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Goiânia, DOMINGO, 15 de outubro de 2017

GUIA

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CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS


 CRIAR, INOVAR, INTERPRETAR E REINTERPRETAR O MUNDO  PERMANÊNCIAS & RUPTURAS
 UMA VISÃO “GEOGRÁFICA” DO NOVO “NOVO ENEM”  CENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO RUSSA
 TEMÁTICAS RECORRENTES  TEMÁTICAS FILOSÓFICAS
 MEMÓRIA & HISTÓRIA  EM BUSCA DA IDENTIDADE NACIONAL
2 / O POPULAR GOIÂNIA, domingo, 15 de outubro de 2017

E D I TO R I A L

Criar, inovar, interpretar e REINTERPRETAR O MUNDO

Jovens mais engajados, construindo


sua aprendizagem de modo
colaborativo, são mais felizes

resumo, esquema, mapas men- tiva é uma excelente estratégia


tais, leituras etc. O estudante que gera mais consciência do
precisa entrar em contato com sucesso e assim também desen-
várias formas diferentes de volve a motivação intrínseca.
aprender e tomar consciência Quando os estudantes compar-
de quais se adaptam melhor ao tilham seus avanços acadêmi-
seu modelo mental. Respeitan- cos com os colegas adquirem
do as múltiplas inteligências e maior consciência sobre quais
sendo a aula um evento único recursos internos mobilizaram
para alunos tão diferentes, e assim conseguem repetir o
ALEXANDRE PULLIG CORRÊA - Diretor Geral do COPE - ENSINO MÉDIO
compreende-se que é no mo- feito. A investigação apreciativa
mento de estudo que o aluno também gera um senso de co-
Escolas do século XIX, pro- colhas mais assertivas é impor- em que se aprenda a aprender.
pode ser assertivo e moldar letividade e cooperação, além
fessores do século XX e alunos tante que o jovem identifique
Antes do advento dos seus processos de acordo com de aumentar o engajamento
do século XXI. Esse é o momen- os próprios talentos e a escola
computadores e da internet, seus objetivos e sua realidade. dos jovens, um dos pilares do
to histórico em que vivemos na é um ambiente fundamental
quando as enciclopédias físi- Quanto à constância e à disci- bem-estar subjetivo.
educação. Esse diálogo entre nesse processo. Propiciar ativi-
cas eram o caminho para infor- plina ressalta-se aqui a relevân-
instituições e gerações de dades desafiadoras e que opor- Jovens mais engajados,
mações, conteúdo era poder, cia da motivação. Estar moti-
tempos, valores, parâmetros tunizem experiências diversas é construindo sua aprendiza-
porém, com as novas tecno- vado e se manter motivado é gem de modo colaborativo,
e prioridades tão diferentes a base para a construção de um
logias e a popularização do a base para ter constância nos são mais felizes e a felicidade
precisa avançar, transformando projeto de vida.
acesso à informação, poder é estudos uma habilidade vincu- é uma vantagem competitiva
a educação em um processo
É tarefa da escola, além de ter habilidade de construir algo lada à Inteligência Emocional. real e mensurável importante
com mais significado.
ensinar os conteúdos, discutir significativo a partir das infor- Grandes sonhos são forças mo- para o ser humano, sobretudo
Em tempos de relações lí- também o como estudar. O foco mações. A grande questão está trizes importantes, mas nosso para jovens que estão cami-
quidas, quando informações do processo de ensino-aprendi- no modo como nos relaciona- motor mais potente é a moti- nhando para grandes desafios
são passadas em tempo real zagem deixa de ser o professor mos a essas informações e o vação intrínseca que tem como como o ENEM, os vestibula-
e em escala global, é impera- e passamos a ter um maior pro- que criamos a partir disso, um principais combustíveis a autor- res, a Universidade e a carreira
tivo que proporcionemos aos tagonismo do estudante. Os bri- processo que está intimamente realização, os relacionamentos profissional. A ciência já estu-
nossos estudantes habilidades lhantes professores e suas aulas ligado à nossa subjetividade. positivos, o engajamento e as dou e comprovou a relevância
de criar, inovar, interpretar e re- de excelência continuam, é im- Uma educação para o século emoções positivas. do bem-estar subjetivo: en-
interpretar o mundo. A verdade portante que o professor encan- XXI deve ser significativa para gajamento, relacionamentos
é que precisamos preparar os te os estudantes com seu olhar A construção do conheci-
os jovens ao direcionar-se para positivos, emoções positivas,
jovens para um futuro que não acadêmico e ao mesmo tempo mento através de atividades
o futuro e preocupada com o propósito e realização. Pesqui-
podemos prever e que se mo- apaixonado por determinada desafiadoras, buscando a re- sas feitas na Universidade de
caminhar da humanidade.
difica a uma velocidade nunca área do conhecimento, mas solução de problemas através Harvard comprovam que o su-
antes vista. Nunca se falou esse não é um caminho único. Aprender é um proces- da criação e cocriação de solu- cesso orbita a felicidade e não o
tanto em propósito de vida. Para além de professores ensi- so que se dá principalmente ções já é uma realidade em me- contrário, ou seja, pessoas mais
Necessariamente, pessoas de nando, é preciso de estudantes nos momentos de estudo, e todologias como a PBL (Apren- felizes são mais produtivas, cria-
sucesso atuam em áreas em aprendendo. A escola deve ser não existe uma única forma dizagem baseada em projetos). tivas e assertivas. Que a escola
que possuem excelência, o que um espaço de aprendizagem no de estudar. Estudo depende Compartilhar os avanços aca- seja então um ambiente que
está vinculada aos talentos e ha- sentido mais amplo do termo, de método e constância. São dêmicos com os colegas no for- promova essas possibilidades!
bilidades de cada um. Para es- proporcionando um ambiente muitos os métodos de estudo: mato de investigação aprecia-

SAIBA TUDO SOBRE A PROVA DE


CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
CONTEÚDOS MAIS FREQUENTES
BRASIL – 50%
Dados estatísticos referentes aos exames de 2008 a 2016.

