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066I-006I
A arquitetura brasileira do século XX
alcançou prestígio i.[ern~coal como
poucos países do m undo lograram atingir.
Brasília é obra consagrada como uma das
contribuições brasileiras às criações mais
marcantes na cultura do século. Mas se esse
reconhecimento é a face m ais visível da sua
importância, não menos importan te é
reconhecer os múltiplos rumos e os
processos na gênese dessa p rodução, tão
alardeada e tão pouco examinada em seu
conjunto como realizações de um contexto
conturbado como o que marcou a história
do Brasil nos últimos cem anos.
Arquiteturas no Brasil 1900-1990 é uma obra
que vem proporcionar uma visão
abrangente e ao mesmo tempo concisa da
arquitetura brasileira no século XX, sob o
signo da releitura do movimento moderno
após a crítica do p ós-modernismo-
embora situe o m oderno como o epicentro
das inquietações do século.
Ao relacionar as interven ções urbanas como
signos de modernização no final do século
XIX, o livro ide ntifica as raízes de
modernidades p aralelas aos movimentos
como a Semana de Arte Moderna de 1922.
Realizações estas que passaram tanto pela
arquite tura n eocolonial quan to por diferen tes
manifestações arquitetônicas em três linhas -
modernismo programático, modernidade
pragmática e modernidade corrente -
caracterizando práticas distintas no país a té a
Segunda Gu erra Mundial.
0661-0061
us-e.Ig: ou s-e1nl~by
[ill}l UNIVERSIDADI; DE SÃO PAULO

Reitor Adolpho José Melfi


Vir·e-rcitnr Hélio Nogueira da Cruz

led:: EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAUtO

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Copyright © 1998 by Hugo Scgawa N .Cham.:- 720.981 S454a 2.ed.
Autor: Segawa, H ugo,l956-
I' edição: I 998 Tílulo: Arquitetura no Brasil 1900-1 990 .
2' edição: 1999 40657800
2' edição, 1' reimpressão: 2002
lllllllllllllll
Ex.2 CAC
llllllllllllllllllllllllllllllll Ac.25035 l

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Drasildra do Livro, SI', Brasil)

Segawa, Hugo, 1956-

Arquiteturas no Brasill 900- l990 I llugo Segawa . - 2. ed. I. reimpr.-


São Paulo: Editora da Un iversidade de São Paulo, 2002.- (Acadêmica; 21 )

Bibliografia.
ISBN: 85-314-0445-2

1. Arquitetura - Brasii- História I. Título li. Série.

98-1!54 CDD-720.981

Índices para catálogo sistemático:


L. Brasil :Arquitetura : llístória 720.98 1 ~

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Printed in Brazil 2002

Foi feito o depósito legal

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(o-rfueD dpll.Tpuv dp se ~o z!n'l O!LI<]Hrv


SUMÁRIO

i\lg-ulll<t Expli cação ........ ........ .... ...... .......... ...... ..... ..... ..... ..... ... .... ...... ..... ... ........... .. .. ..... ... .... .......... ... 13

I . O Brasil e m Ud)aniração 1862-1945 ........ .. ............... ..... ........ ... .................. ......... .. ..... .. ........ 17

2. Do An Licolonial ao Ncocolon ial:


i\ Busca de A lg-um;t Mod ernidade l HH0-1 926 ........... .. ....... ...... .. ... ........ ........ .. ........ ...... ........ 29

3. Modernis mo Prug-ra m ú lic u 1q 17-1q:12 ..... ............ ... ..... .. .. .. ... .............. .... ............... .. ... .. ......... 41

1. Muclc rn irlad !· Prag- m á tic a 192-~ )4:~ . . . . . . . . 5;)

5. Moderniclad c Correm<' 1929-1945 ........................................ ........... ................................ ...... 77

6. A Afirmação de uma Escola 19 1 ~- 1 960. . . . . . . . . . . . 1 0~

7. A Afir mação ele uma Hege monia 1945-1970 .. ... .. ...... .... ... .. ........ .... ..................... ... .............. 129

H. Episód ios el e um Brasil G ran de e Mode rn o 1950-1980 ... ....... ... .......... ......... ....... .. ..... ..... ... 159

9. Desaniculação e Rcarticu lação? 1980-1990 ..... .................................................. ......... .......... 189

1O. Referênc ias Ribliográficas ........................... ... ........ .. .. .... .. ................. ................. ............... ..... .. 199

Font es das llusLraçõcs ........ .... ..... ... .. .... .... .............................. ....... .. ...... .. ........................ ........ ........ .. 213

Índ ice Re tn issi\'C> ....... .. .. .......... .... .... ........................................... ............................... ........................ 2 1!)

...
......

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' IJfi?.t.d.tns W J vsJ.u/.ms 11p '.wl;u,"il .w vnlm 'yunJ.J !iOp nbv opu <~; \
ALGUMA EXPLICAÇÃO

Sou d e urna geração de arqu ite tos br<tsilei- O r isco de escrever um es tudo sobre a ar-
ros ?t C]ll<ll , nos hancos escolares, se ensin o u que quite tura bras ileira do século 20 é r epr oduzir
exis te uma ma ne ira de l'azer arquitetura, de inadve rrid amcn te aqui lo que se critica: uma vi-
apreciar arquitcLUra, de usufruir as cidades. Q ue são LOtalizado ra que apaga as diferenças, exalta
o arquiteto tem uma m issão messiânica ao exer- as formas dominadoras e dissimula a diversida-
cer a sua pro1issão na sociedade. Nossos p rofes- de. A história c a historiografia recentes ainda
so res mrtndm·am lt>r Pt>vsnPr, Hitchcock, Giedion , se refazem elo impacto epistemológico provo-
Zcvi c scHH..: lhaH tcs- autores que escreveram cad o , por exe m p lo, pelas idé ias de um Michel
r etratos to tal izado r es, mostraram in ter pre t<t- Foucault- escr itos tecidos com a microtrama de
ções am paradas em gra nd es modf'los de expli- nrn a co1t1plcxa urdidura. l\esse caminh o, a via-
cação , que esgotavam quaisque r dúvidas elo sa- bilidade ele dar formas a p roblemas, de a rticular
be r ver e faze r arC]u ite tu ra. Nada tão frustrante p erguntas é m u ito mais intensa que nossa capa-
qua m o o abismo entre a academia c a vida. Essa cidad e in divid ual d e formu lar respostas. Respos-
escri tura tdculógica que legi ti m ou a afi r m <tç;1o tas que tendem cada vez m ais a exam es localiza-
d e u ma certa modernidade eu rop é ia e norte- d os, talvez profu ndos (co ntemp land o mino r ias,
arn ericana e co nsolido u mitologias a rquitetôni- "ve nc idos", movime ntos pop u lares e Le.). U m a
cas p e r manece no im aginário de muita gen te. p osLUr a que se avizin ha às tendências da frag-
Leitores de diversificados matizes ain da. buscam m e ntação "regulamentada" do con hecime nto,
em revistas e livr os interpretações à altu ra dos co mo que u ma r eação às grandes leituras tota-
"p ioneiros da teoria mode rna". Certam e n te, os lizac\o ras.
pevsn ers, hitchcocks, g ie di o ns e zevis deste fin al O h is to r iador britânico E ri c Hobsbawn,
de milê nio n ão se rão tão persuasivos; nem seu s comentando a respeito de algumas tendên cias da
le itores, tão pe rsuadidos. historiografia n o ti n a! dos anos 1970, escrevia:
7 4 • Arquiteturas no nrasil

Não há nada de novo e m ol h a r o m undo com um d e arquitCLu ra; o século 20 é um segme n to des-
microscópio ou com um telescópio . Desde qu e coJJcor· se conjun to. A arquitetura bras ileira é pane de
d e JJIOs <!'"" estam os estudando o meswo cosrnns, a es·
um contexto mais amplo também em Arqu.i tectum
co lha eu trc o mi crocosmo e o m acrocosmo é uma ques·
tão d e sc lccion:'ll" a técnica apropriada. r. signfc:~ tiv o
y l h-ba.nismo en lberoa.merica, de Ramón Guliérrez
q ue atualme nte mais histo riadores julguem o microscó- ( 1983) . Precisa mente pelo nú me r·o reduzido de
pio mais (ttil. Mas isso n:'in sígn i!ica necessat·iamc nLc que traba lhos nesse úmbito, publicaçôes co mo o ca-
eles rejeiwm o t e l e~c ópio , co mo instrumento snp<>rado. túlogo Braz.il Builds, editad o ~•n 1943 pelo MOl'v1A
ele Nova York, e Modern Archilectu·rp in JJmzil, de
E.ste livro teve uma gê nese pec uliar: con- TTenrique Mindli n, ele 1956 pode ri a m ser c u -
vidado pela Unive rsidade Au tô n o ma \1etrop o- quadradas como pa n oramas ela arquitetura bra-
lita na d o México para integrar u rna col eção ele sileira da primeira rn etacle d o século 20.
monografias so b re a rqn i tt"tn ra latino -america- Rigorosame nte , seria m três os t ra ba lh os
n a , se u for m ato ori g inal c irc un s tanciava-sc a no gênero preLendido p or m inh a pesquisa: Ar-
um compê ndio de arqu itetu ra brasileira no sé- quitetura Contemporânea no Bmsil, ele Yvcs Rru and
culo 20 p a ra o púhlíco latino-americano. A ( l Y81), Arquitet·u m Moderna NrasileiTa, ele Sylvia
oportunidade d e uma edição brasileira n ão cles- Ficher c Marlene Mil an Acayaba (1982) e oca-
ca•·a cl «:>rizou e sse perfil. O difícil e> sutil eq uilí- píwlo "Arquitetura Conte m porúnea" escrito por
brio a se ati n g ir no con teúdo deste trabalho é Carl os A. C. Lemos n a H istória G11ml ela A-rlf no
u ma ta re fa qu e deve r espe itar as carac te rísti cas Bmsil (coordenada por Walter Zani ni, 1983) .
ela iniciatiYa editorial , exig indo u ma compostu- Todas e ssas obras fo ram importantes na
ra que se exp ressa num jargão arq uite tônico, e laboração do presente l ivr o. P aulo F. Santos,
no Lermo fran cês bienshm ce. As c irc unstâ n cias A. C . Silva T e llcs e Carl os A. C. L e m os são si-
a pon tam mais para o manejo d o tt" lescópio; to- m ulta n eamente historiadores e protagoni stas
da via, o microscó pio às vezes foi útil, m esmo do que re latam. O saboroso capítul o d u livro d e
com p r t:juízo de a lg uma coerência lotalizado r a Pa ulo Santos é um depoimen to de u m per sona-
(C]ue não con s titui, propriame nte , uma preocu- gem qu e vive n cio u os 11uiclos criar ivos do mo-
pação cP nt ral ) . A m anute n ção das lente s e as d e rnismo carioca da pri meira me tade d o sécu-
direções p ara que e las apou1arn são d e minha lo . Carlos A. C. Lemos é importante p el o q ue
i n te ira r es ponsabilidad e; a razão dessas dire- escreve u c por tu do que a prendi como seu alu-
ções, espero que os le itores a p ercebam percor- u o c estagiário; os escritos em fo rma de manu-
rendo as p áginas des te traba lho. ais do professor Lemos são parte pequ e na d e
um (] vida dedi cada à pesquisa. 8 -razil Ruilrls e
M otlr>rn A n hilectm·e in Brazil são tra bal h os apo lo-
AS REFERÊNCIAS gético s da arquite tura moderna, n o espírito in-
sin:~do no in ício desta expl icação, for mad ores
d e mitogr afias da m oderna arq u itetura brasile i-
Ao esc rever um trabalho do presente esco- ra e, como tal, são objetos d e a n álise no meu
p o, fui me re por tar às o bras d e m esm a n a tureza tex to . A impor1ância de Fichcr e Acayaba está
-aos manuais d e história da a•·quitetura brasilei- na modes ta asp iração de ser u m guia in t rodutó-
ra - que não são muitos e p ossuem e nfoques d is- ri o da arqu itetura m oderna b ras ileira . Su a o ri-
tintos. Trabalhos como Quatro Séculos de Arquite· gem, aliás, demo nstra o propósito: tratava-se de
tu:ra, d e Paulo Fe rreira Sant.os ( 19 77, primeira um verbe te do f nlenwtional Handbook of Contem-
versão 1965), Atlas dos Monumentos flistóriros e A-r- jJorar)• Developrnents in An:hitecture, dirig ido por
tísticos do Brasil, d e Au g usto Carlos d a Silva Tellcs Wa rre n Sanderson (1982) . Um roteiro que p io-
( 1975) c Arqu.ilelum Bmsilr>ira, d e Carlos A. C. nei ra m e n te inc luiu, n o map a arq uitetura! bra-
Le mos ( 1979) , são panoramas de qnatro séculos sil eiro, alg um as regiões pouco conte mpladas,
A~!{lm a Ex:plicaçiiu • 15

sem a vtsao modernista c hcgcmônica que ca- para um outro mapeamenco arquitetônico. Os re-
racteriza o livro de Yves Bruand. tra tos de grandes arquitetos e das obras-primas
Arquitetum Contemporânea no B-rasil é o da arquitetura brasileira constituem uma contri-
m ais completo clossiê sobre a arquitetura brasi- buição insuperada em Arquitetura Contemporânea
leira elo s{:cnlo 20 at.é 1969, momeulo de con- no Brasil: protagonistas e re alizações são o cerne
clusão dessa tese, apresentada na Université de da sua p esquisa. Sem pretender contestar o sig-
Paris IV em 1971 e publicada dez anos depois e m nificado dessa abordagem, busquei eswdar os
português (lamen tave lmente , sem uma revisão jJmcessos da constituição da nossa arquitetura
técnica adequada da tradução, comprometendo moderna e m matizes diversos, caracterizando
parcialmente sua leitura). Bruand escreveu uma modernidades clistint.as, que in titulam os capítu-
obra fundarncn t.alnie ll te baseada 11a variada hi- los. Nesse sentido, nào privilegiei arquitetos (ex-
hliografia brasileira e internacional e na coleta ceções honrosas a Warchavchik, Niemeyer, Lu-
de depoiment:os de estudiosos locais, reunindo cio Cos ta c Vi lanova Artigas), tampouco obras
um conjunto documental do maior valor: um (também com exceçôes) , rnas a inserção de ar-
re trato do estado-da-arte da bibliografia brasi- quitetos e o bras no debate cultural e arquitetô-
leira até os anos de 1960. No e ntanto , o autor n ico num certo recorte da história. Ao operar
francê s, embora não sendo arquilclu, assimilou com processos, o desejo ele realizar uma carto-
todos os preconceitos modernistas contra a ar- grafia arqu itetônica turna-se uma empreitada
quitetura do ecletismo ("da constatação de que d ifícil, d evido :1 ~ !mplitud e c complexidade elo

a arquite tura brasileira só conhecera dois gran- panorama arquitetônico brasileiro. Todavia,
des períodos de atividade criadora: a arte luso- mesmo na ausência de vários arquitetos ou
brasileira dos séculos 17 c IH [ ... ] e o período obra:; no presen te trabalho, o possível entendi-
atual", escreveu). Bruand ded icou-se principal- mento advindo do s processos que d esc revo per-
mente ao Rio ele .Janeiro , São Paulo, Bahia e mitiria u m a contextualizaçào dos personagens e
Brasília, deix<mdo a descoberto outras importan- realizações preteridos em meu ma p eamento.
tes regiões, cludindo a diversid ade da produç~w Tendo como eixo de narrativa a arqu itetura,
arqu itetônica brasilei ra . Ademais, seu posiciona- i magi n o a possibilidade de interlocução com
mento sobre o se ntido de "moder no '' desgas tou- outras disciplinas sem necessariamente preten-
se no tem p o: "o ad jetivo 'mod e rno' n ão é de mo- der r ese nhar episódios da história, ela sociol o-
do algum con ve niente , pois contém apenas uma gia ou ela eco nomia brasileiras.
noção ele tempo aplicável ao con jun to da produ- Os lemas urbanismo c cidades têm un1
ção d e u ma época e não unicamente a uma d e peso significativo no primeiro terço do livro,
suas partes; substituir sua acepção cronológica para virtualmente fica rem pulverizados no res-
por u m elemento de valor é um contra-senso ... " tante elo trabalho . A complexidade desses tóp i-
A avaliação de Bruand padece uma leitura cos após a Segunda Guena- quando a maioria
tri u nfalista e apologética da arquitetura moderna da população no Brasil passa a viver em cidades
do Brasil. Se não há un1 comprometimento do - uào recomendaria o aprofundamento da ques-
valor intrínseco do excelente trabalho que desen- tão, sob o risco d e o autor ser obrigado a escre-
vo lveu, suas posições são historicarnenLe datadas. ve r não um, mas dois livros. Reuniões como as
realizadas pela ANPUR e os Seminários de Histó-
ria da Cidade e elo Urbanismo nos últim os anos
PONTOS DE PARTIDA relevam cada vez mais certa autonomia di scipli-
nar no trato dessas questões .
A m ençào in icial à questão urbana tem
Meu trabalho não tem a pre tensão acadê- uma relação mais próxima com o te ma mode r-
mi ca do amplo esforço de Yves Bruand e vo lta-se n idade. Uma preocupação fim-de-século- qual
1 ó • Arqu i lel ums no lJrasil

se rá a arq ui tetura d o século 20? - perm eo u lanl- o rganizad a com a p reocu pação de mos trar as vá-
bé m local izad os d e b ates so bre o te m a n o Rrasil r ias m ode r n idades p ra ticadas na arquite tura d o
d o sécu lo 19. Ao m e debruçar so bre esse mote, Brasil n o perío d o e n treguc rras.
p rocure i resgatar alg um as in terpretações so b re No corre r das páginas e com o evolu ir d a
o m o d erno ern ar rp ri rcrn ra. Não há d efin ição na rra tiva, a a bo r dagem d os ass un tos to rna-se
u nívo ca de m oderni dade: se n :~ E uropa a pro- mais esquem ática. Natu ralme n te, o tempo é u m
ble m ática é objeto d e entend imen to d iverso, o po d eroso dep u rado r c o distancia m ento maio r
con ce ito d e m oderno no Bras il é a in ci:~ m ais d os acon tec im entos pc rrni!.e selecion ar as le n-
con trove rso, p rcc isalll cn te p ela necessidade de tes mais adequad as para o exame d as qucs tôes.
examiná-lo sob u m a ó p tica apropri ada à realid a- Por isso , a con te m por aneidad c se mpre é m ais
d e local - sem dcscnrar d e su a entrop ia com u m seduro ra e instiga n te . E os riscos ele e q uívocos,
me io m ais am plo. A segunda p::1 rt e elo livro foi propor c ionais ao nosso d iscernime n to.

AGRADECIMENTOS

Toda relação de ag radec imentos é u ma siclad e Federal d e San ta Catarin a; e àisa P ierma-
lista d e esqu ecimen tos injustos. Não posso rela- tiri e à Unive rsidade Fcrler::J I do Paraná, <]Ue , em
c io nar c agrad ecer a todas as pessoas e institui- di fe re ntes m o me n tos no in ício de minh a ap rox i-
ções qu e me aj udaram na r e;:~ l i zação d esta pes- mação com a arquite tura bras ile ir a d o século 20,
qu isa. Todavia, deYo lembr ar-m e de Conce pció n me convi dara m para ministr ar cu rsos, obrigan-
Vargas e Ernesto Alva, q u e me confiaram o rigi- d o-me a desenvolver u ma estrutura d e aula q ue
nalmente a escrita deste trabalho . Pela fe itura está na r aiz deste tr aba\ho; ao arquhcto c profe~­
deste livro, dt:vo me us reco nh ec im entos a Vicen- so r Paul o Rrnna CJlle, convidand o-me a au xiliá-lo
te Wissenbach , editor da r evista Projeto, da qu al numa disciplina de pós-gradu ação na U nive rsida-
fui colabo rad or há m u ito tem po g raças <1. co ra- de Mackc n zic , me permiti u cxpot· h ipóteses d e
ge m d e seu editor; à Ruth Verde Zein , colega na interp retações que estão al in havad as n es te li\To .
rev ista e in terlocuto ra pe r ma ne n te; ao J<. lebe r Aos alunos desses cursos, a paciência d e ouYirem
Friz?.era c ~ Univers idade Federal d o Es pír ito c d iscuLircm m in has id éias que, a pós essas ses-
San to; à Vera He lena Mo r o R in ~ Ely e à 1.J nivc r- sôes, dei xara m d e se r exclusivam t: n le minhas.
1

0 BRASIL EM URBANIZAÇÃO
1862-1945

Na a rqu itetura (o 1/ll,!!;enlu:irol perpetua as gló·rú1> de ma j;âtria em


mo nu nu•nüJs, que os séculos veneram snn destruir I' r/ri nos sr•us
wntemfJOTâneos nocâo do (11do euritmiw derivado das obms f;rimas da
Antigüidade, que f!oT sua or:z. o recebeu de civilizarõr:s idas, 11 que rlej)()is rir
millzarPs de anos !'IP faz ressusritar ao impulso aiador do seu r;ênio!
Nas ridruiPs, ai rmdP as multidliPs SP ojnimPm Pm busra do bPm-PJ!fll;
nas grnndPs rolmhns, Ptn quP a alividariP jfbril do homnn vai
diarian!l'nte premcher o seu papel jHMiidencial de elemrnlo ronstitutivo dt>
riquPZa jJP/o lmbalho, o mr;enhPirn; ainda a luz, o guia na r>smlha
de localidades, no preparo do solo, nn orientaçâo e traçado das ruas,
110 rstwlo das !IPrPssidadPs públiras f' parlirularrs, uo.ç jlnigos, na.\
mwgênrias P ali> nas rrisPs patológiras! Sf' um baino é diji.rilmeniP
ventilado, se uma jHtTie do litoml é otujHtda intermitentemente jJelas águas
em seu etemoflu ". w e refluxo, ei-lo removendo montanhas, dilatando a área
1ahrm a P anulando s-ilnn ltanr:amr>nfe duas fontes de insalubridade.'

j. S. DE CASTRO BAR BOSA ,


Lrec h o elo p a n egír ico ~obre a profissão do . engenhe iro
por ocas ião do l 6Q aniversário elo Club de
Engenharia do Rio ele Janeiro em 1896.

O an o de 1900, a lém de algu m sig nifica- não ser o fato de assinalar a trans ição do século
do na n u m e ro logia, n ão te m mui ta importância 19 para o séc ulo 20. Todavia, para o Brasil, o ano
~ >(· .1'. datas marcantes da histó ria mundia l, a ma rcou a grande efeméride da celebração dos
18 • llrquile/urus 110 flrasil

quatroce n tos anos da cheg-ada de u m a frota <.:eiras e administrativas q ue. d e mai~ pt-rlo t' rl irt-tamc n-
pon ug-uesa na cost.a sul-americana - contato que te, p ossam interessar ao desenvolvimento material d o
B•·asil, d e modo a formu lar rt-soil ~ · flt's <JHC' tradn~:o.m
ofiriali1.ou o domíni o de Ponugal sobre essas
com clilreza o parecer dos mais compete n tes sobre a so-
ter ras que, mais tarde, se transformariam num
lu (<'io prúti ca de r::tdil uma d as yucstõcs vc HLi ladas, c
país de d imensõe s con tin e n tais. que scr:ío submel id as ú ap rec iação dos poderes púb li-
Foi e m fins ele 1900 que, a pretex to dessas cos. I"Prog ra ntlll <l . .. " 190 l , p p. 7-1!>] .
comcmoraçiks, o Clnh de F:ngenharia p romove u
o Congresso de Engenharia c l n rlústria. O C lub O temário do congresso Locou numa série
de l•:ngenharia era uma ag-remiação politicamen- ele questões qu e inven tariavam um repertório de
te vitoriosa em busca de uma a firmação inédi- ta re fas nacionais nesse momento: sistema fe rro-
ta naquele te m po: a Rcpltbl ica havia sido pro- viário, portos e navegação interio r, h idráulica
clamada pouco ;uJles, e o Cl ub, ele convicçfto agrícola, sa neamento das cidades, urbanização.
republican a (an tagô n ica ao monárquico lnsti- A bem da verd ad e, em IH.:nhunl momento se em-
llll<> Polité-cnico Rt·asile iro) .firmava-se com o o pregou, nos debates ern 1900, o lermo "urhaui-
furo oficioso de urna corporação que buscava zação" o u qualquer derivado de "urbe" como ci-
habilitar-se como uma alternativa na esfera po- dade. Mas o contexto geral dos debates indicava
lítica contra o monopólio exer cido por o u tra esse rn mo.
c<Jtegori a profissional: os bacharéis de D ire i tu.

DO SJ\NF.J\MF.NTO AO URBANISMO
CREDENCIAMENTO
TÉCNICO PARA A MODERNIZAÇÃO
O Brasil aJentrava o século 20 com uma
população da orde m de 17 mi lh ões de h abitan-
A formação d a e lite intelectual brasilei ra tes, com ce r ca d e 36% elos brasileiros vive nd o
na passagem do século sustentava-se num Ll"ÍfJé: nas cidades. A economia do país era impu lsiona-
a medicina (cujas primei ras esco las d ata m de da <I base da exportação de produtos prirn{tr ios.
1808-1809) , as c i{:ncias juríclicas (suas duas aca- Entre 1871 e 1Y28, o café - um artigo de consu-
demias foram fu n dadas em 1827) c a enge nh a- mo das mesas abastadas na Eu ropa e nos Estados
ria- n~a consolidação se faria no final do século Unidos- participava com mais d a m etade da
19 com a Escola Politécnica rlo Rio de Janeiro receita brasileira de exportação, sccundaclo por
em 1874, a Escola ele Minas, em Ouro !' re to , ele um período de te mpomaiscu rro ( 1891 a 1913)
H:l76, a Pol it <:cn ica rle São Paulo e m 1894 e a pela borracha [Singer 1985] . O paí!j possuía uma
Mackenzie College (de orige m norte-am erica- rarefe ita economia urbana, pulverizada em cen-
na) , também em São Paulo, em 1896. Foi a ver- tros urbanos nas frentes agrícolas ou cidades
tente jurídica que maior espaço conqui st(m n o portuárias a serviço da exportação ons p rodutos:
cxcrcicio do p oder ao lo ngo rlo sécu lo 19- domí- Campinas, São Paulo, San tos, Campos e Ri o d e
nio o ra crn rlisputa com engenheiros e médicos, J an eiro para o café; Recife para a zona açu care i-
no a lvo rece r do novo século. ra; Salvador para o cacau; Porto Alegre para cou-
ro c peles; Be lém e Man aus p ara a borrach a. E,
Os enge nheiros buscava m r e p ercussão
embora incipiente como rede urbana, algu m as
em suas reco m e ndações nascidas ele pautas am-
capitais conheceram um extraordinário cresci-
biciosas. De acorrlo com o seu programa, o Con-
mento demográfico: o Ri o de J aneiro em 1900
gresso de Engen haria e Indústria teve como
era habitado p o r 746.749 h ab itantes- sua p op u-
[ ... ] obje to exclusivo discuti r e deliberar sob re as prin- lação aumentou 271% em re lação à de 1872; São
cipais questões técnicas, industriais, econômicas, finan - Paulo , nesse mesmo período , Leve um a umen to

L...i
O Brasil em Urbanização • I 9

populacional da ordem ele 870%, com 2~19 .820 ram em algumas dessas cidades - em sua maioria,
habitantes na virada do século; Bdém yuase du- empreendinrentos com o envolvimento de capi-
p licou sua população de 53 150 habiran tes em tais e empresas inglesas (também responsáveis,
1872 para 96. :)60 em 1900 [Graham 1973, p . desde o século 19, p ela implantação do sistema
40J . Os núm e ros apenas i n diciavam os g r aves ferroviário no país) [Graham 1973, pp . l 21 -124J .
conflitos de espaço que se afiguravam com o A impla n tação dessa inf ra-estrutura técni-
c rescimento clesordn;~ cbs cid;~rles . ca nas cidades consolid adas configurou m edidas
A cidade afirmava-se como o palco do <JliC não ncccssariarne n te prcconit.a rarn a reor-

moderno - modernização Lendo como referê n- denação d o tecido u rbano -sobretudo a r eorga-
cia a organização, as atividades e o modo de vi- n ização d os espaços físicos h e rdados d a cidade
ver do mundo europeu. Os engenheiros coloca- colonial, no caso brasileiro. Ao con trário , a im-
vam-se como agentes dessa modernização - era plan 1aç<-to desses mclhora nwntos rei l< ~ n tv<l a es-
a corporação que apostava na ciência c na récni- t r utura ex istente, com po ucas modificações. O
ca como os instrumentos de progresso material sentido ele intervenção urbana como produto de
para o país, nos moldes do desenvolvimen to in- uma elaboração icleolúgica n ão sú derivava dos
dustrial do Velho Mundo, vislumbrando, na i n - processos de saneamento urbano desenvo lvidos
d ustrialização, um objetivo nacional a se atingir. no século 10, mas adqu iria nova condição - co-
O Congresso de Engenharia e Tnclústria demons- mo visão rac io n a lizadora c integrada de intc r fc-
trava a ampl i tude das tarefas da profissão c rência na cidade, numa lógica de m odern ização
apont;~v nm1os para a montagem ela nova cena: das estruturas urbanas -com a cod ificação de
t·acionalização nas intervenções de ocupação uma discip lina específica: o u rba nismo.
territorial, vetores de urbanização num país de Simbolícameme, pode-se e leger qua t ro
vastas regiões inexploradas. O desejo de mudan- eve n tos como representativos de: for mas de m o-
ça era late nte : a elite nrh<~, progressista , posi- dernização ur bana no Brasil n a passagem do sé-
tivista, cosmopolita, contrapunha-se à sociedade enio 19 para o 20.
tradicional, de índole agrária e conservadora.

A N E CAÇAO DAS
CIDADES COMO ESTRUTURAS URBANAS COLONIAIS
CENÁRIOS DE MODERNIDADE

O primeiro even t.o {; a tr ansfcr(: n cia, crn


Algumas cidades brasileiras, j{t na segunda 1H9G, da capital do Estado de Minas Gerais da co-
metade do século l 9, assimilavam intervenções lonial Ouro Prelo p ara uma cidade nova, inlcira-
modernizadoras ern suas infra-estruturas, à ma- menle p lanejada e construída para a b r igar as
ne ira das metrópoles e u ropfias - resson<lnci<l da funções adm inistrativas ck sede governamenlai -
questão (central na cidade européia oitocentis- lklo Horizonte - , proj eto de nma comissão che-
ta) do sauitarismo ou salubrismo. Cidades como fiada pelo engenheiro Aarão Reis (1853-1936),
Rio de .Janeiro (a partir de 1862) , Recife, Santos, formado na l'olit{;cni ca do Rio de Janeiro .
São Paulo, Manaus c Salvador contaram com em- O segu ndo é a "haussm a nisatio n " (n u m
presas que instalaram e operaram sistemas de ncologismo criado por P ierrc Lavedan) do Rio
drenagem, abastecimen to de água e esgoto-urba- de Ja n eiro, grande in tervenção promovida pelo
nos . Também nesse f'inal do século opentvam p refeito Fr ancisco Pereira Passos (1836-1913), a
nessas cidad es, e ainda em Fortaleza, Belém e partir de 1904, co m a criação ele novos eixos vi-
Porto Alegre, companhias de gás; serviços de ele- ários, a unifor mização das fachadas dessas aveni-
tric idade e transporte urbano também funciona- das e a imp la ntação de parques públi cos m edian-
·J ~ 'sodun~ : ) ~p 01

- ll :'l ll l l'.;)lll!S O l!Jted ~;() ;>p <>P!o .o d 011 E j)l'.lli ;)SJ.o dl! S<)_l\'.( ll dOd S.H_>~l! !C( ~'I( E.l"d 1.nsodo.od :<>ii.IH Jj) Oll!ll.lllll!S O . l":'.~ .(;

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O Rmsif em 1/r/;unizoçiio • 2 7

te a rC'modelac::ão do tecido urbano colo ni al da circulação etc. A segu nda referência fundamenta l
cidad<:. Foi uma iniciativa de saneamento físico elaborada por Saturnino de Brito foi o plano de
e social e ele "e mbelezamento" (termo corren te saneamento c <:xpansão de Santos, no Estado de
na época) da cidade- capital e principal e n tra- São Paulo, desenvolvido entre 1905 e 1910 para o
da in ternacional ao país. Con ciliar a <: nad icação principal porto de exportação de caf{:. Nesse pro-
d as epide mi as que varreram a cidade ao long-o .ieto, às a tit udes inovadoras <tdotadas no plan o de
d o século 19, afastar a po p ulaÇão pobre de seto- Cam pos acresc<:utu u-s<: " dimensão cslética na re-
res estratégicos para a <:xp<msão urbana e co n fe- sol tt çào dos problemas u rbanos: Satttntino de
rir <1 paisagetn uma <..:slélica arquitetônica d e p a- Brito reco nh ecia em seus escritos a importância
drão europ eu carac te ri zaram iniciativas pa ra a de um aporte urbanístico a p<trtir das id{·ias de
n todclagcm de ttm llrasil condizente com o fig-u- Camillo Sitte (1843-1903 ) . Ao longo elos <U tos de
rin o d e n ma nação "c ivilizada". l ~:lO, o engenheiro foi um atento monit or das
discussões em curso na Europa sobre o Town
Pla nnin g o u Urbanisme, disc iplina em institucio-
nali;.ação na {;poca por m<:Ío de coug-r<:ssos iut~:1
PRIM ÓRDIOS
nacionais, os quais freqiicnta\'a como ouvinte ott
DO PLAN~JMETO URBA~O
;~prcsentado comunicações. Sem nunca se auto-
qualificar Townplanner o u Urbaniste, Saturnino
O terc<'iro evento reprcscutativo n ão é es- de Brilo ioi uw ideúlogo d a engenharia san itária
pccificattt c tt t<..: uma, mas \'á rias intcrv<:nçõcs, que, a seu tempo, de forma pio neira introduziu
concebidas com ideários comun s: aquelas desen- e m seus planos o leque de d iretrizes metodológi-
volvi das pelo e ngenheiro Francisco Saturni no Ro- cas d o repertório téc n ico da então nascen te dis-
drigues ck Brito (1864-1929), formado na Esco- ciplina urbanística. Essas idéias, todavia, não fo-
la Politécn ica d o Rio de .Jan eiro . Satu rn i n o d e ra m in ro rporad<ts sem u ma filt ragem crítica: sua
Brito é co n side rado o fundador ela engenharia sa- atuação sempre Considerntt ttma a\'a li aç·ão dos
nitária brasileira pelo co njunto dos projetos ( cer- pro('editucutos c das L(~cn icas codificados pela ex-
ca d e dttas clcL.enas em \'ários quadrantes do país) periência européia e, nas proposições c cspcciti-
c pela contribuição tecnológica ad,·incla d essas caçõcs d e se us projetos, percebe-se que há uma
propostas. Brito tah-ez se tornasse apenas mais e laborac::ão de uma solução apropriada tendo em
unt itnpul"l<lltlt' tfcnico n a árPa san it át ~ ia n o Bra- vista as condições e specíficas do m eio em que
sil n as primeir;ts d{·cadas do século 20 não ro sse atnm·a: as li mitações, as potencialidades e as pos-
certa sensibilidade ( re forçada pela cren ça positi- sibilidades locais configuravam projetos tecnoló-
vista) q ue o tornou u m san itarista n::io só \'olt<tdo gicos específicos como respostas a realidades
para as eq uaçôes ck r<:gimes hidráulicos ou p a ra concr e tas, brasileiras [S<:gawa 1987a, !JP· 66-70] .
as últim as n ovidades e m sistemas d e abastecimen-
to c cscoan1ento, 1nas também preocupado com
o ambi e nte da cidack co m o um Lodo, p redorni-
JARDINS-UTOPIAS URBANAS
nantcmc ttt<..: f'ís ico, mas co m interfaces sociai s.
ü plano de san <:<un<:nto da cidade de Cam-
pos, no Estado d o Rio de Jan e iro, ele 1903, é uma A potencialidade da expansão nrbana das
re ferência para a engen h aria sanitá ria: um exte n- cidades brasikiras j á chamava a atendío dos in-
so diagnóstico abo rdan do d e forma in te-grada as gleses na segu nda metade do <;é·culo 19, como jc'i
questões tecno-sanitárias- abastecimen to d e água, visto, mas fo i na década d<: 191 O qu<: o capil al cs-
esgotos, águas p luviais - co m a ocupação do solo Lrangeiro in verteu recursos numa ousada inicia-
- sistemas construtivos, ha bitações pop ulares, es- tiva d<: im plantação ele bairros novos. A cidade
paços P cdil'ícios pú blicos, ori<:ntação e insolação, de São Pa u lo, e m pleno crescimento econômico
I

22 • ArquítN11ms 110 l5rusíf

L IIAIRRO Ol::lõl.ITE
!-l l·:, ~ ID · D'lf!J "' [1 r r- · t n i · D~n
l'ropricdadc tle 1

Manoel Garcia da Silva


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~- Pwpa~1ul;o de 1928 do Jardim


N• aae•-• alf.Jf.ad• ela. Pra4:a • • •..aarelaa
Europa e m São Paulo, bairro que
A.PDOTE•TE A. 'I'A.DDE DE H O J E
Alem de C1tcr 11m paucio 'Srad».Yel r~J
itnilava o nt oclc lo do conLíguo Jar- 1~ ~: tN ~:;, c : ~í "':l ,ci :~,JI;. 1pr~c'ia a · o ç:r~nJ•· oll:t"lnl nh·iwento

dirn An1érit:a, n--odi/a\·úo ela Cia. A iUth~ão Jmbli~ c~O:,d


1 ~.{}! 1 l 1 ':u : ~ ,:.~; ~rl:. . .s.!Y4 fciw a iHJt(ur~o
PALCJET~.; •: Lt.-:~ Dlt "I'C.;ftR~NU

C ity, dcmonstraorlo o apelo do pa- '-': • l>f'rio a ~ÕK-,.


'Uil\' 1 ~ r 1"''1'"''11:1• chlr.kla•
lf~ , Ao. dOtMin~o• "" lon:.l ,. m)" oh.l• ,., .. j. ua

rlr:io gfl.rdt•JI rifit•.\. LOJA DO JAPAO Hua S. Bento.. JO ~ (;AHCI.\ IH SUX\ & CIA.

e físico com a riqueza propiciada pela exporta- tas no idcário das cidades-jardins de Howard
(ào do "~fé· , roi contemplada com uma operação [Scgawa 1987a, pp. 71-77; Bm:c lli 1982J.
espccubti va que trouxe um padr~m urbanístic o As primeiras duas décadas do século 20
inédito na América do Sul. Em 1912 fói conslituí- testemunharam. transformações nas cidadt:s bra-
<.la, em Londres, a Tbe City ofSan Paulo lmprove- sileiras numa escala c num ritmo até então sem
me>nt ~ élncl Frcchold Company, empresa organi- precedentes: alt~s laxas ele cresci m ento popu-
t.ada para lotear grandes áreas a1 ~ 1Sl<th t s ao sul e lacional nas principais capitais pressionavam a
a oeste da cidade - então em plena área rural - , demanda por habitação c serviços urbanos; a
com a finalidade de criar bairros de allo padrão prosperidade proporcionada pelo café tral'.ia be-
para a crcsce nrt> burguesia cafccira. Para o p ro- nefícios materia is e novos padrões de consumo
jeto urb anís tico, foram contratados Ra )'lliOlld para alguns segmentos da populayão, mas as es-
U nwin (1863- 1940) e P.~1ry P:wker (1867-HHl), lxulut·<t8 urb<tnas, t'm sua rn.ai.or\·,t h erd·'"\das ÜQ
ambos n•!;ponsáveis pela implantação das primei- período colonial, não se coadunavam co m as ex-
ras cidades-jardins inglesas, segundo os prr>ct:itos pectativas de uma sociedade que se urbanizava
<.k Ebenezer llowarcl ( lS:í0-1928). Parker desen- em passo acelerado, embora suste ntada por uma
vo lveu dois projetos- o .Jardim Amé ri e<t e o Ciry economia agroexportaclora de valores arraigada-
Lapa - c a remodelação de um jardim público na mente rurais. As cidades transformavam-se nas
<:tVenida P<'l ulista (Parque Trianon) entre 1017 c p la taformas rum o ao mundo moderno , isto é,
1919, período em que se estabelt:ceu em São Pau- em busca de um nível de vida à maneira das
lo. Todavia, foi uma operação de long-o prazo: os grandes metrópoles europ éias ou norte-america-
bairros conheceram alguma ocupação a partir nas. Alguns esforços convergiram para esse ideal.
do fi nal da década de 1920, c a consolidação efe- O pretexto da ciência, da técnica, da racionali-
tiva somente se proct:ssou bem mais tarde . Pela zação d os meios e rt:cursos para se alcançar esses
qualidade projt>tual t: a rigorosa legislação t:ntão o qjerivos fora m argu m entos instaurados nesse
e laborach1 para os loteamen tos, ta nto o Jardim in ício d e século. Embora em nenh um momento
América quanto o City Lapa resistiram às trausfor- se identif-ique, no conjunto de iniciativas, algu-
mações urbanas por mais de setenta anos e con- ma coerência de estratégia - um planejamento
servam até ho je as qu<'llidades amb ie ntais propos- sobre uma eno r me extensão territorial mergu-

t- - __,_ ~
O Hrasil em Urhtllt izaçàu • 23

lhada na p!'"rifcria ela economia mundial-, há alguma rn edida associada à política mo netária c
um vetor comum nas pontuais operações urba- à entrada de capitais estrangeiros (e m forma de
nas processadas nesse período: a apropri ação de in ves timen tos e ÜJJanciamento ele o bras p úbli-
um repertório ieleologizaelo ele intervenção nas cas, sobretudo d e origem inglesa) [Abreu 1986 J.
estruturas urbanas - o urbanismo como discipli- !\hegemon ia política e as formas ele con-
na, tal como se coclificava na Europa- , instru- trole e manipulação do poder dos grupos ligados
menw modernizad or por excelência, um a tenta- ú agroexportação não estavam isentas do descon-
tiva de e quiparação da cidade brasileira aos tentam en to de seto res da sociedad e , sobretudo
patamares europeus o u a prnn1ra ele uma tênue os segme ntos de classe média urbana não repre-
modernidade à brasileira. sentados pela oligarquia agrária. Ao lad o de gre-
ves operárias (marcantes a partir de 19 18, com
o fim da Guerra), as mais si){nificativas manifes-
O ENTREGUERRAS E AS CIDADES tações contrárias ao quadro vigen te partiram dos
quartéis, em movimentos liderados por eleme n-
tos da ala jovem da oficialidade militar- os te-
No final dos anos d e 19 1O, o Brasil conti- nen tes. A p artir de 1922, inúmeros levautes em
nuava um país de economia funclamentalrnentc quartl ~ is- yue ficaram conh ecidos co mo rcvo lt<1s
agrocxpo rt <iclora, modelado na riqueza propor- "ten e nt·istas" ou , enquanto fe nômeno pol ítico ,
cion ad a pela ve ncia do café no me rcado imcrna- "teueutismo" - foram registrados em vári<~s cida-
cional. A exlra<,:iio d a borrac ha, atividade qu e des rio Brasil , alguns extrapolando os li mites da
movimen tou o norte do país - na regiüo da bacia caserna e assum indo contornos revolucio nários,
d o rio Amazonas-, entre o fina l do século 19 e a como no Rio d e .J ane iro, no Rio Grande do Sul
primeira d écada do séc ulo 20. fracassou c!iantc da c em São Paulo. A oposição fazia con tatos com a
co ncorrência dos seringais ela Malásia c de Cinga- o ficialidade inquicr.a , em no m e d e uma "morali-
pur<~_ A dil'nsão elo gosto pelo chocolate eus<.:jou zação d o regime", e se pre pa rava o c<1min ho p ar a
o nc:scimento do plantio do cacau na P. :-~h ia , uma a Revolução d e 1930 .
elas cultu ras que se expandem a partir de en tão O colapso elo mercado lltUIH-Iia l provoca-
numa escala regioual ponde ráve l. A a tividade do pela quebra d a Bolsa d e Nova York, em outu-
pecuarista, por se u turno, dc:sen volvia-se nos Es- bro d e 1929, não deixou d e repercutir no Brasil,
Lados suliuos, sobretudo no Rio Granelc do Sul. so hrewc lo cliau tc da fragilidade ela polí tica de
No final elos anos ele 1920, oito produtos primá- man u te nção dos preços elo café. O s altos esto-
rios respondiam por 90% do valo r tot<tl das expor- ques do produto aliados à ve rtiginosa qu eda ela
tações: café (co m cerca ele 70%), açú ca r, cacau , sua cotação internac ional levaram a economia
algodão, mate, tabaco, bor racha, couro e peles cafee ira à bancarrota. Em 1930, revolucionários
[Abreu l986J. A estrutura da econ omia brasilc:i- do Ri o G rande d o Sul d errubaram o presidente
ra, em 19 19, baseava-se 79% na agricullura e 21 % Washingw n Lu ís (1870-19S7) sem m aior como- ..
n a indústria. ção. Assumia o pod e r Getúl io Vargas (1883-1954) .
Nos anos d e 1920, a política econômica Segundo Singer [1985, p . 235], "o princi-
persi sti a no privilégio d a prod ução do café, com pal m érito ela Revolução de 1930 foi ter g uinda-
poucas alterações e m relação à prática anterior à elo ao poder uma aliança heterogên ea ele corren-
Primeira Guerra. O d o mínio político-partidário tes políticas e m il itares que , para se co nsolidar,
da o ligarqu ia cafeeira de: São Paulo assegurava a não podiam se d a r ao luxo de seguir a onocloxia
sustentação de sua cotação m edianLe tllanobras liberal no campo econ ô mico, assistin do ele braços
que viabil izavam os preços internacionais do pro- cruzados à he catombe d e atividades p rod utivas
duto. Na segunda metade d essa d écada, a cafe i- qu e a crise mundial estava acarretando ". Ainda
cultura sofreu forte expansão na produção , em segundo esse au tor, "a oligarquia agroexportado-
2 4 • , 1l"<jll i lei 11 r11s 110 1Jr11sil

ra, economicamente arruinada, leve que ceder o l9R3]. Esse ide:írio seria reafirmado de for ma
papel de fração hcgcmúnica à coligação indus- au toritária com a impla n tação do Estado :--Jovo,
trializame de tecnocratas, mi litares e empr('s<Írios, golpe cuntinuísla de Vargas e111 1037 (contrarian-
CJllC vC"io g-anh ando poder c acumulando capital do a CarLa de 1!);)4, rp w p r evi<~ c lc içôcs presiden-
ao longo de lodo este período". No pcríodo I D:-20- cia is para esse ano) com a o u torga de uma cons-
192~) , a agricult.ura sc clcscnvolveu com taxas mé-- tituição CJll<' perd uro u até a CJ Ueda do d itad or,
dia~ <tttuais de /1,1 %, enquanto a indústria <T('SC('ll com o fim da Segunci.-t Cuerra.
2,8%. A inércia ctlU·c os anos I ~J2D e 1933 era o
sintoma inH'diato da Crandc Lkptcssão. Entre
1933-10:-39, inverteram-se as posi(Ôes: a agricultu-
ORDENAR AS CIDADES
ra virt ualme nte estagnou-se com taxas de 1 ,7%,
e a indústria desen volveu-se a índ i ce~ de 11,2 %
ao auo. Em 1939, a agricultura <li nda resp on di<~ No fi nal dos a n os de 1920, a população d o
por 57 % da csrrnmra da econom ia brasileira, Brasil era ela o rde m de 37 milhôC"s de habitallles,
mas a indústri<t já comparecia com ponderável co m cerc a de 70% ,·ivendo na úrca ntr al. Em
parcela de 4~ /f J [Dinii' 19lnj.
1
l 940, esse total a ti11g ia pouco mais df:' IJ 1 m ilhtll's,
A ~u pcra ção ela estrutura de privikgios do com a mesma pro p on;ão ele brasile iros vive n do
domínio agrário somente se l"aria ele fornta <· li- n o campo. Novas frentes de exp ansão agrícola
ciente mediante a substitui<;ão dos ins trumentos pelo territó ri o gerayam m ig rações in te r nas in-
de controle c operarão do porl<'r. O sentid o de tensas, assim como, e m regiões de incremento
modC"rn ii'a(;io da chamada ''Era Vargas" ( 1930 econômico mais di nâ mico (sobretudo São Paulo
1945) fundamentava-se na 1ransformac;ão das es- c Rio d e Jan eiro), as tendências apo11tavam p a ra
trulUras de sustentação ela oligarquia cafccira o d eslocuncn to ele pop ulações da áre a r ural
numa adm ini stração centra]i;.ada c intcrn,nc io- pan1 a ull.>aml - a confirmar a caracte rizaçáo d as
nista, de d iscurso naciomd ista. r\s principais me- cidades como locais de cstn tfllração elo poder e
didas políticas e !"conômicas tornar-se-iam deci- o rga nização das atiYidades comerciais c fina n cei-
sões orientadas por políticas nac ion<1 is de Fstado, r as, bem co m o das inslituiçôcs b urocráticas do
em detrimento das políticas regionalistas de in- Estado rPata r ra 19861 .
tCl·esses !ocali1ados; crit{Tios 'jnrídicos" e "polí- O Ri o dejatwiro co n tinu m·a sendo o alvo
ticos" eram suhsl il tiÍdos por t·;tzócs técnicas", prefe rid o para inter\'cnçôcs "ha ttss tmt n ianas ",
"econômicas" e '\tdmiuistnttivas", vinculadas a ua seq ü ência das gTandcs obra s empreen d idas
rnecanismos de mercado [Fonseca 19H9l . Novas pelo prefeito Pere ira Passos a part ir ele 190<1. Em
leis, códigos e dC"lC" rm ina(Õcs davam ampar o ao 1919, o ex-assistente ele Pereira Passos, o e n ge-
processo de modernização. ;\ reformu la(ão do n hei ro Paulo d e Frontin ( 1860-1933), assu lllia a
aparelho estatal, com a criação de noYos mi nisté- p refeitura elo Distrito Federal e r~a li zay um a
rios (da Ed ucação e Saúde, do Trabal h o) c órgãos série ele obras vi:trias de porte . Dois a n os mais
públicos ope rac ionalizavam as mudanças, a rti cu- ta rde, o prefeito Carlos de Campos (1866-1927)
lando os seto res p úblico c p rivad o . Constituía-se detonava o d esmon te do morro do Caste lo , um
um mercado nacional integrado, defin iam-se ru- dos pr im e iros sítios ocupados pelos po rtugueses
mos para o capitalismo industrial do p aís; ohser- no séc u lo 16 para a fun dação da cidade, e criava
\'a-se, no p lano econ ômico, ··o deslocamento do um "vazio" urbano onde seria provisoriamente
l·ixo da economia do pólo agroexportador para o montada a Exposição do Centenário da Indepen-
pólo urbano-industrial c, no plano político, o es- d ê ncia, C lll 1922 rve r p róximo capí tu lol. Tratava-
vaziamento da infht €>ncia e elo pode r dos interes- se efe tivamente de nm "vazio", po rqu a n to ne-
ses ligados à prese n-ação da prepo nderância do nhuma destinação p révia h a via sido p lan ejada
setor exter n o no conjun1o ela econo mia" [Di.niz para a esplanada qu e surg-ira. O material do ar-

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U lJmsil e111 f !rhaniz(lç(Jo • 2 5

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4. Projcto núo l'~t·( 11tado de ar1~ e nro


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para a á r ea rc:;ultante do d esalt' r rn rln morr o do Castelo c para án:a a tt'tTa da
rlt>srlc a Glória até a Ponta do Calabuurn. S<').;lllldo proposta de uma comissúu dc cngenlwiros c· arCJuitc tos nomeados pelo
[li efeito d o Rio de Jancim , Carlos Sampaio, 1920 1922.

