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UC 15165 - HISTÓRIA DA ARQUITECTURA PORTUGUESA II

3º ANO 2°SEMESTRE
CURSO DE MESTRADO INTEGRADO EM ARQUITETURA 2021/2022

Índice
Índice de Figuras .......................................................................................................................................................................................................... 3
Introdução ..................................................................................................................................................................................................................... 4
Raul Lino – Vida e Obra .............................................................................................................................................................................................. 5
Casa dos Patudos – Análise da Obra .......................................................................................................................................................................... 12
Dados Históricos..................................................................................................................................................................................................... 12
Casa dos Patudos – Decisões projetuais e evolução do edifício............................................................................................................................. 14
Bibliografia................................................................................................................................................................................................................. 18

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Índice de Figuras
Figura 1 - Raul Lino (1879-1974) ................................................................................................................................................................................ 5
Figura 2 - Obras literárias de Raul Lino ....................................................................................................................................................................... 5
Figura 3 - The great Exhibition de 1851 ...................................................................................................................................................................... 6
Figura 4 - A nossa casa de Raul Lino........................................................................................................................................................................... 7
Figura 5 - Casa do Cipreste, Sintra, Portugal. Fachada ................................................................................................................................................ 8
Figura 6 - Ricardo severo (1869-1940) ........................................................................................................................................................................ 8
Figura 7 - Palácio O´Neill / Casa de Santa Maria de Cascais- Raul Lino .................................................................................................................... 9
Figura 8 - Casa unifamiliar – Monte Estoril............................................................................................................................................................... 10
Figura 9 - Simetria geralmente utilizada por parte de Raul Lino nas suas obras ....................................................................................................... 11
Figura 10 - José Relvas e a sua família ...................................................................................................................................................................... 12
Figura 11 - Brasão da Vila de Alpiarça ...................................................................................................................................................................... 13
Figura 12 Fotografia da biblioteca (AHCP – Arquivo Histórico da Casa dos Patudos, Anexo 32) .......................................................................... 15
Figura 13 Fotografia Salão Renascença (AHCP – Arquivo Histórico da Casa dos Patudos, Anexo 17) .................................................................. 15
Figura 14 Fotografia da Sala Silva Porto (AHCP – Arquivo Histórico da Casa dos Patudos, Anexo 44) ................................................................ 16

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Introdução
Serve o presente documento para submissão à avaliação da unidade curricular de
História da Arquitetura Portuguesa II – Universidade da Beira Interior no ano letivo de
2021/2022.
O trabalho desenvolvido recai sobre uma investigação, recolha e análise da obra da casa
dos patudos do arquiteto Raul Lino. Sendo que o edifício em si teve intervenções prévias
e póstumas a este arquiteto, será feito um enquadramento arquitetónico geral do edifício,
mas com especial enfoque nas intervenções levadas a cabo pelo arquiteto.
Raul Lino é um dos pais da arquitetura portuguesa, e essa reflexão que o arquiteto
fez em vida espelha-se nas decisões projetuais que verificamos nas intervenções feitas na
casa dos patudos. Uma panóplia de referências arquitetónicas de diferentes épocas estão
presentes nos edifícios do arquiteto.
Assim sendo, e por forma expor com melhor efeito as diferentes partes deste
trabalho, o documento divide-se nos tópicos: Raul Lino – Vida e Obra, onde se faz uma
breve referência ao contexto histórico e arquitetónico do arquiteto, e a Análise da Casa
dos Patudos e recai sobre os dois subtópicos do contexto histórico não só do arquiteto
mas também da arquitetura em Portugal à altura da obra, bem como as decisões projetuais
e a evolução do própria edifício ao longo tempo, desde a sua função de habitação até à
sua função de casa-museu.

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Raul Lino – Vida e Obra


Raul Lino (Figura 1) foi um arquiteto que conseguiu ser bastante produtivo
durante toda a sua carreira, sendo a mesma bastante longa, onde ele trabalhou desde os
fins do século XIX até ao início da década de 1970, deixando por todo o seu percurso
como arquiteto centenas de projeto variados, sendo eles arquitetónicos, de mobiliário ou
até mesmo peças decorativas, para além da sua obra escrita. (Pelaes Mascaro, Bortolucci,
& Lourenço, 2009)