TEMÁTICA – 46% BRASIL – 44%


TEMÁTICA – 34%
DIVERSIDADE CULTURAL
E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL – 19%

FILOSOFIA AMÉRICA – 3%
CONTEMPORÂNEA – 3%

TRABALHO E
PRODUÇÃO – 9% FILOSOFIA
MEDIEVAL – 4% TEMÁTICA – 28%
PODER, ESTADO
E POLÍTICA – 15% FILOSOFIA
MOVIMENTOS MODERNA – 28%
SOCIAIS – 11% GERAL – 25%
TEORIA FILOSOFIA ANTIGA – 19%
GERAL – 50% SOCIOLÓGICA – 12%

GEOGRAFIA HISTÓRIA FILOSOFIA SOCIOLOGIA


O conteúdo deste suplemento é de responsabilidade do GRUPO PREPARAENEM
GOIÂNIA, domingo, 15 de outubro de 2017 O POPULAR / 3

Uma Visão “GEOGRÁFICA” do novo “NOVO ENEM”


Por Felipe Augusto Tahan
“Temas clássicos da Geografia Física, Questão Ambiental, características ( Geógrafo Especialista pela PUC-GO)
da População e Meio Urbano, a questão agrária sempre farão parte Professor do COPE - ENSINO MÉDIO
do rol de temas levantados”.
Nos últimos três exames nacionais do ensino médio, Ano após ano, a variedade de temas vem se mul- é explorar o contexto. Antes de qualquer interpela-
assistimos a uma tendência da banca examinadora em tiplicando, já que a dinâmica inerente a esta área de ção, o candidato deve se lembrar que a prova exige
promover uma avaliação da área das ciências humanas conhecimento se perfaz diariamente, mas é possível conteúdo teórico em todas, absolutamente todas, as
com um “rosto”, um “perfil”, muito bem delineado sinalizar, com certeza, que temas clássicos da Geo- questões, afastando qualquer ideia de “chute”. Por
entre competências e habilidades. O formato da prova grafia Física, Questão Ambiental, características da isso, jamais menospreze as informações “savoir-faire”
manteve uma coerência nas últimas provas, bem como População e Meio Urbano, além das tradicionais abor- de cada módulo de estudo, quanto menos se “des-
o nível das abordagens. Provas bem estruturadas e dagens sobre a questão agrária e processos de desen- plugue” dos temas cotidianos ligados a esta bagagem
pautadas pelo primor da relação entre textos, imagens, volvimento político e econômico através da história,
gráficos com comando e distratores. As argumenta- teórica que se acumula desde o ensino fundamental.
sempre farão parte do rol de temas levantados. Não Porém, contextualizar estas informações e tratá-las
ções foram claras, tal como a linguagem utilizada. Os
se viu nas edições anteriores uma prova tendenciosa como processos do conhecimento é de lei, sob a
textos bem escolhidos usam um grau de dificuldade
a uma ou duas temáticas. A variedade na abordagem pena mais tradicional do candidato ler os distratores
nobre quanto ao emprego do vocabulário, mas man-
têm-se totalmente fiel ao seu conteúdo acadêmico. dos temas foi revelada em cada prova, repetindo um e enxergar dois ou três itens com igualdade assertiva.
tema em duas questões, no máximo. Sentimento comum na hora da leitura inicial da ques-
Nossa aposta é na coerência em tratar deste exame
com as mesmas linhas de pensamento e técnica de- Foi-se o tempo em que estudar para prova de Ciên- tão, mesmo entre os mais competentes candidatos.O
senvolvidas nas últimas provas, afinal, não existe, à cias Humanas era decorar nomes, datas e capitais, as que não é mistério para nenhum educando é uma ba-
primeira vista, motivos para alterar um trabalho que se provas de “excelência” dos exames de ingresso não gagem de leitura que galga do cotidiano leigo ao aca-
aprimorou com grande êxito nas últimas edições. fazem mais questões nesse formato. A tendência agora dêmico de base epistemológica.
As Ciências Humanas trabalham temas que trans-
versalizam as diferentes disciplinas, como História e
Geografia, mas também não deixa de cobrar as ques-
tões denominadas “puras”. O que é do campo da
Geografia a este permaneceu sem deixar dúvidas nas
suas abordagens. No entanto, o universo de temas a
serem abordados está muito longe de ser esgotado,
uma vez que o Novo Enem é um exame praticamente
recém-nascido, com poucas provas aplicadas e ques-
tões em número bem limitado.

Temáticas RECORRENTES Memória & HISTÓRIA


Por Pedro Ivo (Licenciado e Bacharel em História pela UFG)
Por Stefânia Vieira de Melo (Mestre em História pela UFG)
Professor do COPE - ENSINO MÉDIO
Professora do COPE - ENSINO MÉDIO

A prova de Ciências Humanas A última aplicação do Enem apre-


do Enem é um momento aguardado sentou um maior equilíbrio entre con-
“A capacidade de acessar e interpretar a memória histórica
pelos alunos e também por nós pro- teúdo e interpretação, e essa tendência é avaliada na prova.”
fessores. A prova apresenta um perfil será mantida. Especialmente em 2017,
que não mudará com a alteração com base nas declarações feitas por Nos últimos quatro anos, o Enem tem focado na interlocução entre
da banca elaboradora. Os alunos pessoas ligadas à direção do proces- Estado, Indivíduo e Sociedade, exigindo que o candidato exercite a refle-
xão crítica sobre a ação social, os fatos sociais e a linguagem, entenden-
podem esperar uma exigência de so, questões de gênero e polêmicas
do que estes não estão separados das questões sociais. Acreditamos que essa
conhecimento e muita interpretação no campo ideológico e político perde-
exigência permanecerá.
de textos analíticos e com pontos de rão espaço. Eu orientaria a pessoa que
As questões sociais ocorrem no espaço histórico-social no qual esta-
vista diferentes. Também poderão for fazer a prova a deixar o texto ou a
mos todos inseridos, ou seja, elas são reflexo das experiências acumuladas pelas
aparecer charges, desenhos, pintu- imagem direcionar a resposta e ter uma
sociedades e constituem a nossa memória histórica, política e cultural.
ras, gráficos e tabelas como texto da atenção especial com as temáticas re-
questão. correntes.

