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Soberana Reprovação

por

Rev. Gise J. Van Baren

Há algo concernente ao decreto eterno de Deus da predestinação, e


particularmente o decreto da reprovação, que parece imediatamente
estimular a ira do homem. Mencione eleição ou reprovação, e o
homem fecha os seus ouvidos. Mande para ele material sobre tal
assunto, e ele te retornará com o comentário ácido, “Eu não quero
tal besteira na minha caixa de entrada”. Até mesmo João Calvino,
aquele notável Reformador e campeão da verdade da predestinação,
é relatado como tendo chamado a reprovação de “aquele horrível
decreto” (embora esta não seja uma tradução acurada da sua
declaração). Por que há tal oposição a estes decretos de Deus? É,
quem sabe, a razão de tal oposição a esta verdade, porque ela exalta
o Deus soberano e ensina que o homem é apenas uma mera criatura?
A verdade da predestinação coloca o homem eu seu devido lugar. É
por causa disso que o homem tão fortemente se objeta a ela?

Há tal coisa como uma reprovação? Geralmente a reprovação é


negada. Mas, você está disposto a fazer um estudo cuidadoso das
passagens da Escritura sobre este ponto? O ensino da Escritura deve
permanecer, porque ela é a Palavra de Deus. 

Reprovação é aquela eterna vontade, bom prazer, ou propósito de


Deus segundo o qual Ele determinou que algumas das Suas criaturas
morais e racionais seriam lançadas no inferno para sempre, por causa
dos seus pecados; e que este fato serviria a causa de Cristo e
redundaria para a glória de Deus somente.

Antes de condenarmos a idéia da reprovação imediatamente,


consideremos o que a Palavra de Deus declara. Há diversas passagens
pertinentes que falam sobre este assunto. Possivelmente as
declarações mais claras concernentes à reprovação podem ser
encontradas em Romanos 9. Ali lemos de Jacó e Esaú, que antes de
nascerem ou terem feito o bem ou o mal, Deus disse, “Amei a Jacó,
mas odiei a Esaú” (v. 13). De Faraó, cujo coração Deus tinha
endurecido para que ele não deixasse Israel sair do Egito, lemos,
“Para isto mesmo te levantei, para em ti mostrar o meu poder e para
que o meu nome seja anunciado em toda a terra” (v. 17). Romanos 9
menciona também que “Ele endurece a quem quer” (vs. 18), e fala
de “vasos da ira, preparados para perdição” (vs. 22).

Que outra conclusão pode ser extraída destas passagens, senão que
elas ensinam claramente que Deus reprova alguns para o inferno por
causa do pecado deles? Deus endurece a quem Ele quer; Ele prepara
alguns para destruição. Outras passagens da Escritura são igualmente
claras. Lemos, por exemplo, em 1 Pedro 2:8, “... uma pedra de
tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra,
sendo desobedientes; para o que também foram destinados”. Ou
novamente, lemos em João 10:26, “Mas vós não credes, porque não
sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito”. Estas e outras
passagens mostram que Deus determina as ações dos homens
pecaminosos (assim como Ele fez com Faraó no tempo de Moisés), e
que estas ações foram eternamente determinadas por Deus.

As confissões das igrejas de fé Reformada enfaticamente ensinam


esta verdade da reprovação. Lemos nos Cânones de Dordt, no
Capítulo 1, Artigo 15: “ A Escritura Sagrada mostra e recomenda a
nós esta graça eterna e imerecida sobre nossa eleição, especialmente
quando, além disso, testifica que nem todos os homens são eleitos,
mas que alguns não o são, ou seja, são passados na eleição eterna de
Deus. De acordo com seu soberano, justo, irrepreensível e imutável
bom propósito, Deus decidiu deixá-los na miséria comum em que se
lançaram por sua própria culpa, não lhes concedendo a fé salvadora e
a graça de conversão. Para mostrar sua justiça, decidiu deixá-los em
seus próprios caminhos e debaixo do seu justo julgamento, e
finalmente condená-los e puni-los eternamente, não apenas por
causa de sua incredulidade, mas também por todos os seus pecados,
para mostrar sua justiça. Este é o decreto da reprovação qual não
torna Deus o autor do pecado (tal pensamento é blasfêmia!), mas O
declara o temível, irrepreensível e justo Juiz e Vingador do pecado”.

Isto significa que o réprobo, não importa o que ele faça, seja o bem
ou o mal, será condenado ao inferno? Deus não permita que tal seja o
caso, ou que alguém ensine isto. Esta questão, contudo, é
deliberadamente enganadora. Os réprobos são incapazes de
fazer algo bom. Considere primeiro que todos os homens em Adão
estão mortos em pecado (Romanos 5:12). Isto claramente significa
que todo homem nascido neste mundo é totalmente incapaz de fazer
algo bom e é inclinado a fazer todo mal (veja também Romanos 3).
Não há nem mesmo a possibilidade remota de que boas obras,
agradáveis ao nosso Deus, possam proceder de um pecador morto.
Uma pessoa morta fisicamente pode beber ou comer? Muito menos
pode um pecador realizar boas obras. A graça de Deus não é dada ao
réprobo; eles não estão em Jesus Cristo; e, portanto, eles não podem
fazer nada agradável a Deus.

