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Alain Badiou – os diferentes regimes de discurso

Alain Badiou redigiu o livro São Paulo: a fundação do


universalismo. Safatle, no Posfácio, escreveu “De que filosofia
do acontecimento que a esquerda precisa?”
14 de fevereiro de 2022, 16:32 h Atualizado em 14 de fevereiro de 2022, 16:37
   
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(Foto: Roberto Parizotti/ CUT)


Por Rogério Skylab, no site A Terra é Redonda

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Das experiências de maio de 1968, tivemos três


desdobramentos: as políticas multiculturais da diferença; as
críticas pós-modernas dos universais; e, tanto a psicanálise
quanto o marxismo, via Lacan e Althusser, retomando
temáticas da esquerda que teriam perdido a cidadania. Nesse
último desdobramento se alinham tanto Giorgio Agamben
quanto Alain Badiou. Poderíamos mencionar alguns pontos em
comum entre ambos, tais como: a relação intrincada entre
violência e política; a crítica aos limites da democracia
parlamentar; crítica das temáticas dos direitos do homem;
política como campo de realização da verdade de uma
situação; função central da igualdade como ordenadora das
lutas políticas; a armadilha que consiste em suspender a
política através de um discurso sobre a moral; e o papel dos
universais. Como pano de fundo a esse terceiro
desdobramento das experiências de maio de 68, podemos
situar a renovação da ontologia e seu impacto no campo
político.

1.

Em Badiou, podemos visualizar três instâncias diferentes: o


Ser, o evento (acontecimento) e a situação. O acontecimento,
que neste texto será o protagonista, é a-normal, instável,
subtraído à representação, e tem a força de colocar situações
como a política em movimento. A questão é que se a política,
enquanto situação, é a realização de ideias normativas de
justiça e consenso, os quais não passam de imperativos de
conservação (valores resultantes de limitações das
possibilidades de vida), para Badiou caberia realizar então a
crítica totalizante, qual seja, a que invalidaria valores. O grande
problema da crítica social, atrelada à crítica moral, é que,
voltando-se contra a extensão dos valores, acaba perdendo o
solo que poderia fundamentá-la. Com isso, ao invés de ser uma
crítica totalizante que invalide valores, permanece apenas uma
crítica que invalida casos.

Hegel, ao estudar as forças produtivas da negatividade da


morte, além de se situar numa perspectiva dialética entre vida e
morte, filia-se a uma tradição vitalista aristotélica, segundo a
qual, existe a persistência da animalidade no homem. A partir
daí se descortina todo um elenco de temas, tais como da
finitude do indivíduo, exposto a sofrimento e morte, e,
consequentemente, à situação de vítima. Sofrimento resultante
da opressão e da impossibilidade de realizar expectativas de
justiça. Da exigência de reparação subjetiva a um poder
reconhecido como tal, capaz de satisfazer demandas de
reparação, passa a se vislumbrar toda uma lógica que
perpassa as formas de vida da modernidade.

Segundo essa lógica, o sujeito se define como individualidades


resultantes de processos de socialização e formação do Eu,
que se desenvolvem na família e no Estado. Essa definição de
sujeito, enquanto resultado de um processo ao qual se
conforma e baseado em valores que são imperativos de
conservação (porque nossa animalidade está exposta à morte),
vai contra uma outra concepção que tem como fim o
questionamento desses valores. Para essa, o que define o
sujeito são operações que o colocam para além do estado e da
família. E o sofrimento é resultante, não de uma injustiça
impetrada contra o indivíduo, mas à impossibilidade de
manifestação da diferença, do não-conformismo. Sob essa
perspectiva, nenhum poder é reconhecido com a função de
reparação porque a questão torna-se, justamente, superar esse
estado de proteção social. Se a humanidade passa a ser vista
como uma construção que nos leva à condição política de
vítimas, cabe instaurar um novo campo conceitual, em que o
sujeito se torna atrelado ao acontecimento. 
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2.
Conforme Safatle, seguindo as pegadas de Badiou, “os
acontecimentos ocorrem em situações localizáveis, mas
colocam a língua em um impasse por trazerem processos que
ainda não têm nome, que devem ser pensados como fora do
lugar, como nomadismo da gratuidade e que permitem o
advento de um sujeito desprovido de toda identidade, capaz de
instaurar uma posição ex-cêntrica, indiferente em relação às
possibilidades de ação postas pelo ordenamento jurídico,
indiferente aos costumes e hábitos”. O acontecimento, pois, é a
condição de possibilidade para a universalidade, daí porque ele
não é o ser como também não é o não-ser. E o novo sujeito, ao
invés de continuar ligado às normas de justiça (a legalidade é
predicativa, particular, parcial – enumera, nomeia e controla as
partes de uma situação), vai se atrelar a uma noção não-
identitária e de igualdade.

3.
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O conceito de Real que Badiou vai explorar deve-se sobretudo


à Lacan: campo de experiências subjetivas que não pode nem
ser simbolizado e nem colonizado por imagens. É sempre
descrito de maneira negativa porque são experiências que se
oferecem ao sujeito sob a forma de processo disruptivo. O
comportamento humano seria então orientado por três
instâncias: simbólico, imaginário e Real.

No livro O século, Alain Badiou tenta definir o sentido das


experiências históricas do século XX por uma paixão pelo Real
e pela procura do novo homem. Mas essa paixão pelo Real,
longe do que poderíamos entender como realidade, teria,
antes, o sentido de uma não conformação à realidade.
Portanto, a paixão pelo Real indicaria a paixão pela ruptura.
Porque o Real seria justamente a experiência oferecida ao
sujeito sob a forma de ruptura. Essa paixão se dá então via
gozo (dissolução do eu através do campo pulsional), ao invés
do prazer, ao qual se mantém ligado o Eu. Sob esse prisma, o
sentido de sofrimento readquire um novo valor: não é
desprazer, mas gozo (indistinção entre satisfação e terror em
razão da dissolução de si); afeto produzido pela manifestação
de um real horrível e entusiasmante, mortífero e criador, que
deve nos livrar de uma subjetividade esgotada.

Se aqui encontramos um laço que amarra Lacan e Badiou, no


entanto, ambos se afastam por um outro aspecto: Lacan, ao
fugir da interioridade, elege os processos empíricos como
determinantes das condições de validade de todo pensar;
Badiou, por sua vez, em sua teoria do sujeito, quer formalizar
sem antropologizar – com isso, eleva o conceito de pulsão a
um conceito transcendental e com isso secundariza as
discussões sobre gênese empírica.
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Pelo prisma da paixão do Real, a filosofia da história, ao invés


de cumulativa e teleológica, visa fornecer as condições pelas
quais uma verdade aparece como interrupção, exceção radical.
E com isso, a história do século XX passa a ser vista, não de
maneira negativa como uma sucessão de catástrofes, mas
como uma experiência de ruptura.
É uma divisão irredutível que Badiou vai explorar até as últimas
consequências. Porque atrelar-se à finitude e ver o passado
recente como uma sucessão de catástrofes, acaba por gerar
um movimento mais ligado à moral que à política, gerando,
inclusive, a eliminação dessa última: uma ética consensual,
qual seja, um sentimento provocado pelas atrocidades e que
substitui as velhas discussões ideológicas; um apagamento do
passado e de suas lutas, criminalizando-as e elevando o medo
a afeto central da política (evitar que algo aconteça, impedir
que aconteça de novo); a essa postura reativa, uma resignação
subjetiva e um consentimento ao que existe – nesse sentido,
não só o passado é apagado, como o futuro também o é,
enquanto novo e imprevisível.

4.

Para Alain Badiou, Paulo representa tanto a ideia de ruptura


quanto o pensamento prático enquanto materialidade subjetiva
dessa ruptura. Não basta, portanto, que ele seja o pensador
(poeta do acontecimento), sem que pratique e enuncie atos
constantes, o que nos remete a figura do militante. A ideia
passa então a estar ligada a um pensamento prático que a
condiciona. E com isso, sublinha-se a intenção subjetiva que é
estruturada de maneira completamente diferente de um
historiador.

O pensamento de Badiou tem esse solo concreto: ao invés da


verdade vir atrelada a uma historicidade cultural, que a
condiciona a uma lei, a verdade é instaurada por um gesto
subjetivo que declara um acontecimento aleatório e singular,
como a ressurreição de Cristo, no caso de Paulo.

A questão consiste então em estudar esse gesto subjetivo.


