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UC 15160 - HISTÓRIA DA ARQUITECTURA PORTUGUESA I

3º ANO 1°SEMESTRE
CURSO DE MESTRADO INTEGRADO EM ARQUITETURA 2021/2022

Índice
Índice de Figuras .......................................................................................................................................................................................................... 3
Enquadramento histórico .............................................................................................................................................................................................. 4
Ordem Cister ............................................................................................................................................................................................................ 4
Enquadramento do mosteiro..................................................................................................................................................................................... 7
Introdução a obra ........................................................................................................................................................................................................ 10
Gótico em Portugal..................................................................................................................................................................................................... 13
Gótico na arquitetura religiosa ................................................................................................................................................................................... 15
Abadia do Mosteiro de Alcobaça – Análise arquitetónica ......................................................................................................................................... 17
A Igreja ........................................................................................................................................................................ Erro! Marcador não definido.
Bibliografia................................................................................................................................................................................................................. 20
Indice de Imagens ........................................................................................................................................................ Erro! Marcador não definido.

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Índice de Figuras
Figura 1 - D Afonso Henriques (1106-1185) ............................................................................................................................................................... 4
Figura 2- Ordem cistercienses ...................................................................................................................................................................................... 4
Figura 3 - Mosteiro Cisterciense (Abadia de Sénanque) .............................................................................................................................................. 5
Figura 4 - Vista aérea do Mosteiro de Alcobaça (1187) .............................................................................................................................................. 7
Figura 5 - Abade dos mosteiros.................................................................................................................................................................................... 7
Figura 6 - D. João V ..................................................................................................................................................................................................... 8
Figura 7 - DGEMN ...................................................................................................................................................................................................... 9
Figura 8- Mosteiro de Alcobaça ................................................................................................................................................................................. 10
Figura 9- Tumulo de Pedro ........................................................................................................................................................................................ 11
Figura 10 - Nave da Igreja.......................................................................................................................................................................................... 11
Figura 11- Fachada da Igreja do Mosteiro de Alcobaça ............................................................................................................................................ 11
Figura 12- Fonte de Água Natural do rio Alcoa......................................................................................................................................................... 12
Figura 13 Igreja de Salzedas ...................................................................................................................................................................................... 13
Figura 14 Sé Velha de Coimbra ................................................................................................................................................................................. 15
Figura 15 Fachada da Igreja de Santa Maria de Alcobaça ......................................................................................................................................... 17
Figura 16 Planta da Igreja de Santa Maria de Alcobaça ............................................................................................................................................ 17

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Enquadramento histórico
Ordem Cister
A ordem de Cister (Figura 1) chegou a Portugal em 1143, tendo-se afiliado com a Abadia de S. João
de Tarouca. Apos dez anos, a 8 de abril de 1153, D. Afonso Henriques (Figura 2), ajudou de forma monetária
os monges dirigidos pelo Abade de Claraval, o local onde seria construído o mosteiro de Alcobaça, que viria
a ser a fundação da Abadia de Alcobaça, tornando-se a Casa Mãe da Ordem em Portugal. (Tereno)
A ordem Cisterciense tinha uma regra que era viver uma vida sóbria, sem riquezas, completamente
dedicada a solidão e ao próprio trabalho, tanto o trabalho na construção dos seus próprios mosteiros como do
trabalho agrícola. (Tereno)
Essas características foram notadas e consideradas pelo primeiro rei de Portugal D. Afonso Henriques, Figura 1- Ordem cistercienses

que tinha o desejo de consolidar a posse de vários territórios que outrora foram conquistados por Mouros.
(Tereno)
Após o seu apoio, os monges desses mosteiros utilizaram duas vias, favoreciam o povoamento pela
constituição de vários coutos, para a fixação de colonos, geralmente posicionadas em áreas complicadas de
povoar, desenvolveram o aspeto agrícola a partir da criação de granjas nas zonas de terreno mais fértil. Elas
situavam-se a cerca de um dia de marcha da Abadia, para que se pudesse evitar a dispersão dos próprios
monges em pequenos priorados isolados e para que se pudesse permitir que os conversos que trabalhavam na Figura 2 - D Afonso Henriques (1106-1185)

