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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6

Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE


NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
CARACTERIZAÇÃO DAS CÉLULAS PROCARIÓTICAS E
EUCARIÓTICAS
Autora: Débora Cristina Trevisan1
Orientador: José Ricardo Penteado Falco2

Resumo: O presente artigo descreve uma abordagem metodológica no ensino de biologia celular
desenvolvida com 32 alunos do primeiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Santos Dumont
da cidade de São Tomé, por meio de aulas expositivas, atividades de pesquisa, atividades práticas e
com uso de ferramentas tecnológicas disponíveis na escola, perfazendo um total de 32 horas, no
período de fevereiro a julho de 2014. As estratégias de ação contemplaram diferentes recursos
didático-pedagógicos, por meio de leituras, debates, observações, experimentos, apresentação de
imagens, animações gráficas dispostas na internet e elaboração de maquetes com exposição à
comunidade escolar. Os resultados mostraram que 27 alunos (85%) conseguiram detectar as
diferenças e particularidades de cada célula estudada, do vírus e suas principais estruturas ao final
do projeto. Nesse contexto, ficou evidente que para mediar a construção do conhecimento em
Biologia, faz-se necessário a adoção de práticas voltadas para a experimentação, pois as mesmas
além de possibilitar uma aprendizagem mais efetiva, proporciona aos educandos, a chance de
descobrir o mundo científico, além daquele vivenciado em seu cotidiano. Através do projeto de
intervenção realizado ficou comprovado que o processo de ensino e aprendizagem nessa disciplina
torna-se mais efetivo, quando é desenvolvido através de práticas contextualizadas diferenciadas.

Palavras-chave: Células procarióticas. Células eucarióticas animais. Células eucarióticas vegetais

1 Graduada em Ciências Biológicas. Especialização em Morfofisiologia humana, reprodutiva e


comportamental. E-mail: debtrevisan@gmail.com
2 Bacharel em Ciências Biológicas. Mestre em Ciências Biológicas, área de Biologia Celular. Doutor
em Biologia Celular e Estrutural. Docente do Departamento de Biotecnologia, Genética e Biologia
Celular da Universidade Estadual de Maringá desde 1996; orientador
1 INTRODUÇÃO

A disciplina de Biologia, como afirma as Diretrizes Curriculares da Educação


Básica (PARANÁ 2008, p.38), tem como objeto de estudo o fenômeno vida. “Ao
longo da existência da humanidade, muitos foram os conceitos elaborados sobre
este fenômeno, numa tentativa de explicá-lo e, ao mesmo tempo, compreendê-lo.”
Por ser um campo muito vasto, os recursos tecnológicos aplicados à educação são
de grande valia na prática do professor, facilitando a compreensão dos conteúdos.
Contudo, não raro, no Ensino Médio, os conteúdos da disciplina de Biologia
são voltados quase que exclusivamente para os enunciados do livro didático, que
nem sempre se encontram em consonância com as orientações educacionais
definidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB-96) e
regulamentadas pelas Diretrizes do Conselho Nacional da Educação 1988 (XAVIER;
FREIRE; MORAES, 2006).
Krasilchik (2004) afirma que o estudo das células no contexto escolar é
complexo, pois estas possuem estruturas com dimensões muito pequenas que
dependem de instrumentos microscópicos para serem visualizadas.
Estudos sobre o mundo vivo demonstram que o desenvolvimento das
espécies conduziu a uma variedade infinita de formas. Rafael (2011) afirma que
existem quatro milhões de espécies distintas de bactérias, protozoários, vegetais e
animais, que apresentam diferenças morfológicas, de função e de comportamento.
Contudo, no que tange aos organismos vivos compreendidos em sua
dimensão celular e molecular, pode-se apontar um nível singular de organização
(CARVALHO; PIMENTEL, 2007).
O conceito de organismo como elemento integrador do conhecimento
biológico, de acordo com Meglhioratti, El-Hani e Caldeira (2009, p. 49), “permite
tanto caracterizar a Biologia como uma ciência autônoma, quanto auxiliar na relação
entre conceitos de diferentes níveis de organização”. Para os mesmos autores, o
objetivo da biologia celular e molecular está atrelado a uma forma unificada de
organização, ou seja, na apreciação das células e moléculas que compõem as
unidades estruturais do conjunto de todas as formas de vida.
De Robertis e Hibs (2006) comentam que a célula constitui-se numa unidade
funcional e essencial dos seres vivos, e quando a sua função é alterada ela também
se altera. Todos os organismos vivos são compostos por uma ou mais células, que
são suas menores unidades fundamentais com capacidade de autoduplicação.
Embora possuam uma grande diversidade, as células apresentam em sua
constituição componentes comuns a todas, tais como a membrana plasmática, o
citoplasma, o material genético (DNA) e os ribossomos. Estão classificadas em
células procarióticas e células eucarióticas, sendo estas divididas em eucarióticas
animais e eucarióticas vegetais (ALBERTS et al., 2011).
Nas células procarióticas encontram-se a membrana plasmática (membrana
bem fina que envolve toda a célula), a parede celular não celulósica (camada que
protege a célula) e o citoplasma (substância gelatinosa onde ficam mergulhados
pequenas estruturas chamadas de ribossomos, e também a presença de material
genético da célula (DNA) (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005).
Conforme Junqueira e Carneiro (2005), no interior das células eucarióticas há
componentes e estruturas delimitadas por membranas, conhecidas como organelas,
com funções específicas. A presença de organelas membranares (inclusive o
núcleo), bem como do citoesqueleto e de material genético complexo (cromatina),
entre outros, diferencia as células eucarióticas das células procarióticas.
Conforme hipóteses, as células eucarióticas, mais complexas do que as
procarióticas, teriam surgido da evolução destas (XAVIER; FREIRE, MORAIS, 2006;
ALBERTS et al., 2004).