Como o enunciado “Jesus ressuscitou” tem um caráter
imaginário, começa aqui então uma espécie de verdade
desgarrada do real, real esse entendido enquanto conjunto
objetivo ou conjuntos históricos pré-constituídos. Algo inédito
foi declarado, fora de órbita, provocando risos e suscitando o
absurdo (talvez possamos aqui nos remeter a ideia de metáfora
em Richard Rorty e sobre a importância desse conceito em seu
sistema).

Esse fora do lugar é a condição de universalidade. Quem a


declara, instaura uma ruptura e cria um novo sujeito. O
universal é laico porque está ligado ao leigo – não diz respeito
à classe, é alheio ao poder e não pertence a nenhuma ordem.
O ser é múltiplo e contingente justamente porque não atende a
nenhuma necessidade.

O importante é que todo esse processo é nos dado a ver pela


declaração subjetiva. Não existe nenhuma espécie de objeto
que exista independentemente do sujeito, ao qual caberia fazer
sujeitar uma verdade. É um processo de fundação que se dá:
assim como o dito não corresponde ao estabelecido, quem o
diz funda um novo sujeito sem identidade. Tudo se dá no
instante, é atual. E deixa de ter a forma linguística do
julgamento.
A esse universal, estabelecido pelo processo da verdade,
contrapõe-se o falso universal, que, contemporaneamente,
toma a forma das abstrações econômicas (na época de Paulo,
era o juridismo romano). Vejamos a universalidade vazia do
capital: tudo o que circula cai em uma unidade de conta, que é
de natureza homogênea. Daí a lógica do equivalente geral.
Essa espécie de repetição é o que o processo de verdade vem
interromper, porque, incapaz de se sustentar na permanência
abstrata de uma unidade de conta, mantém-se ligada não a
uma abstração, mas a uma singularidade universalizável.

Já na singularidade identitária, visualizamos sua relação com a


desterritorialização do capital. Daí porque chamamos a
abstração monetária de falso universal: não só as identidades
subjetivas e territoriais reivindicam o direito de serem expostas
às prerrogativas uniformes do mercado, como, seguindo a
mesma lógica, a homogenização abstrata do capital acaba por
permitir que circule apenas o que se pode contar, mas não a
incontável infinidade de uma vida humana singular – o que
acaba gerando as identidades fechadas. Essa é a cumplicidade
entre o capitalismo liberal do mercado mundial e a ideologia
culturalista. Não só na França a comunitarização do espaço
público e o desemprego tem mais relações que a nossa vã
imaginação possa conceber.

5.

Conforme Badiou, tendo como foco Paulo, são quatro as


máximas da verdade como singularidade universal: (1) a teoria
da igualdade, independentemente de classe social e gênero (o
sujeito cristão passa a existir a partir do acontecimento que
declara, contra todas as condições extrínsecas de sua
existência ou identidade); (2) consequentemente, a verdade é
de caráter subjetivo (no caso de Paulo, a ressurreição de Cristo
não está submetida nem à lei judaica – obsoleta e nociva –,
nem à lei grega – subordinação do destino à ordem cósmica ( a
verdade é a declaração subjetiva referente ao acontecimento);
(3) a verdade é um processo e não uma iluminação (é
constituída pela convicção, pelo amor e pela esperança); (4) a
verdade, enquanto subjetividade, é indiferente à situação e
opiniões estabelecidas).

6.

A conversão de Paulo na estrada de Damasco simula o


acontecimento fundador, a ressurreição de Cristo. Foi algo que
se deu repentinamente, de forma aleatória e incalculável. Foi
um acontecimento singular, ao qual ele próprio fez questão de
não confirmar diante dos apóstolos, permanecendo uma
“surreição” subjetiva. Daí vem sua convicção inquebrantável
em relação ao seu destino e sua eficácia militante, fora de
Jerusalém, antigo centro, confirmando que a universalidade
verdadeira não tem centro.

Ao contrário do discurso filosófico, Paulo só passa a falar o que


falou a partir desse novo sujeito instituído repentinamente – o
que significa que a posição subjetiva constitui também o
argumento do discurso. O enunciado da antifilosofia de Paulo,
como também da antifilosofia de Rousseau, ou do próprio
Nietzsche, é formado pela posição enunciativa e pelo
argumento. A conversão que institui o novo sujeito é uma ação
fulminante, não dialética, e não deixa de ser o sinal subjetivo
do acontecimento propriamente dito que foi a ressurreição de
Cristo.

Será a partir das condições dessa conversão, feita a partir de


uma intervenção casual (não foi uma conversão movida por
representantes da igreja), que Paulo tira sua consequência:
somente se pode partir da fé, da declaração da fé. Essa
doutrina está, portanto, entrelaçada à existência. Fragmentos
existenciais, que às vezes parecem casos, são elevados a
posição de garantia da verdade.

7.

O que Alain Badiou chama de “primeira linha de frente de


Paulo” e que vai servir para instaurar a assembleia de
Jerusalém, do ano de 50, vai ser o seu confronto com os
judeus-cristãos. Essa assembleia histórica é fundadora pois vai
dotar o cristianismo de um duplo princípio de abertura e
historicidade. Enquanto que para judeus-cristãos a nova
verdade, qual seja, a ressurreição de Cristo, mantém-se
submetida a sua origem, isto é, à comunidade judaica, e,
portanto, exigindo-se a circuncisão de todos os fiéis, para
Paulo os traços distintivos das comunidades ou suas práticas
rituais deixam de ser relevantes.

Nesse sentido, Paulo se mantém afastado tanto dos pagãos-


cristãos, para quem a incircuncisão é um valor, quanto dos
judeus-cristãos, os quais, não só exigem a circuncisão como
distinguem os graus de adesão: os verdadeiramente cristãos
não são iguais aos simpatizantes. Para Paulo, a circuncisão e a
incircuncisão perderam valor: não são nem positivo nem
negativo. Com isso desaparece também os graus de adesão. A
distinção é entre fiel e não fiel, assim como a referida diferença
passa a ser de natureza subjetiva, sem intermediação nem
mediação.

Em outras palavras, o que sustenta o processo universal de


uma verdade é o reconhecimento subjetivo da singularidade de
um acontecimento, no caso, a ressurreição de Cristo. Neste
caso, o ser do acontecimento, isto é, a comunidade em que
veio se efetuar, não se confunde com os efeitos da verdade,
que se dão pós-acontecimento. A imanência da situação é que
vai definir o núcleo histórico do cristianismo, do qual, Pedro vai
ser o principal responsável. Mas o outro núcleo, de abertura do
cristianismo, conquistando pagãos, vai sublinhar a pertinência
do acontecimento, diante do qual, todos são iguais, cabendo o
reconhecimento subjetivo do singular – esse núcleo de
abertura, coube a Paulo gerir.

8.

A segunda linha de frente de Paulo vai se dar em Atenas com


os filósofos. Motivo de gargalhada geral entre os sábios, o
surgimento subjetivo, para Paulo, não poderia se dar como
construção retórica de um ajuste pessoal às leis do universo e
da natureza. O pensamento, ao contrário, surge como ruptura e
não como construção retórica.
Dessa forma, o pensamento de Paulo se insurge contra as
duas grandes referências históricas da época: a sabedoria e a
lei; os gregos e os judeus.

9.

Coube aos Atos dos apóstolos, de Lucas, o contragolpe à


heresia de Marcião, que, em sua “Antíteses”, subdivide a
unicidade divina em Deus Criador e Deus-Pai: o primeiro,
referente ao antigo testamento, um deus maléfico, diretamente
revelado pela narrativa de seus obscuros malefícios; e o
segundo, revelado pelo Novo Evangelho, de forma mediadora
(enquanto que os 12 apóstolos estariam sob o imperativo do
obscuro Deus Criador, Paulo, segundo Marcião, seria o
apóstolo autêntico).

A igreja, através de seus doutores e já sob a diáspora judaica,


processo que culmina na transferência da capital do
cristianismo, de Jerusalém para Roma, vai empreender a
construção de um Paulo centrista, em obediência aos
compromissos fundamentais do cristianismo – assembleia de
50. Nesse sentido é que vai se destacar em Paulo a figura do
sacerdote, deslocando-se o foco antes centrado na figura da
santidade, qual seja, de quem sofre o impacto do acaso
fulgurante, do acontecimento propriamente dito.