Sendo por si só um excelente arquiteto, Raul Lino era também escritor, escrevendo Figura 1 - Raul Lino (1879-1974)

diferentes livros (Figura 2), sendo reconhecido por vários autores do século XX, desde
literatura, da história, arqueologia, da etnografia, até mesmo das artes plásticas e
decorativas, passando até por diferentes catálogos de exposições ou em próprios trabalhos
de investigação, aonde elegeram a “casa portuguesa” como um dos grandes temas para a
sua leitura. (Pereira, 2012)

Devido à sua grande dimensão e importância nos seus trabalhos, a história do


arquiteto sempre foi bastante estudada, diferentes autores confirmam tratar-se de obras
valiosas, fruto de uma complexidade do momento, dos próprios estudos e formação do Figura 2 - Obras literárias de Raul Lino
Raul Lino. (Pelaes Mascaro, Bortolucci, & Lourenço, 2009)

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Atualmente é possível observar o seu trabalho de um aspeto mais isento, onde nos
afastamos um pouco das críticas que lhe foram direcionadas por parte dos modernistas
mais canónicos. Algumas vezes, a imagem que é relacionada com o nome acaba por
dificultar imenso a própria compreensão da própria essência original transmitida pelas
próprias obras do autor, fazendo que seja bastante influenciada a sensação de repudiação
ou adoração por parte de quem a observa e na época em que o faz. No caso de Raul Lino,
foi possível observar que a sua mais recente reabilitação da sua obra está associada a
projeções de atributos modernistas, o que acaba por dificultar bastante no momento da
sua valorização por outros estilos, principalmente a barroca. Esse mesmo processo esta
Figura 3 - The great Exhibition de 1851
associado principalmente à postura do próprio arquiteto e à sua projeção do seu próprio
trabalho. (Pelaes Mascaro, Bortolucci, & Lourenço, 2009)

Lino também estudo em Inglaterra e na Alemanha, indo contra a tendência


existente do momento que estaria mais voltada para a própria cultura francesa na época,
consequentemente, recebendo uma forte influência do romantismo e tomando assim
contato com o movimento Arts and Crafts (Figura 3). (Pelaes Mascaro, Bortolucci, &
Lourenço, 2009)

Raul Lino após ter estudado em Inglaterra e na Alemanha entre 1890 e 1897, ele
regressa a Portugal, começando por trabalhar no armazém de produtos para casa e

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construção do seu pai até finalmente começar a sua caminhada pelo mundo da arquitetura
com os seus projetos. Durante essa altura viajou por Portugal e fez longas viagens
acompanhado ou até mesmo sozinho, onde seguiu as pegadas do seu mestre Albrecht
Haupt, com a sensação e necessidade de aprofundar a sua reflexão, nessas viagens
formativas, acaba por desenhar e escrever sobre a população, os edifícios e a paisagem.
(Ramos, 2017)

É possível encontrar no trabalho de Vogliazzo (1988), uma aproximação entre as


obras de Muthesius, Das Englische Haus (1904) e Lino, A Nossa Casa (1918),
confirmando que o último teria muito provavelmente lido o primeiro, devido
principalmente às características existentes nas ideias e no trabalho do arquiteto
Figura 4 - A nossa casa de Raul Lino
português. Foi uma época bastante conturbada, no qual Lino havia se afastado, tendo
assim frequentado cursos livres no estrangeiro e tendo com isso recebido o título de
arquiteto em 1926. (Pelaes Mascaro, Bortolucci, & Lourenço, 2009)

Raul Lino foi bastante influenciado pelo Haupt, um dos seus mestres, na importância da
arquitetura renascentista na portuguesa e no valor que Lino atribuía ao seu próprio estudo
através do desenho. Mesmo Haupt ter se focado no renascimento, ele estudou a
arquitetura portuguesa como um só, tendo com isso registrado a presença da arquitetura
árabe. (Pelaes Mascaro, Bortolucci, & Lourenço, 2009)

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Com esta influência por parte do seu mestre, Lino acabou por viajar para Évora e
Marrocos (1902) para conseguir identificar o tal aspeto e componente da arquitetura
portuguesa. Lino era um admirador de Wagner e da sua obra de modo a que a sua
preocupação em projetar cada detalhe da obra refletisse essa linha do romântico. A Casa
do Cipreste, em Sintra é um exemplo disso mesmo. (Pelaes Mascaro, Bortolucci, &
Lourenço, 2009)

É possível observar uma linguagem empregada por Lino na filiação à casa


portuguesa onde a sua materialidade denunciaria o domínio do ofício pelos seus
construtores e a sua arquitetura, sendo uma espécie de regente da execução da obra em
Figura 5 - Casa do Cipreste, Sintra, Portugal. Fachada
si. (Figura 5)

