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Richard Leakey
Tradução de
ALEXANDRE TORT
Revisão técnica
RUI CERQUEIRA
Prefácio.................................................................................... 9
1 - Os primeiros humanos.......................................................16
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1 - Os primeiros humanos
Os antropólogos há muito têm se mostrado fascinados com as
qualidades especiais do Homo sapiens, tais como a linguagem,
as altas habilidades tecnológicas e a capacidade de fazer
julgamentos éticos. Mas uma das mudanças mais significativas
dos anos recentes tem sido o reconhecimento de que, a
despeito destas qualidades, nossa ligação com os macacos
africanos é realmente muito íntima. Como esta importante
mudança intelectual surgiu? Neste capítulo discutirei como as
idéias de Charles Darwin a respeito da natureza especial das
espécies humanas primordiais influenciaram os antropólogos
por mais de um século — e como novas pesquisas revelaram
nossa intimidade evolutiva com os macacos africanos e exigem
nossa aceitação de uma visão muito diferente do nosso lugar
na natureza.
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Publicado no Brasil em co-edição pela Editora Universidade de Brasília e Editora
Melhoramentos. (N. do T.)
como estas duas espécies são agora as que se relacionam
mais de perto com o homem, de algum modo é mais provável
que nossos progenitores primordiais tivessem vivido no
continente africano do que em outro lugar.
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tarefa de inferir um elo evolutivo com base em indício
extremamente fragmentado é muito mais difícil do que a
maioria das pessoas percebe, e há muitas armadilhas para os
incautos. Simons e Pilbeam haviam caído em uma dessas
armadilhas: a similaridade anatômica não implica de modo
unívoco uma relação evolutiva. Os espécimens mais completos
encontrados no Paquistão e na Turquia revelaram que as
supostas características humanóides eram superficiais. A
mandíbula do Ramapithecus tinha a forma de um V e não a de
um arco; esta e outras características indicavam que ele era
uma espécie de macaco primitivo (a mandíbula do macaco
moderno tem a forma de um U). O Ramapithecus vivera nas
árvores, como seu parente posterior, o orangotango, e não era
um macaco bípede, muito menos um caçador-coletor primitivo.
Mesmo os antropólogos mais aferrados à sua visão do
Ramapithecus como hominídeo ficaram convencidos pelos
novos indícios de que estavam errados e que Wilson e Sarich
estavam certos: a primeira espécie de macaco bípede, o
membro fundador da família humana, evoluíra em épocas
relativamente recentes e não em um passado muito distante.
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procuramos pelo surgimento destes atributos a partir de um
contexto estritamente biológico.
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Referência ao filme musical americano West Side Story, da década de 1960,
ambientado no lado pobre de Nova York. (N. do T.)
desaparece. Este, certamente, foi o destino da maioria dos
macacos africanos: apenas três espécies existem hoje — o
gorila, o chimpanzé comum e o chimpanzé pigmeu. Mas,
enquanto a maioria dos macacos sofreu com a mudança
ambiental, um deles foi agraciado com uma nova adaptação
que lhe permitiu sobreviver e prosperar. Este foi o primeiro
macaco bípede. Ser bípede conferiu-lhe claramente vantagens
importantes na luta pela sobrevivência em condições variáveis.
O trabalho dos antropólogos é descobrir quais eram estas
vantagens.
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A segunda teoria importante do bipedismo é muito mais con-
vincente, em parte por sua simplicidade. Proposta pelos
antropólogos Peter Rodman e Henry McHenry, da Universidade
da Califórnia, em Davis, a hipótese afirma que o bipedismo foi
vantajoso em condições ambientais em mutação porque
oferecia um meio mais eficiente de locomoção. À medida que
as florestas encolhiam, os recursos alimentares dos habitats
florestais, tais como árvores frutíferas, teriam se tornado muito
dispersos para serem explorados de forma eficiente pelos
macacos convencionais. De acordo com esta hipótese, os
primeiros macacos bipédes eram humanos apenas quanto ao
seu modo de locomoção. Suas mãos, mandíbulas e dentes
teriam permanecido similares aos dos macacos, porque sua
dieta não mudara, apenas sua maneira de obtê-la.