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zona das granjas pudessem regressar ao mosteiro, durante os Sábados celebravam as cerimoniais dominicais
ou nos dias de festa. (Tereno)
Essas granjas dispunham, normalmente, de dois tipos de edificações, uma delas seria as instalações dos
irmãos conversos, como por exemplo a cozinha, o refeitório, calefatório, hospedaria e por último o oratório e
por outro lado, destinado a atividades agrícolas são os armazéns, estrebarias, moinhos, lagares, adegas, ovis,
estrebarias e tudo o que era mais indispensável. (Tereno)
Figura 1 - Mosteiro Cisterciense (Abadia de
A sua organização no espaço era bastante rigorosa e determinada, desde a sua distribuição das suas Sénanque)

funções como do próprio controlo de fluxos e contactos, até à rígida separação entre grupos que era existente,
as classes e as atividades. (ANTUNES, 2013)
Conseguir compreender a filosofia espacial cisterciense era uma ajuda para se conseguir descobrir a
forma coerente da própria ocupação do espaço no território. Os seus programas eram idênticos e, portanto, os
espaços seriam bastante semelhantes entre os vários mosteiros distribuídos por todo o terreno português.
(ANTUNES, 2013)
Um mosteiro cisterciense (Figura 3) não tinha como objetivo ser uma criação artística, mas sim uma
criação que se adaptasse a uma forma de viver, nada aparecia por acaso, mas tudo teria uma finalidade
especifica e bastante explicita, o aspeto de acessório foi colocado de parte e apenas trabalhado o aspeto de
utilidade. (ANTUNES, 2013)

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Essa mesma mentalidade também era transmitida para todos os monges cistercienses, eles eram mestres
construtores, técnicos de gestão, agronomia, o que fosse necessário trabalhar, eles mesmos iriam fazer o
trabalho. (ANTUNES, 2013)
Eles trabalhavam de forma inovadora, eles não se limitavam a copiar, eles trabalhavam de forma a que
conseguissem progredir, tentar melhorar sempre ,
mesmo sem negar o programa e toda a intenção já preexistente. (ANTUNES, 2013)
Com isso, todo o mosteiro era enquadrado numa malha ortogonal com uma especifica métrica, sendo
ela valida para a igreja e para os restantes espaços monásticos, o que significa que existem medidas
compositivas em módulos, em que as suas proporções iniciais se manteriam sempre. (ANTUNES, 2013)

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Enquadramento do mosteiro
Falando agora um pouco sobre a construção do mosteiro de alcobaça (Figura 4), num primeiro
momento, foi uma altura difícil para o mosteiro, pois só foi iniciado vinte e cinco anos depois da confirmação
da sua construção, devido a uma incursão muçulmana em 1195 naquela área implicou um recomeço nas suas
obras, sendo necessário convocar um novo grupo de monges e no fim do século, estaria apenas desbravado
apenas uma área de cerca de 2Km de raio centrado no mosteiro. (Tereno)
A extensão da sua área pertencia à Abadia e por isso mesmo requeria a participação de uma população
Figura 2 - Vista aérea do Mosteiro de
mais ampla do que o próprio número de monges e irmãos conversos que iriam la habitar. Procuraram assim, Alcobaça (1187)

atrair colonos através do estabelecimento de coutos. (Tereno)


Para conseguirem terminar a colonização das terras e promover o seu desenvolvimento por completo,
criaram as granjas em terrenos isolados e com água.
Admitiu-se que em meados do seculo XIV a meados do seculo XV esta Abadia conseguiu viver um
período de prosperidade e conseguiu com isso tornar-se num feudo bastante poderoso e por isso, um alvo da
cobiça de alguns dignitários. (Tereno)
Em 1475, o abade deste Mosteiro (Figura 5) acabou por ceder os seus direitos ao arcebispo de Lisboa,
em troca por uma renda anual, tendo assim como consequência uma prolongada depressão devido à
longevidade do próprio arcebispo, depois cardeal, que onerou o Mosteiro com pesados tributos. (Tereno)
Continuaram depois disso, abades comendatários, em que dois deles eram irmãos do próprio rei D.
Figura 3 - Abade dos
João III, aonde procuravam recuperar a situação da Abadia. (Tereno) mosteiros

