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INTRODUÇÃO À LÓGICA

Elaboração: Prof. Fernando Antonio C. Mendonça

UNIDADE 2 – TÉCNICAS DE DEMONSTRAÇÃO

2.1. Prova Direta


Ex.: Prove que o produto de três números consecutivos é múltiplo de 6.

1º caso: um dos três números é múltiplo de 6. Logo, o produto será múltiplo


de 6.

2º caso: nenhum dos três números é múltiplo de 6.


Sejam os três números x – 1, x e x +1.
Sobre a paridade desses números, temos duas possibilidades: I, P, I ou P, I, P.
Nos dois casos, haverá algum número par dentre os três. Logo, o produto dos
três números é múltiplo de 2.
x = 3k + r, r pode ser 0, 1 ou 2, k inteiro.
P = (x – 1).x.(x + 1) = x.(x² - 1) = (3k + r).(9k² + 6rk + r² - 1) = (3k+r).(3.m + r² - 1)
= 3k.(3.m + r² - 1) + r.(3.m + r² - 1) = 3n + 3mr + r³ - r = 3.(n+mr) + r³ - r.
Para r = 0: P = 3.(n+mr) + 0³ – 0 = 3.(n+mr)  P é múltiplo de 3.
Para r = 1: P = 3.(n+mr) + 1³ – 1 = 3.(n+mr)  P é múltiplo de 3.
Para r = 2: P = 3.(n+mr) + 2³ – 2 = 3.(n+mr) + 8 – 2 = 3.(n+mr) + 6 =
3.(n+mr+2)  P é múltiplo de 3.
Logo, em qualquer caso, P é múltiplo de 2 e de 3, e, como 2 e 3 são primos
entre si, P é múltiplo de 6.

Ex.: Se um número é múltiplo de 8 e 9, é múltiplo de 72, porque 8 e 9 são


primos entre si.
Dois números são primos entre si quando seu mdc é 1.
2.2a. Prova por contraposição (Prova Indireta)
Seja a condicional p → q. Ela é equivalente, na lógica, à condicional ¬q → ¬p.
A segunda condicional é chamada de contrapositiva da primeira.
p → q ⇔ ¬q → ¬p.

Ex.: Teorema: Dado qualquer inteiro n, se n² é par, então n é par. Prove pela
contrapositiva.

Resolução:
p: n² é par
q: n é par
Queremos provar que p → q.
A prova pela contrapositiva quer dizer que, se provarmos que ¬q → ¬p, está
provado que p → q.
¬p: n² não é par.
¬p: n² é ímpar.

¬q: n não é par.


¬q: n é ímpar.
Então, n é da forma: n = 2k + 1, k inteiro.
Logo:
n² = (2k + 1)² = 4k² + 4k + 1 = 2.(2k² + 2k) + 1 = 2.m + 1, m inteiro  n² é
ímpar
¬q → ¬p Verdadeiro.
Logo, provando pela contrapositiva, temos que: p → q (n² é par ⇒ n é par).

DESAFIO: PROVE NA FORMA DIRETA E NA FORMA INDIRETA POR


CONTRAPOSIÇÃO QUE, DADOS DOIS NÚMEROS REAIS NÃO-NEGATIVOS, A
MÉDIA ARITMÉTICA DELES É MAIOR QUE A MÉDIA GEOMÉTRICA.

2.2b. Prova por contradição (Prova Indireta)

Ou Redução ao absurdo, ou, do latim, reductio ad absurdum.

Ex.: Prove que existem infinitos números primos.


Resolução:
Suponhamos que existem finitos números primos. Existem n números primos:
p1, p2, p3, …, pn. Considere o número: M = p1.p2.p3. … .pn + 1. O número M não
é múltiplo de p1, nem de p2, nem de p3, nem de nenhum dos n (natural)
primos, porque, se x + y é múltiplo de a e x é múltiplo de a, então y deve ser
múltiplo de a.
Prova:
x = k.a
y ≠ k1.a = k2.a + b
x+y = k.a + k2.a + b = a.(k + k2) + b

x + y = m.a
k.a + y = m.a
y = m.a – k.a
y = (m – k).a = n.a.

