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Segue a Leitura Crítica da Parte 02 de 05 do seu livro!

Espero que minhas sugestões, impressões e observações lhe sejam úteis na reescrita!

Muito obrigado pela confiança!

Newton Nitro

Naquele mesmo dia, no hospital de Piancó, doutor Fernando, o médico, deparou-se com mais um
caso estranho. Carlinho, um mendigo, depois de dias de náuseas insuportáveis, esvaiu-se em
vômitos até a morte, sem que o doutor pudesse sequer identificar a doença que o acometera,
diagnosticou apenas ser uma doença bacteriana. Dona Josefina da bodega, que foi a próxima a ser
atendida em consulta, soube da morte, lembrou-se da última vez que viu Carlos e comentou com
seu companheiro quando ainda esperava:

- Nossa! - Que pena, o Carlinho teve lá no meu bar ontiontem.

- É mesmo?

- Não, ontiontem não, foi tresontonte, isso, hoje é sábado, foi na quarta-feira.

- Ah, tá!

- Meu Deus! - Ele, sem dinheiro como sempre, me pediu um refrigerante e eu peguei um copo
sujo e dei a ele um resto que tava numa garrafa.

- Foi?

- Meu Deus! - Tô arrependida, podia ter dado um refrigerante novo pra ele. Podia ter servido
ele num copo limpo. - Que pena!

- É?

- Oxe! - Mas o bar tava num dia cheio, até o doutor Cálagos, que vai raramente, havia passado
lá, tomado seu ovo com pinga e bebido água.

- É?

- Pô! Eu tô falando aqui da minha dó com a morte do Carlinho e você só fala isso?

- É?

Essa linha narrativa da doença não prosperou muito ao longo da história. Veja se é
importante mesmo. Uma modificação interessante seria a doença criar Tarimbeiros, ou ser

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causada depois que um Tarimbeiro morde uma vítima.

Mais tarde, nos arredores da cidade, perto de um campinho de futebol improvisado, uma bola
lançada para fora dos limites fez um dos meninos que jogavam ir ao encontro de um corpo caído no
mato. O menino não se conteve com o que viu. Era um corpo de homem muito mutilado por feridas
em toda a sua extensão. Da cabeça aos pés, o corpo do homem apresentou-se em carne viva,
carcomido. O menino correu de volta ao campo gritando por socorro.

Quebra de parágrafo.

A pelada foi interrompida e todos correram ao encontro do menino. Fizeram uma roda em volta do
corpo arruinado. Todos ficaram muito assustados com o que viram.

Uma pequena mexida e um grunhido do homem provocaram a debandada dos meninos que o
rodeavam. Uma mulher que observou a estranha movimentação foi informada por um dos meninos
sobre o corpo caído no mato. A guarda municipal foi chamada ao local.

Quebra de parágrafo.

O homem ainda tinha vida e foi levado a presença do doutor Fernando no hospital da cidade. A
situação era muito estranha, pois as feridas eram incomuns, em verdade, pareciam arranhões, uns
menos e outros mais profundos na pele e, por vezes, na carne do homem, especialmente na cabeça
careca do moribundo. Havia, ainda, um triângulo de furos no lado esquerdo do pescoço do
moribundo, como se alguma coisa tivesse sido ali colocada e depois arrancada.

Doutor Fernando iniciou a assepsia pela limpeza com algodão e álcool diluído. O homem acordou e
gemeu de dor, mas sem pronunciar uma palavra inteligível. O homem tinha o rosto irreconhecível,
por conta das inúmeras feridas, mesmo assim o doutor tentou um diálogo:

- Qual o seu nome, meu caro?

- Herbert, Herbert Águia!

- O que aconteceu com você, quem fez isso?

- Me ajude, por favor, me ajuda.

- Calma! Vou te fazer umas perguntas, não precisa falar, mas dê duas piscadas quando a
resposta for sim e uma para não, ok, você entendeu?

O homem deu duas piscadas, avisando ter entendido.

- Você sabe quem fez isso com você?

Uma piscada.

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- Você sente muita dor?

Duas piscadas.

- Vou lhe dar um analgésico para dor, mas tente lembrar o que aconteceu.

Duas piscadas bem rápidas e o homem começou a se contorcer como se estivesse recebendo
grandes e alternadas cargas elétricas. Todos na sala tentaram segurá-lo, mas os espasmos foram
muito fortes, seguidos de grunhidos de dor. Ora muito contorcido, ora muito esticado, o homem
prosseguiu em desesperado desencontro corporal até soltar um grito e parar-se estático com os
olhos bem abertos e olhar fixo em direção ao teto.

- Sou Herbert Águia, professor! - Não deixa ele me buscar! - disse o homem, muito assustado.

- Quem vem lhe buscar, vir lhe buscar pra que? - indagou o médico, intrigado com aquele
comportamento.

- Meu senhor, ele sempre manda me buscar...- repetiu o moribundo.

Após um último e altíssimo grito clamando pelo senhor dele, o homem desmaiou. Doutor
Fernando ficou impressionado com a situação. Observando com mais atenção o corpo do homem,
abaixo do sovaco esquerdo o médico viu algo mexendo-se. Pareceu-lhe uma grossa larva verde ou
um inseto incomum. Com uma pinça, o médico segurou a larva e observou que o bicho parecia ter
dentes.

Quebra de parágrafo.

Eram pequenos dentes pontudos enfileirados como os de um peixe piranha. O inseto se contorceu e
não parou de abrir e fechar a boca como se estivesse mordendo o ar. O médico se interessou em
saber mais sobre aquele estranho inseto.

De repente, o homem mutilado acordou e deu com a sua mão um bote certeiro na mão do
médico que segurava a pinça com o inseto. O bote retirou o bicho da pinça e o moribundo o
amassou esfregando-o nas duas mãos. Nada restou do inseto, a não ser uma massa verde
amarronzada que escorreu pelas mãos do homem, quando ele dizia:

- Cuidado! - Isso é horrível! - Mate, mate... - disse o homem até desmaiar novamente.

Doutor Fernando recomendou que o homem ficasse no hospital até o dia seguinte, quando, pela
manhã, ele poderia voltar a analisar o caso e tentar entender o que acontecera com aquele
moribundo.

Mesmo internado em quarto apartado no hospital, na manhã seguinte não houve como o médico
continuar sua análise, porque o homem não estava no quarto, aparentemente havia fugido do

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hospital, sem deixar rastos.

No dia seguinte, o padre Ernesto esteve no hospital a espera do doutor Fernando.

- Doutor Fernando, o que aconteceu aqui ontem de tão diferente?

- Padre, chegou aqui um homem todo mutilado, parecia arranhado ou mordido, não sei bem.

- Sabe quem era?

- Ele disse que se chamava Herbert Águia.

- Nossa! - Eu o conheci, ele esteve na igreja e se apresentou. – Veio a mando do bispo


Firmino.

- Pois é! – É esse mesmo.

- Mas o que aconteceu?

- Bom! - Como eu disse, ele tava todo mutilado, cheio de arranhões. - Tinha um bicho estranho
grudado no corpo dele, parecia um inseto, mas tinha pequenos dentes, na verdade, duas fileiras de
dentes, duas arcadas, de dentes bem afiados, parecia uma piranha, mas era um inseto, ou uma larva
de dentes, sei lá!

- Você acha que o bicho foi quem arranhou ou mordeu ele?

- Não sei...- Talvez, sim.

- Cadê o bicho?

- Padre, o homem tava desmaiado, mas acordou, me tirou o bicho da pinça e amassou com a
mão.

- Como assim, acordou?

- Padre, ele não dizia coisa com coisa.

- O que ele disse?

- Padre, ele falava, mas não dava pra entender direito. - Eu acho que ele dizia que tinha um
chefe, um senhor que viria buscá-lo.

- Um senhor, que senhor?

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- Não sei padre, ele repetiu isso algumas vezes, disse para não deixarmos o senhor dele vir
buscá-lo. - Acho que ele estava delirando de dor. - Ele devia estar com muita dor, porque tava
todo lascado.

- Lascado, mas fugiu...

- Pois é! - Ele não está mais aqui. - Não sei pra onde foi. - Disse o pessoal do hospital que ele
saiu daqui correndo, mesmo com pouca roupa.

- Pobre, Águia, começou mal sua missão. – Você acha que o dr. Cálagos tem alguma coisa a
ver com isso?

- Não sei, mas por que teria?

- Também não sei.

Toda essa passagem ficou interessante, mas você precisa separar ela do resto da narrativa,
em um capítulo a parte. Essas seriam as partes onde você usaria um Narrador Onisciente.

Entretanto, logo em seguida, crie um capítulo para os seus Protagonistas POV (Cálagos,
Sofia e Herbert). A história é deles, serão eles que carregarão a narrativa e farão com que
seu leitor se envolva emocionalmente com a história.

Insira um Capítulo Aqui.

CAPÍTULO X - CÁLAGOS

Na manhã do outro dia, dr. Cálagos apareceu em Piancó e ficou parte da manhã sentado no
banco da praça sob o sol. Já próximo das onze horas dirigiu-se ao bar do restaurante de dona
Josefina.

Narre de dentro do POV do Cálagos. Recomendo uma Cena com o Cálagos indo ao seu
laboratório e descobrindo que Herbert fugiu. Ele pode ficar colérigo e discutir com seu
criado Um.

Trabalhe melhor o Cálagos com CENAS onde ele AGE, fala, sente, pensa, etc. Explore mais
a sua psicologia (Seu ódio da humanidade, sua filosofia, sua crítica da raça humana, etc.).
Você pode aprofundar mais no Cálagos, e usar ele como uma forma de crítica social da
humanidade. Acrescentará uma nova camada para a sua história e o leitor irá agradecer!

- Bom dia!

- Oi dotô! - Tudo bem?

- Tudo, alguma novidade?

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- Nada não, só um cabra que apareceu no hospital todo lenhado de mordida.

- Mordida, mordida de que?

- Ninguém sabe não, o dotô Fernando não sabe não. - O senhor quer sua bebida?

- Ah, sim! - Claro, pode fazer.

- E onde está o homem?

- Fugiu.

- Alguém sabe pra onde ele foi?

- Não, ele desapareceu.

- Interessante...

- Pois é, coisa estranha, né?

- Preciso ir. - Muito obrigado, disse Cálagos após engolir sua bebida, tomar meio copo d’agua,
pagar e sair da bodega.

- Até mais ver, dotô.

- Até, fique com o troco.

Após a saída apressada de Cálagos do restaurante, Renan, o balconista, fez o recolhimento de


todos os copos usados ainda remanescente no balcão e como sempre, preguiçoso e sedento,
bebeu a água restante de dois deles. Dona Josefina não estranhou a pressa de Cálagos, afinal ele
não era muito de longas conversas, além de ser muito ocupado.

Não saia do POV de Cálagos. E coloque seus pensamentos diretos, rem reação ao que ouviu.
Filtre essa Cena pela visão do Cálagos.

No centro, Um e Dona receberam um Cálagos ainda muito indignado e nervoso.

- Seus idiotas! - O homem fugiu, ainda não o encontraram. Espero que isso não me cause
problemas.

- Desculpa, senhor, mais uma vez.

- Imbecis! - Voltem ao trabalho.

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- Sim, senhor.

O acontecimento da fuga, somado às ameaças de Zeiton, fizeram com que Cálagos


intensificasse seus experimentos. O sucesso de seu projeto dependia do êxito na regeneração.

Já ouve outras fugas antes? O Cálagos não iria investigar o porque o Herbert fugiu? Ele não
usaria de TODOS os seus esforços para capturar Herbert? A reação dele aqui não ficou
plausível, ao meu ver.

Ele seguiu primeiro para a sala da linha de processamento da produção do sumo regenerativo. Lá
ele confirmou a sequência correta. Em um grande tanque estava a pasta oriunda de parte da
moedura dos insetos substanciados e nela era acrescentada a “Fórmula-S”, assim denominada por
Cálagos.

Quebra.

Tratava-se da materialização da tese de doutorado defendida por ele, na qual células de ciclo
rápido de humanos e de lagartos eram submetidas a ação controlada de carcinógenos, que as
modificava geneticamente para o aumento de seu processo reprodutivo.

Quebra.

A sua principal descoberta foi o controle dos agentes oncopromotores, de forma a não permitir a
desorientação da altíssima reprodução celular, mantendo-se individualizado e igualitário o DNA das
células sucessoras.

Quebra.

Após a pasta ser enriquecida com a Fórmula-S, nela era derramada água morna, enchendo
completamente o tanque. A mistura era energizada por correntes alternadas de alta voltagem e baixa
amperagem, que estimulavam o bioeletromagnetismo das células modificadas. Encerrada a
energização, a mistura era centrifugada em baixa rotação até resultar um líquido denso e
homogêneo: o sumo regenerativo.

Toda essa explicação científica não combina muito com o lance sobrenatural que permeia a
narrativa. Acho que você precisa se decidir se é sobrenatural ou se é uma narrativa de
alienígenas ou seres dimensionais querendo invadir a terra. Ao ler ficou muito ambíguo. É
magia ou ciência avançada? Os portais (que só apareceram no começo da história), são
mágicos ou não? Zeiton é um demônio ou não? O leitor fica muito confuso e isso dificulta o
envolvimento emocional com a história.

Verificada a correção da produção do sumo regenerativo, Cálagos dirigiu-se a câmara de


regeneração, onde agiria novamente para o refazimento dos corpos ali colocados. A câmara de
regeneração ficava quatro níveis abaixo da sala de entrada do centro. Era a área mais profunda do

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lugar.

Um grande salão redondo com pouca luz e muito quente. Ao centro, um buraco redondo de onde
emanava uma claridade amarela-rubra, semelhante a um braseiro, e um odor defumado, como se
couros estivessem sendo queimados. ]

Quebra.

Próximo a esse meio, ao lado do buraco, ficava um assento grande e largo de cor vermelha, um
móvel que pela aparência e localização parecia um trono. Em volta do buraco viam-se corpos
humanos dentro de sacos de material assemelhado a plástico, suspensos por fios metálicos ligados
ao teto, com outra ligação de artefatos diretamente ao lado esquerdo do pescoço de cada corpo,
com penetração de três tubos finos, por onde se fazia um bombeamento. Eram os corpos, ainda
mantidos vivos, que foram mutilados pelos insetos substanciados.

Quebra.

Teria sido muito melhor se toda essa descrição fosse feita em uma Cena, com Cálagos e mais
um outro persoangem, aterrorizado com o que vê. Do jeito que está, ficou mais tedioso para
o leitor, não tem tensão na cena, só descrição do que está no lugar.

Por exemplo, essa mesma cena, narrada pelo POV de Sofia, enquanto ela é arrastada por
Um e com Cálagos rindo e explicando o que está fazendo, teria um impacto emocional no
leitor muito maior.

Cálagos fazia uma nova tentativa de regeneração daqueles corpos, a partir da introdução neles
da última versão do sumo regenerativo. Para além da ciência, o processo de refazimento dos
corpos seguia um ritual.

Quebra.

Cálagos sentou-se em seu trono de olhos fechados e permaneceu estático por alguns minutos.
Ouviu-se um uivo vindo do fundo do poço, com ele subiu uma fumaça intensa e amarelada que
envolveu o corpo de Cálagos. Enfumaçado e com um grande tremor corporal, ele contorceu-se na
cadeira, inclinando seu ventre para frente e cabeça para trás. Sua roupa começou a desfazer-se
para transformar-se em escamas, que foram cobrindo todo o seu corpo.