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Ate que em 1567 o abade Cardeal-infante D. Henrique, depois de se tornar rei, conseguiu obter a partir do
papa Pio V a autonomia dos monges cistercienses de Portugal em relação à Abadia-Mãe da Ordem,
instaurando-se a Congregação Autónoma Portuguesa. (Tereno)
Após o término do domínio espanhol, o Mosteiro conseguiu adquirir, sob a proteção de D. João V
(Figura 6), a sua maior extensão e novo período de prosperidade. No próprio domínio desta Abadia, era
Figura 4 - D. João V
possível contar-se com 14 vilas dos coutos e 18 granjas, onde 8 dessas estariam associadas aa vilas dos coutos.
Essa mesma prosperidade do próprio Mosteiro acabou por afastar os monges da austeridade da sua Regra,
habituando se a uma vida mais faustosa, muito mais intelectual e consequentemente, artística que acabou por
encaminha-los para a decadência. (Tereno)
A redução dos números de irmãos conversos acabou por fazer entregar a exploração das granjas aos
rendeiros. (Tereno)
Até que uma grande inundação, em 1772 e o terramoto de 1775 conseguiram produzir estragos de tal
dimensão que acabou por ser necessário recorrer a vários empréstimos para a sua reconstrução, colocando
assim o Mosteiro numa posição difícil relativamente ao endividamento. Houve também as invasões francesas,
no início do seculo XIX, provocaram depredações que acabaram por agravar a situação económica do próprio
Mosteiro, acabando por contribuir também para independência dos rendeiros.
Após a derrota de D. Miguel I nas lutas liberais, os monges que tinham defendido a sua causa, tiveram
de abandonar o Mosteiro, em 1833. (Tereno)

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Depois disso houve um saque, mas não houve nenhuma destruição total porque numa interpretação
subtil da carta de fundação da Abadia, trouxe com isso o retorno do domínio da propriedade da coroa. (Tereno)
Houve também a desvinculação dos monges da Abadia de Cister, levando assim a Ordem de Cister a
desconhecer esta mesma situação e com isso a mesma não voltou a ser estabelecida em Portugal. (Tereno)
Depois do desaparecimento das ordens religiosas em 1834 no território português, o conjunto
monumental do mosteiro de Alcobaça, bem como toda a sua cerca, eles foram retalhados em diferentes hastas
públicas em inúmeros lotes. Tiveram assim, durante um seculo, as mais variadas utilizações, desde privadas,
publicas ou até mesmo religiosas. Apesar de tudo isso, é necessário dizer que foram essas mesmas apropriações
que manteriam a sua conservação, pois uma utilização do espaço obriga sempre a ter uma conservação da sua Figura 5 - DGEMN

estrutura e com isso que conseguisse chegar ate aos dias de hoje todo o seu aspeto monumental de forma
sólida. (ANTUNES, 2013)
No seculo XX, no final da segunda década, quase 100 anos apos a extinção das ordens religiosas em
Portugal, iniciou-se, a partir da direção geral de edifícios e monumentos nacionais (DGEMN - Figura 7), a
difícil e demorosa unificação de todo o conjunto monumental de todo o mosteiro e da sua cerca. (ANTUNES,
2013)

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Introdução a obra
O mosteiro de Alcobaça (Figura 8), há 800 anos que é um monumento histórico nacional, pertence ao
património Mundial da UNESCO e é um dos mais simbólicos edifícios em Portugal. Este, pertence aos
melhores exemplos da arquitetura gótica primitiva no território português. Foi encomendada pelo rei D.
Afonso Henriques no ano de 1153 após a vitoria em Santarém contra os Mouros, com intenção de mostrar que
a nova dinastia governante era poderosa. A localização foi escolhida a 12km do interior e a 120km de lisboa,
num vale entre colinas, na cidade de Alcobaça, que, mais tarde, se veio a desenvolver em torno do monumento Figura 6- Mosteiro de Alcobaça

e em torno dos rios Alco e Baca que se localizavam no vale e a junção do nome dos dois, originou o nome da
cidade Alcobaça. Este monumento não só foi fundamental no desenvolvimento da povoação em seu redor,
como também, está diretamente ligado aos Cavaleiros Templários e à era dos descobrimentos. (Andersen,
2021)

Foi a primeira obra cisterciense em Portugal e marcou a chegada do estilo gótico a Portugal, desde a
sua fundação que é uma base de recolha de conhecimentos entre a Idade Média. Foi no ano de 1269 que se
começaram a lecionar aulas publicas na área do mosteiro, estas que vieram influenciar arduamente a cultura
dos portugueses. Para além disso, os monges locais trabalhavam na criação de manuscritos iluminados que,
mais tarde, por volta do século XIX, deram originarem a uma das maiores bibliotecas portuguesas da era
medieval. (Andersen, 2021)