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2 - Uma família numerosa
Pela minha contagem, espécimens de fósseis com vários graus
de incompletude, representando pelo menos um milhar de
indivíduos das várias espécies humanas, têm sido recuperados
na África Oriental e do Sul da parte mais antiga dos registros
arqueológicos, isto é, de cerca de 4 milhões até quase 1 milhão
de anos atrás (muitos mais neste último registro). Os fósseis
humanos mais antigos encontrados na Eurásia podem ter cerca
de 2 milhões de anos de idade. (O Novo Mundo e a Austrália
foram povoados muito mais recentemente, há uns 20 mil e 55
mil anos respectivamente.) Portanto, é justo dizer que a maior
parte da ação na pré-história humana aconteceu na África. As
questões a que os antropólogos devem responder sobre esta
ação são duas: primeiro, que espécies constituíram a árvore de
família humana entre 7 e 2 milhões de anos atrás, e como elas
viveram? Segundo, como eram as espécies relacionadas umas
com as outras sob o ponto de vista evolutivo? Em outras
palavras, qual era a forma da árvore de família?
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Os biólogos que estudaram os registros de fósseis sabem que,
quando uma nova espécie desenvolve uma adaptação nova,
muitas vezes há um florescimento de espécies descendentes
durante os milhões de anos seguintes que expressam
variações temáticas daquela adaptação inicial — o
florescimento é conhecido como irradiação adaptativa. O
antropólogo da Universidade de Cambridge, Robert Foley,
calculou que, se a história evolutiva dos macacos bípedes
acompanhou o padrão usual de irradiação adaptativa, existiram
pelo menos 16 espécies entre a origem do grupo há 7 milhões
de anos e os dias de hoje. A forma da árvore de família começa
com um único tronco (a espécie fundadora), cresce à medida
que novos ramos desenvolvem-se com o tempo, e então reduz
suas ramificações quando as espécies tornam-se extintas,
deixando apenas um ramo sobrevivente — o Homo sapiens.
De que modo tudo isto se encaixa com o que sabemos dos
registros de fósseis?
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lhões de anos derivava de uma diversidade similar que surgira
1 milhão de anos antes, inclusive espécies de Australopithecus
e Homo. Na sua interpretação inicial dos fósseis, Taieb e
Johanson apoiaram este padrão de evolução. Entretanto,
Johanson e Tim White, da Universidade da Califórnia em
Berkeley, fizeram mais análises. Em um artigo publicado na
revista Science em janeiro de 1979, eles sugeriram que os
fósseis de Hadar não representavam diversas espécies de
humanos primitivos mas ao contrário eram ossos de apenas
uma única espécie, que Johanson chamou Australopithecus
afarensis. A grande variedade de tamanho corporal, que
anteriormente tinha sido considerada como indicação da
presença de diversas espécies, era agora explicada
simplesmente como dimorfismo sexual. Todas as espécies de
hominídeos que surgiram mais tarde eram descendentes desta
única espécie, disseram eles. Muitos de meus colegas ficaram
surpresos com esta afirmação audaciosa, e ela provocou um
vigoroso debate que durou muitos anos (ver figura 2.4).
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anos atrás deve portanto ser considerada uma questão não re-
solvida.
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3 - Um tipo diferente de humano
Pesquisas excitantes e imaginativas só recentemente
realizadas permitiram-nos utilizar os fósseis para obter
discernimento sobre aspectos da biologia de nossos ancestrais
extintos de um modo que ninguém poderia ter previsto há
poucos anos. Por exemplo, agora é possível fazer estimativas
razoáveis de quando indivíduos de uma espécie humana
particular eram desmamados, quando tornavam-se
sexualmente maduros, qual era sua expectativa de vida, e
assim por diante. Armados com meios de descobrir infor-
mações deste tipo, chegamos à conclusão de que o Homo era
um tipo diferente de humano desde o momento em que
apareceu pela primeira vez. A descoberta de uma
descontinuidade biológica entre o Australopithecus e o Homo
alterou fundamentalmente nossa compreensão da pré-história
humana.
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Não podemos fazer cálculos semelhantes para o Homo habilis,
o ancestral imediato do erectus, porque temos que descobrir
ainda uma pélvis de habilis. Mas se os bebês habilis nasciam
com o tamanho do cérebro dos neonatos erectus, então eles
também precisariam nascer “muito cedo”, mas não tanto; eles
também deveriam ser frágeis ao nascer, mas não por tanto
tempo quanto os erectus; e eles também teriam exigido um
meio social semelhante ao dos humanos, mas em grau menor.
Portanto, parece que o Homo moveu-se em direção aos
humanos desde o início. Da mesma forma, as espécies
australopitecíneas tinham cérebros do ta-
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(A página 57 do livro apresenta a Figura 3.2, colada nas
páginas finais desse e-livro)
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disse ele, “não teria sido capaz de elevar o seu tórax do modo
necessário ao tipo de inalação profunda que fazemos ao correr.
