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GRAMÁTICA

Morfossintaxe: Verbo – Segunda Palavra Nuclear

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MORFOSSINTAXE: VERBO – SEGUNDA PALAVRA NUCLEAR

Na aula passada, foi vista a primeira palavra nuclear, qual seja, o substantivo. Foi visto que
o substantivo funciona como núcleo dos termos, além de se abordar os termos essenciais,
integrantes e acessórios de uma maneira articulada. Foi visto, ainda, que existem 4 palavras
que estabelecem com o substantivo relação de subordinação, quais sejam, artigo, adjetivo
(ou locução adjetiva, que é sempre perifrástica), numeral adjetivo e pronome adjetivo. Essas
classes gramaticais subordinadas ao substantivo são adjuntos adnominais (termos acessó-
rios, termos importantes).

Qual é a segunda palavra nuclear na língua portuguesa? O verbo, o qual será estudado
nesta aula. Inicialmente, será analisado o texto a seguir.

Texto
A dengue é estudada por cientistas do Brasil e é considerada hoje o maior problema de
saúde pública dos países tropicais. As condições climáticas lhe são favoráveis O mosquito
transmissor da doença prolifera em ambientes com temperatura e umidade elevadas. Daí por
que no verão, período de calor forte e chuvas abundantes, ocorre o maior número de casos.
(Correio Braziliense, 5/3/2002)

O redator utilizou duas estruturas verbais interessantes no texto: “é estudada” e “é con-


siderada”, as quais retomam “a dengue”. Outro detalhe é que o advérbio “hoje” está modi-
ficando o sentido da estrutura verbal “é considerada” – o “hoje” faz referência ao tempo em
que o redator redigiu o texto, isto é, em 2002. O advérbio “hoje”, portanto, possui função
dêitica, ou seja, uma marca temporal de quem redige o texto. Nos textos haverá marcas tem-
poral, espacial e subjetiva, as quais são chamadas de marcas dêiticas. “Hoje”, no texto, não
faz referência ao dia em que o leitor lê o texto, mas ao dia em que o redator produziu o texto.
Portanto, marcas de quem redige ou de quem fala são chamadas de marcas dêiticas.
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O advérbio “hoje” está modificando a estrutura verbal “é considerada o maior problema


de saúde pública dos países tropicais”. A frase “as condições climáticas lhe são favoráveis”
pode ser escrita assim: “as condições climáticas são favoráveis a ela” ou “são favoráveis à
dengue”. Na aula passada, foi visto que o pronome pode acompanhar ou substituir o subs-
tantivo. No caso, o pronome “lhe” substitui a palavra “dengue”.
Agora, serão analisados os itens a seguir, sendo feitas algumas considerações.

(1) Em “A dengue é estudada por cientistas do Brasil” (linha 1), registrou-se verbo
de ligação.
Esse item está certo ou errado? Sabe-se que os verbos de ligação são, dentre outros,
os seguintes: ser, estar, parecer, continuar, ficar, virar, andar, tornar-se, cair. Seria possível
que alguém pensasse que o “é” seria, na frase, verbo de ligação, mas esse raciocínio está
incorreto. Analisando cada palavra da frase: “A” é artigo; “dengue” é substantivo; “é” é verbo;
“estudada” é verbo; “é estudada” é locução verbal e caracteriza uma voz passiva (a dengue
não pratica a ação do verbo estudar: a dengue não estuda, a dengue é estudada).
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Na frase “Cientistas do Brasil estudam a dengue” as palavras são assim classificadas:


“Cientistas” é substantivo; “do Brasil” é locução adjetiva que está caracterizando o substan-
tivo “cientistas”.

(2) O termo “do Brasil” (linha 1) exerce função sintática de adjunto adverbial de lugar.
Nesse caso, o termo “do Brasil” não exerce a função de adjunto adverbial, pois esse
termo está subordinado a cientistas (os cientistas são brasileiros).

A locução adjetiva é perifrástica, ou seja, é formada por mais de uma palavra, além de
ser preposicionada e de estar subordinada ao substantivo (para dar a ele uma qualidade ou
um atributo).