Em Portugal, desde os fins do seculo XIX havia-se desenvolvido uma atmosfera


de grande nacionalismo na busca do que seria a arquitetura genuinamente portuguesa, que
estaria principalmente relacionada com os fatores históricos e sociais da época. Leal
(2000) fez um estudo etnográfico sobre esse mesmo percurso e como Lino desponta como
um arquiteto que materializa as suas ideias. (Pelaes Mascaro, Bortolucci, & Lourenço,
2009)

Apesar de Francisco Vilaça e Ricardo Severo (Figura 6) terem sido os primeiros


a projetar uma arquitetura com um vocabulário da própria arquitetura portuguesa, foi Lino
Figura 6 - Ricardo severo
(1869-1940)
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quem passou a ser o principal arquiteto desse movimento nacionalista, especialmente


apos a publicação das suas primeiras obras em 1918, 1929 e 1933, que iriam cumprir um
papel de divulgação e orientação para quem quisesse construir seguindo os seus bons
parâmetros nacionais. (Pelaes Mascaro, Bortolucci, & Lourenço, 2009)

A procura de lino pela linguagem arquitetónica genuinamente portuguesa foi


bastante aprofundada. Estudou algumas raízes que foram uma contribuição da arquitetura
renascentista, gótica, barroca e manuelina com os seus aspetos e características híbridas
da arquitetura árabe. (Pelaes Mascaro, Bortolucci, & Lourenço, 2009) Figura 7 - Palácio O´Neill / Casa de Santa Maria de Cascais-
Raul Lino

Trabalhou a partir de uma expressão através desses mesmos veios culturais, mas
não assumiu declaradamente a utilização deles, pois as suas referências eram bastantes
sutis e singelas. O arquiteto recomendava a construção deveria conter uma uniformidade
fornecida pela linguagem nacional (Figura 7) própria da época corrente, mas que a sua
autenticidade não seria alcançada a partir da sua simplicidade da “copia” de
características tradicionais. O resultado disso foi o bruto da sua inclinação artística, de
uma formação romântica e de uma interpretação própria do que seria a arquitetura
portuguesa. (Pelaes Mascaro, Bortolucci, & Lourenço, 2009)

Lino conseguiu viver e trabalhar durante um tempo em que havia um confronto


entre a preservação do que era o nacional e das tradições e as próprias exigências

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existentes de um novo formato de viver relacionado com a própria indústria. (Pelaes


Mascaro, Bortolucci, & Lourenço, 2009)

O arquiteto teve uma postura de defesa da arquitetura portuguesa e acaba assim


por suscitar a questão de como ele havia conseguido a relação com a questão da
densificação das grandes cidades versus o que era o ideal utópico das próprias residências
isoladas. Esse novo formato acabou por alterar a paisagem do que eram as cidades e o
próprio modo de vida dos seus cidadãos, deixando assim uma nostalgia do próprio campo
e das moradias típicas. Apesar desse processo ter sido lento em Portugal, Lino insistiu na
construção de edificações de baixo gabarito, unifamiliares (Figura 8) e que trabalhavam, Figura 8 - Casa unifamiliar – Monte Estoril
principalmente, as qualidades não urbanas dos espaços construídos. (Pelaes Mascaro,
Bortolucci, & Lourenço, 2009)

Lino criou uma arquitetura, uma obra que poderia ser considerada pitoresca,
querendo dizer com isto, uma visão rural na oposição do mundo moderno e decisivamente
urbano. (Pelaes Mascaro, Bortolucci, & Lourenço, 2009)

Embora Lino tenha projetado obras de gabarito mais alto, o número era bastante escasso
e com isso seria um indicativo de que não considerou a obrigatoriedade de trabalhar o
novo skyline das cidades.

