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Professora: DD
Relatoria: AF
Bibliografia:
Livro I:
Aponta que “A mais antiga de todas as sociedades e a única natural é a família” (p.
44). Os únicos laços de dependência são os deveres de cuidado dos pais para com os filhos e
destes com relação àquele, enquanto necessitarem, sendo regidos pela lei da conservação.
Superada essa dependência, verifica-se a liberdade, que é uma consequência da natureza
humana. A família seria, portanto, o primeiro modelo de sociedade política.
Inicia uma sua reflexão a respeito da ausência de moralidade no uso da força física
afirmando que “O mais forte nunca será forte o bastante para ser sempre o amo se não
transformar sua força em direito e a obediência em dever”(p. 46).
Ainda sobre esse ponto, tece considerações a respeito do emprego da força versus o
direito, afirmando que “a força não funda o direito e que só temos a obrigação de obedecer
aos poderes legítimos” (p. 47).
Da escravidão:
Do pacto social:
Neste ponto do texto temos o cerne da hipótese de Rousseau (hipótese porque se trata
do desenvolvimento de uma ideia e não da descrição de fatos históricos como faz em outros
pontos do livro). O ponto de partida de sua reflexão seria o momento em que a conservação
dos homens se vê ameaçada:
A saída seria a agregação de forças, já que novas forças não poderiam, simplesmente,
serem geradas. A solução para esse problema seria o contrato social.
Portanto, não seria incorreto representar o percurso hipotético (e não histórico)
sugerido pelo autor a partir do seguinte esquema:
[...] a alienação total de cada associado, com todos os seus direitos, a toda a
comunidade. Porque, primeiramente, se cada um se doa por inteiro, a
condição é igual para todos, e, sendo a condição igual para todos, ninguém
tem interesse em torná-la onerosa aos outros. (p. 53).
O contrato social pode ser compreendido nos seguintes termos utilizados pelo autor:
“Cada um de nós dispõe em comum da sua pessoa e de todo o seu poder sob a suprema
direção da vontade geral, e recebe, enquanto corpo, cada membro como parte indivisível do
todo”. (pp. 53-54). Percebe-se nesse trecho a utilização de uma categoria teórica importante,
que é a ideia de vontade geral como um único corpo, que pode ser entendido como pessoa
moral, pública ou corpo político (termos também empregados em outros pontos da obra).
Ainda nesse tópico do livro, Rousseau lança vários outros conceitos importantes para
a compreensão do seu contrato social, como se percebe no trecho a seguir:
Essa pessoa pública, que se forma assim pela união de todas as outras,
tomava antigamente o nome de Cidade e toma agora o de República ou de
corpo político, que é chamado por seus membros de Estado quando é
passivo, Soberano quando é ativo, Potência quando comparado a seus
semelhantes. Quanto aos associados, eles tomam coletivamente o nome de
povo e se chamam em particular de Cidadãos, enquanto partícipes de uma
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No que se refere aos contratantes, que se constituem como povo, perceba-se que o
autor os apresenta a partir de duas dimensões de observação, quais sejam: a de cidadão e a de
súdito.
Por fim, quanto a esse tópico, podemos dizer que com o contrato, tem-se o
nascimento tanto da sociedade, como do Estado.
Do soberano:
Já a recíproca, seria mais complicada, pois “não é assim na relação dos súditos com o
soberano. Apesar do interesse comum entre ambos, nada garantiria os compromissos
assumidos pelos súditos caso o soberano não encontrasse meios de assegurar a fidelidade
desses.” (p. 55).
Portanto, para que não seja uma fórmula vazia, o pacto social implica
tacitamente este compromisso, o único capaz de dar força aos demais: o de
que quem se recusar a obedecer à vontade geral será forçado a fazê-lo por
todo o corpo, o que significa que será forçado a ser livre. (p. 56).
Do estado civil:
Rousseau acrescenta que essa nova liberdade do estado civil é uma liberdade moral,
tendo em vista que agora obedece a uma lei prescrita por si mesmo.