Analisando a estrutura sintática, percebe-se que o termo “Cientistas do Brasil” está atu-
ando como sujeito, sendo que o núcleo do sujeito é o substantivo “cientistas” e a locução
adjetiva “do Brasil”, que possui o valor de “brasileiros”, funciona sintaticamente como adjunto
adnominal e não como adjunto adverbial de lugar.
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A palavra “estudam” é um verbo transitivo direto e está concordando com o núcleo do


sujeito (cientistas). Já o termo “a dengue” é o complemento verbal, chamado de objeto direto,
sendo que o núcleo desse objeto direto é a palavra “dengue” e o artigo “a” é considerado um
adjunto adnominal.
Na transposição da voz ativa para a voz passiva, é necessário observar alguns detalhes:
o objeto direto (no caso, “a dengue”) quando transposto para a voz passiva passa a ser o
sujeito; quando se transpõe o verbo transitivo direto (“estudam”) para a voz passiva, ele
passa a concordar com o sujeito, sendo acompanhado por um verbo auxiliar na voz passiva.

Na voz passiva, o verbo “ser” não é um verbo de ligação, mas apenas um verbo auxiliar
na locução verbal formadora dessa voz passiva.
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Na voz passiva, haverá o agente da passiva (no caso, “por cientistas do Brasil”). Por uma
questão lógica, o agente da passiva estará presente apenas na voz passiva.

O verbo é a segunda palavra nuclear na língua portuguesa. Todo verbo será núcleo do
predicado, exceto o verbo de ligação (não adianta memorizar os verbos de ligação, é neces-
sário entendê-los nas construções fraseológicas apresentadas em textos diversos).

Não se pode confundir locução adjetiva e locução adverbial. Por exemplo, na frase “Ele
vive no Brasil”, o termo “no Brasil” é uma locução adverbial.

A frase “Ele vive no Brasil” poderia ser registrada como “Ele vive aqui”. Qual a diferença
entre “aqui” e “no Brasil” do ponto de vista morfológico? “Aqui” é um advérbio (classe gramati-
cal invariável). Só que, em vez de traduzir a ideia de lugar com apenas uma palavra, traduziu-
-se a ideia de lugar com preposição, artigo e substantivo (preposição “em” que se acoplou ao
artigo “o”, que está acompanhando o substantivo “Brasil”). Preposição, artigo e substantivo
juntos possuem o valor de locução adverbial (e não locução adjetiva). A locução adjetiva está
subordinada ao substantivo ou à palavra com valor substantivo, já a locução adverbial está
subordinada ao verbo. Assim: “eles vivem onde?”, “eles vivem no Brasil” – trata-se, portanto,
de um adjunto adverbial de lugar.
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Afinal de contas, o termo “no Brasil” é um adjunto adverbial ou uma locução adverbial?
Locução adverbial refere-se ao ponto de vista morfológico, já adjunto adverbial refere-se ao
ponto de vista sintático.
Além disso, o verbo “vivem” é intransitivo, pois não exige objeto direto ou indireto. Verbo
intransitivo não é apenas aquele que tem sentido completo (o sentido é consequência das
relações morfossintáticas), na verdade, o verbo intransitivo é aquele que possui regência
completa, isto é, não exige complemento verbal (objeto direto ou indireto) tampouco é verbo
de ligação.

A locução adverbial possui o seguinte conceito:


• formada por mais de uma palavra (perifrástica);
• preposicionada – isso será importante para entender o fenômeno da crase;
• subordinada ao verbo – o que não significa estar ao lado do verbo;
• traduz circunstância – como, p. ex., tempo, modo, acréscimo, concessão, dire-
ção, causa;

Pergunta-se: o pronome “lhe” não faz referência apenas a pessoas? Geralmente o pro-
nome “lhe” faz referência à pessoa, mas estudiosos defendem que esse pronome “lhe”
também pode fazer referência à coisa, desde que não exista ambiguidade.

Sobre o verbo, é necessário dominar alguns detalhes. O primeiro detalhe é a regência:


os verbos transitivos diretos, indiretos, transitivos diretos e indiretos, e intransitivos serão
núcleos do predicado – por essa razão, a maioria dos predicados na língua portuguesa é
verbal. Há, contudo, uma exceção: o verbo de ligação não será núcleo do predicado, pois ele
possui apenas uma função conectiva.
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Sobre o verbo, é necessário dominar também a concordância, além de dominar a flexão


em relação ao modo e ao tempo e dominar a voz (se está diante de voz ativa, passiva analí-
tica ou sintética, ou reflexiva).