1·as:1mento do mo rro foi transferido para a co m- ] 935 fc:z o dese nho do Parqu e Farroupilha Ive r
pactação de um aterro que, lllais tarde, ab rigaria capítulo "Modemidade Pragrnútica 1922-194:-r'l,
v Aeroporto Sa ntos Dumont. faria consultoria pa ra o cntüo prefeito de Belo
A capital elo país contiuua,·a a ditar a voga TI ori7on te, J uscdiuu Kubitsch ek de O livei ra
de intervenções urbanísticas. O irnpassc do de- (1902-1976) no f"inal rlos anos El30 [ver capítulo
senvolvimento c a ocupação urbana do Distrito "Modernidade Corrente 1929-1945"], um p lano
Federal ensejariam a contratação, em 1927, do <~r­ diretor para a cidade de Curitiba (1913) e o de-
quite to Donat Alfred Agache ( I H7!l--1959), profis- senh o de um bairro de cli rc e m São Paulo, em
sional que vinha se notabilizando na França, des- Interlagos (anos de 1940) . Participou de inúm e-
de ;t década ele 1910, em assnntm url>anísticos. ros outros planos, com o os de Vitó ria, Campos,
Agache desenvolveu um volumoso relatório com Cabo Frio, Araruama, Petrópolis, São João da
d iretrizes urba nísticas básicas publicado em 1930, Barra e Atafona l Silva 1996].
que. com a Revolução, n~ t o !'oi imedia tamente A cidade de São P<nlio, também ao tin a!
implementado. Em 1931 era criada uma Comis- dos auus ele 1920, apresentaria um plan o corn
são do Plano da Cidade para o reestudo do Plano preocupação basicamen te viária mas não ise nta
Agache, permitindo sua aplicação parcial. Em de e le mentos referenciados nas questões urbanís-
1937, com o Estado NoYO, uma no\'a comissão de- ticas mais amplas. O engenheiro-arquite to Fran-
senvolveu um projeto que acolheu in úmeros sub- cisco Prestes Maia ( 1896-1 965) fo i o au tor de um
sídios do plauo de l 930 e foi o que orientou o <tmbicioso "Plano de Aven idas" publicado num
desenvolvime nto do Rio de .Janeiro até por volta relatório em 1930 - tão su ntu oso qu anto o de
dos anos 1960 [Rezende 1982; Bruand 1981J. Agache. A Re,·oluçào de 30 também. interferiria
Alfred Agache dese nvolveu no Brasil, nes- na adoção do plano; todav ia, em 1 9~7, com o
se período, vários projetos c consultorias: ern Estado Novo, Prestes Maia era conduzido à pre-
26 • Arquiteturas no nmsil

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.'\ . Propos ta elo l'l a no de i\venicbs, de 19:10, cl.- l'restt's Maia , para p raça c i rcul:tr na imerccssào das ;~ v .-nida s do EsLado e
da Jncl cp nch~ia: monurncntal id adc vi;i t ia num entorno campeslr<>.

fc imra de São Puulo c em sua primt>ira g-csl<'io at<:: Fsl<tdo de Goiás, (;oiânia fver tarnb(:m capítulo
194!i, e posleriorrnenre entre 1961 c 196Pí (q uan- "Modernidade Prag máti ca 192:2-1943 "]; em 194 1,
do foi c lei Lo prefeito da r iclade) , ele im plan I o u elabo ra I';.Jmbém o plano para a cidade de Volta
pa rci almente se u projeto, incompleLO em sua Redonda ILopes 19941. Na primeira me tade dos
execução pe la falla de recursos. As diretri zes bá- anos de 1930, os engenh eiros U batu ba de Faria e
sicas do plauo foram segui das até 1969 pelo seu Ed valdo Pereira Paiva p reparariam um plano pant
sucessot· [Toledo 1996] . Porto Al egre sob a inspiração elo plano Agach e
Os planos para o Rio d e jane iro e São Pau- para o Rio de J an e iro. Com a nomeação do pre-
lo ensejaram uma seqüência de p ropostas para fe ito J osé Loureiro da Silva (l9m~ - 1964) com o
várias cidades brasileiras, em maior ou me nor me- Estado Novo, o arquiteto elo Rio de Janeiro Arnal-
d ida inspirados nessas experiências. No iníc io elos do G ladoscl! era contratad o para o descnvoh·i-
anos dt" 1930, Nesto r Fig-tteiredo c Fern ando Al- m en to d e um IJlano di reror p ara a cidade; nos
m eida clesenvolve ram pl:mos de remod e laçiio e anos de 1940, Edvaldv Paiv<1 iria desenvolver es tu-
extensão para diversas capitais do Nordeste: For- dos nrbanísticos par·a a ca pital com o título "Ex-
taleza , João Pessoa, Recife e para a cidade ele pedi en te Urbano". Salvador também teve o rgan i-
Cabede lo. Re cife ainda seria estu dado e m 1934 zada, entre 1 9~4 e 1 9~7, a Comissão do Plano da
por AtLilio Correia Lima (190 l-1943) e em 1942 Cidade, desativada pelo li.~tac\o Novo. Somente
por Ulhôa Ci n lra (1BH7-1944). O mesmo Correia em 194 2 seria o rganizado o Escri tório elo Plano
Lima elaho rflria uma tese no Instituto de Urbanis- de Urbanism o ela Cidade ele Salvador (EPUC:S) , d i-
m o da Universidade ele Paris sobre um plano d e rigido p e lo e ngenheiro Mári o Leal Ferreira.
r emodda<:ão e extensão de Nite rói em 1932 e, no O sub stra to conceitual d esses inúme ros
auo seg uinte, faria o dese nho ela nova capital d o esforços e r a r efe renciado em teo rias e expcri-
O /Jmsil e111 Urban izaçâo • 2 7

ências urbanísticas européias c norte-america- cirurgias urbanas que tentaram \'arrer as referên-
na::;; enqu::1n to propostas concretas, boa parte se cias da cidade colonial ou imperial, substituindo-
limit ava a esquemas de circulação com novos se a paisagem "at 1·asada " do casario antigo por
sistemas viários sobrepostos aos tecidos urbanos largas e arc::jadas ;wrn idas ou bulevares e constru-
antigos, quando nã o se tratava ele áreas eu1 ex- ções vistosas ele <1rquitc tura modern il'.<mtc ou rno-
pansão o u cidades novas. A 111aiori::J dt>sscs pro- rlerna. Todavia, entre a utopia transformaclo•·a e a
jetos foram rejeitados pelas câmaras muni('ipais realidade conscr\'adora, estabeleceu-se um impas-
ou adot::Jclos c.m condições excepcionais, isto é, se que acabou gerando nf'nhn ma imagem integral
com prefeitos nomeados pelo Estado Novo, que de modernidade. ;'\!em se pode afirmar, categori-
uão se suhorrl.inavam ao respaldo do poder legis- camente, que os significados dessa modernização
lativo pa ra suas in tervcn ções urbanas. Mesmo estivessem conscientemente assimilados p elos ci-
nessas sitml<:Ôcs ele exceção, esses prefeitos não dadãos o u govcrnan tes. Ademais, cst rat{:gias des-
conseguiram implem entar os planos na sua tota- sa narn rcza c·ontcmplando ol-~jcts tão complexos
lidadf', pela amp litude e complexidade das pro- como as cidades dificilme nt e são exeqüíveis em
postas a ex igir recursos q ue demandariam o in - prazos condicionados às veleidades ele autoricl:Kks
vestimento de inúmeras gcraçôes de cidadãos. ou auto ritarismos. No e ntanto, o conj unto de ten-
O plauejanu.:nLo das c idades, a funciona- tativ;ls d(' plant:jameiJto u•lxnw no B rasil que se
lizaçào dos espaços, a organiwr,·ão de uma hierar- registrou no período rl.o enrregu crras inclicia, com
quia viária eficiente e a definição de políticas de rnaior ou tn e u o r sucesso, que o Brasil procurava
construção mediante códigos t>clificatórios vinnl- ingresso ent re <'~S naçócs d cscm ·olvidas buscando
lados a padrócs urbanos foram aspectos que, a e n contrar formas racionalizaci::Js ele uso c manipu-
parti r de 1930, caracterizaram uma faceta da mo- lação elo espaço das cidad es, segundo regras de
derniza~ · ;lo dos grandes centros urbanos do país. uma das disciplinas instauracl o ras da modernida-
Quando concretizados, <.:o nstituíram verdackiras de do século 20: o urbanismo.
2

DO ANTICOLONIAL AO NEOCOLONIAL:
A BUSCA DE ALGUMA MODERNIDADE
1880-1926

O estilo modr.mo aceita lodos os estilos, cai l''ln todos OJ PXrP.uos, t' '//(LO formando idéia
das IU'rt>ssida dr.s tâo várias da gera rlio f.m•scnte, find e-se na jiP.stpú.w rir• 11ovas f ormas
n r.rim; de nova exjJTfSSÚo a ado/(l,r; o seu caráter rssr•náal é a ri'úvida I' a incerteza.

ANDRÉ {_;( ISTAVO PAU L O DE FRO:-.lT I N,


proposições sobre "es tilos em a rCJUilct tu·a", tese ap resentada em co ncurso
C'm En genharia Civil para a Esco la Poli técni ca do Rio d e Jancil·o, 1880.

Ufanismo é uma palavra derivada do ver- tempo, nos conservamos estacio nários. Recente-
bo uümar. Esc lare ce o di cio n ário que o Ler mo mente as constru ções vão se ndo mais elegantes e
de n o ta a "atitude, posição ou sentime nto dos adequadas às condições de nosso clima , porém
que, influen ciados pelo potencial das riquezas ainda com excesso inútil ele materiais". Era essa a
brasileiras, pelas belezas na turais do país etc., opinião do engenheiro C. R. Cabaglia [1 869, p.
dele se vangl oriam , desmedi damente" [Ferreira 103J em 1866.
1975, p. 1.436]. Trata-se de uma a lusão ao livro O ensino d e arqui tetura no Brasil é an te-
de Affon so Celso (1860-1938) , Por quf' me Ufano r io r ao estabe lecime nto dos cursos jurídicos, mas
do uu•n Pais, e di Lado em 1900, precisarnen Le no nem por isso os arq uite tos angariaram prestígio
calo r das celebrações elo quarto centenário elo equivalente ao dos bacharéis. Data de 1816 a vin-
descobrimento do Brasil. da de urn grupo de artistas fi·a n ceses para a cor-
No fin al do século 19, o Brasil não se ufa- Le do Rio de Jane iro, ainda sob a regência d o en-
nava de sua arqu itetu ra . F. d enegria se us antece- tão p ríncipe D . .Joào (1767-1826 -futuro D.João
dentes: "Herdamos dos a ntigos portug u eses a Vl , rei d e Portugal), para introduzir no país um
parte má d o gosto arquitetônico; e, por muito con hecimenLO artístico d e gos to neo clássico.
.3 O • Arquil!!lllrCIS 110 Brasil

Mas i· somL·ntc em 1827 que com~ça a run cionar prom issoras. Luiz Schrciner ( 1838-1892), e nge-
regularmen te a Academia ele Re las-Ancs, incluin- nh e iro c arqnitc:t o fo rm ado na Real Academia
d o em seu c urrículo a arq uitemra, curso o rg;.u ti..:<t- de Rf'hs-Artes de Berlim e ativo no Rio d e Jane i-
clo por Augustc Hcnri Victor (~randje ele Mon- ro, foi unt crítico radical da situação no país. Em
Ligny ( 177b-1 R50), arcp ti Lelo francf>s d e algum Hl83 man ifes tava-se:
prestígio em seu país de origem, autor de nm á l- Se n ã o pod emos nc:gar, que a n ossa Escol;~ Politécni-
bum de levantamentos arquilctúuicos, Arr!tileclure c;t jií tctn form ado engenhe iros q u e p odt"tll r i,·;tli7ar
i nscanc, ou jwlai.1, uwi.wns, e/ autrfis édijlas rll' la co n1 os tlll'ilwres d o Vc llto iVIund o , i: tamb.:m indi sc utí-

'f 'osumc, J.>tthli cad o elHr(' 180ti e l Hli). vt'l que a a1 qnitetura ainda(; pouco r ulti v:~rla c-ntrf" n<'>s,
:l.Ch:ln clo-sc: a art ... d e co nstrui r ainda hoje mcri<l:l na ca-
misa de força c hamada "rotina ", c melo isso p e lo t:tto de
sr c nt f' nd !" r que utn a rquiteto pod e form::H-st> n:~ Aca
d ... ,nia das B<·hts Ar l('s A inda ho je os a l unDs copiam
CARÊNCIA DE ARQUITETURA I ... 1

os mesmos d ese nh o s do fundador da a ub ele a rquit!" ttt-


ra (está entendido qu <> ralo d a parte cons truti\'a, c não
csrhica destas rópi:ts) n qual, no fínt do s(<.:ulo passado c
As ;w;-t liações so bre o cnsiuo da arqui rctu- n o prin cípio do nosso . d isti ng u iu-se po r ter p u b lica d o
r<t no úl timo quartel do século 19 u ão eram nada uma obra sobre arqu itetura toscana L... j .

6. Casa d~.: Detenção elo Reci fe, projt· tada e construída pel o engen h ei ro .José Mameclt· Alves Ferrei ra ( lf\20- 1862) a p a r-
ti l· de 18!'>0. ü e ngen hcit·o Perei ra Sim<ics c o a rquiteto Ilcrc ul a n o Ra11t os comen taram em 1882 : "a nossa Casa de Detcn-
çiio , estudada em face da teoria da arquitc1 11 ra , é- um d os p oucos e difícios onde existe h armonia m ais o u men<" p e rfei ta
e ntre.: a fo r ma adotada"' a necessi d ade que ocasionou a construção . H ii ali. tH:sse pont o rk vista c em relação ao conjunto
de elementos, o caráter acertado das obras raciona lm ente fe it as. [ ... j Cad a ç lc m e nto t<.:tn ass im nma sig nifi cação peran te.:
a arte; cada lin h a pod e despertar um 'cntime uto rapaz de concor re r p ara o fim a qnc se destina a di spo ~ i ç io ger a l"
[Scgawa l \J87al .

..... _
no Antirolo11ial oo Nroroloniol • 3l

i\ arqu itetura entre n ós n ão de u um p as'o ;1\a ntc quitt>tttra [ ... ] protestam contra as exigf·u cias cl<t indús-
desde o prin cípio deste sécu lo, c·rnhnra l'sta t-poca m ar- tria e cteclararam n:bcldes e fora r o>npletamente ela (O-
casse uma revnln(";)o co lo s;~l I Se h reine 1884, p. 7·1. Ill tlllh ào da arte as n ovas manifesta<,:ôcs elas H<·cessiu<Ides
h um anas c: elas idéias elo nosso s(•cttlo.
A situação cios arquitetos uo Brasil à épo- Oaí d ois cam pos lwm d istintos na arte das con stru-
ca sofr ia também de constrangimen tos suscitados ~·< - >('S: os rc·vo i LOso~ . w, p rog ressistas, ele 11111 lado: do o u-

tro, os fié is. os respeitador es da a n c a nrig;.t.


pelo próprio poder público. U m aviso d o tninis-
tro do lmpf-rio, An to ni o Ferreira Viauw.t (1834-
Não ohsratllc a coustatação do dualismo,
1005), solicitava em 1HH9 a contrara<;ão d e u m
Ribeiro de Ft-eitas supunha concmnirantcmente
arquiteto na Europa. Na j ttstificativa rla solicila-
uma unicidade da arquitetura de seu tem po: "nos
çào, argumentava-se cptc
diversos povos o caráter arC] nirctfl nico é um ; é a
A ,.. J,..vação cln nosso n ÍH'I int<"kctual torna çada dia expressão da civili:t.ação da era presente. F, certo
menos su ponáH·I a !'alta de gr·a(a t> t>st ilo em nossas que ainda h á poYos separarlos da comunh ão ge-
construções. ainda as destinadas a , ,.,·viços pÍihli cos d :~ ra.l; mas nos países \'errladeirame ntc civilizados,
lllaior imponãnci:1. como se a beleza não fosse co n d i
conforme as n ossas idéias há uma só civilização,
ç;io esse n cial ou d ela sç pudesse presc indi r a troco d;1
so lidez, n e m sempre conseguida. r... 1 F. f' l't>Ciso que à
costumes e idéias con cordes, e daí um<l arq uite-
primitiva ane d e constru ir se jnmc·m a concep<;<io e a tura , a arqui telll ra moderna".
diglliclacte da arq u ite tura. cujos exen1 pla rcs são t:'io ril- Tomando ClllJXestad as as análises de César
ros en t re nós, t' , o que é m<'li s inquietante . em gera l vi-
Daly ( 181 1-1 R91), Ribeiro de Freitas via a arq ui-
t'l'<l lii d o pe ríodo co lo nial !Vianna IH!JU, pp. 12 1- 122j.
tetura dividind o-se em três correntes: o "grupo
histórico" ("fiel da csli:tica ma is conhecida, acei-
ta somente as arqui teLUr<Js Cllle caracterizam as
O ESTADO DA duas civilizaçôcs mais notáveis: a greco-romana c
ARQUITETURA MODFRNA a da Idade Média"), o "grupo er.l {:tico" ("reserva-
se o dire ito ele escolher em todos os estilos, em
Esse tipo de ceticismo era ta mbém com- rorlas as m anifestações da construção o que mais
partilhado pelo engenheiro civil Bern<Jrdo Ribei- perfeito julgar para o fim que se tiYe r em vista")
ro rle Freitas (formado na Escola Puliti::c nica em c o "grupo racionalista" ("é uma reação elo pre-
1881) , par<J qncm, em 1888, o ensino arquitetô- scnre contra o passado [ ... ] lançando mão dos
n ico no Brasil e ra "quase desconhecido". É Rihei- novos malcr·iais l---J esse grupo adotou a libercla-
ro d e Freitas que publica, nesse ano, nma aval ia- ck da t<>rrna, sem obrigação d e atender às leis da

ção do quadro ela arquitcwra naquel e final de estética legadas pdo passado").
sécu lo. Num anigo intitulado "A Arquitetura Mo- Nega nd o a existên cia de um "corpo de
d e rn a", o engenhe iro tecia considerações sobr e doutrina" aos grupos "eclético" e "racionalista",
as grandes Lransrurmações tecnológicas e sociais as pa lavras do engen hei ro brasilei ro bem espe-
processad as ao longo do século qu e t'erminava, lham o dilema da modernidade arquitetônica no
assinalando a perplexidade de sua é poca: cr epúscu lo do sfculo 19:

O sécu lo 19. instigado pt'la~ g randes conquist:Js rias () a r LisLa moderno, o an1u itt>to moderno lnta com
ciências e das indústri as, fone p elo fl: rro que tornou-se g r<tncle~ d ific uldades, se se fil ia à e~ co l a ,·acional ista ,
a sua matéria-prima por excelf>ucia, revoltou-se con tr a o te ndo por úni co gu ia a mecâni ca ap licad a , tem(~ cair
P"ssado c de ous ; Idi<~ em ousadia apr esentou for m as in - e m formas secas, fr ias, esqu e letos, ó rg::io:; de máquinas
1c-iramentc novas que acharam sua raôo ck st>r nas leis antes do que elementos arq u i t etôu i c o~ ; se aceita a es-
ela estatística , mas que se afastaram da estética até ago- cola eclética, sen1 outro cr itéi-io para escolher· as s uas
ra conhecida. Esta m os em p leno domínio da rt>voluçào. normas a não ser o se u p r óprio _juízo ca i no cetic ismo
Como se m ptT acon tece nas rt>voltas, os acaclf>lll icos, <trtístico, no :.~hando e d espr ezo de todos os pr incí-
os que g ua rdavam corno sagrad os os princípios d a ar- pios admitid os.
32 • Arquitetums no nmsil

lkssf' estado da arquitetura m o derna 11 <1SI'\' o i nd i- O s~cn l o atual , possante e inov<tdor nas c ii'· n cias,
vid ualislno ('111 qnestüo da arte; cada um é: seu préJprio n8s teu·as c nas demais arLcs. nfw co nseguiu ainda ter
_juiz c n ão actmi1e do g 1a ~ c· 1weceitos estéticos. Há a per- 11111a 110\'a ;n qnitctura. i\ maio r parte d os g ranlio ~os
feita dt'sor){ani ·t ação das verdadeiras escolas. A crítica t'ciilícios \'O II SI ruído ~. lo nge de tc1· uma fi sionomia prú-
artística d esapareceu , pois qnc n ào há leis esté- ti cas; mio pria, como nos sé-culos passados, ou são cópias de anti-
hú cúdigo, logo u<lo h{t,iuiz [Freitas lfltll:l, pp. 1! - 1~ . gos m o n u mentos ou co mpo, i(i>Ps bhori osas de e lc-
llll'ntos llt'lt'rogêneos ama lgamados com maior nu
menor habilidad e. Certo é que o espírito ntodl·rno
toge ;ls velhas form as; c os arcpr irt'tos, nwsn1o os mais
MODF.RNIDADE E genia iS, CSfor çalll-S(' para dotar a ll OSSa t:]JOCa el e lllll
non1 estilo arquitetura! CJlH' mdhor respu1uLt ús as pira-
IDENTIDADE CULTURAL
ções h od iernas e ao bom gosLo, acocdando-o com o
desenvolvimento grandioso prog r rss ivo dt' iocl as as ar-
les apl icadas. Na nossa pcrginaç~o aos vel h os e cultos
A hesitação pelos caminhos que a arquitc- países da Europ<~ fica mos convencidos de qu e pouc~
Lura deveria trilhar- debate e m curso sobretu- são aqtlt' lt's que m;unêm na arquitetura os expressivos
elementos cl;1ssicos c quase achamos os artistas de hoje
do na Europa - collhcceu no Brasi l um a outra
identificados, conco rdes ua p t'sq ui sa de um n ovo ideal
variável: a da nacionalidade. Em meio a uma vida estéLico. mostr:~nd até em al gu mas consLruções, ap\'-
c u lrural r mundana orientada pelos padrôcs sar das iucvi tá,·c is incr l e ~:a s e exage ms , uw complexo

fr;:Jnct>ses (daí o recorrente uso da cxprcss:'io " hc- h annôuico dr.: linhas, 11111 conj11n1o till, rif' inf'undú a es·
lle êpoLJLI<.:" p a ra esse período na hi storiografia p era u ~·a d e n;io estar long e o ad\·t' nto da d t'st·jada ar-
quitL:tura do século 20.
brasileira), rssa preocupação se esboçou co m
maior i11 Lcnsidadc nos meios literários. O ltfanis-
rno de Affonso Cf'lso i n;m?;u rava o palriolismo E posicn;.~va- se quanto ao eslilo adequa-
oficial ; escritores com o Euclides da Cunha ( 1866- do ao Bras i I:
1909) e Lima Barreto (1881-1922) teciam abor-
N u1 11 país novo, que seuiP a cada h or<J ;1 i11rlui'ucia
dagens distintas d:~qucla s prt'sc rilas na literaLUra
\·ariáve l da~ idéias d<' alé m-n 1ar, a imposição ele um e~­
<lo Velho Mundo. Não há regi stros esc r itos de til o único seria i111p roccdeute [ ... j
rlf'ha tes d essa natureza no âmbito da arcptitt>l u- Todo c qualqu.-r estilo, consoante a sua oportunida-
ra na J.nimcira década do século ~0. Todavia, a de. pode e d eve ser adap i<Jrio ao nosso clima e ao nosso
questão era la lell lc, c, ao menos isoladamente, meio, dc~e que sejam iiTepreensiw·l mentc obsen · ad~
as mod er nas p r cscrit;Ões higiênicas. I\' o Vl'lho M uudo
arquitelos manifestavam-se a rf'spPito na esteira
todas as l'orm<~ s a rquitc wrais t>rocnlcram de estilos an-
da discussão mais amp la. tc1·iores aos qua i, fo i sc111pre ass imilado um ele mento
É o que se ct r preencle ele um memorial e . ~tran h o , dependente d o progresso e da transCorm açüo

explicativo df' um projeto ele palá<.:io municipal d as v;í ri<Js civilizações, da aquisição d e um·os conhl'ci-
mentos, d<J inrJ u ê n c ia de novas idéias c se n1ime11los ('
para Belém, cidade que se beneficiava., nesse
1ambéno da introdJl(iio de novos materiai s.
momento, ela riqu eta proporcionada pela cxpor-
Dei xt"-S<', poi s, ao cngeuheiro, num p aís como o
ra(i'io da borracha. Seu autor, o engcn h f' i t-o ar- nosso, <t escol h a d o eslilo que me lhor correspon da ao
qu iteto Filinto Santoro, era itali ano com estudos se u gosto, às suas idéias e aos l'ins a que se destina o
e m Nápo les, tendo c hegado ao Rio de .Janeiro edifíc io. Esta liberdade de agir, porém , niio o d ispensa
em 1890. Sahc-sc CjtH' foi um profissional que es- d e se preocupar in ccssa n tem <' llll> com os ele uieuLO s
cuja influência t;m to ~e afirma sobre as construções: o
teve aLivo e m várias cidades b t·asileiras (Rio de
cli ma, as tendências do viver coletivo, o progresso d os
Jan e iro, Vilória, M:~naus, Bel é m c Salvador), fi- materiais ele que, p orve ntura, disponh a [Sa ntoro 1900,
gura de pres tíg-io com obras públicas de impor- pp. 111 - t 1\1].
tâ n cia [Derenji 1988] . Ao elaborar sua memória
técn ica sob re o j amais cxccULaclo palác io, em Não obstante o oLim ismo e o tom progres-
1908, Santoro r eg-istrava a situação prese nte ela sista do discurso, o Palácio Municipal de Santoro
arquitetura: era um pr~jeto de arqu itetura convencional.
no A nlimlonial rto Nt>orolonial • 33

ESTETICA DA RACIONALIDADE Paulo, p e la "coragem do arq\litcto c nt expo r lra-


balhos que fogem co mpkt<mt <:ntc às formas ha-
n ais, manifestando uma tendência hem acentua-
Os mais surpn: <:ndcntcs escritos irnprt>g na- d a para u rn novo método de construção, ainda
dos d e uma precoce modernidacl<: foralll feitos a pouco c.studcld o" (n:feria-se ao concreto armado).
respei to ela ohra rl o arquiteto Victor Dubugras Poucos 1neses depois, a r<:vísla publicou uma aprt>-
( I R6R- l 933), francf:s co m for mação profissional c:ia~ão do csLUdan te Augusto de Toledo sobrt- a
em Rucnos Aires c radicado no Brasil a partir ele obra elo seu professor, Du bugras, m anifestando
1890. Dub ugras, t-m st> us primeiros projetOs co- 11 rn a inédita postura estético-construtiva:

m o fun c ionário público para o Est::ldo rl e s:w


Eut toda coustr ução o Sr. Dub~ras deu inte ira p rl:'-
Paulo, dese nho\! fúruns c escolas ncogúlicos. N a
fer~ucia às form<:~s ele est rutura real. As d i sro i ~·iH '
virada elo séc u lo. o arquitt:to er<l um projetista
const.rut i\';lS c· a natureza dos m at l:'riais s~to rrancamen-
p<:dcitamente sintonizado com a expcrirncnra- tc acusadas. lealmen te poslas em evidê n cia : o que pare-
ção Art Nou vcau, praticando obras residenciais ce parte ~upnad;1 funciona verdadeira m e n te como L~ I;
com ::l mesma d ese nvo ltura modernista de Bru- o g ran ito i:: g-r:-tni to 1nesmo; os rc\'cstimentos dt· <trg;t-
xelas, nan-elona O ll Paris. m assa não ilude n1; e wda pcp d e madcirajú eslú colll
~ua co •· próp ria , tendo apenas uma C;lm<td a protetora
Em 1905, o arquile to havia org<mizado um a de ve rniz transparente .
exposição de se us projetos e obras e foi sa udado Aplau dimos convictos esta maneira de construir tão
pela R evista Pul)'lechníra, periódico crlitado p elo h onesta c racional. O arquücw te m de cingi r-se ao> re-
grê m io cs1uda n Lil tla Escola Politécnica d e São curso s de que dispõe, e à~ formas impostas pe la 1-'stahi-

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- -'":- · - --:- -

U Oue!.lJ6F\tt;,.
fi"' c. 4

7_ Vinor Duhugras: estação fcr .-oviúria e m Ma irin quc, SP, 1905- 1908.
31 • Arquiteturas 110 Brasil

lidade c resistênc ia dos mate riais. Lade:>ar dificuldades dos c pela Ir;\ lia, pel a lugla terra e pela Françil, reconlan-
ou s iullllar riquezas cn 111 fingim e n tos c a n ifícios t:, a do parti c u l<~ rm t>ne as casas e m n·1ncnto scmi-annato de
nosso vt'r, cai r em um a ane vic iada c mcntiros;l. Nada Alzano d i Sopra c a memorável casa d o cngt>nheinJ
mais ri d ículo d o que, por cxcrnp lo . os 111<Í rmores d e es- lle n nc biq ue, em Paris- e m que, o ra s1· descur::t inll·i-
mquc c os trontõcs impro~acnt t>st;1tchodos no nll·- ramento:: du efe ito arqu itt>lônico. tratando ape nas chl
po das rachadas. p a rte CO IISI.nltiva e u tili1ária, ora, como no caso d a Villa
O distiu to professor pt>s de maq; t'm tod o velho ;u ·- Hcnn t>biq11e , se sacrifi ca todo o c fei lo decorativo, afo-
scn al de corn ijas, co nsolos, ba laústres decorat ivos , a o·- g-ando a con strução de c imento arm:-tdo e on uma imi t:-t-
lf llil ravcs etc . l~ o caros aos rotineiros , ao s qu e L1zcm ção ridíc ula c co m p !ic a d;~ de a h ·c n a ri;~ de pedra [ ... ].
arquircwra com as fcu·malísticas e inllllúvcis rece itas de É que é cfetivanwnl c difícil e~ ca p ;n ú insensível IT-
Vinhola. c c n vt>rednu corajosamo• ot tc p e la a n e llwdcr- pc li<Jw elas velh as u orm:~s ci... composição, adaptar-se a
ua c p t>los modernos processos de co nst r u~ ão ITolcclo u m mate-ria l intciramen le novo, se-guindo uuicanwntc
1901í, p . 771. as indicações do bom se n so, procura r uma composi ção
ge ral <" um;o decoraçã o inspiradas na própria constrll-
T rb au os d e pois a mesma RPvisla Poly r;io, chegando, e nfim , a uma o bra o riginal , intel igente
lechn icn publicou um elogio à então recém-inau- c bela [ ... ] E essa é precisamente a dificuldade que su-
gurada estarão ferrov iári a n a cidade de Mairin- p e ra mag-istralmente o iusigne <~rq u ileto . qu e nos d á
com a Estação Mairinqu e u m brilhan le exemp lo a se:>-
que, no Estado de São Paulo, proj e to de Dubu-
gn ir, no ca min ho ela reabil itação esl é tica d o cimc11 to
gras. O edifício é praticamen te uma e sLrn tura arm<~lo, túu cedo t> tão í t ~ j u s ta mt"n LI:! co n den:~o u .llllO
monol íLica de concreto ar mado, estr utura com coisa fund;tllwn talme nt e dt>sgraciosa c fe ia [ .. .] [P. J.
trilho~ (fundações, pil ares c vig-as) e metal ex- 1\HJX, pp. 189-190].
pandido, o ·metal déjJLoyé (pared es, lajes, abóba-
das), alérn d e empregar coberturas a tiran tadas Na primeira década elo século 20, a Esco-
so bre <'ls pla taform as . Num artigo assinado por la Poli técn ica de São Paulo ainda comple tava seu
P. J. (hipoleticamente Hyppoli to Pujol.Júni o r, prim e iro decênio de.: funcionamc.:nto, c a tarefa
li-l!-10-1 952 , engenheiro civil recém-formado) , de buscar e organizar o con hccimcnto ciell tífico
ressaltava-se o pioneirismo da o bra: er a urn a prioridade. Em 1899, criava-se o Gal>i-
u etc d e Resistência d e Materiais, con stiLuinclo
A bela co mposição d o Sr. Dubug ras tem [ ... ] [o]
grande mé rito [ ... j de co nve n cer d :~ possibilidade d e um laboratório d e ponta em tecnologia da cons-
fazer be la uma obra d e r ime rno armarlo o s d e ~c r e nt es trução. Cottb<.: a Hyppoli to Pujol júnior, qua ndo
da estt'- rica do novo sisre ma de COilsl noção, os qu e acre- estuda nte, diri)!;ir a elaboração do Ma nual de R e-
d itam que o ún ico me io de tornar atraente u ma o b ra sistência dos Materiais, publicado e m 1905 pelo
t>xecu tada com essl:! tmncrial é esconde r a n at ural rigi-
Grêmio Poli técnico; assim com o, d ois a uos de-
d ( ~z geo m(•trica d:~s formas que d ecorrem da co n srru-
(ào m esma, fa ze ndo-a dcsaparPcer sob suct>ssivas ~.:am ­
po is, j á como profe ssor da Politécni ca, re ali za r
das de em boço e r<"' boco ( .. .] urna viagem por laboratórios de ensaios de m a-
A simplicidade do mé todo es1élico a qn e rcçorre o teriais na Euro pa [ Pujul Júnior 1907]. Man uais
arq11itP to mo co mposição da sua linda garr, a f~1 c i l id;~ e pion e iros de concreto armado corno os d e Gé-
c nal.llralida dc ela ordenança el a s sua~ fac h adas, n ã o rard Lwergne (1901), Cesarc Pesenti ( 190fi) o u
são, ento-etanto, se n iiu apare ntes ... uào excluem , pe lo
catálogos da Fxpanded M etal (1905) d e Londres
menos para que m não possuir as su pe riores qua lidades
de artista elo d istintO m estre, um penoso ll·aballoo d e ra- ou da /VlPtal déployé de Par is eram publicaçôes
ciocíuio e um a pon deração muito j usta do noYo m éw- acessíveis en tre os en genh e iros e m Si\o Pa ulo .
do de c ons t r uç~ o , de qu e d.-ve decorre r n t-cessaria- Victo r Dubug ras ben eficiou-se d e um contexto
me nte todo o efei to arquitetu ra! , quer d o conj unto, fe bril ele capacitação te cnológica na escola e m
CJU<"' r da dccora(i.o ck mcntar d a o bra. I:: para mostra r
que e ra p rofessor, e não foi grat11iLa a admiração
q ue não é f~1cil ch egar a uma composiç;'io tàu rac:ion;~ l ,
de seus al unos <]llando o m estre respondeu ao
tão elegante e a pare n temente' tão espon r:inea e f<ícil,
para acentuar todo o merecimen to desta b e la con stru- e ntusiasm o tecnológico corre nte corr.t uma apli-
ção, basta le m brar o clt>p lo ráve l aspecto d as cdilicações cação judiciosa do novo m ater ia l numa obra ar-
e m cim ento armado que se alastram pelos Estados Uni- quitetonicamente elaborada.
l!n A nlirnlrrnilll 11 0 Nr>nro/oniol • .') 5

Não há registros, todavia, ele novas expe- plan taçiio da democracia ern Portugal- afinal
riências dessa natureza, ou ao menos com reper- be m-suced ida em 191 O. En trc 1H9H c 190H rcror-
cu ssão e quivalente . Dubugras aparente m ente nou ao seu país de origem c editou uma publi-
prosseguiu sua carreira sem repetir o radicalismo cação de valorização ela cnlt u ra r;.~d i cional por-
co u strutivo experim entado n a estação Mai rin - tuguesa, Portugálirt, com trabalhos de etn ologia
q u e, mas continuo u como um arqu ite to ate n to e a r queo l ogi<~ , sua contribu ição para 11111 movi-

<lO <~mbicn t c inrc rn acio nal c local. Recém-ch ega- men to de afir m ação da cul tura l u ~a em curso
d o ao Bntsil, co111 po11co nta is d e vin te a nos d e em Portugal na virada do século- in iciativa q ue
idad e, abraçava a linguage m neogótica; com se confu nd ia corn as conviq:úes repub licanas.
pou co mais de trin ta an os, pra ticava o A rl No u- Rad ica n do-se de fini tivamente no Tirasi l em
vca u sim u ltanea m e n te aos seus colegas e uro- 1909, assoc iou-se ao maio r escritório de enge-
pc lls; p rúx i111o dos q11a rc nt a anos, na p ri111 cira nhar ia e arqui tetura e m São P au lo, o Escri tório
década do sécu lo 20, dese nvo lve u experi ê ncias T{·c nico Ramos de Azevedo, c iniciou seu prose-
f!llC o filiariam ao "gr 11po racionalista", detecta- li lismo por uma "arte nac ional". O "culto à tra-
da por Ribeiro de Freitas, em 188R, a partir ele rli(;1o " já era mna posi~ :ã o revelada com sua ati-
categorias elaboradas por César Daly. Aproxi- vic.htdt: "lusilanista" em Portugal d esde o final elo
mando-se <lOS rinqt-tcnra anos ck idade, VicLO r ~éc u lo 19, c sua atuação p rosseguiu 110 Brasil,
Dub ugras embarcou numa nova exprimc nt a~ · ão transro r mando a ex<~ltação ela raiz cu ltural c
rorrnal , inclllindo-se entr e os pio nei ros q ue, na é tn ica portugu esa no fundam ento da a rte bra-
metade da década de I!) I O, adotariam a arqu iLe- sileira. Er a uma compatível co rn u11h ão da creu-
tura inspirada na arte t racl irion a I hrasi le ira: o (a republicana e luso-nacio nalista co m o e m er-
n eocolonial. gente ufa n ismo elo Brasil elo início do s(:culo
20 . Seu d iscur so, todavia, era u ma espec ulação
sobre o prese n te :
O FUTURO NO PASSADO Não procurem ver, meus senhon:!S, nesta vene ração
1radicionalista, diluída em nostálg ica poesia d o passado,
1 1rn~ Jnan i f<'sf"a(fio d(· ''saudoslstno" rontc'"tn t ico t' rt't rúgn.L-
O ano de 1914 pode ser consider ado do. Com efeito, para criar urna an e que seja nossa c do
como a d ata inaugural de um movimento que nosso tempo . cumprirá. qualquer que se ja a o ri entação,
CJII<' n ão se pes()uisem motivos. origens, fontes de in spi-
incorporou um componente inédito no debate
ração. pa1<1 muito lon~c de n ós próprios. d o meio cn1 qul·
sobn· a modet·nização da arquitetura no Brasil.
tleco1 n·u o u osso passado c no q ua l Lerá que prossegui r
Nesse ano, Ricardo Severo ( 1869- 1940) profe- o n osso fut uro. Ficará he m explícito qne não se intima ao
ri u n a Sociedade de Cultura Arlís Lica um a con- anisla de hoje a postura iu erte tl>t esfinge , voliad a e m
ferên cia, "A Arte Trad icional no Brasil", p reco- adoração estática para os mitos do passado, mas si111 a
nizan do a valorização d a .arte tradicional co mo a tilllde viva d o caminh ante que, olhando o lüwro , te m
d e segu ir u m ca minho clcm a•·cado pela cx peri f nçi a e
man ifestação de nacionalidad e e corn o elemen-
pe lo estudo do passado, e CL0a única diretriz é o p rogres-
to de constiu~·á de um a ar te b ras ile ira . Dis- so e a g lória das artes n ac iona is [Sevcm 1916, p . R I] .
corrcnelo sobre ;.~s o ri gens portug uesas da cul tu-
ra brasileira, Severo defendia o es tudo da arte A publicação de sua conferên cia de 191.4.
colon ia! como orientação para "perfeita crista- e de outra palestra, proferida na Escola P o litéc-
lização da nac ionalidade ". Se\·ero não defendia nica de São Paulo em 191 7, constituem as pri-
uma postura propriamente conser vadora. For- m e iras tentativas de sistematização do conheci-
mado engenheiro civil e de minas na Academia m e nto so bre a arquitetura trad icional brasileira.
Politécnica do Porto, em 1891 exilou-se no Bra- Todavia, a man ifestação pioneira d e Severo não
sil devido ao seu e nvolvime nto com o movime n- encon tro u rcbatimen to imed iato em for ma d e
to repu blicano português, preconizador ela im- obras r ealizadas, porquan to a deflagração da Pr i-
3G • A rq uilelllro s //() nrasil

m o, a p <1r tir d e 1919 com o ideólogo e incentiva-


c\ <w \\n\\.() "'~ · o.n: \ ~'\t ~ \.) ~ c ' <I.Ú'i>tà~ , a'm-iu es p ~ço
para que uma série de obras p úb licas d e porte
fo ssem ex ~ cutads com inspiração na arq uitetu-
ra tradiciom.d brasile ira. A pregação d e Ricardo
Sev<.:ro c .losé Mariano Filh o ro i bastan te bem-
su cedida em d uas frentes d istinl as. Na Exposiç;'io
d o Centenário no Rio de Janeiro em 1922 -co-
m emoração d a ind e pe nd ê n cia brasileira -, a l-
g u ns elos principa is pavilh<ies fo ra m p ro jetad o s
d en tro do espí rito n eo colonial. De o u tro lado,
n o mesmo ano d e 1922, a Se rna na d e Arte Mo-
clcrna, pro u10vid a e m São Panl o por u m ?;r upo
d <-' jovens in te lectuais, re u n ia no Teatro IVl un ici-
pal um :.t e xposição de pi n t ura , escultura e arqni-
··.. I
tetura, com ap rese nl ação de músicas e le itura de
flg. 26 - Velha egreja de Santos. textos e poemas d e li berad amen te chocan tes para
o~ pad rões r~ rt í s ti cos vigentes n o país- a prim ei-
R. lht"raçào utili zad;, por Ricardo Scv<·•·o na conferl- n cia
ra manift>st<t<; ão an ti traui cionalista, cultivad a com
'',\ Arre Tradiciun:1l n o Brasil ", <'111 j u lho ck Jql 11.
a inspira ção dos m ovimentos artístico s modern os
eurnpcus, que ;)ntadu r eccria a partir ele e n tão.
xm·ira Guerra (1914-1918) repercu!i11 nega tiva- Tou avia, a pa rticipa1,:ào da ar quire tur<J r<.:stnniu-se
me nte no ritmo cb construção civil no país. Vic- aos esboços ck d ois arqu itetos: Amô nia Garcia
tor Dubt tgras, n esse se n Lido, j á em 1915 pn~ j eta ­ Moya (1891 - 1949) e Georg Pr zyre m be l (1R85-
va as prime iras casas de inspiração tradicio nal n a 195fi) - o primeiro, com desen h os d e vo lum es
cidade de Santos [Motta 19571 . gcomctrizados cuja i ns pi r:~ção podc ri :~ ser tau to
A p ro pagação dessas id é ias lastreava-sc a arqn ilctura asteca qua n to a m editerrâne a; c o
num sentimento de nacioual ismo q ue se inten- seg undo, polonês de ro r maç;io germâni ca, mos-
sifi cava desde as c o m e 1ora~ :õ e s do quarto cen- tro u o p rojeto ele su a casa de praia , no padrão ela
tcn;~rio do d escobri111cnto el o Brasil. A década a r(ju ite tura trad icional brasilei ra [Amaral 1972,
d e l 9 LO conheceu a instituc iona lização de rno- pp. 148-156; P.atista 199 1].
vimenLos nacionalistas - com o a L iga ele Defe- Mari~no patrocin n u, no l nsrituto Brasilei-
sa Nacional, criada e m 1916 p e lo pocra O lavo ro d e Arquit<.: tos, alg un s co n cu rsos d e arquitetu-
Bilac ( 1865-1918 ) [N aglc 1974], ou o recrudes- r a e mob iliár io e interh:ri u junto ao gover n o
c imento d e movime n tos capi taneados p or insti- para que , n os edita is dos concursos para o s pro-
tuições como a Socie dade Eugê ni ca ele S. Pau- j e tos elos pavil hões d o Brasil na Exposição de Fi-
lo ou a Liga Pró-San eam e nto elo Br asil- críticos ladé lfia (1925) e na exp osição de Sevilh a (1928)
do falso ufanismo c da situação m édi co-san itá- e do proje to do novo e di f'íc io d a Escola No rmal
ria no Brasil l Lo bato 1918] . (1928), obrigatoriame n te se in spi 1·assem ua ar-
Foi o proseli tismo do médico e historiad o r q u itetura tradicio nal brasile ira [Santos 1977, p p.
d e arte José Mariauo Fil ho ( 1881-1946), no Ri o 98 -100].
d e .Ja nei ro, n o e n tanto, que assegurou maior re- O recon he cimento ofi cial d o neocolonial
percussão à li nh a tradic io n al ista com m aio r e s e a construção de im portantes edi fícios públicos
conseqüências que a ação ele Severo em São Pau- n essa linh a vu lgarizaram os elemen tos ornamen-
lo. Respousávcl pela denominação "ncocolon ial" ta is ele gosto trad icio nal a ponto de se rem ap ro-
ao m ovimento [Maria no Filho 1926], seu ativis- priados, e m to d o o Brasil, e m edificações tão
TJn Anlímlrmío! rto Nmm/onia l • 37

