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Teoria da personalidade

Uma teoria da personalidade tem por objetivo organizar o conhecimento a respeito da


personalidade de tal maneira que (1) a grande quantidade de informação gerada pela
pesquisa científica seja organizada de maneira sistemática e coerente e (2) novas hipóteses
possam ser geradas para uma futura comprovação.

Diversos autores se dedicaram à pesquisa da personalidade, cada um com ênfases teóricas e


metodológicas diferentes, o que os levou muitas vezes a resultados completamente
distintos. Apesar de todas as diferenças, no entanto, todos os teóricos procuram oferecer
resposta a algumas perguntas básicas:
1. Estrutura da personalidade: Como a personalidade é estruturada e pode ser
estudada? Quais são suas unidades básicas?
2. Processos da personalidade: Quais são e como funcionam os aspectos dinâmicos da
personalidade?
3. Crescimento e desenvolvimento da personalidade: Como a personalidade se
desenvolve para formar a pessoa que somos hoje?
4. Psicopatologia e modificação comportamental: Como as pessoas podem se modificar
e porque algumas pessoas têm mais dificuldades?

Questões centrais de uma teoria da personalidade


Estrutura da personalidade
A expressão "estruturas da personalidade" refere-se àquelas características estáveis da
personalidade. As diferentes teorias da personalidade se diferenciam quanto às estruturas
consideradas como base para o estudo:
1. Traços ou disposições referem-se à consistência das reações de um indivíduo a
diferentes situações. Por exemplo, quando se diz que uma pessoa é "aberta", quer-se
dizer que ela se comporta dessa maneira em diferentes situações. Em geral os traços
psicológicos são vistos como dimensões contínuas, ou seja, todas as pessoas têm
mais ou menos de determinada característica;
2. Tipos psicológicos referem-se a um padrão estável de traços de personalidade. Tipos
psicológicos são considerados mais como categorias do que como dimensões. Por
exemplo os termos "introvertido" e "extrovertido" foram criados por Carl G. Jung
como descrição de dois tipos psicológicos, ou seja, algumas pessoas são
extrovertidas e outras introvertidas. Posteriormente os termos foram tomados por
Hans Eysenk para descrever os dois extremos de uma dimensão, de tal forma que
qualquer pessoa pode ser classificada como mais ou menos extrovertida. O construto
de Eysenk, apesar de baseado em tipos psicológicos de Jung, é na verdade um traço
de personalidade.
3. Outros autores preferem ver personalidade como sistema ou conjunto de sistemas,
ou seja, eles não procuram características isoladas de uma pessoa (abertura,
extroversão) mas procuram observar como tais características, e mesmo a
pertinência a determinado tipo psicológico, são geradas através da interação entre
diferentes processos mentais (emoções, pensamento, cognições etc.). Tais autores,
assim, não vêm "extroversão" como algo que uma pessoa tem ou que uma pessoa é,
mas uma descrição da forma como a pessoa se comporta e é resultado da interação
entre as formas de pensar e sentir do indivíduo.

As diferentes teorias da personalidade não se diferenciam somente quanto às unidades que


tomam como base, mas também quanto à relação que há entre elas. Alguns autores
consideram, por exemplo, que diferentes traços de personalidade se relacionam de maneira
hierárquica. Existem duas formas de relação hierárquica entre duas características: (1)
característica A é um exemplo da característica B (ex. ser "sociável", "conversador" são
exemplos de "extroversão) ou (2) característica A serve a característica B (ex. ser "pontual"
está a serviço (é um caminho para) ser "consciencioso"). Já outros autores como Albert
Bandura consideram que as diferentes estruturas e sistemas da personalidade podem se
influenciar mutuamente sem necessariamente serem organizadas hierarquicamente.
Processos da personalidade
As diversas teorias da personalidade diferenciam-se também quanto à maneira como
explicam a dinâmica da personalidade, ou seja, a motivação e outros aspectos que levam à
ação observável. Algumas teorias, ditas hedonistas, afirmam que o comportamento humano
tem dois objetivos principais: a busca de prazer e evitar sensações desagradáveis. Assim as
necessidades humanas surgem de um aumento da pressão interna (desagradável) que exige
uma solução (ver pulsões) ou ainda da busca de um estado de maior prazer, por exemplo, de
fama, dinheiro, poder, reconhecimento, etc. Outras teorias, pelo contrário, partem do
princípio de que o ser humano busca sobretudo sua autorrealização, ou seja, seu
desenvolvimento pleno enquanto pessoa. Segundo tais teóricos, o desenvolvimento de si-
mesmo possui um valor tão importante para o ser humano, que ele estaria disposto aceitar
uma aumento de tensão e estresse para atingi-lo. Outras teorias dão ainda maior ênfase aos
processos cognitivos, ao esforço do indivíduo de compreender a si mesmo e ao mundo que
o cerca. Para tais autores o maior esforço do ser humano não está tanto direcionado ao
hedonismo ou à autorrealização, mas à busca de consistência interna e compreensão do
mundo. Isso significa aqui, que o ser humano está empenhado a construir (cognitivamente)
uma autoimagem e uma imagem do mundo que o cerca consistentes, mesmo que à custa de
dores e desprazeres.