Querbra.

Sua face estreitou-se e pronunciou uma forma de frente pontuda, queixo, boca e narinas uniram-se
em uma ponta grossa; suas orelhas murcharam transformando-se apenas em orifícios; seus olhos
com cor dourada intensa e pupilas dilatadas afastaram-se para as laterais do rosto; seus membros
diminuíram e entre os inferiores surgiu uma cauda. Cálagos transformou-se em enorme lagarto bege,
com escamas claras que deram a visão de um corpo coberto de pontos.

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Pendurado ao teto da câmara por correntes, estava uma terrina metálica cheia do sumo
regenerativo. Em forma de lagarto e ainda sentado em seu trono, Cálagos apertou o botão do
braço direito da cadeira que acionou a rotação da roldana fazendo a terrina descer para dentro do
foço.

Quebra.

Após alguns minutos e um estrondo, ele apertou o botão do braço esquerdo da cadeira para
inverter a rotação da roldana e subir a terrina. O líquido foi defumado na fumaça que emergiu
daquela profundeza.

Quebra.

Cálagos levantou-se, ficando em pé apoiado em suas duas patas traseiras e na cauda e, por meio
de uma alavanca, ele afastou a terrina do centro do foço para a lateral, deixando-a no chão até que
a fumaça se esvai-se.

Quebra.

Pronto o líquido, ele foi transferido para um enorme garrafão conectado por tubos aos artefatos
ligados aos corpos. Acionado um sugador elétrico, o líquido foi bombeado para dentro dos corpos
em fluxo lento, poucas gotas por minuto.

Cálagos debruçou-se, caindo sobre suas patas dianteiras e rastejou em volta do poço por três
vezes, esticando sua língua fina e comprida sempre em direção ao centro do buraco, para onde
também destinou seus sons curtos estridentes.

Quebra.

Por fim, Cálagos levantou-se e retraiu seu corpo, expirou um último grunhindo e foi lentamente
voltando à forma anterior. Saiu da câmara com a sua conhecida aparência humana.

Essa cena não está boa. O que aconteceu aqui? É só para mostrar a transformação do
Cálagos? Onde está o diálogo? Onde está a tensão? O que está em jogo nessa cena? Todas
as cenas do seu livro tem que ter algum tipo de tensão ou suspense, algo para fazer o leitor
continuar lendo.

Por exemplo, se Cálagos fizesse tudo isso enquanto uma vítima aguarda ser sacrificada, e
fica implorando pela própria vida, a cena teria tensão, você passaria todas essas
informações e prenderia a atenção do leitor com a tensão, com o conflito da cena.

Cálagos voltou na manhã seguinte à câmara de regeneração e entusiasmou-se com o que viu: o
refazimento ocorreu em ritmo mais acelerado do que o previsto por ele. Em doze horas os corpos

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mutilados pelos insetos substanciados foram totalmente regenerados, e isso era apenas a primeira
regeneração.

Seria melhor ele ter um interlocutor para comentar isso.

Quebra.

A perspectiva de Cálagos era que a velocidade da regeneração aumentaria significativamente, na


medida em que as células fossem mais exigidas para reprodução. A previsão era de que uma
regeneração completa, fosse de qualquer parte corpórea faltante, dar-se-ia em pouco minutos.

Quebra.

Cálagos sorriu satisfeito, deixando até sua língua fina sair e entrar rapidamente da boca por três
vezes, mesmo estando em aparência humana.

Logo surgiriam os primeiros “Tarimbeiros”, assim denominados por Cálagos: seres que poderiam
ter aparência humana ou de lagarto, com todas as características e funcionalidades físicas e
biológicas de um ou do outro.

Após a conclusão das regenerações estaria iniciada a formação da tropa de Cálagos. Um grupo de
seres destemidos e combativos totalmente submissos ao comando dele.

Quebra.

Novos humanos seriam capturados para serem transmutados, para aumento do grupo. A cidade de
Piancó, o nordeste brasileiro, o Brasil e todo o mundo ainda tinham muito a fornecer para a
execução da missão para qual o do dr. Cálagos fora incumbido.

Você precisa MOSTRAR essas capturas, ou pelo menos uma. E seria muito bom se fosse o
Cálagos o responsável por capturar esses humanos. Você precisa dar mais protagonismo para
o Cálagos.

Por exemplo, faça uma Cena com Cálagos e Um saindo para capturar um novo humano.
Descreva passo a passo, etc. E depois descreva que aquilo era uma rotina, etc.

No dia seguinte, os tarimbeiros totalmente recompostos foram desconectados dos tubos


regenerativos, postos em pé e conduzidos andando, ao lado de Um e Dona, até o campo de
hibernação.

Quebra.

Era um local muito amplo de forma ovalada, aparentava ser um estádio (onde fica isso? No
subsolo? Em outra dimensão?, com milhares (!!!! Como é que tem um estádio em Piancó e
ninguém sabe? Não faz sentido ao ler) de cadeiras alinhadas, em fileiras crescentes da parte mais

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baixa para o alto, rodeando um centro onde havia uma plataforma.

O ambiente estava encravado em uma escavação abaixo do nível do solo, coberto por uma névoa
amarelada, de odor acre muito desagradável, que impedia a visão de seu interior a partir de
qualquer ângulo de visão externa.

Quem construiu isso tudo? Não dá para entender. Tente responder esses furos de roteiro na
reescrita. Sugestão: Tudo isso pode ser em uma dimensão paralela, a de Zeiton e dos homens-
lagartos que treinaram Cálagos para iniciar a conquista da terra. Ou algo parecido.

Ele pode usar os Portais para ir para essa dimensão paralela.

Se tudo isso é no subsolo da fazenda do Cálagos, você precisa arrumar alguma explicação
plausível.

O campo de hibernação ficava um nível acima da câmara de regeneração. Os tarimbeiros entraram


no campo caminhando e sentaram-se nas cadeiras da primeira fileira, mais próximas à plataforma
central.

Quebra.

O braço direito deles foi conectado a uma agulha fina colocada no meio do braço das cadeiras. Por
ela era introduzida a alimentação necessária ao tarimbeiro durante a hibernação, a partir de um
pequeno cilindro acoplado à cadeira.

Quebra.

No canto da boca de cada um foi introduzida uma fina mangueira plástica que sugava a saliva deles,
por meio de bombas de sucção, sendo o líquido de todos acumulados em enormes cilindros
metálicos, proximamente instalados. Todos entraram em estado hibernante, mas de olhos abertos.

Passados alguns dias, aumentado o número de tarimbeiros, Cálagos desceu à sala de testes, ao
lado do campo de hibernação. Lá, ele postou um tarimbeiro um metro a sua frente, de lado com os
braços estendidos para frente.

Quebra.

Cálagos segurando um facão desferiu um golpe certeiro nos braços do tarimbeiro, decepando-os,
na altura do cotovelo. A vítima do golpe gritou, girando a cabeça sobre o pescoço. Em pouco
tempo, o tarimbeiro transmudou-se para a forma de lagarto, caiu ao chão, encostando sua barriga
no solo, iniciou um urro e rastejou em círculos. Viu-se a rápida regeneração de seus membros
superiores, com uma acelerada multiplicação celular. Integralizado, o lagarto levantou-se, apoiado
apenas nos membros inferiores e na cauda, soltou um último urro e transmudou-se novamente para
a forma humana, com seus braços regenerados.

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Quebra.

Cálagos sorriu de satisfação, retornou o tarimbeiro para o campo de hibernação e subiu de volta a
sala de estar.]

Como é que Cálagos raptou MILHARES de humanos sem que as autoridades notassem
nada?

- Um, sirva-me vinho, preciso comemorar.

- Sim, senhor.

Ao tempo em que sorveu seu vinho, afrouxou-se em risos e pensamentos. Prospectou na mente
a proximidade da execução final de seu projeto. Seus risos tornaram-se gargalhadas. Em seus
pensamentos viu-se muito próximo da consagração.

Não narre apenas, MOSTRE esses pensamentos para o Leitor. O que ele está pensando? O
que ele quer fazer?

E achei que ele acalmou rápido demais depois de saber que Herbert fugira. Porque ele não
está ligando para isso? Deixe claro para o leitor.

***

No hospital de Piancó, doutor Fernando, o médico, deparou-se com outro caso de infecção fatal.
Dessa vez o acometido era muito conhecido na cidade, foi Renan, o balconista do restaurante de d.
Josefina. Os sintomas foram os mesmos, mal-estar profundo, seguido de vômitos. O caso recebeu
mais atenção dos médicos do hospital que notaram estar muito corroída a boca e a garganta do
falecido. O diagnóstico inicial apontou infecção bacteriana altamente letal.

**•

Novo Capítulo - Capítulo X - Herbert. Escreva no POV dele, coloque suas emoções,
pensamentos diretos, observações, etc.

Num descampado, poucos quilômetros distantes da cidade de Piancó, em local próximo a


estrada que ia para Cajazeira, Herbert, muito mutilado, acordou. Atordoado, ele sentia dores em
suas feridas, destacadamente na cabeça, local mais mutilado.

Quebra.

Esforçou-se para lembrar como chegara ali. Imagens passadas montaram-se em sua mente.
Lembrou-se de estar em Piancó para vigiar Thomas Cálagos, de ter ido visitá-lo em seu centro e de
ter jantado com ele lá. Lembrou-se, ainda, de ter se livrado de uns bichos grudentos e mordedores

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e de ter fugido do centro aproveitando os portões ainda abertos, após a entrada de uma outra
pessoa.

Você precisa descrever essa Cena da fuga dele, passo a passo, mostrando a emoção, o
desespero de Herbert, como ele fugiu etc. E você precisa dar uma explicação plausível e clara
para o leitor porque, dentre MILHARES de vítimas, só o Herbert conseguiu fugir! Uma
sugestão: o Herbert pode ter desconfiado e, depois de preso, vomitado o hamburguer que
comeu. Isso daria mais protagonismo para o Herbert, fazendo dele o responsável pela própria
liberdade

Quebra.

Recordou-se, por fim, de fugir de um hospital e correr sem parar. Cansado, ele dirigiu-se à sombra
de uma oiticica e novamente adormeceu.

Horas após, em passeio a cavalo, Marcos avistou aquela mesma pessoa dormindo embaixo da
árvore. Ele aproximou-se e viu um homem apenas de sunga e muito ferido, mas ainda vivo, porque
nitidamente respirava.

Quebra.

Marcos desceu do cavalo e tentou comunicar-se com o moribundo.

- Senhor, senhor! - exclamou Marcos, cutucando o homem para que acordasse.

- Humm! - Gemeu o homem, aparentando não querer acordar.

- Senhor, acorde - insistiu Marcos. Senhor!

- O que? - Quem é você? - Onde estou? - indagou o homem, muito assustado.

- Calma, Calma! - Tranquilizou, Marcos, eu estou aqui pra ajudar. Quem é você? - Você tá
muito ferido, precisa de ajuda.

- Meu Deus! - O que aconteceu comigo? - Onde estou? - Quem tirou minha roupa?

- Caalllma! - Você sabe o seu nome? - insistiu Marcos.

- Sim, meu nome é Herbert, Herbert Bastos Águia, sou professor. - Aí, meu Deus, como dói!

- Como você veio parar aqui, professor Águia?

- Não sei, não faço ideia. - Você pode me ajudar?

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- Ajudar como, professor?

- Preciso me recuperar, tomar um banho, cuidar dessas feridas. - Preciso de roupas, ajude-me!

Marcos não ficou plenamente convencido sobre o relatado pelo professor, mas resolveu confiar
e ajudar, mesmo assim.

- Você consegue se levantar?

- Sim, acho que sim.

- Então venha comigo, suba no cavalo, que eu vou puxando ele, a casa da nossa fazenda é aqui
perto.

- Obrigado, muito obrigado.

Em casa, Herbert foi recebido pela esposa de Marcos, que buscou ajudá-lo sem qualquer
hesitação.

- Meu Deus! - O senhor veio da guerra? - perguntou ela, surpresa com a condição ferida, suja
e fedida que viu no professor.

- Penso que não - respondeu Herbert. - Me desculpe, não sei como cheguei neste estado. - Eu
preciso de um banho e de roupas, sou gente de bem, sou professor.

- Sim, claro, entre, vá se banhar, vá. - O banheiro fica logo ali, segunda porta a direita, tome
essa toalha. - Vou pendurar do lado de fora da porta um moletom do Marcos, acho que vai servir
no senhor.

- Obrigado.

Essa cena no POV desse Marcos (que nunca mais aparece na história) não ficou bom.
Mantenha toda essa passagem, toda essas cenas da fuga e da recuperação do Herbert no
POV do Herbert.

Reescreva vivenciando tudo isso dentro da pele do Herbert, e faça o leitor experimentar o
que ele está vivendo. Fica muito mais imersivo e profissional.

Embaixo do chuveiro, Herbert refletiu sobre aquele momento de sua vida. (Não NARRE,
MOSTRE essas reflexões. O que ele está pensando? O que ele está concluindo? Mostre seus
pensamentos diretos. A água escorreu pelo seu corpo fazendo arder as muitas feridas ainda não
cicatrizadas. Sua última lembrança, em completa sobriedade, foi o jantar no centro de Cálagos.
Vieram-lhe flashes do devoramento, bem como de conversas com o dr. Fernando no hospital. “Por
que esteve deitado sendo comido por insetos com dentes? Por que teve que fugir do centro de
Cálagos? O que fazia Cálagos naquele centro?” Perguntou-se Herbert.

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Essa amnésia do Herbert deixou a trama muito lenta em algumas partes. Assim como a
amnésia de Sofia. Minha sugestão é tirar essa amnésia, acelerar a trama, com Herbert já
sabendo de que Cálagos está fazendo experiências ilegais e já tentando atrapalhar os seus
planos.

Assim Herbert se tornaria um inimigo imediato de Cálagos, e forçaria o vilão a agir (o que
fica melhor para a história).

***

Passadas duas semanas, Cálagos retornara da cidade de Patos, também na Paraíba. Local
onde instalara quatro lanchonetes, uma no centro e outras em bairros mais afastados da cidade.
Todas eram estabelecimentos vistosos, bem decorados, multicoloridos, com um nome muito criativo
para a rede: Hamburgueria Domínio.

Quebra.

Foram esses locais construídos por Cálagos para a execução de parte muito importante do seu
plano. (De onde ele tirou todo esse dinheiro? Quem financiou as construções?)

Quebra.

Em todas as unidades, ao fundo de cada loja foi construída uma edícula para abrigar dois cômodos:
uma suíte, com uma cama, e um quarto com três cadeiras, semelhantes àquelas do campo de
hibernação do centro de Cálagos.

Porque o plano dele envolve a rede de Fast Food? É para recrutar via Hamburger? Esse
processo já devia estar em ação desde o início da história. Você já poderia descrever essas
lanchonetes por todos os lugares, deixando pistas para o leitor.

De retorno, ao entrar no centro, Cálagos sentou-se em uma das poltronas de pedra da sala de
estar e falou para Sofia, Um e Dona, todos postados em pé a sua frente.

- Amanhã abriremos as Hamburguerias Domínio. - Os hambúrgueres já foram enviados, Um?

- Sim, senhor, já foram, todo o material já está nas lojas: pães, bacons, batatas e tudo o mais
está disponível.

- Então as lojas estão prontas para funcionar?

- Sim, senhor, falta só o pessoal para trabalhar.