2 METODOLOGIA

O presente artigo descreve uma abordagem metodológica no ensino de


biologia celular desenvolvida com alunos 32 alunos do primeiro ano do Ensino Médio
do Colégio Estadual Santos Dumont da cidade de São Tomé, por meio de aulas
expositivas, atividades de pesquisa, atividades práticas e com uso de ferramentas
tecnológicas disponíveis na escola, , perfazendo um total de 32 horas, no período
fevereiro a julho de 2014.
A proposta buscou delinear ações planejadas e avaliadas a cada atividade
realizada visando à obtenção de mudanças conceituais como produto final, pois o
foco principal do ensino foi desenvolvido numa sequência didática, segundo as
bases teóricas sócio-interacionistas.
Os dados coletados foram analisados com um enfoque qualitativo. A análise
dos resultados e as considerações finais foram realizadas com base na coleta dos
resultados das atividades desenvolvidas no decorrer do processo de implementação,
nas trocas com o GTR (Grupo de Trabalho em Rede), com base nos referenciais
teóricos previamente estudados.
As atividades desenvolvidas foram:
Atividade 1 - Em uma hora aula foi realizada uma exposição oral pela
professora, sobre a caracterização das células procarióticas e eucarióticas, abrindo
espaço para um diálogo com os alunos, a fim de investigar o conhecimento prévio
dos mesmos em relação ao assunto. Em seguida, foi solicitado aos alunos desenhos
de uma célula procariótica, de uma célula eucariótica vegetal e de uma célula
eucariótica animal, com indicação de suas estruturas, sendo os mesmos recolhidos
para posterior verificação.
Atividade 2 - Em uma hora/aula, no laboratório de informática e com
acompanhamento da professora, inclusive realizando questionamentos orais sobre
os tipos celulares, os alunos acessaram sites com animações sobre células e suas
estruturas e organelas.
Atividade 3 - Em duas horas/aula, em aula expositiva com o uso de imagens
(tipos celulares e vírus) da internet <www.diaadiaeducacao.pr.gov.br>,
comparativamente foram apresentadas as estruturas e organelas presentes nas
células destacando o surgimento, a constituição, a complexidade de cada uma, os
aspectos evolutivos e seus mecanismos de divisão.
Ao final da aula, os alunos responderam oralmente alguns questionamentos,
no sentido de verificar possíveis avanços no conhecimento sobre células.
Atividade 4 - No laboratório de informática da escola, com acompanhamento
da professora, no decorrer de quatro horas aulas, os alunos realizaram pesquisas
sobre as estruturas e organelas celulares, com anotações no caderno.
Atividade 5 - No laboratório de Biologia, em 4 horas/aula, foi realizada uma
prática com o auxílio do microscópio ótico para a visualização das células. Todos os
alunos produziram e observaram as lâminas com cortiça em água, lâminas com
epiderme de cebola em azul de metileno e lâminas da mucosa bucal humana em
azul de metileno. Também foram observadas lâminas prontas (material do colégio)
de células do tecido epitelial, do tecido muscular, do tecido conjuntivo e do fígado.
Ao final, ainda nesse laboratório, os alunos confeccionaram um relatório manuscrito
com o relato do que observaram.
Atividade 6 - Em uma hora aula, os alunos realizaram pesquisa no
laboratório de informática da escola, em grupos de até quatro alunos, sobre a
confecção de maquetes dos diferentes tipos celulares e de vírus.
Atividade 7 - No laboratório de Biologia, cada equipe de oito alunos cada, em
oito horas/aula, confeccionaram maquetes sobre um tipo determinado tipo celular e
de vírus.
Atividade 8 - As maquetes confeccionadas por cada grupo foram
apresentadas aos demais grupos da turma, em cinco horas/aula . . Em data
posterior, as maquetes ficaram expostas, durante quatro horas/aula, para visitação
das demais turmas da escola e da comunidade escolar, com os membros de cada
grupo detalhando sobre as estruturas e organelas celulares e respectivas funções.
Atividade 9 - Em duas horas/aula, estando concluídas todas as atividades
propostas, objetivando verificar a aprendizagem dos alunos, a professora PDE
devolveu os desenhos realizados na atividade 1, solicitando a confecção de novo
desenho dos diferentes tipos celulares. Posteriormente, foram orientados a
comparar os desenhos produzidos, descrevendo no caderno as diferenças entre
ambos, seguida de uma apresentação oral de cada um a respeito do que
aprenderam no decorrer da implementação da unidade didática.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Atividade 1 foi possível verificar pela análise dos desenhos de 32 alunos