Para a soma de dois números ser múltipla de certo número e uma das
parcelas for múltipla deste número, a outra deve ser também.
Como a soma p1.p2.p3. … .pn + 1 não é múltipla de nenhum dos n primos
conhecidos, então não existe somente n números primos.
2.3.5.7.11 + 1  não é múltiplo de: 2, 3, 5, 7 e 11.
2.3.5.7.11.13 + 1  não é múltiplo de: 2, 3, 5, 7, 11 e 13.

2.3. Condição necessária e condição suficiente


 Em uma condicional p → q, dizemos que p é condição SUFICIENTE para
q, e também dizemos que q é condição NECESSÁRIA para p.
 Em uma bicondicional p ↔ q, dizemos que p é condição NECESSÁRIA E
SUFICIENTE para q, e vice-versa.

Ex. 1: (CESPE – INPI – 2015) Tendo como referência a proposição P: “Em


outros países, seres vivos como microrganismos e animais geneticamente
modificados são patenteáveis, desde que não sejam humanos”, julgue o item
seguinte, acerca da lógica sentencial.

( E ) De acordo com a proposição P, em outros países, não ser humano é


condição necessária para que seres vivos, como microrganismos e animais
geneticamente modificados, sejam patenteáveis.

Resolução:
p: O ser vivo não é humano. V
q: O ser vivo pode ser patenteável. V
P: p → q Se o ser vivo não for humano, então pode ser patenteável. V
p: O ser vivo não é humano é condição SUFICIENTE para q.
q: O ser vivo pode ser patenteável é condição NECESSÁRIA para p.

Ex. 2: (CESPE – TCE/RN – 2015) Em campanha de incentivo à regularização da


documentação de imóveis, um cartório estampou um cartaz com os seguintes
dizeres: “O comprador que não escritura e não registra o imóvel não se torna
dono desse imóvel”.

A partir dessa situação hipotética e considerando que a proposição P: “Se o


comprador não escritura o imóvel, então ele não o registra” seja verdadeira,
julgue os itens seguintes.

( ) Um comprador que tiver registrado o imóvel, necessariamente, o


escriturou.

Ex. 3: (FGV – IBGE – 2016)

– Sem A, não se tem B

– Sem B, não se tem C

Assim, conclui-se que:

a) A é suficiente para B e para C

b) B é necessário para A e para C

c) C é suficiente para A e para B

d) A e B são suficientes para C

e) B é necessário para A e suficiente para C

ECC

2.4. Recíproca de uma sentença


Sejam as condicionais p → q e q → p. Essas implicações são recíprocas uma da
outra.
Se as duas forem verdadeiras, terá-se a Bicondicional.

Ex. 1: A recíproca de "Se ele ganhou na loteria, então ele tem muito dinheiro"
é "Se ele tem muito dinheiro, então ele ganhou na loteria"? Vale a
bicondicional, ou seja, as duas condicionais acima são equivalentes?
p → q: Se ele ganhou na loteria, então ele tem muito dinheiro.
q → p: Se ele tem muito dinheiro, então ele ganhou na loteria. (recíproca).
É verdadeiro, a recíproca é essa mesma.

A Bicondicional não vale, ou seja, p → q q → p. Prova disso:


p → q: Se ele ganhou na loteria, então ele tem muito dinheiro. V
q → p: Se ele tem muito dinheiro, então ele ganhou na loteria. F
p ↔ q F, não é Bicondicional.

Responda às mesmas perguntas nas questões abaixo (a recíproca foi


elaborada corretamente? A Bicondicional é verdadeira?):
Ex. 2: Todos os papas são santos e todos os santos são papas.
Ex. 3: Nenhum romano é filósofo e nenhum filósofo é romano.
Ex. 4: Para qualquer triângulo com lados a, b, e c, se a² = b² + c², então o
ângulo entre b e c mede 90°".

2.5. Existência e unicidade


Ex.: Prove que existe solução real para a equação x³ – 4x² + 3x + 8 = 0, e que
ela é única.

Prova: Testemos os seguintes valores para x: -2, -1, 0, 1, 2.

Afirmação: Existe solução real para a equação, que é x = -1, pois:

(-1)³ – 4.(-1)² + 3.(-1) + 8 = -1 -4.1 – 3 + 8 = -1 -4 -3 +8 = -8 + 8 = 0.