Alain Badiou resgata então a figura de Pasolini, que vem a


escrever um filme sobre São Paulo, nunca rodado, resgatando
toda sua contemporaneidade. No filme, o Império de Roma é
Nova York, Jerusalém é Paris com os resistentes e os
partidários de Pétain, Atenas é a cidade de Roma, e Damasco
é Barcelona (Espanha de Franco). Mas a ideia fundamental de
Pasolini é a traição interna que explica inclusive a impostura
dos Atos dos apóstolos de Lucas. Em outras palavras, a
verdade dessa impostura está na figura subjetiva do padre,
construída a partir da dialética entre santidade e atualidade:
“como a autêntica santidade pode suportar a prova de uma
história fugidia e monumental ao mesmo tempo em que essa
santidade é uma exceção e não uma operação? Endurecendo-
se, organizando-se. Mas o que era para se preservar da
corrupção da história, mostra-se uma corrupção essencial (a do
santo pelo padre)”.

A verdade da traição externa (Atos dos apóstolos) estaria na


traição interna. É quando o militante, o homem de aparelho,
seja ele o criador da Igreja, ou da organização, ou do partido,
vem suceder a experiência do acontecimento, de forma a
preservá-la e culminando em corrompê-la. Paulo teria vivido as
duas experiências e suas epístolas provam que são
documentos militantes, intervenções, da mesma forma que o
foram Wittgenstein em relação a Russel, Lenin em relação a
Marx e Lacan em relação a Freud. A identificação de Paulo
com o militante é parte do processo da verdade, pós-
acontecimento, quando a santidade entra em relação com a
atualidade.

10.

No capítulo IV, “Teoria dos Discursos”, um dos mais


importantes do livro, Alain Badiou vai tratar dos regimes do
discurso e vai trazer à baila a figura do quadrilátero. Já em sua
Lógica, Hegel vai nos remeter a essa figura, mostrando-nos
que o Saber absoluto de uma dialética ternária exige um quarto
termo. Badiou vai sublinhar nesse sentido a analogia entre
Paulo e Lacan: assim como Lacan pensa o discurso analítico
num tópico móvel a partir do qual se conecta aos discursos do
mestre, do histérico e da universidade, Paulo também propõe
um plano de discursos formado pelo seu (discurso cristão), pelo
discurso grego, judaico e místico. Tais discursos são vistos
como disposições subjetivas e não designam nem o povo
(conjunto humano objetivo com suas crenças, costumes, língua
e território) e nem as religiões constituídas e legalizadas.

11.

O discurso judaico tem como ponto de partida a exceção ao


todo, exceção essa representada pelo signo. A figura subjetiva
desse discurso é o profeta, aquele que faz signo, expondo o
obscuro a fim de que seja decifrado, atestando a
transcendência. É, portanto, um discurso de exceção: invoca-
se a exceção à ordem cósmica grega para assinalar a
transcendência divina. Tanto o signo profético, quanto o
milagre, quanto a eleição de um povo, constituem o discurso
judaico. Nesse sentido, a história passa a ser governada por
cálculos transcendentes, o que não deixa de ser uma forma de
dominação.

Para o discurso grego, também a história é governada por


cálculos transcendentes: a diferença é que, neste caso, o ponto
de partida é o todo. O processo do discurso grego é se ajustar
à ordem cósmica e não transcendê-la. Em ambos os discursos,
o judaico e o filosófico, prevaleceria o discurso do Pai: no caso
judeu, consolidam-se comunidades numa forma de obediência
à Deus; no caso grego, uma forma de obediência ao cosmos. A
chave da salvação para ambos estaria dada no universo,
através da dominação da tradição literal e do deciframento do
signo (judeu) ou através da dominação direta da totalidade
(grego) – ambos levando a um discurso do “mestre”. Gregos e
judeus, nesse sentido, se antepõem dentro de um mesmo pano
de fundo.

12.

O discurso cristão, diferentemente de ambos, não tem como


ponto de partida nem o todo nem a exceção ao todo. Seu ponto
de partida é o acontecimento: acósmico, ilegal, não integrado a
nenhuma totalidade e não sendo signo de nada. Com isso, a
história deixa de ser uma questão de cálculos e passa a ser
quebrada em duas, como a do velho e novo testamento. Ao
discurso do pai se sucede um novo discurso, do filho. Essa
ideia de quebra indica bem que o discurso do Filho é mais uma
diagonal dos dois discursos anteriores que propriamente uma
síntese.

E tanto é assim que Paulo, diferentemente dos 12 apóstolos


que testemunharam o acontecimento e dessa forma privilegiam
a memória e a consciência histórica, ele apenas apoia-se em si
mesmo quando diz que foi chamado para ser apóstolo.
Demandar provas e contraprovas, o que é próprio do
pensamento judaico-cristão, não é em Paulo uma questão
relevante: mais importante que o fato, é a disposição subjetiva;
a relação entre o singular e o universal, o renascimento de
Cristo e o nosso renascimento. Nesse sentido, “há sempre um
momento em que o que importa é declarar, em seu nome
próprio, que o que aconteceu, aconteceu”. A perspectiva aqui é
da graça e não da história. O interesse do acontecimento não
está nele mesmo, como fato objetivo, mas na sua singularidade
e universalidade.

13.

Conhecer, de uma certa forma, está ligado ao campo do saber:


ou é empírico ou é conceitual; ou tem a ver com o sentido
unívoco, liberto em signos, ou com as verdades eternas. Ora,
em Paulo, que fundamenta as bases do universalismo, o
acontecimento instaura um impasse na língua: não está ligado
ao campo do conhecimento; antes disso, ele abre a
possibilidade subjetiva.

A grande diferença entre Pascal e Paulo vai advir do fato de


que, apesar de sua antifilosofia clássica, Pascal está envolvido
em convencer o libertino moderno da superioridade da religião
cristã. Nesse sentido, Pascal tenta provar racionalmente essa
dada superioridade. Para isso, acaba apelando para três tipos
de discursos: o discurso judaico, com sua teoria do signo e do
duplo sentido (o novo testamento cumpre as profecias do velho
testamento, assim como o velho tira sua coerência do que
sinaliza para o novo); o discurso filosófico, com sua
argumentação probabilística da aposta e o raciocínio dialético
sobre os dois infinitos; e o discurso místico, o qual se apoia no
discurso não pronunciado, próprio do homem arrebatado
(glorifica-se sua pessoa em nome desse outro sujeito que
dialogou com Deus e que é como um Outro em si mesmo).

Quando esse discurso, que chamamos de místico, ao invés de


permanecer como um complemento mudo, vem legitimar o
discurso cristão de Paulo, principalmente levando em conta sua
conversão (quando ele escuta uma voz que o chama para ser
apóstolo), isso acaba por transformar o próprio discurso cristão
num discurso judaico. E assim como a profecia é o signo do
que virá, o milagre, próprio do discurso miraculoso judaico-
cristão, é o signo da transcendência do verdadeiro.

O problema, portanto, para Badiou, está em mascarar o puro


acontecimento num cálculo das probabilidades, como procede
Pascal, inserido que estava no mundo clássico e
impossibilitado de renunciar às provas.

14.

Essa mediação, que é própria da lei, perpassando tanto o


discurso grego quanto o judaico, e que faz parte das condições
do conhecimento, acaba por aprisionar a força e a novidade do
acontecimento. É nesse sentido que Badiou não entende a
revolução como uma mediação do comunismo, mas a
sequência autossuficiente da verdade política. Ao invés de
relacionar Deus ao Ser e dar ao primeiro os atributos do
segundo, para Paulo, Deus é diferente do Ser. Essa subversão
ontológica é próprio do acontecimento Cristo: nem poder, nem
sabedoria, mas fraqueza e loucura. O acontecimento não é
função nem mediação: o acontecimento Cristo, para Paulo, e
fundando o discurso universalista, é puro começo, fundação,
interrupção do regime anterior dos discursos: nem fato, nem
argumentação; não veio provar nada, é apenas fé. O que
constitui a verdade é antes a declaração e a sua convicção que
entranha numa fraqueza, numa ausência de prova. A
declaração não se apoia no inefável – nesse sentido, Paulo é
menos obscurantista que Pascal: não há cálculo das
possibilidades diante do discurso não pronunciado. A
declaração não tem outra força a não ser o que ela declara:
essa é a dimensão ética, anti-obscurantista de Paulo. E não
será a singularidade do sujeito que vai fazer valer o que ele diz;
mas o que ele dirá é que vai fundar sua singularidade.

15.

Uma coisa é o acontecimento, outra é a sua declaração. E


quando nos referimos ao discurso cristão universalista, fundado
por Paulo, estamos nos referindo não ao acontecimento em si,
mas ao processo da verdade que esse acontecimento propicia.
A metáfora do vaso de barro a que Paulo faz referência em sua
epístola, carregando um tesouro de potência infinita, tem
relação com esse discurso. É a declaração propriamente dita,
pós-acontecimento, a verdade precária do acontecimento
infinito, em sua rudeza, sem provas e sem apelar a outras
instâncias. A precariedade do portador é homóloga ao seu
discurso ou vaso: este quebrando-se, aquele se quebra
também.