participantes que nenhum deles desenhou as células procarióticas e eucarióticas
animal e vegetal de maneira correta.

Todos os alunos desenharam as diferentes células com a membrana


plasmática e citoplasma, mas não souberam escrever os nomes das estruturas; na
célula eucariótica vegetal, nenhum dos desenhos apresentava parede celular,
material genético, ribossomos, nucléolo, complexo golgiense, retículo
endoplasmático liso e rugoso; de modo geral, todos os desenhos apresentaram
ausência de diversas estruturas em todas as células.
Essa prática considerou que “[...] o fator mais importante que influi na
aprendizagem é aquilo que o aluno já sabe. Isto deve ser averiguado e o ensino
deve depender desses dados” (MIRAS, 2006, p.66). A essência da aprendizagem de
um novo conteúdo está na capacidade do professor saber utilizar e atualizar os
conhecimentos prévios dos alunos. Os conhecimentos prévios são apenas uma das
facetas do processo educativo. Além destes há muitos outros aspectos que
precisam ser considerados para que o processo de ensino e aprendizagem seja
efetivo (MIRAS, 2006).

A Tabela 1 apresenta os resultados sobre a segunda atividade realizada no


laboratório de informática, demonstrando o percentual de erros e acertos que os
alunos apresentaram oralmente após visualizarem as animações que acessaram
nos sites pesquisados.

Tabela 1. Análise das respostas dos alunos aos questionamentos sobre tipos de células e estruturas
realizados durante a atividade 2.
Questões Acertos Erros
As células observadas
nas imagens são iguais? 32 (100%) 0
Quais são as diferenças
entre a célula eucariótica 0 32 (100%)
animal e a eucariótica
vegetal?
Quais as diferenças
entre a célula 0 32 (100%)
procariótica e a
eucariótica animal?
Fonte: Dados analisados pelo professor PDE em relação a produção dos alunos - 2014