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No interior do mosteiro é possível observar os túmulos de Inês de Castro e Pedro (Figura 9), mandados
construir por Pedro no ano de 1357, ano em que se tornou rei. Estes têm origem após a famosa história de
amor entre Pedro e Inês que acaba com um final trágico, sendo que o pai de Pedro mandou assassinar Inês de
Castro. Os túmulos são de extrema beleza, uma escultura lindíssima, no entanto os soldados franceses, no ano
de 1810 acabaram por danificar bastante os mesmos com a esperança de no seu interior encontrarem tesouros
e joias. (Andersen, 2021)
Figura 7- Tumulo de Pedro
Os claustros do mosteiro iniciaram a sua construção em torno de 1280, a mando de D. Dinis, cerca de
130 anos após Afonso I ter ordenado a construção da igreja. No seu auge, habitavam o mosteiro mais de 900
monges e os terrenos férteis do mesmo mantinham a sua grandiosidade. (Andersen, 2021)

A fachada da igreja (Figura 11) foi remodelada ao longo do século XVIII e foi combinado o estilo
gótico, nas rosáceas e o barroco, nas torres. Após ter sido concluída no ano de 1223, foi considerada a maior
igreja do país que perdura até aos dias de hoje. A nave da igreja (Figura 10) é considerada dramática e
caracterizada pelo elevado pé direito acompanhada pelos seus maravilhosos pilares e paredes altas que Figura 9- Fachada da Igreja
do Mosteiro de Alcobaça
sustentam o teto abobadado, dão a sensação de grandeza que noutras igrejas portuguesas apenas é conseguida
ao utilizar ouro e joias. Os túmulos de Inês de Castro e de Pedro encontram-se nas laterais do altar, do lado
norte esquerdo e sul direito respetivamente. (Andersen, 2021)

A sala dos reis contem um total de 19 estatuas dos reis portugueses, acompanhados de maravilhosos
azulejos pintados que expõem a história do Mosteiro de Alcobaça. (Andersen, 2021) Figura 8 - Nave da Igreja

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O refeitório caracteriza-se pela porta alta e fina de entrada, porta essa que os monges atravessavam
para entrar na sala de jantar e caso estes fossem “obesos” não conseguiriam entrar no espaço e a sua
consequência era não comer. Ao lado do refeitório, encontrava-se a cozinha, construída no século XVIII,
possui um enorme forno e uma chaminé com azulejos que se apodera do centro da sala. O forno foi desenhado
de modo a que se conseguisse assar um boi de uma só vez sobre a fogueira. No fundo da cozinha existe uma
grande fonte de água natural do rio Alcoa (Figura 12) que fornece água potável a todos os habitantes do
Figura 10- Fonte de Água Natural do rio
mosteiro. (Andersen, 2021) Alcoa

O dormitório encontra-se no segundo andar e era o local de dormir comum aos monges que habitavam
o espaço, estendida por 67 metros, não contem qualquer detalhe artístico para que os monges se concentrassem.
(Andersen, 2021)

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Gótico em Portugal
O traço da arquitetura gótica em Portugal começa a reconhecer-se de forma algo tardia quando comparado
com os outros países europeus, a instabilidade social e os fracos recursos económicos fizeram atrasar a chegada
do gótico a Portugal. A forte tradição da arquitetura Românica em Portugal deu lugar a uma quantidade de
edifícios onde as duas linhas arquitetónicas eram evidentes, sendo por vezes difícil atribuir um estilo a
arquitetónico a alguns edifícios portugueses dessa altura. (Afonso, 2018)
Figura 11 Igreja de Salzedas
Os dois estilos arquitetónicos possuíam bastantes diferenças entre si. Enquanto que o estilo românico
transmitia um caracter defensivo, fechado e com particular intenção para o interior o estilo gótico procura uma
verticalidade do divino com umas linhas exteriores de refletiam um período de trégua militar e social com uma
linha arquitetónica desenhada à nova imagem do povo. Os primeiros edifícios atribuídos ao estilo gótico em
Portugal são as Igrejas de Salzedas, Tarouca e Alcobaça, que embora sejam identificadas algumas
características do românico, começam a demarcar-se do estilo antigo estilo e apresentam uma forte ligação à
arquitetura gótica. (Figura 13) (Afonso, 2018)

O estilo Gótico apresenta diferenças relativamente ao Gótico do resto da Europa, nomeadamente do norte,
enquanto que no norte o Gótico se fazia sentir mais o cariz episcopal e urbano em Portugal faz-se notar mais
o cariz monástico e rural. Como consequência de um período de paz social que se fazia sentir no país, o povo
passa a ter uma liberdade operativa fazendo crescer as povoações além das muralhas. A carência económica
que se fazia sentir no país fez os reis recorrerem às ordens militares e religiosas tanto para defesa como para