Do domínio real:
Neste ponto do livro o autor discorre a respeito da posse, que compõe as forças do
indivíduo, e junto com este, se incorpora à comunidade nas “mãos” do soberano. O Estado,
portanto, pelo contrato social, é senhor de todos os bens de seus membros.
Aponta ainda que o direito de primeiro ocupante só se torna verdadeiro direito depois
do estabelecimento da propriedade, que surge com a alienação das forças individuais
decorrente do contrato social, como se percebe na seguinte parte:
É importante ressaltar que o direito que cada particular tem sobre sua propriedade
está subordinado ao direito que toda a comunidade tem sobre a totalidade, do qual deriva a
força da soberania.
Livro II
Sobre a soberania e sua relação com o bem comum, o excerto a seguir é revelador:
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Também pelo fato de a vontade ser geral, que leva, como visto acima, à
inalienabilidade, é que a soberania é indivisível. A vontade declarada do povo é um ato de
soberania e se constitui lei.
Afirma que o povo nunca se corrompe, mas pode ser enganado, e quando isso ocorre
parece querer o que é ruim. Para fundamentar essa afirmação, faz uma distinção entre vontade
geral e vontade de todos: esta diz respeito à soma de vontades dos particulares e aquela, ao
interesse comum.
Como já apontado, temos em Rousseau que o Estado é uma pessoa moral e para a
sua conservação, necessita de uma força universal e compulsória (poder absoluto) para atuar
da maneira mais conveniente a todos. Esse poder absoluto é a soberania e é dirigido pela
vontade geral.
O contrato social, portanto, não é uma renúncia, e sim uma troca vantajosa, por
diminuir os riscos do estado de natureza.
“Todo homem tem direito de arriscar sua vida para conservá-la” (p. 70). A finalidade
do contrato sócia é a conservação dos contraentes, sendo assim, quem quer o fim, aceita os
meios, que pode constituir em dar a vida quando necessário.
A partir dessa lógica, explica a pena de morte: “A pena de morte infligida aos
criminosos pode ser encarada mais ou menos a partir do mesmo ponto de vista. É para não ser
vítima de um assassino que aceitamos morrer se nos tornamos um.” (p. 71). Todo “malfeitor”
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seria um traidor da pátria, deixando de ser membro desta ao violar suas leis e nesse caso, “a
conservação do Estado é incompatível com a dele, e um dos dois tem de perecer” (p. 71).
Da lei
A vontade do corpo político (que ganhou vida pelo pacto social, que não determina
nada a respeito de como o corpo deve fazer para se preservar) se expressa pela lei, que seria
um elemento dinâmico.
Afirma que toda justiça vem de Deus, porém, que não somos capazes de apreendê-la
diretamente desta fonte. Existiria, portanto, uma justiça universal que emana da razão, porém,
são necessárias convenção e leis para unir os direitos aos deveres. No estado civil, todos os
direitos são estabelecidos pela lei.
Lei seria uma matéria geral estatuída pela vontade geral. O objeto da lei é sempre
geral, pois considera os sujeitos coletivamente (não visando um indivíduo em específico) e as
ações em abstrato (e não uma ação em particular). Com base nessa ideia, admite que a lei
possa estatuir privilégios, porém, sem direcioná-los a ninguém em específico.
Para Rousseau as leis decorrem da vontade geral (o povo é seu autor), vinculam o
príncipe, pois este é membro do Estado, e são justas, pois ninguém pode ser injusto consigo
mesmo.
Sobre o que o soberano ordena a um particular, não se trata de uma lei e sim um
decreto, que decorre de um ato de magistratura. Leis decorrem de atos de soberania.
Rousseau chama de República todo Estado regido por leis, sob qualquer forma que
seja administrado, pois aí, somente o interesse público governa, afirmando que todo governo
legítimo é republicano.
Do legislador
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Quanto a este quesito, afirma que todos precisam de guias, e daí que vem a
necessidade de um legislador, que deve ser um “homem extraordinário”.
Do povo
Aponta, ainda, que existe para as nações um tempo de maturidade que é necessário
esperar antes de submetê-las às leis.