9 . F.snitú ri o Tt(' toi co F. P. Ramos d e Azevedo; Sociedad e Port11g11t"a d t' lkncllcência de Santos. Sl'. dccada de 19:>0.

d istin tas C]Uanto h abilações populares o u postos ma ni festadas em 1914 e radical izava os objetivos
d e gasuliu a. J\ aplicação indiscriminada d o n eo- d e transformação:
co lonia l gerou u ma acalorada disc ussão e ntre
A açi\o primitri a tem que ser a r.-.,·olurâo; ma~ a e~êu ­
a rq ui tetos e a rtistas - tendo como opositores
ci<~ rl:1obra constru tiva é apenas a tradi ção; c :1 meta de~­
sistemáticos os d e fe n so res d o pensam e nto St> I r:1dic io na lismo rt>Yolucionário i- o nwsmD d esen \'olvi-
Tka 11 x-a rt s mai s o r10doxo, ou que julgava1n a IIICntu do progresso que todos os p o\'OS buse<ll ll 11:1 t 1 ai~

arte co lonial brasileira ou a barroca p o nuguesa a n g u stiosa elas ansie dades.


destituídas d e co n teúdo estético significa tivo . O F.m m<ttér ia de arre, al ista r-me-ia "a priori'' como "fu·
n ori s t;o"- con soa nte o te n110 em moda -s<· este pse u do·
d ebate culm inou numa série de reportage ns or-
f uwris mo não sig-n ificasse um ilogísm o a na rcp til.an te,
ga n i;.ada por Fe rnando de i\.zevedo (1891-19 71), se uão fosse u rna n eg;niv<t~ se não d t:n nn r. iassc un1n fac:~ ­
puhlicada no jorn al O i;'stado rle S. Paulo em 1926, çào el e fa to retrógrada f ... 1 Po r ém este tradicionali smo
so b influ ê ncia d e Severo e Mariano. At.eve rl o , revo l u cioná rio é tam bém f utr i sr:-~ [Sever·o 192fij .
posterio r mente, se transformaria num dos ma is
O d epoime nto do p in tor José Wasth Ro-
importantes ed ucadores b r asileiros, o~ pensa-
drigues (1891-1 957), n a m esm a série de re porta-
m e nto se manifestaria em totalid ade nos vários
gens, constataya u ma d imensão mais ampla no
tomos de A r:u tt1tm Rmsi!Pim, editaria em 1 94~.
n eocolonial:
É in tcrcssau te registrar o cará ter d e "progresso"
q ue os defe nso res do movime n to a tribuía m ao Não faço mais do que seguir um movimento que m e
neocolo n ial. Severo re afi r mava suas convicções p arece unive r sa l. O regionalismo é :-t con st>qi'téncia do
_:) 8 • ~rquile/JtS 110 Nrosif

excesso ele cosm opoli tismo. O que, fatigados de lellla- i\ apare nte postura liberal e aberta à rno-
li\as , prnc nralllOS n a arquitetut·a co lo nial é arte que uerniza~·;o com a clualíslica fo rmulação d e um
r e pousa o espíri to. t raga o ca r:ttc r d as co isas brasil eir as
"tradi c ionalismo n .: vo luciou;:irio" não foi sufi-
e fa lo lll a is, tanto an scntim t"nto como?. scusi bilidack.
Niio quero a arq n itewr a <lntiga n a sua rig idel. mas uma
cie nLc para Rica rdo Severo assimilar o cubismo,
arte mod ern a que a í p r oc urt" unt elem e nto d e re nova- o uadaísmu, () ··geome trismo r ctilin ear" na arqui-
~·;io [Wasth Rodrigues 1Y2t\"l. tetu ra c o jazz-band- m a uifestações que, e m se u
conjtil1lO , se carac terizavam para ele co m o "no-
O movimento nt>ocolonial teve se n apo- víssima aspiração social, a praga n evrálgica que
geu na d éc :-~rl a de 1920; pra ti cad o o u apro pria- assola a sociedade mode rna", ·'vícios ou molésti-
el o popularmente na ~ décadas seguintes, a força as d os se ntidos ou do gê tiio" [Severo l9::!6] . José
i11 staurado r a co11tida e m se us p ostu lados foi fe- Mariau o Filho adotava u m lin g n ~jar d e c~ quiva ­

n ece ndo e m imita c,:ôes iuco n sistcntes e d estitu- lentc virulê ncia <to tratar das manifesta ções d a
ídas da ca rga id eológica for mulada pelos se us arquite tura funciona lista e uropéia em c urso nas
idealizad ores. A úlrima o b ra neocolonial impor- d écadas de 19::!0 e 1930, taxando-as d e "comun is-
ta n te executada n o Brasil foi o edifício d a Facul- tas" ou 'judias" fMariano Filho 1 94~]. Essas apr e-
d aelc u e Dire ito el e São Pau lo, projeto d e ciações revelavam as fronteiras de um liberalismo
Ricardo S<>vero ina u g urado e m 1939; a m a is e x- que admi tia uma ruptura ftmdame ntada e m pa-
te n sa co n ce nTração d e a rquite tura neoco lo nial , drões d o tradiciona lism o colonial o u ibérico,
a cicladc de Ot tro Pr e to , lt>ve a m aior pan e d as avessos à o rto d oxia do fec h ado sistema esté tico
constru ções qtt e caracte riza m o a tua l ce n á ri o Bea ux-arts, mas incapaz d e estabelece r uma crí-
"colo nial " e rguida após a d é cada de 19::!0. No tica coere n te sobre a irnprevisibilidaclc d o novo ,
e nta nto, n ào se pode afir mar que o movime nto representado pelo fnn cio n alismo e uropeu, e me r-
se snstc ntasse com uma co n sis tê n cia perfeita. gindo daí uma coleção mais de ata(\\ \ el\ ?H ~ <.:W\ ­
Em. Fc n,-;1.ndo de. 1'\I .t::'>'CÓO - par ü <\ ário <lo neo- ceituosos que el e argumentos fund a m en tados.
co lnn ial-, nas co n clusões d o d c hatf> flUe pt·omo - N~ >. o c\nt' -.~ c.ú c~ \\o-:; neo colon·ta)istas con tra o
""-'-' "" "n,.~p 1 e u sa, v i s lumhr :~va-se inadvertida- fun cionalism o fosse absolutam e nte infundada ;
ment e a pri n cipal crítiot ao movim e nto, m esm o mas a carg a de p rec onceitos p o líti co-id eológicos
que a co n si de r a~, : ão não se <<trac rf' ri zassc como uebili tava a a lltCnti cidaclc d<t c rí ti ca.
uma autocrüica consciente: Essa n eg-ação compl eta do (q u ase) total-
m en te novo per m ite..: situa r o neocolonialismo
A rcuasCI"IICa da a rte na a rqui tc ttn·a se d a rá com a
1111ma posição sim étrica ao sistema Bea11 x-ans :
con dição cssc·llcial d e se ;tpo iar "sobre princípios"<' u ão
«so lwe fo nn as ... Os verdadeiros artistas têm q ue le\ar sem- ambos se su ste nta m c se legirimam no passad o ,
pn· em conta a va ri edade compl exa das l"on di çf>cs co m disc ursos ta uto lógicos- d e m onstram teses
m esnlúgicas e sociais c a bandonar o e r ro em q ue inc idem rcpetinuo-as com pa lavras difere ntes . O perfil
ti·e(jücntemen te os arquitetos d e adstringir-se à reprodu- di stinto na rctó t·ica n cocolonia l é o tempero na-
ção d e formas ct ~ o sen tido não co nlwce m e n;\o pr ocu-
cio nalista; o repertó rio siste matizado d as formas
ram p en etrar. Nas m a is belas épol"as cl<-- arqu itetura hou-
ve sentpre u tll a co n cord ância e n tn' idéia e expressão, do colonia l hrasilei•-o ou elo b a rroco ibérico e n-
entre a estr utura c a fo rma. Que é originalidade senão a quan to indiciador de man ifestação nacional , no
cxprcssão justa de um a idéia, a ilt e rp t -ctaç ~ to ornamental lugar das regras clássicas, seria o r ompimento <'i
d as fo rmas clrrivadas dos m a teriais c a adaptação ex ata n o rm a . Efe tivam e nte , esses a p o rtes n ão p ro -
dos m otiv~ ú vm·icdad t· fun cio nal das con struçõeú ,\ vc 1~
p õ em uma ru ptura estrutura l - ape n as a substi -
d :1 cle , p o r é m. é fJU C não tem os ten tado ver claram e nte
lltição d e formas . Mt rdam-se as form as, n ão o s
q ue ess:1s disp osições c formas de o utras é pocas, Cl~a rcs-
tauraç<io se p •·o cura, só se dc i'Clll r estaurar, pot·qHe elas, pri n cípios. O n cocolo ni al, n a prá tica conc r e ta ,
por exprimirem as nossas o r igen s c a nossa tradição. es- afi g uro u-se como uma variação do ecle tism o no
tive ram , co m o estão ainda, em funçiio elo me io físico para que busca el eger um "esti lo " m ais ad equado
o CJUal se transpvnaram [Azevedo lY26b] . p a r a o fim qu e se tinha e m vista, num con texto
/Jo An.lirolon iol ao Nt'O(I)/nnial • 39

ainda de d cscon certantes d ik ums sobre a nova sectarismo c capazes de reform ular com sere nida-
arq uite tura d o século 20 - uma tenta tiva e m de os radicali smos- fo r maram a base de uma ati-
m e io à "perfei1a desorganização de verdadeiras lude ele assimilação de p osições aparenteme nte
escolas'', com o havia escrito o e ngenhe iro Be r- an tagônicas, como o pró prio Ricardo Severo for-
nan lo Ribeiro de Freitas e m 1888. mulou , mas não ma terializou : o "tradicionalismo
Não se nega, erllretanto, ao e pisódio neo- revolucionário ". A busca de uma arte moderna
colonial na arquite tura brasileira um papel signi- no con tex LO brasileiro foi alime ntada por um in-
tic ;.~ ti v o no d ebate d as idéias sobre n ovos con cei- lcllSo deba te da questão d a nac io nalid <1d e e ela
tos arqui tetôn icos. O discurso rlc seus defensores aulonom ia nacio nal- do w sco ufanismo da vira-
não é isen to de uma vontade modcrni zadora no da do século, atravessando as instituições eugenís-
sentido de a tualizar a arquite mra face às transfor- ti cas c redunda11do no p atri o tismo mistificado
rnaçôes da sociedade c da cultura material do iní- das come morações do cente n ário da indepen-
cio do século 20. Independe nte do referencial ele dê ncia. A versão arquiLe tõ nica desses episódios ela
"modernidade" que ad otavam , o principal aporte história brasile ira elas prime iras décadas elo sécu-
da postura n eoco lo nial foi a introdução do con- lo consubslanc iam-se na mirabolante campanha
traponto 1egionali.sta - a busca de uma arquite tu- neocolo nialista, CJUe, em su a essência, trazia algu-
ra identifi carlora d<i nacionalidad e - como fator mas raízes d(l vertente de arquitetura m od e r na
de renovação. O substrato conce itual dos líder es <lllC vai irromper no Rio de Janeiro, na década de

do movimento e ra de n atu reza reacion ári<1 , po- 1930, prolago n izacla por um ex-discípul o do nco-
rém intcrpre1açiics mais b randas- destituídas do colo uial: o arquite to Luci o Costa ( 1902-1 998) .
3

MODERNISMO PROGRAMÁTICO
1917-1932

A raqu it11tnm no Bmsil está jJositivamente deslocada das duas


correntes adversárias em. que se dividi', do jwnlo dn vista ltTlist/t:o, a
concepção da aTquill'lum wodenw. Nüo estó, r/,, Jato, ·r1f' 11l rom os
rrfnrmrulorr's rnwlnl'ionários qu.f' procuram na arquitetum um jO[ÇO de
fonnas geomélriras jJrirnâ1·ias ordenadas no esjHtÇO virtu.a.l f' df' u.m
mráter snrial mormdo; IUWI rom os tmrlirionalistas que a querem
f'ncamda sob uma ój>tirn loral, rrn todos os aspectos qu i' loma rw S(!'U

ambien te. Nem SI' nriPnla 110 Sl'ntirlo rlP uma "arte mundial " em rptP sf.
apaguem as díji'YI'TI(fl\' n'gion!tÜ I' ruja estética ·resulit' do umm lhuica
de construrão e da so/uçiio de fHob/emas fmrmrumfl' utiliLIÍTios; nem
tnilrt vinrula·r a arte âs tmrliuie., lowis e rw rsfJirito da mra. fim uma
jJalavm nem é /radicionalista, 11em antitmdirionalisla. Nem nacional,
nem "su fJrana civnal ". D efiniu-a Montei-ro Loba lo com essa exjJ I'I'Hrio
motPjo rlom: "um jogo internacion al rü dísf){lmftl.l' ... "

F ERNANDO DF. i\ZEVEDO r1926a]

Este capí tulo é d edi cado ao e studo ele mode rnistas - ele raízes literári as - q ue se m ani-
um a certa modernid ad e no Brasil na seguuda festara m na Am érica Latina ao lo ngo da segun-
década d o século 20. Prelimina rm ente, convir ia da m e tade do século 19 [Franco 1985] .
alertar q ue esse modern ismo - rle matriz so bre- São Paulo, na década de 19 10, j á se gaba-
tudo li terá ria, mas com \'e rten tes n as artes pl ás- r itava como a g ra nde m etrópole brasile ira d o sé-
ti cas e ~ rqui te tur a - é distinto das m a nifes tações cu lo 20 . Lugar onde a riqueza do café patrocina-
12 • AIYfllitetums 110 Brasil

va um quadro de prosperidade material c capa- atualizarão estética sem a oricntaç;"io de corren-


citação iutlustrial num Rrasil ainda dominant.e- tes esp ecíficas .
rnen te rural. Era 11m am bicn te provinciano, mas
a elite urban<t espelhava-se nos cent-ros irradia-
dores de cu hura fora d o país.
MODERNISMO NAl'IVO
É consen su;d, cutre os historiadores, que o
marco inici al do movim ento moderno no 11rasil
aconteceu em São Paulo, t>m dezembro de 1917:
Uma segun da <"stabelece-se eJttre 1924
l~1sc
a exposi ção de pinturas de Anita lvlalbttti (IR96-
e 1929. Naquele ano, o escritor e jomalista Oswald
1964). A jovem artista- q ne expunha o scn apren-
d e Andrade (1l')<.J0-l954) publicava o "Manifesto
d izado artístico na Alemanh<t e nos Fstarlos Uni-
Pau-Brasil ", in troduzi ndo u ma pr oblemática até
dos- não pretC'ndia, com suas telas de car{ucr.faurlt',
então inédita na discussão da literatura moder-
defla gr <~r nenhum movim e nto. Mas a reaçi'ío
nista: o nacionalism o. "O modernismo passa a
negativa , sobretudo a do escritor Monteiro Loba-
adotar como prim ordial a questão da elaboração
to ( 1882-194B), provocada pelas suas pintmas
d e um a cultura nacio nal: a qualidade da obra de
sem ncnhum;t relação com o academisrno c o
arte uão reside mais no seu caráter de renovação
naturalismo vig·eutes chamo u a aten ção de jo-
formal. Ela deve au tes refleti r o país em qu e foi
ve ns intelectuais <]Ue se so lidar i ;.o~ram com a pin-
criada ". O ide;'u·io d o grupo modernista, a partir
tora. Poetas,j ornalistas e artistas reun iram-se em
de 102'1 , subordinar-se-ia a um princípio: "só
torno de 11m de bate : o car<Ít e r co nservador, "pas-
atingiremos o universal passand o pelo nacional"
sadista" do meio artístico. A rti cul ava-se o primei-
[Moraes 10 7~. p. 49, passim] .
ro g-rupo m oderni sta brasile iro.
Dife rentes grupos form avam um mosaico
A pintn ra catalisou o movim e nto, a reu-
de posições sobre utna arte br asileira de dimen-
nião organ izou-se com a concorrê ncia sobretudo
são univer s<tlizautc . A combinação positiva entre
de literatos, mas o sentido de "movim ento " visa-
trarlição e mo<lcrn id <~de e r<t um discurso recor-
va algo al ém das artes plásticas c da lite ratura: a
rente na re tór-ica dos apologistas da arqui te tura
causa era ;.1 renovação do ambiente cultural e m
n eocolonial. Sérgio Bua.rqu e d e Tlolau da ( 1902-
geral- <tlimcntada com os valo r es da van guar da
1982) e Pn1dente de Nforaes Neto (1904-1982),
e uropéia, sem necessari am e nte aderir-se a uma
modernistas diretores d a revista l sl ~ élim , do Rio
ou outra corrente literá ri a ou p ictó rica. 1\ pri-
de jan ei ro , rl cfendi am uma posi v~w antipassa-
mei ra man ifestação conjunta desse grupo (con-
dista com u ma r ci n terp reta ção do alcan ce do
ta nd o também com a partic ipa(;io de intcleclll-
m odernism o :
ais do Rio de .Janeiro) aconteceu e m 1922, em
plen o ano da comemo•·ação do centen ário da in- 'lodos os que antes de nós <>ncararam o problema de
d e pendê nc ia do Brasil. Em feve reiro, o Te a tro uma arte brasileira seguiram dois processos q ue hoje nos
Municipal de São Paul o abrigou a Semana el e parecem, sen ii o negativos, pe lo mt" n us iucficazes . Para
tti i S a questão cifrava-se na criação de 11111a es pécie de
Arte Modern a: três sara 11s com literatnr::l e mú-
Jnirologia n<u.: io nal, de nm a lenda heróica ~ man eira d as
sica, urn a expos i ~:ão d e arquitetura, escullllr<t e
que possuíam o u tros povos.
pintura. A reação do públ ico fo i de escândalo, Não tardon q ue essa rendf>ncia parecesse artifi c i;1 l e
mas o desafi o estava perpetrado. fill sa. A o u u·a te n tou iuspirar-se em motivos brasileiros,
Periodi za-se como um primeiro momento mas salientou apenas o que h avi<t de pitoresco , de exó-
elo m ode rnismo brasileiro os anos 1917-1924: tico n esses motivos. Quer di zer: conde n ava-nos a se- r
estra ngeiro s dentro do Brasil. [ ... ]
urna fase iconoclasta, em qu e o modernizar era
Penso , ao con trári o, que se a te ndência modern ista
p erm eado pela po lêmica dos modernistas con tra
pode oferect>r o aspecto de um rom pi me n tO com a con-
os valores passadistas, acadê micos. A preocu pa- linuidad e de nossa trad ição é porque julga que essa tra-
ção era opor-se ao passadismo , era a busca d a di rão (jUase n un ca re fl e tiu o sentido d e nacion al idade .
Jl!fodl.'rllisnw f>ro8 ra málico • 4.)

Assim de clarava Holanda numa entrevista arqu ite tos da Sem an a ele Arte Modern a não os-
p ara u m jornal em 19 2!> . P rude n te d e \lforaes, le n tavam uma consistência progr am áü ca como
n ;~ mesma entrevista, indi cava o caminh o: os seus colegas literatos ou a rr is1as p lás ticos.
A intro dttção da problemática elo nacio-
I\ r ivilizaç;"io no firasil pegou de en xerto . Isso fc:t com nal ism o como vetor de m od e rn idade tornava
que surgisse aqui uma faba u·.,di ç;io que n:.o pas;~ do
mais evid e n te o d escom passo da arq u itc tll ra
prolo ugau ie n lo de lradirôcs al h eias. [ ... ]
Precisamos, ponanto, achar po r nós mesmos o nos-
com a vanguarda literári a mode rni sta. O poder
so c1 minho. 0 1·a, o modern ismo que ao lad o d e SU;) fc i- de persuasão das palavras - num m e io cul tural
~·üo uni vC'rsal corr es pondt> t>m toda parte a uma cxaiLa- de fo rte a desão à ve rbalizaçã o bach a re lesca -
ção de u ac ioualiswo est<Í m <1gn ifi cam e nte apart> lhado confrontava-se com a ima teria liclad c d o argu-
para e n fre ntar esse problema. rBarbosa EJ89, pp. 70-73] .
mento a rcp1iterô ni co: a inexisLê nc ia da obra
moderna cou.str uída conde nava a in tenção ar-
quit etô ni c:.~ ao li mbo da utopia. O debate na
ARQUITETURA MODERNISTA a rquiLetu ra estava virtua lme nLe monopolizado
pelo prosclil ismo c pelas obras executadas sob
a in spi ração de José Maria n o Filh o c Ricardo
Modern idade e trad ição e ra um ;~ pcnc!ên- Sever o na cr uzada pelo n cucolonial - postnra
cia sobretudo nos meios lite rários. Modernidade que somhreav<t a preocupação d a n acionali dade
espelhada nas vanguardas e uropé ias, porquanto , d os m odernislí!s c arre111essava a questão do n a-
no âmbito da arquiretura, o conceito ele moderno cion a li smo ao rol da discussão estilística, nos
era veiculado com o uma variação do ecletismo, o moldes acad êmicos.
neocolonial. Nesse scn tido, a ar q ui te tu rrt n:'io
acompan hava o mestH o vigor do debate literário
ou pictórico: a mostra em parti cular d os arqn ite- MODERNOS DE PRIM EIRA HORA
LOS na Semaua de Arle Mode rna não 1·egistrou n e-
n h um a celeum a. Apresen taram-se ap enas dese-
nhos; a aust'ncia de obras construídas reforçou a Ern I 9~5 dois ílrtigos na g-rande imprensa
indiferença do meio profi ssional. Tí!mpouco seus registravam os prime iros discursos ele fundo mo-
participantes demonstrara m , posteriormente, vo- d ern o publ icad os n o Brasil. O primeiro d e les,
cação "para o direito <1 pesquisa estética", que o publicado no _jornal O .t'stado de 5;. Prmú1, e m 15 de
rnodcmisla Mário de Amlntdc ( 1RfJ1- l ~H !) quali- outubro, e ra uma carta do j ovc111 brasileiro Rino
fi cou como conquista do movimenw elo qual foi Levi (190 l -J<:J65) enviaria d e Roma (onde cursa-
um elos líderes. Georg Przyrcmbcl, arquite to po- va a Rea l Escola Superior de Arqui tc LU ra), in titu-
lon ês que rrabalhou com o neogótico e o neo ro- lad a "A Arquitetura e a Estética d as C idades ".
mâ n ico e m igrejas, colé~is e conventos, apre- Nela, Levi fazia uma a p o logia da realidade mo-
sentou no Teatro Municipal sua inl erprcLação elo derna chamand o a ate nção para os novos mate-
neoco lo nial aplicacla e m casa de praia [Amaral ria is e "aos grandes progressos conseguidos nes-
1Yn , pp. 237-23HJ. Antônio Garcia Moya ex pôs tes último s a nos na té cnica da construção c
d ese n hos de mausoléus, te mplos c casas d e ins- sohrel ndo ao novo espírito q u e rein a e rn contra-
piração m aia ou asteca, confun díve is tam bém posição ao neoclassicismo, frio c insípido". Cla-
com infl uê n cias ela arqu itetura p opular me dite r- mava de p ela "praticidade c econo mia, arquitetu-
râ nea (Moya tin h a ascendência espan hola) , se m ra d e volum es, lin has simples, poucos elemen tos
dúvida estran hos aos cânoncs Bcaux-ar ts. Nas de corativos, mas sinceros e bem e m d estaque,
d écadas seg u intes, e ntre tan to, e le prossegui u nada d e mascara r a estrutura elo e difício para
sua carreira éomo um profissional eclético, pa ra con seguir efeitos qu e no mais d as vezes são des-
quem o m oderno era apenas mais um estilo. Os proporcionados ao fim , c que consti tuem sempre
.P-1 • ,1/if/l'it'C1"1'1'/i"/.l- tlfl i?trr.rtl

uma coisa fa lsa c artificia l". E con l uí:~ seu pe nsa- mento. Am bos es tavam afastados do ambien te
m ento voltado ao Br::tsil: local: Levi , estuda ndo em Roma , onde se fo rma-
ria em 19 ~6, e Warc havch ik, estran geiro ch egad o
f: p1·eciso estudar o que se [,..z c? o fJLIC se c;,tá fazen-
ao Brasil em 1923, proveniente de Rom.a, o nde se
do nu <'X terior c resolver os IIossos casos so bre estética
da cidade com alma hrasilcii·a. Pelo nosso c lima , pela fonuara em 1920. A publicação desses man ifcs-
nossa naw reza c cu sLUmcs, as nossas cidad t>s dcYem ter los e m nada a lterou a rotina da arqu ite tura cor-
um Gll"<tl!"r dil"c ren tc das d a Europa. rente no Brasil. Foralll textos p ioneiros resga ta-
Creio 411t' a n ossa llurescentc \'egti~çào e todas as dos m u ito tempo depois pela h isto riografia do
nossas ínigu a l;ívcis belczils na1111-ais podem (' ckvcin
modernismo, mas que pre n un ciaram <-l a tividade
sug-e ri,· aos n osso s art istas algun1a coisa de o r i ~ i nal dau-
futura desses d o is arq ui te w s, CJlle efelivarnentc
do às nossas cidades 11 111<1 gntça ctc \'ÍYac icladc e de co-
n.:s, única no mu n elo [Levi 1987. pp. 21-22] . mais tarde m ate rializaram suas idé ias em obn-ts
construí elas.
No mês seguinte, em 1" ele nove mbro, o
Correio da Manhâ do Rio de Janeiro publicava o
artig-o "Acerca da Arqui tetura Mode rna" d o a rfJui- PROSELITISMO E MODERNIDADE
teto russo emigrado para o Hrasil , Grego r i War- EM WARCHAVCHIK
chavchik (1896-19n). Originalmen te publicado
e m italiano Jll tmjornal da colônia iraliana em ju-
nho de 1 9 ~ 5, su b o título "Fulri~mo? , o tex to Wa 1-chavchik foi qu e m ntais rápid o soube
e ra um e log io cb racio nalidade da m áquina, do explo rar sua vcrve amalizada, passando a di alo-
"princí pio da econ om ia e comoclidade" e dan e- ga r com os re manescentes ela Semana de L\n c
ga(::lo do uso dos estilos do passado, salvo no que Moderna. Em J 9~6. n o último número editado
e les \OnLribuam pelo desenvolvimento de u m da revista Terra Roxa e Outras Term,ç- o mais com-
"sentimento csrhico". Era a apologia da inclústria: p le to panfle to d os nwdernistas de São Paulo
pela pesquisa da especificidade brasileira após o
r\ os nossos indusl ri<1is, propulsores do progresso téc-
"Man ift>sLo Pau-Brasil" fLara 1977] -, esta1llpava-
n ico. cabe o papel dos :vff'rlici da época rf,.. HnwissanrP r
do~ LtlÍses da fr;,nça. Os princípios da gramlt> iudllstria. sc um a cnlrevisla concedida por Warchavchik, in-
a t:>stan dard izaç:10 ( i_ e ., p rodttçiin em gran de <:".~c al <~ ba- titulada "L\rquit('tura Tkasilcira". Em duas meias
seada no pri11 CÍpio d a di\·isão elo trabalho) terão q u e páginas do quinzenário, era o arLigo de maior ta-
achar a sn:l ap l ict~·o na m;Jis b,t·ga cs al ~, na cotistruçào manho que se p ublico u nos sete números da re-
de edifícios modern os. A estandardi zaç;'io dt• ponas eja-
vista. Todavia, o reor das declarações do arquite-
n c las, em vez de pr~judica a anptitetura modc·rna , só
poderá ajudar o a rquiteto a c ri ar o qu<", u o futuro . se
to não con templava a pauta nacio na lista que a
c han1ará o estilo do nosso tempo . O arquite to set·ú fo r- maio ri a d as maté rias traziam. Mas o relaciona-
çado a pen sar com lllaior in ten sielade, sua atc n çâo não mento en tre o arqu iteto russo e os mode rnistas
ficará presa pelas decora~·õs de janela s e p ortas, buscas estava estabelecido.
de proporç(-tes etc. As panes cstandr i ~.< td as ele ediHc io
No ano seguinte, em 19 ~ 7 , Warchav\hik
são com o tons n<t mt'1sica , elos quais o com positor cons-
se casaria com Mina Klahin (1896-1%9), de um<l
trói ut n edifício music<~l.
Constr uir um <~ e<tS<l a mais cômoda P barata possí\·el, ri ca fam ília de industriais d e São Paulo. O casa-
eis o que deve preocupa r o arquiteto constrmor da nos- mento lhe assegurou i ngresso nos cír culos da
sa ~poca tlt: p erpt r tt o <:apita lism n o nde a q ucst:1n d<> eco- eli te local, b em como lhe p roporc io nou cond i-
nomia pr edo min :~ todas as d('mais. A beleza da t ~ t chael
çõ es p ar a r ealizar suas exper iê n cias a rquitetô-
tem que resu ltar da racionalidade do p lano da disposi-
nicas con stru indo para si mesmo e para a famí-
ção interio r, como a form a da nníquina é determ inada
pe lo m ec<tn ismo que é sua a lma. [ Ferra? 1965. p. ~9 D j. lia. A sua pró p ria casa, concluída em 1928 no
distante su búrbio da Vila Mari ana (ond e os Kla-
Rino Levi e Grcgori Warchavchik eram bin eram propr ietários de grandes Lcrrenos),
d o is personagen s com traços comu n s nesse m o- con sti tu iu a primeira expressão d e arquitetura
1l1orlf'mismu f'ro.rvamáticu • 45

moderna nos termos do prose litismo d o arquite- de U lll a Casa Mod ernista, evenlO de inaugu ra<;ão
to.Dois importantes jornais, o Cormio Paulistano de uma moradia patrocinada pela loteadora, a
(politi<.:amcn te d <~ si tuação ) e o {)iário Nacional Cia. City (que co ntou com ampla cobnwra <.la
(de oposição, reduto dos mode rnistas) co briram imprensa c a visitação d e cerca de trin ta mil pes-
o "acontC'cimcnto": uma <.:asa modern a na rua soas [Fe rraz l965J) com interiores decorados por
Sa nta C:ntL. obras ass inadas pela nata dos artistas plásticos
A boa divu lgação pela imprensa de urna modernistas: Ta rsila do Amaral ( 1886-1973) ,Joh n
o bra que o arqu ite to a firm ava ser d e uma li nha Cra:t. (189 1-1980) , Regina Gomide Graz (1902-
~qu e já vencera ua França, na Aleman ha, na Che- 1973) , Di Cavk<~nt i ( I Fl97-l 976), Cícero Dias (n.

coslov;tquia, na J To landa e outros países" [Ferraz em 190Fl), Celso Amo ni o (1896-1984), Victor
1965, fJ· 2G] atiçou a reação dos arquitetos tradi- Br ech er ct ( 1894-l 9!'i.5 ), An ita Malfatti c mobiliá-
<.: iouais, c a indifere nça que cercou o man ifesto rio clesen hado pelo próprio arquiteto, akrn d e al -
de 192!> fui su bstituída por uma polêmica r1u Cor- g umas peças de Jacqucs Lipchitz (1891-1973),
reio Pm.d istano com os ataques do arquiteto Dácio Sonia Delaunay (1885-J 979) e tapeçaria d :-~
Aguiar ele Moraes e a possibilidade de defender Bauhaus. i\ casa William Nordschild , na rna
se us pontos de vista, o qu e lhe rendeu a publica- Toneleiros no Rio de J aneiro, foi inaugurada em
~,·à o de <kz arligos nas páginas desse cliúio ao 1931 também com tr ma exposição [Fe r raz 1965].
lo ngo do an o de 1928, divulgando suas idé ias ele Suas casas e seu aLivismo rende ram-l he
modernidade. também repercussão internacional: q uando Le
Eutre 192R c El31, Warchavchik projetou Corbu sie r ( 1 RR7- I 965) esteve em São Paulo e m
etc residências (além da sua ) c dois COltjuntos d e 1929, convidou-o para ser delegado pa ra a Arn{·-
mo radias econômicas em São Paulo bem corno rica elo Sul d o CTAM (Congrcs Internatio nal cl'Ar-
uma r esidência no Ri o de J aneiro. Dessas obras, chi tcuure: Modcrne ), formado no ano anterior
a casa da r ua ltúpoli s, no P<·tcaernbu, roi a que em La Sa r r<1z, he m como su as obras publicadas
ma is se aproximou do ideal à Bauhaus d e integra- em Gli Elemenli dell'A rrhitt?ttum Funzionalt! d e Alber-
ção das artes. Warchavchik organ izou a Ex posição to Sarto ris (1901-1998) em 19~.

1O. Grego ri Warchavc hik: casa


na rua Sanla C ruz, São Paulo ,
1928. Fo1o da época, do act:n•o
do arquitctu , possiv<" llliCIIlC ja-
ma is publicad a , ace ntuando o
eixo de simeu·ia definido desde
a e nt1·ada d o terreno.
1 6 • Arquiteturas 110 Brasil

Em que medida W:~rc h avch i k se inseria no ções etc. " c o ba ra teamenlo da obra pela estan-
panoram a internacional da arquitetu ra moder- clardização, como manifestava o artigo pioneir o
na? A sua primeira obra, a própria residência na d e 1~l2f.
rua Santa Cruz, não pode ser con siderada um Import;u1te {: assinalar, torlavia, q u e War-
trabalho h ei ao ide á ri o m oderno europc11, tam- chavch ik tin ha con h eci mento das experiê n cias
pouco ao seu discu rso revolucion:trio : era um a <~ u ropéias acerca da paclroni zaçào de componen-
casa qu e aparentava ter uma geometria própria te s arqui tetô nicos e econom ia da construção .
para racionalização ela coustruçào, ntas e ra toda Num dos artigos-resp ostas a Dácia A. de Mor aes,
dt:> tijo lo revestido c não e mpregava o concrclo em 1928, o <~rq u iteo comentava so bre "o senti-
armado, Lamponco cowponcn tes pré-fabricados. d o econ ômico n<t a rte" e tecia con sider ações so-
As fotos ela época mostram uma fach ada prin ci- hre a "casa tipo" da Bauhaus da exposição d e
pal com uma simetria ele co mposição co nve ncio- Wei mar ern 1923, as casas ern Pcssac de Le Cor-
nal (bem explorada pelo fotógrafo) q ue não se busier de 1924-1926 (sem se rcfet·ir ao fr<te<1sso
rebate n<t disposiç::ío das depen dências inte rnas. d o e mpreendimento) e as casas econ ô m ica s d e
vVarchavch ik teria btlSC<tdo contemporit'.ar a in- Frankfurt, pro j c t<:~das p or Ernst May (1886-1970)
le nçào moderna com elementos locais, declaran- a partir de 1925 [Warch<tvchik 1928] .
do para a imprensa , logo após a in a ng nração , As exper iências de casas populares de vVar-
qu e tcn ron "criar um cará ter de a rquitetura qu <..' chavchi k foram convencionais, tanto const-rutiva-
se adaptasse a esta r egião, ao clima c ta111hém às mentc. q nanLo em termos d e plau la (dir-se-ia ro-
an ti gas tradições desta terra" [.Ferraz 1965, p. tinci r<ls ao padrão local) . A:; casas de m e lhor
27], assim jusr.iticando també m a cobertu ra de padrão, co mo as da r u a ltápo lis, a de L ui z da Sil-
telhas tradicio n ais. Todavia, ern seu d iálogo in- va Prado (r ua Bah ia) c a d e Antônio da Silva Pra-
te rnacional, o argumento era outro. Em relató- do (ru a Estados Unidos) - em p rega\·am discreta-
rio preparado para a rcn n iào do CTAM de Bruxe- m ente o co ncreto armado na es trutura e ,
las em 19:>0 e e nviado a Siegfricd Giedion contando com ter renos maiores ou diferenciados
(1888-1968) (e ntão secrt> t;Í rio geral da entida- (íng r eme, na rua Bahia ) , tive r am p la ntas mais
d e), Warchavchik escrevia que uã.o e mprega ra o e labo radas. Eru especial, a casa na rua Estados
t e to ~ jardim p 01·que n ão havia "m a terial iSola n te" U nidos pode ser conside rada a sua m ais o usrt da
adequado para essa finalidad e no mercado loca l expe riê ncia.
[Ferraz l96fí , p. 5 1J, o que não correspondia ?t
r ealidade, conh ecendo-se outras construções até
a nteri ores à casa da Vila l'viariana com terraços
CONSTRUÇAO MODERNA
e m concreto. Suas obras posteriores superaram
<ts limi tações inicia is e utilizaram concreto arma-
do, chegando a soluções com te rraços n as cober- Warch avchi k era um construtor cuidadoso
tur as (se m jardin s) e volnmetrias mais condizen- - assi m se pocic concluir do depo ime nto de um
tes com o geom e tris n10 famili <t •· à ling uage m outro pione iro da arquitetura moderna brasileira,
r ac ionalista; no entanto, o a rquite to, em seu re- Álvaro Vital Brazil (1909-1997) , que visito u e ad-
la tó rio ao CIA M, descrevia "certos p rogr essos" ao m irou os cuidados de uma obra do ar quite to r us-
fa br·icar ern "sua própria oficin a " portas d e ma- so na década d e 1930 [Segawa 1987b J. O caráter
d e ira compensad a e mandar executar janelas, renovador que Warchavchik não só assumia como
g r ades, maçan e tas, lusLres e o utros p orme nores alardeava pelos m eios de comunicação demand a-
d e decoração conform e dcsen h os de gosto mo- va um cu idado pro jetual e de execu ção que mini-
derno, mas de for ma artesa na l - co11 trariando a mamen te deveriam corresponder ao seu partida-
concepção de não mais se preoc upar com as "de- ri smo modernista, para e nfren tar as pesadas
corações d e j anelas e portas, buscas de pro por- críticas d os a rquite tos passadistas. No re latório
Modemis111o Pm,~iCÍ! co • 4 7

li!:
f\;;'"'
~-. ,
,,

ll.G rcgo ri Warchavchik: casa na


r ua Bahia. Sáo Pau lo. 1930. Folo
da é poca. do an·r\'o do arquiteto ,
possiv<'lmcntc nunca publicad a.

para Gicdion crn 1930, Warchavchik, ao descre- coHsLru çiio ltiOderna) ainda n ào é possívl'l fa'lc r o C( lll'
j[l se faz <'111 ou1ras partt'S do ll lll!ldo. A indústria local,
ver a sua própria casa, descia aos pormenores de
l>elll que em estado ele incessa n te progre sso, ainda niio
acabamento exterior ("reboco rústico de cimento
fabrica as peças necessária s, esta ncla J-d i7.adi!s , de bom
branco, caulim e mica"- numa textura muito pró- e de bo<1 qualidade, como sej<tm: portas,j;Jn cl;Js,
!-(OSLo
xima ao que J.uís Barragán empregava em suas ferragens . a parelhos sanitários e tc. Estamos sem p re
obras no M{:xico) c interior (incluindo o mobiliá- pei<tdos pt' la oh l·ig·a ç;)o d e emprg<~ r ma1crial imporla-

rio, todo desenhado e executado por ele) , com as do, o que Yem a e ncarecer muito as construções
[Warchavchik 1928].
combinações de materiais c cores: "entrada pinta-
da em cor limão claro, ve rm elho vivo e branco",
estúdio com "forro de esmalte prateado", sala de Warchavchík refere-se, e m outra p arte
jantar em "vários tons de cinza e prata, preLO c d esse texto, à construção condu zida "cientifi-
branco'', sala de música e m "azul-claro acinze n ta- came n te", sugerindo que e le tivesse conheci-
do", cortinas azu is, <;stofados roxo-\·iolcta c cinza, me nto das id éias de Frederick Winslow Taylor
móveis prateados e pretos; o primeiro andar era (185G-1915 ) , vulgar m ente co nh ec idas como
rodo branco , porras c móveis na cor vermelho- taylorismo. Os princípios tayloris t.as pc rm ca-
vivo. Le Corbusie r, e m sua visita às casas de War- vam a lógica indu strial ista d os <11-quitetos r acio-
chavchik em 19~ , admirou-se com o uso da cor nalistas. Foram introduzidos no Brasil em 1918
-o verde dos jardins contrastava com o branco pelo engenheiro Roberto Cochrane Simonsen
das paredes c o vcrmdho das venezianas na casa (1 889-1948) e eram discutidos na Escola Poli-
Max Graf [Ferraz 1965, p. 29] . técnica d e São Paulo por volta de 1924 lFre ire
Era o próprio arquiteto, contudo, gue r e- 1924], m as certamente Warchavchik deve ter
clamava das conrl içôcs prediri as de constr uir se fami li ar izado com a metodologia quando
modernamente, e m 1928: trabalhou para Simonscn na Compan hia Co ns-
trutora d e San tos, empresa gue o trouxe para
Em São Pau lo , dada a carestia ele cim e nto e a fa lta o Brasil em 1923 [a p ro pósito , ve r ad iante no
d e materi a is para ('on struçào (mate r iais adequad os à capítul o "Modernidade Pragmática 1922- 1943''1.
48 • !lnpliteruras 110 /Jrasif