Sobre isso, vale destacar algumas situações importantes nas frases a seguir:
A dengue é mortal.
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Nessa frase, o “a” é um artigo; “dengue” é um substantivo; “é” é um verbo; “mortal” é um


adjetivo. Do ponto de vista sintático, “a dengue” é o sujeito, sendo que o núcleo do sujeito
é “dengue” e o artigo “a” é um adjunto adnominal; “é” é um verbo de ligação, que conecta o
sujeito ao predicativo, denotando estado, aparência, qualidade, característica; “mortal” é um
predicativo do sujeito.
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Observe que o verbo de ligação não é núcleo do predicado, por isso não se pode dizer
que esse predicado é verbal. O núcleo é um nome predicativo e, por isso, é chamado de pre-
dicado nominal.

Outra informação importante é a seguinte: nem sempre a função de predicativo é exer-


cida pelo adjetivo, isso porque a função de predicativo pode também ser exercida por um
substantivo, como na frase a seguir:

A dengue é um problema de saúde pública.


Nessa frase, o “a” é um artigo; “dengue” é um substantivo; “é” é um verbo; “um” é artigo
indefinido que está acompanhando o substantivo problema; “de” é uma preposição; “saúde”
é um substantivo; “pública” é um adjetivo; “de saúde pública” é uma locução adjetiva (equiva-
lente à “problema sanitário”).

Do ponto de vista sintático, “a dengue” é o sujeito, sendo que o núcleo do sujeito é


“dengue” e o artigo “a” é um adjunto adnominal; “é” é um verbo de ligação; “um problema de
saúde pública” é um predicativo do sujeito; “problema” é o núcleo do predicativo do sujeito;
“um” é adjunto adnominal; “de saúde pública” é um adjunto adnominal do núcleo do predica-
tivo do sujeito. O predicado é nominal, isso porque o verbo é de ligação, o qual jamais terá
função nuclear.
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A função predicativa pode ser exercida pelo adjetivo, pelo substantivo ou palavra com
valor substantivo. Contudo, às vezes até um advérbio pode ter função predicativa. P. ex., na
seguinte frase “Eles (sujeito) são (verbo de ligação) inofensivos (predicativo). Eles (sujeito)
sempre (adjunto adverbial de tempo) foram (verbo de ligação) assim (predicativo do sujeito).”
O advérbio “assim” possui, nessa frase, função predicativa, pois ele possui a função de reite-
rar ou reforçar “inofensivos”.
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Caso se use um pronome átono para retomar um predicativo plural, deve-se escrever, no
exemplo, “Eles sempre o foram” (o pronome deve ficar no singular). É errado escrever “Eles
sempre os foram”. Nesse caso, o “o” seria predicativo do sujeito, sendo que esse pronome
“o”, que retoma um predicativo representado por um adjetivo no plural, fica invariável.

Veja a seguir trecho de uma prova:


(Cebraspe) Nós é que acompanhamos a maçaranduba.
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Nesse caso, pergunta-se: há dois verbos e, portanto, duas orações? Não. Nem sempre o
verbo “ser” será um verbo de ligação, algumas vezes ele pode ser um verbo auxiliar, outras
vezes ele nem mesmo será um verbo. Nessa frase, o “é que” é uma partícula expletiva ou de
realce, exercendo a função de realçar o sujeito “nós” – vale observar que essa partícula não
possui função morfossintática, apenas função semântica (função de realce). O único verbo
nessa frase é o “acompanhamos”, que é verbo transitivo direto e que possui o objeto direto
“maçaranduba”. Se há apenas um verbo, há apenas uma oração.

Nem sempre os elementos da expressão expletiva “é que” vêm juntos, lado a lado. Às
vezes, um elemento vem de um lado e o outro elemento de outro. Veja o seguinte enun-
ciado da FCC:

(FCC) São em momentos difíceis que as pessoas devem reagir


Nesse enunciado, o erro é utilizar “são” (o correto seria “é”). “Em momentos difíceis” é
uma locução adverbial e, sintaticamente, adjunto adverbial de tempo; “as pessoas” é sujeito;
“devem” é verbo auxiliar. O “é” e o “que” são partículas expletivas, não devendo concordarem
com adjunto adverbial de tempo.
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�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Fernando Moura.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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