédio em que funcionava um hospital mantido
pela OnG Médicos Sem Fronteiras, que atuam em países em conflito para a
salvaguarda das pessoas que são feridas nestes conflitos.
Com este ataque, o Exército sírio acaba por promover atos em contrário a
Convenção de Genebra sobre proteção de pessoas civis em tempo guerra, de 1949,
que descreve serem os hospitais locais que não podem sofrer ataques, como se vê
pela leitura do artigo abaixo transcrito:
Artigo 18.º
Os hospitais civis organizados para cuidar dos feridos,
doentes, enfermos e parturientes não poderão, em qualquer
circunstância, ser alvo de ataques; serão sempre respeitados
e protegidos pelas Partes no conflito.
Os Estados que são partes num conflito deverão entregar a
todos os hospitais civis um documento atestando a sua
qualidade de hospital civil e provando que os edifícios que
ocupa, não são utilizados para outros fins que, em
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06/02/2019 Ataques a hospitais na Síria e os crimes de guerra - Jus.com.br | Jus Navigandi
Assim, houve a ofensa à norma de proteção aos civis em tempo de guerra, sendo
que outras normas também foram feridas. O Protocolo Adicional à Convenção de
Genebra que trata da proteção das vítimas de conflitos armados não
internacionais, também chamado de Protocolo II, de 1977, descreve no seu Artigo
11 a necessidade de proteção às unidades de saúde com a finalidade de permitir o
cuidado dos feridos e do atendimento dos civis que estejam na área do conflito.
No mesmo turno, o Art.18 do mesmo Protocolo Adicional descreve a participação
das sociedades internacionais de socorro como importante ação humanitária no
atendimentos do feridos, podendo estas coletividades internacionais atuarem
diretamente nas áreas de conflito armado para a salvaguarda e cuidado dos civis e
não civis.
Mas o que importa no caso é que esta conduta se amolda nestas legislações como
crimes de guerra, permitindo a condenação dos Estados por crimes de guerra, bem
como descrevendo a conduta dos realizadores do ataque como criminosos de
guerra, importando a estes a promoção da lei penal internacional.
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06/02/2019 Ataques a hospitais na Síria e os crimes de guerra - Jus.com.br | Jus Navigandi
Já para a aplicação das penalidades àqueles que cometeram tais atrocidades, mais
fáceis são as aplicações da lei internacional penal, mas temos que lembrar que esta
norma se aplica somente no caso do país donde são os criminosos não promover
as devidas providências de realização da jurisdição sobre tais condutas. Aplica-se
ao caso o princípio da complementaridade, pelo qual somente será exercida
jurisdição no caso de manifesta incapacidade ou falta de disposição de um sistema
judiciário nacional para exercer sua jurisdição sobre o tema.
Autor
Walter Walter Gustavo Lemos
Gustavo
Lemos Advogado, formado em Direito pela Universidade Federal de
Goiás (1999), mestrado em História pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2015) e mestrado em Direito
Internacional - Universidad Autonoma de Asuncion (2009). Doutorando em
Direito pela UNESA /RJ. Atualmente é professor da FARO e da Faculdade
Católica de Rondônia, nas disciplinas de D. Internacional e Hermenêutica.
Ex-Secretário-Geral Adjunto e Ex-Ouvidor da OAB/RO. Presidente da
Comissão de Ensino Jurídico da OAB/RO.
Este texto foi publicado diretamente pelo autor. Sua divulgação não depende de
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