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As fachadas eram bastantes simétricas, especialmente a principal, este tipo de


características acabava por afastá-lo do modernismo, que valorizava de forma equilibrada
todas as fachadas (Figura 9). O ritmo das aberturas era notório também nas fachadas
principais com uma percentagem de utilização de 80,1%. A sua relação com a natureza
nunca foi uma das suas principais características, estando apenas presente 10,3% dos seus
Figura 9 - Simetria geralmente utilizada por parte de Raul
projetos, mas por outro lado quando aparecia natureza, normalmente ela existia de forma Lino nas suas obras

abundante, com o contorno de uma serra ou outro elemento que acabava por definir as
condições do local, com diversas paisagens privilegiadas. (Pelaes Mascaro, Bortolucci,
& Lourenço, 2009)

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Casa dos Patudos – Análise da Obra

Dados Históricos

A casa dos Patudos vivenciou a transição entre os séculos XIX e XX de um político


republicano português, mantendo-se maioritariamente no seu estado original até aos dias
de hoje. (Gomes, 2012, p. 54)

Foi aqui que José Relvas e a sua família (Figura 10) habitaram a maioria da sua vida e
nela faleceu. Com isto, criou-se uma conexão direta entre o espaço habitacional e o
homem pois, todo o conteúdo da casa demonstra a personalidade, relações pessoais, modo
de vida e estatuto social. O espaço quando se tornou um museu adquiriu um novo
conceito, uma casa-museu visitável e com isso, começaram se a realizar ali novos eventos
como exposições temporárias, cursos temáticos, conferencias, entre muitas outras Figura 10 - José Relvas e a sua família
experiências. (Gomes, 2012, p. 54)

Até esta habitação se tornar na Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça, passou por vários
percursos. Logo no ano de 1882 quando José Relvas tomou posse das terras da família
devido ao estado de saúde do seu pai, herdou a Quinta dos Patudos em Alpiarça. Foi no
ano de 1887 e após o falecimento da sua mãe que este habitou o local até ao seu

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falecimento em 1929 deixando no testamento a herdade á Camara Municipal de Alpiarça


(Figura 11) com a condição de Eugénia Relvas, a sua mulher, ser usufrutuária do local
até a sua morte que aconteceu no ano de 1951. Posto isto, a casa esteve fechada ate 1957,
devido a processos tributários, degradando-se bastante. A partir deste ano começou o
processo de adaptação para que pudesse ser aberta ao publico que viria a acontecer no
ano de 1960. (Gomes, 2012, p. 56)

Figura 11 - Brasão da Vila de Alpiarça

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Casa dos Patudos – Decisões projetuais e evolução do edifício

A Casa dos Patudos do arquiteto Raul Lino é um reflexo da ideia daquilo que para ele é
uma “habitação portuguesa” um edifício no qual se conjugam diversas referências
históricas, nomeadamente elementos arquitetónicos característicos de épocas distintas –
portas e arcadas medievais, colunas clássicas, mansardas pombalinas e um singular
remate piramidal revestido a cerâmica vidrada de raiz medieval com ressonância
mourisca – o casamento em ritmos entrecortados, o jogo e alternância volumétrica aliada
a pormenores particulares, como se tivesse origem numa casa ancestral, que foi sofrendo
alterações ao longo do tempo em concordância com as épocas em que foi sendo
desenvolvido. Esta panóplia de diferentes informações arquitetónicas resulta na
intencional figura de casa portuguesa, neste caso, senhorial que o Arquiteto queria
desenhar (Quintino, 1879-1974, p. 11 e 58)

A Quinta dos Patudos, habitada por José Relvas e a sua família desde o ano de 1888,
fazendo usufruto da rés-do-chão e primeiro andar da casa primitiva tal como a herdara.
Esta era composta por algumas edificações que José Relvas foi ampliando e reconstruindo
ao longo da sua permanência. A primeira fase de ampliação, de que existe registo, terá

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sido levada a cabo em 1892, segundo projeto do arquiteto José Amaro Soares. (Gomes,
2012, p. 68)

Entre os anos de 1905 e 1906, foram desenvolvidas as obras de maior relevância na casa,
estas já sobre a alçada do arquiteto Raul Lino (projeto de 1904), desde esta parte até à
morte do proprietário José Relvas foi o arquiteto de eleição para realizar todas as
intervenções e escolhas arquitetónicas do edifício. Desta primeira intervenção resultam a
Sala São Francisco, a Sala de Jantar, o Salão Renascença, o Vestíbulo de Saída e a
Biblioteca (Figura 12). A casa é, também, ampliada em altura, sendo feita a construção
Figura 12 Fotografia da biblioteca (AHCP – Arquivo Histórico
do segundo piso elevado, sobre o corpo primitivo. (Gomes, 2012, p. 69) da Casa dos Patudos, Anexo 32)

José Relvas era um entusiasta e de arte e depositava um fascínio especial pela música,
arte à qual dedicou longos períodos da sua vida, dessa forma a ideologia e o traçado das
novas intervenções levadas a cabo por Raul Lino foram sendo desenvolvidas envoltas
nesse contexto. O Salão Renascença é disso exemplo, na sua primeira intervenção, Raul
Lino desenhou um espaço com cuidados acústicas, com um pé direito generoso e com um
teto inclinado, e com condições de receber algumas pessoas para concertos e tertúlias
musicais (Figura 13).

