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O Dom da Fé

por

James R. White

A graça soberana é ofensiva ao Arminiano, porque ela esmaga o


orgulho humano e exalta a liberdade do Oleiro. O resultado
conseqüente da graça irresistível é a verdade bíblica de que a fé
é um dom de Deus. Visto que este é um assunto
particularmente repreensível a EML (Eleitos Mas Livres, livro de
Norman Geisler, que no Brasil foi publicado pela Editora Vida),
apresentaremos aqui somente algumas das passagens mais
óbvias que ensinam esta verdade e deixar uma defesa mais
completa da posição Reformada para o próximo capítulo, onde
responderemos às afirmações do Dr. Geisler.

Paulo começou muitas das suas epístolas com ação de graças a


Deus pelo amor e pela fé dos cristãos a quem ele estava
escrevendo. Por exemplo:

Graças damos a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,


orando sempre por vós, porquanto ouvimos da vossa fé em
Cristo Jesus, e do amor que tendes para com todos os
santos; (Colossenses 1:3-4)

Sempre devemos, irmãos, dar graças a Deus por vós, como é


justo, porque a vossa fé cresce muitíssimo e o amor de cada um
de vós aumenta de uns para com os outros; (2 Tessalonicenses
1:3)

Por que deveríamos agradecer a Deus pela fidelidade dos


cristãos? Por que deveríamos ser gratos a Deus, quando
ouvimos da fé dos outros, ou vemos sua fé aumentando? Se a fé
é algo dentro da capacidade de todo inimigo não-regenerado de
Deus, por que deveríamos agradecer a Deus quando uma
pessoa exercita a mesma? A menos, é claro, que a fé encontre
sua origem no próprio Deus e seja, como nós cremos, um dom.
Isto é o que Paulo ensinou:
Paz seja com os irmãos, e amor com fé, da parte de Deus Pai e
do Senhor Jesus Cristo. A graça seja com todos os que amam a
nosso Senhor Jesus Cristo com amor incorruptível. (Efésios
6:23-24)

A paz cristã, o amor cristão e a fé cristã, tudo vem “de Deus Pai
e do Senhor Jesus Cristo”. Note como amor, paz e fé aparecem
nesta passagem famosa, mostrando também que elas não vêm
de nós, mas de Deus:

Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade,


benignidade, bondade, fidelidade. (Efésios 5:22)

Embora a tradução fale de “fidelidade”, a palavra grega é


simplesmente “fé”. Paulo ensina isto ainda mais explicitamente
aos Filipenses:

Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não


somente crer nele, como também padecer por ele, (Filipenses
1:29)

Aqui Paulo fala de duas coisas que foram “concedidas” aos


cristãos. O termo “concedido” é o termo grego , do
termo charizomai, “dar como um dom”. E, o que foi “concedido”
aos crentes? O olho corre para o final da frase, “padecer por
ele”. Isto é o que a mente parece absorver quando lemos a
passagem. Tem sido concedido como um dom o padecer por
Cristo! Que pensamento estranho para muitos hoje que não
experimentam perseguição e sofrimento, mas certamente não o
era para aqueles a quem Paulo estava escrevendo. Mas, assim
como o sofrimento não é algo produzido pelo nosso “livre-
arbítrio”, assim também o é com a primeira coisa nos
concedida: crer em Cristo. Este é o termo normal usado para a
fé salvadora (). Deus nos concedeu o crer em Cristo. Por
que isso seria concedido já que, como somos informados,
qualquer um pode , pode “crer”?

O escritor aos Hebreus sabia algo sobre a origem da fé, que é


vital para entendê-la também:

Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão


grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o
pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a
carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e
consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto,
suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra
do trono de Deus. (Hebreus 12:1-2)

Jesus é descrito como o “autor e consumador” da fé. As


palavras gregas escolhidas pelo autor são mais
interessantes:Archegon refere-se à origem,
fonte, começo, e então, por extensão, à autor. Teleiotes refere-se a
alguém que completa ou aperfeiçoa. Considere o que isto significa:
Jesus é a origem e fonte da fé, o objetivo da fé, aquele que completa e
aperfeiçoa a fé. Certamente, parece que toda a vanglória por parte do
vaso, por ter contribuído com seu livre-arbítrio para crer, é deixada de
lado, não parece? Para os cristãos estas são palavras preciosas. Quando
estamos fracos, quando estamos desencorajados, quando parece que
possivelmente não poderemos continuar, qual é a nossa única
confiança? Cristo. Deus não abandonará os Seus. Somos deveras
guardados pelo poder da fé, mas não uma fé meramente humana, mas
uma fé divina, um dom de Deus! Por que alguns tropeçam e caem,
enquanto outros perseveram? É que alguns são melhores e mais fortes
do que outros? Não. A razão descansa na diferença entre ter fé
salvadora e ter uma fé que não é divina na origem ou natureza. Muitos
são aqueles que fazem uma profissão de fé não baseada na regeneração,
e a “fé” que é deles não sobreviverá. Jesus ensinou esta verdade na
parábola do solo em Mateus 13:3-9, 18-23. Algumas das sementes que
foram semeadas resultaram em crescimento imediato. Mas o
crescimento não produziu fruto e não sobreviveu. Estes são aqueles que
têm uma fé falsa, humana, que não persevera. Mas aqueles com
verdadeira fé produzem fruto e permanecem.

