Você está na página 1de 2

DN, http://www.dn.pt/bolsa/interior.aspx?

content_id=1803303&page=-1

Portugal vai demorar 20 anos para regularizar dívida


2011-03-11 1803303

por LUÍS REIS RIBEIRO 11 Março 2011

Redução do rácio da dívida pública até aos 60% do PIB, como impõe o Pacto de Estabilidade da Zona Euro,
só acontecerá em 2030.
A crise das contas públicas e, por arrasto, da economia portuguesa como um todo, vai demorar quase 20
anos a resolver. A austeridade orçamental e as fraquezas estruturais da economia acumuladas nas últimas
décadas vão prolongar o ajustamento das contas até 2030.
Depois de resolvida a questão do défice, em 2012 ou 2013, faltará resolver o da dívida pública. O que, na
lógica dominante, é o mesmo que dizer: faltam mais medidas de austeridade orçamental e económica para
além do que já foi anunciado e prometido.
De acordo com um estudo do banco Nomura, uma das maiores instituições financeiras do mundo, o
principal problema do país é o fraco potencial de crescimento, um perfil que o torna especialmente
vulnerável aos impactos negativos das medidas de austeridade impostas pelo Governo em coordenação com
alguns parceiros sociais.
BimalDharmasena, economista daquele banco, explica, no extenso estudo a que o DN teve acesso, que
Portugal tem "um problema cumulativo de crescimento estrutural e de competitividade internacional, mas
também questões relacionadas com o défice privado e público". Como tal, assumindo que o país abraça
novas medidas de austeridade (como já diz o Governo - ver em baixo) e traduza na prática as reformas
estruturais enunciadas, o rácio da dívida pública vai demorar até 2030 até ficar em linha com o que é exigido
no Pacto de Estabilidade: 60% do Produto Interno Bruto (PIB).
Diz BimalDharmasena: Portugal "enfrenta um desafio significativo" de 2012 em diante: vai precisar de um
"aperto orçamental" adicional "entre 8% a 10% do PIB para alcançar um rácio de 60% em 2030.
Aos preços actuais, o analista do Nomura está a pedir mais medidas do lado da receita e da despesa num
valor a oscilar entre 13,8 mil milhões de euros e 17,2 mil milhões nos próximos anos.
Mas por que razão não chegam as medidas já conhecidas, como o aumento de impostos, o corte de apoios
sociais ou a redução de salários? O Nomura explica que "o aumento das taxas de juro combinado com um
crescimento do PIB fraco ou mesmo em declínio provoca um efeito de bola de neve no problema da dívida".
Basicamente, Portugal tem um potencial de crescimento tão fraco, que o serviço da dívida (juros sobre os
empréstimos contraídos) crescerá sempre a um ritmo superior, tornando a retoma e o financiamento da
actividade insustentáveis. Ou seja, para sair desta "bola de neve", os portugueses terão de financiar a redução
a dívida pública com mais austeridade (com maiores subidas do saldo orçamental primário (sem juros). Se
não o fizerem, estima o banco japonês, o rácio da dívida, que deverá "rondar" 95% do PIB em 2013,
continuará a subir paulatinamente até cerca de 110% do PIB em 2030, à custa do fraco crescimento e das
taxas de juro cada vez mais elevadas.
Quanto maior for o rácio da dívida, mais os "mercados" irão discriminar o país no acesso ao crédito e mais
os portugueses terão de pagar esse custo com menos consumo, menores salários e menos empregos.
Até ao momento, sabe-se que Portugal subiu a parada da austeridade em quase 50%: no Outono de 2010,
Bruxelas projectava uma redução do défice de 1,4% do PIB ao ano; de acordo com os planos actuais, o
ritmo de consolidação já vai em 2,1% ao ano, um dos maiores da zona euro, a seguir à Grécia, Irlanda e
Espanha.

Você também pode gostar