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desenvolvimento agrícola, sendo assim o crivo religioso acaba por estar bastante presente na arquitetura gótica,
sendo a maioria dos seus edifícios igrejas. (Afonso, 2018)

O traço da arquitetura gótica em Portugal acaba por ter um registo mais simples e contido quando comparado
com o resto da Europa. A escassez de recursos conduzia a edifícios de dimensões mais reduzidas e uma
verticalidade menos imponente que em outros edifícios internacionais deste estilo. Na viragem destes estilos
arquitetónicos foram utilizados edifícios em desenvolvimento, com uma presença forte do românico, como
esqueleto para novos edifícios, dando lugar a alguma confusão dos estilos. Esta escassez de recursos que se
fazia sentir neste período conduzia a um desenho da arquitetura menos ornamentado e ostentativo, o estilo
gótico acava por estar refletido nalgumas soluções estruturais pelo interior (capiteis, a título de exemplo) e
menos pelas esculturas e decorações. (Afonso, 2018)

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Gótico na arquitetura religiosa


O estilo gótico marcou uma presença na arquitetura religiosa em Portugal. No final do séc. XII começam a
surgir os primeiros edifícios totalmente góticos. Estes edifícios eram desenvolvidos de forma bastante idêntico
aos que se construíam na Europa até então, o facto de se ter solicitado a presença de construtores estrangeiros
facilitou a construção de uma linha mais homogénea relativamente ao resto da Europa. (Afonso, 2018)

Para além do claustro da Sé Velha (Figura 14) de Coimbra, que foi desenvolvido sob alçada de mestres Figura 12 Sé Velha de Coimbra
castelhanos e com profundas referências arquitetónicas ao Mosteiro Catalão de Iranzu, o objeto arquitetónico
em estudo neste documento, a igreja do mosteiro de Alcobaça, surge como o mais antigo exemplo deste tipo
de arquitetura em Portugal. Mais uma vez se denota uma referência à abadia de Claraval, em França, muito
devido aos mestres que a desenharam. Estes dois edifícios deixaram diversas referências para o
desenvolvimento do gótico religioso em Portugal, sejam elas referências arquitetónicas ou de métodos
construtivos. A arquitetura religiosa gótica em Portugal começa a ser desenvolvida com um carácter mais local
com a construção de igrejas conventuais inteiramente góticas sob as ordens mendicantes e militares um pouco
por todo o país. São exemplo edifícios como o mosteiro da Batalha, a colegiada de nossa senhora da Oliveira
(Guimarães), a restauração da Sé da Guarda, entre outros. (Afonso, 2018)

As restrições económicas que Portugal tinha à época levou a que o estilo gótico dessa origem a linhas mais
depuradas, onde a decoração dos edifícios dava lugar a formas mais sóbrias, é comum verificarmos fachadas
com corpo austero e rosácea no centro. (Afonso, 2018)

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Relativamente aos aspetos estéticos e construtivos o que distingue o estilo gótico português com o
aperfeiçoamento das coberturas abobadadas, onde o seu método construtivo com sistemas de nervuras conduz
ao achatamento das abobadas, os pilares começam a ser desenvolvidos de forma mais sóbria e desmultiplicada,
o aparecimento do arco contracurvado como elemento decorativo e a simplificação das fachadas. (Afonso,
2018)

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Abadia do Mosteiro de Alcobaça – Análise arquitetónica


A Abadia de Santa Maria de Alcobaça (Figura 15) é considerada a primeira obra gótica erguida em Portugal.
À semelhança dos mosteiros da ordem cisterciense desenvolvidos em território português a igreja do mosteiro
de Alcobaça apresenta profundas inspirações na abadia de Claraval (Martins, 2012), muito também devido à
mão de obra francesa importada. (Afonso, 2018)

67Podemos verificar uma planta em cruz latina (Figura 16), com transepto desenvolvido e 3 naves com
cabeceira com deambulatório e 9 capelas radiais, as naves da igreja possuem alturas semelhantes sendo que as
laterais assumem um caracter mais estreito e vertical, a nave central divide-se das laterais por doze pares de Figura 13 Fachada da Igreja de Santa Maria
de Alcobaça
pilares de grandes dimensões, todas as naves possuem abobada. À semelhança dos edifícios do gótico
português a ornamentação é escassa, verificando-se apenas alguns apontamentos, mas nunca escondendo a
estrutura, não existindo grandes figurações ou esculturas na sua arquitetura. A estrutura vertical dos pilares
responde a uma proporção, podemos verificar doze pilares de cada lado da nave central, são também doze
pilares os que verificamos no transepto. (Afonso, 2018)
Figura 14 Planta da Igreja de Santa Maria de
Enquanto que no interior verificamos uma forte presença da linha arquitetónica que caracterizava o estilo Alcobaça

gótico, no exterior existe uma maior influência cisterciense (Figura 15): não existem torres, as fachadas
sóbrias, possuem apenas uma parede lisa, as paredes possuem contrafortes e podemos verificar os primeiros
arcobantes desenvolvidos no gótico em Portugal. (Afonso, 2018)