Uma vez que esta verdade é entendida, podemos vê-la sendo


mencionada freqüentemente na Escritura. Veja com atenção como
Pedro se refere à fé:

E pela fé no seu nome fez o seu nome fortalecer a este que


vedes e conheceis; sim, a fé que vem por ele, deu a este, na
presença de todos vós, esta perfeita saúde. (Atos 3:16)

A fé vem através de quem? Cristo. Isto é o porquê Pedro pôde


escrever anos mais tarde:

E por ele credes em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos, e


lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em
Deus; (1 Pedro 1:21)

Somos crentes através dEle, não através de nós mesmos. Fé é


um dom, a possessão universal de todos os crentes. Mais umas
poucas passagens que testificam esta verdade:
E a graça de nosso Senhor superabundou com a fé e amor
que há em Jesus Cristo. (1 Timóteo 1:14)

Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco


receberam uma fé igualmente preciosa pela justiça do nosso
Deus e Salvador Jesus Cristo. (2 Pedro 1:1)

Deveras, arrependimento é, da mesma forma, designado como


um dom na Escritura, e dada a relação íntima entre a fé
salvadora e o arrependimento, esta prova adicional prova a
posição Reformada:

E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser


manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; Instruindo
com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes
dará arrependimento para conhecerem a verdade, e tornarem a
despertar, desprendendo-sedos laços do diabo, em que à
vontade dele estão presos. (2 Timóteo 2:24-26)

Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e


longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao
arrependimento? (Romanos 2:4)

Efésios 2:8-9

A despeito da riqueza do testemunho da Escritura vista acima,


muitos se focam quase que unicamente na citação de Efésios
2:8-9 quando vêm para o debate entre Arminianos e
Calvinistas. E embora o ensino deste versículo seja importante,
certamente ele não é a principal base sobre a qual a verdade da
natureza divina da fé salvadora deve ser baseada. As benditas
palavras são bem conhecidas:

Porque pela graça sois salvos, através da fé; e isto não vem de
vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se
glorie; Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para
as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos
nelas. (Efésios 2:8-10)

Esta passagem elimina o fundamento de todos e cada um dos


sistemas de salvação-pelas-obras, e de qualquer ensino que nos
diga que nossas realizações, nossas obras, nossos esforços, são
necessários para trazer a salvação. E é uma crítica vazia dizer
que Paulo fala aqui somente da simples provisão da
possibilidade de salvação. Ele diz que seus leitores foram
salvos pela graça através da fé, não “feitos salváveis”. Eles já
tinham entrado no estado de salvação e continuavam nele. Os
meios de sua salvação são ditos ser pela graça, livre graça. Eles
foram salvos através da fé.

Até este ponto todos concordam, pelo menos nos assuntos


básicos. O debate começa com a próxima frase: “e isto não vem
de vós, é dom de Deus”. O assunto básico é, “a que a palavra
'isto' se refere?” O termo grego é , um pronome neutro
singular demonstrativo. A regra básica é procurar um pronome neutro
singular no contexto imediato, como o antecedente do pronome.
Todavia, não há nenhum pronome neutro na primeira frase de Efésios
2:8. “Graça” é singular feminino; “sois salvos” é um particípio
masculino; “fé” é singular feminino. Assim, a que a que  se refere?

A resposta simples é: a toda frase “porque pela graça sois salvos,


através da fé”. É uma boa gramática grega usar um pronome
neutro para abranger uma frase ou uma série de pensamentos
numa simples palavra. O ponto de Paulo é que a inteireza da
obra da salvação é um dom de Deus, não obra do homem. Tudo
dela é livre, tudo dela é divino, não humano.

E sobre a reivindicação de que Efésios 2:8 ensina que a fé é um


dom de Deus? É comum para os Arminianos apontarem
triunfantemente que, visto que “fé” é feminino e “isto” é neutro,
fé não pode ser um dom. Mas isto é somente parcialmente
verdadeiro. O Arminiano terá que admitir que a graça
mencionada em Efésios 2:8 é um dom: todavia, ela é feminino
singular também, o que, se seguirmos o raciocínio dele,
significaria que a graça não é um dom, não mais do que a fé o é.
Tal argumentação é muito superficial para permitir que uma
conclusão significativa seja extraída.

Não há razão, contextual ou gramatical, para aceitar que o fato


de que dois dos três elementos substantivos [1] (graça e
salvação) sejam um “dom”, enquanto que o terceiro, fé, seja
uma contribuição estritamente humana. A inteira teologia de
Paulo, incluindo o fato de que ele especificamente se refere à fé
como algo que nos é “concedido” (Filipenses 1:29), indica que
todos os três elementos juntos constituem um dom singular de
Deus, porque certamente a graça é Sua, para livremente dar; a
salvação é Sua, para livremente dar, e da mesma forma, a fé
salvadora é o dom de Deus dado aos Seus eleitos.

Extraído e traduzido do livro “The Potter's Freedom”, de James


R. White. Este livro é uma defesa das doutrinas da Reforma e
uma refutação do livro Eleitos Mas Livres, de Norman Geisler.

Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto


Cuiabá-MT, 27 de Fevereiro de 2005.

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