Ação social
06
ES
T

05
AD

Fatos
E

sociais
O

04
AD
IED

03 Linguagem
C
SO

02 INDIVÍDUO
01
PATRIMÔNIO, CULTURA E MEMÓRIA
A capacidade de acessar e interpretar essa memória é avaliada na prova. O
candidato deve conhecer seu passado histórico, e ser capaz de reco-
SEGUNDO REINADO
nhecer conceitos e temas filosóficos, geopolíticos, socioeconômicos,
culturais, entre outros ligados à esfera social humana. O “conteudismo” nessa
REPÚBLICA OLIGÁRQUICA prova é estéril se o candidato não conseguir interpretá-lo dentro do contexto
da questão.
AFRICANOS
Entre os temas mais recorrentes, encontramos aqueles ligados a
História do Brasil. A História se constitui de um ciclo constante de perma-
VARGAS
nências e rupturas das ações sociais humanas, ou seja, a trajetória humana,
ao longo do tempo e do espaço, não ocorre de forma linear ou progressiva,
REGIME MILITAR como em um conceito das ciências da natureza, assim, os indivíduos sociais se
manifestam em movimentos de fluxo e refluxo, avanço e retrocesso.
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Permanências & RUPTURAS Por Stefânia Vieira de Melo (Mestre em História pela UFG)
Professora do COPE - ENSINO MÉDIO

Em 2017, alguns eventos históricos (fatos sociais) são comemorados e podem ser lembrados, inclusive na redação, como alusão histórica na argumentação,
em temas ligados a liberdade de expressão, luta por direitos, resistência à opressão, ou em assuntos que remetam à permanências e rupturas histórico-cul-
turais em nossa sociedade.

1817 REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA (200 ANOS)


 Como nas Conjurações Mineira (1789)  Proclamou república, igualdade de Teve sua continuação nos movimentos de
e Baiana (1798), a repressão da Coroa direitos e tolerância religiosa. 1824 e 1848.
portuguesa se fez vitoriosa.
 Não tocou no espinhoso problema da 1824 (1º REINADO)
 Influência das ideias francesas e da in- Confederação do Equador
escravidão.
depedência dos EUA.

wikipedia
 Elite latifundiária, intelectual, comer-  Também denominada Revolução dos 1848 (2º REINADO)
ciantes, militares e clérigos. Padres: destaque para Frei Caneca. Revolução Praieira

1947 ATENÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS: PRIMEIRA COMISSÃO


Primeira sessão da comissão a elaborar o  O primeiro comitê, formado por mem-  Inspirada Declaração de Direitos In- nômicos, sociais e culturais, como o
que foi chamado de “esboço preliminar bros de oito países, em 1947, foi presidi- glesa (1689), e principalmente, na De- direito ao trabalho, à educação e ao
da Declaração Internacional dos Direitos do por Eleanor Roosevelt, viúva do presi- claração dos Direitos do Homem e do desenvolvimento.
Humanos”, aprovado em 1948. dente americano Franklin D. Roosevelt. Cidadão (Rev. Francesa- 1789).
Visam minimizar a opressão sobre as
 Criação da ONU em 1945.  Defende a igualdade e a dignidade
 Os Direitos podem ser civis ou polí- minorias sociais: “Que o mais fraco
das pessoas e reconhece que os di-
 Motivado pelos efeitos do holocausto, reitos humanos e as liberdades funda- ticos, como o direito à vida, à igual- não seja sumariamente oprimido
o documento é a base da luta universal mentais devem ser aplicados a cada dade perante a lei e à liberdade de pelo mais forte”.
contra a opressão e a discriminação. cidadão do planeta. expressão. Podem também ser eco-

1967 A TROPICÁLIA E OS MOVIMENTOS DE CONTRACULTURA (50 ANOS).


Os movimentos estavam contra: Expressões artísticas do período:  Cildo Meirelles: “Tiradentes: Totem-monu- TROPICÁLIA: Movimento social de
mento ao preso político” – neste trabalho, experimentalismo estético.
 o controle do fluxo público da  Chico Buarque e Ruy Guerra: Calabar queimou galinhas vivas para denunciar a tor-
informação; Através da figura de Calabar (traidor nas tura e o assassinato de opositores da ditadura.  Influenciou comportamento e moral
invasões holandesas), procurava-se fazer misturando o moderno (industrial) e
 a supressão da comunicação e
wikipedia

uma crítica à conjuntura repressiva e entre- o desigual (atraso social).


da produção de opinião;
guista.
 Influência do Cinema Novo (Glau-
 a censura da produção e circula-
ber Rocha) e Teatro de Arena.
wikipedia

ção de bens culturais no país com


repressão política.  Popular regional + erudito + pop
internacional: o “ópio” também
A Ditadura no Brasil criou órgãos de cen-
sura para reprimir o conteúdo simbólico serviu como ferramenta revolu-
presente na produção cultural, e manipular cionária (mídia, guitarra elétrica).
os mecanismos de memória e consciência  Uso da TV (cultura de massa – Fes-
nacional.
tivais de MPB- TV Record).
“Inserções em circuitos ideológicos:
Afinal, as Artes incomodavam: estavam Projeto cédula” usa o dinheiro, carim-  Influência da UBES – centro de for-
a favor do dissenso, da diversidade e da  Henfil: linguagem do cartum na luta ba as cédulas anonimamente com men- mação da cultura – caráter políti-
liberdade democrática. política. sagens políticas e as devolve à circulação. co-social.