O abdome era pronunciado, e ele não tinha cintura, de maneira
que isto teria restringido a flexibilidade que é essencial ao
modo de correr humano”. O Homo era um corredor, o
Australopithecus não.
A segunda Unha de indício que se relaciona com esta questão
da agilidade originou-se do trabalho de Leslie Aiello sobre o
peso corporal e a estatura. Ela obteve medidas destas
características nos humanos e macacos modernos e as
comparou com dados similares obtidos de fósseis humanos. Os
macacos de hoje são fortemente constituídos para a sua
estatura, sendo duas vezes mais corpulentos do que um
humano da mesma altura. Os dados oriundos dos fósseis
também encaixaram-se em um padrão nítido — um que agora
estava se tornando familiar. Os australopitecíneos eram
semelhantes aos macacos em sua constituição corporal,
enquanto todas as espécies de Homo eram semelhantes aos
humanos. Ambos, as descobertas de Aiello e o trabalho de
Schmid, são coerentes com a descoberta de Fred Spoor da
diferença na estrutura anatômica do ouvido interno nos
australopitecíneos e no Homo: um compromisso maior com o
bipedismo acompanha a nova estrutura corporal.
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4 - Homem, o nobre caçador?
Pelo menos algumas linhas de indícios apoiam a noção de que
a compleição física do Homo primitivo refletia uma procura
ativa de carne — isto é, como um caçador em busca de sua
presa. É salutar refletir sobre o fato de que, como meio de
subsistência, a caça e a coleta persistiram até recentemente na
pré-história humana; somente com a adoção da agricultura há
uns meros 10 mil anos nossos ancestrais realmente
começaram a abandonar uma existência simples à procura de
alimentos. Uma questão importante para os antropólogos tem
sido esta: quando este modo muito humano de subsistência
apareceu? Estava ele presente desde os começos do gênero
Homo, como sugeri? Ou foi uma adaptação recente, tendo
emergido apenas com a evolução dos humanos modernos, há
talvez 100 mil anos? Para responder a estas questões,
devemos nos debruçar sobre as pistas que os registros
arqueológicos e fósseis fornecem, procurando sinais do modo
de subsistência com base na caça e na coleta. Veremos neste
capítulo que nos anos recentes as teorias mudaram, refletindo
o modo pelo qual vemos a nós e a nossos ancestrais. Antes de
vermos como os indícios da pré-história têm sido esmiuçados,
seria útil ter em mente uma visão do modo de vida
caracterizado pela busca de alimentos, o qual podemos
aprender com os caçadores-coletores modernos.
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como ele descreveu seu encontro com o povo da Terra do
Fogo, no extremo sul da América do Sul:
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Os vertebrados dividem-se em dois grandes grupos: os peixes e os tetrápodos.
Estes últimos incluem os anfíbios, répteis, aves e mamíferos. Os primeiros tetrápo-
dos eram anfíbios derivados diretamente de certos peixes. (N. do T.)
pectos místicos, tornando-se equivalente ao pecado original de
Adão e Eva, que tiveram que abandonar o Paraíso depois de
ter comido o fruto proibido. “No modelo da caça, o homem
comeu carne para sobreviver na savana hostil e, em virtude
desta estratégia, tornou-se o animal cuja história subseqüente
está gravada em um meio de violência, conquista e
derramamento de sangue”, observaram Perper e Schrire. Este
foi o tema considerado por Raymond Dart em alguns de seus
escritos da década de 1950 e, mais popularmente, por Robert
Ardrey. “Nem na inocência e nem na Ásia, nasceu a raça
humana”, é a frase inicial do livro de Ardrey, African Genesis,
publicado em 1971. A imagem provou ser poderosa nas
mentes do público e dos profissionais. E, como veremos,
imagens têm se mostrado importantes para o modo pelo qual o
registro arqueológico tem sido interpretado a esse respeito.
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Um dos tipos de grandes antílopes do gênero Taurotragus. (N. do T.)
