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Nery Nice Biancalana Reiner

Literatura
Infantojuvenil

Revisada por Nery Nice Biancalana Reiner (setembro/2012)


APRESENTAÇÃO

É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Literatura Infantojuve-
nil I, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autô-
nomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as)
uma apresentação do conteúdo básico da disciplina.

A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis-
ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail.

Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br,
a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso,
bem como acesso a redes de informação e documentação.

Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple-
mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para
uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal.

A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar!

Unisa Digital
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................................................................... 5
1 ORIGENS DA LITERATURA INFANTOJUVENIL......................................................................... 7
1.1 Fontes Orientais.....................................................................................................................................................................7
1.2 Fontes Medievais...................................................................................................................................................................8
1.3 As Novelas de Cavalaria e o Folclore do Nordeste Brasileiro................................................................................9
1.4 Renascimento...................................................................................................................................................................... 11
1.5 Resumo do Capítulo.......................................................................................................................................................... 12
1.6 Atividades Propostas......................................................................................................................................................... 12

2 SÉCULO XVII - A CRIAÇÃO DA LITERATURA PARA CRIANÇAS..................................13


2.1 Século XVIII - Pré-Romantismo...................................................................................................................................... 15
2.2 Romantismo: Narrativas do Fantástico Maravilhoso............................................................................................. 16
2.3 Narrativas do Realismo Maravilhoso ou Mágico.................................................................................................... 17
2.4 Novelística de Aventuras................................................................................................................................................. 18
2.5 Narrativas do Realismo Humanitário.......................................................................................................................... 19
2.6 Resumo do Capítulo.......................................................................................................................................................... 20
2.7 Atividades Propostas......................................................................................................................................................... 20

3 PRECURSORES DA LITERATURA INFANTIL NO BRASIL..................................................21


3.1 Livros e Autores................................................................................................................................................................... 21
3.2 Brasil Século XX: Monteiro Lobato, o Inovador....................................................................................................... 22
3.3 Dos Anos 1930 a 1990...................................................................................................................................................... 23
3.4 Teatro Infantojuvenil......................................................................................................................................................... 24
3.5 Tendências da Literatura Infantil Atual....................................................................................................................... 24
3.6 Resumo do Capítulo.......................................................................................................................................................... 25
3.7 Atividades Propostas......................................................................................................................................................... 25

4 O PAPEL DA LITERATURA INFANTOJUVENIL.........................................................................27


4.1 O que é Arte?........................................................................................................................................................................ 27
4.2 O Lúdico na Literatura Infantojuvenil......................................................................................................................... 28
4.3 Resumo do Capítulo.......................................................................................................................................................... 29
4.4 Atividades Propostas......................................................................................................................................................... 30

5 A CRIANÇA E A POESIA.........................................................................................................................31
5.1 Como Escolher o Poema.................................................................................................................................................. 31
5.2 Poemas e Poetas Brasileiros............................................................................................................................................ 32
5.3 Resumo do Capítulo.......................................................................................................................................................... 38
5.4 Atividades Propostas......................................................................................................................................................... 38

6 PROSA...............................................................................................................................................................39
6.1 Elementos Estruturais da Narrativa............................................................................................................................. 39
6.2 Espécies Narrativas............................................................................................................................................................ 40
6.3 Resumo do Capítulo.......................................................................................................................................................... 47
6.4 Atividades Propostas......................................................................................................................................................... 47
RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS...................................... 49
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................................. 51
APÊNDICE...................................................................................................................................................... 53
INTRODUÇÃO

A Literatura Infantojuvenil é antes de tudo Arte. Como tal, representa o Mundo, o Homem, a Vida.
Cada época da História da Humanidade, de uma forma ou de outra, contribuiu para a formação da Li-
teratura para Crianças e Jovens. Canções de Ninar, Provérbios, Parlendas, Jogos, Brinquedos; Narrativas,
como Mito, Lenda, Contos Populares, Contos Maravilhosos, Contos de Fadas, que passaram de pais para
filhos, através da oralidade, serviram como base para formar esse Universo Maravilhoso que é a Literatura
infantojuvenil.
Começando pela Antiguidade, nosso curso passará pela Idade Média, Renascimento, Época Ro-
mântico-Realista, Pré-Modernismo e Modernismo, chegando ao Brasil Contemporâneo. Nesta viagem,
no tempo e no espaço, penetrando em castelos e florestas encantadas, onde reis, rainhas, fadas, feiticei-
ras, bruxas, dragões, cavaleiros andantes, heróis, enfim, lutam, cada qual, usando seus poderes, trazendo-
-nos um mundo cheio de magia e encantamento.
Começaremos na Índia com Calila e Dimna, passaremos pelas Mil e uma Noites, pelas Novelas de
Cavalaria, Narrativas do Fantástico-Maravilhoso, Perrault, Irmãos Grimm, Andersen, Lewis Carroll, Daniel
Defoe, Jonathan Swift, Júlio Verne até chegar a Monteiro Lobato, o Inovador da Literatura Infantojuvenil
no Brasil. Caminhando mais um pouco, chegaremos aos escritores contemporâneos como Bojunga Nu-
nes, Ruth Rocha e outros.
Em nosso curso de Literatura Infantojuvenil, daremos ênfase aos textos poéticos e lúdicos. A crian-
ça gosta de brincar e precisa brincar, também, com as palavras. Assim, veremos poemas de Cecília Meire-
les, Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira e Manoel de Barros.
Quanto à Prosa, analisaremos várias narrativas como Fábulas, Apólogo, Mito, Lenda, Conto Mara-
vilhoso e Conto Maravilhoso de Fadas. Contando sempre com a ajuda de teóricos consagrados como
Câmara Cascudo, Irene Machado, Laura Sandroni, Marisa Lajolo, Nelly Novaes Coelho e outros.
Esperamos que você, ao final do módulo, possa ler diferentes textos e analisá-los, para que possa
dividir esse seu saber com seus futuros alunos.

Bom trabalho!
Profa. Nery Reiner

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ORIGENS DA LITERATURA
1 INFANTOJUVENIL

1.1 Fontes Orientais

Caro(a) aluno(a), você vai saber agora como persa. Desta tradução, apareceram outras para o
tudo começou, quais as origens da literatura infan- latim, para o espanhol, para o inglês, para o francês
tiljuvenil. Vamos lá? e assim por diante, até chegar ao Brasil. Uma das
A existência de uma Literatura destinada estórias é sobre um homem e uma serpente, con-
especialmente às crianças é recente. Segundo forme segue, resumidamente:
Sandroni (1987), começou nos fins do século XVII,
quando François de Sagnac Fénelon (1651-1715)
Um homem que caminhava, viu uma cobra enrege-
publicou Traité de l´education des filles, oferecido às lada no meio da neve. Teve pena do animal, pegou-o
oito filhas do Duque de Beauvillier, na França. Fé- e colocou-o dentro da camisa. Quando a cobra ficou
nelon escreveu também Telêmaco e outras obras aquecida, picou o generoso salvador. Este, quase mor-
to, perguntou-lhe por que fizera tal ingratidão. A ser-
inspiradas na Mitologia Grega e nas Fábulas. Que- pente respondeu-lhe:
ria o autor dar às crianças livros além dos tradicio- – Como pode ser tão estúpido, pretendendo mudar o
nais, que contavam a vida e o martírio dos santos caráter natural que está na essência dos seres? A trai-
ou que se relacionavam com temas da História Sa- ção e a ingratidão formam a essência de minha natu-
reza. Você deveria ter pensado nisto.
grada.
Fonte: www.curiosidadeanimal.com.
Porém, a origem da Literatura Infantil está
bem mais longe no tempo e no espaço. Muitas
narrativas da Antiguidade atravessaram terras e Essa estória faz parte das Fábulas de Esopo,
mares e foram sendo passadas de pais para filhos, escravo grego que viveu na Trácia, no século V a.C.
durante séculos. Essas narrativas vieram de longe, Na realidade, estas estórias viajaram pelas diversas
muito longe, até chegarem à Europa. Do Oriente, regiões da Terra e foram se incorporando ao acervo
por exemplo, mais precisamente na Índia, por vol- de cada povo. La Fontaine também a registra em
ta do século VI a.C., surgiram narrativas compila- suas Fábulas.
das em uma obra chamada Calila e Dimna. A obra, Do Oriente, também, veio outra obra impor-
escrita em sânscrito, foi tirada dos livros sagrados, tante: As mil e uma noites. Uma série de narrativas
do Pantchatantra. Nesta obra, dois chacais, Calila e que fazem parte das Origens da Literatura Infantil.
Dimna, conversam e vão narrando várias estórias. Escrita em árabe, por autor desconhecido, encon-
A obra ficou famosa. Reis, príncipes, pessoas com trada por volta do século VIII d.C. A estrutura de
cargos relevantes procuravam o livro para apren- As mil e uma noites, como a de Calila e Dimna, são
der como se manter no poder. semelhantes: uma estória deixa um gancho para a
No século VII d.C., Ibn Al-Mukafa, poeta e es- estória seguinte. Estrutura de encaixe, ou de caixa
critor nascido na Pérsia, fez uma tradução para o de surpresa. As mil e uma noites contam a estória de
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um sultão, Shariar, e de Sherazade. Resumidamen- Deixando para trás o Oriente, vamos para a
te, é o seguinte: Europa, na época da Idade Média. É o período que

Um sultão, Shariar, depois de ser traído pela esposa, torna-se um serial killer. Mandava o
Vizir procurar uma bela moça virgem e trazê-la até o palácio. Casava-se com ela, e na manhã
seguinte, antes do amanhecer, mandava matá-la. Assim, a jovem não teria tempo de traí-lo.
No dia seguinte, mandava o Vizir procurar outra jovem
e acontecia exatamente a mesma coisa. Com isso, as
moças da aldeia foram acabando, até que surgiu She-
razade, uma linda jovem, virgem, culta, inteligente, as-
tuta e filha do Vizir.
O pai não queria levá-la, não queria que a moça mor-
resse. Mas Sherazade insistiu e foi. Casou-se com o sul-
tão e no dia seguinte, antes do amanhecer, começa a
contar para o sultão a primeira estória: O mercador
e o gênio. O sol apareceu e a moça parou a narrati-
va. O sultão ficou indignado, porque queria saber se o
mercador tinha ou não morrido. A jovem disse-lhe que
contaria o resto na madrugada do dia seguinte, se o
http://contosencantar.blogspot.com. sultão assim o permitisse. O sultão, curioso para saber
br/2010/04/historia-da-rainha-sherazade. o fim da estória, foi dando a Sherazade mais um dia de
html
vida, até que se passaram mil e uma noites, equivalen-
tes há três anos.
Em três anos, Sherazade salvou Shariar, envolvendo-o com o fio de suas narrativas de tal
modo que os dias foram se passando, o amor e os filhos chegando e enchendo de alegria o
coração do sultão.

1.2 Fontes Medievais

durou mil anos, que vai do século V ao XV, isto é,


do fim do Império Romano até o Renascimento –
início dos Tempos Modernos. Imperava na Europa
o Feudalismo, regime socioeconômico que deixa-
va os Senhores Feudais de um lado e os vassalos e
servos de outro: os vassalos para defenderem seus
senhores com coragem e lealdade e os servos para
plantar, colher e fazer todo tipo de serviço braçal.
Faziam parte do cenário: o castelo, o rei, a rainha, os
príncipes e princesas, os vassalos e os servos.
http://plenosreflexos.blogspot.com.
Além dos feudos, a Europa estava vivendo o br/2011/06/de-volta-idade-media.html.
tempo das Cruzadas. Na própria palavra Cruzadas,
já vemos a força da Religiosidade. Expedições con-
duzidas, principalmente, por nobres cristãos, entre

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Literatura Infantojuvenil

1095 e 1270, partiam da Europa para participarem


da Guerra Santa contra os muçulmanos ou islâmi-
cos com o objetivo de reconquistarem Jerusalém e
o túmulo de Jesus. O Islamismo ou muçulmanismo
foi criado pelo profeta árabe Maomé (580-632).
Juntando Feudalismo, Cruzadas, Senhor Feu-
dal, rei, rainha, princesa, vassalos, servos, castelos,
cavaleiros e a força da Religião, esta mistura, esta
amálgama cultural, como um potencial extraordi-
nário de vida, gerou narrativas e mais narrativas.
Daí nasceram as Novelas de Cavalaria, entre os sé-
culos XII e XIII: Estórias do rei Arthur, Os doze cavalei-
ros da Távola Redonda, A demanda do Santo Graal,
Lancelot, Tristão e Isolda, Amadis de Gaula, Ricardo
Coração de Leão, Canção de Rolando, Canção de Gui-
lherme d´Orange e outras.
http://fantasystock.deviantart.com/art/King-
Seus temas básicos são as façanhas dos “ca- -Arthur-s-Excalibur-Hilt-146654861
valeiros andantes” que, de acordo com os códigos
éticos da cavalaria e do amor cortês, viviam entre
Curiosidade
batalhas e lutando por suas amadas, sempre na de-
fesa da Dama ou da Fé cristã. Rei Artur é uma figura lendária que teria coman-
dado a defesa contra os invasores saxões chega-
dos à Grã-Bretanha no início do século VI. O Rei
Arthur teria levado Guinevere para morar com ele
no Castelo. Porém, a bela jovem se apaixona por
Lancelot, o mais fiel e valente cavaleiro do rei.