Na segunda atividade foi verificado, com relação às diferenças entre as


células eucariótica animal e eucariótica vegetal, que 100% dos alunos acertaram
parcialmente os questionamentos. Constatou-se nas respostas que os alunos
demonstraram avanços nos conhecimentos sobre algumas estruturas, mas não
conseguiram identificá-las. Um ponto positivo do resultado foi que 28 alunos
reconheceram que a célula eucariótica vegetal tem parede celular ao contrário da
célula eucariótica animal que não apresenta; 24 alunos relataram que a célula
eucariótica vegetal apresenta cloroplasto e a animal não; 27 disseram que a célula
vegetal tem vacúolos grandes e a animal não os possui.
A respeito das diferenças entre a célula procariótica e a eucariótica animal
ficou evidente que a maioria dos alunos (28) entenderam melhor a célula
procariótica por ser mais simples e com menos estruturas. Como pontos positivos,
algumas diferenças significativas foram ressaltadas, como a presença de núcleo
individualizado na célula eucariótica, a falta de núcleo e a presença de nucleoide na
célula procariótica, e que o DNA da célula procariótica encontra-se disperso no
citoplasma. Apontaram, ainda, que a célula procariótica tem parede celular, flagelos,
fimbrias e cápsula.
Contudo, poucos alunos fizeram menção à presença de mesossomo na
procariótica. Como ponto negativo, alguns alunos apontaram que a procariótica
também tem núcleo individualizado.
Quanto às estruturas existentes, os alunos apresentaram dificuldades em
caracterizar a célula eucariótica animal. Observou-se que apenas 09 dos alunos
mencionaram a presença de mitocôndria e lisossomos; 03 citaram a presença de
peroxissomo na célula; 04 fizeram menção à presença de citoesqueleto, do retículo
endoplasmático granuloso e não granuloso; 02 citaram os centríolos; e 06
mencionaram o complexo golgiense.
Como ponto positivo, 26 dos alunos participantes referiram que a célula
procariótica é mais simples, que a célula eucariótica animal possui mais organelas; e
que as células apresentam diferenças significativas, inclusive, em sua forma. Como
ponto negativo, constatou-se que nenhum aluno citou adequadamente todas as
diferenças entre a célula procariótica e a eucariótica animal, deixando de mencionar
determinadas estruturas presentes em uma das células ou até mesmo nas duas.
Os alunos demonstraram interesse ao visualizar as imagens das diferentes
células, exercitando a compreensão sobre suas estruturas de forma mais detalhada,
aprendendo e se divertindo com a experiência na aula. Alguns relatos evidenciam a
opinião dos alunos:

Professora, o computador as imagens do computador ajudou a perceber as


diferenças. Somente a imagem do livro não é suficiente para ver tudo.
(Aluno 6).

Eu gostei da aula, aprendi muito e foi divertido poder compartilhar com os


colegas e a professora tudo o que aprendemos (Aluno 9).

Muita coisa que eu já tinha aprendido sobre célula eu me lembrei com a


aula (Aluno 10).
Os relatos mostram que o uso o computador é uma ferramenta importante
para o estudo das células, possibilitando uma maior aproximação do aluno com o
professor e o conteúdo.
Na segunda atividade realizada, portanto, constatou-se um avanço
significativo na aprendizagem sobre as células, pois a maioria dos alunos
demonstrou conhecimentos sobre os três tipos de células, com destaque nas suas
estruturas e funções e conseguiram descrever e diferenciar, embora parcialmente,
as estruturas que não foram citadas nos conhecimentos prévios.
Segundo Kenski (2007) é necessário que o processo de ensino e
aprendizagem em todos os níveis seja repensado. Cabe ao professor trazer para a
sala de aula os recursos tecnológicos. Para Moran (2007, p. 02) é preciso
“reaprender a ensinar, a estar com os alunos, a orientar as atividades, a definir o que
vale a pena fazer para aprender, juntos ou separados”.
A crescente popularidade de mundos virtuais pressupõe que a prática da sala
de aula está cada vez mais ligada ao uso da tecnologia. Para que o ensino de
Biologia se concretize de forma eficaz, segundo Borges (1997) é necessário criar
situações nas quais o aluno possa encontrar subsídios para a construção e
reconstrução do conhecimento na escola.
Na terceira atividade foram apresentadas imagens de células e um vírus.
Após as discussões que trataram da comparação entre as células e o vírus foram
demonstradas todas as estruturas presentes em cada uma das células, com
explanações pela professora sobre o seu surgimento, constituição, complexidade,
evolução e mecanismo de divisão.
A Tabela 2 demonstra os resultados da avaliação realizada.
Tabela 2. Análise das respostas dos alunos aos questionamentos realizados durante a atividade 3.
Questões Acertos Erros
Os envoltórios das diferentes
células são iguais? 32 (100%) 0

O que o vírus tem em comum


com as células 32 (100%) 0
apresentadas?

Qual célula é mais complexa?