16.
A inversão que Paulo propõe aos discursos gregos e judeus
está ligada à divisão do sujeito, que passaria a se dividir em
duas vias: a da carne e a do espírito. Essa divisão subjetiva
nada tem a ver com a distinção substancial grega corpo/alma,
pensamento/sensibilidade. Ao estabelecer a divisão subjetiva,
Paulo desloca a divisão antes centrada no discurso, o grego e
o judeu: o discurso grego e sua relação com a totalidade
cósmica finita, que tem a ver com o regime dos lugares (a
totalidade cósmica é a morada do pensamento); e o discurso
judeu em sua relação com o imperativo da letra, manifestação
da exceção, vista como aliança de Deus e seu povo eleito. O
que vai chamar a atenção em ambos os discursos é que o
discurso subjetivo se faz atrelado a uma perspectiva cultural: o
sujeito é pleno e indiviso, porém, étnico; ele não é universal.

Com Paulo, a diferença étnica e cultural deixa de ser


significativa em relação ao novo objeto do discurso cristão.
Este novo objeto não é mais o todo natural nem sua exceção,
diferenças essas que pré-existem ao discurso grego e judeu e
que são tradições a serem respeitadas (nos referidos
discursos, chegaríamos a seus objetos através dos conceitos
ou dos ritos). O novo objeto do discurso cristão é o
acontecimento Cristo, e, enquanto acontecimento, é atual,
promovendo uma fratura subjetiva: a via da carne e a do
espírito. Daí porque o real passa a se declinar sob morte ou
vida, conforme a via subjetiva pelo qual é aprendido.

A grande novidade do discurso cristão, portanto, é que ao se


fundamentar não por uma tradição, mas por um acontecimento,
estabelece a insignificância dos lugares e o excesso sobre toda
prescrição. É nesse sentido que, para Paulo, não há diferença
entre grego e judeu. O sujeito torna-se dividido e universal, ao
invés de pleno e étnico.

17.

Há uma diferença entre acontecimento e existência. O


acontecimento Cristo não é o sujeito que existiu e efetuava
milagres. Ao invés disso, é a ressurreição de Cristo. Sob essa
fábula que o discurso cristão estabelece as bases do
universalismo. E para tanto não requer testemunhas
privilegiadas, tais como os 12 apóstolos, nem tão pouco se
sustenta como signo. Nesse sentido, fica esmorecida a figura
do mestre: tanto aquele que vai responder a questões
propostas pela filosofia, quanto o que vai reivindicar milagres.
Ao privilegiar a fábula em detrimento a existência real, o
discurso cristão instaura uma figura verbal específica: a
declaração. Enquanto que nos discursos anteriores há a
demanda de um mestre (questionar e reivindicar são figuras
verbais dos discursos grego e judeu, respectivamente), a
declaração não demanda nenhuma falta: o filho é aquele a
quem não falta nada pois ele é simplesmente começo.

A relação entre senhor e servo, no discurso cristão, deixa então


de ser uma relação de dependência pessoal ou legal, e passa
a ser de comunidade de destino, servindo ao processo da
verdade. Desaparece então a relação entre discípulo e mestre,
e toda universalidade pós-acontecimento iguala os filhos na
dissipação das particularidades dos pais.
18.

Todo esse processo do sujeito filho, ao invés do sujeito


discípulo, que o discurso cristão instaura, o que torna mais
emblemático ainda o fato de que Cristo é filho, ou seja, o pai se
revestiu da figura do filho, vem sublinhar a importância da
declaração. A diferença das epístolas de Paulo em relação aos
evangelhos sinópticos escritos vinte anos depois, expressa o
sujeito cristão em suas duas vias subjetivas: vida e morte,
acontecimento e lei. Se Jesus tem uma comunicação interna
com Deus, promovendo milagres, caminhando sobre as
águas… acaba por se reduzir a um caso edificante.

De uma certa forma é o caminho do discurso miraculoso, da


iluminação interna, para o discurso judeu. Essa via subjetiva é
a da carne que teria como objeto a morte. Já a outra via, e que
viria a se constituir como a grande novidade do discurso
cristão, estaria na declaração do acontecimento Cristo que é a
sua ressurreição. Ao invés da iluminação interna, a declaração
do acontecimento, através da via subjetiva do espírito, cujo
objeto é a vida.

Quem poderá nos proteger do Estado burguês? -


A morte de um vendedor de balas em Niterói
16 de fevereiro de 2022, 10:49 h Atualizado em 16 de fevereiro de 2022, 10:57
   
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Polícia do Rio de Janeiro
(Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
O Brasil tem 38 milhões de trabalhadores atuando na
informalidade, representando 40,6% da população ocupada no
3º trimestre de 2021, um aumento de 2% considerando o
mesmo período em 2020. Os dados são do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística).  

O aumento da informalidade ocasionou queda dos rendimentos


médios do trabalhador, que já sofre com a falta de direitos
trabalhistas previstos em lei, auxílios de segurança social,
como auxílio-maternidade, auxílio-doença, entre outros.  

A grande maioria destes trabalhadores informais leva uma vida


precária, resultado da condução política que o Estado brasileiro
tomou nos últimos anos, com a Reforma Trabalhista do
governo golpista de Michel Temer (MDB), por exemplo,
responsável por agravar a condição da precariedade.  

Segundo a filósofa Judith Butler “a condição precária designa a


condição politicamente induzida na qual certas populações
sofrem com redes sociais e econômicas de apoio deficientes e
ficam expostas de forma diferenciada às violações, à violência
e à morte”.  
Hiago dos Santos, de 22 anos, foi uma destas vidas precárias,
que atuava na informalidade, vendendo balas no centro de
Niterói. O jovem juntava dinheiro para realizar um sonho, fazer
a festa de aniversário da filha, que vai completar 2 anos na
semana que vem. Hiago foi morto por um policial militar à
paisana, identificado como Carlos Arnaud Baldez Silva Júnior.  

O Estado que, em tese, deveria assegurar a vida das pessoas,


é justamente aquele responsável pela morte. Mas não a morte
de todos. A burguesia, classe dominante, segue protegida da
violência do Estado que ela mesma controla, os chamados
Aparelhos Ideológicos do Estado, na teoria marxista de
Althusser. E não é só isso. Segue lucrando com a exploração
da classe trabalhadora na informalidade. 
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A morte de Hiago causou revolta na população niteroiense.


Amigos e familiares do jovem protestaram no local onde ele foi
morto. A polícia reprimiu com violência. Disparou spray de
pimenta nos manifestante atingindo, inclusive, uma criança que
estava no colo de seu pai, enlutado e revoltado pela morte de
seu amigo.  

Este é o papel dos aparelhos repressivos do Estado: garantir a


ordem da cidade e a paz da burguesia. Uma ordem injusta,
baseada na desigualdade e na aniquilação de vidas precárias,
vidas como a de Hiago.  

Muita gente condenou a falta de responsabilidade do pai ao


levar uma criança para uma manifestação. Eu só consigo
imaginar o que leva esse homem a tomar uma atitude tão
desesperada: é a falta de responsabilidade do Estado que
induz a esta situação. É um homem desesperado que protesta
pela morte do seu amigo e que não quer o mesmo futuro para o
seu filho.  
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O Estado é omisso. O Estado mata, violenta os mais pobres, é


isso que leva as pessoas a saírem às ruas pedindo justiça,
pedem uma resposta do Estado, que responde com mais
repressão. “Elas recorrem ao Estado em busca de proteção,
mas o Estado é precisamente aquilo do que elas precisam ser
protegidas”, afirma Butler. 

Não há saída. Quem poderá nos proteger do Estado burguês? 

Enquanto a classe dominante continuar executando sua


agenda neoliberal que massacra os mais pobres, que produz a
precariedade e a morte, mais Hiagos seguirão sucumbindo,
sem a chance de ver o aniversário da própria filha.   

Ácido crítico da esquerda e o terror da direita


16 de fevereiro de 2022, 06:48 h Atualizado em 16 de fevereiro de 2022, 07:39

    Rui Costa Pimenta (Foto: Felipe L.