1937 CONSTITUIÇÃO DO ESTADO NOVO (80 ANOS).


Golpe de Estado que inaugurou  Traços do fascismo europeu:  Personalismo, líder = nação.  Aproximou intelectuais e ar- “Nosso pequenino fascismo
a ditadura de Getúlio Vargas, personalismo, nacionalismo tistas do governo. tupinambá”
 Institucionalizou o carnaval
garantida pelas forças armadas e e corporativismo tutelado Graciliano Ramos, Memórias do
(festa popular).  Esforço pela nacionalidade, cárcere.
apoiada numa política de massas pelo Estado.
 Difundiu o rádio (hora do originalidade cultural, auten-
(populista).
wikipedia

 Crença na capacidade técni- Brasil). ticidade da cultura popular.


Embora não se tratasse de um ca, no trabalhismo e supres-
 Ministério da Cultura e Edu-  Valorização da capoeira,
regime fascista, possuiu influên- são da diversidade (DIP).
cação, que inseriu práticas samba feijoada.
cias evidentes deste sistema:
 Uso da polícia política (Desp), modernistas e vanguardistas
 Oficialização do candomblé.
 “Estado Novo” designava a com intercâmbio com a Ges- (Portinari, Drummond, Gil-
ditadura fascista de Salazar tapo de Hitler (censura, tortu- berto Freire, Oscar Nieme-  Carmem Miranda (versão in-
em Portugal (1932). ra, perseguição). yer). ternacional).

1967 6a CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL (50 ANOS).


wikipedia
wikipedia

Legalizou o Golpe Militar de 1964 e institu-  Restrições aos direitos trabalhistas


cionalizou a Ditadura. (proíbe greves).
 Aumentou o controle do Poder executivo  Abriu espaço para a censura e repressão.
sobre os demais poderes.  Estabelece a Lei de Segurança Nacional.
 Abrigou todos os Atos Institucionais (AIs).  Utilizou o Dops.
 Eleições indiretas para presidente (man-  A mais repressiva de todas as constituições.
dato de 5 anos).
 Vigorou até 1988, quando foi instituida a
 Extinguiu partidos políticos. Constituição Federal atual.
GOIÂNIA, domingo, 15 de outubro de 2017 O POPULAR / 5

Centenário da REVOLUÇÃO RUSSA Por Luciana Cristina de Oliveira (Mestre em História pela UFU)
Os impactos do processo revolucionário russo no Brasil. Professora do COPE - ENSINO MÉDIO
wikipedia