1.3 As Novelas de Cavalaria e o Folclore do Nordeste Brasileiro

Saiba que trazidas pelos colonizadores por-


tugueses, no século XVII, as Novelas de Cavalaria
difundiram-se por todo o Brasil, porém só no ano
de 1840 foi editada entre nós. As estórias ficaram
gravadas na memória popular, encantando tam-
bém as crianças. No Nordeste Brasileiro, as estórias
medievais, importadas da Europa, ficaram registra-
das no Cordel Brasileiro. Entre os folhetos que con-
tinuam circulando nas feiras do Nordeste estão:
História da princesa Magalona; Donzela Teodora;
João de Calais e outras. http://orlandolisboa.blogspot.com.br/2011_01_01_archive.html

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Câmara Cascudo (1984) apresenta também a


estória da princesa Magalona que, resumidamen-
te, é a seguinte:

A Princesa Magalona

Pierre ou Pedro era filho único do Conde de Provença, D. João de Sollis e de sua esposa, filha do Du-
que de Albis. Pierre, jovem e esforçado cavaleiro, saiu para viajar e acabou chegando em Nápoles,
onde o rei era conhecido pela beleza de sua filha Magalona.
O jovem saiu da terra natal, levando três anéis dados por sua mãe e dizendo que seu nome era
‘Cavaleiro das Chaves’, em honra a São Pedro, seu padroeiro. Sem dizer seu nome verdadeiro e
hierarquia, conhece Magalona. Os dois se apaixonam e resolvem fugir para se casar na Provença.
Durante a fuga, a princesa adormece e uma ave de rapina arrebata-lhe o lenço vermelho que em-
brulhava os três anéis, dados por Pierre. O jovem persegue a ave ladra e esta lança ao mar o lenço
vermelho. Pierre entra numa barca para recolher os anéis, mas a barca é arrastada por uma venta-
nia, indo parar em alto mar. Um navio do sultão do Grão Cairo que por ali passava, recolheu a barca
e Pierre. O jovem foi transformado em servo de confiança do sultão.
Enquanto isso, Magalona acorda, chora, fica desesperada, quando não vê Pierre. Resolve prosseguir
a viagem. Troca suas roupas de princesa por outra bem modesta e acaba chegando à Provença. Lá
funda um hospital com as joias de família que levara. Os condes de Provença, pais de Pierre, sem
saber de nada, tornam-se protetores da misteriosa benfeitora do hospital.
Pierre deixa Alexandria, escondendo suas riquezas em barris cheios de sal. O navio que o conduz
chega a uma ilha. O jovem desce e acaba adormecendo na praia. O navio prossegue a viagem e vai
até a Provença. Os barris de sal são enviados para o hospital, como estava no endereço, para não
despertar cobiça.
Um pescador traz ao conde, pai de Pierre, um grande peixe em cujo ventre estava o lenço verme-
lho com os três anéis.
Pierre foi recolhido por uns pescadores que o levam para o hospital da Provença. Noivo e noiva se
encontram, ficando finalmente juntos. Os pais de Pierre preparam grande festa para o casamento.
Os dois se casam, têm um filho que se torna rei de Nápoles.

Além das Novelas de Cavalaria, gostaríamos


de incluir também na novelística popular a obra
de Boccacio, do século XIV; intitulada Decameron,
significa dez jornadas ou dez dias, a qual oferecia
um modelo de prosa ficcional bem-humorada,
dando início a uma série de enredos cômicos que
têm eco até hoje na Literatura Infantil.

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Literatura Infantojuvenil

1.4 Renascimento

Segundo Nelly Novaes Coelho (1985), foi du-


rante o período histórico conhecido como Tempos
Modernos, que vai do século XVI ao início do XX,
que a Literatura Ocidental vai adquirir seu contor-
no próprio e alcançar o apogeu de suas formas.
O Renascimento, movimento cultural que se
propagou na Europa Ocidental com a nova ima-
gem de “homem no centro”, isto é, o Antropocen-
trismo, fez surgir grandes transformações, não só
de limites, mas também de ideias e costumes.

Saiba mais

Teocentrismo = Deus no centro


Antropocentrismo = homem no centro
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Mona_Lisa.jpg

Porém, o ponto alto do Renascimento foi a Como base do movimento renovador do Re-
invenção da imprensa, por Gutenberg, em 1456, nascimento, está o Humanismo: o novo Conheci-
levando à publicação da Bíblia. O livro, a palavra es- mento do Homem, ao descobrir, no acervo deixado
crita registrando acontecimentos de todos os tem- pela Antiguidade greco-romana, a ideia do homem
pos, permite ao homem tornar-se contemporâneo liberal. Surgem a Arte idealista, harmoniosa, e uma
de todas as épocas: conviver com o presente, com Literatura voltada para os clássicos greco-romanos.
o passado mais remoto e antecipar o futuro. Enquanto a literatura culta contava com obras
de Boccacio e Camões, na literatura popularizante
Curiosidade registram-se quatro obras, coletâneas de narrativas
A Bíblia é o livro mais impresso, mais
de origem oriental feitas pelos italianos Caravaggio,
vendido e mais lido de todos os tem- Basile, Croce e pelo português Trancoso.
pos. Primeiro livro impresso por Gu-
tenberg, nos meados do século XV. É a. Gianfrancesco Caravaggio: Noites agra-
incontável o número de edições e de dáveis, 1554. Narrativas de origem orien-
exemplares publicados em cerca de
300 línguas diferentes. Compreende
tal, medieval e de fundo folclórico, onde
duas versões distintas: o “Antigo Testa- predominam o fantástico e o maravilho-
mento”, a Bíblia judaica, composta de so dos contos populares.
três partes: o Pentateuco, os Profetas b. Gonçalo Fernandes Trancoso: Contos do
e os Escritos; e a Bíblia cristã, ou “Novo Trancoso, 1575.
Testamento”, incluindo os quatro Evan- c. Giovanni Battista Basile: Conto dos con-
gelhos e os Atos dos Apóstolos, as
tos ou Pentameron, 1600, que fez entrar
Epístolas e os Proféticos (Apocalipse).
Fonte: Dicionário Digital Aulete.
na Literatura Universal, pela primeira
vez, A Gata Borralheira, Bela Adormecida,
Branca de Neve e outros.

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d. Giulio Cesare Croce: Astúcias sutilíssimas


de Bertoldo. Narrativas engraçadas sobre Atenção
Bertoldo, herói simplório e desastrado.
O Humanismo está na base do Renascimento. A
literatura volta-se aos modelos da Antiguidade
Clássica: Grécia e Roma Antigas são as fontes de
inspiração.

1.5 Resumo do Capítulo

A origem da Literatura Infantil está muito longe no tempo e no espaço. Muitas narrativas da An-
tiguidade atravessaram terras e mares e foram sendo passadas de pais para filhos durante séculos. Do
Oriente, por exemplo, na Índia, por volta do século VI a.C., surgiram narrativas compiladas em uma obra
chamada Calila e Dimna.
Do Oriente, também, veio outra obra importante: As mil e uma noites. Uma série de narrativas que
fazem parte das Origens da Literatura Infantil. Escrita em árabe, autor desconhecido, encontrada por vol-
ta do século VIII d.C. As mil e uma noites apresenta estrutura de encaixe, ou de caixa de surpresa.
Na Europa, na Idade Média, surgem as Novelas de Cavalaria, entre os séculos XII e XIII: Estórias do rei
Arthur, Os doze cavaleiros da Távola Redonda e outros.
Durante o Renascimento, movimento cultural que se propagou na Europa Ocidental, com a nova
imagem de homem no centro, isto é, o Antropocentrismo, surgiram grandes transformações, não só de
limites, mas também de ideias e costumes. Enquanto a literatura culta contava com obras de Boccacio
e Camões, na literatura popularizante, registram-se quatro obras, coletâneas de narrativas de origem
oriental feitas pelos italianos Caravaggio, Basile, Croce e do português Trancoso.
Agora que você conheceu um pouco sobre as fontes da literatura infantojuvenil, vamos verificar
sua aprendizagem?

1.6 Atividades Propostas

1. Quais as fontes mais antigas da Literatura infantojuvenil?

2. Quando teve início a Literatura Infantojuvenil destinada especialmente para crianças?

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SÉCULO XVII - A CRIAÇÃO DA
2 LITERATURA PARA CRIANÇAS

No início desta apostila, vimos que a Litera- La Fontaine, escrevendo em versos, deu for-
tura Infantojuvenil surgiu na França, no século XVII, ma definitiva às fábulas de Esopo, que se espalha-
durante o reinado de Luís XIV, o Rei Sol, com a obra ram pelo mundo. As fábulas de La Fontaine são
Aventuras de Telêmaco, de Fénelon. Ao mesmo tem- textos que denunciam a miséria, os desequilíbrios
po, surgem também La Fontaine, Charles Perrault e sociais ou injustiças de sua época. Você já leu algu-
Mme. D´Aulnoy. ma fábula de La Fontaine?
São muito conhecidas as fábulas: O lobo e o
Jean de La Fontaine: Fábulas, 1668 cordeiro, A cigarra e a formiga, A raposa e as uvas
e O leão e o ratinho que mostram a luta entre os
opostos e a vitória da astúcia e da inteligência.
Como exemplo, transcrevo, em paráfrase, a
fábula A raposa e as uvas reescrita por La Fontai-
ne, que você provavelmente já conhece.

A raposa e as uvas

Certo dia, uma raposa esfaimada, saiu cami-


nhando pela floresta, em busca de alimento.
De repente, viu uma parreira carregada de uvas
http://1000historias.webs.com/apps/pho- maduras. Porém, estavam muito altas. Pulou,
tos/photo?photoid=58012610
pulou, mas não conseguiu nada. Desanimada,
foi embora dizendo: Ah! Estão verdes! Nisso,
ouviu um ruído de folhas caindo e voltou rapi-
damente, imaginando serem uvas.
Moral: quem desdenha quer comprar.

Curiosidade

Esopo é um lendário autor grego. Viveu na Anti-


guidade e é considerado o Pai da Fábula.
As Fábulas de Esopo foram reescritas por Fedro e
Jean de La Fontaine.

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Charles Perrault (1968-1703): Contos de


Mamãe Gansa, 1697

Grande poeta francês, Perrault entrou para


a História escrevendo não poemas, mas narrativas
para criança, desvalorizadas na época. Fazem parte
dessa obra: A Bela Adormecida no Bosque, Chapeu-
zinho Vermelho, O Barba Azul, O Gato de Botas, As
Fadas, A Gata Borralheira ou Cinderela, Henrique, o
Topetudo e O Pequeno Polegar.

Charles Perrault
http://biografieonline.it/biografia.htm?Bi
oID=2919&biografia=Charles+Perrault

Mme. D’Aulnoy: Contos de Fadas, 1698

Jovem baronesa, Marie Catherine de Barne-


ville, Mme. D´Aulnoy, publica seu livro Contos de
Fadas. Estão incluídas na obra: O Pássaro Azul, O
Ramo de Ouro e A princesa dos cabelos de ouro.

François de Salignac Fénelon

François de Salignac Fénelon nasceu no cas-


telo da família, em Périgord, em 1651. Morreu em
1715. Desde cedo, estudou latim e grego. Era muito
estudioso e conheceu as obras-primas da literatura
clássica.

Aventuras de Telêmaco, 1695-1699

É uma novela pedagógica, unindo o conhe-


François de Salignac Fénelon
cimento do passado, através da Mitologia Grego- www.pt.wikipedia.org.
-romana, até as imposições do presente.
Fénelon, homem culto de alta moral e sagaz Segundo Nelly Novaes Coelho (1985), o valor
na compreensão da psicologia humana, escreve da obra As aventuras de Telêmaco, como obra para
um verdadeiro tratado de educação moral e polí- a juventude, está em seu núcleo problemático: o
tica, em dezoito volumes, que tinha por objetivo da busca do pai, isto é, o da procura das origens.
educar o filho do Rei Sol, o duque de Bourgogne, Essa viagem permite ao ser humano conhecer-se,
criança de sete anos, violenta, rebelde, orgulhosa, compreender-se melhor. Na obra, há que salientar,
porém, inteligente e sensível. também, uma característica importantíssima: o es-
A novela é escrita à margem da Odisseia de pírito de solidariedade e fraternidade que está na
Homero, onde Telêmaco é o filho de Ulisses/Odis- base de todas as atitudes do herói e nos conselhos
seu, que sai em busca de notícias de seu pai. do seu mentor.

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Literatura Infantojuvenil

2.1 Século XVIII - Pré-Romantismo

Vimos que o centro do movimento literário, Jonathan Swift


no Renascimento, foi na Itália. No século XVII, foi na
França. Já no século XVIII, foi na Inglaterra com duas
obras de ficção que, desde o primeiro momento,
foram sucesso absoluto: Robinson Crusoé (1719) de
Daniel Defoe e As Viagens de Gulliver (1726) de Jo-
nathan Swift.

Robinson Crusoé

http://be-x-old.wikipedia.org/wiki/%D0%A4
%D0%B0%D0%B9%D0%BB:Jonathan_Swift_
by_Francis_Bindon.jpg

www.historytoday.com. Gulliver

Robinson Crusoé, depois de naufragar e Gulliver, por outro lado, encontrando anões e
instalar-se em uma ilha deserta, conta a estória do gigantes, expressando o aparecimento do micros-
homem: a luta pela sobrevivência, o início da civi- cópio e do telescópio, descobertos na época, com
lização, quando o homem fixou-se em um deter- o elogio aos houyhnhnnrs, nome dado aos cavalos
minado lugar e começou a plantar e criar animais, por Swift, tenta mostrar a superioridade destes, em
provando o valor das forças intrínsecas do indiví- relação aos homens.
duo.

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2.2 Romantismo: Narrativas do Fantástico Maravilhoso

Irmãos Grimm ƒƒ FÁBULAS, estórias onde animais dialo-


gam, contendo uma lição de moral no
final: A Raposa e o Gato, A Raposa e a Co-
madre, O Lobo e as Sete Cabras e outros.
ƒƒ PARÁBOLA: O Lobo e o Homem.
ƒƒ LENDAS: estórias ligadas ao início de
uma cidade, de uma tribo, de uma planta
do lugar: João Jogatudo, A Donzela que
não tinha Mãos e O Diabo e a Avó.
ƒƒ CONTOS DE ENIGMA: estórias que apre-
sentam um enigma a ser decifrado: Enig-
ma.
ƒƒ CONTOS DIVERTIDOS: João, o Felizardo,
O Alfaiate Valente, As Três Fiandeiras e ou-
tros.
www.pt.wikipedia.org.