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A igreja, que está voltada a oeste, inicialmente apresentava uma fachada simples e frágil e a sua disposição
interior era composta por três naves, mantendo a configuração mais comum de outros exemplos da Ordem de
Cister. De modo a relacionar-se com as três naves, o edifício possui empena triangular pouco expressiva que
apoiada em quatro contrafortes abre-se para o exterior através de uma grande rosácea e um portal por de baixo
desta. Para que as naves laterais também fiquem iluminadas, dois janelões posicionados entre os contrafortes
deixam penetrar a luz no interior e no topo da empena, ao centro, está a Virgem Maria. (Amílcar Coelho, 2012)

Com 100 metros de comprimento, a igreja de Santa Maria de Alcobaça possui abóbadas com nervuras (Figura
Figura 15 - Abobada
17) ao longo das três naves que pouco diferem na sua altura e se unem com o transepto de forma suave e nervurada apoiada em meias
prudente. Na cabeceira, o meio círculo é resguardado por uma abóboda em forma de cúpula, possuindo a colunas que descem até ao
chão
mesma altura das naves laterais ajustando-se na confluência com o cruzeiro. (Amílcar Coelho, 2012)

De modo a suavizar possíveis oscilações e defender-se de tremores de terra, a igreja possui uma estrutura
semelhante a uma gaiola, justificando assim a sua vida prolongada e com poucas reparações, “O carrego das
abóbadas é volumoso e os barrotes e vigas do telhado são em castanho, pinho e casquinha. Nos prumos,
utilizou-se o sobro e o carvalho". Desta forma é notório que houve cuidado na escolha das madeiras para os
carregos das “abóbadas do novo estilo” sustentadas por colunas. (Amílcar Coelho, 2012)

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A Capela-Mor, amparada no exterior por oito arcobotantes, deixa que a luz perfure as grossas paredes por
janelões de “dimensões ambiciosas para a época”, numa região da Europa onde o gótico começava a dar os
primeiros passos, denotando assim que a construção de Santa Maria de Alcobaça impôs que o trabalho de
estaleiro fosse planificado e a mão de obra organizada. (Amílcar Coelho, 2012)

Estima-se que cabeceira deveria estar concluída no final do século XII e por isso, os seus arcobotantes (Figura
18), que impõe o conhecimento de geometria e matemática, são os primeiros a ser usados na arquitetura
religiosa em Portugal e também o recurso à abóbada de nervuras é pela primeira vez utilizado em Portugal, Figura 16 - Contrafortes e arcobotantes da
cabeceira exterior da Igreja e transepto sul -
em Alcobaça, seguindo outros exemplos da metade do século XII. (Amílcar Coelho, 2012) sécs. XII/ XIII

Como as despesas da construção eram elevadas, é aceitável e compreensível que tenha existido pausas na
construção da igreja e, somando ainda um sério ataque mouro em 1195, a justificação torna-se ainda mais
plausível, o que não prejudicou o começo das operações e serviços do mosteiro, posteriormente à conclusão
da capela-mor, agrupando, assim, “as condições mínimas para o exercício divino”. (Amílcar Coelho, 2012)

No fim da segunda década do século XIII, partes da construção já estariam terminadas, tais como a cabeceira,
o transepto e a nave. A restante sustentação da igreja é feita recorrendo ao contraforte no lado sul, uma vez
que, no lado norte, a igreja se apoia no claustro. No âmbito do suporte da igreja, também é importante ter em
conta a significativa espessura das paredes e a robustez das colunas, de certo modo “incapazes ainda da leveza
gótica”. (Amílcar Coelho, 2012)

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Bibliografia
Afonso, L. (2018). O Gótico Português. Porto: Universidade Lusófona do Porto.
Amílcar Coelho, A. M. (2012). O Céu, a Pedra e a Terra – Os Cistercienses em Alcobaça. Batalha: Centro do Património da Estremadura
(CEPAE).
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