Os limites do Estado não podem nem ser grande demais (para poder ser bem
administrado), nem pequeno demais (para se manter por si). Em geral, segundo Rousseau, um
pequeno Estado é mais forte que um Estado grande, quando considerado em termos
proporcionais.
Além disso, uma mesma lei não poderia convir bem a diversas províncias e fazer
uma diferenciação legal, causaria distúrbios.
Um Estado pequeno demais também tem inconvenientes, pois uma certa base é
necessária para poder se preservar contra ameaças externas.
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Tem-se, portanto, que uma boa constituição de Estado deve contar mais com o vigor
de um bom governo do que com os recursos de um território grande.
Aponta o autor, uma relação entre o território e o número de habitantes, que deve ser
considerada para um adequado dimensionamento do Estado: a terra deve bastar para manter
seus habitantes. Essa relação ainda vai depender da qualidade da terra e do temperamento dos
habitantes (voracidade em relação ao que se produz).
O autor ainda defende que existem certas vocações geográficas e também relativas
ao caráter dos habitantes que determinam o tipo de sistema de legislação mais adequado à
nação.
A primeira classificação tem a ver com a relação de todos com todos (ou do soberano
com o Estado, do corpo político agindo sobre si mesmo). As leis que regem essa ralação são
as leis políticas (ou leis fundamentais). O tema de “O contrato social” está relacionado a esse
tipo de lei, pois constituem a forma de governo. Observa o autor, ainda, que um povo sempre
tem o poder de mudar suas leis.
Cita ainda as leis criminais, que regem a relação entre o homem e as leis e versam
sobre desobediência e penas, que longe de ser uma categoria específica de leis, seria mais uma
sanção de todas as outras.
O quarto tipo de leis seria o mais importante, “gravadas nos corações dos cidadãos” e
verdadeira constituição do Estado: os usos, costumes e opiniões (públicas), aos quais o
legislador deve estar sempre atento.
Livro III
Do governo em geral
O corpo político ao exercer uma ação livre, age por dois móveis, a saber: a força
física (poder executivo) e a vontade, que tem natureza moral (poder legislativo). Enquanto o
poder legislativo, como já apontado, pertence ao povo, o executivo não pode pertencer à
generalidade, pois esse poder consiste no exercício de atos particulares, não sujeitos à alçada
da lei, nem do soberano (cujos atos são necessariamente leis). Para Rousseau, portanto,
governo é algo diferente de soberano, ente do qual é apenas “ministro”.
O autor aponta ainda, que organização dos tribunais estaria no interior do governo (p.
96). Aqui percebe-se a visão do autor quanto à alocação do judiciário na estrutura do Estado.
Tem-se, desta forma, três instâncias: o soberano, o governo e o povo (que também é
soberano). Quando o legislador ou governo tentam se imiscuir nas funções uns dos outros, ou
quando os súditos se recusam a obedecer, o Estado se dissolve. O corpo do governo, para se
distinguir do corpo do Estado, precisa de um “eu particular”, uma existência particular, um
poder de deliberar próprio.
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O soberano pode por o governo nas mãos de todos (ou da maioria) do povo, de forma
que se hajam mais cidadãos magistrados do que simples cidadãos (até a metade do povo).
Essa forma de governo é a democracia. É a forma de governo mais adequada a Estados
pequenos.
Pode ainda, concentrar todo o governo nas mãos de um só, caso em que se verifica a
monarquia, que se ajusta melhor a Estados grandes.