Hans Christian Andersen


Participantes do Círculo Cultural de Heidel-
berg, Alemanha, filólogos, folcloristas, estudiosos
da mitologia germânica, Jacob (1785-1863) e Wi-
lhelm (1786-1859) recolhem da memória popular
as antigas narrativas conservadas pela tradição oral
e publicam, entre 1812 e 1822, a obra Contos de fa-
das para crianças e adultos.
Parafraseando Nelly Novaes Coelho (1985),
os contos dos Irmãos Grimm são incluídos na área
das narrativas do fantástico-maravilhoso, porque
todas elas pertencem ao mundo do imaginário ou
da fantasia.
Exemplificando, temos:

ƒƒ CONTOS DE ENCANTAMENTO, estórias


que apresentam metamorfoses ou trans- http://www.cinemagia.ro/actori/hans-christian-ander-
formações por encantamento: O Corvo, sen-39814/poze-hires/974165/
A Dama e o Leão, O Príncipe Rã, A Alface
Mágica e outros. O poeta e novelista Hans Christian Andersen
ƒƒ CONTOS MARAVILHOSOS, estórias que (1805-1875) nasceu na Dinamarca. Sintonizado
apresentam o elemento mágico, sobre- com os ideais românticos de exaltação dos valores
natural: O Pescador e a Esposa, O Ganso populares, com os ideais de fraternidade e gene-
de Ouro, Joãozinho e Maria, Chapeuzinho rosidade, revela-se um grande escritor, trazendo à
Vermelho, O pequeno Polegar e outros. tona o espírito dos ingênuos, simples, dos puros

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Literatura Infantojuvenil

de coração. Entre a sua vasta obra, estão: O Patinho


Saiba mais
Feio, Os Sapatinhos Vermelhos, A Rainha Neve, O
Rouxinol e o Imperador, O Soldadinho de Chumbo, A Hans Christian Andersen nasceu no seio de uma famí-
lia dinamarquesa muito pobre. Seu pai era sapateiro
Pequena Vendedora de Fósforos, João e Maria, João de saúde fraca e sua mãe lavadeira. Toda a família vivia
Grande e João Pequeno, A Pequena Sereia e outros. e dormia num único quarto. O pai adorava contar-lhe
estórias e construiu para ele um teatrinho de mario-
netes. Hans apresentava no seu teatro peças clássicas,
tendo encenado até peças de Shakespeare com seus
brinquedos.

2.3 Narrativas do Realismo Maravilhoso ou Mágico

Lewis Carroll com amigos, incluindo três meninas: Alice Liddell, a


heroína das aventuras, e suas irmãs: Lorina e Edith.
Mais tarde escreveu Alice no País do Espelho.

http://en.wikipedia.org/wiki/
File:LewisCarrollSelfPhoto.jpg

Foi o escritor Lewis Carroll (1832-1898) quem,


na Literatura Moderna, explorou de forma genial as Alice Lidell
http://www.answers.com/topic/alice-liddell-
possibilidades de fusão entre o maravilhoso e o co- -large-image
tidiano ao mesmo tempo em que usava o non-sen-
se, o sem sentido, a graça e o ludismo. Incluem-se
nessa linha, também, Collodi com a obra Pinocchio Em Alice no País das Maravilhas, ao correr
e J. M. Barrie com Peter Pan. atrás de um coelho, que, apressado, consultava
um relógio que tirava do colete, Alice acaba caindo
Lewis Carroll, cujo nome verdadeiro era Char-
em um poço profundíssimo. Chegando ao fim do
les Lutwidge Dodgson, é o grande nome das narra-
poço, Alice encontra um lugar onde tudo aconte-
tivas do Realismo Maravilhoso ou Mágico.
cia ao contrário do natural ou convencional. Acaba
Contemporâneo de Júlio Verne, filho de um
vivendo situações engraçadas e absurdas.
pastor anglicano, Carroll escreveu sua grande obra
Nessa obra, Carroll faz uma desestruturação
Alice no país das maravilhas, em 1862, durante um
da linguagem que os leitores não ingleses não
passeio de barco pelo rio Tâmisa, quando passeava

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conseguem apreciar. Ele usa expressões idiomáti- Por esses trocadilhos, verificamos o grau de
cas, canções de ninar, cantigas folclóricas, poemas ludismo da obra. Além dessa subversão linguísti-
escolares, palavras paronímicas, jogos de palavras, ca, Carroll põe em relevo a relatividade das coisas,
enfim, palavras que provocam surpresa e diversão. quando apresenta o problema do tamanho, por
Citaremos alguns exemplos: a Tartaruga, em vez de exemplo. Alice às vezes fica tão pequena, que não
dizer: consegue pegar uma chave que está em cima de
uma mesinha. Às vezes, tão grande, que não con-
Reading = aprendia a ler, dizia reeling = aprendia segue sair pela porta da casa.
a cambalear.

O mesmo acontecia com os vocábulos:

Writing = escrever por writhing = torcer.


Drawing = desenhar por drawling = balbuciar.

2.4 Novelística de Aventuras

Alexandre Dumas (1803-1870) Júlio Verne (1828-1905)

www.portalsaofrancisco.com.br.

Considerado o pai da ficção científica. Suas


narrativas são o modelo de aventura que mescla-
vam as conquistas da ciência e da técnica com a
imaginação criadora. O escritor francês possuía um
extraordinário conhecimento de geografia, geolo-
http://ossembiblioteca.wordpress. gia, astronomia, química, física etc., dando sempre
com/tag/alexandre-dumas/ apoio científico a suas invenções. Obra: Viagem ao
centro da Terra, Da Terra à Lua, Vinte Mil Léguas Sub-
Novelista francês considerado um dos mais marinas, A volta ao Mundo em Oitenta Dias e outros.
lidos e traduzidos no mundo. Escreveu, entre ou-
tras: Os Três Mosqueteiros, O Conde de Monte Cristo,
A Rainha Margot.

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Robert Louis Stevenson (1850-1883) Edgard Rice Burroughs (1875-1950)

Novelista e poeta inglês, autor de A Ilha do Te- Novelista norte-americano. Autor de Tarzã
souro e O Estranho Caso do Dr. Jekill e Mr. Hyde. dos Macacos, A Volta de Tarzã, As Feras de Tarzã, O
Filho de Tarzã e outros.
Rudyard Kipling (1865-1936)

Novelista e poeta anglo-indiano. Escreveu: O


Livro da Jângal, Mowgli, o Menino Lobo e Kim.

2.5 Narrativas do Realismo Humanitário

Charles Dickens (1812-1870) escrever as estórias que lhes contava em dias de


chuva. Mandou-as para a Inglaterra e logo foram
publicadas, conseguindo enorme sucesso. Escre-
veu: Novos Contos de Fadas, As Meninas Exemplares,
As Férias, Memórias de um Burro, Os desastres de So-
fia e O Anjo da Guarda.

Edmundo de Amicis (1846-1908)

Amicis escreveu Coração com o objetivo de


oferecer um novo livro para as crianças italianas.
www.pt.wikipedia.org. Foi um sucesso imediato. Foram feitas novas edi-
ções e traduções, tornando-se um escritor conhe-
cido e respeitado. A estrutura narrativa de Coração
Um dos maiores romancistas, não só da In- é como um diário que o menino Enrico, de 13 anos,
glaterra, mas da Literatura Universal. Dickens de- vai escrevendo, a cada dia, comentando as expe-
monstrava enorme simpatia aos pobres, aos hu- riências de sua vida escolar, as qualidades e defei-
mildes e, principalmente, às crianças exploradas. tos de seus colegas de turma e de outras pessoas
Um dos motivos de sua obra é a criança infeliz. Esse com quem convivia. Entre as virtudes estão: a ge-
problema está em suas obras: Aventuras de Oliver nerosidade, o heroísmo, a inteligência a serviço da
Twist e Davis Coperfield. bondade, a força de vontade e outras. Como defei-
tos, ele cita: a inveja, a mentira, a dissimulação, a
Condessa de Ségur (1799-1874) desonestidade e outras. O livro Coração começou
a ser lido, no Brasil, nos fins do século XIX e conti-
nuou como sucesso até meados do século XX.
Na linha humanitária, destaca-se a obra da
Condessa de Ségur, russa por nascimento, france-
sa por matrimônio, viveu entre um pai autoritário e
uma mãe inflexível em suas virtudes e severidade.
Tornou-se escritora tarde, já avó; quando suas ne-
tas queridas se mudaram para Londres, ela resolve
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2.6 Resumo do Capítulo

A Literatura escrita para crianças surgiu na França, no século XVII, durante o reinado de Luís XIV, o
Rei Sol, com a obra Aventuras de Telêmaco, de Fénelon. Ao mesmo tempo, surgem também La Fontaine,
Charles Perrault e Mme. D´Aulnoy.
No século XVIII, na Inglaterra, surgem duas obras de ficção que, desde o primeiro momento, foram
sucesso absoluto: Robinson Crusoé de Daniel Defoe e As Viagens de Gulliver de Jonathan Swift.
No século XIX, na Alemanha, Jacob e Wilhelm Grimm publicam a obra Contos de fadas para crianças
e adultos.
Na Dinamarca, Hans Christian Andersen escreve: O Patinho Feio, O Soldadinho de Chumbo e outros.
Foi o escritor Lewis Carroll quem, na Literatura Moderna, explorou de forma genial as possibilida-
des de fusão entre o maravilhoso e o cotidiano com a obra Alice no País das Maravilhas. Incluem-se nessa
linha, também, Collodi com a obra Pinocchio e J. M. Barrie com Peter Pan.
Entre as estórias de aventuras surgem: Alexandre Dumas; Júlio Verne considerado o pai da ficção
científica; Robert Louis Stevenson, autor de A Ilha do Tesouro; Rudyard Kipling, que nos deixou Mowgli, o
Menino Lobo; e Edgard Rice Burroughs, novelista norte-americano autor de A Volta de Tarzã, As Feras de
Tarzã e outros.
Nas Narrativas do Realismo Humanitário, surgem: Charles Dickens com as obras Aventuras de Oli-
ver Twist e Davis Coperfield; Condessa de Ségur com Novos Contos de Fadas; e Edmundo de Amicis com a
obra Coração.
Após todas as informações deste capítulo, estou segura de que você está preparado(a) para verifi-
carmos a sua aprendizagem. Então, ao trabalho!

2.7 Atividades Propostas

1. Q
ual o escritor que, na Literatura Moderna, explorou de forma genial a fusão entre o Maravilho-
so e o Cotidiano? Cite duas obras do referido autor.

2. Como você poderia resumir a estória de Robinson Crusoé?

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PRECURSORES DA LITERATURA
3 INFANTIL NO BRASIL

Caro(a) aluno(a), 1. Nacionalismo: ênfase na língua falada


Neste capítulo, trataremos dos primeiros es- no Brasil. Culto das origens, amor pela
critores que se preocuparam com uma literatura terra;
direcionada ao público infantil. Para começarmos, 2. Intelectualismo: valorização do estudo,
veja o que a professora Nelly nos diz sobre isso. do livro, do saber;
As obras pioneiras, analisadas, em conjunto, 3. Tradicionalismo cultural: valorização
adaptações, traduções ou originais, revelam, se- das grandes obras do passado, como
gundo Nelly Novaes Coelho (1987), a natureza da modelo de cultura;
educação recebida pelos brasileiros, desde os mea- 4. Moralismo e Religiosidade: valoriza-
dos do século XIX. Esta era orientada para conso- ção da retidão de caráter, honestidade,
lidar um sistema herdado: uma mistura de feuda- solidariedade, fraternidade, pureza de
lismo, aristocratismo, escravagismo, liberalismo e corpo e alma, dentro dos preceitos cris-
positivismo. Os pilares desse sistema seriam: tãos.

3.1 Livros e Autores

ƒƒ O Livro do Povo – 1861 – Antônio Mar- ƒƒ O Tico-Tico – 1905 – Histórias em Qua-


ques Rodrigues. drinhos.
ƒƒ O Método de Abílio – 1868 – Abílio Cé- ƒƒ Era uma vez – 1908 – Cazuza – 1938 –
sar Borges. Viriato Correia.
ƒƒ O Amiguinho Nhonhô – 1882 – Mene- ƒƒ Através do Brasil – 1910 – Olavo Bilac e
ses Vieira. Manuel Bonfim.
ƒƒ Contos Infantis – 1886 – Júlia Lopes de ƒƒ Saudade – 1919 – Tales de Andrade.
Almeida.
ƒƒ Cartilha das Mães – 1895 – Arnaldo de
Oliveira Barreto.
ƒƒ Antologia Nacional – 1895 – Fausto Bar-
reto e Carlos de Laet.
ƒƒ Contos da Carochinha – 1896 – Figuei-
redo Pimentel.
ƒƒ Livro das Crianças – 1897 – Zalina Rolim.
ƒƒ O Livro da Infância – 1899 – Francisca
Júlia.

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3.2 Brasil Século XX: Monteiro Lobato, o Inovador

Obras de Monteiro Lobato

Para adultos:

Urupês (1918), Idéias de Jeca Tatu e Cidades


Mortas (1919), Negrinha (1920), Mundo da Lua e
O Macaco que se fez Homem (1923), O Choque das
Raças ou O Presidente Negro (1926), Ferro (1931) e
Escândalo do Petróleo (1936).

Para crianças:

http://jeffcelophane.wordpress.com/ A Menina do Narizinho Arrebitado e O Saci


tag/monteiro-lobato/ (1921); Fábulas e O Marquês de Rabicó (1922); A Ca-
çada da Onça (1924); A Cara da Coruja, Aventuras
do Príncipe, Noivado de Narizinho e O Circo de Ca-
Parafraseando Laura Sandroni (1987), José valinho (1927); A Pena de Papagaio, O Pó de Pirlim-
Bento Monteiro Lobato, 1882-1948, inaugura, em
pimpim (1930), Viagem ao Céu (1932); As Caçadas
1921, com a obra A Menina do Narizinho Arrebitado,
de Pedrinho e Emília no País da Gramática (1933);
a fase literária da produção brasileira destinada às
Geografia de Dona Benta (1935); Memórias de Emília
crianças e aos jovens. Sua obra foi um “divisor de
águas entre o Brasil de ontem e o Brasil de hoje” (1936); O Poço do Visconde (1937); O Picapau Ama-
(COELHO, 1987, p. 185). Isso porque houve um sal- relo (1939); e A Chave do Tamanho (1942).
to qualitativo, em relação aos autores que o prece-
deram. Os temas, contemporâneos ou históricos,
eram colocados de modo a serem compreendidos
pelas crianças, usando uma linguagem original e
criativa, buscando o coloquial brasileiro, anteci-
pando o Modernismo Brasileiro. Ele acreditava que
só as crianças poderiam modificar o mundo. Por
isso, trata em sua obra temas sérios e complexos,
considerados, até aquela época, impróprias para
criança como: política, guerra, ciência e petróleo.