- Ok! - Sofia, você irá gerenciar a loja do centro da cidade. - Partirá amanhã para Patos, sua
moradia e de seus companheiros de trabalho serão os quartos, nos fundos da loja. - Alguma

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pergunta?

- Não, senhor.

- Um, encaminhe os outros para suas respectivas lojas.

- Sim, senhor.

- Sofia, irão com você: JAN12/11:05:03, FEV24/12:02:12 e MAR02/14:21:60, na lanchonete,


chame-os de Jango, Fernando e Marcelo, entendeu?

- Sim, senhor.

Sofia foi para Patos acompanhada de três tarimbeiros, classificados pelo código em que as três
letras iniciais identificavam o mês, seguido do dia, hora, minutos e segundos referentes ao momento
em que foi conectado para a primeira hibernação.

Não houve inauguração comemorativa das lanchonetes de Cálagos, em Patos. Em verdade, as


lojas foram simplesmente abertas. Todavia, não tardou a haver bom movimento em todas elas,
marcadamente porque o preço do hambúrguer, em suas variadas montagens, era mais barato que o
praticado na cidade em lanchonetes concorrentes.

Quebra.

Além disso, os sanduiches tiveram muito boa aceitação na comunidade, sendo o sabor dos lanches
muito bem avaliado pelos consumidores. E mais, o desenho do tridente estilizado, na cor marrom,
em ambos os lados do hambúrguer, agradou a todos que abriram o sanduiche para olhar a
peculiaridade. Acharam uma ideia decorativa inusitada e criativa. As vendas seguiram muito bem.

Um problema de roteiro: Sofia sumiu e ninguém do jornal foi atrás dela? Ela não tem
família? Amigos? Ela não enviou mensagem? Ficou muito estranho ao ler.

Uma estranheza, entretanto, não passava despercebida aos clientes: o comportamento


excessivamente introvertido dos funcionários das lanchonetes. Sofia, assim como os tarimbeiros,
pouco falavam com o público. Na maioria das vezes eram monossílabos em suas respostas. Uma
conduta que afastou alguns consumidores, nada comprometedor às vendas.

Outra coisa sem explicação. Porque Sofia não foi transformada em Tarimbeiro? Qual foi o
motivo de Cálagos em poupá-la? Veja esse furo de roteiro na reescrita.

Sofia seguia sua rotina. Abria a loja pela manhã e fechava-a às 20:00 horas. Alimentava-se
somente de hambúrgueres. Dormia na suíte aos fundos, vizinha do quarto onde hibernavam os
tarimbeiros, sentados nas cadeiras, alimentados pela substância-alimento que lhes era introduzida no
braço pelo duto ligado ao cilindro que continha esse composto.

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Quebra.

Havia diariamente, entretanto, um estranho ritual praticado pelos tarimbeiros antes de seguirem à
hibernação. Fechada a loja, feita a limpeza do ambiente, os três tarimbeiros postavam-se em roda,
levantavam a cabeça, esticando bem o pescoço para traz, urravam e transformavam-se
simultaneamente em lagartos.

Quebra.

Ficavam nessa forma, rastejando em círculos por cerca de três minutos. Após, retornavam a forma
humana e dirigiam-se para a hibernação.

Quebra.

Sofia observava aquilo sem esboçar reação.

Não gostei muito dessa passividade de Sofia. Não sei, não ficou interessante. Seria melhor
Sofia estar fingindo para tentar escapar, ou ter enrolado o Cálagos, ou algo diferente.

E Sofia é uma personagem bem interessante, mas ficou muito superficial ao longo da
história. Minha sugestão seria de focar mais nela, criar uma história para ela. Ela poderia
ser a melhor personagem para dar suporte ao Herbert, mas ela precisa ser mais ativa, mais
corajosa, mais interessante.

Ao ler o livro inteiro, pensei que você podia mesclar o personagem Artur em Sofia, deixando-
a mais inteligente, ativa e mais importante para a história.

***

Na periferia de Patos, uma semana após a inauguração da lanchonete, à noite, por volta das
23:00 horas, Raimundo, um jovem, assíduo frequentador da Hamburgueria Domínio, acordou como
se fosse programado para acordar naquele momento.

Quebra.

Levantou-se e vestiu-se automaticamente. Foi a garagem, montou em sua motocicleta e foi rumo a
rodovia 361, no sentido de Goiabeira.

Quebra.

Parecendo subjugado a uma força irresistível, ele seguiu robotizado, guiando sua moto, sabendo
exatamente aonde ir.

Quebra.

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Após 20 quilômetros, ele desviou da estrada para uma vicinal de terra e andou nela por uns três
quilômetros. Chegou, por fim, a um pequeno descampado onde estavam dezenas de pessoas
reunidas ao lado de três ônibus.

Quebra.

Mantendo-se sob o julgo da força que lhe retirou a autodeterminação, Raimundo descartou a moto
e foi ao encontro do grupo. Ouvido um silvo breve vindo do interior dos ônibus, todos entraram nas
conduções e lotaram-nas. Ouvido outro silvo, os ônibus partiram em direção a Piancó.

Quebra.

Ao chegarem ao centro de Cálagos, todos os passageiros dos ônibus foram encaminhados por Um
para a sala de espera. Um ambiente grande, sem qualquer móvel, parecendo uma caverna, situada
um nível abaixo da entrada principal, onde os “dominados” foram amontoados e preparados para a
sequência de transformação em novos tarimbeiros.

Quebra.

Os ônibus foram carregados com pesadas caixas metálicas que os lotaram, não só o porta-malas
da condução, mas também todo o interior do ônibus. Essa rotina repetiu-se por várias vezes, como
projetado por Cálagos.

Essa passagem poderia ter sido descrita em uma Cena, no POV do Cálagos, com o Cálagos
observando os processos e conversando com o Um. Isso deixaria o Cálagos mais ativo na
história, e você poderia passar ainda mais informações.

Perguntas: Porque ninguém notou esses ônibus? Ninguém notou esse comportamento
estranho dessas pessoas? Eles tiveram que passar um tempo no Centro de Pesquisas para
virarem Tarimbeiros. Ninguém sentiu falta deles?

***

Comece aqui mais um Capítulo no POV do Herber:

Capítulo X - Herbert.

Na fazenda, após mais de uma semana hospedado na casa de Marcos, Herbert decidiu sair em
busca de esclarecimentos. Pensou primeiramente em voltar a Piancó, afinal suas roupas, algum
dinheiro, seu carro e outras coisas pessoais estavam na pensão de d. Isaura. Além do que Cálagos
devia-lhe explicações e ele as cobraria.

Aqui eu achei estranho. Herbert já deveria estar aterrorizado, já buscando ajuda com a
polícia para lidar com Cálagos. Já era para ele estar buscando justiça, correndo atrás do seu

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antagonista.

E já poderia haver Tarimbeiros querendo ou tentando matar o Herbert.

Se você quiser atrasar a resolução da história, dificulte a vida do Herbert. Coloque


Tarimbeiros disfarçados por toda Piancó, policiais, etc, atrapalhando a investigação ou
desfazendo das acusações de Herbert.

E deixe a vida dele em risco, torne a vida dele mais difícil. Quanto mais conflito, melhor para
a sua história!

- Meu caro Marcos, preciso ir.

- Você é quem sabe, professor, você não incomoda ficando mais um tempo.

- Eu agradeço muito a ajuda e hospitalidade de vocês, mas preciso ir, tenho que saber o que
aconteceu comigo, preciso voltar a Piancó.

- Ok, vamos, eu te levo lá.

- De jeito nenhum, vocês já fizeram muito por mim, eu conseguirei uma carona na estrada.

- Que nada, professor, besteira, são uns poucos quilômetros, vamos, eu te levo.

Herbert, por fim, concordou com a carona de Marcos e seguiram para Piancó de carro.
Marcos o deixou na porta da pensão de d. Isaura.

- Ora, Ora! Quem é vivo sempre aparece! - Exclamou d. Isaura.

- Boa tarde d. Isaura.

- Vixe! Eu achei que o senhor não retornaria, professor. - Eita! Que surpresa boa, o senhor me
parece muito bem.

- É verdade, estou bem, de fato, mas passei maus bocados. Graças a Deus tive ajuda.

- Que isso, o que aconteceu?

- É uma longa história, d. Isaura, longa história.

- Meu filho, o que eu tenho é tempo de sobra pra ouvir histórias.

- Não, agora não é a hora mais adequada, depois continuaremos nossa prosa. O que eu posso
lhe adiantar é que tive dois infortúnios grandes na minha vida: o que passei esses dias; e o dia em

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que fui picado por cobra. Posso lhe dizer que em ambos sofri muito. Posso entrar? Meu quarto
ainda é meu?

- Sim, claro, tá do jeito que o senhor deixou, entre e fique à vontade. – Só tem que as diárias
que o senhor me pagou já venceram.

- Ok. – Vou acertar tudo, não se preocupe.

- Tá tudo bem, professor, eu tenho certeza disso.

Herbert voltou para seu quarto. Ele precisava preparar-se porque estava decidido a voltar ao
centro de pesquisa de Cálagos e esse retorno não poderia demorar.

A história ficou muito lenta aqui. Coloque mais tensão, deixe o Herbert mais desesperado
com o que aconteceu com ele.

Nessa hora o Herbert podia estar perguntando mais sobre o Cálagos. Sua vida anterior, suas
atividades. E perguntando sobre o sumiço das pessoas.

Outra coisa que você pode aproveitar mais é o sumiço de Sofia. Por exemplo, se Sofia foi em
Piancó para procurar por Herbert, ao ser informado disso pela Isaura, por exemplo, o
próprio Herbert tentaria descobrir o destino de Sofia.

Isso faria com que o encontro dos dois não fosse uma coincidência, como você colocou na
sua história. O ideal é sempre evitar coincidências em uma narrativa, fica parecendo que o
escritor está “forçando” os eventos da história, não fica legal em uma história de thriller
como a sua.

***

À tarde daquele mesmo dia, numa rua do centro de Patos, dois rapazes caminhavam e
conversavam. Do nada, um deles chama a atenção do outro.

- Olha ali! - É a Sofia.

- Onde?

- Ali, naquela lanchonete, vamos lá, quero falar com ela.

Pedro fora um pretendente a namorado de Sofia. Eles não chegaram a namorar, mas ele nunca
deixou de ter interesse no relacionamento com ela. Em verdade, Pedro não havia perdido a vontade
em conquistá-la e vê-la ali seria mais uma oportunidade de realização.

Essa parte não ficou boa. E você introduziu o Pedro de maneira superficial. Teria sido melhor
se o Pedro tivesse sido introduzido antes.

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Minha sugestão para melhorar:

1) Sofia recebe a missão de investigar desaparecimentos de pessoas em Piancó. Pedro, seu


ex-namorado, leva ela de carro para Piancó (assim você já apresenta o Pedro, minha
sugestão é o Pedro ser Policial Militar, pois já ajuda mais para frente nas cenas de porrada e
guerra contra os Tarimbeiros.

2) Pedro deixa Sofia em Piancó e escuta rumores de que Cálagos pode estar envolvido.

3) O pessoal da cidade, depois de muita insistência fala de coisas estranhas que acontecem
na cidade, desde que o centro de pesquisa foi construído. Ela fica sabendo do Prof. Herbert,
que também desapareceu.

4) Sofia segue para a casa do Cálagos, é capturada e drogada. Ela não é transformada em
Tarimbeiro porque Cálagos precisa de um humano controlado para gerenciar as lanchonetes.
Todas as lanchonetes tem um humano controlado para gerenciar os demais Tarimbeiros.

5) Pedro, quando retorna para Piancó e não encontra Sofia para dar carona, fica
desesperado e passa a procurá-la, até encontrá-la na lanchonete. Assim você tira a
coincidência.

6) Porém, narre o encontro pelo POV de Sofia, ela vendo o Pedro, reconhecendo ele e
despertando do transe. E lembre-se de colocar os pensamentos diretos dela, sua emoções, etc,
e separar os capítulos da Sofia em POV isolado. Recomendo tirar o Artur e colocar o que o
Artur fez na Sofia, misturar a Sofia com o Artur, vai deixá-la mais ativa e capaz, uma
personagem feminina mais contemporânea.

- Oiii, Sofia! - Nossa que sorte a minha, avistei você aqui lá de longe. Tudo bem, o que faz
aqui?

- Tudo.

- Você trabalha aqui?

- Sim.

- Nossa! - Mas você largou o jornalismo?

- Sim.

- Sofia, oieê! - É o Pedro, não está feliz em me ver?

- Sim.

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- Sofia, que isso, você tá com algum problema?

- Não.

- Sofia, por favor, fala comigo direito, você tá doente?

- Não.

- Sofia, tem alguma coisa errada aqui, você não é assim. - O que está acontecendo?

- Obrigado, senhor, tenha um bom dia.

- Senhor! - Meu Deus! - O que está acontecendo com você, minha querida?

- Obrigado, senhor.

Pedro ficou convencido de que havia algo errado com Sofia. Ela jamais o trataria com tanta
indiferença. Ela precisava de ajuda e ele iria ajudá-la. Antes, precisava entender o que se passava e
comentou com o amigo.

- Cara, tem alguma coisa errada aqui.

- Que isso! - Eu acho que ela só não quer mais falar com você.

- Não, a Sofia não é assim, nunca foi.

- Bom! - Eu não conheço ela tão bem, mas acho normal ela dá um fora em quem ela não quer
relacionamento.

- Cara! - Não é uma questão de fora é que ela tá muita estranha, ela não é assim, tô te dizendo.
- Ela adorava ser jornalista e de repente vira caixa de lanchonete, aqui em Patos. - Tem coisa
errada aí!

- Cara, você confia de mais nesse seu jeitão de galã, mas parece que ela não quer nada com
você, só isso.

- Não é nada disso, eu conheço a Sofia e ela não é assim.

- Bom! - Você é quem sabe, eu já vou indo, você vai ficar aqui?

- Vou, já tá anoitecendo, vou ficar aqui e tentar falar com ela depois que a loja fechar. - Pode ir,
depois nos falamos.

- Ok, até mais.

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Pedro resolveu sentar-se em uma das mesas da lanchonete e observar o movimento na loja e
concluiu definitivamente haver algo errado nas pessoas que trabalhavam ali. Todas agiam como
robôs, falavam pouco, não riam, ou melhor, não demostravam qualquer sentimento.

Quebra.

/Sofia, por exemplo, pareceu não notar que ele continuou ali, mostrando-se absolutamente
indiferente à sua presença, olhando sempre para o vazio. Chegada as 20:00 horas, iniciaram-se os
procedimentos para o fechamento da loja. Cadeiras e mesas foram recolhidas pelos tarimbeiros e o
chão foi lavado também por eles. Pedro, mais uma vez, tentou falar com Sofia.

- Sofia, você está bem?

- Sim.

- Sofia, por favor, sou eu, o Pedro!

- Obrigado, senhor, tenha uma boa noite.

- Sofia, fala direito comigo, é o Pedro.

- Obrigado, senhor, amanhã voltaremos a funcionar. - Tenha uma boa noite.

Dois dos tarimbeiros puxaram para baixo as portas de ferro, fechando o estabelecimento, sem
se importarem com a presença de Pedro, que permaneceu ali fora, sem entender o que, de fato,
ocorria naquela lanchonete.

As luzes internas da lanchonete continuaram acesas. Houve barulho da lavagem de pratos,


talheres e panelas, além de sons que sugeriam outros procedimentos de limpeza.

Quebra.