O ano de 1917 é repleto de agitações, em plena No Brasil do primeiro quartel do século XX, a influên-
 Que sejam postas em liberdade todas as pessoas
guerra mundial o mundo assistiu a Rússia vivenciar cia da Revolução Russa não tardaria a chegar, pois o país detidas por motivo de greve;
duas revoluções. Na primeira fase, a do início do ano, vivenciava um substancial incremento industrial provo-
a pretensão era a de substituir o governo autocrático cado, sobretudo, pela onda de expansão capitalista  Que seja respeitado do modo mais absoluto o di-
de Nicolau II por um regime mais liberal, comandado dos fins do século XIX e pela necessidade de se subs- reito de associação para os trabalhadores;
pelo Príncipe Georguy Livov e pelo Ministro da Defesa tituir importações em virtude da inversão dos fluxos de  Que nenhum operário seja dispensado por haver
Aleksander Kerensky. O objetivo foi alcançado, porém participado ativa e ostensivamente no movimento
mercadorias, consequências da Primeira Guerra Mun-
Kerensky ficou pouco tempo no poder, sendo afastado grevista;
na segunda fase da Revolução por Lenin e seus seguido- dial. Nesse período, assistiu-se um vigoroso aumento
da produção industrial que trouxe consigo o crescimen-  Que seja abolida de fato a exploração do trabalho
res bolcheviques.
to da massa de trabalhadores urbanos. Mas, o desen- de menores de 14 anos nas fábricas, oficinas etc.;
Muita coisa iria mudar naquele ano, acho que nin- volvimento industrial não produziu a distribuição da ri-  Que os trabalhadores com menos de 18 anos não
guém estava preparado para imaginar as dimensões de sejam ocupados em trabalhos noturnos;
queza nem melhorias na vida do proletariado industrial,
tal metamorfose. A Rússia se transformava no primeiro
formado por migrantes que partiam do campo para as  Que seja abolido o trabalho noturno das mulheres;
país socialista da história, e as reformas sociais, econô-
micas e políticas assustaram e inspiraram muita gente. cidades, ou de imigrantes, que na sua maioria eram  Aumento de 35% nos salários inferiores a $5000 e
italianos e espanhóis. Pelo contrário, as condições de de 25% para os mais elevados;
Para o professor de Relações Internacionais Diego existência nos centros urbanos eram extremamente de-  Que o pagamento dos salários seja efetuado pon-
Pautasso, da Universidade do Vale dos Sinos e do Co- gradadas para a classe operária, com os trabalhadores tualmente, a cada 15 dias, e, o mais tardar, 5 dias
légio Militar de Porto Alegre, RS, o movimento de 1917
cumprindo uma carga horária excessiva, em indústrias após o vencimento;
acentuou as inúmeras contradições que havia na Rússia.
insalubres e doentias.  Que seja garantido aos operários trabalho perma-
Especialista em História Russa, Diego Pautasso explica
o que representou para a Rússia a primeira fase da Revo- Em 1914, o Cotonifício Crespi, uma indústria de tear nente;
lução Comunista: e tecelagem lucrou 196 contos de réis. No ano seguin-  Jornada de oito horas e semana inglesa;
te, o lucro foi de 350 contos de réis. E foi aumentando.  Aumento de 50% em todo o trabalho extraordiná-
“Esse primeiro movimento refletiu o acúmulo de rio.
Enquanto isso, aumentavam as horas de trabalho.
contradições na Rússia. Do ponto de vista estrutural,
o rápido desenvolvimento do capitalismo nas cidades Com o aumento da produção, as fábricas brasileiras, Para defender a greve, foi organizado o Comi-
tencionava acabar com as estruturas agrárias (feu- que tinham poucas máquinas, vindas do exterior, tive- tê de Defesa Proletária, que teve Edgard Leuen-
dais) e políticas (czaristas) arcaicas. Do ponto de vista ram que usá-las por mais tempo. Isso significava que os roth como um dos principais líderes.
conjuntural, a Primeira Guerra aprofundou os conflitos operários passaram a trabalhar até 16 horas por dia, sem É verdade que as greves, que tiveram lugar no Brasil
em função do desabastecimento, de reveses militares aumento de salário. entre 1917-19, inauguraram uma nova era do trabalho
e divergências políticas. Trata-se de um período de no Brasil. É também importante salientar que muitas
transição em que o velho já morreu, mas o novo ain- Em 9 de julho, uma carga de cavalaria foi lançada das reivindicações foram conquistadas contra todas as
da não tem forças para se estabelecer. A revolução contra os operários que protestavam na porta da fábrica dificuldades e resistências dos patrões, e a classe ope-
bolchevique imediatamente, representou a supera- Mariângela, no Brás, o que resultou na morte do jovem rária brasileira pôde consolidar suas lideranças nascidas
ção das estruturas feudais com a reforma agrária, a anarquista espanhol José Martinez. Seu funeral atraiu das correntes do chamado sindicalismo revolucionário
saída da guerra mundial, a estatização das fábricas, uma multidão que atravessou a cidade, acompanhando (anarcossindicalismo) ou reformista. Apesar disso, o
a autodeterminação dos povos não russos do antigo movimento operário brasileiro ainda não tinha forjado
o corpo até o cemitério do Araçá onde foi sepultado. In-
Império, entre outras medidas. Mas a questão central seus partidos de alcance nacional, sendo quase todos
dignados e já preparados para a greve, os operários da
foi o conjunto de ações que norteou a primeira expe- eles organizações locais e de vida efêmera. Muito em
indústria têxtil Cotonifício Crespi, com sede na Mooca, função dessa fragilidade organizativa, os trabalhadores
riência socialista da humanidade e converteu a URSS
entraram em greve, e logo foram seguidos por outras não conseguiram produzir conquistas duradouras. Foi
numa superpotência – não obstante as contradições
que levaram ao seu colapso entre 1989 e 1991.” fábricas e bairros operários. Três dias depois, mais de somente em 1922, sob a influência da Revolução Russa
70 mil trabalhadores já aderiram à greve. Armazéns fo- e do surgimento da Internacional Comunista, em 1919,
A experiência socialista vivida pelos russos repercu- ram saqueados, bondes e outros veículos incendiados que uma minoritária parcela do movimento operário
tiu em todo o mundo, influenciando uma série de lutas e barricadas erguidas em meio às ruas. brasileiro se dedicou à construção de um partido políti-
operárias reivindicatórias e revolucionárias, na forma- co sólido, nacional e centralizado: nascia, então, o PCB
ção da noção de cidadania: saúde, educação, mora- As ligas e corporações operárias em greve, junta- (Partido Comunista do Brasil). O discurso ideológico do
dia, segurança não são um favor do Estado, e sim o seu mente com o Comitê de Defesa Proletária, decidiram na PCB atraiu vários representantes da intelectualidade,
dever, bem como, impactou na formação dos partidos noite de 11 de Julho, 11 tópicos os quais apresentavam tais como Graciliano Ramos, Jorge Amado e o renoma-
comunistas e na estruturação da guerra fria. suas reivindicações. do arquiteto Oscar Niemeyer.
6 / O POPULAR GOIÂNIA, domingo, 15 de outubro de 2017

Temáticas FILOSÓFICAS Por Cássio Rodrigues da Silveira (Doutor em História Social pela UFU)
Quase metade das questões de filosofia que apareceram nas Professor do COPE - ENSINO MÉDIO
provas anteriores podem ser classificadas como temáticas.
Nunca é demais lembrar que com o intuito de determinar se- questões ligadas à bioética.

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a prova do Enem, tal como é pro- melhanças ou diferenças, a rela- Temos, desse modo, 26 séculos
posta, tem como objetivo avaliar ção entre diferentes aspectos. É a de reflexão filosófica ininterrup-
certas Competências e Habilida- partir dessa percepção da prova ta que podem ser utilizados na
des daqueles que participam de que precisamos compreender a elaboração de um item. Além
tal processo, por meio de matri- utilização dos conteúdos filo- disso, as preocupações da filo-
zes de conteúdo previamente sóficos com o intuito de avaliar
sofia, ao longo desse tempo, se
estabelecidas. O que isso quer certas habilidades.
desdobraram em diversas temá-
dizer de forma mais específica? Em primeiro lugar, a filosofia ticas, que incluem a Teoria do
Que o elaborador de um item (ter- surgiu na Grécia, no século VI
Conhecimento, a Lógica, a
mo pelo qual se denomina aqui- a.C., com Tales de Mileto, atra-
vessou toda a história ocidental, Política, a Ética ou a Estéti-
lo que costumamos chamar de
questão) do referido processo, na e continua sendo desenvolvida, ca. O candidato, se quiser estar
verdade, quer aferir a capacida- nos dias de hoje, de forma con- bem preparado para um con-
de do candidato de realizar uma sistente por figuras como Axel curso que lhe dá acesso a tan-
tarefa específica, que pode en- Honneth, membro da terceira tas oportunidades e com tantas
volver a simples identificação de geração da Escola de Frankfurt, especificidades, precisa estar
um componente ou informação, ou Peter Singer, importante filó- atento para algumas informa-
a comparação entre elementos sofo utilitarista preocupado com ções relevantes. Vamos a elas!