Atenção

Monteiro Lobato representou um salto de qua-


lidade na produção da literatura infantojuvenil
no Brasil. Ele foi inovador, pois tratava de temas
sérios e complexos com uma linguagem própria http://nesteinstante.com/tag/livros/
para a criança!

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Literatura Infantojuvenil

Nessas aventuras, há situações, personagens ƒƒ ADAPTAÇÕES: Dom Quixote para Crian-


e celebridades que nasceram da invenção de Lo- ças, O Minotauro, O Touro de Creta, A Hi-
bato, que se misturam com outras tantas tiradas dra de Lerna e muitos outros.
das lendas, do folclore, dos mitos. Desse modo, ƒƒ TRADUÇÕES: Alice no País das Maravilhas
Chapeuzinho Vermelho, Hércules, o Saci e a Cuca de Lewis Carroll, Pinóquio de Collodi, No-
conversam com Dona Benta, Tia Nastácia, Emília, vos Contos de Andersen, Tarzã no Centro
Pedrinho, Rabicó e Visconde de Sabugosa. da Terra de E. R. Burroughs e tantos ou-
Monteiro Lobato fez adaptações e traduções. tros.
A saber:

3.3 Dos Anos 1930 a 1990

ANOS 30 – Entre os escritores para crianças Ziraldo


ou jovens e que hoje apresentam uma produção
integrada ao acervo literário brasileiro, citamos:
Baltazar Godói Moreira, Cecília Meireles, Érico Ve-
ríssimo, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Mal-
ba Tahan, Orígenes Lessa, Viriato Correia e Vicente
Guimarães (Vovô Felício).
ANOS 40 – Citamos: Edy Lima, Francisco Ma-
rins, Lúcia Machado de Almeida, Odette de Barros
Mott e Virgínia Lefévre.

Os Anos 1950 a 1990

Citamos: Leonardo Arroyo, Maria José Dupré,


Terezinha Casasanta, Clarice Lispector, José Mauro
de Vasconcelos, Maria Dinorah, Stella Carr, Antonie-
ta Dias, Ary Quintella, Bartolomeu Campos Quei- http://ziraldoael.blogspot.com.br/
rós, Elias José, Ganymedes José, Giselda Laporta
Nicolelis, Ignácio Loyola Brandão, Joel Rufino dos
Santos, João Carlos Marinho, Lúcia Góes, Lygia Bo- Ziraldo Alves Pinto nasceu em 1932, é brasi-
junga Nunes, Ruth Rocha, Sérgio Caparelli, Ziraldo, leiro, cartunista, chargista, pintor, dramaturgo, cari-
Ângela Lago, Antônio Hohlfeldt, Eva Furnari, Luís caturista, escritor, cronista, desenhista e jornalista.
Galdino, Marina Colasanti, Sylvia Orthoff, Ricardo É o criador de personagens famosos, como o Meni-
Azevedo, Manoel de Barros e outros. no Maluquinho. Escreveu também: O Menino do Rio
Doce, A Supermãe, Flicts, Turma do Pererê, O Menino
Maluquinho, O Bichinho da Maçã, O Joelho Juvenal,
Uma Professora Muito Maluquinha e outros.

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3.4 Teatro Infantojuvenil

No tema teatro infantojuvenil brasileiro, te- Belink na TV, como por exemplo, Sítio do Pica-pau
mos: Maria Clara Machado, Stella Leonardos, Ma- Amarelo.
ria Lúcia Amaral, Guilherme Figueiredo e Tatiana

3.5 Tendências da Literatura Infantil Atual

Segundo Coelho (1987), a atual produção da ƒƒ Personagens animais, como os das fábu-
Literatura destinada a crianças e jovens apresenta las;
três tendências: a realista, a fantasista e a híbrida. ƒƒ Ficção científica;
ƒƒ Espaço do maravilhoso, do “Era uma
a. A Literatura Realista pretende expressar vez...”, onde o inverossímil torna-se
o Real, com os objetivos seguintes: verossímil.
ƒƒ Apresentar o mundo cotidiano, con- c. A Literatura Híbrida, partindo do Real,
creto, familiar e atual; introduz o Imaginário ou a Fantasia, anu-
ƒƒ Informar sobre costumes, hábitos ou lando as fronteiras entre um e outro. É o
tradições populares das diversas re- chamado Realismo Mágico, tão comum
giões do Brasil; na Literatura Contemporânea, uma linha
ƒƒ Despertar a curiosidade e a argúcia iniciada por Monteiro Lobato e que os
do leitor, propondo enigmas e/ou novos escritores inovam de forma ines-
mistérios; perada.
ƒƒ Preparar psicologicamente os peque-
nos leitores para os problemas que
poderão, um dia, enfrentar. São livros
Saiba mais
que tratam sobre:
•• Separação de casais; A professora Nelly Coelho (1987, p. 220) nos deixa o
•• Drogas; seguinte ensinamento: “Para um livro ser considerado
•• Injustiças sociais; renovador ou atualizado, literariamente, não basta que
utilize em sua efabulação, temas e ou problemas vitais
•• Racismo; desta sociedade em transformação. É preciso mais:
•• Crianças abandonadas. que tal contexto ideológico se transforme em ARTE.”
(grifo nosso).

b. A Literatura Fantasista apresenta o mun-


do maravilhoso, criado pela imaginação.
Nesse caso, as narrativas apresentam o
lúdico ou o jogo sobre as experiências
da vida real. Os escritores escolhem so-
luções diferenciadas:

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Literatura Infantojuvenil

3.6 Resumo do Capítulo

As obras pioneiras da Literatura Infantojuvenil, no Brasil (analisadas, em conjunto, adaptações, tra-


duções ou originais), revelam a natureza da educação recebida pelos brasileiros, desde meados do século
XIX. Esta era orientada para consolidar um sistema herdado: uma mistura de feudalismo, aristocratismo,
escravagismo, liberalismo e positivismo.
Nessa época, surgem alguns autores e obras como: O Método Abílio, de Abílio César Borges, Contos
Infantis de Júlia Lopes de Almeida e Cazuza, de Viriato Correia.
No século XX, José Bento Monteiro Lobato inaugura, em 1921, com a obra A Menina do Narizinho
Arrebitado, a fase literária da produção brasileira destinada a crianças e jovens. Escreveu Urupês, O Macaco
que se fez Homem, A Menina do Narizinho Arrebitado, O Saci, Fábulas, O Marquês de Rabicó e muitas outras.
Entre os anos 1930 e 1940 tivemos vários escritores, como: Baltazar Godói Moreira, Cecília Meireles,
Érico Veríssimo, Malba Tahan, Orígenes Lessa, Viriato Correia, Edy Lima, Francisco Marins, Lúcia Machado
de Almeida e outros.
Nos anos de 1950 a 1990, citamos: Leonardo Arroyo, Maria Dinorah, Stella Carr, Antonieta Dias,
Bartolomeu Campos Queirós, Elias José, Ganymedes José, Giselda Laporta Nicolelis, Lúcia Góes, Lygia
Bojunga Nunes, Ruth Rocha, Sérgio Caparelli, Ziraldo, Antônio Hohlfeldt, Eva Furnari, Marina Colasanti,
Ricardo Azevedo, Manoel de Barros e outros.
Você testará agora os conhecimentos adquiridos neste capítulo. Se precisar, releia-o com atenção
antes de responder às questões. Preparado(a)?

3.7 Atividades Propostas

1. Qual o autor considerado um divisor de águas na Literatura Infantojuvenil no Brasil?

2. Quais as obras e autores pioneiros da Literatura Infantojuvenil no Brasil?

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O PAPEL DA LITERATURA
4 INFANTOJUVENIL

A Literatura, e em especial a Infantil, tem uma tarefa fundamental a cumprir,


nesta sociedade-em-transformação, seja no espontâneo convívio leitor/livro, seja
no ‘diálogo’ leitor/texto, estimulado pela Escola. [...] A verdadeira evolução de um
povo se faz ao nível da mente, ao nível da consciência-de-mundo que cada um vai
assimilando desde a infância. [...] O caminho essencial para se chegar a esse nível é
a Palavra. Ou melhor, a Literatura, – verdadeiro microcosmo da vida real, transfigu-
rada em arte. (COELHO, 1987, p. 2).

No texto acima, vimos que a Literatura Infan- a. Da Literatura (como leitor atento).
tojuvenil tem papel preponderante no desenvolvi-
b. Da Realidade Social que a cerca.
mento da nossa “sociedade em transformação”. Te-
mos que vê-la como uma abertura para a formação c. Da Docência (como profissional competen-
de uma nova mentalidade. E, se considerarmos a te).
Literatura Infantil como agente formador, conclui-
remos que o Professor precisa estar sintonizado, A autora citada afirma, na epígrafe, que, para
plugado (usando um vocábulo nascido junto ao alcançarmos a evolução de um povo, o caminho é
computador), com as transformações do momen- a PALAVRA, ou melhor, A LITERATURA – microcos-
to presente, reorganizando seus conhecimentos, mo da vida real, transformada em arte.
reciclando sua “consciência de mundo” e focalizan- Então, vimos que a PALAVRA transformada
do três direções principais, segundo Nelly Novaes em ARTE = LITERATURA.
Coelho (1987, p. 4):

4.1 O que é Arte?

Pintura, Arquitetura, Escultura, Dança, Teatro, escapa à percepção comum, o mundo dos valores
Música, Literatura são diferentes manifestações de ocultos, onde pressentimos as respostas para as in-
ARTE. Elas são unidas por um ponto em comum: a dagações essenciais que tomam conta do homem,
própria essência da ARTE, ou seja, a possibilidade quando este toma consciência de ser um EU situa-
que o artista tem de recriar a realidade, tornando- do num Universo incompreensível.
-se um criador de mundos, de sonhos, de verda- Cada ARTE tem sua matéria-prima. Por exem-
des. plo, a matéria-prima da música são os sons e o rit-
A ARTE é, portanto, a maneira como o artis- mo. Da pintura são as cores e formas. Da escultura
ta recria a realidade, de acordo com suas vivên- são as formas em pedra, mármore, ferro ou bronze,
cias, suas leituras de mundo, seus sentimentos e sob três dimensões: comprimento, altura e largura.
suas emoções. Parafraseando Nelly Novaes Coelho Da dança são os movimentos. Da arquitetura é o
(1985), a ARTE é o fenômeno que revela o mundo espaço. E a matéria-prima da LITERATURA é a PA-
à Humanidade. É como uma ponte ligando a reali- LAVRA.
dade que nos rodeia e o mundo do indizível, que
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linguagem carregada de significado até


Atenção o máximo grau possível. Começo com a
POESIA, que é a mais condensada forma
Literatura é a arte da palavra. de expressão verbal. (POUND, 2001, p. 40).

O escritor ou poeta, entretanto, quando tra-


balha a palavra, edificando sua obra de arte, tem
Entretanto, não basta fazer uso da palavra
uma função social definida proporcional à sua
para produzir LITERATURA. O escritor ou poeta tem
competência, mostrando sua ideologia, sua postu-
que trabalhar a palavra. Lembremos que a função
ra diante da realidade e dos sonhos do homem.
poética da linguagem acontece, quando a intenção
do EMISSOR está voltada para a MENSAGEM, quer Coutinho (1978) afirma que a Literatura,
na seleção e combinação dos vocábulos, quer na como toda Arte, é uma transfiguração do real. O ar-
estrutura da mensagem, quer do seu significado. tista, usando sua alma, seus sentimentos, sua visão
O escritor ou poeta procura uma expressão formal: de mundo, recria a realidade que é transformada
o ritmo, o estilo, a forma, as figuras de linguagem em palavras, em gêneros e formas, com os quais
que possam oferecer ao leitor um prazer estético. toma corpo e nova realidade, isto é, passa a ter vida
autônoma, independente do autor e da realidade
Ezra Pound, poeta americano, disse:
de onde proveio.
LITERATURA é a linguagem carregada
de significado. GRANDE LITERATURA é a

4.2 O Lúdico na Literatura Infantojuvenil

Segundo Johan Huizinga (1996), a espécie Huizinga (1996) considera “jogo” toda e qual-
humana, há anos, recebeu a designação de Homo quer atividade humana, e que este está presente
sapiens – o homem que pensa, que raciocina, que em tudo o que acontece no mundo. Vai mais além,
faz uso da lógica, que tem sabedoria. O tempo dizendo, ainda, que a civilização surgiu e se desen-
passou e veio nova designação: Homo faber – o volveu graças ao jogo.
homem que fabrica, que constrói, que faz. Porém, O jogo é fato mais antigo que a cultura. Esta
existe outra definição mais atual para o ser huma- requer sempre um grupo social. Os animais prece-
no: Homo ludens – o homem que gosta de brincar, deram ao homem na arte do jogo. Leõezinhos, ca-
que ama o jogo. chorrinhos, ursinhos, quando bebês, brincam tam-
bém; reúnem-se para brincar, respeitando regras,
como, por exemplo, de não morderem os irmãozi-
Dicionário nhos com violência. Além disso, sentem prazer na
brincadeira.
Homo ludens: homem que gosta de brincar

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Literatura Infantojuvenil

é porque são alguma coisa mais do que


Saiba mais simples seres mecânicos. Se brincamos e
jogamos, e temos consciência disso, é por-
Funções biológicas do jogo: que somos mais do que simples racionais,
pois o jogo é irracional. (HUIZINGA, 1996,
1. Descarga da energia vital; p. 6).
2. instinto de imitação;
3. Necessidade de distensão; As grandes atividades arquetípicas da socie-
4. Autocontrole indispensável ao in- dade humana, como a linguagem e os mitos, des-
divíduo;
de o início, são marcadas pelo jogo.
5. Desejo de dominar ou competir;
6. Escape para inpulsos prejudiciais; A linguagem, instrumento que o homem
7. Restaurador de energia gasta por criou para se comunicar, também serve para no-
uma atividade unilateral; mear as coisas da natureza, designá-las, e esse
8. Realização do desejo. processo é um jogo, uma brincadeira. É como se o
espírito saltasse entre a matéria e a palavra pensa-
da. E a criança, como um ser primitivo, usa no seu
Essas definições, porém, não respondem a nomear muitas metáforas, como, por exemplo, ao
estas perguntas: o que há de divertido no jogo? Por olhar para uma flor azul, exclama: borboleta!
que o bebê ri quando brinca? Que tipo de paixão é
esta que leva multidões para assistir a um jogo de A criança fala por metáfora sem o saber,
não tendo consciência de que está crian-
futebol?
do um mito naquilo que diz, porque, o
Análises biológicas não explicam a intensida- mito, não expresso, está em si mesmo. Sua
de, o poder de fascinação, a tensão, nem a alegria e realidade é a ordem criada por ela incons-
nem o divertimento que o jogo causa ao homem. cientemente. (MANTOVANNI, 1973 apud
WORNICOV et al., 1986, p. 28).