Pedro avistou na parte superior da parede lateral da loja um pequeno basculante, a partir do qual
ele poderia ter uma visão do interior da lanchonete. Um tonel de lixo encostado na parede, se
escalado, daria-lhe a altura necessária à visão projetada. Não houve hesitação,

Quebra.

Pedro subiu no tonel e conseguiu a visão almejada.

Quebra.

Da fresta do basculante, do lado esquerdo, ele viu pela porta dos fundos da cozinha da lanchonete

23
as pessoas passando de um lado para outro dentro da cozinha. Estranhamente ninguém conversava,
apenas trabalhavam. Os sons da lavação continuaram.

Quebra.

Em visão para o lado direito da fresta, Pedro avistou um pequeno pátio cujo final dava numa
edícula com duas portas. Trepado ali, ele procurou olhar para ambos os lados.

Cessados os sons, Pedro observou a saída das quatro pessoas pela porta da cozinha em direção a
edícula.

Quebra.

No caminho, de repente, todos pararam. Sofia afastou-se para a direita. Os três tarimbeiros
formaram um círculo, começaram a urrar e, esticando o pescoço para traz, transformaram-se
simultaneamente em lagartos.

Quebra.

Rastejaram em círculos nessa forma por cerca de dois minutos, retornaram a forma humana e
andaram até entrarem por uma das portas da edícula. Sofia caminhou também até a edícula e entrou
pela outra porta.

Quebra.

Pasmado com o que viu, Pedro quase caiu de cima do tonel. Suas pernas tremeram.

Quebra.

Custou a crer no que vira.

Se for usar o Pedro, mergulhe mais no POV dele! Coloque pensamentos diretos, faça ele ficar
deseperado, suar, sentir falta de ar, coração disparado.

Outra coisa, qual é a profissão de Pedro? Ele faz o quê? Que habilidades ele tem?
Desenvolva mais o personagem. Porque separou de Sofia? O que ele tem que ela reprovou?
Ele é mulherengo?

Exemplo:

“Meu deus do céu! O que é isso?”, pensou Pedro, sentindo o coração explodindo no peito.

“Não é possível! Isso é um sonho! Só pode ser um sonho!

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Concluiu rapidamente que Sofia precisava de ajuda (não narre, MOSTRE como ele chegou nessa
conclusão por meio de pensamento direto) e autodeterminou-se a tirá-la daquele ambiente, que
ele classificou como horrendo e perigoso.

Quebra.

Desceu do tonel e entendeu que precisaria de um plano para retirar Sofia dali, afinal aquelas
criaturas deveriam ser perigosas. T

Quebra.

Também concluiu que precisaria de ajuda, mas seria difícil alguém acreditar naquela história.
Homens transformando-se em enormes calangos.

“Meu Deus! Quem acreditaria nele?”. Pensamentos sempre em parágrafos separados!

Ainda muito assombrado, resolveu voltar para casa e pensar num plano. Estava convicto de que
teria que ajudar Sofia. (Repetição de ideias, uma vez já basta)

Na manhã seguinte, (Manhã??? Porque ele não tirou sua ex-namorada logo de lá! Ele viu
mosntros! Algo de fazer perder a sanidade! Deixe ele mais desesperado! Faça ele agir com
mais impulso, tirar ela à força de lá!) logo bem cedo, Pedro foi a casa do amigo. Era o Arthur, o
mesmo que esteve com ele na Lanchonete.

- Cara! - Você não vai acreditar no que eu vou te contar.

- O que foi?

- Cara, presta bem atenção. - Não pense que eu fiquei louco, ok?

- Já sei, a Sofia te teu um fora daqueles...- Eu sabia.

- Não foi nada disso. – A coisa é séria, muito séria.

- O que foi, cara, conta logo.

- Lembra da lanchonete de ontem, onde vimos a Sofia?

- Claro que lembro, o que tem ela?

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- Cara! - Presta atenção. - Juro que é verdade o que vou te contar, eu juro.

- Contar o que?

- Você lembra que, além da Sofia, tinham mais três caras que trabalhavam lá?

- Sim, acho que eram três, e daí?

- Daí que aqueles caras viram lagartos.

- Lagartos! - Como assim, cê tá doido?

- Cara! - Presta atenção, eu vi, eles viraram lagartos, uns baita calangão, do tamanho da gente.

- Pedro, para com isso, va se daná, onde já se viu virar lagarto, tô fora.

- Tô te falando, eu vi.

- Cara! - Cê ficou doido de vez.

- Eu tô te falando, é verdade, vamos voltar lá a noite e eu te mostro.

- Pedro...

- Você não acredita, né? - Então vamos lá. - Qual o problema?

- Beleza! - Vamos lá então, mas isso é bobagem, você pirou.

- Você vai ver se eu pirei.

Na noite daquele mesmo dia, perto das 20:00 horas, Pedro e Arthur estiveram na rua defronte
a lanchonete.

Quebra.

Aguardaram seu fechamento. Minutos depois, as portas da lanchonete fecharam-se e eles


atravessaram a rua para a frente da loja.

Quebra (quanto menores os parágrafos, mais você causa tensão no leitor)

Pedro indicou para Arthur subir no tonel e esperar o fim da limpeza. Esperar até o pessoal todo sair
da cozinha.

Quebra.

26
Eles sairiam juntos, disse. Arthur deveria esperar até essa saída acontecer.

Quebra.

Arthur fez como Pedro orientou, subiu no tonel e ficou lá até a turma sair da cozinha. Embora
descrente, obedeceu aos pedidos do amigo.

Quebra.

Minutos depois, Arthur viu o que tinha certeza de que não viria. Mais apavorado do que o amigo,
caiu do tonel e aos tropeços puxou Pedro para fora da frente da loja. Ambos correram para longe
dali.

- Caraca! - O que foi aquilo? - estranhou Arthur.

- Eu te falei.

- Meu Deus, os caras viraram Lagartos.

- Eu te disse.

- Cara! - Não é possível, que loucura, meu Deus!

- Calma.

- Calma, como?

- Calma! - Eu não sei o que é aquilo, só sei que precisamos tirar a Sofia de lá.

- Mas se ela também for uma calanga?

- Que isso, a Sofia não.

- Por que não, ela vive junto com aquelas criaturas?

- Você, com essa sua cara de coruja, com esses olhão, sempre desconfiado, né?

- Cara, ela mora junto com aqueles bichos.

- Mas ela não virou lagarto, nem quando eu vi, nem quando você viu. – Então ela não é igual
aquelas coisas.

- Sei não...

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- Arthur, para com isso.

- Eu só tô pensando...

- Cara, confie em mim, a Sofia não é calanga. – Ela tá precisando de nossa ajuda e eu vou
ajudar, com ou sem você.

- Tudo bem! Mas como vamos fazer isso com aqueles homens-lagartos lá?

- Temos que arrumar uma maneira, pense.

- Tô muito impressionado ainda, não consigo pensar em nada.

- Cara! - Não da pra esperar, ela precisa de nossa ajuda. - Amanhã eu vou lá e vou tirar ela de
lá, arrancar, sequestrar, sem lá o que, só sei que vou tirar ela de lá.

- Eu não sei como vamos fazer isso, mas pode contar comigo, vamos tirar ela de lá.

- Beleza.

- O que você acha da gente da uns tiros naqueles bichos?

- Não, nós vamos só salvar a Sofia. - Depois a gente avisa a polícia e eles que se virem com
aquelas criaturas.

- Ok.

- Olha só! - Vamos fazer de forma muito simples.

- Como?

- Simples. Vamos sequestrar ela. Assim, oh! Amanhã (Amanhã!!! Porque não agora??? Esse
atraso ficou muito estranho!) a gente estaciona o carro na frente da lanchonete; você desce e
tenta distrair a criatura que estiver no balcão do lado de fora; assim que a Sofia sair para limpar
mesas ou fazer qualquer coisa do lado de fora da loja, eu desço, pego ela e jogo dentro do carro,
no banco de trás; você me ajuda a puxar ela, entra no banco da frente e saímos correndo. - (tire
esses travessões de meio de fala) Se fosse um sequestro para o mal, seriamos pegos facilmente,
porque haverá muita testemunha, mas sendo um sequestro do bem, que se dane se alguém vê. - O
que acha?

- Cara! - Acho que vai dar certo, só que seremos descobertos.

- Tanto faz, depois a gente vê. - Temos é que saber com a Sofia o que está acontecendo.

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- Mais uma coisa...

- O que?

- Pra onde levaremos a Sofia?

- Lá pra casa, eu moro só. - Lá poderemos cuidar dela.

- Ok, combinado, então. - Amanhã nos vemos na lanchonete.

- Ok, até amanhã.

Na manhã seguinte houve a execução do plano de sequestro exatamente conforme planejado.


Na arrancada do carro, com Sofia dentro, alguns presentes ameaçaram sem sucesso impedir o ato.

Quebra.

Os tarimbeiros não esboçaram reação. Eles não estavam programados para reagirem a situações
como aquela.

Quebra.

O funcionamento da lanchonete ficou prejudicado. A programação introduzida nos tarimbeiros


previa que em qualquer situação não programada a loja deveria ser fechada, Cálagos comunicado e
os tarimbeiros entrariam em hibernação até novas ordens. Assim foi feito e a noite a loja foi
fechada, para não mais abrir, até segunda ordem.

O resgate de Sofia não ficou bom. Você desperdiçou um bom momento de colocar uma cena
de ação, com muito perigo, tensão, violência, etc. E ficou fácil demais para os protagonistas.
NUNCA deixe a vida fácil para os protagonistas. Você precisa ir aumentando cada vez mais
o risco para os seus protagonistas.

Recomendo na reescrita fazer uma cena de resgate sensacional, de Hollywood mesmo!

E faça a Sofia despertar no meio do resgate, e fugir junto com o Pedro, depois de lutar ou
quebrar uma cadeira na cabeça de um Taribeiro.

Aumente a emoção na sua história! É um Thriller, o leitor está buscando por ação e emoção!
Podia ter mais pancadaria nessa cena. E com a Sofia despertando do transe e ajudando o
namorado. Já poderia ter algum tipo de combate, com os dois fugindo sob perigo de vida!

Na casa de Pedro, Sofia foi acomodada no sofá da sala.

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- Sofia, querida, você está bem? - perguntou Pedro.

- Sim.

- Sofia, olha pra mim, você sabe onde está?

- Sim.

- Não, Sofia, fala direito, por favor, Sofia!

- Sim.

- Meu Deus! - O que está acontecendo? - Sofia, reaja, você quer descansar?

- Sim.

Percebendo o estado alienado de Sofia, Pedro resolveu deixá-la descansar e levou-a para
deitar-se em seu quarto. - Sofia não esboçou reação: deitou-se na cama e dormiu.

- Cara! - Ela tá muito estranha - afirmou Pedro.

- Bota estranha nisso - emendou Arthur.

- O que a gente faz?

- Não sei, cara, vamos esperar, sei lá!

- Esperar até quando?

- Não sei, deixa ela acordar e a gente tenta falar de novo com ela. – Só torço para ela não ser
uma mulher-lagarto igual aqueles bichos lá.

- Para com isso, Arthur, eu já lhe pedi.

- Cara! - Isso tá muito esquisito.

- Tá mesmo, mas não tem jeito, só ela pode dizer o que tá acontecendo, e olhe lá se ela vai
saber!

- Eh! Vamos esperar.

Na manhã seguinte, (Tem muita repetição de “manhã”, “na manhã”, etc. E a cada dia que
passa, você diminui a tensão que você criou antes. Enxugue mais o tempo da história para
ficar mais tenso. Como disse antes, imagine sua história como um filme de suspense e ficção

30
científica com horror!)

Quebra.

Sofia acordou sem saber onde estava. Atordoada, procurou identificar-se. Sentindo-se fraca,
buscou lembranças dos últimos acontecimentos.

Quebra.

Recordou-se do dr. Cálagos e de seu centro, vieram-lhe imagens da sequência de procedimentos


praticada no centro e enjoaram-na.

Quebra.

Voltou a perguntar-se o que fazia ali. Lembrou-se vagamente do trabalho na lanchonete. Vieram-lhe
novamente memórias do centro e de seus procedimentos, com mais exatidão e clareza, assustando-
a.

Quebra.

Novamente indagou-se sobre onde estava e como chegara ali. Levantou-se lentamente e dirigiu-se
à porta do quarto e, abrindo-a, viu a sala do apartamento.

Mostre isso em uma Cena, não sumarize como você fez aqui. Vá passo a passo. E faça tudo
no POV de Sofia. E, como a cena anterior estava no POV de Pedro, separe e abra um novo
capítulo no POV de Sofia aqui.

- Sofia, você acordou?

- Pedro, Pedro, é você? - O que faz aqui? - Onde eu estou, o que faço aqui?

- Calma, Sofia, você está na minha casa, calma!

- Como calma! - O que estou fazendo aqui? - Como cheguei aqui?

- Calma, Sofia, eu vou explicar tudo, calma, senta aqui.

- Quem é esse aí?

- Calma, Sofia, é o Arthur, você não lembra dele?

- Ah, sim, lembro, mas o que ele faz aqui?

- Calma, vamos explicar tudo o que sabemos.

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- Poxa! - Para de me pedir para acalmar e fala logo porque estou aqui.

- Ok, mas fique calma.

- Fala logo...

Pedro e Arthur, de forma conjunta e desordenada, relataram para Sofia como chegaram até ela,
o que viram à noite, após o fechamento da loja, e a decisão e a execução do seu sequestro. Sofia
ouviu a tudo sem esboçar expressão de espanto. Ela tentou fazer associações mentais entre o
relatado e suas memórias. Algumas coisas se encaixaram rapidamente a partir do progressivo
retorno de sua memória.

- Gente! - Tudo tem a ver com o dr. Cálagos, de Piancó - concluiu Sofia.

- Que dr. Cálagos? - perguntaram Pedro e Arthur, de forma uníssona.

- O doutor de Piancó, o cientista que tem um centro de pesquisa lá. - Eu tive lá e não me
lembro de ter saído de lá. - Foi o último lugar em que estive. - Foi ele que me enfeitiçou.

- Enfeitiçou, como assim? - perguntou Pedro.

- Sei lá, isso só pode ser feitiço. - Como eu fui parar na lanchonete que vocês disseram, sem eu
saber de nada? - E esses caras virando calango?

- Pense, Sofia, pense - sugeriu Pedro.

Sofia contou tudo que lembrou, desde sua chegada à Piancó, seu encontro com Cálagos, até a
demonstração que viu das experiências dele. Sua última lembrança (repetição de “Lembrar”,
“Lembrança”) do centro eram os insetos carnívoros que pareciam comer uma pessoa. Não se
lembrou como saiu de lá

- Caraca! Espantou-se Arthur.

- Que diabos será que esse doutor tá fazendo? - Perguntou Pedro.

- E o que você tava fazendo naquela lanchonete? - Emendou Arthur.

- Eu ainda não sei, mas tem a ver com o dr. Cálagos e eu vou descobrir.

Nessa mesma noite, depois que Arthur voltou para sua casa, Pedro, em casa e a sós com ela,
mais uma vez admirado com a cor verde dos olhos de Sofia, atreveu-se.

- Sofia, vamos relaxar um pouco, que tal um vinho?

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Pegou muito mal isso. A situação é muito tensa, de trauma, e ele vai tentar seduzir a jovem?
Se você quer uma cena de intimidade, faça os dois conversarem sobre o que aconteceu com
eles. Faça um diálogo mais maduro:

— Meu deus Sofia, achei que você tinha morrido, eu… achei…

Pedro tinha lágrimas nos olhos.