LIMITES DA MODERNIDADE dustrial. A moder nidade de sua obra persistiu


DE WARCllAVCHIK mais como uma intenção, a plicada em casas bur-
g u esas, até os interiores, mas que ele não pôde
d emonstrar em progra mas d e alca nce so cial o u
Nn rualtrífJolis 'J'I" 61, a casa moderna ria "Cia. City". econômico ma iores- como habit.açôes popnlilres,
Mu ita genll' rouht•n• f.:la leve um dia d f jJOfJularirla- escolas, edifícios ou fáhricas - condizentes com as
tli' ..\'uns paredes nuas desconcntamm, s1ws janrlru qua-
preoc upações d os rn o cternistas e uropeus. Não
dradas initant?ll, st•n aT drfortoleza mexicana causou nr-
obstan te a prática limitada, Warchavchik teve o
rejJio:s. H oje rmlron inlegmlmenle em nossos wstwnes.
importante papel d e agimdo r cultural ao mobili-
Vencen. Qu.t•m nmslrói um bangalô, já espeta no tareiro
zar a opinião pública com suas realizações c pro-
um mrmdarant.{. . .].
D1•jmis, sP-g·uiu-se para a rua Bahia n" 114 n fim d e vi- mover uma causa - a arquile tura m oderna racio-
silnr a "casa modernista " também conslru ída fwlo senh.o·r na lista. A reperc ussão m a is sign i(!cativa de se u
Gr r~o ri Wanlwvchih . trabalho foi o convi te, cm 1931, <k Lucio Costa-
Nessa residênria, o m ·quilelo aplicou todos os rrr:u.rso.1 então o r eo~J;a nizad o r <la Esco la Nacional de
de que, modernamantr, disjJÕe a nrquile/ura. PrerJI:UfHm- Belas-Artes no Rio el e j aneiro - para panicipar da
rlo - ~t ' quase exclusivamentP rom n ntilidad1• da -residíh tcia, re formulação do curso de arqui te rura, com um
a roucefJrão até ar;ora aceita do belo r11i.o entmu em con- currícu lo mod ernizante. Extrapolar a discussão
sideraçri.o. do meio in t.c lc<:rual ou pro fissional para ser obje-
A.1 rlependhu·ias todas cuidadosamente estu d rula~,
to de caricaturas n a grande impre nsa - o (jUe
de modo a jJmporcionar oo.1 mnmdores o máximo ronfor-
parece insignificante para nós, Lcnrlo clecorrirlo
lo JmHível, Juram ronstnddas r:om. simplir:itlttde. A linha
mais de sesse nta an os - constituiu um aconteci-
reta ajllimda em tudo, mas vendo-s e que houve um esfor-
m en to de imponân cia para uma cidade e um
ço íntelignzte para qne a ronslrurüo, escravizando-se rw
país cultura lmen te provincianos. O úuico prece-
cubismo, nâo foHI' jJrejudirrula no ponto de vista do r:on-
jurlu.
dente significativo , nesse sentido , roi a Sema na
Os cong~si . ,la\ pnsenles fomm unlinimes em arlmi- d e Arte Mocterna, que, com vVa rchavc hík, é r e-
mr o cunslnlçào do senhor Gregnri Wan:lwvrhill, uumifes- pr cs nrativ :~ el e uma renovação for mal c da atua-

tanrlo n seu agrado tique/e arquiteto. lização das id(;ias como negação do pclssadismo
A imjm'SSito ,; ogradâoel. Os que se mantinham rm1, Tt'· em plc:na d écada d e 1920.
snva foram logo conquistados. Afinal, jJensando bmt, os Warc h avchik foi "adotado" pelos mo d er-
modernistas não .fizeram mnis que lúnjHtr as fachadas, ni stas de São Paulo, preenchendo uma lacuna
nmjJ/ia·r r rPtijicm· os resjJiradouros, nbriT esfm _ços pmn tl
inexis tente na li teraturil ou nas arlcs plásticas.
luz e jmm o m ; mjJ1'imir a·rrebiques, f risos, lambreqnins,
J.< ~ n t re t a nto , na segun da met.arlc rla décad a d e
tudo aqnilo que du mnfl' muito tempo parr.ren 1m(11ilar
1920, as corren tes modernistas (e ntão dividindo-
uma casa. Ora, 11 éjJOca P. do wbelo ru1·to e liso, das
se e m algumas vertentes) condamavam por um
biro latgo. Uma
v eslimrm/as simjJtissimas, d os sajHtios de
conteúdo nacionalista sem , todavia, abandona-
casa modernista é uma rasa qv e almnçou a última sim-
fili ridade. Disso ~u rgin a beleza. r em radicalmente as citaçôes ;'\ vang uarda e uro-
pé ia. O d iscurso nacionalista era e mba raçado di-
0 ESTADO DE S. P;\ ULO, 28 d e maio de 1931. ante dessas referências: era incomu m refe rir-se
aos modelos europeus nos q u<~is os escritores
Nenh um a das obras pioneiras ele Warchav- modern istas brasileiros se teriam inspirado; toda-
chik corrcsponde u p le n amente ao discurso m o- via, e ram in úmeras as manifestações laudatórias
dernizador panflctado em seus anigos e é preci- desses mesmos modernistas para com Le Corbu-
same nte nesses textos CJtle o pró prio arquite to sier, sobretudo e m sua visita ao Brasil e m 1929,
reconheceu as limitações locais quanto aos ma te- além das citações do próprio Warch avchik ace r-
riais c técnicas construtivas disponíveis, inadequa- ca do arquiteto franco-suíço, da Bauh aus e da ex-
dos aos conceitos de racionalização ou escala in- per iência Das Neue Franlifitrt. Ainda era tên ue, na
Mudentismo l'm.({l·wnáJ ico • 49

a rquitetu ra, essa preocu<~çà d e brasilidadt>. São do moder nismo nacio n alizante, se m recair n o
úr ia s as men ções ao caráter nativo da obra de
~ o lit rcacionarismo do ne ocoloni<tl.
\\"archavchik. O educador Anísio Teixeira (1900- O patrocínio d os fo i o grande
modc- ~ rnist as
1971 ), ainda em 1929, foi o mais genero so, numa trunfo de Warch avc h ik p a ra se inseri r no circui-
e mn·vist<t à imprcusa: "A p intura de Tarsila elo to intelectual de São Paulo f' do Rio de Jan e iro,
Amaral, a música dt-· Villa Lobos, a arq uiL l'ur<~ de e se u t rab alho corresponcle11 à tardia participa-
\\"archavch ik sáo esfo rços deliciosos pa ra não se ção ela ar(juitcwra no concerto ensaiado a par-
...e r nada senão l}rasi I c esse .Br<~ sil novo que e stá I ir de 1917 p or urn m o vime nto de re n ovação dils
a\{ora sm gindo" [Ferraz 19(15, p . !H)]. a rtes. Partic ipação não prop ria m en te sintoniza-
O svaldo Costa, num artigo d e jornal e m da com as preocupações por uma arte brasileira
192R, chamava atenção sobre a in corpo ração de - o papel d t> \1\Tarch avc hik , nesse.: 1>entido, fo i
d elllentos tradici onais na casa ela rua Satll<t Cruz: mui to m ais ele u m pio n e iro n a rnptura co m a
a rquite tura conservadora pa ssadi sta. A renova-
( ... ] o on ais curioso é qu e ·w a rch;wchik p ôde c sou ht-
ç;io insp irava-se e m idéias e uropéias, mas restrin-
,..."t rai r para ela int t-rt-ssa n tcs elemen tos elo uosso colo-
gi u-se apenas n o pbno das idéia s, porq uan ro
la!. e isso porqu e, ao contrário dos d emais pt>srptisado-
·e• que. p n·nrttpados exclusivamente com o oruamt• n- co ncre tamente a p rática do arquiteto es tava afas-
:al do no s~o v!' lho t•s til o. se csq u ccera tn d e n:·-r nel e, tada de co n teúdos de m aio r repercussão social,
mo Warc h avcltik , o es;oen cial. E foi a"im qu e o ilus- como se preconizava no fuucionalismo europeu
• t m·q uitc•to r usso [ ... ] c h egou , sem esfor ço. a lançar as d e entregu e rra s.
••,e, ele \ltlla < u · qui ft- t ur ~, essa sirn pu ramen te hrasilci-
Os modern istas brasil e iros, a pilrt ir de
nr rnt>lhor, rropical, d t:- tal rno<io se ada pta às condi-
· c:-, c circunstftncia;, do meio amb i<'nle t· cu ncspontk l 9~0, com a derrnhacla da oligarquia do café· e
'nt·rt>ssidades el o nmso cl ima. rc mpc rament o, tr·acli- a ascensão do presidente Ge túlio Vargas, ingTes-
o. rosltrrm·s Clt.:. [FerTa7 1965, p. 60]. sa ram também n o ativismo político - t.::tnto para
a c~querda (Oswalu de Anclraclc) quanto para a
.\Lírio ele Andrad e, pouro dep o is da sua direita (Plín io Salgado, ll:l95-1975 ). J ean Fran co
nau\{uraç·ão, caractcrituu a casa de Warchavch i k c hama a aten ção para o fato el e que,
como uma p 1ova ele "cp tc m esmo cn1 arquite tu-
ra no~ coube iniciar a mocleru ização a rtísLica do [ .. . ] na Europa , é legítimo es tudar <1 a rt e como um a
Bfa!,il ". al inhando a obra como representativa d e t r adi~ ce ntrada (' rrt si mes ma e na q u a l podem s rr r-
:;[ o
gi r· n ovos movime11tos como so lu çào a p r ob lemas mc-
m noYo concei lo tk arq ui tetunt 111 o d crn a. E
l'<ll tlente fo rmais; esta siTua ç;i o t- impossível na A111é r i
h:una\·a a ate n çao d os jardins ela casa: "Os gra-
ca La tin a . on d e até os nom es d os mo,·im e ntos
mado;, l i~os e planos, emoldurad os p or n tc tos c lit t-rários dikrcm d o s e uro peu s. "Modernisn,o ", "no-
palme ira~ são d umJ originali dade esplên d ida e vomu u d isrno ", " i11 d igc ui s 111 o ", dr·fi n e rn a ti tudcs soc i-
dão~·> co nj unto urna not a feliz de lropi r.alismo ais. f ... ] A dif cre n ç<~ í· ex trerrl <J m <"ntc irnpo rta11te p ois
e di-.ripli na" [/\_ndrade 1972, p. 26J. sig nifi ca qu e , e m geral , os 111uvime n ros artísticos nflo
constituem rlt>spr cndim e rr tos d e urn movime nto ;rnt t'-
Esse jardin t, projetado pela mu lher do ar-
rior, mas surge111 c:omo r espostas a fatores e x ternos i\
uiu.:to. ~fi na Kl a bin Warchavch ik, efe tivamente arte [Fr a n co I ~JH5, p. ! ;)].
:m~tiw i o aspecto mais "b ras ileiro" da casa da
ila ~!arin. A se acreditar n c.:ssa interpre 1ação, Gregori
[,,as m ençôes refe re m-se à casa pioneira Warchavch ik não vai acompan h ar a polilização
\'~chaY h i k; exceto uma o u outra me n ção do modernismo brasileiro, tamp ouco par tir.ipa-
~terio. 'iào ra ras as referênc ias da "brasilida- rá da coop taçáo da linguagem mod e rna pelo
- da •- bra elo arquiteto. Os e logios nacio nalis- Estado n a d écad a de 1930. Pode-se afirmar qu e
as.. coneruad~ sob retudo na casa do próprio o papel ele pro tago nista d a arquite tura mo derna
uilero. eram esforcos de compatibil izar a no- d e Wa rchavc hik e ncer rou-se no alvo recer da d é-
ricbde mode rna de \\'a rc havch ik com o ideário cada de 1930.
'50 • Arquílelltras Jl!i Brasil

TRIBUTÁRIOS m ais leúrica que propria m e n te um projeLo par a


DO MODERNISMO DE SÃO PAULO ven cer concurso, mas o se u caráter p ro p <lg a n -
dístico e ico n oclasta co ndizia com a vo n r.ad c
renovadora elos moder nistas, d a qual Flávio d e
Nos íil ti mos anos cl:"l d écada de 1920 c Ca r val h o to r n o u-se u m ad ep to a p oslni uri. Es-
in ícios de 1930 a arquitetura modern a com re- c r evia Ca rva lho no co m e ço d e 1928 que , em
ferê ncias na v;mguard a e u ro p L· ia era uma pre- se u pr ~ j eto, prevalecia "a do utrina m ocl e n1a d e
ocupação corren te ma is n o meio int<' lectnal Le Corhusier, modificada para mel hor: no pré-
qu e p ro p ria m e nte no meio d os arqui tetos. Le dio o i m porlante é a p lan la . O préd io é o de-
Corbu s ie r e ra um nome co nh ecido n o Br-.s il : se n volv imento n a tu ral da p lanta. A fachada(·
seus li v.-os eram acessíve is no Ri o de J a neiro c um Le rmo que não ex isLe na a r qu ite tura mode r-
em São Pau lo , c su a visita ao Brasil e m 1929 na" [Da hcr I !JH2, p . 17] .
t.ev<> nJ a io r repcrcuss;io no Rio de .Janeiro que Flávio d e Carvalho participou , em 1928,
em São Paulo (com o verewos adiante). ctc mais quatro co n cursos co m suas idéias revolu-
Entre os even tos que r egistram inte n çõe s cionárias: o Palác io d o Congresso Estadual dl'
m odernizantcs, vale le mbra r a ruidosa pol(: m i- São Paulo (no mesmo lugar do a nre rior Palácio
ca su r g ida com o concu rso (poste ri o rm e nLc do Gove rn o ), a e mbaixada do Brasil na Argenti-
anulado) par;1 o Palácio do Go\'ern o d o Estado na, a U n iversid ade de Belo H o r izon te e o Faro l
de São Paulo, o rga niz;1 do e m fins de 1927. O de Colo mbo na República Do minican a. Sua p ro-
p r oj e to d o engenheiro Flávio de Car va lho posta para o P;-t lácio do Con gresso foi a prcscnta-
( 1899-EJ 73) cham ava a ate n ção por seu inedi- d<~ co m o m esmo pse u dôn imo (indiretamen te
tismo fo rmal e su as p roposições rn il iLaristas: u m identi ficando o a uto r ) e gerou a mesma repe r-
p a lácio com o ap;-trato b é lico / cstra té·gico d e cu ssão do co ncurso d e 1927. Carvalho p ropôs,
uma fortaleza mi litar. A proposta me re ce u vári- e ntão, a "111::iqui na d e leg islar", n u ma referê n cia
os a rtigos de apoi o d os escritores mod e rnistas à célebre fr;;tsc de Le Corbusier. I\o caso elo Fawl
na imp1·cn sa, em me io à r eação elos arqui tetos d e Co lombo , havia referê ncias formais ao fu LUris-
couscrvadores. Mário de Andr ade ch cg nu a lhe lllO c a clemen LOs p ré-colo mbia u os [Leir.e 1983].

dci :~r tr ês artigos no Diário Nru:imwl a nali sau- Sem pre um concorren te m alsucedido
d o e defende nd o a id éia. Era u m:~ pro posição mas formidáve l pol e mista, Flávio de Carvalho

1~. Fl(lvio ele Carvalh o: propos(a


para o con c urso do Fa rol d e
}rr , ~'" "- • •· ~. ,u •! I C. Q"tft ,.~f .,.. \~, ~
..,( L no. • .l• t'~ ti... ~ " ..lJo M. h >~«- \ 1 , .,.._j - •
Mo. •"')'t 'I S '] • .,..,Ji,. "'.- futd fo. tr Í Kw hoc>..,.._ .J Colo mbo , Re públ ica Do min i-
ca na, I Y28.
. BiblioteGJ. Joaquim CardO'~ o 1
Il CAC • UFPE
Modemismo Prugmmâtico • 51

som ente executari a suas p1·ina :iras obras mo- to q ue, cf'rtamente assu m indo (mesmo incons-
rlcrni zado ras a panir de 1933: um conjunto de cientem en te) o teo r de sua críti ca, pouco pro-
casas para a luguel na a lameda Lorena e alame- duziu em arq uitetura. Carlos ela Si lva Prado ( n.
d a Ministro Rocha Azevedo. Moradias com al- em 1908) com pletava o últim o ano elo curso de
g umas novidades de planta e qu e foram engen heiros-arq uitetos da Escola Politécn ica de
alug-adas com certa dificulclacle, apesar d e ter São Pau lo quando publicou, no último n ÚIIH.:m
contado com urna publicidade impressa dando d e 1932 da Rl'11isla PolylN:hnim, o artigo "A Ar-
conta elas "óltimas criações rlc Flávio de Carva- quitetura do Futuro em Face da Sociedade Ca-
lho", com informações sobre o "modo de usar" pita li sta". l•:m seis páginas, Praelo fazia urna con-
as casas lDah er 1981, pp. 137-153j . tunde nte crí tica às te n dên cias <~rq n itcônas

Carvalho foi um arquiteto de poucas obras e m dehatf' a panir de uma ótica marxista. No
e limi1 m1-se em sua atuação na arquitetura. ;\lo- Brasil, o comunismo ernq.~iu oficia lmente com
tabi lízou-sc como um artista em vá ri as fren tes: a fundação elo P a rtido Comunista Brasile iro em
pintu1·a , desenho, escultura , cenografia, rearro t' 1922 e em 1030 con lava com a adesão d o mo-
ai nda corno um precursor de performances públi- dern isra Oswald ele Anelraele em seus quadros.
cas. Foi mais um uutsidt•r ela arquite tura, polemis- Todavia, até então, nenhuma manifestação de
lil <pie íllllOiliiOS IJI"illleiros momentOS do mocler- na tu reza e SI (: I Íca havia sido IJ ul.J licada com a
niSHIO arquitetônico em Süo Paulo. ê n rasc de Prado. Ele criticava tanto as tendênci-
J ay me da Silva Teltes ( 1895-1966) foi ou- as passad istas quanto a:; Len tativas moclern izaclo-
tro arqu iteto que Leve participação no debate ras, posto que am bas escamoteassem a dimen-
da arquitetura moderna na passagem da déca- são social da arquite tu ra:
da de 1920 para 1 9~0 em São Pau lo. Formado
Os ~polgisra bur g ueses d a arq uiLctura moderna
na Escola Nacional de Be las-Artes do Rio de
vêem nela apen~ o r es ul tado da aplicação de novos
.J ane iro em lY26, foi dos poucos assinantes bra-
materiai s e n ova téc nica, isto é. o cimento . o ferro, o
si lf' iros ria r evista / ,'IIspril nmweau [a respeito, con cr eto armado.
ver também o capítulo "Modernidad e Corn: nle O arg utllt'tllo de:: que se servem f. que com estes ma-
1929-1945 '1. Radicado Clll São Paulo com o ru n- teriais se podem obte r fo rmas C)ll<' st• t·iam irrealizáveis
cionário da Companhia Constru tora de San tos, sem elas. Este ;u gun te n to levado ao extrem o ind uziu
mes mo algn ns a rquite o~ a co.1~truíem c1sas r.sff.ric.as,
Si lva Telles esteve presente na reunião com Le
casas susp e11sas ou e m equ il íbrio sobre um mastr o, c
Corhusier na casa de W<trchavchik em 1929; e m ainda Olllras CXtravag{tn c i;-Is. r... l
l \:l:W, publicaria em revistas e jornais artigos de Os mat< ~ r ias não se podem co t~Lrui r a si mesmos.
franca deresa pela n ova arquitetura, tendo rea- São os h o nt t:IIS q ue proje tam c executam. Por outro
li zado alguns projetos c obras de linha mode r- lado, ninguém c:ons tró i u m edifício qualquer sem que
na, h< ~je demolidas. Flávio de Carvalho e Jayme haja necessidade des te ediflcio. Ora acpti csrá justamen-
te a questão prin cipal.
da Silva Telles foram rlc-si.gn:~o co mo os dois
O que ç; n · at · tc· · i~:a prin cipa lmcnrP u m a ar quitetu ra
delegados m odernistas de São Paulo para o rv são as necessidad es de h abitaçfio, rrabalho , r ecre io etc.,
Congresso Pan-am erica no ele Arq uitetos de d a sociedadt• qu e a p t·od uz_ Nnma soc iedade mais de-
19:10, e111hora o último Lenha decli nado da no- se nvolvida , os homr-ns procuram ad<tpta r os materiais
meação [Tell<.:s 1967] . às suas n ecessidades. Duas sociedades em que p re d om i-
nam necessidades diferentes não JXodu zem a rquilcll t-
ras ig uais, mesmo quando dispõem elos m esm os m ate-
riais . Quando porém as necessidades são as m esm as, o
CRÍTICA SOLITÁRIA emprego dl" ma t cri:~ is difcrcnrcs produz arqui teturas
semelhan tes.

A mais surpreendente manifestação teóri- Defendendo o aspecto eco nô mico ela cons-
ca no período partiu de um engenhei ro-a rquite- trução - a repetição, a p adron ização, a produção
4

MODERNIDADE PRAGMÁTICA
1922-1943

Os anos lf'llt' vti.o riP 19 14 a 19 18, f' dt' 19 18 a 1 930 são, para a Arnh-ira do Svl,
rtnos inmLorPS, como quaisquer outros. Nâo obstrmlr', ajlnnrmws qui'
o modernismo dt• tif)(} Pumpen é la.miH; m nosso.
Por qun- Porqur é o bonde q11e nos runuhn.
E por quê nos ronvém? - T'orqnr é o bonde que 11em d epois ...

R ·\UL DE POLILLO [ 193 1, p. 13)

Como ~ e ltá de discutir com ulftlttros, que nâo .\/' dão ao l·mbaL!to de racioci nar sobre o que d izem? Eli's uiio
rPrlamam da trcnica modnna a solução a·r quiletônim rJp que carecemos.
Contentam-se emfazerfmses lilerâ1irts. "A wsa é a júnção". "A jit11çào[az a casa ".
"A fonna é a.fun ,r:ri.o ". Enquanto se entretêm em dejinirões cabalísticas deixam os a rquitrtos
de ajustar a tal técnica nwrlrrna ao nosso mso jMtlt,liru:
Pa-ra nós bra.si!Pims, j10uro si' nos dá que a l ~·u.ropa jaça uso,
por motivos que só a ela inlf'ressaut, dt' um determinado gênero rir arqniiPlnm .
O que nos imfHnla a nós outros, é a solucüo do nosso caso aTlj'ttiletfini r o.

JOS~: MARI M\0 FILIIO [1943, p. 25 ]

Gregori '\"arch;l\ chik rep~nwu. para a qua lilicada como mode rna - a p róp ria m o radia,
imelenualidade emohid3 r. .. '-...·:~•'a rle 19~. na r u a Santa Cruz. O a rquiteto russo correspon-
a referência que falta\"3 de t..::::.- Jc:-u plename nre a seu papel de agitad o r cu ltural
t.a da arquitetura. a partir .d! ~ po lemi~r .. no con;;en-ador meio arquitetônico
54 • Arquileturas Jto Brasil

culrc 1 9~8 c 1933. Sua capacidade de mobilizar de, a necessidade de exprimir idé ias novas, d e
os m eios d e com u nicação (gra n de imprensa, re- tentar se r mod erno mesmo sem que se pudesse
vistas, documentário cinematográfico e, certa ~ esclan:ccr o que isso significava ou como se che-
mente, o rád io) n otabilizaram-no fora do ;tmhito gava à co ndi ção ele moderno. A busca ele um
proJissional, alcançando setores sociais alheios a comportam e nto novo re fleti<J a instabili dade d e
polêmicéts df' né\tn reza es t·étic-o-arqui tetô ni cas - um a sociedade mais p reoc up ada co m prazeres
e talvez com mais repercussão que seus parceiros efê m eros fJIIe com real izações d uráve is - o te r-
literatos o u artistas plásticos. É inegável a sua con- mo "lcs anécs follcs" aplicad o ~ década ck 1920
diçáo de p ioneiro, ao postular puhlicamcutc po- é sintomático-, incapaz de fixa/ uma escolha en-
siçôcs referenciadas na arqu itetura racionalista tre u rna h er·arH;a cultural do século 19 c as pers-
d e vanguarda da Europa, e sob retudo por intro- pectivas indttstri al istas da e r a da máquin a. Essa
duzir, d e fo r ma ampla, o debate p úbli co ace rca a mbi güidade também a limen tou os son hos de
da m odernidade arquitetônica. É ccrw que, en - uma afluente sociedade norte-americana, que
tre o discurso escrito (o manifesto ele 1925, a po- tomo u emprest<J.do e mu ltipl icou os artifícios
lêmi ca na im prensa) c o arqui tetônico (a obra decorativos do lado próspe ro da cultura euro-
construída) h avia um relativo hiato, c isso procu- péia- artifícios que, d écadas d epois, convencio-
ramos demonstrar no capítulo anterior. Todavia, n o u-se chamar i\rt Déco.
é ponderável que Warchavchik buscasse urna re- A modernidade d e vanguarda nutriu a
novação arquitetônica direc ionada - reterencia- d ifusa perspectiva Art. Déco, c essa di lui çào é o
cla na Bau haus, em Ernst May, <:m Lt: Corb usie r pou lo d e antagouismo entre as vanguardas c o
c em tantas outras expe riências que o arquiteto Déco. O e n gajam e nto p o lít ico-i deológico do fn-
r usso le nha tom ado conhecim en to e tentado tu r ismo. o anliinacioualismo, o anLi-suujelivis-
trasladar enqu anto conceito para su as obras bra- m o e a e liminação elo supér fl uo n as plataformas
sileiras. Warchavchik inseriu o Brasil no map a da d os programas do neoplast.icisrno holandês , d o
arquitetura modern a mundial logo n o início dos constru tivismo russo, do purismo fra nc ês e ela
anos d e 1930. Nesse contexto, Warchavc hik foi po- Rauh aus alemã - foram todos manifestos con r ~t­
siciomtdo na historiografia ria arqu ite tura corno o rios ao otimismo c à frivolidade Déco, nascirlos
iniciador da arquitetura moderna no Brasil. e m con texros históricos convulsivos, com assumi-
O rl ir ccionamento que vVarchavchik im- d o engajam e n to ideológico c social. Funcionalis-
p rimiu 110 seu discurso foi a sua principal virtu- mo, utili tarismo, estandardização, foram p alavras
de e contribuiçào para a arguitcLUra brasile ira. de o rd em numa formu lação d e modernidade
No entanto, a mod e rnidade de inspiração e uro- engajada.
péia preconizada pelo arquiteto russo era apenas O Brasil não deixou de sentir a voga mo-
nma vertente entre tantas outras que se formula- d c rnizadora europé ia dos anos del910 a 1930.
ram no imediato pós-primeira guer ra. Moderni - Resta saber como se processou essa assimi lação
dades que caracterizavam as inccnczas de u rna no campo a rq uite tô ni co. Nesse sentido , vVarchav-
socicuadc iustável, recém-saída d e uma confl a- c hik pode ter sido um pioneito, rnas outras for-
gração da qual e m ergiram rc aliclacles dísp ares, mas de modernidade també m se man ifestaram
em qu e u ma Ale manha humilhada c u rna Fran- até a nte ri o rm e nte ao adve nto da casa da rua
ça vitoriosa seriam os contextos ele d ife rentes Santa Cruz. Sáo arquiteturas que também foram
for mu lações d e modernid ade arq uitetônica. chamadas de "modernas", "cúbicas", "futuristas",
A França sublimou uma noção de moder- "comunistas", 'judias", "esti lo 19~5", "esti lo cai-
no de difíc il caracterit.ação. A grande celebração xa d'água" e assim por d ia nte . Hoje p odem ser
à modernidade, a Expositio n Internationale des ide ntificad as ainda como Déco e também corno
Arts Décoratifs et Industriels Moderncs, em 1925, fasc ista . O presente capítulo alinha algumas des-
bem espel hou a busca de qual que r moclernida- sas modernidades. Talvez n ão as man ifestações
Modernidadr Pmgmâliut • 55

rad icais o u as efusivas, mas demonstrações de re- à arquitetura da Deutscher vVerkbund - a orga-
nov a ~·ão anpt itetôn ica, qualquer que seja e la - à ui zação n ão Linha uma linguagem artística par-
maneira folle, mi me ticamentc , pragrnaticamen te ticular, mas, por ana logia, fi liava-se à p roduçáo
ou como transforma ção modernizadora em sua an te ri or a 1920 de arquite tos ligados ao movi-
dimensão per versa. mento como Pc tcr Bc hrc ns ( I!:l6R-1940), Walrer
Gro pi us (1883-1969) c Ado lf Mcycr ( 1881-1929) .
Não se conhece o autor do projeto , mas e ra mais
A MARGE M DO uma obra da Com panhia Construtora d e Santos
MODERNISMO ENGAJADO (entre outras <]Ue osten tavam fo rmas ma is depu-
radas), e m presa con stituída em 1912 pelo enge-
nhe iro civil Robe rto Cochrane Simon sen e colc-
Ano de 19~: centenário da inclepe n d(·n - ~<ts . A constr u to ra de Simo nse n notabilizou-se

cia, Semana de Arte Moderna. No marcante ano por pr ~ j e ta r e construir inúmeras obras pt."t b licas
de 1922, ttlll edifício recé m-inaugurado angaria- importantes na cidade, por rcr investido cn t ha-
va repercussão regional , nem tanto por sua arCjlli- bitaçôes ccontmticas c em planejamento urbano .
tetura , m as por se tratar da mais luxuosa casa de O e nge nheiro foi o introduto r dos princípios tay-
diversão da cidade. Era o Cassino c Teatro Parque loristas n o Brasil, ao publicar, em 19 19, o livro O
Ba lneário na c idade de Santos, Estado de São Tmúallw Moderno. Entre 1921 e 1924, <t com pa-
Paulo. San Los era o porto estra tégico para o es- nhia admiu isLruu c co n str ui u simul tan eamente
coame nto d o prin ci pi! l item de exportação da 26 qLtartéis de gra nde p o rte (alguns e m áreas ele
econom ia hras ilei ra- o caf(:. incipiente urban izaçáo) em nove Estados brasi-
O Cassino/ Teatro era uma obra d e arCjui- le ir os. Mediante a nor malização d e processos
l.clu ra destoante do me io: formalmente se filiava adrni ttislrat ivos, revisão e adeq uação dos p r ~ j e -

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14. Co mpanh ia Construtora d e Santos: Cassino c Teatro Parqu e Ba ln eário d e S;mt.os, S P, 1922.
56 • /lnfiiÍI<'IIIms no I:Jmsil

los à racio n a lização d e can teiro e adaptação de b ugras [ver ca pí tul o "Do AnLicolo nial ao "Ncoco-
sistemas conslrutiYos às pecu 1iariJades locais (in - lonial.. . 1RRO- L926"] ; e m 1922, Simonsen e ra u m
cluindo alguns sistemas rústi cos de p ré-l'a hrica- dos o n ze b ras ileiros q u e man tinham uma assin a-
ção), a empresa cumpr iu <.:ronogramas reduz id o s tura d a r evista I ,'f<.'sfnit nmweau, d e Le Corbusier
(algu ns casos, quartéis co m p k tos e rn oito me- <' Améd('C' Ozenfa n t ( 1RR6-1 96G) [San tos 111 n/.
ses) rncsmo trab alhando numa escala operacio- 1987 ]; ro i a Co r11 p a nhi a Co n st ruto ra d e San-
nal q u e envolvia ciist;incias de mil h ares d e q u ilô- tos q u e tr o uxe ao Bras il o a rqu i tet o Gregm-i
metros e condi çõt>s de trab<t lhu extremamen te vVar c h avc hik c teve e m se ns qu ad ros técn icos os
ad\'ersas - rnmo materiais em hoa parte tra ns- a rquitetosjayme da Silva Tcll es e Rin o Levi, na
portados para o local da obra I Simonscn 1931]. segunda m etad e da cl écad <~ d e 1920 . Essas evi-

Simonseu foi um. elos balu:-trtes da industri- d ências pontuais n ão comprovam necessariame n-
alização no Hrasil, e sua atuação e m p resari(ll e po- te coer ê n cia d e p e rsp ectiva a rquitetô n ica; no c n -
lítica foi se d ivt:rsificando (e-m detrimento ele su a tauto, a perspec tiva industria lista ele Simonsl:' n
construtora) se m pre nessa perspectiva. Esse pe r- in d icia u 111a p ossível alia n ça e ntre a a p o lo gia da
fil ccnamente pode se relacionar com o possível in d ústria na a rquite tu ra racionalista !."urop éia e a
contato que o jovem Simonseu teve com os prin- in trodução de e lementos inovado res na arqu ite-
cípios da Werkhund akmã. Outras evid ências, tura median te a m odern ização da con st ru ção ci-
todavia, relacionam o engenheiro com man ifesta- vi l no llrasil das primeir(IS décadas do si'c ulo ~0 .
ções de arqu itet"nra mode r na: Sim onsen era o No extremo sul do país, u m (! outra o bra
redator da Revista PolytPtlmira de l 90H, que pu hl i- fo i prec ursora isolada de uma linha racionali za n -
rou a pioneiríssirna crílint de modern idade cons- te da arqu itetura, so b r etudo pela sna fu nção uti-
tr utiva sob1 e a Estação Mairinque de Victor Du- li tá ria: o edifício do Moi n ho C h aves, e m Porto

/:). Companhia Constr uLora de Santos: Ca.,sino c Teatro Parq ue Ba ln eário de San ros, SP, 1922.
M odt'mir~< Pm!{IIIIÍiha • 57

16. Júlio de .-\bre u Jl.: pr(:dio ua an: nicb An~élica. S:w 17. F•t·dc·ri<'o Kirchgiissu t..-: casa do a r qu i teo~' " ' Cu ritiba,

Paulo. 191!H. PR , 19 ~ 10 .

,\legrt>, const ruído em 192 1 com pr~jeto do ar- poste'rior <"Studos n<J École Specia lc eles Travau x
quiteto alemão Theo W iedersphan (1878-1952). Publics du Bâtim en t e t d e L'Industr ie d e Paris.
Fachada marcada por p ilastras acentuando a ve r- Atuando e m São Paulo com edifícios residencia is
Licaliúad e , repelitividade de jane l a~ e apenas uma e industriais, obras residenciais co m caracte rísti-
discreta linha de cimalha e desenho de platiban- cas formais próximas ao cclilício da avenida Angé-
da, o tratameuto externo do edifício industrial de lica foram construídas ta m bém para o Ri o ele .Ja-
quatro p avime ntos parecia refletir a sobri eclade neiro. Não e ra ele, todavia, um arquiteto que
do pro~<tma arquitetô ni co. Uma cons tru ção que adotava a linguagem rn oderna como princípio.
passaria despercebida hoje, não tivesse sido r ea- Mais fiel à identidade moderna foi Fr ede-
lizad::t no início da clécacla de 1920 [Wc irner rico Ki.rchgãssncr (1899-1988), d escend ente d e
19R9, pp. M29-M31; 19921. Wiedersphan , r<tdica- alemães nascido no Estad o de Santa Catarina que
do no Brasil em 1908, pode ser considerado um fez um cu rso por corrcsponclê n cia n a Kunstschu lc
arquite to que trouxe informaçôes sobre a arqu i- ele Berlim, tendo conse~ uicl o o diploma de arq ui-
Le lllra alemã das primeiras décadas do século , teto ao prestar exames na então capital alemã e m
p roduzindo algumas obras que refletiam prcocu- 1929. No ;mo seguin te, Kirchgassner construiria
pacões modern izantcs, embora a maioria de se us sua própria residê n cia em Curitib a, Estado do Pa-
trabalhos ostentassem co mpostura tradicional. raná: casa adotando fo rmas modernas, com ter ra-
No ano e m que Gregori vVarchavchik inici- ço-mirante que clava vista para a serra n o horizon-
a\·a as obras ele sn:o~ p rim e ir:~ n ·sidência modernis- te d istante, c projctacla com mobiliário coerente
ta. Júlio de Alm.: uJún ior (11 . <::m 1895) c:uncluía com a moradia. N a ainda mais provinciana capital
u m cdif'ício de seis pavime n tos na aveni da An gé- do Estaclo elo Paraná, a o bra toi rece bida com h os-
lica. em São Paulo. Era um prédio d e a p artamen- tilidade. Kirchgassn er con struiu algumas poucas
tos CLUa fachada era composta apenas pelos vazi- o bras com linhas mode rn as, le ndo sido relcrnbra-
'h dos terraços da sala e pelas parceles li sas de do como um pioneiro incompreencliclo cer<~ de'
fechame nto dos ban h eiros, mais algun s vãos de quarenta anos após a obra inovadora [Pie rma rtiri
\entilacão e iluminação. Nenhuma decoração tra- 1989].
dicional. Os quartos voltavam-se para o fundo elo Aos alemães c se us dcsccnclc ntcs, o Brasil
iote. orie ntados para o sol poente, e a cobertu ra deve uma avaliação ai nda n ão totalmente conh e-
abrü;aYa as depen dências de empregados- num cid a como contribu in tes na in trod u ção de lin-
arranjo não mual para a época [Xavier f'l nl. I 9R~; gua~cns modernas na arquitetura elo sul do país.
Lemos 1~'- u - ~e en ~ en hciro na Günter \\'eimcr [1989] anota que as primeiras
E--co!a p,, ... __ n ~'- em 191-l. com manifeqacõe' modernas em Porto .\Jc!?,"rC ( cxce-
58 • /lrqui/('/u r as 110 Hrasil

tw1ndo urna casa projetada por Joiio An to uio nr•m me~nw o rimrn/o mmodo, qu.r• ,; 1111'1 11U!lt'1Úti

Monteiro Neto (1R93-1 956) em 193~) se deve a ilu·sthirn, .fi'io em Sllju•i.fhir·, df a.ljH•do Ji'in r• mO'rio e
fJII I' lvnw ((1111 o temjJo "mte sale pati·ne". nn diur do
profissio uais alemães: Franz Filsinger, atuanre no
j1mji>ssnr Cloq111'1.
Brasil entre 192!í c l~J:- ~9, autor das primeir·as re-
sidê ncias de linhas modernas e m 19?. l I 1932; CIIIUSTIAN O Di\S Nl::VI·:S, 1930 (p. 3)

Karl Siegert (1R89-1961) ejulius Lohweg (lR79-


l 9GO), au Lo r de projetos d e Jllaior porte, roJllo No CUJTÍ<'ulo profissional do a rquiLcto Eli-
os c di fícios da Fcrle r açào Ru ral, o Agostin ho siário Bahiana ( l H9 1-J9HO) a rquivado na l Jni ver-
Piccardo c o Rio Rranco hem coJuo a fábrica da sidacle d e São Pa ulo. uma o bservação ano1ando
camis:1ria Taunllauser, Lo das as obras situadas na o insucesso lluma participação em concurso n o
capital elo Rio Grande do Snl. Rio de .Janeiro{: basLante reveladora. Consta o
São manifcstaçôes que ainda merecem a l- seguinte: "Pn~jeto do Estádio do Clube de Rega-
gum aprofundamcuco enq ua nto ve rtentes do tas do Flamengo, na Cávea , c tira o 2° lugar com
1110de rni smo brasileiro. projclO moderno, gênero Perret (o primeiro lu-
gar foi adjudicado a um projeto clássico)". Esse
concurso foi promm·ido em 1925: por "clássico",
pode-se entend er a adoção de linguagens orna-
UMA ESTRUTURA
men l<lÍS Bcaux-ans; por "moderno", a idcn tifica-
PARA O MODERNO (ào é eloqüente .
Em 1928, Bahiana novamente ohtevc um
ils ili!Jrll('rJI'S I' as de.\l·obertas rir•ntífims nriu exmc segundo IJJ).\'a l.., agora no con curso pa ra a embai-
fl'rt/111 ; , ~fluenria alguma tiOS , •.,tilvs dn. ouJu itetura , xada da Argen tina ; o ve ncedor era seu colega de

IS. Vale do Anhangahaú e \'iaduto d o Chá, e m p osLa l de 1955. llu rn inaç;io kérica co mpôc o cc ná t·io d e modernidade.
M nrlr•müladr l'mgmrílim • 59

wrma, q ue apresentara um projeto de gosto neo- to fra nco-suíço recon hecia em sua autobiografia
colonial: Lucio Costa. Flá\'io de Carvalho, o mo- que, em 191 O, Perrct e ra "o único no camin ho por
de rnista de São Paulo, fora desqualificado. En tre uma nova direção ela arquitet ura" [ajmrl Co lli ns
1927 e 1943, Bahiana pr ~ jeto u no Rio rlc J ane iro 1959, p. 153]. A "nova direção" era uma lin gua-
c em São Paulo prédios públicos, edifícios com er- g em desenvol viela a partir da ex perimen tação t{~c ­
ciais e / ou rcsidênc ia is, casas e até~ um viaduto, nica e formal sobre o concreto armado: o aparta-
um dos cartões-postais rle São Paulo: o viaduto do me nto d a rua Franklil1 C lll Paris é co nsiderado
Chá [Segawa 1984] . Nem Lodos os projetos obe- como o primeiro uso do concre to como urn meio
deciam ao mesmo tr atarncnt.o formal, mas predo- de ex p ressão a rqtlitc tônica. Seu trabalho elabo-
minava uma linha nas o bras maiores: o Art Uéco. rava nm novo raciocínio arquircttmico inse rido
Em 1979, numa cn trt>vista com o ve lho arquiteto, num contexto técnico novo, sem abandonar re-
e le não compreendia o significado d esse termo. ferências tradicionais.
O Art Déco, como "estilo", jarna1s existiu : como "\Jão é incorreto associar-se o pensamento
convenção figurativa, nasce u na rt> lrospectiv<l el e Auguste PerreL ao Art 1)(-co ou, mais precisa-
"Les Anées 25", em 1966. Ele recusava tam bém mente, à Exposition lutcrnatiuualc eles Art s D é-
o rótulo ele "futurista"- um a palavra f!IIC popu- coratirs et lndustriels Morlt>rnes em Paris no a no
lanue n le traz ia uma conotação p e jorativa nas de 1925. O relatório final do eve nto, n a seção de
décadas de 1920 c 1930. F.m to d as as h i pó teses, arquitetura, é tudo permeado pelo ideário do ar-
sctt t rabalho e ra "moderno", "gênero Perrct ". quiteto rranco-belga. Definia-se a arquitetura
F.lisiário Bah iana não foi um arquite to ge- mockrna como a que, '·tirando vantagem elas con-
n ial ou revolucionário, mas U lll pwfission::1l hem- quistas da indústria, uti liLa, para realizar os novos
su cedido por ter p r ojetado obras sign ificativas programas, os materiais e procedimentos d a cons-
nas duas m aiores cidades brasileiras. Como tan- trução de seu te mpo" rFxjmsition . . 192H, p. lOJ .
tos ourros arquitetos d e sua geração, Bahiana Assim elegia e la a técnica construtiva dos tempos
!JOd<: ser tolllado como um profissiona I arq uetí- m odernos: "Podemos dizer, com Auguste Pe rrct,
pico de uma etapa da arqttitcl m a brasilei ra: for- qu e se os homens desaparecessem subitamente,
mado no s valores Beaux-arts, "inti·ingiu" os ensi- os edifícios e n t fe rro e aç.o n::io tardariam em se-
narne n ws adotando uma linguagem distinta da g ui-los. [ ... J O 'material' ou , ~e pn"'ft>rir, o 'apare-
boa norma acadêmica. em busca de uma arqui- lho' da arquitetura moderua é, sem clüvida, o con-
tetura mod erna, sem eslan.lalhaço ou panHetis- creto armado" [ExjJusition . .. Hl28, p. 15 ].
mo. Modernidade nem i\ Lt> C01busiet·, nem à Do concreto armad o der ivaria uma nova
Bauhaus, nem aos fun cionalistas/ rac ionalistas estética:
europeus. Talvez um pouco disso tudo. Mas, m o- E"islt> uma .-,ré tica do conc re to arruado, como a da
dernidade, como o próprio Rahiana revere ncia- pe dra, da m adrira , do ft-rro . Sc:-111 dúvida, é o pro~· · am
va, àAuguste Pcrrct (1874-~5) . qu e clita a composi(<io e a co mposiçiio em si que deter-
mina a escolha d os m<J t> ri ai~. Mas a m a1i'ria escolhida
repercute por sua vez sobre a planta. Se o a rqui1 C'to é
tanr.o coustrutor quanto anis ta , c ele d e,·t> sê-lo, com po-
O CAMINHO DE PERRET siç;iu e m<~1 r. ria s se apresentam s illlultanea nlc:-ll lf' a seu
e ·pírito, inclissol uve lmc n u· ligados, com o o são. na illla-
ginarão do cnallli sla , o gal h o do p o te e a terra.
J.c Corbusier c Augustc Pcrrct ( 187 4-1954) Que rormas nascem , en1[Jo , na turalme nte , do con-
creto arm ado' A.~ fonnas simplçs e grandiosas. Apiloado
e ram de tendências opostas, escr evia I .ucio Costa
nas fôrmas , e le exclui as com plicações. Se se presta para
em 1951 [ 19G2, p. 187] . I. e Corbusier fjllalifica-
;nnplas a b ó badas, de se coloca sobretudo em honra à
va Perret não co mo um revo luc ionário , mas um linha ho rizonral. ,\ plcn<l sc(ão dt> se us p il an ~s lhes con-
"continuador" rla "grande, nohrc c elegante ver- fere uma clcgi\ncia austera. Nada de bases, pois a cohma
dade da ar(} uitetura francesa". Todavia, o arquite- bruta do solo. Nada de capitêis, porque a Yiga c a coluna
(Í O • Arq11iter11ras no Hrasif

são da mesm a matéria. O capite l, úti l cn1 nma constni(Úo Ao se ad o tar o te r mo J\n Déco, co rre mos
de p e d ras e mp<IIT ih a d as. po r rt'pa rrir sobre o apo io a o r isco d e acentuar u m so taqu e francês risonho,
carga da arq nitrave ou lin td , torna-se supé:rflno em tllll
d e um p aís vitorioso - contraria m ente às d e m ais
sit~:ma m o n olítico flixfJIJ.ütion ... 1928, p. 189 J.
na ções devastad as, re m oe n do-se e m inquie la-
F talvez um n ovo eslilo? ções sociais c econ ômicas na Europa d o p rimei-
ro pós-guer ra -, Lmindo manifestações tão d ispa-
O co n creto M lll ado é a co n c rcçào ck materia is t:w r at adas e ntre si, como a Com p agu ie eles Arts
co n hec idos <·m rod o o pai ~ t' e le pod e satisfaLer. e n1 Français e a nauhatts, a va lorização elo decorati-
cnnd içocs bem econ ômicas, ;~s ex igências d e v;~r i ados
vismo de culturas d itas "exó ticas" (asteca, egí p-
progr:u1 1as ele tal m odo q••c seu empr ego te nd e a se
torn a r ltnin:•·sal. [ ... J
cia, exln:rno-orien te) e a Deutscher \'Verkbun d,
Poder-se-ia dizer q ue dessa m a n eira de construir nas- ou a fusão ctc r efc rê u cias ;-Jrqnite tônicas m arca n-
ce r ~• un1 csril o n ni V!' rsal? 1-'clizmen l<', n flo c hega m os lá. tes co m o Angu ste Perret, Frank LIO)'d Wrigh t
Sem n1 esm o con tar co1n ns climas, os gostos das raças, (Hl67-HI59) , Hendrik Petnts Ber lage ( 1856-
das uações, as tcnd(· nc ias individuais mant ê m um a g ran-
19311) un J osef H offm;-J n n (1870- 1056) numa
de variedil d e n ;1s so l uç<ir .~ a rquit <:tônicas, assilll r o mo n a
m assa a morfa . Ade m a is, estud os d edicad os ao
dccoraçii o pintada o u escu lp ida dos edifíc ios. A E xposi-
(iío de 192G fú i a testemunha d isso l l•.'xposition ... 1928, Art Déco, e m geral, d esco n sideram a co ntribui-
pp. 19-20] . ção d a llália, p aís qu e. desd e o início do século
20, d esenvol via alta Lecnolo gia e m cou crcto a r ma-
1\ p r im ei r<~ obra n o Brasil condizente com d o [Pese nti 190G] c estabe lece urna arqu ite tura
o discurso d e Perret e o elogio :10 conc re to ar- d e t.n·ttamento fo r m al geom et.ri?.acto I Mclan i
m<tdo fo i contcmporâ u ea (se n ão anterior, e n - 1910] à ma n eira futuri sta d e Antouio San t' Eli a
qua nto re tórica) à e labo ração dessa teorização. (1888-1916), concretamente ilustrado na diver si-
Já nos refe r imos a nte rio rlll c nr e à estação fe rro- d ade de u m Marcello Piacenti ni ( l 8H 1- 1960) n o
viária e m Maírinq ue, projeto d e Victor Dub g r<~s p e ríodo fascista ou em nma vcn en te do ra ciona-
de 1907 c ol~jet de lottvor crítico pela sua r ac io- lismo, como em G iuse ppe Te r ragni (1904-194 1)
nalidade na época d e sua in a uguração l ve r capí- e se us colegas d e ger ação - o qu e não é d espre-
tulo "Do Ant icolon ial ao Neoc o lo n ial. .. 1880- zíve l e nquanto iniluê nci ;-J n o Hrasil, di ante do
1926"1 . D11 hl 1gras é um caso pione iro, e mbora e n o rme a nuxo da imigração italiana para o país
isolado. d esd e o úllimo q u a rte l do séc ul o 19.
Pa ra efeitos práticos, vo u considerar o
Art Déco n o Brasi l m a is como urn a manifes ta-
ção esse nc ialme nte d ecorati va qu e prop ria me n-
LIMITES DO ART DÉCO
te construti va - e mbora c tn certas sil u ações as
!'moleiras entre a d eco ração e a tectô ni ca s<.jarn
lê nn es.
Nós, anjtlittto.l, ru-Jwmos ótimo o "estilo modern·~
,·omo tudo qw<éfimta.l·ia, uniwmm'!lt• f/llrrt esses am-
bit•ntt'.l de alegria romo utihmslr, cinema.\·, ttwlrínlws,
''p,wronnih'es ". etc. t•lr. O ART DÉCO COMO "ESTILO "

CH RIST li\NO DAS N i·:VES, 1920 [ l929b, p . 161


O s vários t rabalhos q ue o a rqu iteto Antô-
ni o Moya aprescnw u n o Teatro Mu ni c ipal de
1:-'stt• e.1tilo f 925, fu•sto, idiota, raplajifrí quejitz os São Pa ulo , n a Se m ana de Ane lVIod ern a d e 1 92~ ,
mrdíorres .JirarPm babando de JPiirir/ade. captavam a vertente "exó ti ca" q u e p airava no
ambic nlc culLttral de então. Algu ns de se us esb o-
LE CORBUSIF.R, 19:-W [Santos el al. 1987, p. 96] ços cono tarn inspiração maia, como já di to [ve r
Mudnnidwlr PraKm.rílim • 67

cap ítulo "Modernismo Programá I ico 191 7- 1932"] rentes na decoração de in teriores nos a nos 1930,
e é a m a is a ntiga proposi ção co n h ecida d essa e seu geometr ismo combinava co m o gosto Déco.
ten d ê ncia d e tomar empres tado m otivos p ré-co- O Art Déco foi o supo rte fo rma l para inú-
lo mbianos no Brasil. An tecedeu à proposta de meras tipologias ;u-gui tctôni cas qu e se afirma-
Flávio de Carvalho para o concurso do Farol d e vam a partir dos anos de 1930. O cinema (c por
Colombo em 1928 c foi o precursor de um fo r ma- associação, alguns teatros ), a grand e novidade
lismo que se seguiu ao esgotam ellto d a voga n co- en t re os espetáculos ele massa que mi me ti zava
colonial: no início da década d e 1930, o p in tor as fantasias da cu ltura mod e rna, desfi lava sua
Theodoro Braga ( 1872-1953) precon izava uma tecno logia son ora e visual em deslumbran tes sa-
saíd a por uma arte brasile ira mirando-se na ex- las no Ri o de janei ro , em São Pau lo c algumas
periência d os países latino-ame ricanos que ado- outras capitais em verdadeiros monumentos
tavam desenhos pré-hispânicos como ornamen- Déco; algumas sedes d e e misso ras de rád io fo-
tação l Braga 1930 J. Braga foi um estudioso dos ram conslruídas ao goslo, como"' R;.ídio C! lllu-
mo tivos da cer âmica man ~ joar a- uma an Liga cul- ra de São Paulo, de Elisiário Bcthiana, ou a tard ia
lllr,. ,.nlcrior à chcgad,. dos ponu g t~c s es , na ilh,. ( 194R) sede d" Rádio .Jom;:~l do C:omi-rc:io de Re-
do Ma rajú, no Estado do Pa rá, onde o pi 111or c ife, do engenh ei ro Antonio Hugo Gu imarães
nasceu . Enqu anto idéia , ,.. aplicação de temática [Silva 1988]. A maioria dessas constr uções foram
m arajoara foi bem-suced ida ao ser adotada no d emolidas.
projeto d e Arc himed es Memória (lH4~- l!-fiO ) e

Francisq uc Cuche t, vencedor d o concurso para <l


st>d f' d o Min istério da Educação f' Saú.de p m 1935
VITRINE DE MODERNIDADE
(foi o pn~j eto preterido pelo governo, qu e e nco-
m e ndon outro a Lucio Costa [ver ca pítulo "Mo-
d ernidade Corrente 1929- 1945 "]. O mar;:Uoara e
C'I'Yirtmt' lllr nrio jáltarào lugar!'s Jmm a conslru.-
o u I r as fi gnraçôes pré-colombianas rora m recor- rüo de nlifiâus fJúbliros impirados na arquill'lum

19. Rino Lcl'i: Cinc Uf<t-P<tlúcio no Recife. PE. 19:\H.


62 • /lrquilel ums no Hrosif

ri)IIIUnisla . A cidadP r/p Goiânia, jmr rxrmjJfo, I'SitÍ 1'111 ra , inrlttstria estrangeira, empresas ferroviári as e
nwti>ria dP M·qllilelllra, mais longr' do SPnlimr•nlo outros), par<J d ive rsão (cassino, caf(:-har, restau-
national, do qw' rrrlrn ridades da pmimula ilir'rim.
rante), d e quat ro Es tados brasile iros (o ele Per-
jOSf M,\RtANO FILHO r1943, p. 12R]
nambuco foi projetado pela eq uipe m odernis ta
dirigida por Lu iz Nunes ( 1 ~08- 1 93 7) ) c os admi-

n ist.ra tivos, predom inava a fi gu ra(ão Déco nos


Se o Art D éco se consagr ou numa gra nde edifícios (inclusive com a variação marajoara no
exposição, certo caráter l'ugaL yue pcrrm:ou a pavilh:'io d o Pará). O caráter efêmero dessas obras
voga Déco pode ter sido refon:ado pela real i;.a- conduzia a opções simples ele co nslru~:üo c deco-
ção d e g ra ndes exposições transi tórias com o ração: os pavilh ões eram estruturas de madeira
predomínio de pavilhões desen harlos ao gosto. A com fechamentos em estuqu e (à excq:ão do Pará,
VIl Feira Internacional d e- Amostras de 1934 , rea- de alvenari a); o despoj a men to ou a n~jo orna-
l i1ada no Rio de Janeiro (no aterro onde h oj e se m ental subordinava-se ao sistema construtivo em-
ergue o Museu de i\rte Mode rn a, de Re id y), era pregado, e o Déco coníluía para urna solução for-
uma vit rine rla prorlução industrial e agrícola bra- mal menos r eb us ca da ~
sileira abrigada em edifícios de traços Déco. Um I númeras obras públ icas de im po rtâ ncia
evento de maior porlc, a Ex posi~:ã rlo Cente ná- seguiram a tendência; ttrn:.i rlC';.~s , é a Prefei tura
ri o d a Revolução Farroupilh a e m Puno Alc~!; r<.:, d e Belo TJorizo n te ( 1036- 1939), p rojnada por
no ano de 1935, transfo rm o u o amigo Ca mpo da Luiz Signo re lli. Goiân ia, a nova cap ital do Es ta-
Red e nção - g rande área ve rde hoje n o coração d o de Go iás, criada e m 1q33, com urbanismo e
da cida de - no Parq ue Fa rroupilha, com p r~je­ primeiros edifícios (palácio do governo, p refeitu-
to básico do urbanista francês Alfrcd Agache e a ra e hote l) p rojetados por Attilio Correia Lima,
montagem de um complexo, para exposição de tem imponen tes mon umentos Déco, como o tea-
produtos agrícolas e indnstri ais, organizado por tro ela cidade e a antiga estação ferroviária, além
C hristiano de la Paix Gelbcrt (1899-19R4). Con- dos pioneiros palácios. Em São Paul o, o p rimei-
tand o com p avilhões te máticos (como :~gricu l tu- ro viadu to Déco foi o Boa Vista, projetado em

20.Exposiçâo do Cenlt!núrio d ;o Revolução Farroupi lh a , c·m 1935, n o a n tigo Campo da Redenção, em Por to Alegre, RS.
Traçad o orig inal elo parq ue ck Atfred Agac h e.
,\lodernidadt• f>mgmrí tiw • 63

2l. Pa,·i lh ào d o Parii na h;posiçào do C<'n tcn;írio d a Rf",·o- ~.Jorg<' Ft·lix de Souta: Tf'a ln> de l;oiá n i;~, CO, r. I 94 ~.

luç<1 o Fa rro upilh a, em P orto Alq~re. RS, I ~)3f>. Tcmns da


cerâ tnica t n ar ~jo a r a tOlll O l liOtYo ~ dccortlti vos. Foto·( ente·

sia de Cüntcr Weim cr.