Gonçalves/Brasil247)
Rui Costa Pimenta, presidente do PCO, marxista, trotskista,
leninista, faz ataque terrível à esquerda; ela, segundo ele,
abandona marxismo para se render ao imperialismo; Marx
dedicou sua vida a analisar e conceituar o modo de produção
burguês e a consequente mercantilização da vida pela lógica
da mercadoria que, no processo de sua fabricação, transforma
o ser humano em objeto, enquanto o enterra como sujeito;
nesse sentido, vira ser alienado, descolado da realidade, para
viver no abstrato, no exterior da realidade, sem poder
determina-la; a esquerda, no cenário da globalização e da
financeirização econômica global, no rumo da alienação, da
abstração, acaba renunciando à analise do real concreto,
expresso na produção de mercadoria, sujeita à lógica do lucro,
e busca sucedâneos abstratos, ancorando-se no identitarismo;
este, segundo Rui, é, hoje, amplamente, financiado pelo
imperialismo para, claro, esconder a crítica marxista ao
capitalismo;  perde, por isso, capacidade de crítica, com as
armas do materialismo dialético, suprema base de apoio do
marxismo; sem rumo, manipulada por Washington, a esquerda
abraça o acessório(identitarismo) e deixa de lado o
principal(crítica da economia política), com a qual Marx e
Engels desmontam o ponto de vista do capital, cuja função
essencial é a exploração do trabalhador; a rendição ao
identitarismo, variante subjetiva(e idealista) do racismo, desvia
a esquerda da sua função histórica; joga-a no equívoco da
construção de um mecanicismo político acrítico, cujo interesse
maior é o individualismo egoísta, tal como o desenvolvido pelo
espírito burguês prático, cinico, incapaz de vender a esperança
como construção coletiva revolucionária, ancorada, conforme
consciência hegeliana, no concreto em movimento de negação
dialética; a esquerda cai na visão ideológica estática,
escanteando, propositalmente, o fato de que tudo muda, só
não muda a lei do movimento segundo a qual tudo muda, como
diz Hegel em Princípios da Filosofia do Direito. Carregado de
espírito crítico corrosivo, que vende com a paciência de um
monge isolado, que não teme incomodar e inquietar os
estáticos  e acomodados, que com ele se irritam e se
desesperam, Rui virou, sem dúvida, pedra no sapato da
esquerda; por abandonar Marx, ela perdeu o seu norte,
sobretudo, a capacidade de vender a utopia de uma sociedade
socialista, visto que se aburguesou, ao se transformar em
mercadoria desvalorizada, ideologicamente, acrítica; seu
radicalismo ético e ideológico, cultivado em Marx, Lenin,
Trotski, todos filhos de Hegel, o elege entre o mais amado e
odiado dos críticos, à direita e à esquerda, nas aparições
semanais promovidas pelo diretor da TV 247, Leonardo Attuch,
atacado pelos que acham que ele não teria direito de insistir
em por no ar personagem tão incômodo; por conta disso,
cresce, como fator de avaliação crítica, o PCO, alvo de
considerações de diferentes pontos de vista conflitantes; os
adversários tentam, inclusive, vendê-lo como agente secreto da
corrupção, mas quanto mais o detratam, mais o promovem,
invariavelmente, por falta de argumentos sólidos. Mas, como
diz o ditado, quem desdenha quer comprar, só o fazem crescer,
no cenário político nacional, por ter coragem e profundo
conhecimento de submeter ao crivo do materialismo marxista a
realidade política brasileira, marcada pela desigualdade social
mais absurda, num dos países mais ricos do mundo,
infelizmente, comandado por uma elite das mais brutais e
corruptas do planeta, à qual a esquerda se acomoda, buscando
espertamente com ela conviver, baseada na lei da correlação
de forças. Acossada nesse cenário, a esquerda,
especialmente, na América Latina, ideologicamente fragilizada,
com medo de ousar, acaba se subordinando aos hibridismos
das composições e concessões  espúrias; entrega-se à
realpolitik articulada não por ela mas pela direita que a utiliza
para governar, pois, afinal, com neoliberalismo, perde
capacidade de ganhar eleição no ambiente democrático.
Chegaria ao ponto de se identificando cada vez mais com a
direita a esquerda acabar um dia julgando inconveniente a
própria democracia?

Em 2023 a economia tem que mudar!

Lula sabe que é fundamental recuperar o protagonismo do


Estado
15 de fevereiro de 2022, 21:50 h Atualizado em 15 de fevereiro de 2022, 22:07
   
1

Enquanto Bolsonaro sai de cena pela porta dos


fundos, Lula desponta como estadista do século 21 (Foto: Ricardo Stucker / Conde
Produções)
Faltam menos de oito meses para realização do primeiro turno
das eleições de 2022. Neste ano, o primeiro domingo de
outubro cai no dia 2. Apesar de todas as particularidades e
indefinições ainda existentes a respeito do pleito presidencial, o
fato concreto é que a candidatura de Lula segue se
consolidando como a alternativa mais viável para derrotar
Bolsonaro nas urnas e permitir que o Brasil volte a se encontrar
com o rumo que havia começado a trilhar desde 2003.

É importante levarmos em conta a natureza proto-fascista


deste governo e as imensas dificuldades que seu chefe e as
forças que a apoiam colocarão para reconhecer o resultado
adverso no voto popular e inviabilizar uma transição menos
traumática para uma equipe governamental da oposição.
Bolsonaro tem dito e repetido que não reconhecerá qualquer
outra hipótese que não seja a sua própria reeleição. Ele vive
lançando provocações quanto à suposta insegurança do nosso
modelo de votação eletrônica, que se tornou uma das melhores
referências no mundo a esse respeito. Inspirado na tentativa
putschista articulada pelo seu ídolo norte-americano, Donald
Trump, ele especula sobre uma possível invasão das
instituições na Praça dos Três Poderes, a exemplo do que
fizeram os extremistas frustrados com a vitória de Joe Biden,
ao promoverem a invasão irresponsável do Capitólio.

Para não perder o foco de seu permanente espírito golpista e


também com o intuito de manter suas tropas ensandecidas
para qualquer tipo de ação desesperada, Bolsonaro fustiga
diariamente os membros do Supremo Tribunal Federal (STF) e
os integrantes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tendo
inclusive colocado um general de sua confiança para integrar a
corte responsável pelo acompanhamento das eleições. O
General Fernando Azevedo, que foi Ministro da Defesa, está
ocupando o estratégico cargo de Secretário Geral do TSE.

No entanto, o tempo da política costuma ficar mais acelerado


nos anos de eleições, em especial pelo acompanhamento
sistemático das tendências apontadas pelas pesquisas de
opinião por parte de todas as forças políticas do País. E, nesse
caso, aparece uma espécie de unanimidade entre os institutos
de pesquisa quanto à vitória de Lula. Se a eleição tivesse
ocorrido em cada um dos inúmeros dias de todas as pesquisas
já realizadas desde setembro do ano passado, o ex presidente
teria vencido em todos eles. A dúvida que ainda permanece
refere-se à cada vez mais provável vitória no primeiro turno ou
a hipótese de termos que aguardar pelo resultado definitivo a
ser anunciado ao final do dia 30 de outubro, o último domingo
daquele mês, quando será realizado o segundo turno. É bem
verdade que “jogo é jogo; treino é treino” e que “pesquisa é
fotografia e não filme”. Mas é mesmo difícil escapar da
tentação das projeções, por mais que o salto alto deva ser
evitado a todo custo.

Bolsonaro acuado e Lula na liderança

Esse quadro complexo apontando para uma possível


consagração de um terceiro mandato para Lula nas urnas
opera como um complicador no xadrez das elites brasileiras e
de seu comportamento junto às forças que tradicionalmente
lhes prestam serviço nas diversas esferas dos poderes do
Estado. Ao contrário do que fizeram em outubro de 2018, tudo
indica que boa parte das classes dominantes tupiniquins
devem mesmo abandonar o barco de Bolsonaro no pleito que
se aproxima. Seja pela inviabilidade eleitoral do ex capitão,
seja pela incapacidade de articularem um representante da
chamada “terceira via” com chances reais de disputar a
Presidência da República, seja por assumirem um certo
conformismo frente à inevitabilidade de um novo quadriênio
com Lula ocupando o Palácio do Planalto. Alguns setores
chegam mesmo a esboçar publicamente um mea culpa e
reconhecem o equívoco de terem contribuído para o advento
desses quatro anos de desgraça e tragédia que se abateram
sobre o nosso País.
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Ora, a tradição de se operar a política em nossas terras faz


com que o cheiro de vitória apresente como contrapartida
necessária – mas um tanto incômoda, reconheçamos – todo o
tipo de arrivismo político em direção ao potencial ganhador. O
entorno de Lula começa a receber a pressão de setores tão
díspares como o movimento dos sem-terra e os representantes
do agronegócio; as centrais sindicais e os representantes dos
empresários de várias tendências; os grupos políticos
associados ao fisiologismo do Centrão e os partidos alinhados
mais à esquerda no nosso espectro político; os representantes
dos movimentos identitários e os grupos ligados a setores até
mesmo do fundamentalismo religioso. Enfim, Lula será mais
uma vez confrontado à sua enorme capacidade de conciliação
e de negociação, com a árdua missão de colocar em um
mesmo barco interesses tão diversos e, por vezes, até mesmo
antagônicos.