Mencionei no capítulo 2 que Nicholas Toth e Lawrence Keeley
realizaram análises microscópicas de diversas lascas de pedra
e encontraram indicações de esquartejamento, aparamento de
madeira e corte de tecidos vegetais macios. Aquelas lascas
eram do sítio 50, e os resultados da análise enriqueceram a
imagem de uma cena de atividades diversas há 1,5 milhão de
anos. Longe da imagem de confusão hidráulica, a atividade no
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deve ter envolvido hominídeos que traziam partes de carcaça
até ali, as quais então eram processadas com ferramentas de
pedras feitas no local. Após o turbilhão teórico do final da
década de 1970, a demonstração do transporte deliberado de
ossos e pedras para um lugar central de atividade de
processamento de alimentos foi um passo importante no
realinhamento da teoria arqueológica. Mas este indício implica
que os hominídeos do sítio 50, Homo erectus, eram caçadores
ou carniceiros?
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5 - A origem dos humanos modernos
Dos quatro principais eventos ocorridos no decurso da
evolução humana que esbocei no prefácio — a origem da
família humana propriamente dita, há cerca de 7 milhões de
anos; a “irradiação adaptativa” subseqüente de espécies de
macacos bipédes; a origem de um cérebro maior (efetivamente,
o começo do gênero Homo), há talvez 2,5 milhões de anos; e a
origem dos humanos modernos — é o quarto, a origem de
gente como nós, que é atualmente a questão mais quente na
antropologia. Muitas hipóteses diferentes são vigorosamente
debatidas, e dificilmente passa-se um mês sem que uma
conferência seja realizada ou uma chuva de livros e artigos
científicos seja publicada, cada um apresentando visões muitas
vezes diametralmente opostas. Por “gente como nós” quero
dizer o Homo sapiens moderno — isto é, humanos com uma
queda para a tecnologia e para a inovação, uma capacidade de
expressão artística, uma consciência introspectiva e um senso
de moralidade.
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(A página 87 do livro apresenta a Figura 5.1, colada nas
páginas finais desse e-livro)
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Os dois modelos não poderiam ser mais diferentes: o modelo
da evolução multirregional descreve uma tendência evolutiva
por todo o Velho Mundo em direção ao Homo sapiens, com
uma pequena migração mas sem substituição de populações,
enquanto que a hipótese “A partir da África” exige a evolução
do Homo sapiens em apenas um lugar, acompanhada de uma
migração extensiva de população através do Velho Mundo,
resultando na substituição das populações pré-modernas
existentes. Mais ainda, no primeiro modelo, a distribuição das
populações geográficas modernas (o que é conhecido como
“raças”) teria profundas raízes genéticas, tendo elas sido
essencialmente separadas há mais de 2 milhões de anos; no
segundo modelo, estas populações teriam raízes genéticas
menos profundas, tendo todas derivado de uma única
população que evoluiu recentemente na África
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6 - A linguagem da arte
Não há dúvida de que algumas das relíquias mais
impressionantes da pré-história humana são as representações
de animais — gravadas, pintadas e esculpidas — produzidas
há 30 mil anos. Nesta época, os humanos modernos tinham
evoluído e ocupado muito do Velho Mundo, mas não ainda,
provavelmente, o Novo Mundo. Onde quer que pessoas
vivessem — na África, na Ásia, na Europa e na Austrália —,
elas produziam imagens de seu mundo. A vontade de produzir
representações era aparentemente irresistível, e as imagens
elas próprias são irresistivelmente evocativas. São também
misteriosas.
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uma parede. A arte xamanística não é assim. Os xamãs muitas
vezes percebem suas alucinações surgindo de superfícies
rochosas: “Eles vêm as imagens como tendo sido colocadas ali
pelos espíritos, e, ao pintá-las, os xamãs dizem que eles
simplesmente estão tocando e marcando o que já existe”,
explica Lewis-Williams. “As primeiras representações não eram
portanto imagens representativas do modo como eu e você
pensamos sobre elas, mas sim imagens mentais fixas de outro
mundo.” A superfície rochosa em si mesma, observa ele, é uma
interface entre o mundo real e o espiritual — uma passagem
entre os dois. É mais do que um meio para as imagens; é uma
parte essencial destas e do ritual que as acompanhava. A
hipótese de Lewis-Williams atraiu uma grande dose de atenção
e, inevitavelmente, algum ceticismo. Seu valor está em permitir
que vejamos a arte com olhos diferentes. A arte xamanística é
tão diferente da arte ocidental em sua motivação e execução
que por meio dela podemos olhar a arte do Paleolítico Superior
de novas maneiras.
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7 - A arte da linguagem
Não há dúvida de que a evolução da linguagem falada como a
conhecemos foi um ponto de definição na pré-história humana.