1930 po r um e nge nh ciro -arqmteto recém-lonna- Li a rnlrevi.1111 d1· Pimrtd!•lln / ... } e rerordo-lltt'
das suas jmlrwms a jlrojlâsilo do.~ arm11fw-rPus.
d o, Oswaldo Arthur Bratke ( I 907-1 997) (ele se-
St• 111i11 IIU' Pngano ela fala na nnt'.l .wlodt' dt• se rrior
ria, n us a nos de 1950, u m dos ma is irnponantcs
no l?io I.L/1111 an;uilt•l um qu'' sc ronjonne rom a linha
arqui te tos modernos) . Um elos símbolos da cida- do fulisagt•llt. 'llwto mrllw 1: .V1io snia o raso de Sf
d e do Rio de .Jant"iJU, o Cristo Rcrlcn tor, nu topo romltu.ir 1•dijírú>1' da o{l!o·a do !'r'io-rle-r\pímr ou do
d o morro do Corcovado, é urna estátua Déco. É Co1·wvrulo? Creio 111Ps1no qw· Nnbora sP fiussr'm aqui
certo que todas essas referências de importâ u cia Nlificios tlua.1 ou trfs veus 1110im·es que os de Nmm
lorqtu a linha da jmisagem nada so.frPria. 11 própria
urba n a ser vira m para d issemin ar popularmente
tw111reza dá o exemjJio u M'!fLÚt: {. .}
o gosto Art Déco.
Arlw IJIIl' a o!JsPnJa({tO rfp Pirandrllo ,; idiota:
com llllta Jmisagl'/11 leio Krr11uliosa o R io J)f'rlllile
r l'<igP llli'WIU que u.1 Sl'll.\ nlijírios .ll'jnm altos.

IMAGENS DO FUTURO:
O ARRANHA-CÉU BL\LSE CE1 DR:\~. 1927 lBad>Osa l!l89, p. 101 ]

Os orran/111-dus n o limsil /HOVI;IIl de um nm Cerca de quareu ta a n os se passaram e ntre


fJrofundo. R injustifirrÍ1<riP lammtável numa lerm os d ez andares do primeiro shysrm{Jf'r projeLad o
rira d e PS/)(t('u t'.HI' Úl/ntw rl1• ron.l' /l'll(ÕfS qui' em ou-
p or Wi ll iam L e Ba ron .Jcnney ( 1832-1907) em
tws r i rlotfn, 1'111 Nova IOI'({III', por exnnJ!lo, 11'111 sua
I'Xfllica{'âll r sua razrio rft• se~:
Nu Riu de Janàm a l'xis-
Chicago e as pio n eiras lentativas do gên ero no
/Pncía dvs tiiTflnlw-dto urio IPI/I sentido. Rio de .Janeiro e em São Pa ulo. Nesta última ci-
f; uma imitaçrio. As Jonnw d1• arte n rio rr.wllam dade , u m amb icioso empr eend imen to elo imi-
tl1• LW/11 vontade. Nâo !ui .forma tft• tnlt• infl'nrional. grante itali a no C iusc ppe Martine lli (11-\70-1946)
E, jmr isso mesmo, os vo;sos arranha crus qut' nâo t> rgucria, entre 1924 c 1929, um a rran ha-cé u com
rorre.1pondrm a uma tll'tessidadr, qtw nrio su rgt'lll e.\- 105 ,65 m de altura c 25 andares: o Edifício Marti-
{)(m/aneanwnlr da il'tTa, 1rio 11/'I'P.uariamenlr uma
u elli. Ern 1928 era pr~jetaclo o edifício A Noit<' ,
I'Xf wessâo falsa di: arl1•. Pf'11so muito qw•, de um modo
gemi, a arqui/i•lura do Rio 1; IJllilSP 1ww oji>n.1·a it pai-
no Rio d e .Janeiro, concluído no início d os anos
sagnn . DPve-sP jn·uru rar semjnt' ·t.m w lirilw corrrsfion- de 1930 cont 24 pavi m entos e l 02,5 m d e a!Lura .
dn!le t) do no lu rt•za . Con Lra ri ando a t"xperii· n cia no rte-americana,
a mbos em conc reto armado . Recorda o pione i-
L UIC! P I R.\ ND EI.LO, 1927 rBa rbosa 1989, p. 98] ro livro de Star rctt l l<l28] u quanlo o a r ra nh<~-
6 4 • Arquitettt.ras no Brasil

céu , n os primórdi os, foi esteticamente d escte-


n hado . Quase contemporân eos, o Martinc lli e A
No ite re prese ntava m duas ver te ntes opostas: o
primeiro , uma tor re ornamentada ao gosto eclé-
tico; o segundo, um edifício de linhas geométri- l!

<::ts, com toque lkco. Joseph Gire c Elisiário


Bahiana , ao projetarem o edifí cio A Noite, da- (0:.,
J A N e 1 .o) p,

9J'tJ
~ \\.j)
vam vazão ao p receito perrcliano de uma a rqui-
..~ _,_

~
~
te tura integrada à estrutura. A solução Déco,
"
doravan te, prevaleceria na corrida sul-americana
às a ltur<ts: o edifício Kavanagh em Buenos Aires, :; \ J~.
de 1935, com 1~5 , 30 m de altura, seria o mais , ;., ':_ Ífi ~ . 1';
~ · _ (~ ~ (: . ~ ,. ....\.
alto préd io da Am érica do Su l até 1954 fVascon- ',!"..,..:) l .~' ~· •.~ : ~
~ í··' ~ .. ,
cclos 1985].
Na década de 1930, a linguagem Art Dé-co
estaria associada ao envoltór io por excelência d as
granrles estruturas qu e rom periam os h orizon tes
ur banos desenhados pelos h omens, rnarcados so-
bretudo (ou apenas) pela verticalidade de torres
sine iras cic igrejas ou referê ncias seme lh an tes.
Assim, em São Paulo, o eciif'ício Saldanha Mar i-
nho com petiria com o seisccn tista convento e
ign; ja dos franciscanos; o edittcio Ocean ia em Sal- 23.Carlaz do 4 ° Congresso Pa n-amt:r icano dt· Arquite tos
vador - a maior construção em todo o Norte e no Rio de Jan e iro, 1930.
Nordeste na época lAzevedo 1988] -faria o con-
tJ·aponto robusto ao esbelto farol da Barra, do sé-
culo IH. A inserção mais espetacular de uma obra Na maioria elas grandes ciciarles brasileiras
Déco n a paisage m tradicional foi, sem dúvid a, o nas décadas de 1930 e 1940 as estruturas altas de
Elevador Lacerda, tamh~ e m Salvador. Trata-se gosto Déco ou variações predominariam na ver-
d a ligação entre a parte alta e a baixa ua cidade, ticalização das p aisagens. Usualmente, e ram edi-
na peculiar topografia cia capital d a llahia, com fícios comerciais: nos anos de 1930/ 1940, o arra-
uma estrutura de 73,50 m de altura em concreto nha-céu e ra um investimento pesado, e mesmo
armado. O discreto relevo e a geomc trização pre- nos Estados Unidos, pairavam dúvi das qu an to à
dominante da esguia estrutura de elevadores sal- sua viabil idade técnica e econômica. Enquan to
tan do na paisagem e sobrepujando a íngreme solução para habitação no Brasil, o e difício em
escarpa em dezessete segundos sin alizava o arro- altura era um desafio p ara uma sociedade que
jo c a velocidade dos tempos modernos. Prqjetacio desconhecia esse modo de vida, tido com o pro-
pelo arq ui teto Fleming T hi esen , foi detalh ado míscuo. A falta de habitação no período entre-
pelo escritó r io Prentice & Flodercr elo Rio de j a- gu erras, n um certo sentido, incentivou a vertica-
n eiro, com a provável participação do arq uiteto lização das estruturas para h abitação, e somen te
húngaro Ad alberto Szilard [Lima 1990] p ara a em 1928 uma lei estabeleceu as bases do direito
firma d inamarqu esa Ch ristian i & Nielsen e d e p ropriedade elas un idades co mponentes de
construído ao longo do ano de 1929. Paulo Or- um edifício .
min do de Azevedo [1988] o considera a primeira Em São Paulo, um dos primeiros eciificios
o bra de arquite tu ra m oderna constr uída na d e apa r tam entos residenciais - o Columbus- foi
Bahia. projetado por Rino Levi e inaugurado e m 1932.
M odrmidade l'ragmátiw • 65

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lU I:~ li Wi
ru e f!i r: r. Vi
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i•:; :a: ; ·li;""
l•: 1! 11 i r~
tu IC:';

~-L Jn ~e ph Cin: c F.lisiário Ihhiana: edifíc io A Noilc, Rio 25. Freire &: Sodré : edifício ücea11ia. Sal"aclor, liA , d(·ca-
rl" Ja neiro, 1'1 ?.0. das de l!J :IO - l\J ~U .

O b ra inovadora para a época: para uma soc ieda- bamento largamen1·t> empreg-a do rra Í'poca) , h<rl-
d e pou co afeita à "promiscuidade" ou ao "co le- cóes cur vos, os indispensáveis porm enores p e la
Ü\'ismo " da moradia em altura, um projeto com manutenção dos muros ( p eitoris, pingadciras) c
p la n ta c infra-estrutura b e m resolvidas (vale algumas aplicações de gosto Déco no térreo y ua-
le m brar que os prim eiros arranha-céus no B rasil lificam as f'orm<rs simples da obra; simplic idade,
tin ham péssima resolução de planta, pelo inedi- entretanto, sem p e rda d e dignidade- destoando
tismo da tipologia), destinado a usuários de bom elo rehuscam e nto decorativo típ ico da ocasi;'ío. O
padrão econômico - quando ainda a casa c o j ar- Columbus está muito mais para conteúdos racio-
d im eram va lores altame nte considerados num nalistas q ue preocupações de fachadas Déco.
a m biente arquitetonicamente conservador. O A simplificação decorativa por geom etri-
Co lu rnbus (ho je d emolido) e ra u m edifício ele zaçõcs derivadas das es truturas em concreto ti-
d ez andares com uma massa robusta que se des- nha razões pragm;iticas crn ed ifícios a ltos. Sa-
w.cou na paisagem da época. Seu exter ior não foi muel Rod e r ( 1894-1985) , e nge n h eiro-arqniteto
propriamente uma ap licação do moderno perre- forrnad.o n a Academia Imperial de Belas-Artes
tiano, mas tributário do racionalismo italiano na Rússia em 1917 e auxiliar ele Barry Pa rker em
formalmente d espojado: paredes lisas revestidas São Paulo - e ainda urn dos primeiros a p n~jet a r
coin argamassa de cimen to branco, cal, a reia, ern linguagem Déco na cidade, no final dos anos
g r ão~ de mármore, g ran ito, quar tzo e mica (aca- de 1920, calculando suas pró ia~ csl rtlturas em
66 • ,~ trqui eturas 110 Hmsil

concn:to ar mado-, afirmava cpw !lão via senti-


do e m d ecorar arranha-céus com ornamentos
qu e não seriam visíveis ao obser vado r n a rua ou
qu e implicassem a especi ficação de o rn amentos
em tamanho compatível para serem apreciados
à distância, cncarf'<e nuo a obra [Segawa 1985b 1.
Essa lógica não pode ser tomada como tínicajus-
tificativa da supressão ck elementos decorativos
tradicionais, mas é certo CJUC muitos e di f'lcios
dessa époe<t osle raam o rnamentos que, vistos d o
ch ão, não nos fazem suspeitar da d im en são des-
sas peças, hem corno smrs implicações con struti-
vas c o rçamen tárias.

VERTENTES RACIONALISTAS:
AS OBRAS PÚBLICAS

Pam rir<sgwra do Brnsil, " ~ grandrs nportuniria-


rfps arq uit1 LÔnir~ surgiram w11w 'lue por ''fJid,•mirt,
depois da rrvoluctlo. O 11l011wnto teria sido jJrojJício
jJam SI' rrgnnrm monuwttmlos de a rte, condúionados 26. Fleming Thi csen / Pre nticc 8.: Flo d e rcr: clcYador L.•cl•rcla ,
ris nossas ju•culiares PXigÍ>ncios mesológico-.1oriais. Salvad or, ~A. 1!}~9.

E.\to!JI'lro• n-sp tt111 padulo ínfimo, miserá1n•l, a m ixa


d'ág-ua 1'1171id·raçarla que sr1 imjilrm tou em aula hoir
Til à guisa de esrola municipal. () mrsmo padriio
t.ada no in ício d os a nos de 1920 com a Compa-
peslrnn o cidadr, i nfiltrrmdo-sr nos mimstérios. nhia Co nstrutora ele Sanros e a empreitada de
Sob o m:c;umrulo muito sedutor de qur I'.Ul' gênero r/11 levanta r int'r mcros quartéis a várias ·regi ões no
arquitl'lnm dt• baixa classt• é bamtíssimo, u:. hrn1w11s Brasil, como vimos ant.eriormcn Lc .
do gmwrno não h r ' . ~ i lorn em adolrí-lo. Quando tiver
São Paulo e Rio de .Jan e iro experi m e n ta-
passado de e.1lujJidn, olhando fmrn os
rs.1a onda
ma:.to<io11tes de rimr111o ondr• se alojam a fnero.l d1'
ram , logo a pós a ascensão do presidente Getú lio
qui/ando os nobrf's edifícios fní./Jliros, as geracões jú- Vargas, uma proposta d e re formulação da :m;a
turas fJoderrio rm j ustiça julga·r o Tmlgm-idarlr da épo- educacional- reflexo das transformações preco-
ca em quP ,,_,/amos TJivtm rlo. nizadas p e lo disc urso dos r evo lucionários de
1930 - , esforço que re dundou também na elabo-
.J OSÉ .\1AIUA:\0 FTUlü , "A Sovielização ct a Ar- ração de m odelos de e difícios escolares .
q u itetura Brasileira·· ( l943, p. 241 As linhas geornetrizan tes foram caracteri-
zadoras da arquitetura escolar dessa época. Toda-
via, n ão se tratava somente de uma preoc upação
:'\los anos de 1930, conceitos como funcio- estética. Isso se de prcende elo trabalho que a
nalidade, eficiência e economia na a rquitetura - Secr etar ia da Educação de São Paulo ll 936] de-
termos próprios de equações raci o nalistas - tive- senvolveu com a Di retoria de Obras Públicas do
ram firme apli ca~:ã o em obras públicas. l3oa pane EsLado de São Paulo: uma série de tópicos funcio-
delas, projetos e obras d e repartições oficiais de nais, programáticos c p edagógicos - o ri e n tação
e ngenharia e arquite tura. A racionalização admi- do edifício e dese nhos de j a ne las, organização do
nistrativa e coustr utiva foi largamente cxpe rim en- programa mínimo de de pendências, acabamc n-
Modr•mirlacle f'ragmrítim • 67

ros - fo ram d estacados como ele me ntos determi- tração. a palmató ria e o decuriáo " [Sec retaria ...
nantes para u m novo modelo de prédio escolar. 1936, pp. 63-65].
José :\1aria da Silva Neves (18%-1978), e ngenhei- Pouco anterior à iniciativa d e São Paulo, a
ro-a rqtt itew responsável por inúm eros desses nova orientaç;,io p reco ni zada pelo educad o r
projetos, citava arquitetos como Mall c t-Stcvens, baiano Anísio Teixe ira com o d iretor d o Departa-
Le Corbusier e Piacentini , conceituando: me nto de Educaçáo d o Distrito Federal a partir
rlc 1\B l rt>dundo n na ref'or mu hu,:ão do programa
F<tt-<:: r ;trquilclura n;1o {· somcnl!· cons truir r~ c h a­

das. A arquilelttra é fnnç;!o dos processos d e <'011s trn-


educacional da cidade do Ri o de Jane iro com
cào d" época. O grande a nptil eto de u111 a é po c:~ é o se u refl exos na arquite tura escolar. Estabe lecendo
e'tado ~oc i a l. Ac ima das ohra s, a c in1a dos pn>gnunas uma fam ília de cin co tipos ele escolas, de acordo
l':.pcciais. h ít o programa dos programils: a c ivil il a ção corn um plano pedagógico e labo rado por Teixei-
de cada séc nlo,- a ré o u a incredulidade. a d e m ocr acia ra , a Divisão de Prédios e Aparel hamentos Esco-
ou a aristocrac ia. a sneridaclc o u a desmo t · a l i~ a ç;i o elos
lares do Departamento de Educação da Prefeitu-
cos tumes. [ ... ]
Seja111os a rt istas elo nosso te mpo e 1en' 111os Jt•;II i;.a- ra do Distrito Federal projetou ~H prédios a té
do uma nob1-c missão. 1'\ão podemos admitir h oje uma 1935, com a participação de a rquitetos como
arq uitetura q ue não se ja r;t cional , pois, a esco la d<' \'(' En é as Silva, Wladimi r Alves d e Souza (n. e m
apro,·e it.ar d e todo o co nforto d as co n sl ru ç ões mod er- 1908) , Paulo Camargo de Alme ida ( 1906- 1 97~) c
nas . de torlns ns conq uistas da c ii'· n c ia no scnliclo el e
Raul l'cnna Fir m e lSisson 19901. José Ma ri a no
realilar a p c r fc ir iio sob o ponto de vista da higie n e pe-
Filho, defen sor da adoção do n eocolonial n a ar-
dagógi<:a . L... j
Fa 7.er a rqui tetura moderna não sig n ifi ca co pi a r o quitetura escolar, cleHagrou raivosa cam pa nha na
ü lti1110 l'ig uri110 de l\1oscou ou de Paris. A arquitetura imprensa contra a proposta dos novos edifícios
r ac iolla l ex ige o e mprego de mal e ri a i ~ daregiüo, a 1<'11- escolares. Mariano os classificava ele "estilo arqui-
cll"nrlo ils co ndi ções de clima, usos , co~tu1 cs ele. Obe- tetônico 'caixa d 'úgua"', com "ligurino comunis-
decendo a esses p rincípios básicos, criaremos um est i-
ta", inspirados em "alguns mode los corriqueiros
lo origi11al p ara cada povo .
Niio deve haver te mores quanto à monotonia da
de escolas alemãs ou russas, ahstr(l ind o-sc d e ra-
a rq u ite tura. cioci nar que elas lerão de lida r com fatores
mesológicos que não foram considerados pe los
E. iro nizava os defensores da linha neoco- arquite tos europeus que as conceberam muito
lon ial para as fac h adas ele escolas: "Se adotásse- de acordo com as condições locais de seus paí-
mos nova m e nte a rótula, a taipa ou a ensilharia ses" f:\1 ariano Fil ho 19'13, p. í 6, f)(lssim]. Projeta-
ele pedra, deveríamos também voltar para a sole- das por Enéas Si lva, er am con stru ções de baixo
c usto (scgtmdo estimativa do amor elo p n~j eto)
em estrutura de concreto a nnado e fecha mentos
de alvenaria, co berturas ern te iTaçojarcl illl, cir-
culações c ve ntilações cuidadosamente a nalisa-
das em função do prog-rama p edagógico e acaba-
mentos padronizados. Segundo o p rojetista,
O aspect o arqu iretôn ico d C'SI:tS r on stnu; ues é pura-
m en te funcional. Não !oi seq uer ol~j e to de c onjec turas,
quilisquer es tilo clássico ou regional. Rit111o p lásti co
o b tid o mercê elo próprio part id o a•·q uite tôuico a do ta-
d o e m plan 1a, as 111assas p lenas singelamente coloridas
em vermel h o, alaranjad o e verde-cla ro e os vã os d e
esqu aclt·ia recortados de luz c som bra. bra n co c n e gro
27.Jos<' M ari ;~ d a Silva N<·v<'s / Dirt>tor ia ele Obras Pt'1bl icas
se h armonizam , se c om plcta u1, da lJ do ao çonjunto um
do Esta do dl" São l'<lllio: Grupo Escolar Visconde cic as pecro ntracntc c sugestivo à jovial idad e caracte rísLica
Co ngonhas do Campo . São Paulo . r. .l9~fi do p e queno escolar. [ .. . ]
6& • ll rqn ireru m s 110 Brasil

~ ~:; ~ :;b
.tâ~ " - - ~ -.C -~ ~
y- .... . . .. . ,-{:-= oi.·· ··. ~

29. Escrítú r io T écni co J- G ant a Malche r : Gr-upo Escolar


Villwna Alv<·s, 1-klé rn , PA, c. 1038.

~- ,;._ 'l'

2X. I·:n h l' Silva/ D ivisão ele Pré<líus e i\p a re lh:"llll<"ll to s f.sco-
la r c s d o De p <lll <t lllt' ll (o de Edncll\' iio do Distr ito Fede r ;)):

Esco la Argenti na , Rio de Janeiro , c 193')_

30.Aif'xa nd er Budde u s (atribuíd o a ) : l n s t íwto cll" Ed uca-


( <i o da B a hia , Salvador. UA , 1 9~1 7 - 19 ~9 . F o to-co r tes ia d e

Pau lo O r mind o de "-\Le l'êclo.

Conc epç ão p ura men te b a seada e m efic iê ncia e eco- sen (a mesma do Elevador Lacerda) e é u m com-
nom ia , realizam d e fa to e sses prédios em tod a sua ple- p lexo de edifícios ligados por passarelas e entre-
nitude, o s car · :~ r i Prí s tí cos para o s quais for am proj e ta-
m e ados com quadra, piscina e áreas de recre io
nos e con struídos. [Silva 1935, p p . 36 3-3 64 j
claramente identificados com a arquitetura racio-
Todavia, do pon to de vista do conforto am- nalista como propagada por Sartoris em Gli Ele-
biental, as escolas efe ti vamen te foram mal-suce- mm ti Dell'ATchitettura Funz.ionale ( 1931). Atr ibui-se
d idas. a autoria do projeto a Alexander Buddeus [Aze-
Em Be lém , a administração do interventor vedo 1988], arquiteto belga radicado no Rio de
Gama Malch er (1872-1956), e n tre 1937 e 1943 J an eiro n o início dos anos 1930 (ver o próximo
(na vigên cia do Estado Novo) , executou alguns capítulo , "Modern idad e Corrente 1929-1945"] e
edifícios escolares de linhas moder nizantes, ain- que anteriormente havia proj e tado o Pavilhão
da que n eles p revalecessem antigas regras de si- Hanscático Germânico da Exposição de Antuér-
metria. Mas o e difício escolar mais importante li- pia e o Ae roporto de Muniq u e [Santos 1977] .
gad o à linguage m d a a rquite tura ra cion alista no Buddc u s foi o a rquite to de outra notável obra
Brasil foi realizado em Salvado r. O Instituto de racionalista e m Salvado r: a sede d o Instituto do
Edu cação da Bahia fo i con str uído entre 1937 c Cacau , realizada em 1933-1936 pela Christiani &
1939 pela em presa dinamarquesa Christiani & Niel- Nielsen. Era um edifício construtivamente sofisti-
1\1/odemid adt' Pra;;málica • Ó9

(·ado. com lajes-cogumelo e estrutura para abrigar de .Janeiro e a Diretoria de Arquitetura e Cons-
-.alão para armazen amento, com equipamc mos tr ução de Pernambuco. Essas iniciativas serão ob-
e peciais como esteiras subterrâneas automatiza- j eto de estudo no próximo capítulo.
das para transporte de sacarias até o po rto, auto- Decerto, o mais ambicioso projcro nacio;.~ l
claves para expurgo do cacau, controle de umida- de normalização arfplite tônica oficial estabeleceu-
de intern a por m eio de ven tilação forçada c se no âmbito do e ntão Departame nto de Corre i-
filt ros in stalados na cobertura [Azevedo 1988) - os e Telégrafos. Num esforço ele reequipamento
um edifício inclustrial de eficiência c imagem coe- do sistema, os anos de 1Y30-1940 conheceram um
ren te com as realizaçôes fabris reproduzidas por esforço d e aperfeiçoamento ela infra-estrutura de
Grop ius no fnternationale An:hiteMunl c 1925. edifícios mediante o pr c ~ eto e a construção de se-
No Rio Grande do Sul, a Seção ele Arq ui- des r egio n ais nas capitais c agências das princ i-
te tura da Diretoria de Obras da cidade, ch efi ada pais cidades brasileiras: Belém, São Luís, Teresi-
por Chris1iano de la Paix Ge lbcrt dese n vo lveu na, Fortaleza, Natal, Recife, Maceió, Aracaju,
projetos ao gosto Déco, como o H ospital de Pron- Salvado r, Vitó ria, Belo Hori1.on te, Cu ritiba e Flo-
to-Socorro (1940-1943), o Centro ele Saúclc Mo- rianópolis fo ram a l ~1m as das capitais contem pla-

delo (1910-1913) c o Mercado Livre (1943) [Sil- das; Campo Grande, no Estado do Ma10 Grosso;
,.a 1Y4:1; Wcimcr 1YHY]. Juazeiro, Alagoi n has, Feira de San tana c Tlhéus,
Duas outras repartições públicas se carac- na Bahia; Colatina , Cachoeira de I tapem i ri m , no
terizariam nos anos de 1930 por sua aproximação Espír ito San to; Friburgo c Tc rcsópolis, no Rio de
à linguage m racionalista: a Dire toria de Enge- Janeiro; Poços de Caldas, Cambnquira, Lambari ,
nharia da Prefeitura do Distrito Federal no Rio Caxamb u e j ui z ele Fora, em Minas Gerais; Uru-

3 1./\11:-xatu ler n u dde11s: l~t s l il l o do Ca ca11. Salvador, !lA. 1933-193G.


70 • /1rquileluras no lirasil

3~_Chri l iano de la P<1ix r..-J lwr f: ll t"pítal de" Pronlo-Soco r ro, Porw :\lc!{l·c , RS, 1')40-19,n _

guaia na, Alegrete, Caçapava, Taq u ari , Pira tini , rim·es de linhas gcornctrizada:>, alg urn lls ao gosto
Caxias do Sul e São Bo 1ja, no Rio Grande do Sul , Déco. A ag-ência de Salvador foi criticacla na épo-
são algumas cidad es que oste nt am agências con s- ca pela imprensa local , qu <1 li ficada como "cúhic:a "
truídas nos anos de 1930. Em dez anos, o gover- e "pouco adaptada ao nosso clima pelo uso abun-
uo federal constru iu 141 agt'-ncias em todo o Tira- danLe elo vidro e falta de varand as de proteção"
si! [Schwartzman 1982J. O e nt<io Departamento [Azevedo 1988, p . 161 . A maioria dessas agênc ias
el os Corre ios e Te lég rafos, em 1932, contratou continuam em funcioname nto. É possível que essa
vários ar<.JUÍtctos no Ri o de .Ja neiro (en tre os apu- políLica arqui te tôn ica moderna tenha se inspirado
rados, Raphael (~alvão (n. em 1894). Paulo Can- na ação dos Correios e Telégraios da França.
d iota c Mario Fertin), fornecen d o-lhes ttm pro- Essa ab ra ngên cia u aciunaltam b é m carac-
gram a funcional pormenorizado e fotogra fias elo terizou a iniciativa privad a, em vários sentidos.
local do futuro cditlcio. São edifícios es trategica- Constru toras como a Ch ristia ni & I\ielsen espe-
mente localizados na malha urbana (parece haver cializa ra m-se em obras de grande pon e com re-
um predomínio em lOLes de esquina), carac teriza- fe rê ncias modernas e m várias panes do Brasil; a
dos p or evidente separação ele acessos ou por c ir- Construtora Comercial e Industrial do Brasil foi a
c ulações independ en tes conforme hierarC]u ia respon sável pelas obras ta nto d a moderna agf:n-
fnncioual, amplos sa lões de ate ndim en to propor- cia dos Correios e Telégrafos de Salvador quanto
cionados pelo e mprego de estruturas em concreto de um a escola municipal no Rio de Jan e iro pro-
armado com grandes vãos e despojados de decora- jetada p or Enéas Silva. Nesse sen tido, a Co mpa-
ção (agências impo rtantes, como Salvador, osten- nhia Rras ileira Imobiliária e Constr uções e m Sal-
tavam interiores com motivos marajoaras; Belém vador deve ser destacada corno uma empreiteira
possuía imponentes c caprichosos gradis) c ex te- q ue d ih.mdiu a nova arqu itetura na Bahia [i\zcve-
,YJ odernidade /'·r agmática • 71

33 .Deparlamenlo de Corre ios e Telégrafos : agência de Belo H o rizonte , MC, rlécarlas de 1930-1 940 (;i esq 11 rrrhl ); l.ni z
Sig n o relli , Preft>it m<t de Tklo TTorizonle, MG, 1936-19?,9,

34. D ep ar l ainenlo de Cor re ios c Telégrafos: agência de

Cnt'il iha, PR, 1934.

35.Depanamento de Correios e Telégrafos: agê n cia postal


relegrMica I ', classe, proj eto n " 90 . 1934-1 936. A agê ncia
de Barbacena, \H;, ro i co11slntída co nfo rme o p adrão ,

36 . Depar tamento de Correios e Tel (:grafos: agência p ostal


telegráfica ti po especi al parl ron izad<t , projclo n ' H5 , 1934.
As agênc ias de Car a n gola e Cataguases, :VIC , de I r.abuna,
BA, e ele .Jaú. SI', !o ram construídas segundo o modelo.
72 • ; I rq11 itl'tt!IYIS no Brasil

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3i.Rohrrln Capl' llo: edifício Snlac~p. Bl'lo Horizonte. M(~, 19·'11.

do 19t>t>]. No setor empresarial, a Sulamérica Ca- convivência pacífica entre circunspectas obras tra-
piwlização (Sulacap)- empresn de investimentos dicionalistas, exóticas casas ncocolo niais c geo mé-
-foi uma gr:mde empn: endcdora de edifícios tricas consLruções modern i:t.an t<'S em suas
comerciais de alto padrão e arquitetura de ponta, ecléti cas páginas, mas com leve p redominância
com linhas moc!erncts. São demonstrações dessa das linhas modernas - ampl iando-se esse domínio
iniciativa vários ananha-céus projetados m1 segun- ano a ano, mais nos programas tlc úmbito coleti-
da m etade dos anos de 1930 nu Rio de Jan eiro, vo- prédios comerciais, terminais de transporte,
em São Paulo, SanLOs, Salvador, Belo I-loriwnte mc~:ados , clu bcs etc. - c menos nas obras resi-
c Porto Al egre, empregando profissionais do clenci;:tis. Boa parte dcs:~ obras resultavam da
Rio d e .Jctm:iro para pr~jetá-lus . ausência de um id eal estético defi nido, configu-
ran d o puro forma lismo de fachada. O Art Déco
conq uistava arleptos populares ao ser adotado,
DILUIÇÃO E ENGAJAMENTO em linhas mais simplificadas, nas vilas operári as
DE UMA MODERNIDADE em singelas moradias con hecidas como "porta-e-
j«nela'', em todos os q uadrantes do Bras il. Cida-
des constru ídas nos anos de 1930-1940 são verda-
Na segunda metade dos anos de 1930, as deiras con centrações ele arquilelura popu lar de
arquiteturas "cúbicas" e Art Uéco disseminavam- gosto Déco, nas mais variadas interpreLações pos-
se entre os profissionais de várias regiões elo Bra- síveis e imagináveis.
sil. Em duas revistas de arquitetura surgidas nes- A agitação provocada pelas paredes lisas e
sa época, A rquitetu·m e Urbanismo ( 1936, no Rio de sem ornam entos de Warchavchik, em 1928, esta-
.Janeiro ) e A crójJole ( 193H, São Paulo), havia uma va Lranqüilamcnte assimilada menos de d ez anos
M orlemirlru/,• Pmgmrítim • 73

·depois, às vezes pelos mesmos profissionais que ção decaía no gosto elos arquitetos c era pratica-
se p ostaram con tr a a inovação. Da mesma fo rma, mente abandona do n<:t década de 1940. Da a r-
arquite tos que cerraram as primeiras filas pela quite tura de linhas georn etrizadas dos anos de
arqu ite tura mod e rna d eixaram o dogmatism o 1930 d erivaria urna arquitetura monumental que.;
renovador de lado por um rel acionam ento me- tomava em p r e stadas soluções composi tivas de
lhor com uma clientela conservadora, ignorante grand es massas do ensinamento Beaux-arts. Era
ou indiferente, in capaz de c riteriosarnente fixar mn a tendência q11 e se acentuava na Europa de
urna opção arquite tônica. Foram poucos, a liás, c rescente inquietação política, com a ascensão
que seguiram fié is a linhas arquitetônicas defini- d o nazismo e elo f'a scismo , visto com simpatia e n-
das e acompanharam o desenvo lvimen to das re- quanto ideologias de discurso n acionalista c
ferências modernas dos anos ele I ~20. Sequ e r f'omen tadoras da arte como manifestação de
Warchavc h ik - radical ao abr açar e propagandear uma c ultura própria e apr opriada.
os conce itos da vanguarda eur o p éia - fo i ortodo- No plano arquite tôni co, essa visão mate-
xo nesse sen tido, derivan do a sua obra a partir rializava-se em concei tos e obras q ue nã o passa-
dos anos d e 1940 p ara o lugar-comum do me rca- ram desperceb idos no Brasil. Alfredo E rnesto
do imobiliário elas elites sociais d e São Paulo. Becker, arquiteto atuante em São Pa ulo c con-
Boa parte dos arquitetos que praticaram o sultor da re vista Acrópole, fazia vaticínios sobre o
moderno "à Perret" não se e ngajaram no proseli- fu t uro da arquite tura a partir dessa te n dência.
tismo deLe Corhusie r 011 no raciocínio à Rauhaus. Admirando a a rquitetura do M useu de Arte Mo-
Os arqu itetos alemães no Sul que operaram co rn derna e o Pavilhão Italiano na exposição Arts P-t
linhas modern as ou se alistaram nas filas do na- tP.clmiqu.es dans la vie moderneem Paris, e m 1937,
zismo ou foram acusad os como simpa tiz antes bem como o estádio de N urcm hcrg, na Alemanha,
l Weimer 19 ~ 9]. O A rt Déco como orna menta- Becker qualificava esses projetos como "obras-pri-

:JH.Casas popula res na zona le ste de São Pau lo . As refonnas nas fachadas re gi str am os m o dismos arquite tônicos de várias
é· poca s.
74 • Arquiteturas 110 Bmsi/

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~f).Crandc e ixo d a ~ :x p os i çâ o do Ce rllen :Ori o rl~ Re, · o l uç~io Farroupilh" e m Puno Alegr e, RS, 19 ~ 1G. Fuw-concsia ck Gün rer
\'\'e i n u ' r.

w as l...] pod endo mesmo servir de p ontos de par- ponto as di vü~as n a ci onali d a d e~ co n segu iram i rn pri-
tida para a scdimenlação definiti\'a da arquite tu- rnir-lh es o s seus ca racte rísticos p r ó prios [Bcckc r 19;)H,
pp. ê \1 - ~5 1'
r<l contemporânea":
Essa arquitetura monumental- qu e po de
Em qu e ron sis u:m , no e ntanto , a importânc ia e o
se r classificada como um mo d erno inspirado nos
v;r lo r es té tico dessas uhras? A resposta a esta perg u nta
arquétipos "clássicos"- con stituiria ontr·o arqué:-
pode se r resum ida n 'l d e fini ção qu e se segue: vo lra às
ant i g<~s t> indes trutíve is co n ce pções dr be lc:w , p an icu- tipo : a configu ração dos c en;;'trios de ideologias e
lar cs às r ;~ças brannts e qu e h á milh ares de a nos j á e n - governos a utoritários, d e direita ou d e esq uerda.
contrado I sirj i\s suas se d ime ntações mais p erfeitas, A implantação do Estado :-.lovo no Brasil , com :1
m ais cri s talinas e mais si nt{· tica s, n os estilos "cl ássico- permanênci a do pre sidente Getúlio V<~rgas à
gr<'go " c "clássico gr<'gn-roman o ". F.ste retorno , conin-
frente do poder, e nsejaria os â nimos pela m anu-
do, n ão si)!;niíica submissão se r vil o u m e ra reedi ção d e
r ca li zaçÕ ~S ( antigas, p e lo co ntrári o p rm·a o ressurgi m e n- te nção das veleidades d essa arqui te LUra. São P<~u ­

to in doruáw l de arquétipos, que as n r-woses arrísticas lo oste nta uma d as obras mais prox imam e n te re-
elo "Art nouv!';m ", elo "Fururi sm o" c do "Uri lita rismo à presentativas dessa li n ha: a antiga sede do grupo
Le Co rbu s ie r ~ tinham consegui ndo ''r ecalcar" pa ra as empresarial Matarazzo, edifício numa das vistosas
mais p ro fun <i;~ s esfera s do su bconscie nt e . [ ... ]
cabeceiras d o Viadul'o d o Chá, no coração d a ci-
O r ess urgimento dos "arqué tipo s" da an e a rq nile tô-
dade, proje tado pelo arquiteto oficial do fascis-
ni ca o p e rou-se, no c ulre tanto, evo lu ti va rn ente- quer
d ize r·, de acor do com o ambien te e co m as n ovas llC('(' S- m o, Marce llo Piacen t ini. Um exemplo d e espaço
sidades da nossa é poca, d a ndo em result::. clo real i?ações <~b e rt. o dentro dos princípios monume ntais des-
infditas e de r ara b eleza [ ... ] c qut> mos tram a té fJliC se pensamento é o grande eixo do Parque .Far-
Modt•rnir/(lr/t> Pmgm.ál ú:a • 75

C h ristian o Stoc kler das N~:ves : M ini '"'rio d a Cll<' rra ,


R • de .Janeiro, I '1:'1'1 , postal de l !)5:1.

'"O up ilha em Porto Alegre (que abrigou a Expo-


,icão do Cente nário da Revolu ção Farroupilha,
anterio rmente mencionado). Esse m o numenta-
li~ mo serviria a programas arquitetônico-ideoló-
gicos tão distintos como a Faculdade de Medici-
n a d e São Pa ulo ( demro do p adrão hospi t.alar
norte-america no ela Rockefd.le r Foundation ) o u
o Ministério da Guerra no Rio de Janeiro (1937-
1941) , projetado por Christiano das Neves ( 1889-
l9H~) rLima 19901.
As grandes cidades brasileiras n a virada da
década de 19:30 para 1940 tiveram suas fis io no-
mias alte radas sobretudo com o adensam e nto ele
seu s núcle os antigos ou áreas lindciras. Essa ocu-
pação se processou sobretu do com a vertical i-
zação, com a construção d e gran diosos volumes
e m concre to armado - no imaginári o ela é poca,
sig nos de progr esso e modernização- in seridos
em lotes definidos por padrões de divisão fun- 4 1 .Arnaldo Gladosch: cdíliciu S ula ~, a p , Porlo Alegre, RS.

diária do período colon ia l c d o Im pério. As te n- I O:lR-1 949.


76 • Arquiletu ms 110 JJrasi/

tativas d e p lanej a me nto urbano nesse p e ríodo ministérios, alguns criados a pa•-tir de 1930 com o
b uscaram algu m a d isci plina. Alfrcd Agache foi preside nte Va rgas. Dois d esses edifícios chamam
um dos prin ci pais teóri cos elo modelo de rlese- a atenção pe la oposição ele composturas, embora
u ho urbano en lrc o tina! dos a nos ele 1920 à dé- 1 · i ~or os ament co ntemporâneos e n tre si. O Mi-
cada de 1910, for mulan do planos para o Rio de nistério da Fazend a ( 1938-l 94.3). p roj e tado por
Jane iro e C uritiba c um segu idor seu , A rn r~ ld o uma equipe coordenada pdo e ngenhe iro Ar y
Gladosch, responsahi liza ndo-sc po r um pla no Fonlüura de Azambuja c com projeto do a rquite-
para Po rto Alegre. Gladosc h, nesse sentido, foi to Luiz Eduardo Frias de Moura (Cavalcanti 1995],
um arf]uite to q ue projetou edífTcios q ue bem re- é um monumento típico d o moderno "classiciza-
presentam um conce ito de implantação d e gran- do" pela sua simétrica e m aciça volu me tria assen-
des o bras n a paisagem u rb <ma d as cidad es orde- t<lda sobre toda uma quadra, e moldurando a pra-
nadas nos m oldes à Agach e: o e difício Sulacap ça d o Expcd icionário (ou emolcl urado por ela).
e m Porto Alegre (p r ~jetado e m 19 ~8 , concluído Ao seu lado , o Ministério da Educação e Saúd e
em 1949) é um p aradigma de boa qualidarle da ( 1936-194!'>), proj etado p or Lucio Costa e equipe,
arf]uite lura P ' 1r:-~ fins comerciais d esse período. um prisma sobre pilotLç, vir tualmente libe rando o
No Rio de .Janeiro, a esplanada do Castelo nível rérrco para circulação e jardins: um edifício
-res ul tado do desmonte de um m orro no centro qu e imp unha uma m o numen talidade não pe la
da cidade -foi uma das áreas em que se respe i- imposição física de su a presença , mas exatam en-
taram as recomendações do Plano Agache. Nes- te pel o co n trár io. Era outra a mode rnidade, a
se espaço foram construídos ecliHcios abrigando qu e se formulou na d écada de 1930.
5

MODERNIDADE CORRENTE
1929-1945

f) pvfl! qui' estou na AmPrica querem .fazer dr mim um filósofo.