“Caramba… Ele ainda tem sentimentos por mim…”, pensou Sofia olhando para ele. Ela não
sabia o que sentia por Pedro. Era um amigo para ela agora. E ela precisava de um amigo. As
imagens que vira no Centro de Cálagos lhe gelavam as entranhas.

— Calma, — ela disse — ainda estou viva. Mas estou puta! Puta com aquele velho babaca.
Tenho certeza que ele é o responsável pelos desaparecimentos.

— Não sou mais da PM, Sofia, mas ainda tenho contatos na polícia. (etc…)

- Eu topo, acho que a gente merece.

- E a vida, Sofia, nem tivemos tempo de conversar, fora esses troços aí de homem-lagarto,
como estão as coisas com você?

- Tá tudo bem, fora isso aí, sem muitas novidades, e com você?

- Comigo também tá tudo bem. – Você ainda é jornalista, né?

- Ixe! – Nem sei mais - riu Sofia.

- Por quê?

- Ora! – Faz tanto tempo que não apareço na redação que eu acho que já fui despedida.

- E a vida amorosa?

- Sem vida amorosa.

- Opa! – Você sabe que eu tô sempre na fila aí – brincou Pedro.

- Oh! – Pedro, será mesmo?

- Oxe! – Sempre estive nessa fila, você que nunca olhou pra mim como eu gostaria.

- Pedro! - Eu realmente não sabia.

33
- Nossa! - Já dei várias dicas.

- Me dá mais um pouco de vinho.

- Sim, claro.

- Pedro, nós podemos deixar esse assunto pra outra hora, agora eu não tô com cabeça pra
isso.

- Claro, Sofia, sou bem paciente, você sabe.

- Obrigada, Pedro, você é um anjo.

Esse diálogo precisa melhorar. Eles estão muito calmos para quem viu humanos virarem
lagartos. Veja isso na reescrita.

Você também pode aprofundar mais os personagens. Para aprofundar mais personagens, o
leitor precisa conhecer um pouco mais do passado deles (como você fez um pouco com o
Cálagos). Esse trabalho de MOSTRAR o histórico é muito importante para arredondar os
personagens e fazer com que o leitor se identifique com eles, e se envolva emocionalmente na
história.

Exemplo:

- Oxe! – Sempre estive nessa fila, você que nunca olhou pra mim como eu gostaria.

Aquela fala acalmou o terror que lhe assolava desde que vira os Homens Lagartos.

Ela olhou para Pedro, mirando seus olhos castanhos, seu cabelo crespo raspado dos lados,
sua pele morena, seu porte atlético de um Policial Militar. Ela teve vários namorados antes
dele, desde que saíra da faculdade de Jornalismo da Bahia. Artistas, escritores, pintores,
sempre homens mais românticos, mais poéticos, que levavam a vida de maneira leve.

Mas com Pedro foi diferente. Ela o conheceu ao participar de um protesto de estudantes na
faculdade, em apoio à greve dos professores. Pedro era um dos PMs que haviam sido
deslocados para o local (…) Os dois trocaram olhares, e ela perguntou se ele iria prendê-la.
Ele ficou deconcertado, e hesitou. Ela então o convidou para sair.

“Fui ousada, mas havia algo nele que sempre me atraiu. Seu coração puro.”

— Você não devia ter me pedido em casamento. Eu não estava preparada. — disse ela, de
volta de suas divagações

34
(etc…)

Faça isso ao longo da história. Vá lapidando os persoangens, mas dentro do POV do


personagem foco do capítulo ou passagem.

***

Em Piancó, no meio da tarde, no estacionamento da pensão de d. Isaura, Herbert entrou no seu


carro com a intenção de ir novamente ao centro de pesquisas de Cálagos.

Quebra.

Ele precisava de respostas, afinal, lembrou-se de ter ido ao centro, mas não se lembrou como saíra
de lá. Decidido, seguiu para o centro de seu ex-aluno.

Você está repetindo a cena inicial. Novamente Herbert vai para o Centro buscando respostas,
como da primeira vez. Evite repetição de cenas. O Herbert já deveria estar buscando
incriminar, ou lutar contra Cálagos. Buscando a polícia ou alguém para levar a justiça a
Cálagos.

E é muito incoerente, depois do que aconteceu com ele, ele voltar sem uma arma, sem
alguma precaução, sem nada para se defender. Ele foi envenenado, jogado na rua, apareceu
todo machucado, e ele decide voltar assim, indefeso? Não faz muito sentido.

Na estrada vicinal de terra, já bem perto do destino, Herbert notou a chegada de um ônibus, que
estacionou ao lado do centro de Cálagos e dele saíram pessoas enfileiradas, caminhando numa
mesma toada, com a mesma expressão corporal e passadas sincronizadas.

Quebra.

Todos entraram no centro guiados por Um, ele lembrou-se de Um.

Quebra.

“O que era aquilo? Quem eram aquelas pessoas? E o ônibus, de onde veio?”

Quebra.

Não soube o porquê da priorização, mas Herbert optou por ir atrás da resposta para essa última
pergunta: de onde teria vindo aquele ônibus?

Quebra.

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Nessa intenção, Herbert resolveu seguir o ônibus até seu local de partida.

Essa parte está muito repetitiva. E a prosa precisa ser mais trabalhada, evite ficar repetindo
“Herber”, “Herbert” muito perto um do outro. Sugiro ler a passagem em voz alta para ir
ajustando as frases, fazendo com que elas soem melhor umas com as outras.

O ônibus segui estrada a fora, chegou em Patos e estacionou em definitivo numa garagem próxima
ao centro da cidade.

Quebra.

Herbert anotou o número da placa do ônibus e resolveu pernoitar em Patos, num hotel próximo a
garagem, para acompanhar algum movimento futuro daquela condução.

Quebra.

Atento ao seu propósito, Herbert acordou cedo e, após o café, foi direto para porta da garagem e
lá permaneceu até o horário do almoço.

Quebra.

Nada aconteceu e ele, com fome, decidiu por almoçar num restaurante próximo dali.

Coincidentemente, no mesmo restaurante já estavam sentados Pedro, Arthur e Sofia, que,


observando as mesas viu uma pessoa conhecida e comentou.

Isso é um problema. Parece o escritor forçando a história a seguir um caminho.

Sugestão:

Comece essa parte dentro do POV de Herbert. Faça ele ir na polícia, para acusar o Cálagos
de estar por trás dos desaparecimentos.

Na polícia, ele pode encontrar a Sofia e o Pedro, fazendo o depoimento sobre como ela foi
sedada por Cálagos e dos homens-lagartos.

A polícia de Piacó pode já estar composta de Tarimbeiros ou ser corrupta, paga por Cálagos
para abafar qualquer coisa.

Os policiais perguntam se tem provas e eles dizem que não tem.

Os policiais ou o detetive mentem, dizendo que irão investigar e pedem para eles aguardarem
as investigações (eles não irão investigar nada)

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Herbert e Sofia finalmente se encontram, sem ser forçado. E os dois já tem coisas em
comum, o envenenamento acontecido na casa do Cálagos.

Sofia pode já levantar suspeitas de que a cidade é completamente dominada por Cálagos.

- Pedro, tá vendo aquele careca bigodudo ali, sentado na mesa do canto? - disse Sofia

- Sim, tô vendo, e daí? - respondeu Pedro

- Tenho certeza de que vi ele no centro do dr. Cálagos.

- Como assim, viu ele?

- Sim, era ele, tava amarrado numa maca na entrada de uma câmara.

Se ela lembra de tudo, porque já não vai para a polícia, denuncia para as autoridades, ou usa
o seu jornal para atacar Cálagos?

E você ainda pode mostrar como Cálagos domina tudo e todos da região, como um dos
Coronéis antigos do Nordeste.

Sugestão: Para resolver o problema do dinheiro de Cálagos, faça ele ter assassinado ou
matado o homem que o adotou e se apropriado de sua fortuna. Ele pode ter sido adotado por
um rico fazendeiro, com grandes plantações diversas (milho, soja, por exemplo) um membro
de alguma família rica da região. Cálagos pode ter assassinado todos os membros da família
(ou transformado em Tarimbeiros) e assumido a herança da família. Ele usa essa herança e o
poder político da sua família para abafar e controlar a todos.

Ele já poderia começar com ligações políticas poderosas, isso o deixaria mais perigoso ainda.

- Tem certeza?

- Sim, tenho, vamos lá falar com ele.

- Sofia, você tem certeza?

- Tenho, cara, vamos lá, precisamos falar com ele.

- Vamo lá, então.

Os três vão até a mesa de Herbert.

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- Senhor, me desculpe, mas preciso tirar uma dúvida com o senhor - disse Sofia.

- Claro, em que posso ajudá-la?

- Desculpe a pergunta, talvez o senhor não entenda, mas preciso perguntar. - O senhor, por
acaso, conhece o dr. Cálagos?

- Sim.

- Eu sabia que era o senhor.

Herbert ficou atônito, mas Sofia não deu a ele tempo para que elucubrasse sobre a
circunstância inusitada.

Quebra.

Ela foi direta e disse tê-lo visto no centro de Cálagos, amarrado a uma maca, próximo a outras
macas nas quais outros homens eram devorados por insetos dentuços. Pareceu que ele seria o
próximo a ser devorado.

Quebra.

Herbert ouviu e buscou lembrar-se de fatos que confirmassem o relato de Sofia. Lembrou-se de
várias coisas: esteve sendo devorado por insetos; ficou muito machucado; fugiu, não sabe ao certo
como; esteve no hospital de Piancó e fugiu de lá.

Quebra.

Como e por que tudo aquilo acontecera? Quem era de fato Cálagos e quem era essa menina?

Sugestão: Já deixe o Herbert sabendo disso tudo antes. Faça a Cena dele fugindo, coloque
seus pensamentos diretos, faça o leitor sentir o terror DENTRO da pele do Herbert.

- Meu Deus! - Quem é você, menina? - perguntou Herbert, ainda atônito.

- Sou jornalista, meu nome é Sofia.

- Como você se meteu nisso tudo?

- Fui fazer uma entrevista com o dr. Cálagos, foi aí que eu conheci ele. - E o senhor, quem é?

- Meu nome é Herbert, Herbert Águia, sou biólogo, professor e fui professor de Cálagos.

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- Nossa! - Professor do dr. Cálagos.

- Sim, ainda na graduação dele, estou aqui a pedido de um ex-aluno meu, que hoje é bispo. –
Ele me incumbiu de observar o Cálagos, porque ele sente alguma coisa macabra nele. – Não me
pergunte de onde ele tirou essa ideia.

O diálogo está meio “duro”. Trabalhe ele mais, leia ele em voz alta. Crie padrões pessoais de
fala para cada personagem. O leitor deve indentificar um personagem pelo jeito que ele fala,
pelo vocabulário, sintaxe, etc. As falas estão muito iguais.

No final dessa leitura crítica, eu coloquei um texto que fiz para ajudar a melhorar diálogos!
:)

- Se ele tiver alguma coisa a ver com o que foi visto na lanchonete, o bispo tem razão, -
lembrou Sofia.

- O que aconteceu na lanchonete?

- Já falaremos sobre isso. - Mas primeiro conta como o senhor acabou daquele jeito, quase
sendo devorado?

- Não sei, só me lembro de estar com Cálagos, almoçarmos juntos no seu centro de pesquisas.
- Depois não me lembro de quase nada, a não ser da minha mutilação por insetos e de fugir de lá.

- Eu também almocei e jantei com ele. - Depois fomos fazer uma visita em suas câmaras, nas
quais ele desenvolve suas experiências, e são essas as últimas coisas que me lembro lá do centro.

- A verdade, Sofia, é que nos dois estivemos dominados por alguma força, hipnotismo, magia,
sei lá, mas nós estivemos dominados e saímos desse domínio, também não sei como.

- É verdade, professor, nós fomos dominados e nos libertamos.

- Precisamos confirmar se esse domínio está associado ao Cálagos.

Como tem quatro personagens conversando, o leitor se perde no diálogo sem marcadores
“disse Sofia, falou Pedro, comentou Artur, protestou Herbert”. E você precisa colocar
alguma linguagem corporal também, para quebrar a monotonia do diálogo.

Exemplo:

— O que foi?

Herbert sacudiu a cabeça.

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— Não estou entendendo o que está acontecendo!

— Temos que fazer algo! — bradou Pedro, dando um soco na mesa.

(Etc.)

• • •

- Eu tenho certeza que tá. – Veja, nós dois fomos ao centro e não lembramos com saímos de lá.
- Pra mim, tudo tem a ver com aquele dr. Cálagos, foi ele quem hipnotizou ou enfeitiçou a gente.

- Eu entendo você, mas não me lembro dele ter feito qualquer investida ou tentativa de me
dominar.

- Eu também não, mas a coisa toda só pode ter acontecido lá, não consigo pensar noutro jeito.

- Devemos nós dois, Sofia, fazer uma retrospectiva de nossa convivência com Cálagos, até
acharmos pontos em comum que indiquem o que nos aconteceu.

- Poxa! - Professor, eu não lembro de nada ruim do encontro com o dr. Cálagos e nada
diferente também.

Muito estranho. Ela lembra de ter viso Herbert amarrado e não acha isso ruim?

- Pior que eu também não lembro de nada ruim, pelo contrário, a comida deles lá é muito boa,
serviram até uns hambúrgueres, muito bons, por sinal.

Ele acordou todo machucado e não viu nada de ruim? Essa fala ficou estranha.

- Hambúrgueres? – Minha nossa, no meu almoço e no jantar também tinha hambúrgueres.

- Não, não é possível que aqueles hambúrgueres estavam contaminados ou enfeitiçados, não...

- Professor! - O hambúrguer é única coisa em comum pra nós dois.

- Eu sei, mas eu não consigo acreditar que o hambúrguer foi que nos hipnotizou.

- Pensa bem, professor, você mesmo disse que não se lembra de qualquer investida ou tentativa
de nos dominar, então, nossa hipnose foi sorrateira, escondida, eu não tenho dúvidas, foram os
hambúrgueres, eles têm alguma coisa que hipnotiza.

- Humm! - Não sei, mas faz sentido seu pensamento.

- É claro, professor, isso explica também a hamburgueria.

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- Oxe! - É mesmo, talvez você tenha razão, há alguma coisa naqueles hambúrgueres.

- Claro que tenho, professor, claro que tenho.

Porque eles não pegaram e analisaram os Hambúrgueres? O Herbert é um professor de


biologia, não é? Ele podia fazer isso, não?

Todos acomodados na mesa de Herbert, Pedro e Arthur passaram a relatar o que viram na
lanchonete. - O relato embaraçou mais ainda a cabeça de Herbert, além de amedrontá-lo.

- Meu Deus! - Como assim, homens virando lagartos? - espantou-se Herbert.

- É isso mesmo, do jeitinho que nós tamo te falando - insistiu Pedro.

- Sofia, você lembra de ter visto isso? - perguntou Herbert

- Mais ou menos, professor, eu não sei se é porque eles me falaram, mas às vezes me vêm
imagens desses homens-lagartos, mas não posso afirmar que vi.

- É, mas você tava hipnotizada, não podemos esperar que você se lembre. - Mas me conta aí,
Pedro e Arthur, eles viraram lagarto, assim, do nada?

- Isso, a gente não sabe por que eles viraram, mas foi do nada mesmo, eles tavam indo pros
fundos da loja e resolveram virar lagarto, foi assim, desse jeito. - A Sofia ficou parada do lado deles
e não fez qualquer reação. - Eu vi a mesma coisa que o Arthur viu.