Figura 13 Fotografia Salão Renascença (AHCP – Arquivo


Histórico da Casa dos Patudos, Anexo 17)

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Da análise de uma planta de 1914 aquando o desenvolvimento de um projeto de instalação


dos sistemas de aquecimento de águas, é possível verificar que, à data, se encontravam
construídos: o Vestíbulo de Saída, Biblioteca, Salão Renascença, Sala de Jantar, Sala São
Francisco, Sala das Colunas (à data ainda duas salas separadas, ligadas mais tarde),
Escadaria nobre e Mezanino, Sala de Família e Sala D. Eugénia – todos estes, espaços
situados nas “zonas sociais” na ala sul do edifício. Na ala Norte, situa-se a “zona privada”,
composta por três pisos: rés-do-chão, 1º andar composto por: sala de documentação,
biblioteca e um quarto de hóspedes, 2º andar composto por: três quartos privados da
Figura 14 Fotografia da Sala Silva Porto (AHCP – Arquivo
família e dois quartos de hóspedes e sótão onde ficavam os quartos das funcionárias e Histórico da Casa dos Patudos, Anexo 44)

todas as divisões menos nobres como tratamento de roupas e arrumos (Gomes, 2012, p.
70).

Em 1926, dá-se a última intervenção por ordem de José Relvas, nesta fase são mandadas
construir a atual Sala Silva Porto (Figura 14) (designada por José Relvas como Sala
Constantino Fernandes) e a Galeria Verde (Gomes, 2012, p. 72).

Várias foram as intervenções pedidas por José Relvas a Raul Lino, em todas elas existe
uma narrativa e uma conceptualidade comum: José Relvas quis desenvolver uma casa
que conseguisse criar uma comunhão entre as pessoas que exponenciavam os espaços e

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a arte. Todos os espaços eram pensados por forma a intensificar esta intenção, sendo
comum vermos em várias salas variadas coleções de arte que foram sendo adquiridas por
José Relvas ao longo da sua vida (Figura 13).

Já fora da jurisdição de Raul Lino, a primeira diretora do edifício já enquanto museu,


Maria de Lurdes Bartholo, e o arquiteto Samuel Quininha, fazem o projeto de adaptação
da casa para casa-museu (1957 -1960), introduzindo duas alterações arquitetónicas
importantes uma vez que o edifício tinha agora uma função diferente da habitação: uma
primeira que consistiu na alteração feita no primeiro piso elevado, criando um percurso
contínuo em que o visitante não fosse obrigado a voltar atrás a determinado ponto. Desta
forma, foi aberta uma parede criando-se uma ligação entre a Galeria Verde e a Sala de
Jantar, dando assim lugar à Sala das Aguarelas. Uma segunda modificação foi feita ao
nível do rés-do-chão e consistiu na criação de uma passagem a Sala de Arte Sacra e o
Átrio. Esta alteração prendeu-se uma vez mais para que o visitante não fosse levado a
inverter o percurso (Gomes, 2012, p. 72).

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Bibliografia
Gomes, N. (2012). Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça. Lisboa: FCSH - UNL.
Pelaes Mascaro, L., Bortolucci, M. Â., & Lourenço, J. M. (2009). Raul Lino: Uma leitura dos projetos das "casas portuguesas". Pontifícia
Universidade Católica de Campinas. Campinas: Oculum Ensaios. Obtido em 28 de Março de 2022, de
https://www.redalyc.org/pdf/3517/351732199005.pdf
Pereira, P. A. (2012). Raul Lino- Arquitetura e Paisagem(1900-1948). Lisboa: Departamente de Aquitetura e Urbanismo. Obtido em 4 de Maio
de 2022, de https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/5917/1/Raul%20Lino-Arquitetura%20e%20Paisagem%20%281900-
1948%29.pdf
Quintino, J. L. (1879-1974). Raul Lino. Lisboa: Editorial Blau.
Ramos, R. J. (2017). A perspectiva das coisas. Raul Lino em Cascais. Porto: Repositório Alberto da Universidade do Porto. Obtido de
https://core.ac.uk/display/143405407?utm_source=pdf&utm_medium=banner&utm_campaign=pdf-decoration-v1

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