Sobre democracia, o autor aponta que nunca existiu e nem nunca existirá uma
verdadeira democracia, pois além de um Estado pequeno, outras características seriam muito
difíceis de reunir, como um elevado nível de igualdade. Segundo ele, aqui haveria a reunião
no mesmo corpo de duas pessoas morais, o governo e o soberano. Aponta ainda que não é
bom que aquele que faça as leis, as execute, pois estaria se reunindo no mesmo corpo, a
pessoa do governante a do legislador, situação verificada na forma de governo ora tratada. Por
fim, acrescenta que é o governo mais sujeito a guerras civis.
natural (que só convém aos povos simples), a eletiva (a melhor de todas, sendo a melhor,
inclusive, se considerarmos as outras formas de governo) e a hereditária (se consolida quando
a riqueza supera as ideias, sendo a pior de todas). No livro, o autor advoga que a eleição é um
“meio pelo qual a probidade, as luzes, a experiência e todas as outras razões de preferência e
de estima públicas são novas garantias de ser sabiamente governado.” (pp. 103-104). Essa
forma de governo (a eleita) até comporta assimetria de riquezas, mas apenas na medida em
que esta seja útil para conferir meios e tempo para a dedicação aos negócios públicos.
No que se refere à monarquia, temos que o príncipe (lembrando que o príncipe pode
ser colegiado nas duas formas anteriores) é uma pessoa moral e coletiva, depositária do poder
executivo, que se reúne numa só pessoa natural (monarca ou rei). Aqui a força coletiva do
Estado e a força particular do governo estão na mesma mão. Seria a forma de governo mais
vigorosa, porém, a mais sujeita à vontade particular. Para diminuir a distância entre o rei e os
súditos, é necessário estabelecer um corpo intermediário (nobreza), o que acaba diminuindo o
poder do rei, o que diminui a relação de desigualdade entre este e os demais súditos.
Por fim, no que se refere às formas de governo, o autor apresenta o que chama de
governo misto (as formas anteriores em estado puro), pois não existe, segundo ele, governo
propriamente simples, pois o monarca precisa de intermediários e o governo popular, de um
chefe.
O governo simples, por si só, seria a melhor forma, porém, quando o executivo não é
suficientemente subordinado ao legislativo, é necessário remediar esse problema com
subdivisões, que tornem o governo mais fraco em relação ao soberano. A dispersão do
governo, por sua vez também deve ser combatida, erigindo tribunais para concentrar o poder,
levando a um equilíbrio maior.
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Finalizando essa parte, o autor esclarece que todas as formas de governo não são
adequadas a todos os países. Primeiro que a liberdade não está ao alcance de todos os povos, e
que há governos mais e menos vorazes, o que influencia na adequação do governo, pois “É o
supérfluo dos particulares que produz o necessário do público. Daí se segue que o Estado civil
só pode subsistir na medida em que o trabalho dos homens rende além das suas
necessidades.” (p. 111).
Rousseau aponta duas maneiras gerais pelas quais um governo degenera: quando se
contrai e quando o Estado se dissolve. A contração ocorre quando passa de uma forma maior
para uma menor (da democracia para a aristocracia e desta para a realeza).
A dissolução do Estado, por sua vez, pode ocorrer de duas formas: 1) quando o
príncipe usurpa o poder soberano, ao não governar mais de acordo com as leis (neste caso, o
contrato social é rompido e todo cidadão até pode ser forçado a obedecer, mas não obrigado,
recobrando sua liberdade natural); 2) quando os membros do governo usurpam separadamente
o poder que só poderiam exercer como corpo. Ambas as formas correspondem a abuso de
poder, e qualquer que seja ela, recebe o nome de anarquia. “Fazendo uma distinção, a
democracia degenera em oclocracia, a aristocracia em oligarquia. Eu acrescentaria que a
realeza degenera em tirania” (p. 118), sendo o termo “déspota”, mais adequado que o termo
tirano, segundo o próprio Rousseau.
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O soberano não tem outra força senão o poder legislativo e age, portanto, por meio
de leis (atos de vontade geral). Desta forma, o soberano só pode agir quando o povo estiver
reunido em assemblei (o autor diz que na sua época isso era visto como uma “quimera”, mas
que não era assim na antiguidade), mas não apenas para a constituição do Estado. Deveriam
existir assembleias fixas e periódicas. A jurisdição do governo cessa quando o povo se reúne
em corpo soberano.