- Desculpe-me, pessoal - interrompeu a garçonete, eu sou muito intrometida e não pude deixar
de notar que vocês tão aí falando de gente que vira calango, é isso mesmo?

- É sim, mas ainda não sabemos por que isso acontece - respondeu educadamente Herbert.

- Desconjuro, isso só pode ser coisa do demônio - refletiu a garçonete.

- Senhora, qual é o seu nome? - Perguntou Herbert.

- Fátima.

- Dona Fátima, me desculpe, mas nós precisamos continuar nossa conversa, a senhora pode
nos dar licença?

Essa história da Fátima também ficou muito “forçada”. Muita coincidência.

- Claro, desculpa, eu só fiquei admirada com essa história de gente virar lagarto, só isso, mas já

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tô saindo.

- Obrigado, dona Fátima.

- Gente, continuando, o que iremos fazer? - Continuou Herbert.

- Chamar a polícia, o caso é de polícia - concluiu Arthur.

- Calma! - Pelo que parece a coisa toda está ligada ao Cálagos e seu centro de pesquisas, é lá
o primeiro lugar que nós temos que levar a polícia - intercedeu Herbert.

- Eu concordo, mas como faremos isso? - perguntou Sofia.

- Olha só! Eu vim aqui seguindo um ônibus que saiu lá do centro do Cálagos depois de deixar
lá um monte de gente que mais pareciam robôs. - Eu estou esperando que o ônibus volte para lá,
ele tá estacionado numa garagem bem próxima daqui. - Vamos fazer o seguinte: vocês ficam aqui de
olho na lanchonete enquanto eu espero o ônibus sair da garagem e sigo ele, seja lá pra onde ele for.
- Depois eu volto aqui, aí, com as novas informações; vocês sobre a lanchonete; e eu sobre o
ônibus, traçaremos outro plano, ok? (Não use esses tracinhos no meio de uma fala. Deixe as
frases uma depois das outras, não precisa desse tracinho, fica confuso para o leitor)

- Eu concordo - disse Sofia.

- Eu também.

- Ok, eu também.

Quase não deu tempo. Assim que Herbert encostou seu carro perto da garagem, o ônibus com
a mesma placa anotada saiu pelo portão seguido de mais outros três.

Quebra.

Os ônibus seguiram na rodovia 361 por uns 20 quilômetros, entraram numa estrada vicinal de terra,
até um descampado, onde estavam dezenas de pessoas amontoadas. Perplexo, Herbert observou
toda a movimentação.

Os ônibus pararam um ao lado do outro e abriram a porta da frente. Um apito forte foi ouvido e fez
com que as pessoas entrassem nos ônibus. Um outro apito é ouvido e os ônibus lotados seguiram
de volta à rodovia rumo a Piancó.

Quebra.

Herbert continuou sua perseguição ao quarteto de ônibus sem conseguir concluir o que estava
acontecendo, muitas perguntas, para ele, ainda estavam sem respostas.

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Algum tempo depois, já em Piancó, uma cena já vista por Herbert repetiu-se: os ônibus
estacionaram ao lado do centro de Cálagos, seus passageiros desceram enfileirados e robotizados,
orientados por Um, e entraram por um acesso lateral ao centro de pesquisas de Cálagos.

Quebra.

Feita a entrega, muitas caixas metálicas foram introduzidas nos ônibus e eles retornaram lotados de
volta a Patos. Herbert permaneceu sem entender o que vira, mas preocupou-se sobremaneira com
a situação. Sabia existir algo errado naquilo e iria levar o delegado da cidade ao centro para
investigar a situação.

Na manhã seguinte, em Piancó, Herbert conversou com o delegado.

- Ok, eu entendo, o senhor foi professor do dr. Cálagos, conhece ele e sabe que ele tá fazendo
algo errado, mas o que ele tá fazendo de errado? -perguntou o delegado.

- Eu não sei ao certo, mas o senhor precisa ir ao centro dele investigar, eu vi centenas de
pessoas entrarem lá vindas de Patos, o senhor acha isso normal? - insistiu Herbert.

- Num pode ser uma festa?

- Claro que não, as pessoas pareciam hipnotizadas.

- Sim, mas qual o crime nisso?

- Olha só, delegado! – O senhor soube da pessoa que apareceu toda mordida no hospital e
depois fugiu?

- Sim, dr. Fernando me falou.

- Pois é, era eu.

- Era você, por que você fugiu?

- Eu não sei, mas o que eu posso te dizer é que a última coisa que me lembro é de estar no
centro de Cálagos, em companhia dele.

- Sei, e daí?

- Daí que essa é mais uma prova de que tem algo de estranho acontecendo lá. - Delegado, por
favor, vamos lá, não custa nada, será apenas uma visita, aí o senhor tira suas conclusões.

- Não sei.

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- Delegado, não custa.

- Ok, vamos lá, mas lembre-se será só uma visita, nada mais.

- Ok.

Sem qualquer anúncio, as portas do centro ergueram-se para a entrada dos visitantes. O
delegado e Herbert desceram as escadas e entraram na sala de estar do centro, Cálagos os
aguardou ao lado do fim da escada, em pé, elegantemente vestido.

- Oh! - Que bela surpresa, a que devo a honra, delegado? - Professor Águia, que bom revê-lo,
o senhor sumiu - ciceroneou Cálagos.

- A honra é nossa - respondeu o delegado. - Viemos aqui saber se está tudo bem, se não há
nada de estranho por aqui.

- Estranho, como assim? - Aqui está tudo na mais perfeita ordem.

- Sabe o que é, é que o professor Águia disse ter visto coisas estranhas aqui, disse que ônibus
cheios de pessoas desceram aqui, é verdade?

- Sim, eu recebo muitos alunos, repórteres e até curiosos, todos são bem-vindos aqui.

- Thomas, você lembra da minha última estada aqui?

- Claro que sim.

- E como foi que saí daqui?

- Ué! - Pela porta, - riu Cálagos.

- Não foi assim e você sabe disso.

- Então como foi?

- Eu não me lembro.

- Oxe! – Não lembra?

- Sim, eu acho que saí fugido.

- Fugido de que?

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- Você me dopou.

- Dopei? – Pra que?

- Não sei, mas fui dopado.

- Professor, por favor, que história é essa?

- Gente! - Vamos mudar o rumo dessa prosa, - interveio o delegado.

- É melhor, porque não tô entendendo nada - disfarçou Cálagos.

- Vamos falar das pessoas que o professor viu aqui.

- Thomas, as pessoas que vi não me pareceram visitas - insistiu Herbert.

- Não, então o que seriam elas? - Ironizou Cálagos.

- Não sei, me diga você.

- Ora! Professor, só podiam ser visitantes o que o senhor viu. - Não há razão para não serem,
muitos querem conhecer meu trabalho. - E devo dizer, delegado, tudo começou graças aos
ensinamentos vindos do professor Águia, esse aí, a quem serei eternamente grato - mentiu Cálagos.

- Thomas, podemos conhecer seu centro, todo ele?

- Claro.

- Não, dr. Cálagos, muito obrigado pela recepção, mas nós já vamos embora - interveio o
delegado.

- Por que tão cedo? - Vocês são bem-vindos para conhecer o centro.

- Não, eu já estou satisfeito, vamos embora.

- Mas delegado, precisamos ver o centro.

- Não, não precisamos não. - Já chega, aqui está tudo ok. - Desculpe-nos doutor, nós já
vamos.

- Não há do que se desculpar delegado, o centro sempre estará à disposição de vocês para
visita. - Voltem quando quiserem, especialmente o senhor, professor, tenho certeza de que ainda
tenho muito a aprender e o senhor a me ensinar.

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Essa Cena prometeu conflito mas não entregou. Acho que teria sido melhor o Delegado ser
um Tarimbeiro ou estar no bolso do Cálagos.

Cada vez mais acho necessário estabelecer o Cálagos como alguém muito rico, uma espécie
de Coronel do Nordeste. Ajudará a deixar a história mais realista, e você pode ter um
subtema sobre a corrupção no Brasil, que sempre atrai os leitores.

No carro, na volta a cidade, a conversa entre Herbert e o delegado foi inamistosa.

- Caramba, professor! - O cara tem a maior consideração por você e você ainda desconfia
dele.

- Delegado, eu sei o que estou dizendo, tem algo errado ali e muito errado.

- Oxe! - Que implicância, você estava lá comigo, não tem nada errado lá, deixa o cara
trabalhar, ou melhor, atenda o chamado dele e vai lá ajudar.

- Delegado, o senhor verá, algo muito tenebroso virá daquele centro, eu sei o que estou
falando. – O bispo tinha razão.

- Bispo, que bispo?

- O bispo Firmino, estou aqui a mando dele para observar Cálagos.

- Ah! – Então é isso, o senhor tá cismado com ele, por causa do bispo.

- Sim, estou aqui a mando do bispo, mas hoje eu mesmo desconfio de Cálagos.

- Bestagem, professor, bestagem, vá descansar e deixe o homem trabalhar.

- Lembre-se, delegado, eu estive naquele centro e não me lembro como saí de lá, só sei que
acordei no hospital todo mordido.

- Será, professor? - Porque o senhor há de concordar comigo que não vimos nada de anormal lá,
não é?

- Ok, o senhor pode me deixar na pensão?

- Claro.

Tem gente demais desaparecendo nesse lugar, muita gente virando Tarimbeiro. Certamente já
haveria investigações na região, ou rumores. Não faz muito sentido o delegado desconsiderar
o caso desse jeito. A não ser que ele esteja envolvido com Cálagos ou seja um Tarimbeiro.

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Veja isso na reescrita.

Herbert, percebendo seu descrédito, não se sentiu seguro para contar ao delegado que disseram a
ele que na lanchonete de Cálagos, em Patos, assistiram homens virar lagartos.

Quebra.

Ele sabia que essa história, se contada naquele momento, seria assinar seu atestado de loucura
perante o delegado. Preferiu calar-se no restante da viagem até a pensão.

Quebra.

O problema é que você gastou um monte de cena e a história não caminhou, ficou dando
voltas e voltou para a situação inicial do Herbert.

E você também perdeu a chance de criar um confronto entre Herbert e Cálagos. Não tem
nenhuma cena de confronto direto entre os dois, até o final do livro. Cálagos ficou de fora do
clímax do seu livro, ele foi apenas citado indiretamente.

Sugiro reestruturar a jornada de Herbert e de Cálagos, criando mais antagonismo entre os


dois, e com cenas dos dois discutindo um contra o outro.

Assisti o filme Sherlock: O Jogo de Sombras https://www.adorocinema.com/filmes/


filme-173048/ recentemente e recomendo para você ter uma referência desse tipo de duelo
entre um Protagonista e um Antagonista. No caso do filme é o Sherlock versus o Prof.
Moriarty (tem na literatura também).

O seu livro ficaria muito melhor se você investisse nesse duelo entre Herbert e Cálagos.

No centro, após a saída das visitas, Cálagos ficou encolerizado e urrou para demonstrar sua ira.
Soube, da pior forma possível, que o professor Águia estava vivo e o perigo que aquilo
representava.

Quebra.

E mais, Sofia também escapara de seus domínios e poderia divulgar informações inconvenientes ao
projeto de Cálagos.

Quebra.

Ele precisou tomar atitudes para conter a ameaça. Zeiton precisou ser consultado, Cálagos desceu
ao confessionário e aguardou o ritual de sua aparição.

Achei estranho o Zeiton ter que ser consultado. Cálagos poderia enviar uns capangas para
matarem Sofia e Herbert.

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Outra coisa, descreva a CENA com Cálagos dialogando com o Um sobre esse problema.
Essa é uma boa hora para revelar ao leitor porque Cálagos não transformou Sofia em um
Tarimbeiro.

- Por que me chamas Cálagos?

- Zeiton, preciso de autorização para começar o domínio.

- Ainda não é hora e você sabe disso. - Não desafie o Mestre.

- Não, senhor, jamais, mas estou ameaçado e preciso começar.

- Não, repila a ameaça, acabe com ela. - Lembre-se: sem compaixão.

- Sim, Zeiton, vou agir, desculpe-me tê-lo chamado.

- Não se desculpe, Cálagos, apenas aja, sem compaixão.

- Sim, senhor.

- Aja Cálagos, aja, repila todas as ameaças, sejam quais forem e de onde vierem, destrua-as,
liquide-as, extermine-as. - Você não precisa falar comigo para agir. - Cuidado, Cálagos! - O
Mestre ainda confia em você, mas não admitirá tropeços e piedades, aja e extermine seus
obstáculos. - Digo a você que o Mestre cogitou preparar outro agente para garantir o êxito da
missão confiada a você.

Não use esses tracinhos entre as frases. Não acho que precisa citar que existem outros
“agentes”. Eles não apareceram na história, em nenhuma cena adiante.

E veja essa motivação do Zeiton, está bem confusa para o leitor. Outro problema que vi ao
ler o livro todo, não há menção nenhuma do Mestre do Zeiton, ele nem aparece na história.
Recomendo rever isso.

Sugestão: Zeiton pode ser o líder de uma raça alienígena, que está usando Cálagos para
invadir a Terra. Em troca eles farão Cálagos o lider dos Tarimbeiros, ou um líder nessa nova
Terra. Cálagos pode ter tido seu DNA alterado e agora é mais alienígena do que humano (ele
odeia humanos e essa motivação precisa estar bem clara para o leitor.

- Sim, Zeiton, agradeço sua visita.

- Vou-me, não serei mais perturbado com indecisões, aja só e objetivamente.

Zeiton riscou com a língua mais uma vez a parede acima da cadeira de Cálagos e retornou às

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trevas. Agora foram onze aparições.

Cálagos saiu do confessionário ainda mais irritado de que quando lá entrou. Qualquer lembrança
trazida sobre a escolha de um provável concorrente irritava-o profundamente, ele temia a
impaciência do Mestre.

Quis saber mais sobre o paradeiro de Águia e foi a cidade obter informações. Cumpriu seu ritual,
antes de outra ação, sentou-se no banco da praça para tomar sol, mas foi surpreendido por
Herbert que, sem qualquer cerimônia, sentou-se ao seu lado.

Comportamento estranho para Cálagos. Ele já deveria estar mobilizando todas suas forças
para matar Herbert e Sofia.

- Boa tarde, Thomas.

Cálagos ficou surpreso, (repetição “supreendido” “supreso”) mais uma vez encenou altivez e
prosseguiu no diálogo com seu ex-professor, agora claramente inimigo.

- Boa tarde, professor Águia, o senhor por aqui?

- Sim, mas não graças a você.

- Como assim, o que tenho eu com isso?

- Não se faça de sonso, Thomas, você me dopou, ainda não sei por que, mas você me dopou e
me prendeu no seu centro. - O que você está planejando, seu cretino?

- Que isso, professor?

- Eu vou descobrir, seu safado.

Os dois já deveriam estar em conflito aberto. E essa cena é mais uma “coincidência” na
história. Não ficou bom.

O melhor aqui seria o Cálagos, com uns capangas, caçar o Herbert e o cercar, capturando-o.
Os dois tem um diálogo tenso e Herbert poderia sacar uma arma, dar uns tiros em Cálagos e
depois fugir.

Cálagos pensou em atacar o professor e matá-lo ali mesmo, nada poderia ser mais fácil, mas a
intensa movimentação de pessoas na praça o impediu. Ainda não era a hora de mostrar sua força.
Indisfarçadamente colérico, optou por ameaçar Águia.