Quase metade das questões de filo- predomínio nítido da Filosofia Moderna ticos, Heráclito e Parmênides, e as rela-
Após esse trabalho, ainda na mo-
sofia que apareceram nas provas anterio- sobre os demais períodos. Cerca de 60% ções entre a mudança, a imobilidade e o
dernidade, uma revisão de Filosofia
res podem ser classificadas como temá- das itens que podemos entender como conhecimento. Tentam conciliar, desse
Política seria algo bastante sensato a
ticas. O que significa isso? Sem tratar organizadas com critério na cronologia modo, o movimento do primeiro (mun-
se fazer. Nesse sentido, vale a pena co-
de um filósofo ou de um período envolvem filósofos modernos, contra do sensível de Platão ou potência de
meçar por Nicolau Maquiavel e seu
específico, por meio de um texto, uma 35% de itens que envolvem a Antiguida- Aristóteles) com o Ser do segundo (Ideia
realismo político, método inovador fren-
charge ou outro objeto de motivação, a de Platão ou essência de Aristóteles).
de, e apenas 6% de itens relacionados aos te às visões utópicas presentes na filoso-
questão visava avaliar a capacidade períodos da Idade Média e da Contem- fia até então. Os teóricos contratualistas Um período que tem sido bastan-
do candidato de se articular com poraneidade. Lembrando que o período Thomas Hobbes (absolutista), John te valorizado nas últimas provas é o
uma temática específica, fosse ela Locke (liberal) e Jean-Jacques Rou- helenístico, marcado pelo contato do
medieval é marcado pela hegemonia do
a da ética ou da política, por exemplo. sseau (democrata), também são uma grego com culturas diversas e pela tenta-
cristianismo e que os filósofos eram ma- tiva de responder à questão sobre “como
Lembre-se de que um item do Enem não boa pedida para essa revisão. Não se
joritariamente padres, a compreensão da se deve viver”. Tivemos, nesse período,
irá te pedir a alternativa correta, mas exi- esqueça que eles elaboram uma visão
relação entre a fé e a razão, com predo- quatro respostas mais significativas. Para
girá que você escolha o “discursor”, que que denominamos de jus naturalismo,
mínio da primeira sobre a segunda, e de os céticos, o homem atinge a tranquilida-
consiste na alternativa mais adequada ao que consiste na hipótese da existên-
que Deus é, no fundo, a causa e a fonte de de por meio de uma postura de desape-
contexto que foi construído pelo elabo- cia de direitos humanos fundamentais
rador, afastando-se dos distratores, alter- entendimento de tudo, pode possibilitar go com relação ao desejo de conhecer.
anteriores à adesão ao corpo político,
ao candidato realizar uma boa avaliação Para os cínicos, a paz decorre também
nativas que destoam do contexto, por que é uma das bases para o início da
sobre um item de filosofia medieval, do desapego, mas praticado com relação
mais que o indivíduo que esteja realizan- discussão sobre os direitos humanos.
se é que ele vai aparecer, na prova que se aos bens materiais e às posições sociais,
do a prova possa considerá-la correta. Montesquieu, com a defesa da divi-
aproxima. Quanto aos contemporâneos, lembre-se de Diógenes e do seu barril.
Das temáticas que apareceram nas são do poder e com sua definição de Para Epicuro, atomista, o prazer da alma
é possível destacar os temas da dialéti- liberdade como “o direito de fazer
últimas provas, é possível notar uma tranquila decorre do fato de o homem se
preponderância clara da questão ca, com Hegel e Marx, da relação entre tudo aquilo que as leis permitem”, não relacionar de forma adequada com os de-
da ciência e do método científico, existência e essência no existencialismo, pode ficar de fora do seu fechamento. mais prazeres, evitando aqueles que pos-
exigindo do candidato que ele conheça das relações entre poder e ciência em Mi- sam trazer sofrimentos posteriores. Para
chel Foucault. os estoicos, uma compreensão de que
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minimamente as condições de seu de-


senvolvimento a partir das modificações Não é difícil, no entanto, que o leitor os eventos do mundo seguem relações
de concepção típicas da modernidade. tenha percebido que nesses últimos dias necessárias, comandadas por um Logos
Entender a importância da linguagem que antecedem a prova, se ele ainda qui- absoluto, deveria conduzir o indivíduo a
matemática, evidenciada por autores ser dar uma última olhada e aparar algu- distinguir aquilo que ele pode modificar e
como Galileu Galilei e René Descartes, e aquilo que definitivamente não pode ser
ma aresta em conteúdos filosóficos, deve
da pesquisa empírica, a partir de filóso- alterado pelas suas ações, fazendo com
aproveitar o tempo para revisar os filóso- que o sujeito pare de sofrer, sobretudo,
fos de tradição anglo-saxã como Francis fos modernos, em uma ordem sensata.
Bacon, Thomas Hobbes, John Locke e com os eventos que ele não pode modi-
Em função do percentual de aparições, ficar, e entendendo o sofrimento como
David Hume, é fundamental para o en-
primeiro dê uma olhada nos autores vin- parte natural da vida.
frentamento de questões dessa natureza.
culados à Teoria do Conhecimento, Entendendo um pouco melhor os ob-
Apesar de ser uma prova idealizada
tomando pelo menos um representan- jetivos buscados por cada item do Enem
pelo MEC e da preocupação, explícita
te das principais correntes filosóficas. e a composição que tem sido apresenta-
no caso das orientações para a Redação, da nas últimas provas, acredito que o lei-
com relação ao respeito aos direitos hu- Minhas indicações, nesse sentido, são:
René Descartes, método, dúvida e tor que participará desse concurso tem
manos, não tem sido comum nos pro- enormes chances de, primeiramente,
cessos anteriores a presença de ques- racionalismo moderno; David Hume,
fechar a sua preparação com um pouco
tões sobre ética. Nossa orientação, no empirismo e crítica aos limites do méto- Terminada essa revisão da moderna
mais de tranquilidade, sabendo que não
entanto, é de que o estudante vá para a do indutivo; Immanuel Kant e o Idealis- vale a pena voltar pra Filosofia Antiga. precisa dar a todos os componentes do
prova com as principais doutrinas éticas mo Transcendental: a experiência como Como o tempo é curto, é bom se con- conteúdo de filosofia o mesmo peso nes-
bem trabalhadas, pois, além da possibi- um composto entre aquilo que a mente centrar nos dois grandes nomes do pe- sa reta final e, por último, e o mais impor-
lidade de cobrança em um item na pro- fornece de si mesma (espaço e tempo, ríodo: Platão, a divisão da realidade em tante, interagir com a prova de maneira
va de ciências humanas, pode aparecer por exemplo) e aquilo que o sujeito de dois mundos (sensível e inteligível), o co- mais consciente e eficiente. Eu, profes-
algum tema de redação no qual alguma conhecimento recebe a partir dos dados nhecimento por meio da Reminiscência; sor Cássio Rodrigues, de filosofia, junta-
corrente ética pode ser utilizada como dos sentidos. Assimilando esses três au- Aristóteles e a crítica à Teoria das Ideias, mente com toda a equipe com Colégio
elemento transdisciplinar para ancorar a tores, o leitor estará preparado para en- o conhecimento a partir da experiência, Prepara Enem, desejo a você um ótimo
argumentação do candidato. frentar algum item que apresente algum por meio da Abstração. Lembre-se de fechamento de preparação e uma exce-
Quando analisamos a distribuição outro representante da mesma corrente que os dois estão tentando lidar com lente prova, com o merecido sucesso.
cronológica dos itens de filosofia, há um sem grandes dificuldades. os problemas deixados pelos pré-socrá- Grande abraço!
GOIÂNIA, domingo, 15 de outubro de 2017 O POPULAR / 7