Dizem que defendo idéias filosóficas. Pouco uu1 importa o qnr jJP.nsrm.

l.F. CORI3USIER, anotação no Rio rlc Jane im , 1929 IS:1n tos f't ai 19R7, p. fi!'>]

Em outub ro d e 1920, Char lcs-Ed ou ard d u ção literária d e Le Corbusie r. Lucia Costa lem-
Jeanneret c Amédée Ozen fant lançavam u prí- bra que foi seu con temporâneo d e escola, .Jayme
me in.> número da revista L 'Hçfnit nmweau., pnhli- da Silva Telles, fo nuauo em 1926, quem chamou
cação·q uc d urou até 1925. Foi o início da carrei- a ate n ção em anta para C&fJrit nouveau [Costa
ra do "hommc de le ttres" (como se q u alificava 1962, p. 192; ver também o e<1pítulo "Modernis-
profissionalme nte no passaporte), o jovem su íço mo Programático 1 9 1 7 - 1 9~2 " 1. ( ~ r egori Warchav-
Jeann erct, qnc logo p assou a assinar com o Lc chik, em seu manifes to moder ni sLa d e 1925, vi-
Co rbu sier. Até 1922, onze brasil eiros constavam sivel men te veiculava algumas idéias de Vers une
como assinantes da revista. Entre eles, o s moder- arrlúlecture ( 1923, livro-reun ião de art igos p u bli-
nistas d e São Paulo, Yfário de Andrade e Oswald cados em L'EJfJrit 1uruveau) . Em uma viage m com
de Andrade, o estudante da Escola Nacional de J1 n alidad e téc ni ca em 1927, o d ire tor da Repar-
lle las-Arres Jayme da Silva Telles, seu irmão, o ti ção de Ág uas e EsgoLus d o Eslado de São Pau-
engenheiro-arquiteto Francisco Teixeira d a Silva lo Arthur Mo l.La (1R79- 1936) adqui ria em Paris a
Telles (n. em 1886) , e o enge n he iro Ro he rto Si- nona ed ição d e Urbanisme (primeira cdiçiio: 1925)
monse n , d a Companhia Co nstruto ra de Santos c o Alrnanach d'anhilectuTe modeme (1926). Em
[Santos et nl. 1987, p . 39]. í.: dif'íc il saher quantos 1929, o pern<Jmbucano Aluizio Bezerra Cominho
c como muitos brasile iros tive ram acesso à pro- (n . em 1909) doutorava-se n a Faculd ade de Me-
78 • Arquilt>luros 110 Rr({Sil

tlicina do Rio de J ;,neir o com a Lese O l'mh!PIIW Ministé rio da l•:ducaçilo e Saúde . Não se con he-
da habitacüo hip,'iênim nos paísf!S qwmlt•s emfaa da ciam pessoalm en te, mas constituiu-se um relacio-
"11rquitetum Viva'·. Nesse trabalho, defend ia o namen to qu<.: perduraria cloravan le. O arquiteto
conf'orto ambie n tal c a funcional idarle na l!abi- foi indicad o com poderes plenos p<t ra reformular·
la<;Üo, citando \lers UIU' arrhi!Prlure c Almanarh o e" nsin o acadêmico minist r<t do na ENBJ\.
ti 'ardzilett1uP moderlll' [Silva 1988] . A princípio, a sua nomeação foi bem aco-
O ano de 1929 seria fundamental para a lhida pe los artistas c arCJll itetos 1rarl icionali stas.
d issem inaç;io das idéias d<' I.e Curhusier ua Am é- Lucio Costa até então ti nha deseirvol viclo uma
ri ca do Su l. Su;,s palestras em Buenos Aires, Siin prátic.;, profissional ele arquitetura eclética t·· era
Paulo e Rio de janeiro foram ollvidas por atentas associado ao movimento neocolon ial de .José Ma-
pla téias n<1s três cicl ad<.:s. No Rio de .Janeiro, os riano Filho, ptH· quem fora com issionado em 19~ ~
cstudall(es de <n·q uitelllra na Escola !\acionai de par<t estudar a a rquit<.:tura colonial da cidade de
Belas-Artes Carlos Leão ( 1006-1983 - fo rmado em Diamantina, alé m de outras viagens de estudos
1931) e Álvaro Vital Brazil (formad o ern 1933) rea lizadas em 19~6-27; projetou também obras
passariam a aco mp;mhar a obra corbusieriana; a c vc nc<.:u con curso co m ]Jroposras n eocolon iais.
engenheira civil Carmen Portin h o (n. em 1906) Todavia, e m 1930 ele j á se havia desinteressado
confirmaria suas impressões ao vivo, antes <ip<'- por <.:ssa corrente , e a tra nsformação dos cursos
nas vislumbradas na leitura das publicações rsc- da ENBA se procedeu com o afasta mento do cor-
gawa 1988aJ . F.rn S;LO Paulo, L<: Corbusier ro- po docente academiza nl e e a contratação de pro-
nllccerb Cregori Wan:l!avch ik e o con vidaria resso res aliuhaclos com conceitos de a!l.e m oder-
para ser delegado do l.T.Au\1 para a A111érica do Sul na. Em arquitclura, Lncio Costa chamou Gregori
[ver capílulo "Modernismo Progralll<Íiico 1917- v\Tarchavch ik (que conlr<.:cia apenas pelas no tíc i-
1932"], b<.:m como travaria contato com Jayme da as de suas experiências moclernis1as em São Pau-
Silva Tcllcs c Flávio de Carvalh o eur reunião na lo e qu e n<.:ssa oportuni dade estava construindo
casa do arq uiteto russo lFerraz 19fi:Jl. O rclaw a casa Nordschild e reformando um aparta me n-
dess;1 viag-em Lc Cor·J1usier fez em Précisions S'/11' un Lo, uo Rio ele Janei ro), Nfomo Edua rdo Rei cly
é/ai prést>nl dP l'arrh.itec/UJY' "'de l'urbanismt), publica- ( 1909-1964 - destacado ex-aluno formado <.: 111
do nu segundo semestre de> 1930. No ano s<.:g uin- 1020, que se tornou assiste nte de ·warchavc hik )
te (senão aulcs), o livro estaYa à venda no Brasil. e Alcxandcr Buddcus- arqu iteto bdga, talvez
po uco mais novo qu <" Warchavchik (segun do de-
poimento ora l de Costa ao autor), que chamou a
A REFORMA NA ESCOl .A su a atenção por uma obra na rua ela Alfândega,
NACIONAL DE BELAS-ARTES no Rio de Jan eiro. Rlldd eus leria introd ttzido n a
ENfiA revistas como Fonn e Modern Bauformen,
difundindo os conceitos elo racionalismo euro-
A tomada do poder ce n tral por Ge túlio p e u. Scguudo Buddeus: " O motkrn ismo não é
Vargas, em ouLUbro de 1930, troux<.:, no plano do urna evo lução do tradicional, isto é, dos valo res
ensino elas artes na capital do país, a nomeação artísticos do pas:~do, mas uma criação integ-ral
do arquite lo L ucio Costa para a direç:ão da Esco- do nosso tempo. A o rientação mod erna é cons-
la Nacional de Belas-Artes (Ef\:BA) . Ainda a com- Lnu.iva, social c econômica, ao passo qu<.: a orien-
pletar ~9 an os, o j ovem diretor, qu e s<.: formara tação tradic ional era artística, deco rativa, simbó-
no curso rle arq ui tetura em 1921 na escola que lica" [Santos 1977, p. 108; a respeito d<.: Bnddeus,
passava a dirigir, havia sido convidado p or Rodri- ver também o capítulo "Mod<.:ruidad c Prag máti-
go Mello Franco d e Andrade ( 1891:3-1 968), inte- ca l9~ -1 943"J.

lectual de Minas Cerais ligado aos escritores mo- A reorga ni zação da l•:N BA prontamente ge-
dernos, então chefe de gabinete do recém-criad o rou reações dos tradicionalistas. Christia no das
Modem idade Correu/e • 79

N eves, e m São Paulo, e José M ariano Filho, n o A OPÇÃO POR UMA MODERNIDADE
Rio de janeiro, pu blicaram agressivos artigos na
imprensa. Ma rian o, antecessor d e Costa ll <l dire-
ção da escola, taxo u a reforma corno "orientaçao Desligado da direção d a F.NBA, mas presti-
pe rnici osa", com a tran sformação da ENBA n u m g iado por aquel es que se revelavam preocupados
"centro p ro pulsor das idéias d erro ti stas" (como co m as ideologias modernas. Lucio Costa associa-
qualifi cava o p e nsamento deLe Corbusie r ) "por va-se, em 1931, a C rcgori Warchavchík, co111 <[UCIII
iuiciativct de um jovem inexper ie nte e ambicio- manteve um escritório por cerca de t rês anos. A
so partidário extremado do estilo nacional até a c rise eco n ô mica pós-1929 e uma tentativa d e re-
véspera de galgar o ambicioso posto" [Mariano volução em São Paulo crn 19;)2 prejudicaram as
Filho 194?•, p. 54, passirn]. atividades da con stru ção civil, e d essa sociedade
Lucio Costa revidaria pela imprensa co m resultaram a penas três r esid ências (d u as exec u-
urna agressividade à altura, assumindo uma auto- tadas) c um conj unto de casas para operários no
crítica . bairro d a Camboa [Fe rraz 1965]. Foram as pri-
meiras obras construídas p o r L u cio Costa em
Todos n ús , se m cxn:cúes, sú le 11 •os feito pasüc he , ca- linguagem moderna. At{: tins de l9ê{!), ao ser con-
nwlot<' , falsa anl'l ÍT<'Tllra l'nfim, e m to d os os se ntidos, vo cado para faze r o n ovo proje to ela sede du Mi-
tradi cionalista ou não . n isté:rio da Educação c Saúrk , l.ucio Cosia per-
As no ssas ob •·as são amo ntoados d e contradiçõ es
m anece u n o ostracismo, com pouco serviço no
s~m o m~nor s~nti d o comum . 1 . .. 1
cscrirúri o c co m paric~:ã o mals11ccdida em
O sr. José Manano cosr.mna cír.ar como modelo da
a rquite tura fa lsame nte p or ele c h amada t ra dicio nalista con cu rsos, co rn o o pr·~jeto d a cidade el e Mo n-
]nota: neoco lon ialj, de acordo com o s se us fa lsos ide- lcvadc clll Mi n as Gcrais, classificado em último
a is, o n ovo edirício d a E sc o la Norm al. l ttga r. O re tiro serviu-lhe como um período de
O s se us a •·quite los são meus amigos, vítimas, como meditação .
igu al m en te fui , d e um e-rro inicial , c me compreend e rão .
Não obstante a ten tativa de reorganiza ção
A Escola Normal pode ser mu ito b em composta ,
tudo o t[Ue tJ uiserem m e uo ~ an]UiLetura no verdad e iro
da FNRA se amparasse num quad ro de professo-
sentido da e xp ress;i o. A Escola No r mal {> simp lesmen - res mod e rni stas e a essê n cia da re f"orm a buscas-
te uma anomalia arquitetô ni ca [Xavie r 1987, p. -18] . se a m o d ern ização elo con lel'l clo cu rri c ular, as
referências de Lucio Costa p ara a sua ref"ormu-
A experiência renovadora implan tada por laçãu baseavam-se numa difusa inte rpre tação elas
Lucio Costa d uraria até se tembro d e 1931, quan- vanguardas europ éias e da p e rcepção da m oder-
d o ele foi exonerado elo cargo, so b o protesto dos nidad e num quadro d e transformações sociais c
estudantes, qu e iniciaram uma g reve . Nessa o e<t- mate ri ais. A resposLa do arq u ite to p ara José Ma-
sião, Frank Lloyd Wri g ht en contrava-se no Rio riano Filho e ra uma autocrítica pela prática
d e janeiro participando do j ú ri do segundo con- ecléti ca (como _já citado ), uma dcclanu;ão anti-
cu rso do Faro l ele Colombo e, procurado p elos tradicio nalista on antíacad emicista ("evitar qu e
estudantes, ele foi solidário no p rotesto contra o os nossos escultores e pintores co ntinuassem imo -
fim ela reforma na E NBA [Samos 1977 ] . Embora bilizados no seu rnodo de pensar c ver", escrevia
ten ha durado pouco mais de sete m eses e n ada Costa), o reconhecimento da inte rn acio nali za-
ten ha r estado da reslru tun.tção após a saíd<t rlc ção da cullura ("as cx lraordin:u-ias facilidades de
Luci o Co sta, esse período foi marcante o sufi- info rmações e comunicaçôes ráp idas [ ...] aboli-
ciente para que uma geração de futuros a rqu ite- ram o isolamento e m que viviam países e p rovín-
tos tivesse co nsciência das transformaçôes em cias r.. -1 e a arquitetura n ão pode deixar de os
curso na arquitetura mundial - consciência im- ac usar, 'clesnacionalizando-se "'), a pe rce pção d as
pensável numa estrutura conservadora como a n ovas r ealidades sócio-eco n ôm icas ("os proble-
que prevaleceu. mas de ordem econômica em tempo algum tive-
80 • Arquiteturas no Brasil

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42. Lucio Cos ta: Museu da, Miss!a·,, Santo Ângelo, RS. 19~7. T"thalha ndo como funcionário do SPHAN. o arrpliteto <·n-
rr>rllt·ou uma brillt'-lnle soluç:in para inserir uma conslf\t( ~tu nova uas inwd~ çôes das r uín as da ntissüo _jesuí tica cio sécu lo
I R. () museu - constr uído em part e com <'IPmt· n tos arquitetônico' reman escentes encontrado' na rcgiúo - (' a c~sa do
7.t>lador intq~u - sc intcligcn tenwnlf' ao co njun to monumental. Est<~ te al i~a ç<io - u ma r cfri> n c i<~ do I'" Pt'i de Lucio Cos-
ta na lorlllulaçào de uma pr ~ ti c1 arquitetônica que int!"gra o an t igo COtH o moderno- caraderi1011 o arquiteto como um
dos prin cipais rcspon~vi pelo pc n sam ('nto oficia l d o patrim ô nio lti stúricn doravan le.

ram t.amanha pre ponde rância"; "a questão social reucta no Rio de Janeiro, com a s;.t la repleta, c
nun ca esteve..: tão em evidência. As diferentes clas- q u e "cinco min utos m ais tarde saía csc.andalil'.a-
ses tendem a uma aproximação cada ve7. mais m <tr- do", acreditando ter se deparado com um '·cabo-
cada") c o rt'conhccime nLO da padron i?.ação ("u Lin o '' [Santos et al. 1987, p . 142]. O seu aprendi-
que foi a arte grega senão uma pnra e contínua zado moderno se realizaria na convivência curla
cstandardização?") lXavier 1987, p. 50]. Em ne- com o diretor da EN HA e n o ostracismo profissio-
nhum m ome nto comparecia uma filiação clara a nal, com leituras pmporcionadas sobretudo com
alguma d outrina esp ecífica da vanguarda - mes- as inrlicaçõcs de Carlos Leão, seu sócio entre 1933
mo porque, e m 1930, Lucio Costa as rlesconhecia. e 1 9~6, e dono de uma atualizada biblioteca.
O arqu iteto ad mite que, quando ass1 mtiu fora m n esses momentos que antecede ram ao
a direção da ENBA, estava em completo "alhca- convite para o projeto da sede do Ministério da
me nto", sequer conhecia l.e Corbusier e aven tu- Educação e Saúde (MES ) que Lucio Costa se con-
rava-se nesse rl esaf'io apenas com a insa tisfação verteu ao credo corlmsieriano:
do ecletismo dominante . Em cana ao arqu iteto [ ... j foi então, nessa época que tome i conhecimento a
fran co-suíço em janeiro de 1936, Costa relatava- fu n do, de verdade, de todo esse movimento que havia
lhe que, em 1929, chegar a ao meio de sua confe- ocorrido na Europa [ ...1 Aí comecei a tomar conheci-
J1udemidade Correllle • 81

men to d a obr a de Le Corbusi c r (' lll C a pi!ixone i, p01·qu c co": "a nova técnica reclama a revisão elos valores
e le e ra ex trao rd inári o, tan to na pa ixão q ue tinha pelo plás ticos tradicio uais"); não ve ndo no in temacio-
que estava fa ze ndo co m o fo i o único d actue les arq u ite-
n alismo da arq uitct ttra rnodermt q ualquer excep-
tos q u e trabalh ara m na é poca, lo d os extrao rd in ários-
o G ropius, o Mies van der Ro h e -, q ue fez u m a ab o rda- cionalidade, porq uan to o passado seria pleno de
gem com p leta do m ovimen to do pon to d e vis ta social, situações de arquilelllras "in ternaciona is", como
do pon to d e vista tecn o lógico , das novas técnicas cons- o gó rico, barroco ou o classicismo modela ndo as
trutivas. e do ponto d e \'Ísla pl:tstico, pon to d (' visl<t das arquiteturas em todos os recan tos da Eu ro pa e
a n cs. Ele re n n i<1 esses p1·opósitos a brangen 1es; os o u- Am {:rica. Um texto denso ct ~j a compreensão está
tros cu idaYa m da <~r q u it el u ra , cad a u111 fa zia seu pr(·cli o,
snbo rdin ada <ls crí ticas ao m odern ismo arqui tetõ-
su a arqu ii!'IUnJ , tuas n unca u ma a borcl<lgem glob al. lLc
Corbu sie r ] crio u u m movimento u n;l n im c n o senti do ni co em d e ba te n <~ época, de difícil sín l t'st' . Mas
de en car a r essa p ossibilidade de transforma(ões tan to n o q ual ficava clara a admiração ele Luc ia Costa
no campo d a ::\ r(jllitc n n·a e do u rba n ismo co mo do pon- po r Lc Cor husier, que e ra elogiado como o Hru-
to de \·ista socia l, pois h m·ia u111a co inc idi'· n c ia . Na épo- nellcsch i elo século 20 [Costa 1962, pp. 17-4 I].
ca est<iva mos conve nc idos d e q ue uma cois<t era vi n cu-
lad a a out ra, re ndo as m esmas o ri ge ns, n a r evolu ção
indust r ia l. Essa ar ct u il e t ur<~ nuva qu e vi nha s urgindo
destinava-se a um a n o va era soc ial. uma nova épo ca, PLATAFORMAS DA MODERNIDADE
p orq ue pan.: cia qu e as coisas iam S<' e n ca m in ha r num
sen tido wuito cla ro . H avia u m a cena ética, uma co isa
de cu nh o m o ral até, u m a pego ck não se pc:rm itir ce r-
Lucio Cosr<t pu blicou seu man iíes to mo-
tas lil>erdacles que nã o se e uq u ad rasse m be m den tro
de n w no primeiro nú me ro de 1936 da Revista da
d essa co n cepção soc iológ ica I Se~aw 1987c, p . 147 ).
J) i1Ploria rle Engr'nlwria, p er iódico da repartição
O contato ao vivo co m Wrig h 1. não co mo- ofi cial da Pref'eittt ra do Distrito Feder al resp on-
ve u Luc io Cos ta ta n to quanto o proselitismo li- sável pelas obras pú bl icas na cid ade do R io ele
te rário , a a mplitud e da <tl>o rdage m d e Le Cor- J au eir o. A cliç~w inaugu ral da pu blicação sai u
b usier, im buído em e spírito de tran sfo r m ações e m j ulho de 1932 e, junto com matérias té-cn icas
sociais. A reu ni ão d as refl exõe s desse perío d o ele en genh aria civil, publicava um projeto rle
transformar am-se no q ue pode ser conside rada Affo nso Eduard o Re id)' (!üncioná1io da diretoria)
a mais comple ta apo lo gia sobrt> a mode rni dad e e as h:1bitações o perárias no Ga rnb oa, de Luc io
arq u ite tô ni ca n a p er spectiva rlc transi ção dos Costa e vVa r ch <~ vc h i k. Rebatizad a depo is CO IIt a
anos de 1930 escr ita po r um brasileir o: "Razões abrevia tura J'm' (Prefe itura do Distrito Federal), a
da Nova Arqui te tu ra", um tex to elabo r ad o e m r evista to rnou-se o prime iro perió d ico de d ivu lga-
19 ~4- 1 9 35 . 1 : ~ um a man ifes tação de visl um br e so- ção da arq uitetura modem a n o Rrasil (jamais pu-
bre o presente (co m "falta d e r u mo, d e r aíze s", blicou p roj etos academicistas) e pioneira n o trato
d e "d e mo li ção !:> um úr ia d e tudo que precedeu ") d e assuntos urban ísticos, trazend o expe ri ê ncias
e o futuro ("as transform <L.ções se processam tão d e outras cidades do mundo c as p ropostas para
p rofun das e r ad icais q u e a pr ó pria ave n tura h u- o Rio ele J an eiro. Sua co-fundado r a c secretária
maníst.íca d o Renascim e nto l ... J talvez ve nha a (de po is di retont) , a en ge nheir a Carmeu Porti-
p ar ecer [ ... ] um simples j ogo de in tclcctllais re- n lto, era a g ra.n rle <>n tusiasta dessa produ ção no
q uin tados"; "as 'revoluções' -com os seus desati- Rio de J an eiro, gra<:,:as aos contaros cpH' csrahclc-
nos- são, ape nas, o m eio de ve u cer a en costa le- ceu com os joven s arqui tetos a partir de seu ma-
vando-nos d e um p lano j á árid o a outro , ainda rido, Affonso Eduardo Re idy, tornan do-se divnl-
fér til"). De dica-se a uma louga reflexão sobre o gadora privileg iada (as ma térias ele arqui tetura
sign ificado d a técnica na transformação das soci- abr ia m a revis ta) das p ri meiras o bras dos grevis-
edades, o u ao me nos co m o "pouto de partida ", o tas u a E ~l3A em 19::11, corno Luiz N unes, Jorge
advento da indústr ia e e m panicula r o d escom- Machado Mo rei ra (1901-1992), E rn a n i Vascon-
passo da técnica com a aJ"te ("no sentid o acadêmi- cell os (1909-1988), Álvaro Vital Brazil, Oscar
82 • Arquiteturas no Bmsil

Nicmeye r (n. em 1907) c antros [Scgawa 19R8a], Prefeitur a do Distri to Federal em 1 9~2 . Corn o

além de obras m odernas de linhas diversificadas, funcioná ri o público , Rt:idy vai p rojetar a lg u ns
como as escolas d e Enéas Silva e as agências dos e difí cios de li n h as mode r nas, caracteri7.a nd o
Correios c Telégrafos no Nordeste. Vár ios ante- u ma tenta ti va de moder ni zação isolada, num
projetos d e concu rsos e m linha moderna não discurso projctual regido pela busca de respos-
aprove itados eram divulgados nas suas púginas tas lógicas ao p rograma de necessidades - racio-
(sede da Associação Brasi lei ra de Im prensa, Ae- nalização d os usos e circulações, ên fase para a
roporto Santos Dumont, cidad e oper ária d e Vila iluminação c insolação adequadas assoc iadas a
Monlevaclc). Um m e lho r con hecimento so bre dispositivos especiais rle ventilação e a modula-
insolação e ilum inação (fundamental para o d e- ção estrutural em concreto armado corno lógi-
se nho d e b-rise-soleils) de rivou dos estudos de urn ca construtiva, sem ne nhuma con cessão a for-
colaborador da Pm; o engcn he iro Paulo Sá. Are- malismos senã o o r cba1·imento das questões
vista ser viu també m co rno veículo de info•-m a- técnicas c econômicas sobre o resultad o arqui-
çõcs a rqui tetôn icas inter n acionais: notícias so- tetônico li nal. Esse racionalismo radical - per-
bre os CIAMs, C ir pac , os grupos P raesens 7.P meável na le itura dos mcuwriais dos p rojetos
(polonês), ( ~a t epac ( cspan hol) , Mars (inglês) e (em que pese, todavia, se r em artigos n uma re-
Tcc to n (d o qua l se publicou o Penguí n Pool , vista de engenharia) - aplicado em ed ifícios ad-
cujas rampas certam ente in11uenciaram o s arqui- ministrativos, e scola , pequenas uni d ades de
tetos brasileiros) e textos de Le Cor busier (um apoio (para po lici ame n to, ves tiári o) , tanto em
elogi o ao "homem de visão" que fo ra o prefeito seus projetos p ara <t diretoria como na prática
Pereira Passos nas grandes reformas urbanas elo privada, teria um ponto de in flexão a partir de
início do século 20, à H aussrnan n e a artigo so- 1936, quando Re icl y partic ipou da equip e de
bre as "favelas" pa risienses) , a lém da literatura Lucio Costa p ara <'I e laboração do p r ~je l o da
u rbanística e de construção internacional. sed e do Ministério da Educação e Saúde - exp e-
Affonso Eduardo Re idy foi no m eado ar- riência que o tornou um in condicional adep to
qu iteto-ch efe ela D iretoria d e Engenharia da ao ideári o d t: Le Corbusier.

43.AJTo nso Eduardo Re icl y: pmjcto (não execu tado ) de bar para jardim públi co na Tijuca , Rio de .J aneiro, c. 19 39 .
111'odenridad<' 0 1tH" IIf<" • 83

OS FRUTOS DA REFORMA paz de "marcar uma época", ilustrando seu pen-


samento nas obras racionalmente implantadas
pela administração de Maurício de Nassau du-
I~ /(onbém meu destju que ludus unnjJI'et-' rtrlant- smn. rante a ocupação holandesa de Pernambuco
a menor dúvida que estas nossas realizações, cheias (1639-1654) e nas escolas propostas por Anísio
dr r.\jJÍritu wnle11!f}()rfinro, i.wnlas de 1fUalqun injlu- Teixeira para o Distrito Federal, proj etadas por
êuáa indivúlualisla, que Jora.m até agora dirigidas
Enéas Silva [ver, a propósito, o capítulo "Moder-
jwr u m trilhio d11 absoluta horwstirl.rulr< fnojissilmal,
nidade Pragmática l922-l 943"j.
capaz de wnrluzir a urna tÍ'mica rna.is evoluída, mais
fH!rfl:ila r: fmrlrmlo 1jir"ir:nte, jir:arrí rlumnte algu m Nunes tinha ciência do padrão construti-
tempo ainda, marrando em J'ernamlntro uma época vo regional e do empirismo técnico conservadoi-
11111 qui', 1'01/lo nos l'l'nlms gm·ndr•s rir. rirJi!izarr7o, a m·- e desqualificado da in:w-de-obra. Ele criticava os
quilr:lurauma jneor: ufla ráo wlmiuislrotiva, u ma
1;
maus resu ltados decorrentes d e um sistema de
demonstmcrio de cu. I! ura e esp i rilu. mui la wasa 1Ü:
trabalho viciado, erros na rotina ele construções
humano e soâal.
via concorrências públicas c a i neficiência do
Estado em gerir suas próprias o bras. Ao criar o
DAC em 1Y35, Nunes buscou centralizar "todos
Essa profissão de fé no "espírito contem- os serviços ele arquite tura e construções numa
porJneo" /Luiz Nunes 19(:i~), p. 5J era uma m e n- única repartição devidamente aparelhada", com
sagem dirigida aos seus ex-auxiliares, demitido "um quadro mínimo de fun cionários efetivos c
q ue estava do comando d<l Diretoria de Arquite- um quadro variável de contratados", que se am-
tura c Construção (DAC) do Estado do Pernam- pliava ou diminuía conforme as necessidades de
b uco, por suspeita de atividades subversivas por serviço . Ele pr etendia que os projetos fossem
o casião da Intentona Com u nista em J 935. e laborados rlcnrro de um "crir{:rio único", na
Luiz Carlos Nunes de Souza, nascido em pcr~:>tiva de introduzir novos métodos c m a-
\1inas Gerais, foi o presidente do diretório acadê- teriais ele consrruçüo, desenvolvidos a partir de
mico que liderou a greve contra o afastamen to pesquisas e ensaios Lecnológ"icos visando a raci-
de Lu cio Costa da direção da Escola Nacional de onalização dos processos construtivos, o dimen-
Bdas-Artcs em 1931. Em 1934, Nunes dirigia-se: a sionamento adequado e econômico das estrutu-
Recife para organizar mna in{:dita rcpartiç;.lo de ras e a funcion a lidad e das plantas_ As diversas
arquitetura (autônoma da engenh aria) desdo- fases de uma obra - co ncepçã o arquitetônica,
brada dentro da Secretaria de Obras Públ icas, cálculos cstr u turaís, q uan tifi caç·ão, orçamen tos,
n uma iniciativa administrativa modcrnizan te do controle e medição de materiais, estoque, tem-
go vernador Carlos de Lima Cavalcanti (1892- po dispendido nos diversos serviços - eram rigo-
l Y67), tido como um progressista dentro das li- rosamente controladas c a etapa ele canteiro era
mitações da "aristocracia do açúcar " [Silva 1988], permanentemente acompanhada com relatórios
que modelou a economia e a sociedade pernam- di~tros. Esse: cuidado, que hoje: parece óbvio do
bucana desde os tempos coloniais. Pernambuco, ponto de vista de sisTematização de trabalho, era
nos anos de 19:)0, ahrigava. a CJilinr.a maior con- uma preocupaç;{ o quase inédit<l num momento
centração populacional do paí:s; era o ma is indus- em que o taylorismo ainda se impl antava no
trializado Estado do Nordeste brasil eiro ao final mundo. Nunes exLrapolava até a d im e nsáo alie-
dessa década- mas a inda distante de ser uma nadora taylorista e integrava os profissionais e n-
região social c economicame n te pujante . volvidos com o OAC m ediante a preparação d e
Luiz N unes tinha clara consciência do pa- opedrios em escolas-oficinas, em cursos tecno-
pel modcrmzador da arquitetura c seu potencial profissionais e mesmo o aproveitamento das ofi-
transformador. "Arquitetu ra [ ... ] é urn a demons- cinas da casa de detenção. Os envolvidos na
tração de cultura", escrevia em 193() lp. 60 J, ca- construção- do engenheiro ao pin to r, do arqui-
84 • Arquiteturas nu Brusd

teto ao carpinleiro- deveriam te r uma partici-


p a~ :;i o a tiva n o ca n teiro de obras, pesq u isando
as melhores soluções (o DAC in troduziu , tt a re-
gião, os tetos planos Li pu p·ilzendech c rifJjJendeck,
lajes rnis1as, lajes-logurnclo e o d esenho de vi-
gas com d i mensio n a m ento e perfi s vari áve is
obtendo o m áximo d a resist.f: n cia com a m e n o r
q uan tí rlarle d e material), evitando d c~ p cnlíios
e o rg-anizando o r:~balho em uma e q uip e ho-
m ogênea, c o m "espírito de unidad e " [Nunes
J~g(:i; .Ual tar 10ü3]. De fe ndia Nu n es: "N um
meio pobr e, csra poss ib ilidade d o Cover no
44. 1.uit ~un es / D epa n ; u n e nw dt'" Arquitetura t' C.on . ~ 1r·
constr u ir bem e por pr eço baixo, me lhorando
~· io: pavilhão ele Pernambuco na t-:xposi(iio do Ccntl"ll :írio
as condições loca is, educando, aperfeiçoando,
el a Revo lução Farro upilha. P o rto 1\legrc, RS, I ~l:i . A sim e ·
selec ion a ndo , pesq u isau uo c unifo rmi zando,
tda e a luz ro rarn cknu:: nlo s reco r cn t ~s nos vário~ p avi-
seri a uma con quista de ordem técnica e social
lhôe, do recinto. FoiO·COrt(•sia de Günu•r We imcr.
tão exp ressiva, que j us tificaria rodos os sac rifí-
cios ... " [Nunes 19~6, p. 57, jH1ssim].
A ação de Lu iz Nunes e m Pernambuco
teve duas fases: a p ri meira , d urante 19:15; a se- O pl an~jm e nto ur bano tel'ia sido a gran-
g u nrl:o~, em fins d e 1 9~6 , quando o arquiteto fo i de conq uista d a seg1uHla e últim a fase d a a tua-
convocado a dar continuidade ao trabalho inicia- ç;'io d e Lui z. N un es t>In Pernambuco, rebatizada
do an teriormente, por pressão dos funóonários como DAU . Foram <lpe nas dez 111 escs ele efetivo
da r epartição, r.ransformanclo-se a antiga unidade trabalh o, m aterializad o a p enas em al gu ns pou-
no Dcpanamento de Arquitetura c Urh;m ismo cos cd il'ícios, com o o lep rosário de Mir ueira, o
(DA l i) . Essa gestão d u rou até novem bro de 1037, pavilh ão de verificação de óbitos ela Faculdad e
quando o golp e do Estado Novo iutcnompcu os d e Me d icina e o reservatório d e úgua ele Olinda
traba lh os. A m orte de Nunes nesse an o , por do- e o u tras p e quena~ obras . Foi nessa fase que o
<~ n ça , privou o movi m ento de uma lide ra nça, e DAU adotou in te nsivam ente o empr eg-o do co bo-
virlual rn cn te encerrou-se a inécli ta expe r iê nc ia gó, p eças pré-Fabricadas el e cimen to e areia com
governamen ta l elo Estado de Pernambuco. 50x50xl O em , com orifícios de 5x5 em que, asso-
O DAC projetou e construiu o Hospilal da ciadas, compu nham exten sas supe rfícies servin-
Brigad a Mi li tar, a Escola Rural Albe rto Tor res, a d o com o brise-solr{il.1· e como superfícies vazadas
Usina I-Iigienizador<t de LeiLc , al(:m rk peque nas p ara ven tilação, ao m esmo tempo que defin ia m
obras; pr~jeLou Lam bé m o pavi lhão de Pernam- fach adas neutras, sem propriamente serem ce-
buco na Exposição do Cen tenário d a Revolu ção gas. As obras desse pe ríodo preservaram todas as
Farrou pilha em P ono Alegre. Afor a o pavilhão, preocupações d e elonomia e f uu cionali dade e
os trabalhos da primeira fase e ram o p rod ttl o d e in corporavam um pad rão es tético m a is elabora-
n m conceito ele arquitetura no qual os condicio- do, sendo o exemplo mais evidcn lc a asce ndê n-
nantes técnicos e econômicos presidiam a e labo- cia de Le Corbusier no pavilhão de verificação de
ração dos pr~j etos - concepção d e um racio na- óbitos. Decer to essa influência se deve à presen-
lismo radical, conformado p elas limitações locais ça d e Fernan do Saturnin o d e BriLO- jove m a r-
e sem concessão a for malismos g r atu itos, mas quite to formado no Rio d e Janeiro - , in corpora-
com form as (poder-se-ia qualifi car d e "duras") do à eq uipe do DAU. Esse ed ifício foi constr uído
d er ivadas da sobriedade func ionalista d os pro- praticam en te com sobras de ma Lerial; o fato inu-
gramas ele n ecessidades. sitado gerou desconfia nças, e mais ta rde fo i abe r-
t\1/udemidade Corrente • 85

'"-~ --- - --------------- .

45.Lui,. Nunes/ De partamento d e Arq uit etura c Urbani s- 4ii. Lu iz Nunes/ Departamento de i\rquilt·tu ra e Urban is-
mo: lep.-os;írio d e Miruc ira. PE. 1936. em imagem receu- mo: esquema e srn11ur:li do ~t·crva t ório cte água d e

tc: os c:ohogós d efi niam a fa chada d o b loco. Foto-co rt esia O linda, PE, rcprodmido d•• ••s11ulo •·lahnraclo por Rita de
de Geraldo C o mes. Cássia Vaz [ 1989] .

LO um inquérito p ar a se apurar como se co ns- ror de Parq u es e J ardi ns de Recife, o jovem pai-
truiu um ed ifício se m ve rbas específicas pa ra a sagista Roberto Rurl c Marx (1909-1994) .
tlm1lidarlc [Silva 19RR]. Em 1036, n o imervalo ele
a tuação entre o Di\C e o DAU, Luiz Nunes re tor-
nou ao Rio d e Janeiro o n de organ izou um escri- SINAIS DE MUDAN ÇA
tório particular d e arquitetura. Nessa passage m
pe la c:apital, o arquiteto mamcvc contato cu111 a
revista J'f>F, o nde publicou artigo sob re a sua ex- Vimos no capítulo a11Lerio r, "Modernid ade
periência e m Pernambuco c em vários outros pro- Pragm<ítica 1922-1943", qu e, ua segunda metade
jetos. Nessa rápida passagem, d eve ter assimil ado da década d e 1930, tendências modern izantes o n
alg uma influê n cia corbusier ian a (consid e rando- não-acadêmicas estavam em plena assimilação nas
se que, e m 1936 , Le Cor-busier esteve no Rio de cidades brasile iras. Nessa aprop r iação também se
J a ne iro por um m ês), que adotaria ern Per nam b u- incluíam as arqu ileluras mais e ng<úadas ele mo-
co enq uanto chefe do D AU no fimll ele sua vid a . dernidad e, isto é, aquelas baseadas e m princípios
bnbura a experiênc ia de Luiz N un es em defi nidos ou praticadas por arquitetos antagôn i-
Pe r nam hnco n ão tenha frutificarlo , alg uns p rofis- cos aos valores tradicionalistas. São exemplos no-
sionais de sua e quip e se destacaram pos te ri o r- táveis d essa verte nle algtm1é!S oh réts rea li zadas pot-
mente : o engenheiro calculista (anista plástico e jovens arquitetos, com me nos de !Tin ta anos d e
poe la, também ) Joaquim Cardozo (1R97-197R- idade, como Álvaro Vi tal Brazil e o s ir111ãos Mar-
fu turo íntim o colaborador ele Niem eye r e m Pam- celo (190R-1964) e Milton Roberto (1914-1953) .
pulha e Brasília) , o eng-enheiro e urbauista An to- Álvaro Vital Rrazil e Adhemar Mar .i nho
ni o Bezerra Baltar (n . em 19 15- qu e mais J(lrrl<' (n. em 1909), esludantes da ENBA q ue participa-
chego u a prestar ser viços à ONU), o e nge nh e iro ram da greve em solidaried ade a Lucio Costa e m
Ayrton Carvalho (n . em 19 13) (qu e, por mais de 1931, gan h aram e m 1936 o concurso de a ntepro-
meio século dírígíu o escritó rio regional d o Pau·i- j e tos para um edifício d e u so m isto de alro pa-
m ônio H istórico e Artístico Nacion(l l); no mesmo d rão em São Paulo. Álvaro Vital Brazil levt: que
período da experiência DAC/ DAU, fui muito pró- d issolve r a so ciedade para transfer ir-se a São Pau-
x ima a colaboração dessa repartição com o d irc- lo e acompanhar a o hra, a pedido da co nstr utor a,
86 • /-l1"quitetu ras no Brasil

..,

47. Álvaro ViLa! Brazíl Jcfronlt: ao t:difício EsLher, Süo Pa u- 48. Marce lo e MilLOn Rohcrr.o : Asoci~çã R1·asilcira de
lo. t: lll 1\!85. Im pr ensa, Rio de }1nc iro, 1936.

resul tando dis.so a rcformulação parcial do pr~ j e­ possi bil itou acomod ar diferentes arranjos e m
to inicial. O edifício Esth er localizava-se num cada pavimento, abrigando lojas, andares para
p onto privilegiado da cidade (a Praça da Repú- escritóri os c un idades residenciais (algumas em
bli ca) e ben eficiou-se ao sn concebido com o duplex), demonstrando a versatili dade possível
um prédio isolado em suas quatro face ~, num com o conceito d a estr utu ra ind ependente. O
remanC:jamento no terreno que ainda as~cguro térreo, e mbora com estr utura em pilotis, é apr o-
t::spaço para a con stntção de o utro editicio na veitado de maneira convencio nal, não se benefi-
área do primitivo lote. Embora sendo um edifí- ciando integralmente da solução. Foi urna obra
cio d e alto p adrão, Vital Brazil con duziu o pro- de impacto ao ser inaugurada e m 1938 [Brazil
j eto no sentido de encontrar as soluções m ais 19H6; Daher 1981 ; Segawa 1987bj.
econômicas sem abrir mão elos "cinco pontos da Os ir mãos Marce lo (formad os na ENBA
arqui tetura nova" preconizados e m 1926 por I.e em 1930) e Milron Roberto (formado em 1934,
Co r bu~i e r: volume construído e levado em fJilotis, nm dos grevistas d e 1931) for maram uma vitori-
pla nta livre com estr u tura independente, racha- osa d upla em concursos no Rio d e .Janeiro: em
da livr e, j an elas dispostas na ho1·izontal (fenêtre en 1936, ganha r am a concorrência para o projeto
longueu-r) t> o terraço:jard im . Ate nde r aos ci nco da sede da Associação Brasileira de Imprensa
pontos sig-nificou equac ionar uma sé ri e d e con- (Am ); no ano seguinte, alcançaram o p r imeiro
dicionantes inéditos e não necessariame nte eco- lugar com o an tepr ojeto p ara o Aerop orto San-
nô mi cos para a tecnologia ou para a ro ti na da tos Dumont. Como Vital Brazil e Marinho, os ir-
construção d a é poca. A adoção de p lantas livres mãos Roberto também operavam com os "cin co
illoder11idade Corr<'111e • 87

Corbusier. Todavia, diferen te m e nte da oportu- Rio d e .Janeiro, a sed e da ABI tran sforma-se num
n a possibilidade de isolar o e difí cio n o lote volume de plás tica constru tivis ta , va riand o os
como feito no caso do Esther, a ABI cingiu-se à efe itos visuais conforme a incidên cia do sol so-
norma d e im p la ntação estabe lecida no Plano bre as lâminas sombreantes. O s brises não a tua m
Agache, qu e determ inava a integração da mas- diretame nte nas salas de trabalho; eles protegem
sa edificada alin hada nos limites do passe io e do galerias qu e p ercorrem o perímetro das tac ha-
lote , com previsão de recuo nos fundos, forman- das uortc c oeste, que funcionam como antecâ-
do, conjun tam e nte com os prédios contíguos da maras d e atenuação do calor para o interior do
quadra, um pá lio central. Com as li m itações de edifício. Não se pude afir m:.1r que as linhas m o-
uma implantação trad icional, alg uns dos concei- dernas do prétliu ten ham tid o uma boa e un âni-
tos ine rentes aos "cinco po n tos" perdiam pane me aco lh id a, mas . a reperc ussão posterior fo i
de sua fo rça , plena quand o adotados e m edifí- positiva I Bruand 1981].
cios totalme n te desvin culados de con stru ções A proposta vencedora para o At> roporr o
adjacentes. No en tanto , os Roberto so ub eram San tos Dumont, em 1937, não teve a mesma so r-
ex plorar o fato de as du as racha rias principais se te que a sede da AHI. A idéia original previa um
orientarem p ;u a o norte c oeste (percurso sola r term inal m aio r e mais complexo. Sua construção
do período d a tarde , o m a is quente) e d ese nha- a rrastou-se de 193l:! a 1Y44, à exceção do ha ngar
ram dois sóbrios e elegantes alçados qu e se dis- n!.! 1, concluído em 1940 com u m sofisti cado sis-
ting uiam pela s ucessão clt> hrise-soleils verticais tema estrutural e um a fachada protegida com bri-
lixos o u, descrevendo de outra form a , pela au- se-soleiLç ve rti cais. Quanto ao terminal, a vo lum e-
sência de j ane las tradi c i on<~is. Sob a forte luz do tria inicia l proposta em 1937 reduziu-se a um

P1!RS~CTIVA

49 .Marce lo c Milron Roheno: J\e::ropurLO Santos Uu mo nt. Rio de J a n e iro , 1937-l 9 4'1 .
88 • !lrquitetu ras 11n Rrusil

volu rne p r ismático regular, p r eservan do a lg n ns ra independ e n te em co ncreto armado, generosos


aspectos da sintaxe corbusieriana. !\o e n ta n to, o pa nos de vidro e espaços interiores amplos c ela-
padrão d o :.~ero p ort do R io ele J ane iro (com a bo rados (co mo o hall p rincipal, ond e se destaca-
marc<rntc: galcTia lo ug·itudin al n o miolo d o edifí- va u m a escu I tn ral escad a), a Estação de Hid r os
cio) constitui u a partir de en tão um pan ido tipo- transrormon-se n uma obra admirada pela p u reza
lúgico pa ra os te rmi nais (co mo o d e Po rlo AJt.._ d e suas lin ha:; c a qualidade de se us acabamen-
gre, Curitiba c Rccirc). tos, caracteriza ndo-se como u rna referên cia d e
O co ncurso d e an tep roj eto s p ara o Aero- um a ve rtente ele arq uitetura moder na que se
p o rr.o Santos D u mont d eve ser entendido den tro p rod uzia I l OS anos de 1930.
da po lítica d esenvolvida pe lo Dep an amenro rl c Os p ri ncipais termiu ais ae r oportu ários
Aero 11 áut ica Civil, n o sc mido de dotar as cid ad es desse p eríodo, de modo geral, fo ra m p r~ j et ad os
brasileiras co m terminais ae ropo rtuários adequa- em linhas moder nas. Mais que u m gosto por fa-
d os para o novo c cada vez mais u tilizado m t>io ele ch ad as, o p rograma funcional de um aeroporto
tran spo rte q ue se implar Hava no Brasil na d éca- refle tia um se n tido d e racio n al idade q u e q u ase
da de 1930. Em l 93f>, foram construídos os aero- compulsoriamente conduzia as so luções arqu ite-
portos de Pelotas, Bagé c Pono Alegre rCawn h e- tônicas para uma verten te moderna. Eviden te-
de Fil ho I \Y~7l Foram iniciativas d esse p eríodo m e n te , isso uão co nstituía u m a regr a porquanto
os ae ropo n os d e tr0s das mais imp o rtantes cida- algu ns ae ro p ortos me n ores fo ra m construíd os
des hrasilt>i ras: S<rlvador, São Pa ulo c Ri o de J a- em linhas n eocolonia is. To davia, os est udos :;o-
neiro. ü terminal d< ~ Salvador, uma estação ele bre os aeroportos ma is complexos eram referen-
h idroavi<->es, teve seu projeto encomendad o a u m ciad os em literatura técnica estrangeira e, nesses
arquiteto elo Rio ele Janeiro, Ricard o Antunes, c caso:;, eram raras (para não dizer inexistentes)
foi inaugurado em 1939; era u m o b ra d e linhas as arq uite turas de aeroportos realizados e m mol-
mo d erna~ . O aeroporto ele S.:io Paulo não es tava d es fo r m almen te academicizantes.
vinculado à área fcelcra l: o F.stado co nstruiu um A accita('ão clt> li n has mod ernas para aero-
termi na l nos ano s d e 1940, ele gosto Déco , snhs- por to:; não significou um ali n hame nro dos pod e-
rinríclo depois pela obra definitiva, proj etada pdo res pú blicos com a arq uite tura modcn m d e ideo-
a rq ui teto Ernan i elo Vai Pcn teaclo (190 1-19RO) c logia mai:; defi nida pela vang-uarda. Importan tes
ina ugurada nos anos ele I!:150, também dentro ele concu rsos de editícios de programas mais conven-
lin has modernas. A capital do país estava se equi- cio nais acatavam modernismos tradicional izanles,
pando com um novo tcrminallcncstre sirnultanea- ele vert.e n te co u scr vadora. O conc u rso para a
mcn tc à implantação de um termin al pa ra hidro- sede elo Miu ist{:rio ela Fazenda, realizado e m fi ns
aviões, am bos objeto de co ncu rso d e arq uite tura. d e 1 9~6. conte mplou o projeto elos arquite tos
Attilio Corre ia Lima, que havia participado En éas Silva e Wladirnir Alves d e Souza em primei-
ela !"CJUipe que tirou o segundo lugar no concur- ro lugar, com uma obr a d e compostura m on u-
so para o tenni nal te rres tre , foi mais bem-sucedi- mental ele lin ha mod ern a "classicizante"; o segu n-
do no conc u rso para a estação d e h id n>s. Dada a do lugar foi atribuído à equipe ele J orge Moreira,
u rgência de um termina l aeroviário para o Rio Oscar Nicrneyer e J osé Re is ( n. em 1909) , j ovens
de Janeiro, o proj e to ele Correia Lima foi rapida- grevistas de l ~3 1 . Nas ap reciações do j úri, o s p on-
m e n te exec u tad o , estan do em fu ncionamen to tos positivos d o an teprojeto qu ase vencedor pou-
em 193H (t>mhora, com a inauguração do termi- savam n as qua lidades da planta c das soluçóes téc-
nal projetado pelos Roht>rto , a estação de h id ros n icas; pecavam pela "composição arqu ite tônica
caísse em desuso). Pro je t<tda e m equi pe com .Jor- sofríve l" [Concurso ... 19 ~ 17]. Algo semelh an te
ge Ferreira (n. em 1913), Re nato )vfesq uita dos ocorre u em 1935, po r ocasião d o concurso para a
San tos (n. em 1914) , Renato Soeiro (19ll-l9R4) sed e d o Min istério da Educação e Saúde. Tod avia,
e Thomaz Estrella ( 1912-1980) , adotando estrutu- os desdobram entos fora m dife re ntes.
Mod<!ntidade Curre11te • 89

50 . .Jorgto Moreira e Ernani Vasconcellos: proposta não 51. Affonso Eduardo Re idy: pr oposta não sdecionada pa ra
se lec ionad;-1 para o concurso da sede d o Minst ~r io da o í 'OIICllrso ela st->de d o Mi ni s t(· ri o da Educaçüo e Saúd e ,
E.duca~·<io e Saúde, Rio de janeiro, J ~n!í. Apesar elas fac ha- Rio d e J a nci t·o, I~ n'í_ At·qllitCtlln1 inspintda nos edifícios
das mod ernas. o partido do \'o iumt: aind a respeitava um modernos da Europa Central.
eixo de simetl'ia central.