O serviço público deve ser a principal preocupação do cidadão, senão, o estado vai à
ruína. É preciso ir aos conselhos, assim como é preciso combater: “A palavra finança é uma
palavra de escravos, ela é desconhecida na Cidade. Num Estado verdadeiramente livre, os
cidadãos fazem tudo com seus braços e nada com dinheiro.” (p. 123). “Quanto mais bem o
Estado é constituído, mais os negócios públicos prevalecem sobre os privados no espírito dos
cidadãos.” (pp. 123-124). Seguindo essa linha de raciocínio, critica o fato de que em certos
países se enviem deputados como representantes do povo para as assembleias (Terceiro
Estado). Nesta configuração, o interesse particular fica em duas ordens, enquanto o interesse
público é representado apenas na terceira.
Adverte o autor, todavia, que assim como a soberania não pode ser alienada, também
não pode ser representada. Consiste da vontade geral. Os deputados, portanto, não são
representantes do povo, sendo no máximo, seus delegados. A partir do momento em que o
povo se faz representar, não seria mais livre.
Uma vez estabelecido o poder legislativo, deve-se assentar o poder executivo, que
opera por atos particulares, tendo natureza distinta daquele, portanto. Essa separação entre o
direito e o fato seria tem o condão de fazer distinguir o que é lei do que não é. O soberano,
portanto, é quem dá o direito ao príncipe. Não há um contrato entre soberano (povo) e
governo (príncipe), pois não há como o superior se entregar ao inferior. Só há um contrato no
Estado e ele exclui a qualquer outro.
Da instituição do governo
O governo é instituído por um ato complexo, constituído da lei (soberano estatui que
haverá um corpo de governo) e de sua execução (ato particular que nomeia os chefes). Esse
ato de nomeação, típico de executivo, mesmo antes de o governo ser estabelecido, ocorre por
uma conversão súbita da soberania em democracia e dos cidadãos em magistrados (governo
apenas provisório, se esta não for a forma adotada), apenas para esse fim.
As aberturas das assembleias periódicas devem iniciar sempre com duas moções: 1)
se apraz ao soberano manter a vigente forma de governo; e 2) se apraz ao povo deixar a
administração nas mãos dos que dela atualmente se ocupam.
Rousseau informa que não há no estado nenhuma lei fundamental que não possa ser
revogada, nem mesmo o próprio pacto social.
Livro IV
Dos sufrágios
Quanto mais a concordância se verificar nas assembleias, quanto mais próxima for da
unanimidade, mais próximas estará da vontade geral. Já a unanimidade, só se verifica quando
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não há mais vontade e se instalou a servidão. A deliberação, nesse caso, seria substituída pela
aclamação.
Só há uma lei que exige o consentimento unânime, que é o próprio contrato social.
Os opoentes do contrato apenas não serão envolvidos nele (serão estrangeiros). Já quando o
Estado se encontra instituído, morar no território significa se submeter à soberania. Ademais,
a voz da maioria obriga todos os demais, sendo consequência do próprio pacto. A vontade
geral é o elemento que concede validade a todas as leis, mesmo àquelas com as quais o
indivíduo não tenha concordado diretamente. A aprovação contra a vontade do indivíduo só
prova que ele estava errado e o que desejava não era vontade geral.
Quanto ao quórum, o autor aponta que deve ser maior, quanto mais as deliberações
forem importantes ou graves.
Das eleições
A eleição do príncipe e dos magistrados (que como visto, é ato de governo e não de
soberania) pode se dar por escolha ou sorteio. Aqui o autor está a se referir ao que foi
chamado anteriormente de nomeação. Aponta Rousseau, que segundo Montesquieu, o
“sufrágio por sorteio” é da natureza da democracia. Nas aristocracias os sufrágios são
apropriados.
Nos governos monárquicos não há nem sorteio e nem escolha. A escolha do monarca
só cabe à lei.
Do tibunato
O tribunato seria uma magistratura particular, separada das outras e atuaria como
conservador das leis e do poder legislativo. Às vezes serve para proteger o soberano do
governo, às vezes para apoiar o governo contra o povo e também para manter o equilíbrio
entre essas partes. Não pode fazer nada, mas pode impedir tudo. Não faz parte nem do
legislativo e nem do executivo.