Mas reconhecer o jogo é, forçosamente, re-


conhecer o espírito, pois o jogo, seja qual O mito é uma transformação do mundo ex-
for sua essência, não é material. Ultrapas- terior, através da imaginação. É um processo mais
sa, mesmo no mundo animal, os limites da complexo e elaborado da mente, se compararmos
realidade física. [...] A própria existência do
com a linguagem. O homem primitivo, através dos
jogo é uma confirmação permanente da
natureza supralógica da situação huma- mitos, procura explicar os fenômenos da natureza
na. Se os animais são capazes de brincar, atribuindo-lhes um fundamento divino.

4.3 Resumo do Capítulo

A Literatura Infantojuvenil tem papel preponderante no desenvolvimento da nossa “sociedade em


transformação”. Temos que vê-la como uma abertura para a formação de uma nova mentalidade. E, se
considerarmos a Literatura Infantil como agente formador, concluiremos que o Professor precisa estar
sintonizado, plugado (usando um vocábulo nascido junto ao computador), com as transformações do
momento presente, reorganizando seus conhecimentos, reciclando sua “consciência de mundo”. Para al-
cançarmos a evolução de um povo, o caminho é a PALAVRA, ou melhor, A LITERATURA – microcosmo da
vida real, transformada em arte.
A ARTE é a maneira como o artista recria a realidade, de acordo com suas vivências, suas leituras
de mundo, seus sentimentos e suas emoções. Cada ARTE tem sua matéria-prima. E, a matéria-prima da
LITERATURA é a PALAVRA.
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Entretanto, não basta fazer uso da palavra para produzir LITERATURA. O escritor ou poeta tem que
trabalhar a palavra.
Segundo Johan Huizinga (1996), a espécie humana, há anos, recebeu a designação de Homo sa-
piens – o homem que pensa. Depois, Homo faber – o homem que fabrica. Porém, existe outra definição
mais atual para o ser humano: Homo ludens – o homem que gosta de brincar, que ama o jogo.
O jogo é fato mais antigo que a cultura. As grandes atividades arquetípicas da sociedade humana,
como a linguagem e os mitos, desde o início, são marcadas pelo jogo. A linguagem, instrumento que o
homem criou para se comunicar, também serve para nomear as coisas da natureza, designá-las, e esse
processo é um jogo, uma brincadeira.
Vamos ver o que você aprendeu neste capítulo?

4.4 Atividades Propostas

1. Qual o papel preponderante da Literatura Infantojuvenil?

2. Qual a posição do professor, em relação à Literatura Infantojuvenil, como agente transforma-


dor?

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5 A CRIANÇA E A POESIA

A linguagem poético-musical, de natureza Um dos nossos objetivos, neste Curso de Li-


popular, exerce grande atração sobre a criança, teratura Infantil, é tornar o texto poético tão fácil e
como, por exemplo, as Cantigas de Roda, as Parlen- fascinante quanto o é o narrativo.
das, as Canções de Ninar. Isso acontece porque, se- Segundo Wornicov et al. (1986), para conser-
gundo Coelho (1987), a estrutura simples asseme- var e alimentar na criança a capacidade de assom-
lha-se às primeiras manifestações da poesia entre brar-se, de perceber e redescobrir a essência e o
os povos primitivos. Tanto os primitivos quanto as sentido da vida, o professor deverá escolher poe-
crianças e o povo amam a SONORIDADE e o RITMO mas endereçados à criança, que tenham recursos
das palavras. É um exercício lúdico que se estabele- apreciados por elas, tais como: rima, aliteração, as-
ce entre eles e as palavras. A criança, que é o nosso sonância, onomatopeia, anagrama, paronomásia,
foco, adora poemas com fórmulas verbais sonora, trava-língua, coincidências sonoras, alternâncias
repetitivas, assim como, refrões, aliterações, parale- vocálicas, estribilhos, refrões, jogos de palavras,
lismo, rimas finais ou internas. Tudo isso atua sobre unindo o lúdico sonoro e semântico a temas e ima-
seus sentidos, suas emoções. gens de seu mundo real.
Porém, o texto poético é pouco usado na O poema escolhido deve ter Harmonia, se
Escola. Isso porque é mais difícil trabalhar o texto aproximar do canto, através da sonoridade e ritmo.
poético que o narrativo. O poético tem sempre Deve ser curto e de fácil compreensão.
mais recursos estilísticos que a prosa.

5.1 Como Escolher o Poema

O professor deverá iniciar com um texto Análise


poético bem simples. Exemplo: uma quadrinha
popular: ƒƒ Estrofe: O poema é formado por uma es-
trofe de 4 versos. Portanto, é uma quadra
ou um quarteto.
Cajueiro ƒƒ Métrica: Vamos, agora, ver a métrica, ou
seja, quantas sílabas poéticas cada verso
Cajueiro pequenino, tem.
Carregadinho de flor.
Eu também sou pequenino,
Carregadinho de amor. Ca – ju – ei – ro – pe – que – ni – no,
1 2 3 4 5 6 7

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Ca – rre – ga – di – nho – de – flor. ƒƒ Repetição de Palavras: pequenino


1 2 3 4 5 6 7 (duas vezes) e carregadinho (duas vezes).
ƒƒ Rima: repetição de som no final do verso.
Eu – tam – bém – sou – pe – que – ni – no, ƒƒ Rima Externa: pequenino com pe-
1 2 3 4 5 6 7 quenino; flor com amor; repetição de
som no meio do poema;
ƒƒ Rima Interna: carregadinho com car-
Ca – rre – ga – di – nho – de + a – mor.
regadinho.
1 2 3 4 5 6 7
Depois de ter analisado o poema, o professor
Vimos que todos os versos têm sete sílabas, e fará exercícios com os alunos. O professor escreve
que contamos até a última sílaba tônica, a mais for- ou fala uma palavra e pede aos alunos para procu-
te: ni – flor – ni – mor. Os versos de 7 sílabas são cha- rarem palavras que rimem com ela.
mados de redondilha maior. Outra coisa: quando há
um encontro de vogais entre uma palavra e outra, Exemplo 1: avião – caminhão, limão, mamão,
como é o caso da 6ª sílaba do último verso, unimos botão etc.
as vogais e contamos só uma sílaba: (de + a). Exemplo 2: comer – beber, escrever, ler etc.
Exemplo 3: sabiá – sofá, lá etc.

5.2 Poemas e Poetas Brasileiros

Cecília Meireles (1904-1964) Obra: Ou Isto ou Aquilo (1964)

Ou Isto ou Aquilo foi o primeiro livro de poe-


mas infantis publicado pela autora. Resultou em
uma obra-prima de poesia, sensibilidade e ludis-
mo. Escolhendo um fragmento da vida, coisas sim-
ples do mundo, do cotidiano da criança, Cecília
Meireles brinca com letras, sons, palavras, mesclan-
do arte e humanismo.

http://www.meirelescecilia.blogspot.
com.br/

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Literatura Infantojuvenil

ƒƒ Aliteração: quando a repetição for


O Passarinho no Sapé
de consoantes, dizemos que houve
Aliteração da consoante Tal. Houve
O P tem papo 4 aliteração das seguintes consoantes:
O P tem pé. 4
É o P que pia? 4 (P) apareceu 33 vezes
(Piu!) 1 (S)17 vezes

Quem é? 2 ƒƒ Assonância: quando a repetição for


de vogais. No poema Passarinho no
O P não pia 4 Sapé, Cecília Meireles usou esses re-
O P não é. 4
O P só tem papo 5 cursos lúdico-estilísticos várias vezes.
Houve a repetição das seguintes vo-
E pé. 2
gais:
Será o sapo? 4 (É) 10 vezes
O sapo não é. 5
(A) 17 vezes
(Piu!) 1
(IA) 2 vezes
Fonte: Meireles (1990, p. 58). (IU) 5 vezes
(IO) 2 vezes
ƒƒ Rima:
Análise
ƒƒ Rimas Externas:
Papo / papo / sapo / papo
ƒƒ Estrofe: O poema é composto por 6 es-
Pé / é / é / pé / é / sapé / pé / sapé
trofes de: 3, 5, 2, 3, 4 e 2 versos, sendo que
Pia/pia
a 1ª, a 2ª, a 3ª e a 4ª estrofes são separa-
das pela palavra: Piu! Piu / piu/ piu/ piu /piu
Passarinho / ninho / passarinho / pas-
ƒƒ Métrica: A métrica é variada. Cecília Mei-
sarinho
reles pertence ao Modernismo Brasileiro,
onde a liberdade impera. Por isso, não há Enfim, todos os versos têm rima.
preocupação em manter o mesmo nú- ƒƒ Rimas Internas: a letra P.
mero de sílabas poéticas, como vimos na A autora, como foi professora primá-
Quadrinha Popular. Temos, portanto: 3, 4, ria e alfabetizadora, encontrou uma
4, 1, 2, 4, 4, 5, 2, 4, 5, 1, 4, 4, 3, 3, 3, 3, 3, 3, 3 maneira poética e lúdica de estudar
sílabas poéticas. a letra P, que, na realidade, sua forma
ƒƒ Repetição de Palavras: Houve repetição tem papo e pé. Além disso, trabalhou
de várias palavras: também as vogais e os encontros vo-
cálicos, formando a família do P: pa,
passarinho: 4 vezes
pe, pé, pi, po, pó, pu e pia, pio e piu.
sapé: 3 vezes
ƒƒ Onomatopeia: Além da ALITERAÇÃO
papo: 3vezes
e ASSONÂNCIA, é muito comum, em
pé: 3 vezes
poemas infantis, a presença da ONOMA-
pia: 2 vezes
TOPEIA, que é uma figura de som ou de
pio: 2 vezes harmonia, também, como as anteriores.
piu: 5 vezes Consiste na repetição de sons, tais como:
sapo: 2 vezes miau, au-au, tchibum, plim-plim, atchim
ƒƒ Repetição de Letras: A repetição de LE- etc. No poema que analisamos, há o som
TRAS pode acontecer de duas maneiras: do passarinho: piu-piu, portanto uma
de consoantes ou de vogais. onomatopeia.

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Vinícius de Moraes (1913-1980)


Colar de Carolina

Com seu colar de coral,


Carolina
Corre por entre as colunas
Da colina.

O calor de Carolina
Colore o colo de cal,
Torna corada a menina.

E o sol, vendo aquela cor


Do colar de Carolina,
Põe coroas de coral

Nas colunas da colina.

Fonte: Meireles (1990, p. 9). http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/files/2010/07/


vinicius-11.jpg

Análise Vinícius de Moraes, poeta do Modernismo


Brasileiro, famoso pelos poemas de amor, cantados
ƒƒ Estrofe: 4 estrofes com 4, 3, 3, 1 versos. por todo o Brasil, publicou também, em 1970, um
ƒƒ Métrica: com 7 sílabas (redondilha livro de poemas infantis: A ARCA DE NOÉ. Vamos
maior), exceto o 2º e o 4º versos. analisar dois poemas desse autor.

ƒƒ Aliteração: /C/; /L/; /R/; /N/.


ƒƒ Assonância: /O/; /A/; /E/; /I/. O Peru
ƒƒ Rima: Carolina/colina/Carolina/menina/
O Peru se viu um dia
Carolina/colina/coral/cal/coral Nas águas do ribeirão.
ƒƒ Paronomásia: acontece quando apare- Foi-se olhando foi dizendo
cem palavras com mesmo Som ou Grafia. Que beleza de pavão!
Exemplo: colar (subst.) – enfeite que se
Glu! Glu! Glu!
coloca no pescoço; colar (verbo) – infini-
Abram alas pro Peru!
tivo do verbo colar, grudar.
ƒƒ Anagrama: transposição de letras. Por Fonte: Moraes (1986, p. 53).
exemplo, as letras que formam a palavra
C-O-L-A-R aparecem, em outra ordem, Análise
formando a palavra C-O-R-A-L. Dentro
da palavra C-A-R-O-L-I-N-A, estão as le- ƒƒ Estrofe: O poema é formado por duas
tras das palavras CORAL, COLAR, COLI- estrofes – uma de 4 versos, uma quadra,
NA, CAL, COR e CALOR, formando vários portanto, e uma de dois versos: um dís-
ANAGRAMAS. tico.
ƒƒ Métrica: Os versos da 1ª estrofe têm to-
dos 7 sílabas poéticas (redondilha maior).
Os dois versos do dístico têm, respectiva-
mente, 3 e 7 sílabas poéticas.

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ƒƒ Repetição de Palavras: Peru: 3 vezes. Manuel Bandeira (1886-1968)


Glu: 3 vezes.
ƒƒ Rima:
ƒƒ Rimas externas (no final do verso): ri-
beirão/pavão; Glu/Peru.
ƒƒ Rimas internas: Peru (no início) e Peru
(no final).
ƒƒ Onomatopeia: Glu! Glu! Glu!