A SEGUNDA ESTADIA Illcnte com seus assesson:s. Durante o gctulismo,


DELE CORBUSIER arte r:> a cul tttra errtm os Ílnicos canais de assi-
;-1

I ÍLH ,: ~to c con vívi o en t.rc o s iu t.elcctuais e o po-


der [Schwartzman et al. 1984]. O anteprojeto ven-
L•:m I \:!~5, e ra ahertn o cnn cttrso para ante- cedor (e os dem ais finalistas , exce to um deles )
proje tos da nova sede elo Ministé rio da Edu cação não se coadun ava com as preoc up;.tçôcs rnoderni-
e Saúde (MES), em terreno na esplanada doCas- zantes de seus auxiliares c com o apoio deles (en-
te lo , ce ntro elo Rio ele Jan e iro- área anterior- tre eles Rod rigo Mello Franco de Andrade), Ca-
meute ocupada pelo morro do Castelo, arrasado panr:>ma r:>n r;1o apr:> lo tt para o arbí trio pr:>ssoal r:>
para conquistar novas áreas planas destinadas à decidiu desprezar o resu ltado do concu rso cha-
urbanização, com normas de ocupação determi- mando I.ucio Costa e m setembro de 1935 para
n adas pe lo Plano Agach e . Archimed es Memória projetar a nova sede de seu ministério . O m inis-
e Francisq ue Cuchet furam proclamados os ve n- tro não era o ti tu lar da pasta por ocasião d o io-
cedores, com um projeto que se d esta cava p ela cidente da re forma cur ric ular da ENBA e m 193 1
ornamentação marajoara la r espei to, ver capítu- (e le asstun itt em 19~4 c somente o deixaria com
lo "Mode rnidade Pragmálica 1922-1943 "]. A m- a qneda d e Getú lio Va rgas e m 1945), e nessa
bos fo rmavam o mais importante escritório de é poca Lncio Costa ainda ;1m arg;wa os momen-
arrplitc tnra elo Rio de .Jane iro, alérn de Memória tos pós-EN.BA hem como um a situação p rofissio-
ter sido o sucessor de Luci o Costa n a dire ção da nal pouco confortáve l, embora com prestígio
E.NKA e cidadão com forte pen e lrac;-ào no gove r- intelectual sedimentado .
no, partidário de agrupamento político de apoio Costa n::io tomou o en c;u·go apenas
f . u~io
ao presidente Var gas. Foi um grande desafio para si. Convocou os a rquite tos que haviam apre-
para Gustavo Capanema (1901-1985) pre miar o sentado an teprojetos modernos no concurso para
projeto vencedor e n ão construí-l o. Capanema, formarem urna e quipe sob sua ch efia: Affonso
segundo ministro da pasta d e Educação c Saúde Eduardo Reic! y, Carlos l.ó'to c J o rge Moreira .
d esd e sua criaç<io e m 1930, e ra um po lí tico de Ern ani Vasconcellos reivindicou urn lugar po r ser
Minas Gerais que se cercou d e intelectuais mo- assisrcntc ele Moreira c Oscar Nicmcycr kz o m es-
dernistas con tcrráneos à frente ele sua gestão mi- · mo, pelo lado ele Lucio Costa. Assim organizado,
niste rial , e m bora n ão se ide ntificasse organica- o g rupo p assou a desenvolver o novo p roj eto.
90 • Arqllile/1/rtiS 110 Rmsil

A pdoridadc arquitetônica do ministério, A CIDADE UNIVERSITÁRIA


n u e11Lanto, n ão era a su<t ~ecl própria. Capan e-
rna pre ocupava-se sobretudo com a implantação
da Universidade elo Brasil, a rlcmandar um cam- O anteproje to d ét cidade universitária na
pus qu e seri a a primeira obra d o gênero nu país. Quint a ela Boa Vista, d esen vo lvido por Le Cor-
Para tanl"o, o ministro havia instaurado em ju- busier e m sua passagem pelo Brasil [Le CorhiJ.-
nho d e 19~ 5 uma comissão de estudos formada sier... 1967; Cidade U ni versitária .. . 1937] foi suh-
po r professores para a cleJiniçâo de um organo- rnetido à com issão de professores cri ada n o ano
g r ama c das suas nt>ressidades físicas , ao mesmo a nlerior e sumariamente rej eitado. Essa comissão
tempo que convid;wa Marcello P iacen tin i - autor tinha clara ide n tificação com as idéias d e
da fascista Cidade Universitária d e Roma - para Piacentini, em oposição ao g ru po de arguilc tos e
realizar o pr<~jeto da congênere no Rio de .lanei- engen he iros p ró-Le Corbusier. Essa c~uipe t>laho-
ro. Em meados dos anos de 1930, o alinh a men- ro u um novo plan o ["Unive rsidade do Brasil..."
to pol ítico do Brasil era a mbíguo em relação ao 19 ~ -17J que, submetido a novo exame, foi defi ni ti-
nazismo e ao fascismo, e mbora o getulismo cor- vamente reje iLado em 1937. Nesse ano a co missão
respondesse em !in h as ger·ais ~ts fo rmas ele auto- de arquitetos e engenheiros era formalmente dis-
ri tarismo em voga na Alemanha e na Itália. O ar- solvida, e Piacentini , convocado para dese nvo lver
qrriteto italiano chegou ao Brasil e m agosto d e o plano da Cl m_ Associado a Vitori o Murpurgo,
1935, mas o Conselho Regional de Engenharia c que esteve no Rio de Janeiro para estudar o p ro-
Arquitc mra advertia o ministro da proibição d e j e to, a proposta fi na l dos italianos foi aprovada
contratar profissionais estrangeiros para essa fi- pela comissão de professores em 1~l 38. O projeto
nalicladc . Em atenção ao t"::!to, o ministro inslan- definitivo foi e ntregue pelos arquitetos; n o e ntau-
rou urna comissão de arquitetos (Angelo Bruhns Lo, a construção da cidade universitá r ia não foi
(1896-?), Lncio Costa, Firmino Saldanha ( 190fí- imed e, com o ingresso do Br a~i l na guerra
at<~,
1986)) e eng-enheiros (Pa ul o Frag-oso (n . em conu·a o Eixo, nada resultou desses eslorços de-
1904) e Washington Azeved o) fSchwanzma n et senvolvidos durante o Estado Novo, com a q ue da
aL. 19R4]. Lucio Costa, consultado a respeito d e de Va rgas em 191!í fSc h wartzman et al. 1984;
Piacentini por Ctpancma, emitiu um parecer Mello .Júnior l 9S5; Togno n 199ó].
conn;i ri o à atribuição Jo pn~j e to ao arquite to ita-
liano, subm e tendo à apreciação do ministro o
no111e deLe Corhnsier como con trapartida [San-
A SEDE DO MTNTSTÉRIO
tos P.t nl. 1987, p . 142] . ( ; ustavo Capancma acolheu
DA EDUCAÇÃO E SAÚDE
a sugestão ~" tornou as providê ncias para trazê-l o
ao Brasil.
O convite a Le Corbusicr p ara uma série Le Corbusier <:tO chegar no Brasil já tinha
de conferências 110 Rio de J aneiro foi um álibi conhecimcnLO do projeto da equipe liderada por
para que o arquiteto fra nco-suíço viesse para Lucio Costa, pos w que este lhe e nviara com seis
uma consultoria sobre o projeto cl<-1 sede elo MES meses de an tecipação as fo tografias da pro posta
e da Cidade Unive rsitária do Brasil (CU ~ ). sem elos brasileiros. Na realidade, os arquitetos apro-
afrontar di retam ente a legislação qu e vedava o priaram-se d os cnsina men tos teóricos corbusie-
exercício p ro fissional de estrangeiros n o país. rianos mas estavam inseguros elo resultado final ,
Efetivamen te, ele foi r emu nerado pe las suas p a- a pon to de solicitarem um pa recer do próprio
lestras, mas, ao longo ele sua p e rmanência de 31 mestre, mesmo às custas ela inter·rupção dos tra-
dias em j ulh o c agosto de 1936, se envolve u in- balhos - já em pouto d e início ele obras [Costa
Le nsame nte nos dois ateliê s organizados para os 1984 ] . Le Corbusic r foi bastan te benevolen te
projetos do MES e da CUB. com seus discípulos, elogiando-os no seu parecer
.llodemidade Corre11te • 91

apresentado ao min istro Capanema; no entanto, clicional de quadra fech a d a por edificações c
prefe riu de re co meçar o pr oj eto suge rindo a constitui uma praça/ jardim públ ico. Esse entor-
1ra nsl'e rência do edifício para n ma nova localiza- no li vr e caracteriza uma moldura ao edifício,
<;ão: da úrca na esplan ada d o Castelo para um atribuindo ao conjunto uma monumentalidade
aterro j u nto ao mar (onde hoj e se encontra o Mu- não de r iYacla das formul ações rradicionais- de
seu de Arte Moderna , de Reidy). A idéia foi in i- massas vo lumétricas pesadas e im positivas, à
cia lmente en cam pada pelo mini stro, c um p r ~jc­ nt a11e ira da a rqu itelura do l"ascismo- mas resul-
to, esboçado. To davia, as con tingências leg;-t is de ta nte rlo contras te da impon ê n cia da escala da
permuta do te rreno irnpeGliram a concretizaçiio o bra e dos vazios criados no d ist.anciarne rllO en-
dessa proposta, e, às vésperas d e sua partida, Le tre o vo lu lJie prismútico doMES co m os crlif"ícios
Corb usie r desenh ou uma úl tima proposta para o aqj acentes, muros contínuos compulsoriameute
terreno original. A partir desses es tu dos, a I:'C] IIi- t"slabe lecidos pelo padrão Agache.
pe brasileira desenvolveu o projeto defi nitivo, que Do ponto ele vista eslrut.ural, a sede doM ES
fo i submetid o aLe Corbusier por· cana e m jul ho constituiu um desafio de c:tlcu lo brilltauternenle
d<.: 1937, tendo como resposta o seguinte: <.: ufrentaclo pelo engenheiro Emílio llaumgart
(1889-1943) . O emprego ele pilotis não era propri-
St' u ecliHcio do Ministério da Educaç.1o e Saúd e Pú-
ame n te uma n ovidade, mas j amais se havia adota-
b lica parece-m e excelente. Di.-ia ::Jté.: animado d e urn es-
pírito ehtrivideHLe, <:u us<:ien te dos ol~jcLi v os: servir e etuo- do a solução na escala d e um prédio como o MES
cionar. E le não tern esses h iatos ou b arharistuus que - crian do dific uldad es para o ron lraven to rla es-
freq i"ten tem<:" nl t> " li;is, e m o u tras o bras modcruas, mos- rr u ru ra. Contrariando as normas então vigentes,
t r am (j u e não se sabe o que é harm onia. Ele cstú se ndo Baum gan atribuiu às h\jes f.llanas a fuw,:ào de vi-
construíclo? Sim? F.n rào tan to melh o r, c estou ce rt o q11c
gas dispostas horizo nlalmentt•, apoiadas nas pare-
serú IJott ilu. Se rá com o um a pé ro la em lixo ";-tg;ichico··.
des cegas laterais (qu<.; süo interro m pi das na h ~j e
Mf:'ns cump t - it T t eto~. m e u "O K" (com o você red;uuava)
LSantos et a/. 1!:~7. pp . ll!J-1:201. de e ncontro com os fúlotis; S<' elas s~.:gu is em até
o chão, o problema ele contravctllamemo es taria
Pode-se afirmat- que, no co r ~ j o rlas várias resolvido ). A busc<t O(' urna soht(ão <.:slrutura l ··ar-
propostas dabor aclas n a ocasião, o pr~j e t o dos qui telônica" - como preconi zava T.e Corhusicr -
seis arquite tos brasileiros evoluiu para uma solu- e nsc:jou a definição ele uma <.:sLruw ra que evitou
ção com person alidade pró pt·ia, e mbora com vigas, ao mesmo tempo que se conseg-u iram lajes
evide ntes citações d os esboços e das idé ias deLe ele pouca espessu ra para os p avi rn e n ros. Pela
Corbusier [cf. Br uan d 1981; SanLos ela!. 1987; p ri me ira vez se especificou no Brasil a l<úe-cogu-
Comas 19871 . A obra in corpo rava tod a a sinlaxc m elo , e de form a inovado ra. A estrutura 1.:111 co-
corb usie ri an a - so bre tudo os "cinco p o n Los da g ume lo desvirtua a concepção de letos lisos; a
arq uite Lura n ova". A situação do edifício e m solução proj etada previu a inversão do capi tcl
m eio d e q u ad ra su bve rti a as n ormas de ocupa- para a face superio r da laje, deixando liso o aca-
ção d o Plano Agache (que o brig-ava a construção bamento pelo lado elo fo rro. O n ivelam ento do
dos vo lum<.:s alin hados n o pe rí metro exte r no do piso seria feito com material leve , aproveita nd o-
lote- da í a expressão ''li xo 'agáchico'" na carta se esse espaço d e enchimento para a passagem
ele Le Corbusicr) c r e fl etia u m mode lo d e im- das insLalações e létricas rvasconcelos 1985].
plantação de arran ha-céus isolados n ão caract<.:- A í t npla la~,_ : ão numa esplanada ahena e o
rizador cs das combatidas r u as-corredo res, re- desafogo assegurado pelos fJiloti::. no nível térreo
m on ta n do ao urbanismo d a C idarl c d e T rês são id éias corbusicrianas que vão de c n coutro a
Milh ões de Habitantes o u ao Plan Voisin. O vo- uma m elhor ventilação du e rllorno elo MES. A
l ume Iam c lar sobre pilotis e os dois blocos baixos fac h ada nor te do ed ifício (pennanen Leme n te
( um dos quais ta m b ém sobre pilotis) Iiher<~m c:1stigada pelo sol) é: protegida com brise-soleils
llllla <.:splanacla aberta rpte rlissolve o se ntido tra- hori zon tais; a fachada sul (que ern nenhum mo-
92 • A ntnileln ros no Brasil

mc n to do ano recebe sol d ireto) é um jJan de


·oerre inte gral -a primeira aplicaçào ele uma fa-
d 1ada de vidro em escala monumental (anterior
às a plicações das torres de vidro norte-ameri ca-
n as, do início dos anos 1950) . Tal solução en-
stejou 11m siste m a natural ele vent ila ~:; io cruzada:
a diferença de te mperaturas entre as du as fact>s
do edifíco(~ capaz de criar um deslocamento d e
ar no interior do prédio que, em não havendo
ob~tú culos , atravessa transversa lmente o prérlio
criando uma corrente n at u ral d e vento atenua-
clara d o cal o r típico do Rio de .Janeiro. Daí os
ambientes inte rnos originais dos andares terem
sido desenhados sempre co m divisórias a m eia-
altura -.iá que a pl:lnta é independente de mu-
ros es truturais.
Lt> Corh usier deixou uma série d e reco-
me ndações valorizando aspectos tipicc1mente re-
g ionais: o uso d e granitos disponíveis no Rio de
Janeiro, em detrimento de materiais importados;
a rec uperação dos azulejos, tradicional revesti-
me n to colonia l de origem portuguesa, suporte
~;ir- ·
de painéis artísticos; a valorizaçilo ela palmeira
impt>rial (recupe rada da tradi ção paisagística do
Rio de Jan eiro do século 19) [ Hruand 19t:n; Le- f>2 .1 .nrio <:ns 101 e t"q uipe: Minis tério ela Eclncaçào e Saúde,

mos 19R4] . Riu d e Jan.-iru , cn1 postal dos anos de 1910. Cortesia de

A scck do MES foi complementada com Dona lo Mel l o .Júnior.

ob ras d e arte de n otáveis artistas: C ándido Por-


tin;;ui (1903-1952) (murais no gabinete elo minis-
tro e dt>sen h o de todos os azulejos), esculturas Rmzil TJuilds. A inauguração oficial por Ge túlio
de Celso Antonio, Bruno Giorgi (190:J-~) e Vargas somente se dari<1 em 1945 - também o ano
.Jacques Lipchi tz e jardins de Roberto Burle Marx da queda do Estado Novo.
-den tro do princípio da integraç-;w das ancs na
an1ui lc t.ura.
A sede do Miuistúio da Educação e Saú-
A PRIMEIRA MATERIALJZAÇAO
de é considerado o ponto inicial de uma arqni-
tetu r a moderna de fe iti o brasileiro. A avaliação
é contr oversa, mas os desdobramentos posterio- Enquanto se arrastava a construção da se-
res c<1m in h a ram nu sentido de confirmar a afir- ele elo Ministério da Educaçào e Saúde, uma o u-
mação, so b retudo no plano inte rnaciona l. A tra obra antecipou a surpresa que esse edifício
construção do edifício (iniciada em 1937) arras- provocaria mais tarde. O calendário de eve ntos
tou-se ao longo dos anos com dificuldades, so- de 1939 leria dois pontos altos por conta do es-
bretudo com o adven to d a Guerr a em 1939. Por forço dos Estados Un idos crn promover urn "en-
volta de 1942, o edifí cio estava virtualmente con tro " de nações, no delicado panorama p o lí-
completo em seus exteriores e assim foi fotogra- tico internacional, que acabou desembocando
fado p elos norte-americanos para a e xposir;üo na Segunda Guerra. Os norte-americanos orga-
M udem idade Correllfe • 93

to do parque da Feira Mundial. A versão definiti-


va do pavil hão juntava algun s aspectos da pro-
posta inicial de Costa- os pilotis, a r amp<~ rlc aces-
so e os clt>mt>ntos vazados de fachada, a LÍLulo de
brüe-sole'il- com a de Nie me)'er- a curva tura da
parede acompanh ando o le r rcno, o jardi m na
parte poslerior. Nenhuma das p roposlas inrlivirlu-
ais era tão bem-sucedida quanto o resultado final,
desenvolvido por Niemeyer (que ficou no~ E~ta ­

dos U nidos até entregar o pmjeto) cotn a o t·ien-


tação de Lucio Costa (que voltara an1es, por pro-
blemas f'amiliart>s).
O pavilhão brasileiro d a Feira M undial de
Nova York roi consirlcrarlo um dos pontos a lws
de toda a exposição , tanto na sua arqu itetura
q uanto em seus interiores prqje lados pelo nor-
te-americano Paul Leste r \1\liener ( 1HY5-l 967).
Em seu n úmero especial cledicaclo às tt>iras inter-
n acionais de Nova York e S~o Francisco, a revis-
ta 'f'!U' Architer:tun:tll•'orwn teceu com entários para
cada pavilhão das feiras e elege u a representação
su eca, projetada por Sven Markelius ( l~8<J- 1V n),
como a melho1- arquitetura de roda a feira (Mar-
kelius t<un bém se notabilizaria mu ndialmente a
· -~ .L uci o CosLa c o Ministério da Educa ~ ào e Saúde , Rio partir desse projeto). dedica nd o duas pági nas
.lt' Janeiro, 19lli. para ela; os dois outros paYilhõcs qu e m e1·eceram
o mesmo destaque foram o finlandês, de Alvar
Aalw (1898-1976), e o b rasile iro [The Archileclu-
ralForum 1939]. O sucesso na mídia internacio-
'1izara m dnas grandes feiras - uma em Nova nal gerou uma positiva reperc ussão no Brasil,
York e o utra em São Francisco, das q uai s o Rra- com a revista Arqnitetum e Urbanismo reproduzin-
"i l participou com pavilhôcs individuais que mar- do os comentários e logi so~ arquite tura brasilei-
caram p resença . O pavilhão da fe ira na Costa ra ("o pavilhão brasileiro tem u rna pureza c csli-
Oeste fora pr(~eLado por um arquiteto nonc-amc- lo que faz a ge n te per der o fôlego" , elogiava o
,;cano, c sua repercussão ro i limitada; a rcprcsen- M.af!:azine Ar/, ou "Lu cio Costa c Oscar Niemeyer
ta<,: ão na fe ira elo Leste, ao contrário, tra nsfor- s<io provas da maturidade inte lectual do Brasi l",
mo u-se numa das grandes e boas surpresas. cumcnlava Fmlune) l"O Brnsil. .. " 19:19, p . 5301.
Lu cia Cost <~ havia vencirlo o concurso d e U m a mistura de su rpresa c ufanismo caracteri za-
an teprojetos pa•-a o pavilhão brasile iro da Feira va o noticiário brasileiro do feito em Nova York.
\I undia l de Nova York em 19?!R. Embora prem i- O sucesso internac ional do pavilhão brasi-
ado sem con testações, o arquitetO surprccu dcn- leiro pode ser creditado a uma postura serena
teme nle re nunciaria à sua idé ia para propor um quan to ao sign ificado do Brasil e da arquitetura
p rojeto e m associação com outro concorrente, brasileira no contexto rnull dial, como bem per-
Oscar Nie mcyer. El'etivamente, Nie llle)'er acom- cebe u Lucio Costa:
panhou Costa como assisten lc para Nova Yor k Em um;~ rerr<t indllslria l e r ullltra lmente d ese nvo l-
para desenvolverem o projeto t•um cscril ú rio pe r- vi da c omo os Estados U n idos e numa fe ira e m que to-
l)1 • -4rtjllile/ums l/li l~ru., - i!

r---...

,.- w

....
I \
......... ~,.

-I.:J)~7,.,
l1

...____
51 _Lucio Costa: esboço ráp ido da sua proposta inicial para o l'avi lh;-,o do 1\ ra~ il
------------
n a Fe ira ivlundial dP \lova York , f"ciw muna
f'lll rf'I ' Í~Ia t'llii9X7 (recuperado com computação g•·áfica) .

fí5 .Lucio Co~1. a c Oscar l\ ie 111 e yer: P;11·ilhào do llrasil " "Feira "1undial d e Nova York, 193H.

~
Modemic/(.fde Corrente • 95

- - " f>A . Lucio Costa c Oscar Niemeyer: jardim. itHcrio r c acesso superior ao l'avilhfw do l:$rasi l na Feira l'vlundia l de
• \ork. 1938.

parte países tão mais ricos c "cxpe riJOf'tWld os" co tll'eHit:ncias de ordem técnica e funcional nem tão
no ·su, não se poderia r;Jzoan~lmet p e nsar em p ouco fazer cenografia '·pseuclo-modcrn n", dessa t;io
,._air pelo aparato , pela monumcntalidadt> ou p ela em ,-oga aí. n os E.U.A. Queremos, isso sim, a ap li cação
.a. Procurou-se então in tc rcssar d e outra man eira: rigorosa ela técn ica moderna e" Siltsfar~o p rt'cisa das
-O-se um pavilhão simples, p ouco formalíst ico, cxig·L·ncias d e p r ugr;.ll ll il e locai!\, tudo por~nl guiado e
te e acol h edor, q1•c se impusesse, n <io pelas su as cont r o lad o, no co n junto e nos d eta lhes , pelo desejo
rcõc s- que o terreno não é gran de- nern p e lo COI!stan tt· de fazt'r obra d e al'le pl;tslie<t IJU sen lidu ma is
-que o país ainda é pobre - mas pelas su as q uali- puro da expressão. Na ;~rquit' l tl'< · l assi111 <'O tnp rt'cndi-

..tdes de harmon ia e eq uil íbrio e com o expressão, lan- da , a pintura e a escu ltura vêm romar namralmente
'l qua nto possívtl p u r a , de arte contemporân ea l Cos- cada qua l o seu lugar m1o coJno sirnples o r 11atos 011 elc-
- 1939, p. 471]. •n c ntos decorativos mas como valor artístico autônomo
embora fazendo pane in tegrante d<t com posi(<io rPrmi-
EsLava amadur ecida, tambi-m, a superação lhâo do Bmsil... El3U 1-
--!o racionalismo mais ortodoxo, com a consciê u-
Foi em um<t obr<t cie uso e fê mero que se
~:a de uma nova dimcn:;ão estética da arquiLetu-
gestaram alguns dos d iscursos arqu étipos que
r:i mode rn a acima da aridez d o mero rcbaLir nc n-
iriam clo rava nte pm·oar a arquitetu ra brasileira.
da fu nção sobre a fo rma - lição aprendida no
A assimilação de conteúdo tradicional da arqui-
m·ívio com Le Corbusier em 1 9~6 e a lgo ma is:
tetu ra colon i<tl em um a ele su as dim ensões for-
Respeitamos a lição de l.e Corbusier. Não prete nde- mais - a curva barroca - era assum ida pda pri-
, ubunlinar o esp íri to mode rn o exc lu sivam e nte às meira vez desde o trauma provocado por J osé
96 • Arquitetu,·as no Brasil

Mariano Filho em sua campan ha pelo neocolo- Nova York), mas não despontava com brilho in-
nial. Até então, nenhum pronunciamento escrito dividuaL Apenas u m de seus projetos de maior
havia aven tado essa relação incestuosa entre tra- porte havia sido construído até então : o prédio
dição e modernidade. Escrevia Lu cio Costa: "Essa da entidade assistencial à maternidade, a Obra do
quebra d e rigidez, esse movimt:nto ordenado que Berço, em 1937. Sua associação com Lu cia Costa
percorre de um extremo a outro toda a composi- em Nova York (e o estímulo de seu protetor) fez
ção te m mesmo qualquer coisa de banoco - no do apagado N iemeyer um arqui teto imedia ta-
bom sentido da palavra- o que é muito importan- mente encarregado de trabalhos de maior p orle
te para nós pois representa de certo modo uma li- e responsabilidade.
gação com o espírito tradicional da arquitetura Em 1939, a Niemeyer seriam confiados
luso-brasileira" [Pavilhão do Brasil... 1939] . dois importantes trabalhos: o Serviço do Patri-
Por outro lado, Oscar Niemeyer já f01java mônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) o
n esse pavilhão nma de suas analogias preferidas e n carregaria de p rojeta r o Grande Ho tel d e
em sua apologia da curva, como revela uma car- Ouro Preto, c o prefeito ind icado de Belo Ho ri-
ta de Lucio Costa para Le Corbusier, em 1939 : zonte, Juscelino Kubitschek de Olive ira, o convo-
"Oscar tt:ve a idéia de aproveitar a curva do terre- caria para projetar alguns edifícios públicos, aco-
no - bela como nma·curva de mulher- e o resul- lhendo recomendação de Rodrigo Mello Fran co
tado foi uma arquitetura elegan te e graciosa, com d e And rade.
um espírito um pouco jônico, ao contrário da O G ran de Hotel era um projeto com d i-
maior parte da arquitetura moderna, que se apro- fi culdades p eculiares: tratava-se ele um e difício
xima mais do dórico" [Sautus et al. 1987, p. l91J. novo, de grande porte, a ser inserido no sete-
A curva barroca e a curva feminina: este- centista tecido urbano p reservado da capilal do
reó ti pos d e uma arq uitetura moderna brasile i- ciclo de ex ploração de ouro na e ntão província
ra tempos depois. de Minas Ge rais. Tratava-se do primeiro desafio
d essa natureza enfrentado pe lo ó rgão que, por
princípio, d everia ser o guardião da paisagem
A ASCENSAO DE OSCAR NIEMEYER tradicional d a cidade, uma das mais homogê-
neas que restou n o Brasi l. A ideologia moderni-
zante dos dirigentes do SPHAN repudiava as rei-
Com a consagração d o pavilhão brasilei- vindica ções d e José Mariano Filh o [1943] pela
ro na Feira Mundial de Nova York, Lucio Costa imprensa, a exig ir uma o bra de gosto ncocolo-
apenas ampliou um prestígio já con solidado, nial como ún ica alternativa para o impasse . O
mas, na esteira d o su cesso, ele re conheceu a ca- proj eto d e Nicm eyer resul tou nu ma obra cujo
p acidade extraordinária de seu assistente, Oscar volume e lançamento na topografia eram desto-
Niem eyer. Até esse mome nto , o jovem arquiteto antes na paisagem . E ele era ainda condiciona-
(então com 32 anos d e idade) n ão passava de do pelo imperativo do con texto , com p ormen o-
um coadjuvante talentoso: fora desenhista no es- res f ormais emprestados ela arquite tura
critório Lucio Costa/ Gregori Warchavchik, sem tradiciona l - telhas de barro, trançados de ma-
ter demonstrado nenhuma aptidão especial; en- deira à man eira de muxarabis, volume longilí-
trara na equipe d e projeto do Ministé rio da Edu- neo dividido e m balcões contín uos - que mi ti-
cação e Saúde por d eferência de Costa, assim gavam a presença do ed ifício no locaL Não
como compôs a equipe encarregada da Cidade obstante o efeito m ediano, o Grande Hotel con-
Universitári<t. Mas, ao longo d os trabalhos, reve- figurou-se como o ponto inicial de uma atitude
lou-se uma personalidade habilidosa. Participara em que a convivên cia d o "novo" dentro do "velho"
de con cursos, tendo ch egad o próximo à vitória se realiza com a ética de evidenciar a inserção nova na
(Ministério da Fazend a, pavilhão do Brasil para trama an tiga auibuindo-lhe identidade própria -
.lludernidade Corrente • 97

'l9. 0 scar Nit>llH')'f'r: paisagem descorti nacla d o G ra nd e Hotel de Ouro PrelO. MG, en1 croqui do a rquiteto.

ôO.Cro<Jui d e Oscar icm cycr, il ustrando uma justificati,·a do arqu iteto: "Piasticamcnlc procu ra-
m os uma solução que fosse uma ex pressão o mais possiYcl pu ra de a•·tc contemporân e a, mas apre-
sentando a necessária ligação com o am biente local. Os j1ilnti.1. a cobertura de telha de ca nudo,
as j anelas em sé rie, a silhueta do bloco em que predomina a linha ho.-izontal c me smo a utiliza-
's'âu d'-' ccrtut; c ll'rrlcnLus tradi cionais, con1u tre li ça s etc. fo rnm crnpregados cum cs~a irncn çàn''.

.·'
', .

6 1 e 62 . O scar Nic meyer: Teatro Mu nic ipal de Be lo H o ri-


zonte, MG. 1940 (ob,·a não concluída) .
98 • A rqu tretu ras no lJrasil

·-··----·- -- -

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n3 c 64 . O scar N ie meye r: h o tel da Pampul h<> , Belo H o r izonte . M(; , 1940 (o bra não rxccm ada) .

isto é, o novo não copia o ant igo buscando co n- lo a 10 krn da capital. J u scelino preferiu cr iar um
fundir o presente com o passado, de m odo qu e b airro d e elite, balizado por um lago artificial ,
a arqui tetura antiga seja recon hecida e valoriza- p o ntilha n do suas marge n s com eq uipame ntos
da po r ser a genuína, disting uindo-se d as imi ta- de lazer c turismo : um ca:;:;ino, um iate-clube,
ções. um restaurante /casa d e baile , u m h o te l e um
.Ju scelino Ku bi tsche k cha m ou Oscar Nie- clube de golfe, além ele uma capela (!) [Segawa
meycr em 1940 p ar a d ese n vo lver o p roj e to do 1985a]. O conjunto construído d a Pampulha
Teatro Municipal de Belo Horizonte e um conjun- materializo u-se a pe nas co m os trê s p rim e iros
to de edifícios em um novo e afastado bairro da e difícios e a capela.
cidade, Pampulha. Quanto ao novo ba irro, o pre- Em Pampulha, Oscar Niemeyer - agora tra-
feito contrariava um a r ecom e ndação que Alfred balhando só - produziu uma arqu ite tura qu e se
Agach e - contra tado p o r KubiLSc hek par a assesso- afas tava d a sintaxe corbusie riana po r urn a ex-
rá-lo- lh e havia fei to. O ur ba nista fra ncês havia pressão mais p essoal, dece rt o a m adurecida com
sugerido criar uma cidad e-saté lite n aquele recan- a sua expe riê ncia novaiorqu ina. A sed e d o iate-
Modemidade Corrente • 99

65.0scar Nicm crc r: croq ui da casa


para J usce lin o Kubitschek na Pa mpu-
lh a, Gelo H o rizonte , MG. 1940.

66. Le Co rbusier e Pie rrc Jca nnerel:


rasa Frrawri7, Chile , 1930 (obra não
t'xt'c ut a da ).

clube (c uma casa desenhada para .Juscelino


Kubistchc k, nas proximidades) tinha com o refe-
rên cia a solução de cobertura da casa Errazu riz
de I .e Cor busier e Pierre .J ean ne re l ( l H19- 1967),
d e 1930 (planos inclin ados verte ndo para um a
calh a central); todavia, afasta ndo-se des:~ inspi-
ração, o cassino é uma contrastan te combinação
de um volume prismático r egular, de rigorosa
m odulação estrutural -explorando a liberdade
d e orde nação d os espaços intern os proporciona-
dos pelos pilotü -, associado ao curv il ín eo c
translúcido corpo qu e abriga a pisLa de dau ça. A
Casa de Ra ilc- p eq ueno t·es taurante com pista
de dança- é um edifício situado numa p equena
ilha artificial, de planta basead a em dois círculos
sccantcs da qual se desprende uma marqui e si-
nuosa , con1o a acompanhar as ondula ntes m ar-
gens do lago . A pequena cap e la d e São Francis- 67.0scar Niemeycr: axonornétrica da capela de São F•·an-
co de Assis é a o bra mais instigante do co njunto. cisco de Assis n a Parnp ulh a , 1\l' lo Hori7nt ~. MC , El40.
100 • Arquiteturas no Hrasil

Inovador?_ pelo inusiLado emprego de uma casca


parabolóide para a nave, associada a abóbadas
para o abrigo das demais dependênc ias r el ig io-
sas, numa combinação de estruturas cuja resul-
Laut.c formal afastava-se de qualquer formul ação
do racionalismo do pós-guerra. A capela, no t->11-
la n to, não estava concluída quando da mac iça
divulgação que Pam pulha recebeu com a expo-
sição Brazil Ruilds, corno veremos adiante. O
bairro p romovido por Jusce lino Kubitschek, a
princípio, cliluiu-se no conjunto de realizações
qu e os arquitetos modernos brasileiros ap resen-
tavam co mo sinais de uma inédila vi talidade
para um mundo em p lena be ligerância. Lucio
Costa, em 195 1, vislumbrou Pampulha como um
marco divisor, um "rumo diferente" que assegu-
rou urna "nova era". A repercussão dessas obras
d e Niemeyer serão r evisitadas adiante.

BRAZ!!. B UJLDS 68 c (j!:J_ Sobrecapa pouco conhecida do ca[á Jogo Bmzil


Builds, frcJ t Le e verso , reit e rando as questões antigo / mo-
derno c 1 ra diç:io/ rru,>deruidade ,
1'.·1.1 rrew que este é um dos gPstos de hwnanirlrui.P-
mais fecundos quP os t.•stados Unidos já jJraticamm
em relacrio a nrí.\, n . ~ hrrHilt'irns_ Porque ele virá, já
vrio, regt'llf'rrt1' tt nnssa confianra nn nrís, P diminui r
belo livro-catúlogo de duzentas págin as, resulta-
o des(tstroso mmfJh•xo dt• inferioridadr• de mesticos qui'
do de uma viage m pelo pa ís do arquiteto Philip L.
nos p rejudica trmlo. já escutt'Í muito brmiiPiro, não
apenas a.u mnbmdn, mas até m esmo eslo'/1/al{ado, di- Goodwin (1885-1958) (vice-presidente executivo
ante d esse livro que prova jJosstúnnos uma arqu.ilelu- do MoMA) c do fotógr afo G. E. Kidder Sm ith
m moderna tiio boa como os mais avanç1tdos jHtísP.s (1913-1997) , registr a n do a trad icional e a nova
do mundo. Essa ronsciência dr nossa normalidade ar quitetura do Rrasil. Não se pode desvincular
hummw srí mrsmo os estrangei-ros é que podem nos
esse ex traordinár io esfo rço dos norte-american os
dar. Po-rque nÓ.\ , pelo mesmo comjJlexo
tfp injl'riorida-

dr, ou reagimos rai11(/o num poT-qur-me-ttjanismo idi-


dos in teresses geopolíticos d e e ntão_ Goodwin,
ota, ou n-um jeca-laluísnw nmfonnista e apodrerl'nle. no prefácio d o catálogo, tratava o Brasil como
"n osso fu turo ali ado". O Brazil Bu,ilds era uma
MARIO DE ANDRA DE , co m enrário sobre das peças da "política de boa vizinh ança" que o
Braúl13uilds, 1943 [1980, p. 26] . presidente Franklin Roosevelt (1882-194-5) desen-
volvia na Amé rica Latina para angariar a lianças
O bem-sucedido pavilhão brasile iro na Fe i- estratégicas n o confli to mundia l que corroía a
ra Mundial parece ler suge rido ao Museum of Europa. Até e ntão, o presidente brasileiro Getú-
Modern Art (MoMA) d e Nova York realizar um lio Vargas exercia uma política de neutralidade:
reconhecimento mais abrangente ela arquiteLUra "namorava" nazistas e norte-americanos. Graças a
brasile ira [Comas 1989] . Em 1943, o Mo_M Aabria essa am bigüidade, o Br asi l conseg u iu recu rsos
a exp osição Bmzil Bu.ilds, qu e circulou també m norte-am ericanos para a implantação da Usina
pelo Brasil. A mostra foi acom panhad a por um Siderúrg ica de Volta Redonda, Walt Disney dese-
, Biblioteca Joaquim Cardozo 1
l CAC- UFPE I Modernidade Corrente • 101

te-americano reconhecia a influência de Le


Corbusicr e comentava:

Nele a sua influência reflete-se a centuada m e nte, o


mais importante porém é que aí se manifestam livres a
imaginação do desenho e a condenação da velha trilha
oficial. Enquanto o c lássico dos ed ifícios Fe derais de
W<lshington, o arqueológico da Academia Re<1l de Lon-
dres e o c lássico nazista de Munich do minam triunhm-
tcs, o Brasil teve a cor<1gem ele quebrar a rotina e tomar
um rumo novo tendo colllo r esultado pode r o Rio or-
gulh<lr-se dt> possuir os m<1is belos edifícios públ icos d o
co ntinente am e ricano [Gooclwin 1943, p. 91 ].

Goodwin chamava a atenção das várias


verLentes modernas que se praüc avam no Brasil:
a influência germânica na Escola Normal de Sal-
vador Lver capítulo "Modernidade Pragmática
I 922-1943"] ou a linguagem "pesada" (no dizer
ele Goodwin) e pretensiosamente moderna, de
origem italiana, da Biblioteca Pública M unicipal
de São Paulo (hoje Biblioteca Municipal Mário
de Andrade), projetada por Jacques Pilon ( 1905-
l9b~ ) e Francisco Mat.arazzo Neto (rn. ern l~HO);

mas a ênfase recaiu sobre a p"rodução vinculada


aos arquitetos do Rio de Janeiro, com destaque
(pelo menos quatro páginas a cad a um) para o
nhou um personagem brasileiro, o Zé Carioca, c Minist{:rio da Educação c Saúde (Lucio Costa c
o MoMA organizou o Bmzil Builds. E os brasilei- equipe), a sede da Associação Brasileira de Im-
ros exportaram pa ra os Estados Un idos a atriz/ prensa (Marcelo e Milton Roberto) , a Estação de
bail a ri na Carmen Mirancta (1909-1955) e BmziL Hidroaviões (Atílio Correia Lima e equipe) , a
Bu.ilds para o mundo [Segawa l983al. casa CavalcanLi, o Grande Hotel de Ou ro Preto,
Bnnil Builds resgatava algumas imagens es- a Obra do Be rço c o conjunto da Pampulha (Os-
quec idas e muitas in éditas. D ividida em duas car Niemeyer).
partes- "obras antigas", com fotogTafias da ar- Em São Paulo, o "complexo de iníe riori -
quitetura colonial e do Império, e "obras moder- dade" citado por Mário ele Andrade se transmu-
nas"-, G oodwin organizou uma publicação de taria num exercício de auto-estima e imensu-
arqui tetura brasileira q u e os próprios brasileiros ráve l auto-valorização, tendo como argumento
desconhec iam , co m o testemunhava Mário d e o sucesso de JJrazíllJuíLds. Umjovem arquiteto ,
Andrade. A ordenaç;:-LO "antigo/moderno" revi- Léo Ribe iro de Moraes (1912-1 978) , cobrava do
gorava a relação tradição / rrwdernidade no d is- poder público ("cabe ao Estado eslimuhu o de-
curso que se instaurava entre os arquitetos mo- senvolvimento da arquitetura") maior conside-
dernos do Rio de Janeiro. Goodwin , como um ração para com os arq uiletos de prática privada,
observador externo, enfatizava certas conquistas em detrimento das repartições públ icas presas
de que a m édia dos arquitetos brasileiros não se a "rotinas" pouco c riativas rMoracs 1944] . O Es-
apercebia. Tomando o exemplo do Ministério da tado era definit ivamente o maior mece nas des-
Educação c Saúde (então em construção) , o nor- sa arqu itetura tão elogiada n o exte r ior.
702 • A r q u ire/1u as 110 Rrasi!

Po uco depois de inaugurada a exposição , o ta no país: Brazilian School [Moraes 1944; Min ctli n
arqui te Lo Henrique Mindlin (19 11-1971), em via- 1975]. /Jmzil Buil,ds, publicado e m pleno conOiLo
gem pelos Estados U nidos, to mo u conhecime n to mundial, fo i o principal passaporte da a rquiteLU-
cte u ma nova ex pressão acerca da arqu itetura fe i- ra brasileira para o m undo pós-segun da guerra.
6

A AFIRMAÇÃO DE UMA ESCOLA


1943-1960

A jJrimeira escola, o que fJode-se chamaT legitimamente de "escola" de


aTquitetum modeTna no Bmsil, f oi a do R io de faneim, mrn I.w:io Costa
à jTenle, rt ainda r!slá ini!fUalada até hoje.

M.ÁRIO DE A N DRADE, 1943 [ 1980, p. 26 )

U m intelectual da im portância de Mário tetum contemjJorâ nea, diferen ciação que se faria
de Andrade parece ter sido o primeiro brasilei- n ecessária ante as qualificações ele pós-moderno
ro a caracterizar o grupo ele ar qui tetos em ativi- ou até o late mode-rn que se ve iculam internacio-
dade no Rio ele .Janeiro como uma "escola", n o nalmente.
sentido ele uma concepção arq uitetônica com Mas as considerações q ue originaram tais
adeptos seguidores. rótulos , mais alg umas apreciaçõe s amáveis (ou
Brazilian School, Cariocan School, Firs t não ) ele repercussão internacional, devem ne-
National Style in Modern Arch itecture , Neob<tr- cessariamente ser recebidas como produto de
roco, foram alguns dos rótulos atribuídos p e la uma revisão da prática da arquitetura que se pro-
história c crítica ela arquitetura pensada e escri- cessou no segundo pós-guerra- e não somente
ta pelos estudiosos europeus e norte-americanos, na prática, mas também na revisão histo riográfi-
para a arquitetu ra feita no Brasil mais ou menos ca que se sucedeu na Europa e nos Estados U ni-
entre a década ele 1930 até Brasília, naqui lo que , dos, por uma crítica especializada que, obviamen-
no Brasil, se convenciona chamar ele aTquitetura te, não deixou de se ntir os efeitos corrosivos elo
morlenw bn1sileira - em distinção, talvez, à aTqui- con ni Lo mundial.
701 • Arquiteturas 110 Brasil

A ARQUITETURA A NOVA GEOGRAFIA


NO PÓS-GUERRA ARQU ITETÔN ICA

Para a crítica inte rn acional (ou , ao menos, No pós-guerra, a geo?;mfia da arqu itetu ra
nos estud os publicad os até o in ício dos a nos de m o d erna d iversifi cava-se: não mais (o u não só)
1970), esse períod o do pós-guerra é re pleto ele a França, Jtália, Alemanha ou llol <t nda, 111as tam-
no vos nom es c qu alifi cações: Goff ( 1904-1982), bém , a partir de então, os Estados U n iclos (bene-
Sakaku r a (1904-1968), O'Go rman (1905-1982), fi ciados pela im igração dos "notáve is" europeus
Maekawa (1905-198{)) , J ohnson, Niemeyer, corn o Gropius, Mies, Rreuer (1902-1981), Me n-
Ea m es (1907- 1978) , Rogers (1909-1969), d e lsohn (1887-1953)), o J apão, os países esca ndi-
Bu n sch aft (1909- 1990), Saarinen ( 1910-1961) , u avos, o Méx ico, a Ven ezucb-1, o Brasil. Geog-rafia
Ze rhf11ss (191 1-1996) , Slll ubi ns (n. em 1912), q ue não pôde se clesvincnlar de alguma geopolí-
Yam asaki (1912-1986), Tange (n. em 1913), tica: fo i W inston Ch urc hill ( 1874-1965) e m 1946
Candillis (1913-1995), Bakcma (1914-1981), q ne alertou os u ort e-american os p ara a su a n ova
J ohansen (n. e m 19 16), Utzon (n. em 1918), Van posiç:ão perante o devas tado pan orama elo m u n-
Eyck (n. em 1918) , Rudolph (1918-1998), Viganõ d o, causado de guer ra. A crise nos gran des cen-
(19 19-1996), Sm ithson (1928-1993), ao b elo d os tros capitl i sta~ (Fr ança, Tn g la le r ra, Bé lgica,
ve teranos c mestres Mies (1886-1969), Gropi us, Holanda, Itália, Aleman ha c .J apão) reforçava a
Le Corbusier e ' "'right [Kulterrnann 1969] . posição dos Estados Unidos de central izar e de-
Não faltavam qualificaç;ôes sim pli ficad o - se n volver "as decisões e açôes in d ispensáve is à
ras: o Bay Region Stylc norte-am ericano, o neo- p reservação e expan são d o sistem a econô m ico
e m pirismo escandinavo, o New Bru talism batiza- fu n claclo na livre empresa". A Do u t rin a T r uman
d o por Banham (19 22-1988), o nco-realismo indicou o~ caminhos norte-ame ricanos ele in ter-
i ta liano, o Neolihcrty de Paulo Portoghesi (n. em venção nos assuntos políticos internos de nações
193 1) ou a versão i tal ian izada da arq ui te tura pe rifér icas, estabc lccenclo o se n tido da ch amada
wrightiana sintctizad::t por Brun o Zevi (n. em Guerra F ri a . O p r esiclen te no rte-america n o
1918) em sua an:hilettum organica, e aqueles a q ue IIarryTruman (1884-1972), em 1949, anunciava
nos referimos, lembrando a arquiteLUra brasileira. o pomo IV, "relativo à assistê n cia e cooperação
Jú se d isse q ue essa d iversidade resu ltava com as 'áreas subdest>nvolvidas', com o parte de
como corolár io adverso das concepções idead as u m prog ram a e m favo r da 'paz c Hherdade"'
pela geração pioneir a ou pelos vários movimen- Llan n i 197 1, p. 104] .
tos p resentes do início do século 20 até o fim dos A debilita da Europa Ocidental acabaria
a nos ele 1 9~0 , estabe lecendo o ln ternati o n a l r eco1-rendo aos Es tados Uuiclos, que pro poriam
Style ou, melhor, uma d iversificação contestado- o Plauo Marshall para a recuperação dos p rejuí-
ra ela suposta austeridade e impessoalidade des- zos do palco ela g uerra. A Am érica Latina, e o
sa ar quitetura d ita "funcioual ista". Constituíram , Brasil em part icu lar, beneficiada por imen so sal-
portanto, regionalizações como con traponto à do em câmbios estran geiros, preparou a d i nami-
h omogeneidade pressuposta pelos p io n eiros, zação de seu seto r ind ustria l - não sem an tes se
m u itas vezes, conformando não mais que idiossin- situar n a esfera da influência política e econ ômi-
crasias arqu itetônicas em nome de concepções ca norte-americana: "corrcspondeu à conciliação
efetivas. Eram algumas manifestações CJUe, imb uí- entre a decisão dos govcr n auLes d e imp ulsionar
das d e "historicismo", semeavam o icleário pós-mo- o d ese nvolvimento econômico brasile iro, a escas-
d e rn o acalentado na metade dos anos de I 970. sez de rec u rsos (capital e tecn o logia) n acionais
e a nova fase de expansionismo econômico dos
Estados U nidos" [lan ni 197 1, p . 117].
A Afirmaçà o de 111110 F.scola • 105

O p rópri o (;IAM aper cebe-se dessa realida- te tos d e h o je. Esse prestíg io de q ue se d o u ro u a cul tu ra
d e quando r ecomenda tra to especial n o tocan te brasileira, pelo conse n so in te r nac io n al de qu e tais o bras
con sliLuc m atu alm en te a mais impo rtan te co n tribuiçüo
< 1 "atitude do arqui teto fren te aos países subde-
d o Brasil ao p <~ tr il ô ni o da cul tura uni versal, esse reco-
~e n \lo l v \ dos", no dizer de Siegfried Gicdion , num n hecimento I!;Cral de <tue a nossa n ova arqu itetu ra in te-
prefácio da segu nda edição de ;\ Decade of Con lun- ressa ao mu n do ínLciro, clcvc·m se r vir, ao me n os, para
pomTy An:hiti'Ctu:re, ao faze r um r(tpiclo balanço dos a p on ta r o camin ho a q ttcm (]ueíra estudar a r(] uit<' tlt ra
novos proble mas cristali1.aclos nos anos 1947-1951. l Mi n d liu 1975, p. 172] .