0 32 (100%)
Qual envoltório é mais
resistente? 27 (85%) 05 (15%)

Fonte: Dados analisados pelo professor PDE em relação a produção dos alunos - 2014
Os dados acima mostram que 100% dos alunos demonstraram ter
conhecimentos sobre os envoltórios das diferentes células, afirmando que as células
não são iguais; que a célula procariótica tem cápsula, parede celular e membrana
plasmática; já em relação à célula eucariótica animal foi mencionado que esta
apresenta apenas membrana plasmática; a célula eucariótica vegetal possui parede
celular e membrana plasmática. Quanto à resistência do envoltório observou-se que
27 alunos responderam acertadamente, referindo-se à parede celular; 05 alunos
erraram. As diferenças foram salientadas pela professora que ampliou as discussões
sobre a constituição de cada envoltório e de cada célula.
A respeito da relação do vírus com as células apresentadas, 100% dos
alunos demonstraram ter conhecimento sobre o assunto, referindo-se ao material
genético. Sobre a célula mais complexa nenhum aluno soube responder a questão.
Sobre a quarta atividade, realizada no laboratório de informática, alguns
relatos dos alunos merecem destaque:

Gostei da atividade, pois nunca tinha visto células no laboratório (Aluno 1);

Eu nem sabia que as células elas eram tão minúsculas e eu quero


participar de outras aulas como essa (Aluno 2);

Eu aprendi que as células são diferentes na forma; que a cortiça não


possui núcleo e parece um favo de mel, a cebola e a cortiça possuem
membranas citoplasma e núcleo (Aluno 5);

Eu aprendi que a célula da cebola, por causa da parede celular, as células


são unidas e a mucosa separadas; a muscular é alongada e unidas
apresentando mais de um núcleo; as do conjuntivo são mais distantes e do
fígado são muitas células juntas (Aluno 8);

Dos relatos é possível observar que a pesquisa contribui para aproximar os


alunos do conhecimento sobre células e vírus. Conforme Andreis e Scheid (2002),
não se pode mais ignorar a presença das tecnologias (o computador e a Internet) na
vida cotidiana dos educandos e o que se tem observado é que os professores têm
feito uso desses recursos que, embora não ensinem por si só, oferecem meios
elaborados de acesso ao conhecimento.
Dando continuidade à proposta de implementação a quinta atividade consistiu
de experimentos com lâminas no laboratório de Biologia. Como resultado, foi
possível constatar que o experimento auxiliou na compreensão dos conceitos,
aproximando a teoria da prática dos alunos. Todos os alunos observaram todas as
lâminas e ao final produziram um relatório onde descreveram que perceberam que a
cortiça não possui núcleo e que a célula da cebola é mais visível ao microscópio
ótico em virtude da parede celular ser diferente.
Conforme Fernandes e Silva (2004), um dos objetivos da aula experimental é
usar o trabalho científico de forma a colocar os alunos perante situações que tenham
realmente caráter problemático, encorajando-os a levantar questões, planejar
experiências simples, visando à avaliação de uma dada hipótese de trabalho, fazer
previsões, observar semelhanças e diferenças, usar uma pluralidade de métodos,
comunicar ideias e refletir criticamente sobre todo o percurso investigativo.
Segundo Abou Saab e Godoy (2007), a aula experimental é um importante
recurso, entretanto, é preciso a participação do aluno e não apenas tê-lo como
observador passivo. A atividade prática demonstrativa implica a ideia da existência
de verdades definidas e formuladas em leis já comprovadas, isto é, de uma ciência
de realidade imutável. Para os mesmos autores, os experimentos contribuem para
formar “sujeitos críticos e atuantes, por meio de conteúdos que ampliem seu
entendimento acerca do objeto de estudo – o fenômeno Vida – em sua
complexidade de relação” (p.01).
Dando sequência, a sexta atividade envolveu os alunos em atividades de
pesquisa para construção de maquetes. A atividade mobilizou os alunos para
interagirem com a pesquisa sobre o conteúdo, tendo sido escolhido como modelo de
maquete o vírus bacteriófago, bem como as células eucarióticas animais, em razão
destas fazerem parte de nosso corpo e por fim a célula eucariótica vegetal, pois
consideraram os materiais de fácil acesso e manuseio.
A sétima etapa da implementação pedagógica envolveu os alunos na
confecção de maquetes. Para a maioria dos alunos, a construção de maquetes foi
novidade, pois até então não haviam entrado em contato com modelos
tridimensionais de células e vírus.
A Figura 1 a seguir ilustra o trabalho realizado pelos alunos.
Figura 1. Maquetes confeccionadas pelos alunos.