Em segundo lugar, os réprobos sempre são condenados ao inferno


eterno por causa dos seus próprios pecados. É verdade que Deus
determinou qual será o fim deles — e que Ele assim o fez antes deles
nem mesmo nascerem. De que outra forma alguém poderia
interpretar as passagens citadas antes? Mas os ímpios são
definitivamente lançados nos tormentos do inferno por causa dos
seus próprios atos maus. Eles nunca poderão apontar o dedo para
Deus, declarando, “Deus me forçou a fazer o que era contrário à Sua
vontade; a culpa, portanto, reside em Deus e não em mim”. O ímpio
réprobo peca conscientemente e desejosamente, e por causa desse
pecar, eles certamente serão lançados na desolação eterna.

Um das muitas passagens da Escritura que indicam isto é encontrada


em Lucas 11:49-51, “Por isso, diz também a sabedoria de Deus:
Profetas e apóstolos lhes mandarei; e eles matarão uns e perseguirão
outros; para que desta geração seja requerido o sangue de todos os
profetas que, desde a fundação do mundo, foi derramado; desde o
sangue de Abel até ao sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar
e o templo; assim, vos digo, será requerido desta geração”.

Mas, você pergunta: Deus não é então injusto? Não é terrivelmente


injusto da parte de Deus determinar que alguns devam perecer? Que
tipo de Deus Ele é? Nós não podemos lançar tais acusações, amigo.
Quem nós pensamos que Deus é? Será que nós pensamos que Deus
deve se conformar ao nosso débil raciocínio? Desde quando o Deus
Todo-poderoso deve a qualquer homem a vida eterna? Por que
deveria o Soberano do céu e da terra ser obrigado a conceder Sua
graça sobre todos? Deve Deus trazer toda criatura racional-moral
para o céu? “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas?
Porventura, a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me
fizeste assim?” (Romanos 9:20). O oleiro tem poder sobre o barro, diz
a Escritura, para fazer da mesma massa um vaso para honra e outro
para desonra. (Romanos 9:21). Deus é injusto quando Ele faz, com os
que são Seus, o que Ele acha apropriado? Eu confesso que não posso
penetrar nas profundezas da sabedoria de Deus e explicar o porquê
uma pessoa foi reprovada, e outra eleita. Tudo o que eu posso dizer,
com a Escritura, é que Deus faz todas as coisas para o Seu bom
prazer, para a glória do Seu Nome.

Outra questão se levanta. Por que, se Deus determina todas as


coisas, deve haver algum ímpio réprobo? Por que Deus, desde antes
da fundação do mundo, determinou que alguns seriam lançados no
inferno por causa dos pecados que eles realizaram? Se Deus
verdadeiramente dirige todas as coisas, Ele não poderia de fato
impedir o pecado, e determinar que todos os homens desfrutariam as
bênçãos da vida eterna? Estas são questões preocupantes.

Há diversas razões na Escritura do por que Deus reprova certas


criaturas para o inferno eterno.

Em primeiro lugar, o decreto da reprovação deve de alguma forma


servir para glorificar o Nome de Deus. Deus, o Soberano, dirige todas
as coisas para que Sua glória possa ser mais plenamente revelada.
Isto é verdadeiro com respeito a tudo, sem exceção. Os vinte e
quatro anciãos de Apocalipse 4 não clamam: “Digno és, Senhor, de
receber glória, e honra, e poder, porque tu criaste todas as coisas, e
por tua vontade são e foram criadas” (vs. 11)? Mas como, você pode
perguntar, pode a reprovação servir para revelar a glória de Deus de
uma melhor forma possível? Através do decreto da reprovação, Deus
revela Seu eterno ódio e ira contra o pecado, e a punição dos que
praticam a iniqüidade. Aparte do decreto da reprovação de Deus, isto
nunca teria sido tão claramente revelado. Este contraste é sugerido
em 1 João 1:5: “E esta é a mensagem que dele ouvimos e vos
anunciamos: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma”. O
mesmo é encontrado em João 1, especialmente no verso 5, “E a luz
resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam”. Você
objeta? Não tem este Soberano Oleiro poder sobre o barro também
para formar vasos de desonra para servir para o Seu próprio prazer e
para revelar Sua própria glória e bondade?

Em segundo lugar, uma pessoa pode entender a razão da existência


de ímpios réprobos quando ele começa a ver todo o plano de Deus.
Na Sagrada Escritura é muito evidente que o coração ou centro de
todo o conselho ou plano de Deus é Cristo — e a igreja está em
Cristo. Deus revelará Sua glória da mais alta forma possível reunindo
um povo particular em Jesus Cristo, Seu Filho unigênito. Esta é a
verdade da qual lemos em Efésios 1:4-6: “Como também nos elegeu
nele (Cristo) antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos
e irrepreensíveis diante dele em caridade, e nos predestinou para
filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o
beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da sua graça, pela
qual nos fez agradáveis a si no Amado”.