- Você não vai descobrir nada, deixe-me em paz. - Eu devia acabar com você aqui mesmo, seu
bisbilhoteiro.

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- Ah! - Agora você tá se mostrando, seu pulha. - Eu não sei qual maldade você está
planejando, mas eu vou impedi-lo, fique certo disso.

- Professor eu acho melhor você não se meter comigo, você pode se dar muito mal.

- Mal, como? – Eu ainda não sei o que você planeja, mas sei que não é coisa boa e eu vou
impedir. – E não invente esse olhar de cobra, eu não tenho medo de você.

- Vai nada, você não sabe de nada e mesmo que soubesse não teria forças para me impedir. - Você
escapou da primeira, mas não vai escapar da próxima.

- Que próxima, seu patife?

- Você é mesmo um xereta. – Afinal quem você pensa que é pra me confrontar, seu
intrometido?

- Confrontar o que, Thomas? – O que você tá planejando?

- Cale-se.

- Não, eu não me calarei e vou descobrir suas intenções.

- Será tarde, Águia, muito tarde, ninguém poderá fazer nada. - Aguarde.

- O que você tá planejando, seu canalha? - Por que você me dopou, covarde? Que insetos
carnívoros são aqueles?

- Você não é mais importante, professor.

- Importante pra que?

- Você será só mais um.

- Mais um, pra que? – Recolha essa sua cara bicuda.

- Lembre-se, agora é tarde, Águia, muito tarde. – Faça o que quiser, professor. – Nada mudará o
que já está projetado.

- Não vá embora, eu vou levar a polícia no seu centro e vou saber o que você está planejando.

- Você já levou, Águia, agora é tarde. - Como eu disse, fique atento. - Até mais ver, professor.
Lembre-se você também será responsável pelo que vai acontecer. Tchau.

50
Era para o Cálagos tentar matar o Herbert. Recomendo o conflito aberto aqui. Faça o
Cálagos dominar toda a cidade.

Cálagos levantou-se ainda muito enraivecido e retornou ao centro, lá chegando ele foi direto para o
campo de hibernação onde já estavam sentados e hibernando milhares de tarimbeiros. Os milhares
de familiares desses milhares de tarimbeiros não sentem falta deles? Veja esse furo de trama
na reescrita. Como é que você pode deixar isso mais realista?

Aos gritos chama Um.

- Seu idiota, onde estavas?

- Aqui, meu senhor.

- Desconecte um deles, um forte, e leve-o ao meu encontro no covil.

Num pequeno cômodo, limpo, sem qualquer móvel, cujo acesso dava-se por uma porta situada na
parede do fundo da sala de estar – o covil – iluminado com luzes de cor roxa, Cálagos recebeu o
tarimbeiro desconectado por Um – JAN15/12:01:59 fora o escolhido.

Quebra.

Ambos, Cálagos e tarimbeiro, trasmudaram-se para a forma de lagarto e iniciaram uma


conversação mental a partir da qual Cálagos transmitiu ao seu vassalo a ordem para matar o
professor Herbert Bastos Águia e a repórter Sofia, de forma cautelosa e precisa, sem qualquer
possibilidade de associação das mortes com o centro de pesquisas e muito menos com Cálagos.

Quebra.

JAN15/12:01:59 seria introduzido na sociedade com o nome de Jânio Junior, instruído e


programado para ser um homem gentil e comunicativo e já estava autorizado a cumprir sua missão.

Já era para ele ter feito isso, desde que notou que Herbert fugira. Veja isso na reescrita.

***

Em Patos, Sofia, ainda muito impressionada, comentou com Pedro e Arthur o que vira na
lanchonete na noite anterior.

Quebra.

Os amigos a haviam levado para assistir a transformação dos homens-lagarto. Naquela noite,
quatro pessoas transformaram-se em lagarto.

51
- Pedro! - Eu ainda tô chocada com aquilo. (Repetição do parágrafo inicial dessa passagem,
não precisa repetir o mesmo tema. Você já poderia começar essa parte por esse diálogo. E
lembre-se de colocar essa passagem em um capítulo separado — Capítulo X - Sofia (e foque
no POV dela, com pensamentos diretos, sensações, emoções, etc.)

- Todos estamos, Sofia, a gente ainda não conseguiu entender o que vimos. - E você não lembra de
nada?

- Não, não sei por que, mas não lembro mesmo.

- Gente! - Eu sei que nós tamo impressionados, mas temos que ir ao restaurante. - O professor
Águia está chegando na cidade e disse pra irmos pro restaurante encontrar com ele - interveio
Arthur.

- É verdade, então vamos - comandou Sofia.

Herbert, sentado à mesma mesa em que sempre ocupava no restaurante, esperou o trio chegar.

- Boa tarde! - E aí, professor, alguma novidade? - perguntou Sofia.

Depois de ver na batata da perna de Sofia duas cicatrizes redondas e alinhadas e antes de dar
continuidade a conversa, Herbert inqueriu Sofia.

- Que cicatrizes são essas aí na sua perna?

- Ah! - É que eu fui picada por cobra, uma cascavel pequena, mas eu passei muito mal.

- Nossa! - Eu também fui picado por cobra. - Não sei, mas será que tem a ver com a nossa rápida
volta a consciência depois que paramos de comer o hambúrguer?

- Ora! - Pode até ser, professor.

- Sim, mas o que isso pode nos ajudar? - interveio Pedro.

- Eu não sei, Pedro, mas pode ser que os anticorpos das pessoas picadas por cobra atenuem ou
diminuam a duração da hipnose vinda da ingestão dos hambúrgueres - respondeu Herbert.

- Ok, mas continuo perguntando, em que isso pode nos ajudar? - insistiu Pedro. – Será que
teremos que ser mordido por cobra pra resolver a situação?

O problema é que o Cálagos não a transformou em Tarimbeiro. Essa explicação da picada de


cobra não resolve o problema. E não gostei dessa explicação, é mais uma coincidência, algo
muito conveniente para a trama.

52
Sugestão: faça com que cada grupo de tarimbeiros tenha um humano controlado por
Cálagos para tomar conta.

- Ainda não sei, Pedro, mas é uma informação a mais. – Afinal eu e Sofia conseguimos escapar da
dominação de Cálagos.

- E você acha que foi o veneno de cobra?

- Não, eu ainda não acho nada, mas, como disse, é mais uma informação.

- Ok, gente, mas eu quero saber quais as novidades da sua viagem, Professor? - insistiu Sofia.

- Não muito boas. - Eu levei o delegado de Piancó no centro de pesquisas de Cálagos e depois tive
uma conversa muita dura com o próprio Thomas.

- Boa! - E aí?

- Boa nada, o delegado tava numa má vontade danada, chegamos lá, falamos um pouco com
Cálagos e fomos embora sem ver nada.

- Vixe! - Então vamos levar a polícia daqui lá na lanchonete. - Se virem o que acontece lá vão fazer
alguma coisa.

- Seria bom, mas eu acho que não conseguiremos convencer a polícia a ir lá, ainda mais se falarmos
que lá tem homem virando lagarto.

- E sua conversa, com o dr. Cálagos, como foi? - perguntou Pedro.

- Foi muito áspera, mas posso dizer que, por um aspecto, foi reveladora.

- Como assim? – emendou Sofia.

- Eu agora tenho convicção de que ele está projetando alguma maldade.

- Por que o senhor acha isso? – insistiu Sofia.

- Porque ele me disse, não diretamente, mas me disse que eu não poderei fazer nada, porque será
muito tarde.

- Ixi! Como assim? – interveio Arthur.

- Eu não sei, mas ele tá planejando algo, não é coisa boa e tem a ver com o que está acontecendo
por aqui. - Ele chegou a me ameaçar.

53
- Nossa! - Então a coisa é séria, o que faremos?

- Ainda não sei, só sei que isso tudo pode ser parte de um grande plano.

- Talvez, mas temos que fazer alguma coisa, os meninos me levaram lá, eu também vi os homens
virando lagarto.

- Eu sei, Sofia, mas não vai ser nada fácil a gente convencer as pessoas disso.

Sem que fosse notado, um homem alto, loiro e forte aproximou-se da mesa e interrompeu a
conversa.

- Desculpe-me a intromissão, mas ouvi vocês conversando sobre homens que viram lagartos, foi
isso mesmo? - perguntou o intruso.

- Sim, é isso mesmo, por que, o senhor sabe alguma coisa sobre isso? - perguntou Herbert.

- Sim, ouvi falar de casos assim, em outros locais, mas pensei que fossem lendas.

- Não é lenda, não, a gente já viu mesmo, eu vi - disse Sofia.

- Sério? - perguntou o intruso.

- Sim, é sério, eu ainda não vi, mas os meninos e ela viram, a propósito, qual é o seu nome?

- Jânio, senhor, chamo-me Jânio Junior.

- Prazer, Jânio, meu nome é Herbert, Herbert Águia e esses aí são: Pedro, Arthur e Sofia.

Não ficou lega essa chegada do Jânio. Seria melhor se Jânio fosse alguém que Pedro ou Sofia
conhecessem já. Ou alguém do jornal de Sônia, alguém que ela confia. Ficou meio forçado.

- É um prazer conhecê-los.

- Mas me diga senhor Jânio, onde e quando o senhor ouviu falar de pessoas que se transformam
em lagartos.

- Por favor, chame-me de Jânio, apenas Jânio. - Foi um amigo meu que disse ter visto essa
transformação numa lanchonete aqui mesmo em Patos.

- É isso aí, é nessa lanchonete mesmo que a gente também viu, disse Sofia.

- Será? - respondeu Jânio.

54
- Sim, as transformações, segundo eles, aconteceram numa lanchonete aqui no centro da cidade,
informou Herbert.

- Vixe! - Então meu amigo não inventou isso?

- Acho que não, Jânio, infelizmente, acho que não - concluiu Herbert.

- E aí? - Vocês têm algum plano pra divulgar isso?

- Era sobre isso que conversávamos - explicou Herbert.

- Entendo...- Olha só, talvez eu possa ajudar, sou detetive particular, com muita experiência -
mentiu Jânio.

- Poxa! - Que bela surpresa, acho que você poderá mesmo ajudar - deduziu Herbert.

- Gente! - Pelo que eu tô vendo aqui, nós vamos montar um esquema pra entender, divulgar e até
combater essa turma aí que vira lagarto, se isso for uma coisa ruim, do mal, né isso? - perguntou
Arthur.

- Acho que sim - respondeu Herbert.

- Que bom! - Então eu sugiro que a gente se reúna no sítio do meu tio, fica aqui perto. - Lá é um
lugar onde poderemos conversar à vontade, sem que ninguém perturbe. - Meu tio quase não vai lá,
só tem o caseiro, mas ele não incomoda. - O que acham? - completou Arthur.

- Eu acho uma boa ideia - concluiu Sofia.

- Eu também acho - emendou Pedro.

- Ok, se todos concordam vamos fazer desse sítio o nosso QG - ironizou Herbert.

- Ei! - Só pra confirmar, eu tô dentro da equipe? - perguntou Jânio.

- Sim, claro - respondeu Sofia.

- Vamos fazer o seguinte: amanhã vamos todos conhecer o sítio e lá traçar nosso plano de ação,
pode ser assim pra começar, Arthur? - comandou Herbert.

- Sem problemas, professor - autorizou Arthur.

- Por mim, tudo bem - concordou Sofia.

55
- Ok - disse Pedro.

- Para mim também tá ok, vamos lá - projetou Jânio.

A equipe do professor Águia não teve uma formação ideal.

A entrada de Jânio não ficou boa, está forçado demais. Veja como melhorar isso, não dá
para o leitor acreditar que o grupo o aceitaria sem questionar. Fica parecendo que Sofia e
Herbert são muito burros. Veja isso na reescrita.

***

Em Piancó, dez dias após, no centro de pesquisas, Cálagos reuniu no covil dez tarimbeiros e, após
todos transformarem-se em lagartos, ele fez o ordenamento telepático ao grupo, com comandos
diferenciados para cada um.

Eles seriam introduzidos na sociedade, mas não voltariam para o mesmo local de onde vieram.
(Isso não causaria suspeitas nas autoridades, familiares e amigos dessas pessoas? Veja isso
na reescrita)

Teriam como primeira missão a socialização e o consequente reconhecimento do ambiente, por


isso, foram orientados a agir com gentileza e educação, só usando da agressividade em casos
absolutamente necessários.

Quebra.

Foi o cumprimento de mais uma etapa do plano de dominação, para o qual Cálagos havia sido
enviado por seu Mestre. Acompanharia os tarimbeiros pequenos cilindros, assemelhados a um
pequeno extintor de incêndio de automóvel, que continham uma substância liquefeita sob pressão,
destinada a alimentação deles.

Quebra.

Esses artefatos deveriam ser instalados próximos a cadeira escolhida pelos tarimbeiros para
hibernarem, quase sempre a noite, de forma a permitir a introdução no braço deles do duto que lhes
abasteceriam, durante a hibernação, com a substância-alimento contida no pequeno tanque. Jânio
trouxe um desses quando foi a Patos. (Você tem que descrever isso ANTES da cena do Jânio
com o pessoal)

**

E aqui encerro a Parte 02 de 05 da sua Leitura Crítica.

56
Um grande abraço e obrigado pela confiança!

Newton Nitro

• • •

Segue abaixo um texto que escrevi para te ajudar a melhorar os seus diálogos! Espero que te
ajude! :)

DICAS PARA MELHORAR DIÁLOGOS

O Diálogo é a maneira mais rápida de melhorar a sua narrativa.


Diálogo escrito em excesso, xoxo, monótono, mal editado, que não diferencia personagens, e
que não avança a narrativa nem ajuda na caracterização de personagem pode derrubar um
livro.

Um diálogo bem feito, interessante, surpreendente, com frases bem colocadas, que avança a
narrativa e ajuda na caracterização, pode levantar um livro que tenha problemas em outras
áreas.

A maioria dos leitores adora diálogos, eles deixam a narrativa mais viva e é uma forma de
MOSTRAR o que se passa, de dar vida aos personagens e ao cenário.

Quanto mais inteligente e trabalhado os diálogos, mais profissional fica a narrativa.

DIÁLOGO É UMA FORMA DE AÇÃO DO PERSONAGEM


Os diálogos são físicos. Os personagens falam, e quando eles falam, deve ser porque eles
estão seguindo suas motivações e objetivos em uma cena determinada.

Não se pode desperdiçar diálogos. Se o diálogo for sem importância, colocar ele em um
sumário narrativo e guarde as cenas com diálogos para momentos mais importantes da
narrativa.

Diálogo não é para matar o tempo. Diálogo é AÇÃO de personagem e deve estar integrado
na narrativa ou para avançar a trama, ou para caracterizar os personagens ou ambos!

Diálogos são as palavras faladas em voz alta pelos seus personagens.

Existem dois tipos:

DIÁLOGO DIRETO
São as palavras exatas que os personagens falam, as falas com travessão que acontecem no
presente da narrativa.

Ex.:
_ Você é um covarde, Tonhão! _ disse Miguelito.

_ Eu vou te matar, desgraçado! _ disse Tonhão sacando a espada.

57
DIÁLOGO INDIRETO
Uma descrição do que os personagens falaram, dando uma idéia de quais foram as palavras.

Ex.:
Miguelito chamou Tonhão de covarde. Tonhão gritou que o iria matar e sacou sua espada.