São Francisco
(fragmento)
http://carthacultural.blogspot.com.br/2009/06/ma-
Lá vai São Francisco nuel-bandeira.html
Pelo caminho
De pé descalço Manuel Bandeira, que participou da Semana
Tão pobrezinho de Arte Moderna, em 1922, em São Paulo, inaugu-
Dormindo à noite
rando o Movimento Modernista no Brasil, escreveu
Junto ao moinho
Bebendo a água um poema denominado TREM DE FERRO, inicial-
Do ribeirinho. mente, para adultos. Porém, pela sonoridade e rit-
[...] mo, despertou o interesse das crianças.
Lá vai São Francisco
Pelo caminho
Trem de Ferro
Levando ao colo
(Fragmento)
Jesuscristinho
Fazendo festa Café com pão 3
No menininho Café com pão 3
Café com pão 3
Contando histórias Virge Maria que foi isto maquinista? 11
Pros passarinhos. Agora sim 4
Café com pão 4
Agora sim 4
Fonte: Moraes (1986, p. 17). Voa, fumaça 4
Corre, cerca 3
Ai seu foguista 4
Bota fogo 3
Análise Na fornalha 3
Que eu preciso 3
Muita força 3
ƒƒ Estrofe: No fragmento, temos duas es- Muita força 3
Muita força 3
trofes de 8 versos, duas oitavas, portanto.
Oô... 1
ƒƒ Métrica: No primeiro verso de cada es- Foge, bicho 3
trofe, Lá vai São Francisco, há 5 sílabas Foge povo 3
Passa ponte 3
poéticas e as demais, todas têm 4. Passa poste 3
Passa pasto 3
ƒƒ Repetição: As duas estrofes começam da Passa boi 3
mesma maneira: Lá vai São Francisco. Há, Passa boiada 4
Passa galho 3
nesse caso, um paralelismo. De ingazeira 4
Debruçada 3
ƒƒ Rima: Rimas externas: na 1ª estrofe: ca- No riacho 3
minho / pobrezinho / moinho / ribeiri- Que vontade 3
De cantar! 3
nho; na segunda estrofe: caminho / Je- [...]
suscristinho / menininho / passarinhos. Fonte: Bandeira (1961, p. 104).
O autor usa muitos diminutivos, traço de
afetividade.
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Análise Manoel de Barros

ƒƒ Estrofe: No fragmento, há três estrofes


com 4, 12 e 14 versos.
ƒƒ Métrica: A métrica varia entre 3 e 4 sí-
labas poéticas. Apenas um verso com
11. 
Repetição de Expressões:
Café com pão – 4 vezes
Agora sim – 2 vezes
Muita força – 3 vezes
ƒƒ Repetição de Palavras:
Foge – 2 vezes
Passa – 6 vezes
ƒƒ Aliterações:
(c) 10 vezes
(p) 16 vezes http://sociopoetasvivos.blogspot.com.br/2011/12/manoel-de-
-barros-95-anos.html
(f) 14 vezes
(ss, ç, s com som de ss) 15 vezes
Manoel de Barros nasceu em Cuiabá, Mato
ƒƒ Assonância: Grosso, em 1916. Cresceu no Pantanal, entre bichos
Repetição de Vogais e/ou Encontros do chão, pessoas humildes, aves, água, muita água.
Vocálicos Nasalizados Escreveu vários livros de poemas. Recentemente,
(ão) 4 vezes vários desses poemas foram reunidos e oferecidos
(om, on) 5 vezes para as crianças: Cantigas por um passarinho à toa,
2003, ilustrações de Martha Barros, filha do autor;
(in) 5 vezes
Exercícios de ser criança, 2003, desenhos de Demós-
Além dessas, houve a repetição de tenes e bordados de Antônia Zulma Diniz, Ângela,
todas as vogais, especialmente (é, a, Marilu, Martha e Sávia Dumont; O fazedor de ama-
i, o). nhecer, 2001, com ilustrações de Ziraldo; Poemi-
ƒƒ Onomatopeia: É interessante nesse nhas pescados numa fala de João, 2001, imagens de
poema as onomatopeias, porque as ex- Ana Raquel.
pressões usadas, em cada verso, espe- Analisaremos alguns poemas dos livros men-
cialmente: café com pão, muita força, cionados. O primeiro está em Cantigas por um pas-
foge, bicho, passa ponte e todas as com sarinho à toa.
o verbo passar, imitam o som do trem,
das rodas nos trilhos e o ritmo em que os
sons acontecem. A velocidade está pre- Texto 1
sente, na brevidade de cada verso. É tudo
rápido, no verso, no ritmo e nas palavras: Eu queria aprender
O idioma das árvores.
passa ponte, passa poste, passa boi, passa
Saber canções do vento
boiada etc. Na realidade, para quem está Nas folhas da tarde.
dentro do trem, não é o trem que passa e Eu queria apalpar os perfumes do sol.
sim as coisas vistas pela janela.
Fonte: Barros (2003, p. 14).

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Literatura Infantojuvenil

No Universo de Manoel de Barros, as árvores


falam, têm sua linguagem. Não como a dos ho- Texto 2
mens, mas têm. Quando cortamos um dos seus ga-
lhos, ela silencia, fica muda. Mas, depois de algumas A noite caiu da árvore.
semanas, joga seus brotos, suas folhas, bem verdes Maria pegou ela pra criar
E ficou preta...
e fortes. Ela disse aos homens: minhas folhas e ga-
Vi um rio indo embora de andorinhas...
lhos novos são minha resposta. Essa é minha men-
sagem. O vento, também tem sua linguagem, sabe Fonte: Barros (2001, p. 20).
cantar nas folhas da tarde. E o eu lírico, no final do
poema, afirma querer “apalpar” os perfumes do sol.
As crianças, mesmo sem saber nada sobre
Vimos que, tanto no poema 1 quanto no 2,
sinestesia, falam assim. A sinestesia é uma figura
Manoel de Barros, poeta moderno contemporâ-
de linguagem que usa expressões, mesclando ca-
neo, não está preocupado nem com rimas, nem
racterísticas de vários sentidos. No caso do último
com métrica. Sua característica principal é o sur-
verso “apalpar” (tato) os perfumes (olfato) do sol
realismo.
(visão).
O segundo poema é da obra Poeminhas pes-
cados numa fala de João.

Texto 3

Mundo renovado

Nos pátios amanhecidos de chuva, sobre excrementos meio derretidos, a surpresa dos cogu-
melos!
Na beira dos ranchos, nos canteiros da horta, no meio das árvores do pomar, seus branquíssi-
mos corpos sem raízes se multiplicam.
O mundo foi renovado, durante a noite, com as chuvas.
[...]
Incrível a alegria do capim. E a bagunça dos periquitos! Há um eferver de insetos por baixo da
casca úmida das mangueiras.
[...]
Alegria é de manhã ter chovido de noite! As chuvas encharcaram tudo.
Fonte: Barros (1985, p. 29).

A poesia de Manoel de Barros é onírica,


onde moram o fantástico e o imaginário,
rica em humor e non-sense. O lúdico sem-
pre presente, como nesta imagem da noite
caindo da árvore e o non-sense, nos versos
‘Maria pegou ela pra criar / e ficou preta’.
Pegar a noite para criar é um absurdo para
o mundo da lógica, mas não para o artista
pantaneiro. (REINER, 2007, p. 68).

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5.3 Resumo do Capítulo

A linguagem poético-musical, de natureza popular, exerce grande atração sobre a criança, como
por exemplo, as Cantigas de Roda, as Parlendas, as Canções de Ninar. Isso acontece porque a estrutura
simples assemelha-se às primeiras manifestações da poesia entre os povos primitivos. Tanto os primitivos
quanto as crianças e o povo amam a SONORIDADE e o RITMO das palavras. É um exercício lúdico que se
estabelece entre eles e as palavras. A criança, que é o nosso foco, adora poemas com fórmulas verbais
sonora, repetitivas, assim como, refrões, aliterações, paralelismo, rimas finais ou internas. Tudo isso atua
sobre seus sentidos, suas emoções.
Depois de você ter conhecido tantos autores, está pronto(a) para verificar sua aprendizagem?

5.4 Atividades Propostas

1. Por que a linguagem poético-musical exerce atração sobre a criança?

2. No que consiste a figura de linguagem chamada Onomatopeia, tão apreciada pelas crianças?

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6 PROSA

6.1 Elementos Estruturais da Narrativa

A Literatura é a Arte da Palavra, como vimos 1. O narrador em 3ª pessoa, observador,


anteriormente. A invenção do artista, do escritor, objetivo que conta a estória porque os
transformada em palavras é o que chamamos de presenciou de fora. Exemplo: “Era uma
matéria literária, segundo Coelho (1987). São vá- vez um rei que tinha três filhas. Um dia...”
rias as operações que vão desde o início, com as Esse narrador pode ser onisciente, isto
ideias germinativas, até a elaboração da obra, seja é, sabe tudo, tudo, tudo, até os que as
um poema, uma narrativa ou uma peça teatral, personagens pensam. E pode ser tam-
onde o autor usa recursos estruturais ou estilísti- bém parcialmente ciente, isto é, com
cos, enfim, os processos de composição. No capítu- foco de consciência parcial. Não sabe
lo anterior, falamos sobre a Poesia. Neste capítulo, tudo. Exemplo: Quando o narrador não
focalizaremos a narrativa. conta os detalhes de um determinado
O Gênero Narrativo pode assumir três formas mistério do conto, deixando isso para os
distintas: conto, novela ou romance. No Curso de leitores, provocando muita curiosidade.
Literatura Infantil, daremos preferência ao conto. 2. O narrador em 1ª pessoa, subjetivo, par-
Toda narrativa tem uma estrutura com os se- ticipante da estória, narrador- persona-
guintes elementos: gem. É o foco privilegiado para narrativas
confessionais ou de grandes conflitos
ƒƒ Narrador: a voz que fala, contando a es- psicológicos. Exemplo: no romance de
tória; José Lins do Rego, Menino de engenho,
(1957, p. 33), o narrador inicia assim: “Eu
ƒƒ Personagens: os que vivem a ação;
tinha uns quatro anos no dia em que mi-
ƒƒ Espaço: ambiente, local, paisagem onde nha mãe morreu. Dormia no meu quar-
se desenrola a ação; to, quando pela manhã me acordei com
ƒƒ Tempo: período de duração do aconteci- um enorme barulho na casa. Eram gritos
mento narrado; e gente correndo para todos os cantos.”
ƒƒ Leitor ou Ouvinte: o provável destinatá-
rio, visado pela comunicação.
Atenção

Narrador O narrador em 1ª pessoa pode, às vezes, ser ob-


jetivo. Participa dos acontecimentos, porém sua
postura é de distanciamento, não se envolvendo
A voz que fala pode ser de dois tipos: emocionalmente.

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Personagens ção do leitor, mas as efabulações fragmentadas


demais, muito comum na literatura moderna, não
No conto há poucas personagens. Exemplo: são aconselhadas, pois a mente da criança ainda
no conto Chapeuzinho Vermelho, de Grimm, há a é imatura intelectualmente, sendo difícil para ela
menina, a avó e o lobo. A mãe pouco aparece. Na apreender sequências que fogem da lógica e da
novela e no romance há muitas personagens. linearidade.

Espaço Enredo

O espaço no conto é pequeno. No caso do É a estória, o acontecimento que está sendo


conto citado anteriormente, o espaço é uma parte narrado.
da floresta e a casa da avó. No romance e na novela,
o espaço é variado, podendo ser uma cidade, várias Leitor ou ouvinte
cidades e países.
Todo texto, oral ou escrito, pressupõe um
Tempo leitor e/ou ouvinte. Na Literatura Popular e na In-
fantil, o apelo ao leitor/ouvinte é muito frequente
O tempo no conto tem pouca duração: uma e vem da Antiguidade. Essa preocupação do autor
tarde, um dia, um mês. No romance e na novela dá origem a vários recursos estilísticos: invocação,
pode durar muitos meses e a até anos. Nas estó- sugestão, fala imperativa e outros. Atualmente, es-
rias infantis é melhor usar o tempo linear: começo, ses recursos tendem para a descontração e fami-
meio e fim. As estórias em flash-back, isto é, que liaridade, de igual para igual, e não de autoridade,
utilizam o retrospecto, também prendem a aten- como antigamente.

6.2 Espécies Narrativas

As espécies narrativas são: vem de longe, de muito longe. Temos registros do


Oriente, há também Esopo, na Grécia, depois, Fe-
ƒƒ a Fábula; dro, em Roma, e, finalmente, Jean de La Fontaine,
ƒƒ o Apólogo; na França.

ƒƒ o Mito; Inspirado pela natureza simbólica das FÁBU-


LAS, La Fontaine reescreveu-as com a finalidade de
ƒƒ a Lenda;
educar os homens através dos animais. Os animais
ƒƒ o Conto Maravilhoso; são colocados numa situação humana exemplar,
ƒƒ o Conto Maravilhoso de Fadas. tornando-se assim um símbolo: a formiga – repre-
senta o trabalho; o leão – a força; a raposa – a astú-
cia; e o lobo – o poder do mais forte. Como exem-
A fábula
plo, apresentaremos uma FÁBULA de La Fontaine,
reescrita por Monteiro Lobato.
A Fábula é uma narrativa onde animais dia-
logam e há, no final, uma lição de moral. A FÁBULA

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Literatura Infantojuvenil

O Lobo e o Cordeiro

Estava o cordeiro a beber água num córrego, quando apareceu um lobo esfaimado, de
horrendo aspecto.
-Que desaforo é esse de turvar a água que venho beber? – disse o monstro arreganhando
os dentes. Espere, que vou castigar tamanha má-criação!...
O cordeirinho, trêmulo de medo, respondeu com inocência:
-Como posso turvar a água que o senhor vem beber, se ela corre do senhor para mim?
Era verdade aquilo e o lobo atrapalhou-se com a resposta. Mas não deu o rabo a torcer.
-Além disso – inventou ele – sei que você andou falando mal de mim o ano passado.
- Como poderia falar mal do senhor o ano passado, se nasci este ano?
Novamente confundido pela voz da inocência, o lobo insistiu:
-Se não foi você, foi seu irmão mais velho, o que dá no mesmo.
-Como poderia ser meu irmão mais velho, se sou filho único?
O lobo, furioso, vendo que com razões claras não vencia o pobrezinho, veio com uma razão
de lobo faminto:
-Pois se não foi seu irmão, foi seu pai ou seu avô!
-E – nhoque – sangrou-o no pescoço.

