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Tópico IV – Bolsonarismo x Religião

É fato que o ano de 2018 se iniciou com uma intensa polarização e instabilidade
política no cenário brasileiro, e terminou com a vitória eleitoral do atual presidente da
República, Jair Messias Bolsonaro. Marcada por uma infinidade de discursos de ódio,
polêmicas e estratégias desonestas e controversas, a campanha política de Bolsonaro se
aproveitou do forte antipetismo da época para ganhar forças através de discursos
genéricos contra a corrupção, disparos em massa de fake News, louvor a pautas
armamentistas e promessas de grandes concessões para empresários do setor varejista e
rural. Entretanto, além de todas essas questões, Jair teve o apoio quase absoluto das
instituições mais influentes do país: as igrejas cristãs.
Bolsonaro fundamentou sua campanha em alguns pilares, e um dos mais
importantes foi a apropriação do cristianismo, fator determinante para que seu nome
fosse ganhando notoriedade. No entanto, o que há de mais assustador nesse fenômeno é
que o bolsonarismo não apenas se associou às máquinas socio-religiosas – comandadas
por grandes pastores como Edir Macedo, Silas Malafaia e Valdomiro Santiago –, ele na
verdade foi construído a partir delas. Ou seja, é nesse contexto de articulação cristã que
se deve reconhecer que nunca na história do Brasil um governo se assumiu
“extremamente cristão” e, portanto, essa era a oportunidade dessas instituições de
abraçar um candidato com discursos e objetivos tão convergentes (pelo menos a
princípio).
Segundo o teólogo brasileiro Fabio Py, a presença do bolsonarismo entre
evangélicos e católicos conservadores é, na verdade, uma consequência do afastamento
e da recusa de incluir a religião no debate público. Porque se essa inclusão não é feita,
ela não é discutida, e se não há discussão, também não é apresentada nenhuma outra
narrativa senão aquelas criadas pelas grandes corporações religiosas. A esquerda e
outros grupos de reflexão mais crítica ignoraram os religiosos, especialmente os
evangélicos. Eles foram e ainda são quase sempre tratados como alienados e peões do
senso comum, e isso foi um erro grave, pois assim o maquinário socio-religioso
conseguiu fazer com que o bolsonarismo entrasse com mais facilidade nas áreas
periféricas.
Py traz em seu estudo um termo interessante, o Cristofascismo, que seria
pautado numa forma de governo que pratica ativamente o ódio ao diferente, desprezo
pelos pobres e defesa da idealização da família cristã. Portanto, o Cristofascismo pode
ser descrito como a teologia do poder autoritário, porque é através da plataforma e da
linguagem cristã que se construíram os métodos de ação do governo. Embora forças de
tensão política como a bancada evangélica sempre tenham se articulado pra tirar
proveito de todos os governos então vigentes, com Bolsonaro foi diferente, mais
intenso, uma vez que a vitória de Jair poderia ser a ponte para a integração total desse
maquinário religioso e suas ideologias com o poder político.

Referências Bibliográficas:
PY, Fábio. A cristologia cristofascista de Jair Bolsonaro, Carta Maior, São Paulo, 2019.

FACHIN, Patrícia; SANTOS, João Vitor. Cristofascismo, uma teologia do poder autoritário: a
união entre o bolsonarismo e o maquinário político socio-religioso. Entrevista especial com
Fábio Py. São Paulo, 2020. Disponível em:
http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/600150-cristofascismo-uma-teologia-do-
poder-autoritario-a-uniao-entre-o-bolsonarismo-e-o-maquinario-politico-socio-religioso-
entrevista-especial-com-fabio-py

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