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ISBN: 9789896443047
Ano de edição ou reimpressão: 10-2014
Editor: Temas e Debates | Círculo de
Leitores
Páginas: 912
Tipo de Produto: Livro Classificação
Temática: Livros em Português >
Economia, Finanças e Contabilidade >
Economia
O Capital no Século XXI de Thomas Piketty desafia os leitores a uma abordagem crítica
sobre a distribuição dos rendimentos e dos patrimónios desde o século XVIII. A intenção
do autor foi a de facultar uma panorâmica histórica – com um conjunto de fontes que não
foram acessíveis para estudos anteriores –, apresentar as suas leituras e apontar alguns
caminhos para uma sociedade mais justa.
Mais do que apresentar soluções, o autor pretendeu fomentar o debate sobre temas tão
determinantes para a qualidade das democracias. Diríamos que intentou impulsionar
esferas públicas locais e globais, temáticas, segundo o modelo normativo de Jürgen
Habermas (2012), de confronto de ideias e de pontos de vista, sem constrangimentos, de
modo racional e democrático.
A obra é o resultado de 15 anos de investigação. Está dividida em quatro partes, que por
sua vez se desenvolvem em 16 capítulos que apresentam, interpretam, interrogam e
traçam algumas conclusões sobre as dinâmicas de acumulação do capital privado e
distribuição da riqueza ao longo de três séculos nos principais países desenvolvidos da
Europa e, ainda, de modo menos exaustivo, no Japão e nos EUA. No seu conjunto, são
mais de duas dezenas de países estudados por Piketty e seus colaboradores.
Quase a abrir a obra, pergunta: “Que sabemos realmente sobre a evolução da distribuição
do rendimento e do património desde o século XVIII, e que ensinamentos podemos daí
retirar para o século XXI?” (p. 15). Esta é a questão central sobre a qual se estrutura a
obra.
Utilizando dados de três séculos, Piketty consegue realizar uma análise histórica de um
longo período e encontrar padrões que lhe permitam conclusões mais fundamentadas.
Na, derradeira, Quarta Parte – Regular o Capital no Século XXI – apresenta possíveis
soluções para inverter a tendência crescente do acentuar das desigualdades a partir da
reconstrução de um novo Estado Social e de renovadas estratégias de tributação da
riqueza.
Um dos mecanismos de crescimento da riqueza que identificou nos estudos foi o das
heranças, e verificou que quanto mais elevada é, mais contribui para aumentar os níveis
de rendibilidade, e por consequência o crescimento do património acumulado.
Essa tendência aconteceu até ao século XIX, e parece voltar a “ser norma” no século XXI
se as democracias não puserem em prática os instrumentos de que dispõem em favor do
interesse geral, e na contenção de interesses privados e de certas práticas do capitalismo.
Um dos grandes méritos do autor foi o de compilar na obra um vasto conjunto de dados
sobre os rendimentos e a riqueza, e introduziu-lhe uma dimensão histórica, abarcando
cerca de três séculos, e de os trazer à discussão para a sociedade, através de uma escrita
relativamente acessível ao leitor que se convenciona de cidadão medio.
Deste modo, os debates sobre Economia Política deixaram de ficar remetidos às elites,
em gládios ininteligíveis para o cidadão comum, que tem lugar cativo entre os 90 por
cento dos desafortunados no mundo na distribuição da riqueza.
Outra das frequentes críticas a O Capital no Século XXI é a de não avançar com soluções.
Na nossa leitura, isso é uma das grandes virtudes da obra. No ideal habermasiano de
Esfera Pública, os consensos atingidos levam à deliberação democrática. O mundo
precisa de renovar as utopias, as crenças de que através do envolvimento dos cidadãos se
podem encontrar as melhores soluções para o interesse geral.
Dois dos objetivos de Thomas Piketty foram atingidos: a sua obra provocou debate, sem
constrangimentos, e democrático. Ocorreu em diversos pontos do globo, em ambientes
académicos, da política, da economia, em movimentos sociais, com vozes concordantes
e discordantes. Em espaços formais e informais, perante públicos e audiências, cara-a-
cara ou através do ciberespaço. Nem sempre o debate foi racional, por vezes a
reflexibilidade deu lugar à emoção.
Bibliografia