No correr do desenvolvimento da psicologia da personalidade a pesquisa deu ênfase maior


ora a uma tipo de motivação ora a outro. No entanto a pesquisa recente parece apontar
para um quadro mais complexo, em que os diferentes tipos de motivação desempenham um
papel de importância variada, mas sempre em interação.

Crescimento e desenvolvimento
As diferentes teorias da personalidade se diferenciam também, quanto à maneira com que
explicam crescimento e desenvolvimento e ao valor que dão aos diferentes fatores que
desempenham um papel nesse processo:
1. Fatores genéticos e biológicos
2. Fatores psicológicos - a história pessoal do indivíduo, experiências de vida etc.
3. Fatores ambientais - cultura, classe social, familia, contato com coetâneos, etc.

Psicopatologia e modificação comportamental


As primeiras teorias da personalidade surgiram em um contexto clínico e com um fim muito
prático: oferecer um fundamento teórico para os transtornos mentais e seu tratamento. As
teorias posteriores, mesmo não tendo se originado em um contexto clínico, oferecem
também novas possibilidades para a psicoterapia. A capacidade de determinada teoria de
guiar e enriquecer a prática terapêutica é um dos principais elementos para uma avaliação
da relevância dessa teoria.

Nota conclusiva: como se vê, as teorias da personalidade refletem a própria complexidade


do ser humano e, oferecem, assim, sempre uma imagem parcial. Dessa forma, mais
importante do que a pergunta "quais teorias são corretas e quais são falsas?" é a questão
"Quão útil é esta teoria para o desenvolvimento do meu saber, para responder às questões
postas pela ciência e pelas exigências práticas". A história da psicologia e de outras ciências
oferece numerosos exemplos de como mesmo teorias em determinados aspectos erradas
podem ter uma importância prática: apesar dos problemas, tais teorias podem oferecer uma
orientação tanto para a pesquisa futura quanto para a prática.

Teorias da personalidade
 Teoria psicanalítica da personalidade
 Caractereologia de Heymans - Le Senne - Berger
 Teoria dos traços de personalidade
 Perspectiva humanista
 Perspectivas cognitiva, construtivista e outras
Personalidade

Etimologia
Latim personare, persona = ressoar, máscara.

Personalidade é o conjunto de características psicológicas que determinam os padrões de


pensar, sentir e agir, ou seja, a individualidade pessoal e social de alguém. A formação da
personalidade é processo gradual, complexo e único a cada indivíduo.

O termo é usado em linguagem comum com o sentido de "conjunto das características


marcantes de uma pessoa", de forma que se pode dizer que uma pessoa "não tem
personalidade"; esse uso no entanto leva em conta um conceito do senso comum e não o
conceito científico aqui tratado.

Carver e Scheier dão a seguinte definição: "Personalidade é uma organização interna e


dinâmica dos sistemas psicofísicos que criam os padrões de comportar-se, de pensar e de
sentir característicos de uma pessoa". Esta definição de trabalho salienta que personalidade:
 é uma organização e não uma aglomerado de partes soltas;
 é dinâmica e não estática, imutável;
 é um conceito psicológico, mas intimamente relacionado com o corpo e seus
processos;
 é uma força ativa que ajuda a determinar o relacionamento da pessoa com o mundo
que a cerca;
 mostra-se em padrões, isto é, através de características recorrentes e consistentes
 expressa-se de diferentes maneiras - comportamento, pensamento e emoções.

Asendorpf complementa essa definição. Para ele personalidade são as particularidades


pessoais duradouras, não patológicas e relevantes para o comportamento de um indivíduo
em uma determinada população. Esta definição acrescenta àquela de Carver e Scheier
alguns pontos importantes:
 Os traços de personalidade são relativamente estáveis no tempo;
 As diferenças interpessoais são variações frequentes e normais - o estudo das
variações anormais é objeto da psicologia clínica
 A personalidade é influenciada culturalmente. As observações da psicologia da
personalidade são assim ligadas apenas à população em que foram feitas; para uma
generalização de tais observações para outras populações é necessária uma
verificação empírica.

Bibliografia
 Asendorpf, Jens B. Psychologie der Persönlichkeit. Berlin: Springer, 2004

 Carver, Charles S. & Scheier, Michael F.. Perspectives on personality. Boston: Allyn and
Bacon, 2000

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