Foi talvez o momento de definição. Equipados com uma lingua-
gem, os humanos foram capazes de criar novos tipos de
mundo na natureza: o mundo da consciência introspectiva e o
mundo que construímos e dividimos com os outros, o qual
chamamos “cultura”. A linguagem tornou-se nosso meio e a
cultura nosso nicho. Em seu livro publicado em 1990 Language
and Species, o lingüista da Universidade do Havaí Derrick
Bickerton exprime isto de modo convincente: “Somente a
linguagem poderia ter rompido os grilhões da experiência
imediata a que toda criatura está presa, libertando-nos para as
liberdades infinitas do espaço e do tempo.”
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De acordo com esta análise, este indivíduo Homo erectus teria
tido a habilidade de produzir certas vogais, como u, a, e, i.
Laitman calcula que a posição da laringe no Homo erectus
primitivo teria sido equivalente à de um humano moderno de
seis anos de idade. Infelizmente, nada pode ser dito a respeito
do Homo habilis, pois nenhum dos crânios de habilis
descobertos até agora tem um basicrânio intacto. Minha
estimativa é que, quando realmente descobrirmos um crânio
intacto do Homo mais primitivo, veremos os começos da flexão
basicranial. Uma capacidade rudimentar de linguagem falada
certamente começou com a origem do Homo.
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Esta era a tarefa com que Glynn Isaac deparou quando lhe foi
pedido que apresentasse um trabalho sobre a origem e a
natureza da linguagem na Academia de Ciências de Nova York
em 1976. Glynn examinou a complexidade das indústrias de
artefatos de pedra desde seus primórdios, há mais de 2
milhões de anos, até a Revolução do Paleolítico Superior, há
35 mil anos. Ele estava mais interessado na ordem que os
fabricantes de artefatos impunham aos seus implementos do
que nas tarefas que as pessoas realizavam com estes
artefatos. A imposição da ordem é uma obsessão humana; é
uma forma de comportamento que exige uma linguagem falada
sofisticada para a sua mais completa elaboração. Sem
linguagem, a arbitrariedade de uma ordem humana imposta
seria impossível.
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(A página 132 do livro apresenta a Figura 7.2, colada nas
páginas finais desse e-livro)
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8 - A origem da mente
Três grandes revoluções marcam a história da vida na Terra. A
primeira foi a origem da vida propriamente dita, em alguma
época situada antes dos 3,5 bilhões de anos atrás. A vida, na
forma de microorganismos, tornou-se uma força poderosa em
um mundo onde anteriormente apenas a química e a física
haviam operado. A segunda revolução foi a origem dos
organismos multicelulares, há cerca de meio milhão de anos. A
vida tornou-se complexa, as plantas e os animais em miríades
de formas e tamanhos evoluíram e interagiram em
ecossistemas férteis. A origem da consciência humana, em
alguma época nos últimos 2,5 milhões de anos, foi o terceiro
evento. A vida tornou-se ciente de si própria, e começou a
transformar o mundo da natureza com seus objetivos próprios.
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Tipo de macaco africano, Cercopithecus aethiops pygerythrus, identificado por
uma mancha de cor ferruginosa na base da cauda. (N. do T.)
Nacional Amboseli, no Quênia. Para o observador casual dos
macacos, surtos de atividades, as quais são muitas vezes
agressivas, podem parecer um caos social. Entretanto,
conhecendo os indivíduos, conhecendo quem está relacionado
com quem, e conhecendo a estrutura das alianças e rivalidade,
Cheney e Seyfarth são capazes de dar sentido ao caos
aparente. Eles descrevem um encontro típico: “Uma fêmea,
Newton, pode investir sobre outra, Tycho, enquanto disputa
uma fruta. Quando Tycho se afasta, a irmã de Newton, Charing
Cross, corre para ajudar a espantá-la. Enquanto isso,
Wormwood Scrubs, outra irmã de Newton, corre para a irmã de
TVcho, Holborn, que está se alimentando afastada uns 180
metros, e a golpeia na cabeça.”
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1. OS PRIMEIROS HUMANOS
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Lewin, Roger, The Origin of Modern Humans (Nova York: W. H.
Freeman, 1993).
Bahn, Paul, e Jean Vertut, Images of the Ice Age (Nova York:
Facts on File, 1988).
7. A ARTE DA LINGUAGEM
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8. A ORIGEM DA MENTE
Jerison, Harry, “Brain Size and the Evolution of Mind”, The Fifty-
ninth James Arthur Lecture on the Human Brain (New York:
American Museum of Natural History, 1991).