A tentativa de atrair Geraldo Alckmin para o cargo de vice-


presidente tem por objetivo ampliar politicamente o apoio à
chapa e facilitar a aceitação de Lula no interior das elites ainda
reticentes a seu nome. Além disso, a operação visa facilitar a
penetração em setores vinculados historicamente ao tucanato,
em especial em São Paulo e nas regiões Sul e Sudeste. No
entanto, ao promover esse movimento em direção ao centro e
à direita, o ex presidente começa a sentir também o peso dos
representantes do pensamento conservador na dimensão
econômica. As forças vinculadas ao financismo em nosso País
permanecem rigidamente amarradas ao paradigma da
ortodoxia monetarista que deu base e sustentação à época de
ouro do neoliberalismo por todos os continentes.

As mudanças verificadas no capitalismo global a partir,


inicialmente, da crise econômico-financeira de 2008/9 e,
posteriormente, com a eclosão da pandemia do coronavírus
não encontram o necessário espaço para debate por aqui. A
impressionante resistência em abrir a discussão nos ambientes
acadêmicos e universitários, nos meios de comunicação e no
interior das instituições governamentais faz com que o
austericídio siga sendo a política econômica oficial desde 2015.
Questões como a Emenda Constitucional (EC) nº 95, as
tentativas de privatização de empresas estatais ou a Reforma
Trabalhista seguem consideradas como intocáveis. Os setores
que vêm sendo tratados como os “farialimers” fazem de tudo
para impedir que qualquer medida considerada como do
campo da hetedoroxia possa ser considerada como parte do
programa de um futuro governo Lula.
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Lula para mudar a economia

Ora, qual o sentido dessa busca de um novo mandato para ele,


caso não haja espaço para as mudanças tão esperadas quanto
necessárias? A esperança vem justamente da comparação que
cada cidadão e cada cidadã deste País está fazendo em sua
cabeça, nos espaços da família, nas conversas no trabalho,
nas reuniões do bairro, nos encontros da igreja. Como
estávamos entre 2003 e 2010? Como estamos desde a posse
de Bolsonaro e a chegada a Brasília de Paulo Guedes, o ex-
super ministro? E Lula sabe que para recuperar condições
mínimas de vida para a maioria da população e para retomar o
caminho do crescimento das atividades e de um projeto de
desenvolvimento nacional é fundamental recuperar o
protagonismo do Estado.

As condições da economia internacional não devem oferecer, a


partir de 2023, o ambiente que colaboraram para o jogo de
“ganha-ganha” que ele encontrou à sua disposição a partir de
2003. A profundidade da crise gerada pelo governo atual vai
exigir um enorme esforço de restabelecimento das políticas
públicas que têm sido desmontadas e de reconstrução de
instituições do Estado que foram sendo destruídas
ultimamente. Ora, para tanto, é necessário adotar medidas que
questionam as bases do modelo que o financismo resiste em
manter intocável.
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Lula sabe que qualquer projeto de redução das desigualdades


e de afirmação da soberania nacional passa pelo fim do teto de
gastos. E não se trata aqui de mera introdução escondida de
alguma gambiarra oportunista, como foi o caso dessa
vergonhosa submissão de Paulo Guedes aos desejos do
Centrão e a liberação de verbas para as emendas
parlamentares ou para programas que miram apenas na
tentativa da reeleição de Bolsonaro e de sua base. O esforço
pela concertação de um novo pacto pró crescimento e
desenvolvimento deve oferecer ao País o reconhecimento de
que a austeridade burra não pode mais continuar existindo
como o centro da política econômica. Recuperar a capacidade
do Estado significa redesenhar a política fiscal com recursos
suficientes para ancorar as necessidades de despesas de toda
ordem: políticas sociais, valores para os recursos humanos,
novas linhas de investimento, programas redução de
desigualdades, dentre tantas outras.

Revogar o teto de gastos, a reforma trabalhista e as


privatizações

Além da revogação da EC 95, outra medida necessária refere-


se à anulação das alterações realizadas na legislação
trabalhista implementadas ao longo dos últimos anos. É
importante romper com o espectro da herança escravagista
que nos ronda até os dias de hoje, além de contribuir para
recuperação de um mercado interno consumidor digno do
nome. Por outro lado, é preciso também ter a coragem de
promover mudanças no interior do modelo que assegura
ganhos parasitas ao financismo, com o objetivo de estimular a
produção de bens e a oferta de serviços. E isso implica dizer
em alto e bom tom que as preocupações dos engravatados da
Faria Lima com assuntos considerados icônicos por eles virão
à tona desta vez. Dessa forma, questões como a elevação dos
níveis das despesas orçamentárias, o aumento nos montantes
de emissão monetária, a busca de superávit primário a
qualquer custo ou idolatria a qualquer índice de dívida
pública/PIB devem ser debatidas maneira franca e aberta, à luz
das mudanças em curso nos próprios países do centro do
capitalismo financeiro.

A crise atual recolocou a relevância do papel das instituições


governamentais para o futuro. E isso inclui também a
necessidade da presença de empresas estatais em setores
estratégicos, como é o caso do ramo energético. Ora, é mais
do que sabido que Paulo Guedes fez da promessa de
“privatização total” um dos fatores que o impulsionaram à
condição de comandante supremo da área econômica do
governo Bolsonaro. Além de criminosas, as tentativas de
transferência de tais ativos públicos ao capital privado
revelaram-se prejudiciais ao próprio sistema econômico. A
lógica da gestão empresarial de um bem público restringe-se à
mera busca da maior rentabilidade possível no menor espaço
de tempo. Assim, para esse pessoal pouco importa a qualidade
do serviço prestado ou os efeitos sobre a população de
determinada decisão assumida pela direção da empresa. As
tarifas absurdas da energia elétrica, a política de preços da
Petrobrás ou a devolução para União de aeroportos que
haviam sido cedidos ao capital privado devem ser mais do que
suficientes para que seja redefinida a política de privatização
levada a cabo durante os últimos anos.

A desculpa falaciosa do “não temos recursos” já se revelou


como uma grande mentira para sustentar a diminuição da
presença do Estado em áreas essenciais. Os recursos existem
– basta verificar o saldo credor de R$1,8 trilhão que o Tesouro
Nacional tem à sua disposição junto ao Banco Central. Além
disso, o que falta é a vontade política de organizar programas
governamentais e colocar em marcha políticas públicas para a
consolidação de um projeto nacional de desenvolvimento, com
redução das desigualdades e inclusão social. Caso necessário,
o desenho desse plano pode e deve incluir a emissão de novos
valores de dívida pública com o fim de assegurar recursos
orçamentários para tanto. O Brasil não vai quebrar se o
Presidente optar por esse caminho.

Enfim, as tarefas são muitas para um novo governo. Lula


passou oito anos na Presidência e mais seis acompanhando de
perto o governo Dilma. Ele sabe das limitações oferecidas pelo
establishment conservador. Assim, a questão central é que,
caso haja vontade mesmo de criar um novo ambiente, a política
econômica precisa mudar!
Olavo de Carvalho: porno-filósofo e profeta da
ralé

Olavo de Carvalho não é filósofo, pois não fez nada além de


enganar incautos e incultos.
15 de fevereiro de 2022, 20:40 h Atualizado em 15 de fevereiro de 2022, 20:48
   

 2

Olavo de Carvalho (Foto: © REUTERS/Joshua


Roberts/Direitos Reservados)
Pedro Benedito Maciel Neto

Um registro. O adjetivo “pornô-filósofo” não é criação minha,


gostaria que fosse, é do advogado e jornalista Helvécio
Cardoso, um estudioso de Hegel, que não se apresenta como
filósofo.

Olavo Luiz Pimentel de Carvalho não é filósofo, pois um filósofo


é um criador de doutrinas e ele não deixou uma obra
sistemática, conceitualizante, não alargou a fronteira do saber
racional, não fez nada além de enganar incautos e incultos.