O uso das maquetes como recurso didático facilitou a transposição dos


conteúdos. Além do sentido visual, as maquetes como modelo didático permitiram
que os alunos manipulassem o material, visualizando-o de vários ângulos,
melhorando a compreensão sobre o conteúdo estudado. Conforme Guimarães e
Ferreira (2006, p. 08), o modelo didático (maquete) “reproduz os principais aspectos
visuais ou a estrutura da “coisa” que está sendo modelada, convertendo-se neste
modo em uma “cópia da realidade”".
Dando sequência ao estudo das células, a oitava etapa contou com a
exposição das maquetes na sala de aula. Os alunos foram preparados para a
apresentação, com a preocupação voltada para a conceituação das células e em
associá-las às estruturas e suas funções de forma bem prática, usando a
terminologia científica. Pode-se observar que os alunos demonstraram ter
conhecimentos sobre a biologia estrutural da célula e a relação entre a localização
de cada estrutura e suas respectivas funções, fazendo com que os alunos
imaginassem as células a partir das maquetes, sendo referências de aprendizagem.
Na nona e última atividade, os alunos desenharam novamente as células,
para comparação com os desenhos realizados na primeira atividade. Os dados da
Tabela 3 mostram os resultados.
Tabela 3. Análise dos desenhos dos alunos sobre tipos celulares realizados durante a atividade 9.
Acertos Erros Parciais

Número de 27 (85%) 05 (15%)


Alunos
Fonte: Dados analisados pelo professor PDE em relação a produção dos alunos - 2014

Os desenhos finais foram bem completos, mostrando que 27 alunos


concluíram o desenho sem nenhum erro. Todos os alunos desenharam o vírus
bacteriófago, com todas as suas estruturas; cápsula, DNA, cauda e fibras caudais,
bem como a célula procariótica (bactéria com DNA, cápsula, parede celular,
membrana plasmática, ribossomos, citoplasma, fímbrias, flagelo, mesossomo,
plasmídio). Destas estruturas apenas 04 alunos não colocaram fímbrias e nem
plasmídios.
Com relação à célula eucariótica vegetal, todos perceberam a diferença entre
esta e a animal, pois todos colocaram cloroplastos, plasmodesmos, vacúolo e
parede celular e as demais estruturas. Apenas 04 alunos não fizeram referência ao
complexo golgiense; 05 não apontaram ribossomos; e 03 não colocaram
peroxissomos; as demais estruturas (núcleo, cromatina, carioteca, citoplasma,
membrana plasmática, mitocôndria, lisossomos, citoesqueleto, retículo granuloso e
não granuloso); foram colocadas por todos apenas 01 aluno fez menção ao
nucleoide no lugar de nucléolo.
Na célula eucariótica animal todos os alunos desenharam centríolos, núcleo,
citoplasma, membrana plasmática, ribossomos, mitocôndria, lisossomos,
peroxissomos, citoesqueleto, retículo endoplasmático granuloso e não granuloso,
complexo golgiense; apenas 01 aluno colocou plasmodesmo; 01 parede celular; e
01 cloroplasto.
Após as comparações com os desenhos realizados na primeira atividade, os
alunos verificaram as estruturas que faltavam, anotando-as em seus cadernos.
Constataram que todos os desenhos iniciais tinham, basicamente, membrana,
citoplasma e núcleo, mostrando-se, portanto, células incompletas, faltando muitas
estruturas e organelas.
Foi possível constatar pelos desenhos concluídos que os alunos conseguiram
detectar as diferenças e particularidades de cada célula estudada e suas principais
estruturas e organelas.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando-se em consideração os resultados obtidos através do projeto de


intervenção, observa-se que o conhecimento dos alunos a respeito das células foi
comprovado por intermédio do mesmo.
Nesse contexto, ficou evidente que para mediar a construção do
conhecimento em Biologia, faz-se necessário a adoção de práticas voltadas para a
experimentação, pois as mesmas, além de possibilitar uma aprendizagem mais
efetiva, proporcionam aos educandos a chance de descobrirem o mundo científico,
além daquele vivenciado em seu cotidiano.
Além disso, a implementação teve por objetivo trabalhar os conteúdos
propostos utilizando os recursos tecnológicos disponíveis na escola, já que a
tecnologia é um dos maiores atrativos para os alunos da atualidade e com isso, foi
possível conseguir o envolvimento de todos nas atividades propostas.
A prática de Biologia desenvolvida nesse estudo expressou intrinsecamente
uma relação entre teoria e prática, devido à sua importância na construção do
conteúdo específico e essa relação foi imprescindível para a caracterização das
células eucarióticas e procarióticas pelos alunos.
Através do projeto de intervenção realizado ficou comprovado que o processo
de ensino e aprendizagem nessa disciplina torna-se mais efetivo, quando é
desenvolvido através de práticas contextualizadas diferenciadas.

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