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O tribunato não faz parte da constituição do Estado e pode ser removido a qualquer
tempo, porém, recomenda-se a sua sazonalidade, tendo em vista o seu grande poder, para
evitar abusos.
Da ditadura
As leis só devem ter seu poder limitado para salvação da pátria (segurança pública).
Nos raros casos em que essa medida deve ser tomada, pode ser a atividade do governo
concentrada em um ou dois de seus membros e se a situação for tal que o governo não seja
capaz de resolver, deve-se nomear um chefe supremo (ditador) que suspenda por um
momento a autoridade soberana. A suspenção da autoridade legislativa não abole o Estado.
Esse magistrado pode até fazer calar, mas não pode fazer falar. Ditadores só devem atuar em
momentos de crise e por curto prazo, senão, tendem a se tornar tirânicos ou inúteis (quando a
crise for superada).
Da censura
Enquanto a declaração da vontade geral se faz pela lei, a declaração do juízo público
se faz pela censura (opinião pública), sendo que o censor, assim como o príncipe, só atua no
caso concreto (é um declarador da opinião do povo). Ressalte-se que segundo o autor, a
opinião do povo nasce de sua constituição e que as leis não regulam os costumes, porém, os
faz surgir. O juízo do censor não faz o que as leis não fazem. A censura tem a principal
função de manter os costumes, evitando que as opiniões se corrompam.
Da religião civil
Neste ponto, Rousseau começa afirmando que os reis dos homens, no início, eram os
deuses e o governo era teocrático. Cada nação tinha seu próprio deus no paganismo, não o
distinguindo de suas leis. A forma de converter outros povos era subjugando-os, deixando ao
vencido as leis e os deuses.
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Tudo mudou quando Jesus veio estabelecer seu reino espiritual na terra, o que
separou o sistema teológico do sistema político. Por conta dessa ideia de “reino de outro
mundo” os cristãos passaram a ser vistos como rebeldes entre os pagãos.
Aponta o autor, que logo os cristãos fizeram seu reino neste mundo, sob um chefe
visível e sob o mais violento despotismo. Com isso, a concomitância da existência de um
príncipe (leis civis) e com esse reino espiritual (culto sagrado), tornou impossível a “boa
política” no Estado cristão.
Assevera que o Estado nunca foi fundado sem uma religião que lhe servisse de base,
porém, a lei cristã é mais nociva do que útil a uma forte constituição do Estado.
Aponta ainda uma terceira forma de religião, que cria um direito misto, ao dar aos
homens duas legislações, dois chefes, duas pátrias, submetendo-os a deveres contraditórios e
os impedindo de ser ao mesmo tempo devoto e cidadão. Assim é o cristianismo romano. Aqui
temos uma clara referência ao papado. Essa religião é ruim porque rompe a unidade social ao
impor contradições.
Para ele, o cristianismo é uma religião toda espiritual, o que gera indiferença do
cidadão quanto à cidade. A piedade e a resignação dos cristãos faria com que tivessem
dificuldade em banir usurpadores e aproveitadores. Também teriam dificuldades em guerras
estrangeiras por essas características. O cristianismo prega a servidão e a dependência e seu
espírito é favorável à tirania.
Feitas essas considerações, no que se refere à religião e o direito que o pacto social
confere ao soberano, este não deve ultrapassar os limites da utilidade pública. “Os súditos,
portanto, não devem prestar contas ao soberano de suas opiniões, salvo se essas opiniões
importarem à comunidade.” (p. 166). Ou seja, há uma profissão de fé puramente civil, cujos
artigos cabem ao soberano estabelecer, não como dogmas religiosos, mas como sentimento de
sociabilidade. Quem não crê nos seus artigos pode ser banido, não como ímpio, mas como
insociável. Porém, depois de reconhecê-los publicamente, se comportar como se não
acreditasse neles, deverá ser punido com a morte por mentir diante da lei. Dentre os dogmas
positivos instituídos pelo soberano, cita a santidade do contrato social. Quanto a dogmas
negativos, só existe um, a intolerância (religiosa), que não deve ser admitida.
Conclusão