Pode ser que Olavo de Carvalho – que desafortunadamente,


para nós campineiros, nasceu aqui em Campinas - conhecesse
a obra de alguns grandes filósofos, mas isso não faz de
ninguém um filósofo.
Olavo de Carvalho não foi digno do honroso título de filósofo,
não porque não tinha formação universitária, mas porque não
desenvolveu um pensamento doutrinário, uma reflexão
filosófica lógica e conceitualizante. 

Tudo que ele fez foi, grosseiramente, apresentar suas opiniões,


meras opiniões, carentes de conceito e vazias de conteúdo. De
um filósofo se exige rigor lógico e elevação ao universal. Não
temos nada disso na sua “obra”.Helvécio Cardoso escreveu:
“sabe-se que Olavo de Carvalho começou como crítico literário.
Seus principais livros, ..., são gritos de um polemista feroz,
rancoroso e exibicionista, ostentando erudição para provar que
tem mais valor intelectual do que a elite acadêmica que o
ignora e marginaliza”.
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Marginalizado na academia Olavo de Carvalho criou um curso


de Filosofia pela internet, ministrou aulas e palestras com viés
reacionário e, a partir daí, passou a ser um agitador de extrema
direita e propagandista de constrangedoras teorias
conspiratórias de origem nazista. 

Era obcecado pelo “marxismo cultural”, pela tal “Nova Ordem


Mundial”, pelo “Foro de São Paulo” e por “conspirações
satânicas”, as quais, segundo ele, buscam o controle do mundo
e a escravização dos indivíduos (essas suas “paixões”
poderiam ter sido direcionadas à carreira de roteirista de filmes
pós-apocalípticos, talvez ganhasse dinheiro honestamente e
não fizesse mal às pessoas e ao Brasil).Mas o que é o tal
“marxismo cultural”? É uma narrativa nazista que tem raízes no
termo de propaganda nazista “Bolchevismo Cultural”, ou seja, é
de orientação totalitária.O “marxismo cultural” é uma teoria da
conspiração antissemita de extrema-direita que seria a base de
alegados esforços acadêmicos e intelectuais contínuos para
subverter a cultura ocidental.

Segundo essa teoria da conspiração há uma elite de teóricos


marxistas e intelectuais da Escola de Frankfurt, que buscam
subverter a sociedade ocidental com uma guerra que minaria
os valores cristãos do conservadorismo tradicionalista; essa
“guerra” promoveria os valores culturais do multiculturalismo,
da contracultura da década de 1960, da política  progressista e
politicamente correta (falseada como política identitária criada
pela teoria crítica). 
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A teoria da conspiração da existência de uma guerra cultural


marxista é promovida por políticos de direita, líderes religiosos
fundamentalistas, comentaristas políticos na grande imprensa e
televisão, e terroristas, supremacistas brancos e imbecis de
todo gênero, mas análise académica concluiu que não há
nenhuma base real nessa narrativa. 

Bolsonaro haverá de perder as eleições, mas o


olavobolsonarismo seguirá sua sanha destruidora por muito
tempo ainda, pois no Brasil, além de Olavo de Carvalho, há
outros delinquentes delirantes como Marcel Hattem, o Instituto
Liberal, um imbecil batizado chamado Rodrigo Constantino,
além do Instituto Millenium, fuja deles.
Olavo, criminosamente, negou a existência da pandemia,
afirmou que o coronavírus era "a mais vasta manipulação de
opinião pública que já aconteceu na história humana”, foi crítico
da vacinação, da proteção pessoal com a utilização de
máscara e do lockdown.
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Acadêmicos reconhecem, na sua confusa e desorganizada


bagagem livresca, ausência de rigor ou preocupação com a
probidade intelectual. 

Num vídeo sobre Hegel Olavo escancara a sua ignorância,


tratou a categoria “tese-antítese-síntese” como hegeliana, mas
ela não pertence à filosofia de Hegel, mas à de Johann Gottlieb
Fichte, filósofo alemão pós-kantiano, mas não faz parte do
vocabulário de Hegel as expressões tese-antítese-síntese.
Olavo de Carvalho leu e tirou muito proveito de um livro do
filósofo alemão Arthur Schopenhauer intitulado “Como Vencer
um Debate Sem Precisar Ter Razão”. Olavo passou a orientar
seus discípulos a desqualificar seus oponentes como método.
Olavo orientou seus seguidores a insultar, a usar contra seus
adversários todo o repertório de falácias listadas pela Lógica, a
abusar da heurística, que é o argumento desleal, o “chute na
canela”, o “soco na cara”, a arte de inventar fatos.

Com Olavo de Carvalho, o debate civilizado virou pugilato


verbal, a intolerância entrou no lugar da elegância, o insulto
tornou-se argumento válido e os maus modos convertidos em
virtude. 
Toda essa ausência de decência fez dele o profeta da ralé,
ídolo dos boçais reacionários — onde ele encontrou seus
prosélitos. 

O termo ralé deve ser compreendido no sentido de Hannah


Arendt, que, em “As Origens do Totalitarismo”, desenvolveu o
conceito. Na perspectiva arendtiana, o papel da ralé [mob] se
desenvolve por meio de manifestações em torno do
antissemitismo e do reforço ao crescimento do movimento
totalitário.

Essa é a herança maldita de Olavo.

Olavo de Carvalho foi um nazista insano, ressentido e malvado;


ver e ouvir Olavo de Carvalho fumando compulsivamente,
xingando, falando palavrões é deprimente, ele nunca foi um
intelectual sério. 

Que a ralé celebre o seu pornô-filósofo, seu profeta da guerra e


da intolerância em paz, mas sem busto “sem custo”, o que vai
apenas envergonhar nossa Campinas, berço histórico dos
ideais republicanos e democratas.

Essas são as reflexões. 

Brasil, o paraíso dos banqueiros


A diferença entre os lucros no Brasil e lá fora é abissal.
Enquanto lá são necessários 7,8 anos para dobrar o capital
investido, aqui a cada 3,8 anos
15 de fevereiro de 2022, 20:36 h Atualizado em 15 de fevereiro de 2022, 20:48
   

 3

(Foto: Pilar Olivares/Reuters)


Francisco Alexandre

Os banqueiros no Brasil fazem valer à risca a expressão do


anedotário popular de “que o melhor negócio do mundo é um
banco bem administrado, o segundo melhor negócio é um
banco mal administrado e o terceiro é um banco quebrado”. O
dizer popular é sábio. E, para observar isso basta dar uma
olhada rápida nos lucros dos três maiores bancos privados do
país. O Itaú, o mais guloso, abocanhou R$ 26,8 bilhões, o
Bradesco foi na mesma toada, com seus R$ 26,2 bilhões, e o
Santander R$ 16,3 bilhões.

Eles lucraram em média 20,03% sobre o patrimônio líquido em


2021. Isso significa que a cada 3,8 anos Itaú, Bradesco e
Santander dobram o seu patrimônio; ou seja, mesmo com a
inflação de 10%, eles levam 40% de ganho real. Um abuso. 

O uso de taxas extorsivas pelos Sistema Financeiro fica claro


quando se faz a comparação com bancos privados mundo
afora. Os 20 maiores bancos do mundo, sendo 12 deles
privados (JP Morgan, Mitsubishi, BNP Paribas, Bank of
America, HSBC internacional, Crédit Agricole, Sumitomo,
Deutsch Bank, Mizuho Bank, Wells Fargo e Santander
Holding), rentabilizaram em média 9,35% sobre o patrimônio
líquido. 

A diferença entre os lucros no Brasil e lá fora é abissal.


Enquanto lá são necessários 7,8 anos para dobrar o capital
investido, aqui no nosso mundo os banqueiros fazem isso a
cada 3,8 anos – ou seja, em menos da metade no tempo.
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A busca por lucro aqui não livra nem os bancos estatais. O


maior banco do país, o BB, lucrou no ano passado R$ 21
bilhões, ou o equivalente a 16,3% sobre o patrimônio líquido, o
que é muito quando se compara com os maiores bancos
estatais do planeta (ICBC, Agricultural Bank, China Constrution
Bank, Bank of China, Societê Generale, Japan Post Bank,
Postal Saving Bank of China), que lucraram em média 9,65%
sobre o patrimônio. Ou seja, enquanto no Brasil o capital do
maior banco estatal dobra a cada 4,6 anos (0,8 ano a mais que
os privados), no exterior a régua para dobrar do patrimônio
líquido é de 7,5 anos.