Em busca da IDENTIDADE NACIONAL


Por Moisés Arantes (Sociólogo pela UFU)
“É possível viajar e desvendar os mistérios do Brasil, através Professor do COPE - ENSINO MÉDIO
da sociologia, da literatura, da música e do cinema.”
Antes de falarmos da questão cultu- o do litoral e o do sertão. Em destaque, mas bem pode ter sido aquilo que, na Outro movimento preocupado em
ral no Brasil contemporâneo, conteúdo Euclides da Cunha mostrou a miséria e região, era conhecido como ‘caminhei- mostrar o Brasil aos brasileiros foi o Mo-
sempre presente no ENEM, iniciaremos o isolamento a que estava condenada a ra’, diarréia. Uma prosaica e deprimente dernismo, coletando elementos do
fazendo uma breve abordagem pela aná- população do sertão. Canudos resultou condição que vitimava, e ainda vitima, cotidiano da população, expressões,
lise dos movimentos literários clássicos do confronto entre esses dois Brasis, milhões de brasileiros (crianças, sobre- expectativas, costumes e crenças. Dessa
do século XIX, o que nos permitirá des- distintos entre si no espaço e no tempo, tudo) e que está ligada à má higiene seleção nasce Macunaíma, a obra mais
cobrir um novo Brasil. A prática da leitura pelo atraso de séculos em que vivia mer- dos alimentos e à deficiente qualidade famosa de Mário de Andrade. As ques-
e, principalmente, da boa leitura, auxilia, gulhada a sociedade rural. da água. Morte inglória, portanto. Mas, tões regionais também foram bastante
e muito, o entendimento da sociologia, de qualquer modo, o cadáver foi de-
em especial do tema abordado – Identi- Euclides da Cunha (1866-1909), focadas, em especial, pelos autores Gra-
senterrado e decapitado. A cabeça não ciliano Ramos e Raquel de Queiroz.
dade Cultural. jornalista e engenheiro militar, indo
foi, como a de Tiradentes, exibida em
A partir de agora, você entrará no ao interior da Bahia como enviado de Na tentativa de compreender a arte
público para escarmento da população
mundo da literatura, do cinema e da guerra (repórter) para cobrir a Guer- e a cultura popular no país, surgem,
sertaneja. Não, esses tempos já haviam
música, com a intenção de compreen- ra de Canudos, ficou impressionado nos anos 50 e 60, movimentos culturais
passado. Em vez disso, a cabeça foi en-
der melhor a questão cultural e a for- com o que viu – uma população po- como o projeto CPC (Centro Popular
bre, fanatizada e completamente di- viada a um cientista para ser estudada:
mação da nacionalidade no Brasil. de Cultura) da UNE (União Nacional dos
ferente da população do sul do país, era preciso descobrir o que havia ali,
Com tristeza digo: abordaremos ape- Estudantes). O objetivo era estabelecer
mas preparada para enfrentar a miséria que poder misterioso capaz de mobili-
nas alguns autores, e de forma rápida. uma ponte entre os intelectuais engaja-
e as dificuldades do sertão, com uma zar multidões residira naquele cérebro.
Nossa viagem do descobrimento dos num projeto de transformação social
forma própria de encarar o mundo e a O responsável por essa análise seria o
começa com o romantismo. Usando e os anseios das minorias presentes na
vida – produziria um clássico da litera- médico Nina Rodrigues. sociedade civil.
uma linguagem do dia a dia, essa es-
tura mundial “Os Sertões”. Uma obra O trabalho de Nina Rodrigues foi alta-
cola teve um papel crucial na formação O grave problema desse movimento
contundente que destruía o sonho mente influenciado pelas ideias de Jose-
da identidade brasileira, pois, ao tentar era o fato de os intelectuais acreditarem
brasileiro da república e da civilização
compreender o que era ser brasileiro, ph Arthur, conde de Gobineau, que veio que a arte feita pelo próprio povo era
branca europeizada.
contribuiu bastante para formação de um para o Rio de Janeiro como chefe da mis- rudimentar, com nível de elaboração ar-
sentimento patriótico. são francesa entre abril de 1869 e maio
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tística primário. Segundo o CPC, para


