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Usar e matar animais: moralidade

comum, utilitarismo e direitos dos


animais
PROF. ALCINO EDUARDO BONELLA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
Ética de usar e matar animais para fins
humanos
 1) Fatos (ver)
 2) Avaliação: Moralidade do senso comum (julgar)
 3) Proposta Prática Bem-estarista (agir)
Ética de usar e matar animais para fins
humanos
 1) Fatos (ver)
 2) Avaliação: Moralidade do senso comum (julgar)
 3) Proposta Prática Bem-estarista (agir)
 4) Reavaliação crítica 1: Moralidade utilitarista (julgar)
 5) Proposta Prática Utilitarista (agir)
Ética de usar e matar animais para fins
humanos
 1) Fatos (ver)
 2) Avaliação: Moralidade do senso comum (julgar)
 3) Proposta Prática Bem-estarista (agir)
 4) Reavaliação crítica 1: Moralidade utilitarista (julgar)
 5) Proposta Prática Utilitarista (agir)
 6) Reavaliação crítica 2: moralidade de direitos (julgar)
 7) Proposta Prática Abolicionista (agir)
1) Fatos (ver): quem é o animal
sensciente
 Mamíferos, aves e provavelmente peixes, ao menos, são
seres significativamente senscientes, ou seja,

 possuem capacidades de sentir dor e sofrimento, assim


como de sentir prazer e satosfação;
&
 possuem interesses em não sofrer e em não sofrer danos, nos
mesmos sentidos que nós, que somos mamíferos também.
1) Fatos (ver): o que fazemos a eles

 bilhões de animais são criados e mortos, anualmente, na


indústria alimentar tradicional (onívora);

 frangos, porcos e vitelos (e outros), sob forte confinamento,


não chegam sequer a usufruir espaço para se movimentar
decentemente ou usufruir a luz do sol;
1) Fatos (ver): o que fazemos a eles

 centenas de milhares são usados em experimentos


científicos, testes cosméticos, testes alimentares e ensino em
sala de aulas;
 Dezenas a centenas de milhares são mortos em caça e
pesca esportiva;
1) Fatos (ver): o que fazemos a eles

 centenas de milhares são usados em experimentos


científicos, testes cosméticos, testes alimentares e ensino em
sala de aulas;
 Dezenas a centenas de milhares são mortos em caça e
pesca esportiva;
 Outras práticas envolvem usar animais senscientes como
simples meios do interesse humano: para pele,
entretenimento (touradas, farras, rodeios, “vaquejadas”,
rinhas de galos ou luta de cães; outras festas populares;
animais de estimação).
1) Fatos (ver): alternativas

 - Os animais como alimento hoje: há normalmente


desconforto, dor ou aflição, além de matança precoce, em
larga escala; há a alternativa facilmente disponível da plant-
based diet (vegetarianismo);

 - Na experimentação com animais já há algumas


alternativas; há a alternativa de simplesmente não fazer
pesquisa danosa; há meios de diminuir o número - e melhorar
o modo de envolver - animais e isso não têm sido feito
substancialmente;
1) Fatos (ver): alternativas

 há muitas e fáceis alternativas ao uso danoso no ensino


(substituição por recursos sem animais; estudo de campo
sem dano; residência médico-veterinária à moda humana)

 Nosso modo de agir e nossas regras sociais e legais humanas


protegem parcialmente os animais
(animais de estimação X animais de criação; o que aprendemos
com a pesquisa com seres humanos vulneráveis; o que sentimos e
pensamos quando a ficção nos coloca na posição animal similar)
2) Avaliação (julgar): A moralidade do
senso comum vigente
 Aceitamos os animais como seres capazes de sofrer e merecedores
de consideração;
 Condenamos causar sofrimento e morte a certos animais (mas não
à outros), ou causar sofrimento em excesso (“desnecessários”);
 Condenamos fortemente em especial a crueldade com animais
(ex. popular: trancafiar cães em quartinhos escuros; matar gatos
por brincadeira – ou por irritação pela sua presença).

 Comumente e cada vez mais, nossas leis condenam causar


sofrimento e apoiam o bem estar animal (e avançam mais ainda...)
2) Avaliação (julgar): Moralidade do
senso comum disponível

 Se a regra de ouro (de “não querer/fazer aos outros o que não se


quer a si na posição deles) é essencial, e se a aplicamos aos
animais, então é errado causar danos aos animais (ex.: os que não
queremos aos nossos pets)

 Se a regra contra causar danos - e a favor de se reparar danos, se


os causarmos (Direito civil comum) – é essencial, e se a aplicamos
aos animais, então é errado causar danos (ex.: à integridade física;
à liberdade; à continuidade da vida)
3) Proposta Prática Bem-estarista (agir)

 Conclui-se que:
 as práticas humanas mencionadas são problemáticas
moralmente e devem ser repensadas e modificadas

 Não deve haver crueldade no uso e abate de animais


(mas pode haver o uso e o abate se isso for benéfico para
a humanidade, e for feito com o mínimo de sofrimento
possível)
4) Reavaliação 1

 Não comparamos PETs e outros animais; não


comparamos animais conosco: mas por que?

 Não vemos os animais como portadores de direito à


igual consideração: mas por que?

 “Necessário” ou “desnecessário” depende da utilidade


para a humanidade?
4) Reavaliação 1: A moralidade utilitarista
(julgar)

 O sofrimento: “o importante não é se eles pensam, ou falam,


mas se sofrem” (Bentham).