DIÁLOGO SUMARIZADO
Um sumário ou resumo de uma conversa inteira entre personagens, é parte de um sumário
narrativo dentro do texto.

Ex:
Depois de uma troca de insultos e ameaças, Tonhão matou Miguelito com sua espada,
enterrou seu corpo no lixão da cidade e depois se embebedou no bordéu da vila Mimosa.

O “diálogo direto” e o “diálogo indireto” são formas de MOSTRAR o que acontece, o


“diálogo sumarizado” é uma forma de CONTAR o que acontece.

Lembrando que quando mais você MOSTRAR, principalmente em cenas, mais interessante
fica para o seu leitor. CONTAR tem o seu momento nas transições e nas explicações de
contexto, mas não nas cenas principais de sua história, onde acabam reduzindo o interesse do
leitor.

DICAS PARA MOSTRAR SEUS DIÁLOGOS

1) Mostre diálogo direto palavra por palavra usando travessões. Não sumarize o que o
persoangem diz. Mostre palavra por palavra.

2) Mostre diálogo indireto quase palavra por palavra, sem usar travessões. Pode haver um
pouco de sumário aqui.

3) Use um marcador (tag) para mostrar quem está falando. Marcadores simples como “ele
disse”, “ela disse” são interessante porque ficam mais invisíveis, mas depende muito do estilo
do escritor.

Quando for óbvio quem está falando, pode se eliminar o marcador.

USANDO AÇÕES AO INVÉS DE MARCADORES DE DIÁLOGOS:

Uma dica é usar ações ao invés de marcadores. Por exemplo:

Tonhão sacou sua espada.

_ Eu vou te matar, desgraçado!

Miguelito agachou e colocou as mãos sobre sua cabeça.

_ Não, senhor, não me mate!

SEPARANDO OS DIÁLOGOS
Para ficar mais claro para o leitor, uma dica é separar cada diálogo em um parágrafo
diferente, como nos exemplos acima.

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DIÁLOGO É CONFLITO
Os diálogos devem servir principalmente em dois níveis, avançar a narrativa e caracterizar
personagem. Escritores mais experientes colocam outros níveis nos diálogos, fazendo-os além
de avançar a narrativa e caracterizar personagem, dar o tom para a história, reforçar o
tema e descrever o ambiente.

Diálogos não devem ser desperdiçados. Um bom diálogo deve ser baseado em um conflito de
interesses.

Observe os diálogos das cenas mais marcantes de diversas narrativas. A grande maioria
deles envolvem conflitos de interesses. Cada palavra e cada frase pode ser entendida como
golpes em um duelo. Isso pode ser observado em diálogos de humor, drama, romance,
acusações, etc.

CUIDADO COM DIÁLOGOS PREVISÍVEIS


Quando o leitor sabe o que os seus personagens vão dizer em seguida, é um sinal que o
diálogo ou a cena tem pouco conflito. Quando os personagens se supreendem dentro de um
diálogo, a narrativa brilha.

Se seu diálogo estiver xoxo, muito convencional, introduza novos elementos, quebre o
diálogo com frases imprevisíveis. Escritores inexperientes costumam escrever o que se chama
de “diálogo reto”, previsível e com pouca variação.

Exemplo de um Diálogo Reto:

_ Oi.

_ Oi.

Uma edição simples nesse diálogo poderia ir logo direto ao ponto e surpreender o leitor.

Exemplo de revisão:

_ Oi.

_ Oi nada. Meu gato morreu e a culpa é sua.

Sempre que possível tente ir direto ao conflito do diálogo, para agilizar a narrativa e
aumentar a tensão da cena.

Quando um diálogo estiver muito equilibrado, sem muitas novidades, uma técnica é
introduzir um terceiro personagem para quebrar a monotonia, desbalanceando o diálogo e
introduzindo um conflito.

Exemplo:

_ Então estamos combinados.

_ Certo. Vamos para Mória agora.

_ Beleza. Ai!

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A pedra que o acertou na nuca rolou aos seus pés.

_ Parados aí! _ gritou o anão pelado que saiu da moita segurando uma segunda pedra. _ Se
alguém se mover, morre!

Em seguida viria a discussão com o anão pelado.

VOZ NOS DIÁLOGOS


Trabalhe os diálogos para dar uma VOZ para cada um dos seus personagens. “Voz” é a
forma particular que um personagem usa as palavras, o tipo de vocabulário que ele usa, o
tipo de sintaxe (ou a ordem das palavras) que ele usa, como ele fala, expressões que repete,
jargões, etc.

Use os diálogos para revelar a classe social, a educação, formação, origem e personalidade
do seu personagem.

Exemplos de Voz:
Um professor universitário de literatura normalmente falaria de modo diferente do que um
mendigo.

Uma criança fala de modo diferente do que um adulto.

Um teste para ver se seus personagens tem vozes diferentes é ler os diálogos sem as
referências, e ver se, apenas pelo jeito de falar, você consegue identificar quais são os
personagens que estão falando. Se você não conseguir identificar, altere e edite as falas até
deixá-las bem marcantes para cada um dos seus personagens.

Para trabalhar voz você pode trabalhar os seguintes aspectos:


1) Vocabulário
2) Palavras e Expressões Favoritas.
3) Regionalismos
4) Dialeto
5) Sintaxe (ordem das palavras)
6) Verborragia (falar de mais) ou laconismo (falar pouco)

ELEMENTOS IMPORTANTES NOS DIÁLOGOS

Cada diálogo de um romance tem que ser intencional. Você precisa saber porque está
escrevendo o diálogo.

TEM QUE VALER A PENA PARA A NARRATIVA


Tem que ser essencial para a história. Tem que avançar a narrativa, revelar e caracterizar
personagem e refletir o tema.

EVITE EXPOSIÇÃO FORA DO CONTEXTO


Em sua grande maioria, acontece entre dois personagens. Pode ser usado para passar
informações para o leitor mas SEMPRE tenha em mente que são dois personagens
conversando, falando o que falariam normalmente dentro do contexto onde estão.

Por exemplo:

60
_ Oi, que bom que você chegou.

_ Foi difícil. O portal estelar estava estragado e tive que pegar o teletransporte. Como você
sabe, o teletransporte foi inventado em 20120 inicialmente como uma arma contra a invasão
dos Insetos de Vênus, mas agora é usado esporadicamente para resolver problemas de tráfico
espacial.

_ Que bom, vou fazer um chá para você.

Deve-se evitar esse tipo de “infodump” ou “despejo de informação” dentro de um diálogo,


fica muito na cara que a informação está sendo enviada diretamente para o leitor.

O ideal seria ser mais sutil, e sempre lembrar que nos diálogos, o personagem irá falar aquilo
que normalmente falaria dentro da situação. Ele não sabe que tem um “leitor” lendo e que
precisa da informação.

Frases como “como você sabe” indicam que o que vem a seguir é um “despejo de
informação”.

Uma técnica muito comum para lidar com esse tipo de exposição é criar um diálogo entre um
expert e alguém que não sabe nada sobre o assunto que o escritor quer passar para o leitor.

Exemplo:

_ Como é que é essa história de teletransporte?

_ Bem, o teletransporte que foi inventado em 20120 incialmente como uma arma contra a
invasão dos Insetos de Vênus, mas agora é usado esporadicamente para resolver problemas
de tráfico espacial.

CONFLITO E TENSÃO SÃO OS ELEMENTOS BÁSICOS DE UM BOM DIÁLOGO


NARRATIVO
Diálogo deve ter tensão e conflito para justificar sua presença no texto.
Hitchcock tinha uma frase que repetia sempre: Os melhores diálogos são aqueles que não
possuem partes monótonas. Sem tensão ou conflito, sem diálogo.

A tensão pode ser modulada, mais forte ou mais fraca, o conflito pode surgir, submergir,
torcer, virar outra coisa, etc.

Exemplo da peça Dois Perdidos em uma Noite Suja, do Plínio Marcos:


(link para download da peça: http://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/vestibular/
Vest2013_1/Editais/DOIS_PERDIDOS.pdf )

TONHO
Onde você roubou?
PACO
Roubou o quê?
TONHO
O sapato.
PACO
Não roubei.

61
TONHO
Não mente.
PACO
Não sou ladrão.
TONHO
Você não me engana.
PACO
Nunca roubei nada.
TONHO
Pensa que sou bobo?
PACO
Você está enganado comigo.
TONHO
Deixa de onda e dá o serviço.
PACO
Que serviço?
TONHO
Está se fazendo de otário? Quero saber onde você roubou esses sapatos.

Conflito acontece quando cada um dos personagens tem uma motivação diferente em um
diálogo. Uma técnica é sempre colocar diferenças de opiniões entre os personagens
envolvidos em um diálogo. Podem ser grandes ou pequenas, pode ser uma coisa boba, como
“se devem comprar capuccino ou toddy”, mas sempre deve haver conflito.

DEVE PARECER REAL SEM SER UMA TRANSCRIÇÃO DE COMO É UM


DIÁLOGO REALMENTE
Diálogos narrativos não são um retrato dos diálogos na vida real. Faça uma experiência, se
grave falando ou em um diálogo. Muito de nossa fala é repetitiva, cheia de “ahs”, “hums”,
“ans”, frases param no meio, voltam, etc.

Na literatura, o escritor sempre busca criar uma ilusão do diálogo da vida real, mas como
está em uma narrativa, o diálogo deve ir focar no objetivo central da cena, seja avançar a
trama ou caracterizar personagem.

Observe como os escritores consagrados lidam com seus diálogos e veja as diferentes
técnicas que eles usam para dar a “sensação” de diálogo real.

DIÁLOGOS EXUTOS
No passado, os leitores tinham mais tolerância para diálogos exagerados, enormes,
demorados e inchados.

Atualmente, devido a influência da mídia do cinema e da televisão, os leitores esperam


diálogos mais enxutos, comprimidos, diretos ao ponto.

Todo personagem deve ter uma razão muito forte para falar dentro de uma narrativa.

SUBTEXTO NOS DIÁLOGOS


Essa é uma técnica avançada. Nos diálogos, o que não é dito é tão importante quanto o que
é dito.

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Um diálogo bem feito deveria possuir um ou mais dos seguintes elementos:
– O conflito principal do diálogo.
– As emoções, pensamentos, motivações reais por trás do conflito principal do diálogo.
– Subtexto, ou uma outra camada de interpretação, aludir indiretamente a um conflito mais
sério que permeia tudo.
– Uma relação com o tema da narrativa.

Um exemplo muito claro disso é o diálogo da fantástica e tensa cena inicial de Bastardos
Inglórios, entre um oficial nazista conversando com um fazendeiro que está escondendo
judeus no subsolo de sua casa. O diálogo tem várias camadas, aludindo ao tema do filme, ao
dilema da perseguição nazista aos judeus e escondendo uma ameaça velada contra o
fazendeiro.

Uma técnica para criar diálogos assim é primeiro escrever, quando na primeira versão, o
diálogo direto, com tudo que se quer falar de maneira clara, aberta, e “na cara”.

Na reescrita, você vai escondendo por meio de metáforas, de outros assuntos, retirando as
referências mais diretas e ocultando o máximo, “comprimindo” o diálogo. Como eu sempre
digo, “escrever é reescrever”, ninguém acerta diálogo de cara.

O lema de Elmore Leonard, o mestre dos diálogos, era o seguinte: Ele lia o que escrevia, se se
parecesse com escrita, ele reescrevia até parecer que não foi escrito, que foi retirado direto da
vida real.

ALGUMAS DICAS PARA EDITAR SEUS DIÁLOGOS


Seguem algumas dicas que podem ajudar a melhorar os diálogos de uma narrativa.

ORQUESTRE OS DIÁLOGOS
Orquestrar diálogos é criar personagens que são bem diferentes entre si para permitir
conflitos e tensão. Isso gera automaticamente diálogos fascinantes, quando se joga os
personagens uns contra os outros.

RETIRE AS PALAVRAS EM EXCESSO


Quanto mais sintético melhor. Menos é sempre mais em diálogos, falar muito com poucas
palavras, escolhendo a dedo quais são essenciais para passar o que se deve passar.

Você não precisa começar um diálogo na primeira palavra e terminar na última. Siga o
exemplo do mestre Rubem Fonseca, começe o diálogo direto ao ponto e termine antes do
final, para focar apenas no que importa para a cena. O começo e o final, se forem
necessários, podem ser sumarizados.

INVERTA OS DIÁLOGOS
Se os diálogos estiverem muito previsíveis, reveja as falas e veja o que você pode fazer para
variar as respostas, para não deixar tão óbvias. Existem milhares de maneiras de falar a
mesma coisa, maneiras criativas, usando gestos, figuras de linguagem, ironias, etc.

Faça seus diálogos terem coisas imprevisíveis, tangentes de conversa que aparentente não
tem relação com o tópico do diálog, mas que servem para caracterizar os personagens.

SEUS PERSONAGENS NÃO SÃO APENAS CABEÇAS QUE FALAM

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Intercale as falas com movimentos, ações, interação com o cenário, interrupções de coisas
que se movimentam em torno deles. Isso ajuda a quebrar a monotonia, aumenta a imersão
do leitor e serve para salpicar descrições ao longo da cena, evitando os temíveis “despejos
de informações”, blocos fechados de parágrafos com descrições que se mostram claramente
enxertadas na narrativa.

LEIA OS SEUS DIÁLOGOS EM VOZ ALTA


Essa é a melhor maneira de “sentir” se o diálogo está fluindo, se está de acordo com o tom e
o tema da narrativa, se está representando os personagens.

DIÁLOGOS PARA MOMENTOS DE FORTE EMOÇÃO


Observe como as pessoas falam e momentos de forte emoção. Elas param no meio de frases,
recomeçam o que querem falar, ficam irritadas, hesitam, etc. Atrapalhar com as frases, parar
e recomeçar, são técnicas para deixar os diálogos mais emotivos, para cenas de forte
emoção.

QUANTO MAIS VOCÊ ESCREVER DIÁLOGOS MELHOR!


Prática é o principal.

SAIBA DAS REGRAS GRAMATICAIS PARA DIÁLOGOS


Mesmo que você for quebrá-las, usar ou não travessão, usar aspas, usar marcadores ou não,
etc. é importante saber quais são os padrões usados para os diálogos.

ESTUDE OS DIÁLOGOS DOS ESCRITORES E AUTORES CONSAGRADOS

Uma das melhores maneiras de aprender a escrever diálogos é estudar os diálogos de autores
consagrados. Dramaturgos (autores de teatro) por exemplo, são mestres do diálogo, visto que
é a estrutura principal do texto teatral.

Filmes e séries de televisão também dão bons (e maus) exemplos de diálogos. Veja como os
autores usam dos diálogos para contar a história, revelar emoções, pensamentos, intenções.

Recomendo a leitura de autores feras em diálogos como Rubem Fonseca, Plínio Marcos
(dramaturgo, recomendo todas suas peças pela força dos diálogos), Nelson Rodrigues (sua
obra no teatro é muito boa), Patrícia Melo (herdeira do Rubem Fonseca na literatura de
crime, excelentes diálogos).

De autores estrangeiros, Elmore Leonard é considerado uma lenda viva dos diálogos, mas
colocaria também Joe Abercrombie, Quentin Tarantino (roteiros de filmes, diálogos
afiadíssimos), e George R. R. Martin (com diálogos que viram citações pelos fãs, quer mais
do que isso!).

Leia, sublinhe, veja o que fizeram e aprendam com os mestres. Os diálogos é a espinha dorsal
de uma obra contemporânea, e os leitores atuais adoram!

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