O apólogo
Saiba mais
Apólogo é uma narrativa, em prosa ou ver-
A dramatização é um excelente recurso na educação so, que encerra uma lição de moral, geralmente
da criança e do jovem. Proponha uma dramatização
da estória O Lobo e o Cordeiro, em sala de aula, usando
com diálogos, entre seres inanimados. Machado
recursos simples, como: bichinhos, cenário com ma- de Assis escreveu um Apólogo (publicado no
teriais diversos, como: tecido, papel, botões, papelão, livro de contos Várias Histórias, de domínio pú-
máscaras e outros. blico) onde conversam a agulha e a linha. Resu-
midamente e parafraseando Machado de Assis, a
estória é a seguinte:

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:


-Por que você está com esse ar insuportável, toda enrolada, fingindo que vale muita coisa neste mundo?
-Deixe-me, senhora.
-Ora, ora. Falarei sempre que me der na cabeça.
-Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete. É agulha. E agulha não tem cabeça.
-Mas você é orgulhosa.
-Claro que sou. Sou eu que coso os vestidos e enfeites de nossa ama, disse a linha.
-Você?! Esta é boa! Quem os cose sou eu.
-Você fura o pano, nada mais. Eu é que coso. Prendo um pedaço ao outro.
-Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou puxando por você, que vem atrás, me obedecendo.
Eu que mando.
-Os batedores também vão adiante do imperador.
-Por acaso, você é imperador?
-Não, não sou. Mas você tem um papel subalterno. Só mostra o caminho. Eu que prendo, que ligo, ajun-
to...
Estavam nessa conversa, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Pegou o pano, enfiou a linha
na agulha e começou a costurar a bela seda. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo tecido, entre os
dedos ágeis da costureira.
-Então, senhora linha, não percebe que a costureira só se importa comigo? Eu vou aqui, furando abaixo
e acima...

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A linha nada respondeu. Continuou silenciosa e ativa. A agulha, vendo seu silêncio, calou-se também. A
costureira acabou o trabalho, dobrou o vestido e foi-se.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira ainda deu uma ajeitada aqui, outra lá, até que
chegou a hora de ir para o baile.
-E agora, perguntou a linha, quem é que vai para o baile, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem
é que vai dançar com ministros e diplomatas? E, me diga, quem é que vai ficar em casa, dentro da caixi-
nha?
A agulha não respondeu. Mas, um alfinete que, de cabeça grande e não de menor experiência, murmu-
rou à pobre agulha:
-Anda, aprende, tola! Você se cansa em abrir caminhos para os outros e no final, fica aí, sozinha, dentro da
caixinha! Faça como eu: não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta estória a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
-Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária.

Querido(a) aluno(a), é muito importante con- deuses, dos fenômenos da natureza. “O pensamen-
versar com os seus alunos sobre a problemática da to mítico nasceu como uma das primeiras manifes-
estória: é melhor abrir caminhos para os outros, tações daquilo que seria mais tarde o pensamento
sendo útil e solidário, mesmo que apareçam linhas religioso. Isto é, a consciência do homem de um
ordinárias, do que ser pessoas irresponsáveis e Princípio Superior Absoluto, que o explica e o justi-
más. A solidariedade é a melhor solução para resol- fica.” (COELHO, 1987, p. 118).
ver problemas.
Como exemplo, contaremos o mito de NI-
NHURSAGA e EA, resumidamente, segundo Reiner
O mito (2000):

Os mitos estão ligados a fenômenos inaugu-


rais, que tentam explicar a origem do mundo, dos

No vale do Tigre e do Eufrates, aparece o culto à deusa Terra, personificando o poder gerador de toda
a natureza. Ninhursaga, a Deusa-Mãe-Terra, a Senhora Montanha, era considerada como uma divinda-
de viva, criadora dos aluviões nos pântanos e das terras que eram inundadas pelas cheias dos rios. A
origem da vegetação é explicada, num antigo mito sumério, pela união de Ninhursaga e Ea, o deus
das águas. Ea era considerado, também, como deus da sabedoria e da magia, em virtude do sábio
movimento das águas, caindo do céu em forma de chuva, deslizando mansamente em forma de rio,
infiltrando-se e desaparecendo no subsolo ou refletindo os raios solares nas gotículas de orvalho. Além
de sua importância vital na formação da vegetação, era adorado também, porque suas águas serviam
como meio de comunicação e transporte. TERRA e ÁGUA casando-se, formariam o lodo fértil, de onde
surgiria o verde luxuriante.

Saiba mais

Ninhursaga, a Deusa Terra Mãe, aparece sob o nome


de Inanna entre os sumérios, Ishtar, entre os assírios,
Géia, a Mãe Terra, entre os gregos, Ísis, entre os egíp-
cios, e Deméter entre os romanos.

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A lenda Gruber (1994) apresenta várias narrativas dos


índios Ticuna, da Região Norte do Brasil. Entre tan-
A lenda é uma forma de narrativa muito an- tas, há uma lenda sobre a Ngewane, a árvore dos
tiga, transmitida oralmente de pais para filhos. Era peixes. Essa árvore vive nos igarapés, nos igapós e
muito usada nas igrejas onde eram contadas len- à beira dos lagos. É muito amada pelos índios, por-
das sobre os santos. É sempre ligada a um espaço que onde há uma Ngewane, nunca falta alimento.
geográfico e determinado tempo. Temos, entre Resumidamente, segundo Gruber (1994) e
os indígenas brasileiros, várias lendas, como, por uma adaptação de Reiner (2000), a estória é a se-
exemplo, uma que conta sobre a origem do guara- guinte:
ná, outra sobre a origem da vitória-régia etc.
As lendas podem ser religiosas, históricas
(por exemplo, a lenda sobre a fundação de Roma),
sobre o sobrenatural e sobre a origem de plantas.

Ngewane é uma árvore encantada. Existe desde o começo do mundo. Parece a samaumeira de tão
grande. Tem leite como a sorva e o tururi. Adora água. Nasce e cresce nas cabeceiras dos igarapés, nos
igapós e à beira dos lagos.
Quando chega o tempo certo, depois das chuvas e ventos, as folhas da árvore caem. No seu tronco
aparecem pequenos ovos, assim como ovas de rã. Os dias passam e os ovos se transformam em la-
gartas, que sobem árvore acima, caminham pelos galhos até alcançarem as folhinhas novas que estão
nascendo. E vão comendo as folhinhas e crescendo, comendo e crescendo, comendo e crescendo.
Três meses passam e nuvens escuras aparecem no céu. Começa a chover e vem a tempestade. Raios
e trovões assustam as lagartas, que descem pelo tronco da árvore e vão se esconder em suas raízes.
Suas cascas ficam soltas, parecendo algodão sobre as sapopemas, raízes aéreas da árvore Ngewane.
A chuva vai chovendo, chovendo, aumentando e aumentando. As águas do igarapé começam a subir
e as lagartas saem transformadas em peixes, grandes e pequenos: matrinxã, jaraqui, curimatã, jeju,
pirapitinga, piabinha, piranha, tambaqui, samoatá, piau, jundiá, acari, pirarucu, sardinha, surubim, tu-
cunaré, jacundá, mandi, aruanã.
Os peixes, já ovados, se espalham pelas águas e vão para os igarapés, lagos e igapós. Uma parte deles,
subindo o rio vai subindo em piracema para desovar na sua cabeceira.
Os peixes da árvore Ngewane servem para alimentar as pessoas. Além dos peixes, no Ngewane se
criam outros animais, como jabuti, jacaré, tracajá, veado, queixada, tamanduá, tatu, anta, capivara,
cobra, cutia e ainda todas as aves.
A Ngewane existe para os peixes e outros animais se multiplicarem e povoarem a terra. Com ela o
alimento nunca falta.

Conforme você pôde perceber, essa lenda


é interessante para que possamos refletir sobre o
Desmatamento no Brasil e os efeitos catastróficos
para os animais que moram nos troncos, galhos, ni-
nhos e, embaixo, à sombra das árvores. São muitas
as espécies vegetais e animais em extinção.

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O conto maravilhoso A forma do conto maravilhoso segue o tipo


das narrativas orientais como as que estão em As
“O maravilhoso foi a fonte misteriosa e pri- mil e uma noites. Nessas narrativas, o homem está
vilegiada de onde nasceu a Literatura”, usando as sempre procurando soluções para sair da pobreza,
palavras de Nelly Novaes Coelho (1987). ganhar mais riqueza, matar a fome ou procurando
o poder. Sempre uma busca voltada para fora, para
Desse maravilhoso, nasceram personagens
o exterior.
com poderes sobrenaturais que, deslocando-se,
contrariando as leis da gravidade, sofriam meta- Como exemplo, citaremos a estória que to-
morfoses contínuas, defrontando-se com as forças dos conhecem: Aladim e a Lâmpada Maravilhosa.
do Bem e do Mal. Em castelos, bosques encanta- Resumindo, o conto é o seguinte:
dos, grutas e casebres, reis, rainhas, princesas, fe-
lizes ou infelizes, bons ou maus iam vivendo as
aventuras onde tudo podia acontecer. Até voar em
tapete voador.

Aladim era um menino pobre que morava em Bagdá. Sua mãe vivia trabalhando, em casa, sempre
preocupada com seu filho, que era muito travesso.
Um dia, Aladim resolve sair de casa, em busca de trabalho. Depois de muitas aventuras, encontra
uma lâmpada. Ao esfregá-la para lhe dar brilho, eis que, dentro dela sai um gênio enorme, feio e
carrancudo. No início, Aladim ficou com medo e fez tudo que o gênio lhe pedira. Porém, agindo com
astúcia, consegue aprisionar o gênio dentro da lâmpada, novamente, ficando com todos os poderes
sobre ele. Com isso, enriquece, compra um palácio e vive feliz com sua mãe.

Conto maravilhoso de fadas A FADA simboliza a possibilidade de realiza-


ção dos sonhos, dos desejos. As FADAS são as me-
O Conto de Fadas é de natureza espiritual, diadoras e os talismãs, as varinhas mágicas são os
existencial, sempre voltado para dentro, para os objetos mágicos para a realização dos sonhos. E,
processos psíquicos envolvidos nos problemas de contra tudo isso, estão os opositores: bruxas, feiti-
relacionamento homem/mulher; pai/filha; mãe/fi- ceiros, gigantes, dragões etc.
lho; irmão/irmão; ou da inveja, do ciúme etc. Os contos de fadas são muito importantes
Nasceu entre os celtas, com heróis e heroínas, para a criança e para o jovem. São estórias que fa-
vivendo aventuras ligadas ao sobrenatural, ao mis- vorecem o desenvolvimento de sua personalidade,
tério do “além vida”. Visavam realização interior do atingindo independência psicológica e maturida-
ser humano, com a presença da FADA. O vocábulo de moral. Carl Jung, Bruno Bettelheim e Marie Loui-
FADA vem do latim fatum = destino. se Von Franz estudaram muito os contos de fadas.

Saiba mais
Bruno Bettelheim escreveu um livro muito importante sobre os contos de fadas: Psicanálise dos
contos de fadas.
Para ele, no conto Rapunzel, a feiticeira trancou Rapunzel na torre, quando esta atingiu a idade de
doze anos. Sua estória é, de certa forma, a de uma garota pré-púbere e de uma mãe ciumenta que
tenta impedi-la de ganhar independência. Um problema adolescente típico, que encontra solução
feliz quando a jovem se une ao príncipe.

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Você sabia que Bruno Bettelheim nasceu na de que é preciso vencer obstáculos para conquistar
Áustria, em 1903, e morreu nos Estados Unidos, em a vitória.
1990? Para ele, os contos de fadas ajudam a criança Há um conto interessante, Bicho de Palha, re-
a encontrar o significado para a vida. Além disso, gistrado por Luís da Câmara Cascudo (1984) entre
auxilia na construção da maturidade psicológica e os contos tradicionais do Brasil. É a estória onde
da conquista da afirmação do mundo. Desenvolve duas estórias se encontram: Bicho de Palha (onde
o imaginário. há um amor incestuoso entre pai e filha) e A Gata
As fadas, as bruxas, os animais que falam e os Borralheira ou Cinderela, recontada por Perrault,
heróis vão ao encontro dos interesses e dos anseios por Grimm e outros.
da criança, ajudando-a nas soluções de problemas Parafraseando Cascudo (1984) e resumindo,
de autoestima. a estória é a seguinte:
Como os contos de fadas tratam de proble-
mas humanos universais, enviam-nos mensagens

Bicho de Palha

Contam que um homem rico, ficando viúvo, casou-se novamente, quando sua filha Maria, já mocinha,
provocava elogios por ser muito linda. A madrasta, ao vê-la, antipatizou-se com a jovem. A situação pio-
rou para Maria, quando a madrasta teve uma filha, relativamente feia, comparada com Maria.
O pai era rico, com várias propriedades, estando a maior parte do tempo viajando. Nos momentos de
ausência do pai, Maria era obrigada a fazer os serviços mais pesados da casa. A vida ficou insuportável
para a moça que vivia chorando e rezando. No caminho do rio onde ia lavar roupa, encontrava-se com
uma Velhinha de feições serenas e muito boa. Maria contou-lhe seus sofrimentos e o silêncio que guar-
dava para não magoar o pai.
A madrasta foi se tornando cada vez mais cruel. Maria resolveu um dia abandonar a casa e procurar
trabalho bem longe dali. Encontrou-se com a boa Velhinha, contou-lhe sua ideia. A Velhinha concordou,
deu-lhe conselhos, abençoou-a e, na despedida, tirou uma varinha, pequenina e branca como prata e
disse-lhe:
– Quando você estiver em perigo, em sofrimento ou desejar alguma coisa diga: “minha varinha de con-
dão, pelo condão que Deus te deu, dai-me”. Tudo acontecerá conforme o seu desejo.
Maria agradeceu muito e fugiu. Conforme os conselhos recebidos da Velhinha, Maria fez uma capa de
palha trançada, com um capuz, deixando abertura para os olhos e meteu-se dentro.
Depois de muito andar, chegou a um palácio e lá arranjou trabalho para lavar as salas, corredores, es-
cadas e limpar os aposentos da criadagem. Maria aceitou e começou a ser chamada de Bicho de Palha.
Suja, silenciosa, trabalhava, sem incomodar ninguém. Todos a respeitavam.
No Palácio moravam a rainha e um príncipe jovem, bonito, elegante, em idade de se casar. Na sala, o
príncipe, moças amigas e a rainha conversavam animadamente sobre as festas que, em outro Palácio,
não muito distante dali, aconteceriam e que durariam três dias.
Chegou a noite do primeiro baile. O príncipe, ansioso pela festa, aprontava-se. De repente disse:
– Bicho de Palha, traga-me uma bacia com água! A moça saiu correndo e logo, em seguida, voltava
com a bacia e água. O príncipe lavou o rosto e saiu. Bicho de Palha, olhou o príncipe e ficou apaixonada.
Correu para seu quarto, tirou a roupa de palha, pegou a varinha e disse:
– Minha varinha de condão! Pelo condão que Deus te deu, dai-me uma carruagem de prata e um ves-
tido com flores do campo.
Nem bem acabou de pronunciar aquelas palavras, lá estavam a carruagem de prata, com cocheiros e
servos e um vestido maravilhoso com flores do campo, diadema e sapatinhos.
Bicho de Palha vestiu-se, entrou na carruagem e foi para o baile, onde causou sensação. O príncipe viu-a,
encantou-se e dançou a noite só com ela. À meia noite, saiu correndo, entrou na carruagem e desapa-
receu, deixando o príncipe desolado.