Os números apenas revelam a distorção nas práticas do nosso


Sistema Financeiro. Tem sido assim há anos. A desculpa para
juros escorchantes, abusivos e predatórios, que equiparam
bancos a agiotas comuns, é sempre a mesma, a de que o
preço decorre do risco. O que não passa de distração para que
banqueiros, os mesmos que sempre ganham e permanecem
escalpelando clientes e tomadores de crédito. 

A partir do discurso do apóstolo Paulo, tido como o fundador do cristianismo, o filósofo


Alain Badiou formula uma investigação sobre os fundamentos do universalismo. Para o
intelectual francês, Paulo inaugura um novo discurso, distinto da filosofia grega e da lei dos
judeus, fundado na experiência e portador de uma nova perspectiva, a universalidade.Ao
longo desse ensaio, Badiou aborda a conexão paradoxal feita por Paulo entre um sujeito
sem identidade e uma lei sem suporte, que funda a possibilidade de uma predicação
universal na história. Nas palavras do filósofo francês: 'Se, hoje, quero retraçar em poucas
páginas a singularidade dessa conexão é porque trabalho por todos os ângulos, até com a
negação de sua possibilidade, a busca de uma nova figura militante, demandada para
suceder àquela cujo lugar Lenin e os bolcheviques ocuparam, no início do século passado,
e que se pode dizer ter sido a do militante de partido'.Este livro é testemunho do não
conformismo de Paulo e de Badiou, que mostra a mesma paixão política que vê nas
epístolas do primeiro e para quem 'o pensamento não espera e jamais esgota sua reserva
de força, a não ser para quem sucumbe no profundo desejo de conformidade, que é a via
da morte'.São Paulo, publicado no âmbito do Ano da França no Brasil, contou com o apoio
do Ministério francês das Relações Exteriores e Européias. O livro conta ainda com um
posfácio de Vladimir Safatle, no qual o professor da USP avalia a produção intelectual e
trajetória de Badiou. Em suas palavras, 'podemos dizer que Badiou parte do princípio de
que a política não pode ser guiada por exigência de realização de ideais normativos de
justiça e consenso que já estariam atualmente presentes em alguma dimensão da vida
social. Pois isso nos impediria de desenvolver uma crítica mais profunda capaz de
questionar a gênese de nossos próprios ideais e valores'.

We need to talk about the real reason behind US


inflation
Robert Reich
This article is more than 3 months old

Corporate giants are raising prices even as they rake in record profits.
How can this be? Because of their unchecked power
‘The underlying problem isn’t inflation per se. It’s lack of
competition.’ Photograph: Angela Weiss/AFP/Getty Images
Thu 11 Nov 2021 14.14 GMT

O n Wednesday, the US labor department announced that the

consumer price index – a basket of products ranging from gasoline and


health care to groceries and rents – rose 6.2% from a year ago. That’s
the nation’s highest annual inflation rate since November 1990.

Pressure on Fed to raise interest rates as US inflation surges to 30-year


high

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Republicans are hammering Biden and Democratic lawmakers over


inflation – and attacking his economic stimulus plans as wrongheaded.
“This will be a winter of high gas prices, shortages and inflation
because far left lunatics control our government,” Marco Rubio, the
Republican senator from Florida posted on Twitter Thursday.
A major reason for price rises is supply bottlenecks, as Jerome Powell,
chair of the Federal Reserve, has pointed out. He believes they’re
temporary, and he’s probably right.
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But there’s a deeper structural reason for inflation, one that appears to
be growing worse: the economic concentration of the American
economy in the hands of a relative few corporate giants with the power
to raise prices.

If markets were competitive, companies would keep their prices down


in order to prevent competitors from grabbing away customers.

But they’re raising prices even as they rake in record profits. How can
this be? They have so much market power they can raise prices with
impunity.
Viewed this way, the underlying problem isn’t inflation per se. It’s lack
of competition. Corporations are using the excuse of inflation to raise
prices and make fatter profits.

In April, Procter & Gamble announced it would start charging more for
consumer staples ranging from diapers to toilet paper, citing “rising
costs for raw materials, such as resin and pulp, and higher expenses to
transport goods”.

But P&G is making huge profits. In the quarter ending 30 September,


after some of its price increases went into effect, it reported a whopping
24.7% profit margin. It even spent $3bn during the quarter buying its
own stock.

It could raise prices and rake in more money because P&G faces almost
no competition. The lion’s share of the market for diapers, to take one
example, is controlled by just two companies – P&G and Kimberly-
Clark – which roughly coordinate their prices and production. It was
hardly a coincidence that Kimberly-Clark announced price increases
similar to P&Gs at the same time P&G announced its own price
increases.
Or consider another consumer product duopoly – PepsiCo (the parent
company of Frito-Lay, Gatorade, Quaker, Tropicana, and other
brands), and Coca-Cola. In April, PepsiCo announced it was increasing
prices, blaming “higher costs for some ingredients, freight and labor”.
Rubbish. The company didn’t have to raise prices. It recorded $3bn in
operating profits through September.
If PepsiCo faced tough competition, it could never have gotten away
with this. But it doesn’t. To the contrary, it appears to have colluded
with Coca-Cola – which, oddly, announced price increases at about the
same time as PepsiCo, and has increased its profit margins to 28.9%.

You can see a similar pattern in energy prices. If energy markets were
competitive, producers would have quickly ramped up production to
create more supply, once it became clear that demand was growing.
But they didn’t.

Why not? Industry experts say oil and gas companies saw bigger
money in letting prices run higher before producing more supply. They
can get away with this because big oil and gas producers don’t operate
in a competitive market. They can manipulate supply by coordinating
among themselves.
Since the 1980s, two-thirds of all American industries have become more
concentrated
In sum, inflation isn’t driving most of these price increases. Corporate
power is driving them.

Since the 1980s, when the US government all but abandoned antitrust
enforcement, two-thirds of all American industries have become more
concentrated.

Monsanto now sets the prices for most of the nation’s seed corn.

The government green-lighted Wall Street’s consolidation into five


giant banks, of which JP Morgan is the largest.

Airlines have merged from 12 in 1980 to four today, which now control
80% of domestic seating capacity.

Boeing and McDonnell Douglas have merged, leaving the US with just
one large producer of civilian aircraft: Boeing.

Three giant cable companies dominate broadband: Comcast, AT&T and


Verizon.

A handful of drug companies control the pharmaceutical industry:


Pfizer, Eli Lilly, Johnson & Johnson, Bristol-Myers Squibb and Merck.

All this spells corporate power to raise prices.

So what’s the appropriate response to the latest round of inflation?

The Federal Reserve has signaled it won’t raise interest rates for the
time being, believing that the inflation is being driven by temporary
supply bottlenecks.

Meanwhile, Biden administration officials have been consulting with


the oil industry in an effort to stem rising gas prices, trying to make it
simpler to issue commercial driver’s licenses (to help reduce the
shortage of truck drivers), and seeking to unclog overcrowded
container ports.

But none of this responds to the deeper structural issue – of which


price inflation is a symptom: the increasing consolidation of the
economy in a relative handful of big corporations with enough power to
raise prices and increase profits.

This structural problem is amenable to only one thing: the aggressive


use of antitrust law.
 Robert Reich, a former US secretary of labor, is professor of
public policy at the University of California at Berkeley and the
author of Saving Capitalism: For the Many, Not the Few and The
Common Good. His new book, The System: Who Rigged It, How
We Fix It, is out now. He is a Guardian US columnist. His
newsletter is at robertreich.substack.com

La question de la scientificit accomplie ou seulement possible de la psychanalyse est aussi


vieille que cette dernire. Si elle a aliment tant de dbats externes ou internes la
psychanalyse, le constat s'impose d'un enlisement progressif dans des polmiques vaines
ou des considrations pistmologiques striles. Cet ouvrage tente une option indite : celle d'un
renversement de la perspective traditionnelle qui convoque la psychanalyse devant le
tribunal de la science, au profit d'une mise l'preuve de la science et de son discours
("idologie de la science") depuis la psychanalyse. Sur ce fond, l'auteur rexamine d'une part
en quoi la psychanalyse dpend de la science son champ est scientifique et le sujet sur
lequel il opre reste celui de la science : en cela la science est et restera l'Autre de la
psychanalyse, et, d'autre part, il montre en quoi c'est son mancipation du "discours de la
science" qui est constituante de la psychanalyse comme pratique et comme discours. Ds
lors, il tente de tirer les consquences de cette perspective pour la thorie, la clinique,
l'thique, l'pistmologie et la politique de la psychanalyse.

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