Os autores brasileiros da geração de 1870. transformar a sociedade, era preciso re-
romântica buscaram sua fonte de inspi- Gobineau interessou-se pela mesti- constituir a arte do povo, eliminando seu
ração na natureza e nas questões sociais çagem no Brasil. É considerado, hoje, caráter rudimentar. Assim, a práxis revo-
e políticas do país. As obras brasileiras, um dos precursores do racismo nazista. lucionária cumpriria o seu papel na trans-
deste período, valorizavam o amor sofri- formação social.
Previa que a mistura de raças levaria à
do, a religiosidade cristã, a importância
pura e simples extinção da população Já o Teatro de Arena e Oficina con-
de nossa natureza, a formação histórica
do nosso país e o cotidiano popular. brasileira. Suas ideias coincidiam com o segue recuperar e reinterpretar eventos
pensamento político brasileiro da épo- e personagens históricos do Brasil. Ou-
Castro Alves (1847-1871), conhecido ca, voltado para o branqueamento e tro marco foi o cinema novo (Glauber
como o “Poeta dos Escravos”, mani- europeização do país, e foram seguidas, Rocha, Carlos Diegues e Nelson Pe-
festou toda sua sensibilidade escre- em maior ou menor grau, por institui- reira dos Santos), cuja temática essen-
vendo versos de protesto contra a si- ções voltadas ao estudo antropológico: cialmente social contribui para a constru-
tuação de exploração a que os negros Euclides da Cunha a Faculdade de Medicina da Bahia, o ção de um retrato brasileiro que enfoca a
eram submetidos. Museu Nacional e a Escola Militar, no Rio pobreza do povo, a crueldade das auto-
Em 1902, Euclides da Cunha termi- de Janeiro. ridades e a falta de perspectivas. Como
José de Alencar (1829-1877) escre- nou seu livro, contando a verdadeira
veu romances como Iracema, em que As teorias raciais, surgidas no Brasil diz o diretor de cinema Carlos Diegues,
história sobre o extermínio de Canudos:
índios eram protagonistas, procuran- nas últimas décadas do século XIX, não o cinema novo tinha três objetivos: 1) mu-
uma luta desigual e vergonhosa, em que
do valorizar e definir como uma marca o exército brasileiro se cobriu de infâmia. eram necessariamente agressivas aos dar o cinema brasileiro, 2) mudar o Brasil
de nacionalidade aquilo que antes era O inimigo invencível, afinal de contas, grupos que formavam a nacionalidade. e 3) mudar o mundo.
considerado um defeito: o fato de o não passava de gente sofrida das secas. Nina Rodrigues não desprezava as ma- Assim, finalizamos a nossa viagem
Brasil ser um país habitado por índios, Mulheres, velhos e crianças que resisti- nifestações culturais dos negros, pelo com o Tropicalismo dos anos 60, lide-
de ter uma cultura indígena. ram até o fim numa luta inglória. Negros contrário, buscava compreender a vida rado por Julio Medaglia, Caetano Veloso
e índios que buscavam criar um espaço e os costumes da população africana e Gilberto Gil. Esse movimento, na mú-
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em que pudessem ser admitidos como que viera para cá como escrava. Entre- sica popular brasileira, continuou discu-
integrantes da nação. tanto, para ele, a miscigenação resulta- tindo temas importantes como: o que é
A partir de Canudos, Euclides da ria, inevitavelmente, em desequilíbrio nacional? O que é estrangeiro? O que é
Cunha passará a defender a necessidade mental. popular? O que é erudito?
de se conhecer e compreender esse ho-
mem brasileiro desconhecido e perdido Ressalta-se, ainda, na construção do Com tais exemplos, notamos que
no interior. racismo cientifico, o médico italiano e houve, entre os intelectuais e artistas bra-
criminologista Cesare Lombroso, que sileiros, independentemente de sua con-
Outro autor, o qual compartilha acreditava na ideia de “criminoso nato”, cepção político-ideológica, a preocupa-
do positivismo e dos determinis-
cujas características manifestar-se-iam, ção com a questão da nacionalidade e
mos (biológico e geográfico), é
inclusive, no tipo da face e na conforma- com a definição de uma cultura brasileira
Raimundo Nina Rodrigues (1862-
1906). Médico, professor da Facul- ção do crânio. Medir e estudar crânios e popular.
dade de Medicina da Bahia, como era uma obsessão da época, o que expli- Ao detectar e estudar a cultura negra,
outros doutores de sua geração, era ca a solicitação de Nina Rodrigues pelo por exemplo, o que os autores faziam
também etnólogo. Com esse autor, o crânio de Antônio Conselheiro. era tentar compreender o Brasil e achar
José de Alencar racismo e o preconceito brasileiro to- Analisando o crânio de Antônio Con- um “lugar” para essa cultura dentro da
mam um rumo “científico”. selheiro, Nina Rodrigues observou que, cultura brasileira. O mesmo se fazia,
Na próxima etapa dessa viagem, Quando, em 5 de outubro de 1897, em se tratando de um “mestiço”, o mor- por exemplo, em relação aos índios e
Pré-modernismo, estuda-se Euclides da as tropas federais entraram em Canudos to era “muito suspeito de ser degenera- às populações camponesas do interior.
Cunha, como um dos primeiros escri- para o ataque final, Antônio Conselhei- do”. Também notou que o morto quase Por essa razão, acreditamos ser possível
tores brasileiros a diagnosticar o subde- ro já não estava à frente de seus fiéis. não tinha dentes. O que, provavelmente, viajar e desvendar os mistérios do Brasil,
senvolvimento do Brasil, referindo-se à Havia morrido em 22 de setembro. A foi, em seu laudo, a única observação através da sociologia, da literatura, da
existência de dois países contraditórios: causa da morte não foi bem esclarecida, apoiada na realidade. música e do cinema.
8 / O POPULAR GOIÂNIA, domingo, 15 de outubro de 2017

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