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Na segunda noite, aconteceu a mesma coisa e Bicho de Palha foi para o baile numa carruagem de
ouro, com um vestido da cor do mar com todos os peixinhos, diadema e sapatinhos. O príncipe, ao
vê-la, tirou para dançar e juntos ficaram a noite toda. À meia noite, Bicho de Palha, saiu correndo,
desaparecendo, deixando o príncipe mais apaixonado e desesperado.
Na terceira noite, graças à varinha de condão, Bicho de Palha foi ao baile numa carruagem de dia-
mantes e um vestido da cor do céu com todas as estrelas, diadema e sapatinhos. O príncipe nunca
vira moça mais esplendorosa! Correu para recebê-la e dançaram a noite toda. À meia noite, Bicho
de Palha saiu correndo, entrou na carruagem e partiu. O príncipe havia pedido aos seus servos que
cavassem um buraco bem grande para obrigar a carruagem parar. Mas não foi o que aconteceu. A
carruagem pulou o buraco e sumiu. Porém, com o solavanco, o sapatinho foi atirado para fora, sendo
recolhido por um dos servos e entregue ao príncipe.
No dia seguinte, o príncipe e seus servos foram procurar a jovem dona do sapatinho. Procuraram,
procuraram e nada. Todas as casas, os dois Palácios tinham sido vasculhados. Até que alguém lem-
brou-se de Bicho de Palha e, rindo muito, mandaram chama-la. Esta, usando sua varinha, apareceu
vestida com o mesmo vestido da última noite e calçando um só sapatinho. Todos muito surpresos,
viram entrar em seu pezinho, o outro sapatinho. O príncipe abraçou-a, chamando sua mãe para co-
nhecer a futura nora. Assim casaram-se e foram muito felizes.

Esquema do conto Bicho de Palha ƒƒ A presença do destino: há coisas que


parecem determinadas a que ninguém
ƒƒ Heroína: Bicho de Palha. pode escapar. Essa fatalidade pode apre-
ƒƒ Antagonista: a madrasta. sentar forma de bruxa, feiticeira etc.

ƒƒ Fada: velhinha bondosa. ƒƒ Mistério: há sempre um mistério a ser


desvendado, decifrado ou vencido pelo
ƒƒ Objeto Mágico: varinha de condão.
herói.
ƒƒ Herói: o príncipe.
ƒƒ Reiteração dos números: a repetição
ƒƒ Conflito: sofrimento e disfarces de Bicho dos números 3 e 7. Estão ligados à sim-
de Palha. bologia esotérica que influenciou as Reli-
ƒƒ Solução: descoberta do sapatinho. giões e Filosofias antigas.

As constantes dos contos maravilhosos Nos contos maravilhosos de fadas, encontra-


mos diversos tipos de fadas: moça jovem e linda,
ƒƒ Presença da metamorfose: príncipe velhinha bondosa, Nossa Senhora e outras. Como
que se transforma em rã, peixe, pássaro... antagonistas, encontramos: madrasta, bruxa, feiti-
ƒƒ Uso de talismãs: luz azul, três gotas de ceira, dragão e outros. Os objetos mágicos variam
sangue no lenço, vara de condão... também: varinha, anel, lenço ou pedra.

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6.3 Resumo do Capítulo

O Gênero Narrativo pode assumir três formas distintas: conto, novela ou romance. No Curso de
Literatura Infantil, daremos preferência ao conto.
Toda narrativa tem uma estrutura com os seguintes elementos:

ƒƒ Narrador: a voz que fala, contando a estória;


ƒƒ Personagens: os que vivem a ação;
ƒƒ Espaço: ambiente, local, paisagem onde se desenrola a ação;
ƒƒ Tempo: período de duração do acontecimento narrado;
ƒƒ Leitor ou Ouvinte: o provável destinatário, visado pela comunicação.

Em nosso curso, falamos sobre algumas espécies de narrativa: a Fábula, o Apólogo, o Mito, a Lenda,
o Conto Maravilhoso e o Conto Maravilhoso de Fadas.
Após todas as informações deste capítulo, estou segura de que você está preparado(a) para verifi-
carmos a sua aprendizagem. Então, ao trabalho!

6.4 Atividades Propostas

1. Quais são as características do conto maravilhoso?

2. Quais são as constantes dos contos maravilhosos?

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RESPOSTAS COMENTADAS DAS
ATIVIDADES PROPOSTAS

Caro(a) aluno(a),
Ao final de cada capítulo, esperamos que você tenha respondido às atividades propostas como
segue:

Capítulo 1

s fontes mais antigas da Literatura Infantojuvenil são as indianas e árabes, como as obras Ca-
1. A
lila e Dimna, escrita em sânscrito, e As Mil e Uma Noites, escrita em árabe.

2. A Literatura Infantojuvenil, destinada especialmente a crianças, começou nos fins do século


XVII, quando François de Sagnac Fénelon publicou Traité de l’éducation des filles, oferecido às
oito filhas do Duque de Beauvillier, na França.

Capítulo 2

1. A
tenção: Foi o escritor Lewis Carroll quem, na Literatura Moderna, explorou de forma genial as
possibilidades de fusão entre o maravilhoso e o cotidiano, ao mesmo tempo que usava o non-
-sense, o sem sentido, a graça e o ludismo. O autor escreveu Alice no País das Maravilhas e Alice
no País do Espelho.

2. Confirme: Robinson Crusoé, depois de naufragar e instalar-se em uma ilha deserta, conta a
estória do homem: a luta pela sobrevivência, o início da civilização, quando o homem fixou-se
em um determinado lugar e começou a plantar e criar animais, provando o valor das forças
intrínsecas do indivíduo.

Capítulo 3

1. Olhe bem: Com a obra A Menina do Narizinho Arrebitado, José Bento Monteiro Lobato inaugura,
em 1921, a fase literária da produção brasileira destinada a crianças e jovens. Sua obra foi um
“divisor de águas entre o Brasil de ontem e o Brasil de hoje”, porque houve um salto qualitati-
vo em relação aos autores que o precederam. Os temas, contemporâneos ou históricos, eram
colocados de modo a serem compreendidos pelas crianças, usando uma linguagem original e
criativa, buscando o coloquial brasileiro, antecipando o Modernismo Brasileiro.

tenção: As obras e autores pioneiros da Literatura Infantojuvenil, no Brasil, são: O Método Abí-
2. A
lio de Abílio César Borges, Contos Infantis de Júlia Lopes de Almeida e Cazuza de Viriato Correia.

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Capítulo 4

1. V
eja se acertou: O papel preponderante da Literatura Infantojuvenil é o desenvolvimento da
nossa sociedade que está sempre em transformação. Temos que vê-la como uma abertura para
a formação de uma nova mentalidade.

2. L embre-se: Considerando a Literatura Infantojuvenil como agente formador, o professor preci-


sa estar sintonizado com as transformações do momento presente, reorganizando seus conhe-
cimentos, reciclando sua consciência de mundo.

Capítulo 5

1. Avalie-se: A linguagem poético-musical, de natureza popular, exerce grande atração sobre a


criança, como, por exemplo, as Cantigas de Roda, porque a estrutura simples assemelha-se às
primeiras manifestações da poesia entre os povos primitivos. Tanto os primitivos quanto as
crianças e o povo amam a sonoridade e o ritmo das palavras.

2. L embre-se: Onomatopeia é uma figura de som ou de harmonia. Consiste na imitação de sons,


tais como: miau, au-au, tchibum, plim-plim, atchim, piu-piu, glu, glu e outros.

Capítulo 6

tenção: O conto maravilhoso segue o tipo das narrativas orientais, como as que estão em As
1. A
Mil e Uma Noites. Nessas narrativas, o homem está sempre procurando soluções para sair da
pobreza, ganhar mais riqueza, matar a fome ou procurando o poder.

2. O
bserve: As constantes dos contos maravilhosos são: presença da metamorfose, de talismãs,
do destino, do mistério, da magia e a reiteração dos números 3 e 7.

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REFERÊNCIAS

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ZILBERMAN, R. A literatura infantil na escola. 7. ed. São Paulo: Global, 1987.

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APÊNDICE

Sugestões de Leitura

Querido(a) aluno(a),

Ler é uma maravilhosa aventura que nos permite viajar, sonhar, imaginar, conhecer lugares, cultu-
ras, personagens, sentimentos e conflitos humanos, enfim, um pouco da própria vida. Por isso, deixo aqui
sugestões de leitura, para que você possa “voar”, conhecer novos horizontes. Você não precisa ler todos
esses livros de uma vez. Não. A lista fica aí, para sua vida toda. Quando quiser ler um livro e não souber
por onde começar, é só olhar as sugestões. São livros importantes da Literatura Brasileira e Universal. Há
várias Editoras, hoje, que estão reeditando estes livros por um preço acessível. Boa leitura!

Literatura brasileira

ƒƒ José de Alencar: Iracema; O guarani; Lucíola; Senhora.


ƒƒ Castro Alves: Espumas flutuantes.
ƒƒ Jorge Amado: Capitães da areia; Terras do Sem-Fim; Gabriela, cravo e canela.
ƒƒ Mário Andrade: Macunaíma; Paulicéia desvairada.
ƒƒ Oswald Andrade: Pau-Brasil (poesia); O rei da vela (teatro); Memórias de João Miramar.
ƒƒ Machado de Assis: Memórias póstumas de Brás Cubas; Dom Casmurro.
ƒƒ Aluísio de Azevedo: O cortiço; O mulato.
ƒƒ Álvares Azevedo: Lira dos vinte anos.
ƒƒ Manuel Bandeira: Poesias completas.
ƒƒ Cruz e Souza: Broquéis; Missal.
ƒƒ Gonçalves Dias: Primeiros cantos; Últimos cantos.
ƒƒ Carlos Drummond de Andrade: Rosa do povo.
ƒƒ Tomás Antônio Gonzaga: Marília de Dirceu.
ƒƒ Clarisse Lispector: A hora da estrela.
ƒƒ Monteiro Lobato: Urupês; Reinações de Narizinho; O Picapau Amarelo.
ƒƒ Cecília Meireles: Ou isto ou aquilo; Romance da Inconfidência; Obra poética.
ƒƒ Guimarães João Rosa: Sagarana; Primeiras estórias; Grande sertão: veredas.
ƒƒ Visconde de Taunay: Inocência.
ƒƒ Lygia Fagundes Telles: Venha ver o pôr-do-sol (contos).
ƒƒ Érico Veríssimo: Olhai os lírios do campo; Clarissa; O tempo e o vento.

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Nery Nice Biancalana Reiner

Literatura universal

ƒƒ Dante Alighieri: A divina comédia.


ƒƒ Hans C. Andersen: Contos.
ƒƒ As mil e uma noites
ƒƒ Charles Baudelaire: As flores do mal.
ƒƒ Jorge Luís Borges: Ficções.
ƒƒ Ítalo Calvino: As cidades invisíveis.
ƒƒ Luís de Camões: Os Lusíadas.
ƒƒ Lewis Carrol: Alice no país das maravilhas; Alice no país do espelho.
ƒƒ M. Cervantes: Dom Quixote de La Mancha.
ƒƒ Daniel Defoe: Robson Crusoé.
ƒƒ EURÍPEDES: Medeia.
ƒƒ Gustave Flaubert: Madame Bovary.
ƒƒ Johan W. V. Goethe: Fausto.
ƒƒ Homero: Odisseia.
ƒƒ Victor Hugo: Os miseráveis.
ƒƒ Aldous Huxley: Admirável mundo novo.
ƒƒ O Mahabharata.
ƒƒ Gabriel García Márquez: Cem anos de solidão; O náufrago.
ƒƒ Herman Melville: Moby Dick.
ƒƒ John Milton: Paraíso perdido.
ƒƒ Ovídio: As Metamorfoses.
ƒƒ Fernando Pessoa: Mensagem.
ƒƒ Edgar Allan Poe: Histórias extraordinárias.
ƒƒ Ezra Pound: Os cantos.
ƒƒ Eça de Queirós. A ilustre casa de Ramires.
ƒƒ William Shakespeare: Hamlet; Otelo; A tempestade; Romeu e Julieta.
ƒƒ Sófocles: Édipo rei.
ƒƒ Jonathan Swift: As viagens de Gulliver.
ƒƒ Virgílio: Eneida.
ƒƒ Oscar Wilde: O retrato de Dorian Gray.

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