 O que mais importa, pensando racionalmente e moralmente,


é minimizar o sofrimento/maximizar o bem estar, escolhendo
a alternativa de agir que gere o máximo bem estar imparcial
ou neutro;
4) Reavaliação 1: A moralidade utilitarista
(julgar)

 Pensar moralmente, sobre as ações ou regras de conduta


mútua, envolve:

 Incluir a todos os seres capazes de sofrer;


 Informar-se e olhar as consequências atuais e/ou prováveis;
 calcular o valor esperado, em termos de maior ou menos
bem-estar,
 e adotar a ação ou regra que tem o maior valor esperado.
5) Proposta Prática Utilitarista (agir)

 conclui-se que:
 as práticas mencionadas acima são inaceitáveis e devem
ser SIGNIFICATIVAMENTE MODIFICADAS.
 Não deve haver sofrimento no uso e abate de seres
senscientes (como os animais) – e se isso não é possível,
deve-se abolir tais coisas;
5) Proposta Prática Utilitarista (agir)

 Prima face, por exemplo, devemos ser vegetarianos; abolir


todo uso recreativo que cause sofrimento ou dano; abolir o
uso para testes de cosméticos e temperos; diminuir ao
máximo o uso de animais em ensino e pesquisa para a saúde
humana ou animal;
6) Reavaliação 2

 Uma questão crítica: “será que explorar sem sofrimento, e tirar a


vida de um ser sensciente de forma rápida e indolor, causa,
ainda assim, algum dano? E seria, assim, errado?

 Exemplo: Um animal de experimentação que vivesse sem


sofrimento e morresse sem dor, estaria sendo prejudicado? E se
de tal uso resultasse maior benefício para todos, do que sem
esse uso, seria ainda assim errado?
6) Reavaliação 2: duas respostas
antagônicas (?)
 Peter Singer: “Não: não haveria dano na vida e morte sem sofrimento,
neste caso; e, se além disso, for agregadamente e imparcialmente útil
usar e matar animais, então não seria errado”. (Por exemplo: talvez a
experimentação animal (i) sem sofrimento, (ii) efetivamente útil a
todos, e (iii) para a qual não há alternativa que consiga o mesmo,
deva ser aceita”.

 Tom Regan: “Sim: há dano aos outros interesses vitais (integridade


física, liberdade natural e continuar vivendo), especialmente há o
dano da perda do futuro (e do que ele contém); e, se há danos a eles,
mesmo se fosse útil para gerar mais benefícios agregados, explorar e
matar animais é errado. (Logo, mesmo a experimentação animal nos
termos acima – é errada e não deveria ser aceita).
6) Reavaliação 2: A moralidade dos
direitos individuais (julgar)
 Seres com tais interesses são sujeitos-de-uma-vida-psíquica –
que explica o dano que sofrem.

 Sujeitos-de-uma-vida-psíquica, em situações como as citadas


deveriam ter proteção, como nós;

 A proteção significativa só ocorre com reconhecimento de


direitos individuais (ao menos à vida, integridade física e
psíquica) e de valor inerente
7. Proposta Prática Abolicionista

 Direitos individuais independem do benefício para terceiros,


ou do “maior benefício agregado”; eles nos protegem da
exploração e morte;
 Mamíferos, aves e peixes que são sujeitos-de-uma-vida-
psíquica têm (“devem ter”) direitos individuais à vida,
integridade corporal e liberdade natural reconhecidos por
nós, humanos
7. Proposta Prática Abolicionista

 Conclui-se disso, se aceito:


 As práticas mencionadas acima são inaceitáveis e
devem ser ABOLIDAS;
 Não deve haver NENHUM uso ou abate de mamíferos
(incluindo humanos, obviamente), aves e peixes que
desrespeite seus direitos;
7. Proposta Prática Abolicionista

 Logo, devemos acabar com o uso, se for injustificado nos


termos dos direitos individuais, de outros animais: devemos
ser vegetarianos; abolir o uso recreativo; abolir o uso para
testes de cosméticos; E ABOLIR o uso em experimentos
para a saúde humana ou animal, (exceto o que for para
o bem do animal pesquisado, ou não for danoso a ele).
CONCLUSÃO GERAL 1

 Com o que sabemos:


 (1) sobre os animais,
 (2) sobre nossas práticas humanas atuais;
 (3) sobre alternativas, e
 (4) sobre a moralidade (do senso comum, do utilitarismo e dos direitos),
 Concluímos que:
 as práticas mencionadas não são mais aceitáveis (são
especistas)
 e devem ser significativamente modificadas ou abolidas.
CONCLUSÃO 2

 Utilitaristas defendem que as práticas sejam


significativamente reformadas para que não envolvam
sofrimento e morte injustificados (em termos de
alternativas para o maior bem), e então o uso e abate
precoce devem acabar, mas não as que forem livres
de sofrimento, geram provável maior bem e não há
alternativas disponíveis para isso;
CONCLUSÃO 3

 Os não-utilitaristas baseados em direitos individuais


defendem que as práticas conhecidas sejam todas
abolidas: isso implica acabar com a exploração e
reconhecer direitos individuais aos animais; temos de ser
veganos; temos de acabar com toda a experimentação
animal, inclusive, além, obviamente, de todas as outras
que não têm justificativa nem utilitária (há alternativas)
nem em termos de direitos dos animais.
Obrigado,
Alcino
(abonella@gmail.com)

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