Isto poder ser comparado, com o objetivo de ilustrar, com a semente


ou núcleo de uma noz. A semente ou o núcleo é a parte significante
de toda a noz. Todavia, há também uma casca ao redor do todo. A
casca não é comestível, todavia, ela tem uma função. Quando esta
função acaba, a casca é quebrada e descartada. Assim é a maravilha
de Deus revelada no reunir da igreja de Jesus Cristo. A causa de
Cristo, o reunir da igreja, é servida por todas as coisas que
acontecem. Não sem razão lemos em Romanos 8:28, “ E sabemos
que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto”. O todo
da criação, todas as coisas que acontecem dentro da
criação — fazem parte da casca que cerca o povo de Deus que está
em Cristo. Esta casca tem o seu propósito e lugar — mas quando seu
propósito for cumprido, ela será descartada.

Algo similar pode ser dito concernente à reprovação. O réprobo


também deve servir o propósito de Deus no reunir e defender da
igreja de Cristo. Os atos maus, nos quais estes ímpios buscam se opor
a Deus e destruir Sua igreja, pode e na verdade cooperam para o
benefício da igreja. A crucificação de Cristo é o melhor exemplo. Os
ímpios buscavam remover Cristo desta terra. Eles fizeram planos para
matá-Lo — e, de fato, eles O crucificaram fora dos muros de
Jerusalém. Mas o resultado foi que o propósito determinado de Deus
de salvar o Seu povo através do derramamento do sangue de Cristo
foi realizado. Lemos em Atos 4:27-28, “Porque, verdadeiramente,
contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só
Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel,
para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham
anteriormente determinado que se havia de fazer”.

Nós vemos então que a reprovação não é um decreto “horrível” de


forma alguma. Nós vemos também que ela não é de certo modo igual
à maravilha do decreto de eleição, nem forma um par com ela. Deus
não declara arbitrariamente: “Eu quero lançar algumas pessoas no
inferno, e Eu quero trazer algumas para o céu”. Deus não o permita
que digamos isso! Mas Deus opera todas as coisas (tanto a criação
como também este decreto de reprovação) para servir ao Seu
propósito de trazer os eleitos, através do pecado e da graça, para a
glória eterna no céu. Mesmo esta verdade da reprovação deve ser
para o meu conforto e segurança neste mundo terrivelmente
pecaminoso.

Pode ou deve este decreto de reprovação ser pregado pelos ministros


da Palavra? Ou ele é um algum tipo de estrutura que deve ser
guardado em oculto no quarto Reformado? Esta verdade da
reprovação tende a desencorajar aqueles dentro da igreja e afastar
aqueles que estão fora dela? Como o missionário pode sair em sua
missão de labores e ensinar aos pagãos este decreto de reprovação?
Se há tal coisa como um decreto de reprovação, não seria melhor
permanecer silente sobre ele?

Sem dúvida é Cristo e Sua cruz que são o centro de toda a Palavra de
Deus. E estas verdades devem ser sempre enfatizadas pelos ministros
fiéis da Palavra. Mas o verdadeiro ministro da Palavra de Cristo não
pode evitar ensinar algumas verdades, tais como a reprovação, só
porque elas são desagradáveis aos homens. A Palavra de Deus não
ignora esta verdade — como, então, um pregador da Palavra pode
assim o fazer? Que ninguém tente ocultar esta verdade.

Devemos lembrar, também, que esta verdade do decreto de Deus de


reprovação tem em vista instilar terror nos corações dos ímpios.
Quando estava verdade é apropriadamente pregada, o ímpio tem o
certo testemunho de Deus de que Ele recompensá-los-á segundo as
suas obras más.

Finalmente, esta verdade não desencoraja a igreja? Não seria o caso


de um cristão começar a pensar, “Talvez, apesar de tudo, eu sou um
réprobo”? Deus nos livre de assim pensarmos. Alguém que está
verdadeiramente preocupado com o seu próprio bem-estar espiritual,
que busca e reconhece sinceramente diante de Deus a grandeza do
Seu pecado — tal pessoa não vê em si mesma os frutos da
reprovação, mas da eleição. Então, o cristão não deve ser
aterrorizado pela reprovação até onde diz respeito à sua própria
pessoa. Antes, esta doutrina também lhe dá um conforto e segurança
indizível. A despeito de tudo o que o ímpio busca fazer para a igreja
de Deus, o cristão sabe que Deus ainda tem controle e governo
absoluto. O ímpio também pode servir somente para o Seu propósito
eterno. E o final do ímpio, Deus tem determinado para a vindicação
do Seu Nome. Não deveria a igreja constantemente ser assegurada
deste glorioso fato na pregação da Palavra?

Oh, a maravilha da grandeza do nosso glorioso Deus! Inexplicável em


Seus caminhos e em Seus julgamentos, antes dos mesmos nos serem
descobertos por Ele mesmo! Possa Ele também permitir que nunca
nos envergonhemos de manter esta Sua palavra, mesmo após Ele já
nos tê-la revelado.

Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto


Cuiabá-MT, 24 de Maio de 2005.
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