Existe um teorema de Polinômios que afirma o seguinte: se α é raiz do


polinômio P(x), então x – α é um dos fatores na decomposição de P(x).
Ex.: f(x) = x² - 3x + 2 = (x – 1).(x – 2).

x³ – 4x² + 3x + 8 = (x + 1).(x² - 5x + 8).

g(x) = x² - 5x + 8 > 0, pois o Δ < 0 e a = 1 > 0, g(x) > 0, para todo x real.

f(x) = x³ – 4x² + 3x + 8 = (x + 1).g(x)

g(x) > 0

Para x + 1 > 0, ou seja, para x > - 1.

f(x) = x³ – 4x² + 3x + 8 = (x+1).g(x) > 0

Para x + 1 < 0, ou seja, para x < - 1.

f(x) = (x+1).g(x) < 0.

Logo, não existe outro valor de x tal que x³ – 4x² + 3x + 8 = 0. Logo, a solução
x = - 1 é única.

2.6. Demonstração com auxílio de figuras


Área do triângulo; Área do paralelogramo; Área do trapézio; Área do losango.

Princípio: área do retângulo é base x altura.

Área do triângulo: metade da área do paralelogramo. Metade da área do


retângulo.

Área do paralelogramo: é igual à área do retângulo.

Área do trapézio: Base média x altura.

Área do losango: semiproduto das diagonais.

* 2.7. Prova pelo Princípio da indução matemática


1) Base da indução: a proposição é válida para algum natural específico n 0
(normalmente, n0 = 1).

2) Passo da indução:
a) Hipótese da indução: Suponha que a proposição é válida para algum
natural n = k.

b) Mostrar que, se o enunciado vale para n = k, então o mesmo


enunciado vale para n = k + 1.

Ex.: Prove que 22n – 1 é divisível por 3, ∀ n ∈ ℕ. Obs.: neste conteúdo e em


outros muito mais avançados, o 0 não é natural.

1) Base da indução:

n=1

22n – 1 = 22.1 – 1 = 22 – 1 = 4 – 1 = 3, que é divisível por 3.

2) Passo da indução:

a) Hipótese de indução: a proposição é verdadeira para n = k natural. Ou seja,


22k – 1 é divisível por 3.

Logo:

22k – 1 = 3m, m natural.

b) Queremos chegar ao resultado seguinte: 22.(k+1) – 1 é divisível por 3.

22k – 1 = 3m

Multiplicando ambos os membros da equação acima por 4, temos:

4.22k – 4 = 12m

2².22k – (1+3) = 12m

22k+2 – 1 – 3 = 12m

22.(k+1) – 1 = 12m + 3

22.(k+1) – 1 = 3.(4m + 1)

Fazendo 4m + 1 = c ∈ ℕ, tem-se que:

22.(k+1) – 1 = 3c
22.(k+1) – 1 é divisível por 3.

Por indução, provamos que 22n – 1 é divisível por 3, ∀ n ∈ ℕ.

2.7.a. Conjectura e Indução

Ex.: Prove que:

. .

. . .
Base da indução está feita acima.

Hipótese de indução (n = k):

. . . .( )
Tese: queremos chegar à seguinte igualdade:

. . . ( ). ( )

Partindo-se da hipótese:

. . . .( ) ( ). ( ) ( ). ( )
.( )
. . . .( ) ( ). ( ) ( ). ( )
. . . .( ) ( ). ( ) ( ). ( )

( )
. . . .( ) ( ). ( ) ( ). ( )

. . . .( ) ( ). ( )

Logo, por indução, está provado que a igualdade abaixo é verdadeira para todo n natural
não-nulo:

. . . .( )

2.8. Sofismas
Argumento ou raciocínio concebido com o objetivo de produzir a ilusão da
verdade, que, embora simule um acordo com as regras da lógica, apresenta,
na realidade, uma estrutura interna inconsistente, incorreta e
deliberadamente enganosa. São falsas verdades. São falácias.

Ex.: Se o amor é cego, e Deus é amor, então Deus é cego.

Ex.: Sofisma matemático:

16 – 36 = 25 – 45

16 – 36 + 81/4 = 25 – 45 + 81/4

4² – 2.4.9/2 + (9/2)² = 5² - 2.5.9/2 + (9/2)²

(4 – 9/2)² = (5 – 9/2)²

4 – 9/2 = 5 – 9/2

4 = 5.

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