AUTOCONSCIÊNCIA DA MUDANÇA ATENÇÕES CULTURAIS


SOBRE O BRASIL

Essas r elaçôes j á co n tribuía m para o


Antes de entra r no m érito das apreciaçôes
redi recio na mento da política extern a brasileira.
interuacionais sohre a arq uilc tura brasi le ira, va-
Colatcralmen te, a d ifusão da arqui te tura moc!cr-
leria a pena am pliar u m pouco m a is o g uadm da
na brasile ira benefi ciou-se d essa ligação. No ca-
in ternacio n alização da arte n o Brasil, oco r rên cia
pítulo ante rior, com ente i :;obre a origem c reper-
sim ultâne a ü o msolicla ção d a n o va arquitetura.
cussão da exposição c catálogo Rraúl Builds, d o
~1use u rn of Modcrn An of New Yo rk, c essa ini- No pano ram a m und ial d o pe r íodo d a
g uerra, do is nom es brasileiros d estacava m-se no
ciaft va àeve :>tr ·mseúà d. Y\\) <:on \.e';(..\.0 (\\.\<.:. 1..)\'a se
cenário das ar tes: o p in tor Cândido P orünar·I e
configuro u.
o m úsico H e itor Villa-Lobos ( 1887-1959). Po ni-
N um d iscurso p r on u nciado n a Escola de
nari colaboro u com os arqu itetos brasileiros nos
Enge nha r ia Mackenzie em agosto de I ~.J4 !), o
painéis do edifício elo Mi n istério da Edu cação e
arqu iteto H en riq u e Mind lin p restava co 11 tas d a
Saúd e (1945) c n o ed ifício-sed e da ONU e m No-
im portâ nc ia c da auto-suficiên cia d essa nova ar-
va Yo rk (1957), n o tab ilizand o-se pe la pin tura de
q ui te tu r a emergente:
cunho socia l, n a trilha d o mu r al ism o m exicano.
O roteiro da n o va a rqui te Lura n o B ras il j:1 se ach a A p L ~j a n ça econô m ica n o imedia to pós-
traçad o. Como nos ouLros pa íses, ondt> o trabal h o dos guer ra concorre u com um a m bien te prop ício
bon, arquitetos. evoluindo do estrito fu ll cionalismo de para um maio r in tercâmbio com as ar tes plásti cas
' lHe ano~ alr{IS, se c:wacteriza h ojt> por 11111 regional ismo
internacion ais: a criação do Mu seu de Arte de São
-....<dio, assim também en tre nós o.~ a rquitetos emanci p a-
Paulo ( MAS P) e m ] 947, sob o patrocínio do e m-
dos es tiio criando uma nova visáo, uma uol'a li ngu age m
o~.rqu i telu r al. Não se trat:·l ele estrei to nac ionalismo, c sim presár io de comunicações, Assis Ch ateaubriand
•~ e u ma ad aptação prorunda à terra e ao meio. Dentro ( 1892-1 968) , e n s~ j o u a vind a do casal Li n a Bo
óa mais co mpleta identificação com o espí rito da época, (1914-1992) e Pie tro Ma ria Bardi (n . em 1900)
,obre a base larga d e liberd ade espiri tual. C]ue é uma u·a- para a or ganização do novo espaço cultural, assim
;'to da nossa cul tura, ao sopro ele um lirismo q u e é o
como a aquisição d e impo rtantes obras de signi-
re1lexo ela a lma cole tiva, o s n ovos arq uiLetos elo Brasil
C"'..J.o crian do a arqu itetura elo sol. Do sol, porque foi u o ficativos pin tores e uropeus de várias é pocas, cons-
~n1do do fa to pri mário d a luz n o controle da insolação, tituindo o mais importante acer vo do gêner o na
uc: 'e assen t(lram a s primeiras realízaçôcs co ncretas da Am érica do Sul. Par a a fo r mação d essa cultura
o s-a arq u íLcLura. Fo i assim que nasceram a r\B l , o Mi- cosmopolita, contribuíram també m a criação do
·.-·t:rio ela Edu cação, a Estação de H idros e tantas ou tras
.:vfu seu rle Arte Mod erna rlo Rio de J an e iro
cbf'.._, que a crítica in ternacio n a l co n sagro u como a PSCO-
(MAM/ HJ) e o Muse u d e Arte Mode rn a de São
zsileira. Foi ela con~sa aplicação de u m p onto de
" t;.,. in transigen temente o rgàn ico aos nossos proble mas Pau lo (MAM/ SP- este, n úcleo gerado r das bienais
kx. -'i~. que surgiram esses edifícios ch e ios d e luz c ar de a rtes plásticas) -ambos em 1948. Nesse a no,_
a.puntados em Lodos os países co mo exemplo aos arqui- o a rquite to Hen r iq ue Mindlin o rgani zava, n o
106 • Arquitelurtts no Brasil

... ~ ...
.. ..

70.1\ffonso Eduanlo Rcidy: proposta de muS("ll com planta triangular na ave nida l';llllista, São Pa u lo, inicio da década ele
1950.

sal ão do p io neiro ed ifício do Ministério da Edu- (1902- 1983), Rog-e rs, Breu er, entre o utros, por
cação e Saúde, u ma exposição do e m e rgente aqu i passaram como membros do júri das Bienais
Alexander Calder (1898-1976) , assim como d ois ou participantes em even tos. Ao que se saiba, a
anos depois, a exposição do su íço Max Bill (1908- prim eii-a premiação inte rnacional co ncedida a
1996) no MASP influenciaria Locia uma geração de Le Corb usier foi nu ma Bienal de São Paulo.
j oven s artistas concrelistas brasileiros. O evento O crítico b rasileiro Mário Pedrosa (1900-
culminante dessa rápida fermentação foi a Bienal 1981) observou que a Bienal
Inrernacional de Artf'S Plásticas de São Paulo, rea-
[ ... ] cedo extr avasou de nossas fronteiras, e atraindo a
lizada pela prim e ira vez e m 1951 , gesto eloqüen-
ate n ção d os meios artísticos dos países vizinhos, p ermi-
te e mecênico do industrial Francisco .Matarazzo tiu q u e se intensificasse o intercâmbio c u ltura l entr e o
Sobrinh o ( 1898-1977) -típico capitão-de-i ndús- Brasil e as n:~ çõ c s latino-americ a n as. E sol.HT esses p::tí-
tria produzido pelo esforço da imig ração italiana ses, mesmo os ma is remotos e isolados, exerceu ames-
em busca de fortun a em novas terras, acol hido m a influência que sobre os centros regionais elo Brasil.
Na é p oca d as bie n ais, São Paulo tornava-se, com de ito,
pelo febril arnbiente de São Paulo.
u m centro vivo de contalO c inte•·câmbio d e impressões
A segu nda edição da llien al , inaugu r ada e idéias cnrre críticos e artistas do mund o, mas sobre-
em fins de 1953, concorreu tam bém com os pre- tu do da América Latina [Pedrosa 1973, pp. 9-lüj.
para tivos dos festejos do quarto centenário da
fu ndação ela cidade de São Paulo (no ano seguin- Esse contexto é parcialmen te explicador
te) con stituindo o cen ário adequado para pr~j e ­ da r epercussão do Brasil no ambiente das artes
tar, em definitivo, o evento en tre os grandes acon- p lásticas em geral e, em particular, da arqu itetu-
tecimen tos in ternac ionais no m u ndo elas artes ra no panorama mundial. Oscar Nicmeyer era
plásticas e arqu ite tura. Durante as primeiras Bie- lançado como o grande arquiteto, ombro a om-
nais, para o Brasil acorreram críticos, historiado- bro com os "notáveis" dos países dese nvolvidos.
res de arte e arquite ros internacionais, amplian- Lucio Costa, Affonso Eduardo Rc idy, irmãos
do o circuito de d ivulgação da atividade artística Roberto , Rino Levi, Robe rto Burle Marx, Sérgio
e arq uite tônica e m curso no país. Giedi on , Gro- Bcrnardes (n. em 1919) , Oswaldo Bratke, Jorge
pi us, Pani (1911-1993), Sakaku ra, Aalto, Sert More ira, Grcgori Wa rch avch ik e outros tornam-
- - - - -- - - - - - -~

A AjlnnaçZlo de u ma A'scn lci • 10 7

7 1. Sérgio Bnnardes: projelo de residê ncia, final d os anos de 1940.

se nom es familiares nos p eriódicos e li vr os es- Carl o i\.rgan , vValter Gropiu s, Max llill, Gillo
trangeiros esp ecializados em arte e arquitetura e Dorf1es, Siegfried Giedion , Ni kolau s Pevsner,
até em tecnologia. Gio Ponti (lHY l -l Y79) , .Mic hel Kago n , Albe rto
Sarto ris, Ada Louise Huxtabl e , Richard Neutra,
Bernarcl Rudotsky (l 905-1988), Bruno Zevi, Fran-
çoise Choay, Sybyl Moh o ly-Nagy, Pier Luigi Nervi
O PONTO DE VISTA
- lembrando alguns, elogiavam ou criticavam a ar-
INTERNACIONAL
quitetura brasileira em artigos publicados em pe-
r iódicos. Três artigos de Arthur J. Roasc, publica-
l::nt.re 1943 c 1973, o levanta mento biblio- dos em },' ngineering News R ecm"d em 1944-1945,
grát1co de Alberto Xavier ls.d. J r egistrou B7 re- chamavam a ate nção para a pecul iaridade do cál-
fe rê ncias em periódicos .especializados fora elo culo estrutural em concreto no Brasil, em especial
Brasil, tratando da arquitetura brasileira em ge- no edifício do Mi nistério da Educação e Saúck.
ral, e 170, a resp eito d e Brasília. Desses, d estaca- Após o B razil B uild~} de 1943 - que pode
·w n-se os números esp eciais dedi cados ao Brasil ser considerado o pioneiro li vro internacional
da L'A rchitecture rl'aujourd'h1ú (1947, 1952, 1960, sobre a rqui tetura moderna brasile ira - , a primei-
~9 64 ) , ArchitecturalForum ( 194 7), Progressive Archi- ra monografia com tema brasileiro foi The W or l ~
.«tu re (1947) , Ar-chitecturalReview (1954), Arquitec- of OscaT Niemeyer, ele Stamo Papadaki, em 1950;
.,ra i\lléxico (1 95tl), Nuestra Arquitectura (1960) e seis anos depois, o mesm o au tor publicou Uscar
Zodiac (1 960) . Revistas como Architect-ural R.eview, Niemeyer: vVorhs in Progress- a mbos editados pela
T~r h ni qw: s et arr:hiter:ture, A n:hiter:tural Recorri, Rcinhold d e Nova York. Nicm cyc r teve vários li-
_i.rchitectural Design, RJBA .Journal, Arhitektm; vros dedicados à sua obra, e m dife ren tes línguas.
_vchitecture/fonnes/fonctions, Domus, Werk, The O livro de Henrique Mindlin, Nlodern Architectu re
.1.rchitects '.Joumal, Ehistiks, Casabella, Landscape in Brazil, d e 1956 (edições no Rio d e Jan eiro/
_·v ch itecluTe, Cmnache di Architettura, A IA.Jou.rnal, Am sterdã e Nova York) , tornou-se a m ais difun-
e n rre ourras, publicavam ar·tigos com freqüência d ida obra sobre o conjunto da produção brasilei-
sob re te mas brasil eiro s. Autores como Giulio ra depois d e BmziL Builds. Mo ra N iemeyer, so-
·~

108 • Arquilelu ras no JJrasil

m e n te A rro n so Eduar do Rcidy m er eceu u ma Algu ns deles d edi cam capítulos ou comen-
mon ogra fia estran geira nesse pe ríodo: o Affonso t{trios so b re a a rqu iLCLur a b rasileir a. De man eira
Fdu rmlo Rt!idy: Works and Proier:Ls, d e Klaus Franck, geral, os panoramas mais be m rcalizarlos, como us
edi tado ern inglês c alem ão e m 1960. ele Leo nar do Be n evolo 119 74] e Ken neth Framp-
ton [198 1], seguem u ma in lerpn:tação desenvol-
vida po r Má rio Pcd rosa, publicada e m 1953 na
L 'Arclzitectw·e rl'aujottrd 'hui. Gillo Do rfles, em seu
A OPINIÃO EST RANGEIRA
L'Anhitettum Morlf!l'na [ 1957, pp. 11 0-l HJ, escre-
ve um capítulo in ti tu lad o "A Nova Arq uiletura
Brasileira e o Neoba rroco".
Qual é a umfr·iúuiriio da arquiletum úmsileira
Em 1954, G ropius afi rmava qne o s brasilei-
110 movimen to contnnpurrineu? Na mi nhn ojJin.iào,
são li"Í;~ t•lmumtos: emjn-inll•iro lugm; a gen.erosirludr ros "d esenvolveram u m a at itude .:u-quitctôn ica
do desr•nho r ria ronstruçâo; em segundo lugar, lntzer mo derna p rópria" e d izia : "eu n ão acr edito q ue
solurtit's simjJles para jnohlnnas t:omplexos, Si' lll ex- se ja apenas u rn a moda passageira, mas u m m ovi-
rlui1· a nPrr•uária <nganizarão, mos st•m estar rlomi- me nto co m vigor " [Anhitectuml Revir1w 19EJ4].
nadajJor l'ia; t' rlaertu a rontriúuirrio mais import(UJ-
As qualificações e ap roximações são as m ais
te pam 11 arqu.itetn ra runtemfJorânPa: o senso que
jumnite animar as grandes mfH'rficifs por eslrulumç
diversificadas. DorDcs, num artigo pa ra Dmnus em
vivas P multifone.~ . se te m b ro de 1959, faz u m j ogo d e p alavr as reu-
nindo dois tem as do mom e n to: "Neobarro co m a
non ncoliber ty". Thom as C reighto n , n u m a Pro-
S!EC FRIED G ! F l)I ON , 19!)2
[ l .'Arrhi/('(ture d'nujourd'lwi 19G2]
gressive Architn'lttTe tam bé m de setembro de 1959,
publicou um ani go so bre a a rquitetura b rasileira
com o t.ítulo 'Thc New Scnsmtl ism".Já Rcync r Ba-
Nu m prime iro esforço rle ;.~ pr ox im ação nh am , mais tarrl i:1mentc, classificou r1 ar q uite tura
po lítiGI via intercâ m bio cultural no :;cgundo pós- brasileira como derivada d os postulados corhusi-
gue r ra, na !in ha do Bmzil Bu.ilds, o Mu seum o f er iano s, m as chamando -a d e "ti rst na tio nal style
Mod ern Art d e Nova Yor k p romoveu , em 19 55, in m odern arch iteclUr e" [Ban ha m 197 7, p. ~9 ] .
a exp osição c o catálogo Latin Arnerican Anhitec- Em bora p revalecesse certa perp lexid ade
t-ure sinre 1945, com a participação do ma is p res- positiva pela arqu iterura que se prorl uzia n o Bra-
tig ioso cr íti co e histori ad o r norte-a merican o do sil , n e m to d as cr íticas eram favoráveis. Max Bill ,
mom e nto, Henry-Rnssell Ilitch co ck - o id eali za- Brun o 7.evi e N iko lau s Pevsne r estavam e n tre
d o r, ao lado d e Phi lip .Johnson (n . e m 1906), d o aqu e les q ue d isparam ácidas considerações so bre
manifes to l nternational Style, de 1932. Em seu a "escola b rasile ira".
texto, H itchco ck. tecia e logios à arq uite tu r a la ti- Co u be ao designer suíço Max Bill as pri-
no-am ericana com fo rte d ose d e p aternalismo . m e iras con t un de n tes críticas n ão assi m ilad as
Na g eog rafi a da <'~r qui telr a d o pó s-segunda pel os a rq u i te tos brasilei ros . Lau re ado corn o
g u erra - a qual implicava tarn h ém necessaria- Prê mio Inter nacional de Escu ltura da I Bie n al
men te dim ensões geo po lí ticas-, os países peri- d e São Pau lo em 1951, co nfe rencista em su a vi-
férico s (mesm o semi-incólumes d as fagulh as da agem ao Brasil no a no seguin te e, nessa época,
gu e r ra) foram postados na lin ha a ux ili ar d os ri- n o me ado re itor da H oc/w;hule für Gestaltung d e.
cos - observação facilmente comp rovávcl na le i- U lm , Bill esc reveu uma con tund en te crítica n a
tura d os sum á rios e ín rlices d as p ublicações eu- Arrhitectuml Review rle outu bro d e 1954, r e fe ri n-
ropéias c norte-ameri ca nas editad as a té os an os d o-se com ênfase aos p ilares dese nh ados por
d e 1970. Compêndios de história d a arquite tura Oscar Niemcyer em edifíci os do conjunt o d o
mo d e r na m u n dial são p rodu tos edi toriais dos Parq u e Ibirapucra em São Pau lo (ond e se pro-
pa íses d esen vo lvidos. move u a li Bienal):
110 • Arquile/uras 110 Brasil

urna tradição de cultura a inda em formação - o que nos do pe rtin e ntes. Esse compo rtamento inibiu algu-
Pxpi'><' naturalmente mais à crítica daqueles que se j u lgam m as gerações de arquitetos brasile iros e sufocou
repres(• nr;mws c!P uma civilização su perio r. \1as, tamh.:m,
uma discussão construtiva - e m parte, respo nsá-
somos simples e co nfiantes em nossa obra. O suficien te ,
pelo tnenos, para apt·eciar essa cd tica, ainda quando par-
vel pela a titude r efratária a q ualquer forma de crí-
la de home ns q ue não possnc m, p rofi ssion<-tlmC'nte, as crC'- tica à arqui te tura brasileira desde e ntão até hoje.
dcn ciais n ecessárias. É claro flUe <1 autoridad e ele Cmpius Pampulha, de Oscar Nicrneyer, tornou-se,
é dife re nte, embora cumpra ressalvar a p ouca afinidade n o pensamento de )Jikol aus Pevsn er, um a o bra
q ue temos com sua téc nint e fria sen sibil idad e.
de caráter subversivo. Na virada da dé cad a de
Consideramos a Anptile ttll'a obra de ane e que, como
1950 para 1960, u mil p olêmica tornou conta dos
ta l, sô subsiste quand o se ren~la espontânea e criado ra.
Trabalhamos co m o concreto a r mado, material dócil c d e bates arquitetôn icos na Eu ropa, e nvo lve nd o
gen eroso a todils as nossas t:tn tasias. T irar dele beleza c Brun o Zevi, Reyn er Banh am c Pcvsne r, d e um
poesia. especu lar sobre suas imensas p ossibi lidades é o lado, na d efesa de uma postura func iona lis ta c
tlue uos seduz c ap aixona. p rofissiona lnteult'. E por estas t.ec no logista da arq ui tetura m oderna, contra ma-
r01zües é q ue Lall LO nos identifica mos cotn a ob ra de Le
nife stações de "hi sturi cismo", corno a co locada
Corbusirr. Obra dr amor e harmonia, onde as caracterís-
ticas (,k criação c beleza são as constan tes fundamenta is.
p e lo gru po italiano Neolibe rty, capi ta neado por
E f'o ijusta mcnte d e ntro desse esp írito d e liherta(<io Er nes to Rogers. Não cabe retomar essa disc us-
e niação at·tística que a nossa Arquilctura conseguiu em são, registrada por Manrredo Tafuri no primeiro
qnin rt' anos ( I ~:$8 -1 95 3) o p res1ígio mu n dial d(• q ue ine- capítulo ctc 'f f.orif! e Storia rfplf'Architettura e por
gave hncnte h o je desfru ta ["Criticada ... " 19i'i5 , p . 1 7 1. Charles J encks n o início d a terceira parte de T'he
Lm1Kuage of Post-mor!Pm Anhitecluu:. Pcvsner, n um
O corpo .edi torial da Módulo fo i menos su- célebr e discurso no Royal Insti tu te or British
til : procurou rebaixar a autoridade de Ernesto Archi tects em 1961, p ubl icado no J oumal da e n-
Nathan Rogcrs c Max Bi ll (que escreveram na tidade, Modem Archileclurr' anrl the Histmian, or the
tevista inglesa) afirman do desconhecer a o bra d e- Retum oj' .llisto-rir.i.wn, atribui a Nie rn eyer u m a
les, "a não. ser pequenos e inexpressivos projeLOs", gra nde respo n sabi lidade:
desdenhando ironicam ente. Na edição seguinte,
a revista ap elava para a rctaliaç:'ío: reproduzindo Mas a q u estão fu ndame nta l para explicar o retor no
d o lti stol'icismo con tinua a ser o fato de q ue, mai s o u
imagens de um pobre cor ~jun to habi racion al e m
men os a panir d e 1938, ocorreu um a m udança na ar-
Milão projetado por Rogcrs (então ed ito r rlil qui u ~ rn a . A princípio ela p arece u baslan l.e inócua: o
Casabella-Continuità e respuusávcl pela transfor- NPo-Accomodating da h ab ita ~·ão esca ndi nava e o Beton-
mação da revista numa das mais conceituadas pu- Rororo n a obra de Oud e o u tros, p ouco a n tes da g u e r-
blicações européias entre 19fí3 c 1964) , a Módulo ra. Mas repentinam en te ela ga11ho u eno rme vigor, com
prete ndeu atacar a competê ncia opinativa d o ar- o jovem Oscar Niemeycr n o Brasil, e m 1942-43. Se us
e d ifícios são o s primeiros que, de mo d o e nfático, não
quiteto m ostran do uma o bra menor, no lugar de
mili s perte n cem ao chamad o /n (ernatimwl Style, c são
re bater as opiniões divergentes com argumentos. o bras q u e têm forç a, tê m porlrr, que os tentam uma
Isto é, p rocurou desquali.G.car o crítico, não a crí- grande carga de o riginalidade, mas são, en faticame n te,
tica. 1nfel izmcn tc, o esno bismo e as reações in- anti -racion;l is [Pe vsner 196 1] .
tem pestivas c retaliativas tornaram-se a norma de
resposta às críticas formuladas contra a arquitetu- Nessa o portu nidade, Pevsner qualificou a
ra brasileira. Contrariam en te à elegância contun- produ çào de arquite tos como H ans Scharoun
dente de Lucio Costa, os arqui tetos brasileiros, de (1893-1972) , j 0 rn Utzon, Felix Candela (19 10-
maneira geral, preferiram o caminho mais fác il e 1997) e Oscar Niemeyer como de um anti-máona-
menos intelige nte ele não assimilar e r acioci n ar lismo pós-mnrlrrno, num dos primeiros empregos do
sobre as opiniões contrárias, virtualmente criando te rmo "pós-modern o " na crítica de arquitetura.
uma barreira contra críticas de qualqu er n ature- Menos contr ove rtida foi a ace itação do
%a- formu Jaclas no exterior ou aqui , mesmo sen- traba lho paisagístico de Roberto Burle Ma r x.
A Ajlrmação de uma E'icola • 111

Siegfried Giedion foi um exaltado admirador Esse discurso de G iedion parece ter orien-
do paisagista brasileir o. T r açando uma rápida tado a maioria das apreciações posteriores sobre
evolução da arte dos jardins- com o paisagismo Burle Marx, que alcançou o reco nh ecimento
inglês, citando Frederick Law Olmstead (1822- mundial como um dos principais paisagistas do
1903), Adolphe Alphand (187-~) - o críti- sécul o 20.
co suíço se questionava e respondia: A produção latino-americana , e a brasilei-
ra em particular, que alcançou significativa reper-
Como imag ina is o jardim íntimo de nosso tempo?
Como utilizar a cor? Que formas dar aos canteiros de
cussão mundial no período, sempre foi analisada
flore s e gramados? As respostas serão impre cisas c, se como extensão do lnternational Style formado a
perg untarmos o nome de h orticultores qu e tenham partir dos anos de 1920 na Europa, o que, confor-
encontrado um a exprcssiio que seja verdade iramente me a abordagem, pode constituir grave equívoco
aquela elo jardim ele nossa época, estaremos diante da conceituaL Não existiu um lntcrnational Style pro-
in certeza. Sem risco poderei indicar um: é Roberto
priamente dito no Brasil, antes do advento do gru-
Ru de .Marx elo Rio d e J aneiro. Ele é pintor abstrato. F:
um artista sensível que com preen d e a linguagem das
po do Rio de Janeiro no cenário da arquitetura
plantas. Em seu país exótico, e le pesquisou as plantas local, à exceção, talvez, do esforço isolado de um
nativas nas !lo restas virgens amazônicas. Mas ele encon- Gregori Warchavchik no final dos anos de 1n0.
trou, também, a maneira de usar as plantas mais sim- Algumas análises da crítica internac ional pressu-
ples, aquelas que crescem em todo lugar. As flores são
põem que a moderna arquitetura brasileira evo-
plan r:1das em massas c co1-cs unifo,·mes. Esses tufos de
luiu na mesma linearidade histórica con fig ur<tda
cores fortes , com formas livres, são como que extraídos
d e uma tela e pou sados sobre o relvado. Esta afinidade nos países europeus, analogamenle ao raciocínio
com a ane contem porânea é o segrecto elos jardins rk· que vislumbra o barroco / rococó latino-america-
Burle Marx rG1edion 19521. no como mera extensão do fenômeno es tilístico

7'l. Rohf'rio Rurl c Marx· flora do granito do Parqu e Zoobotãnico de Brasília, 196 1.
112 • 11rqullelums nu Bmsil

eu ropeu. E n tretanto, as comemo rações do quin- meye r, sofreu severas restri ções no pe ríodo por
to centenário da chegad a de Colmnl>o à Am éri- sua postura abe r tamen te comunista: teve seu vis-
ca, se enfatizaram, desd e 1992, a revisão a respei- to d e entrada recusado pelo Departamento d o
to do alcance da influência do Novo Mundo no Estado n o rte-americano em l 946 para uma con-
pe nsame nto do ve lho contin ente. fe rência e m Vale, assim como foi impedido de se
A a rquite tura m oderna brasileira, mesmo tornar professor na U ni vers idad e d e São Paulo
informada de um co nteúdo internacionalista, em 1951. Co ntud o conservo u conside rável clien-
correspo nde a um esforço de transfiguração d e tela oficial no Brasil, Lend o participado da eq ui-
co ncepções, adquirindo cor es próprias sem se pe original qu e d ese nvolve u os estudo s para a
apoiar n uma tradi ção local imediata (eclética sede d as Nações Unidas em Nova York em 1947,
nas trb primeiras d écadas do século 20) mas como també m projetou um a unidade de habita-
buscando no passado referências de ideutid ad e ção em F\e rl im e m 1955. É certo que o credo co-
- um d esafio pr-óp ri o ciaqueles que buscam a cri- munista do mais importante arquile to brasileiro
ação c a originalidade inerentes à co n tempo ra- influen ciou o pe n samento d as novas gerações.
nc irlade, m esmo enfren ta nd o c carregando as Cândido Poninari , o mais prestigiado pintor bra-
marcas das in coerências políticas e sociais bem sileiro nessa época, e legera-se se n ador da Repú-
com o o peso das divergê ncias ideológicCis de um blica em ] 946 pelo Partido Comunista Brasileiro.
país à margem. A in telectualidade, po r assim dizer, "pro-
gressista" cn tr i ncheirava-se nas esquerdas. A con-
tradição apare nte enrre a vang uarda artística do
QUADRO DE m omento c seu "idílio" com gover nos an tagôni-
CONFLIT OS IDEOLÓGICOS cos ao pe n samento socialista, aliada à tutela n or-
te-amer icana, couheceu episódios que be m acen-
tuam a d elicada te ia de r elações políticas elo
Con trad içôcs idcolúg icas parece Ler sido o mome nto. Um dos mai s combativos críticos de
aspec to co mum a vários países latino-america- arte e arcp1itetura brasileira, Má ri o P edrosa,
nos. U m fato m arcante na implantação d o movi- trotkista, d efe ndia abertamente a Bie nal de São
m ento moderno n o su hco ntinente latino foi o Paulo e nquan to alternativa para ampliação do
evidente patrocínio governamental: o grupo bra- r epertório artís tico , rompe ndo o "círculo fecha-
sileiro liderado por Lucio Costa Leve impulso do em que se desen rolavam as atividades artísti-
inicia l do presidente Getúlio Vargas - u m dita- cas no Brasil", embora reco nh e:ccsse o co nteúdo
d o r que te ndia para o fascismo - , e seu s desdo- especulativo-capita lista por trás do eve nto [Pc-
bramentos posterio res tiveram forte im p ulso ofi- drosa 1 97~]. O próprio Pcdrosa foi o p rimeiro a
c ial para efetivar suas criações arq uite tôn icas; no ale rtar, n o plano internacional , e m artigo par a
Mé-xico, Juan O'Gorman, Juan l.egorreta, Álva- L 'Archi tectu·re d 'aujou·r d'huí em 1952, sobre as re-
ro Aburto, J osé Villagrán Carcía (1901-1 982); e lações entre a ditadura e o patrocínio da arqui-
n a Vcnezue la, Carlos Raúl Villanueva ( 1900- tetw·a moderna no Brasil.
1972) realizaram su as obras com pl eno a poi o Na corr ente principal da esque rda brasi-
oficial de governos populistas. O patrocínio es- leira, situada e n Lre os membros do Partido Co-
tatal como pano d e fund o para a in tro dução d o munista Brasil e iro - e ntão estalinista,- urna de
m odern ismo na América Latin a não p assou d es- suas alas faz ia a c rítica ao movime nto m oderno
percebido a Henr y-Russell H itchcock [ 1955]. centrand o-se n a questão do s u posLo distancia-
A arquitetura c a arte moderna brasileir a mento entre a li n guagem estética do moderno c
desenvo lveram-se n o imediato segund o pós-guer- o repertório fo rmal de d o mínio popular, ou da
ra- ambie nte d a ch amad a Guerra Fria. O m a is "arte do povo r evolucionário ". O a rquiteto De-
e mine n te dos arquitetos brasile iros, Oscar Nie- métrio Ribe iro (n. em 1916) - importante lide-
11 l l}irmaçéio de 11 ma Escola • J 73

rança intelectual em Porto Alegre- defend ia no tudo quanto f- malandragem comercialcsca do tipo ven-
início dos anos de 1950 uma arquite tura que pu- das em condomínio c hotéis e m praias dt>st'rt.as, ao mes-
1110 tempo que con corre, para reforçar a penetração do
desse ser "compreendida pelas massas", porquan-
impct·ialismo, d a ndo-lh e co bc nun1 para entra1· despcl·cc-
to a nova arqu itewra diferia "da arquitetura do bido pelas ponas d os movimen tos c ultu rais do ti po
nosso passado e de lodos os edifícios que o povo Bic-nal de São Paulo o u União Cultural Brasil-Estad os
conhece". Para Ribe iro, a arqu itetura moden1a Unidos [Anigas 19RI , p. 77] .
continuava "isolada do povo c reservada aos lati-
fundiários burgueses", "para agradar à burgue- Posições essas que transcendiam as formas
sia" [Amaral 1984, p . 2791, insinuando, sem de crítica arquite tôni ca conentes d o momento ,
mui1a clareza, uma arquitetura rormalmente re- <:ntrclaulo, carregadas ela linguagem temperada
ferenciada em padrões convcnciouais. F.m 1956, d a G uerra Fria c ele ll lTl a ortodoxia ideológica
Ribeiro, Nelson Souza (n. e m 1925) e Eni lda decorren te do m e io político da época. Artigas,
Ribeiro (n. e m 1923) publ icavam sua proposta posteriormente, abrandaria seu discurso virulen-
de moção ao IV Congresso dos Arquitetos, na to, cam inhando m esmo por uma lin g uagem cor-
q ual concluíam: busie riana em sua obra, uma década depois.
Uma crítica coutundcnte contra a arquite-
1) A arquitetur a brasileira está ameaçada de dege- tura moderna brasile ira encon trava um ponto co-
nerescência devido ao seu isolan1e11to d o povo.
mum: a sua pouca expressão em obras de cunho
2) A ún ica possibilidade de d cse n voh·ilnento da a r-
quitetu ra brasi lei ra 1·csidc em su a dc n wnatização, na
social - à exrcção elo isolado projeto habitac io-
base ela satisfação das necessidade s m ateriais c cspiritn- nal de Pedregulho , rlt' Al"fonso Eduardo Re idy.
ais d o povo. Essa crítica, n;corrente nas esquerdas, atazanada
~) Os con h ~c: imen t os teóricos dos a1·qn itcros sobre por Max Rill , tinha vazão também c>m interlocu-
os problemas soc iai s, h istóricos 1:' e . ~ t éticos desempe- tores ao centro , como em Henrique Mi ndlin, tão
nham um pape l decisivo na evolu(ão el a arquitetura. O
ced o como, em 1945, uo discurso enaltecedor do
d ebate desses p1·oblemas n o IAB (l nsti ln to de Arqui te-
tos do Brasil), n as organ izações estudantis, c nas esco- reconhecimento inte rnac ional da arq uite tura
las é um a uecessida cle urgente da ;.~ rqni t c-tn brasilei- brasileira reproduzido rarágrafos atrás. Dizia de:
ra [XaYie1· 1987, p. 154].
F.n trerantn, falta-nos ainda muita coisa . falta-nos a
Outra importante liderança emergente visão concreta , re<~ l i zad a ua p1 ·<'í ti c <~, rios grandc- s pro-
blemas sociais ela colet ividarle. Fa ltam-nos habitações
nos anos de 1950,João Batista Vi lanova Artigas
populares, falta ut-uos escolas, hospitais, loc<1 is cle~ nt cs
(1915-1985)- que se tornar ia a mais importan- de trabalho. Fa ltam-n os, ~ohr ctu do , um u rba n is mo de
te figura de São Paulo nos anos de 1960 - , con- sen ti do s oei<~ L um urbanismo voltado para as n cccssida-
testava posturas "revivalistas" n <-~ forma a rq uiletô- dC's do pm·o, da massa traba lhadora e mio p aJ a as con-
nica (ou a busca de imagen s estereotipadas da ve niê ncias de a l g u ~ 111 ilhares d e a u tomóveis. Su p1 i1·
essas fa ltas, equipar o Brasil de amanhi"t, st-"r ú tllll traba-
cultura popular) , sem, contudo, deixar de l ado
lho g iga ntesco, uma tarefa para a qual todos os a rq ui-
a taques ü arquitetura modern~ como uma forma
te tos do país serão po ucos. Po1· isso poderá se r tam b é m ,
de dominação do capitali smo. Em dois artigos se soube rem si:' int C'grar no espírito elo n osso tempo.
puhlicarlos e m 1951 e 1952, respectivamente, "Le CO I IIO ho1nens e como ci dadüos, ;1 t:~rcf a principal rlos
Corbusier e o Imperialismo" e "Os Caminhos da moços que têm a sorte e o privi lé-gio d e estuda r arf]ni-
Arq ttile tura Moderna", Artigas sen tenciava: ''A tcrura [Mindlin 1975. p. 172].

arqu itetura morler n a, tal como a conhecemos, é


A necessidade de uma autocrítica também
nma arma de opressão, arma da classe dominan-
se fazia presente en trc os protagonistas elo mo-
te; uma arma de opressores contra oprimidos "
vimento. Lucio Costa, em sua resposta a Max Bill
rArtigas 1981, p. 63 ] . Em outro lugar:
(em 1953), já afirmava que "a arqniremra brasi-
Hoje f 1952] a arquitetu ra mode rna bt·asile il·a pmgri- le ira [ ... ] anda mu ito necessitarla de d ucha fria
de no 'eu tido de servir ele can at. ele propagand a p a r a d e quando em quando " LCos ta 1962, p. 159].
111 • A rctu íteturus no I::Jmsil

Lui z Sa ia (1 911 -1975), arquiteto d e São Paulo Esrad os U nid os. Brasília es tá no bojo d esse proj e-
ligado a Má rio ue Andrade, e m 195 4, ao m esmo to d ese n volvimc ntista e constituiu o marco final
rcmp o q u e recon hecia um per fil d efi niti vo d a d essa vanguarda a rquite tôn ica ali me nlada por
arquitetura brasile ira, alertava quan to à diluição uma po lítica d e "conciliações" ideo lógicas. O
c banal ização d os p rin cípios d essa ar quitetura: marco cronológ ico final dessa etapa está em 1964,
com a implantação ela clit<tdura mili ta r, e ncerran-
Es,~· assu nto d a existên cia o u n ão de ll ll l<t <~r qu it<' tl ­ uo a u topia d o seg undo pós-guerra.
rn con tc rnpo rân e<l brasil eira , do p o nto d e vista fo r mal,
não f: mai s passível tle d iscussões. Existe, c e~r ilcab acl o.
As cla>ses domina n tes já aceit aram " p ossibi lidad e esté-
ri c<l. al é m d o neoclássico c do colon ial. O gove m o já re- HABITAR MODERNO
co n h ece u a nece ssid ad e de in stalar escolas esp ec ializa-
da> de <Hfjui tl' tura.l ... 1
Ja verdade. a cxegs<~ rl;1 arqu irernra b ra ~ il c ira leva- its casas proletária.\ , mnslnâda.1· jJrlas Caixas e
ria, como é natui·al, à p roposição si n cera C' honesta d os Institutos rm vários Estados, ainda .wio t'm peqvl'f/0
se us pro bl emas anta is, cuj o traw p o lêmico fo rçaria um a nú·m ero e de jJ!'I!(O elr.11orlo, em. rrln çtio âs f )()SSI'S d us
revisão in cômo d a elas "verdades" q ue a tu<J lm ent<· s<' t'm.pn•gados.
imp ingcm aos incaut os, mas q ue n ão resiste m à menor Dt•i ·inslnt(Õt•s ao Ministério do Trabalho para
crítica, c que já provil r <~ m , el a p nrte de especia listas qur, srm prrjuíw das constru.ções i.wtodas ondr st• tm·
estrangei ros, sé ri as resl r i çi'e~ . as quais. em bo ra visive l- nanm rum?Jrlhâl!eis. estude e jnojete gmnd l's núcfe-
me nte "interessadas" c ca•,.egadas d e S<'glln uas in lc n- os de habit a~·õP. \ modPstlJs r mnforláveiç. Hecomendei,
ções, não de ixa m de tC'r p •·ocedência, yua ndo encaradas para isso, lflll' si! adquimm gmndes árm.1· de ten·pnos
de tun pon to rle vista rrilerioso . t', se preciso, qw? sr, desapropánn ro· mais vantajosas;
Co m e fei to, as cartas elo ;'ltu al b arallt<lo são poucits e que se jnoi'Pria â avalia{âo da s uws·mn.1; qw• se lt•vr1n
fáceis, ctic ientes e rendosas: m eia dúzia d e solurõcs for- em considemrtio os nu•ios d e lmnsporll' para Pssrs mí-
mais e algu mas pal avras de poder mágico: b1ise-solr.il, "co- rlPus; q1te se racionafiu.m os méludos de ronslnt(tio;
lunas em V", pilolis, "a mebas ", "pan os co n tín u os ele vi- que sr adquiram os ma lt•riais, din•l.rwumtt• do produ-
dro ", "mo de r no ", "funcional" e i C'. O prestíg io dessas tm:: t.udo, l'!ifim, dr· modo a se obtn: pelo mrnur jHI'(:o,
fu rlllas c dessas p <llitvras e o seu abu so son egam a con si- a mrlltor rasa.
deração j usta dos probl e mas que realmente são pro p os-
tos p rlo !ra lo ruais con scntãneo d a n ossa a rq uitetura.
G ETÚl.I O VARGAS, 19:18 rl 94 \ pp. 2 39-240 '1
Mesmo n o estu d o de um proj eto parri cul ar, h a bit a~:ão ,
rdifícío p úblico, fábric:~ ou o que quer que s<ja , a efi ci-
ê n cia pmfissional fi ca m u itas ve<:es prejlldicada pela in-
() arrasamento d11 IIWmm.hos, frmrlas r co1·liros
t en~ · ão mod ernista e acadêm ica, em detri mento rla cxce-
r.sl.ú n a m nsáência de tod os e us msu.llrulos disso sfío
lê:nci a do Lrab;llho [Xavie r· 1987, p p. 199-200J .
já f}(lten tes.
{ ... ]Nas ~;rmdes rúladt•s, mn grande esforço vai Sl'll-
O bviamen te, o deba te ide ológico do m o- do feito nu ;entido de substituir essi'S núdt•ns insa!u -
men to n:'ío se circun screve u aos poucos exe mp los brPS p u,- habitações de!'lln/I?S. Essa camjmnlta n em sem-
m encio nados, mas as co n ti n gências políticas e jJTe lem sido hPm romjHemdida.
econômicas con dll7.iam a uma aliança implícita cte [... ] S r a. pojwlaçâo que vegeta nos rorhiclwluJ das

grupo s políticos conflitan tes, numa co-existê ncia favelas, nas esca rpas dos m.m·Tos, .fur 1·emovida.,
jJam onde poderá d irigir-se a nciu srr fJa.m muito lon-
d e an tago nismos sob as estratégias d e d esenvo lvi-
ge ou para os lúgubres alagadiços da baía?
mento nacional. O naciona lismo era o sign o con- [ .. . ] A campanha dr conslrurües populares lem. sidu
dutor do d esen volvimen tismo d os a nos d e 1950, orientada romu por um rígido espi?ito j1russiano.
temperad o, tod avia, pe lo r eform ism o popu lista Quando libert a d a dessa durr1za e com propagantla
[Mo ta 19771 . O p residente J uscel in o Kubitsch ek melhor rntrnnPnle os gntjJOS h uma nos çp d isporão a
vivn neJses novos lugares qur lhrs sâo indimdos, sem
estabelece u, em 1956, o Plan o de Yletas, o n a pla-
a ojl!'riza I' a aversâo d e hoje, que os .fazem fneferir n
nifi cação d a política eco nômica voltada para a di-
morte lenlct d os mon-os ou das vánras.
namização do setor ind ustrial, sin to nizad a com o /Já um grande número de prujrtos, alguns em fJle-
sistema capita lista m undia l orqu estrado pe los na exrcu_çâo, de conjuntos dr habitações baratas, tal
A Ajlrmaçiío de uma T:Scola • 115

romo se deu 1w liuropa e, mais rt•rt•ntnnnllr, nos l·.'s- las, 1930; a bordo do Patris lf, 1933: Paris, 1937)
tados Unidos . Attilio Corn'irt Lima é o autor de wn desenvo lveu-se nu m crescend o r um o à q uestão
gm.ndr risro dest inado 11 wn bai·r m industrial de Stiu
urbanística e à sagração do habi tar racional como
Paulo. l·.'stá nele incluído certo número dt• altos sobra-
dos de ofJa rliwwnlos, ofirinos t• Oll/ms instalarõt•s
o fundamento da cidade modern a. Can Ottr Cities
gt•rrâs. Realengo é uma interessantt' PXjJerifnria rlr ha- Stnvive?, u ma síntese das d iscussões do IV c v
bita fá o rolrliva, rmnjlrl'lmdrndo lauto m.ws de apar- CJA\fs, foi um dos manuais mais difundidos entre
tamentos romo rrsirlfnrias isolados. os arqu itetos e urbanistas brasileiros.
É certo que as recom endações form uladas
Pttt UP L GOODWI N, 1912 [1943, p p. 96-971 nos Cli\Ms, bem corno possivelme n te as experi-
ências de d istritos residenciais norte-americanos,
com o Radburn, instr u m e n taram um a ver tente
{ ... } ,'\linguhn podr Pwondt•r o raos que impera nas
dos progr amas oficiais de habitação popular no
ridnrlrs qui' a b1nguesia dirige. Muito ao rontrário,
todos oromprmhrnn os jJI'olrsto.l pofmlaus, inclusive Brasil nos anos 1940-1950. Apesar da o ratória
os urbanistas r lraladistas qut' 111!; di.lfnttmn entre si prom issora d e Getúlio Vargas tomando a m o r a-
mguuwn/IJS fmm uforrar e dm· corrs vivas às miséri- dia social corno uma p la ta f'o rm a de g-overno -
as u rbrwas. 0 .1 livros de tt rbani.ww, mn gnal, siioum não só du rante a ditad ura q uanto em se u m :-~n­
jNtSSI'ÍO 1111.\ mrfÍ(OS. {. . }
dat.o como p resid ente eleito - , a resolução do
Os termos para isrnlar rir rnljJa n burguesia,
problema h ab itac ional n ão alcançou os res ulta-
j mm f'IJ11111'1lrrr que nâo adianta dPrrubâ-la do poder,
qw• lllrfll ,\1'111/Jr e foi o qw• r, l'lio ditl ' rWI~ . Siegfried dos pretendidos em seu discu rso populisla. To-
(;irdinn, n famoso oilicu d,, 111/fLÚii•l·llm 'fltl' ainda a davia , h á de se co usidcrar q u e, com V:-tr!{as , sP.
fJuuw uo~ visitou a nmvilt• da Bienal imperialista, esboçou um es(jnema ele finan c i::1mentu e co us-
'l'l'i'011li'n d I ou! um li'uro do urbanista josé !.uis Sert tru ç;l o e m escala d e ha bita1;ücs pop u lares me-
(Ca11 Ou r Cities Survivt> ' ) { .. } Pn.lavm s que cuns-
di a nte cane iras p r ediais estabelecidas 11::1 es-
til!tnn tamhhn o alerta de um lída burguês {Gierlion/
trutura previdenciária dos vários I nstitutos d e
ao.\ .11'!1.1 mmmulrulos aTquitetos, uTbanislas I' .mriólo-
~;os rir nrmbaltlt·, de nâo l'SfjLU'/"1'1"1'111 mmra 0 .1 ''jJla- A posentad oria c l'ensúcs - os chamados TAPs-
1/0S ", ntiu asjúm m r·ealizar muito mais do que ron- cria d os durante o ~stado Novo . Re cursos capi-
venar o jníbliro da inut'ência da bw-guesirl. Que o ta lizados com a arrecadação compulsória com a
proletariado se conven ça que o cortiço, a ignorânân, o r gani zação do sistema previd e n ciár io gc raralll
a fome, a "reduzida r mrsqui nha .forma d e vida que
reservas q ue viabiliza ra m o inves ti rneulo em se-
é obrigado a legar", thn a sua origem, niio na explo-
raçâo do lwmrm j;elo ltomern , na essfnâa rio rPgime
tores que o pod e r pú b lico passava a assu mi r
wpital~, ma~ "no estado atual de nossas adades", como e ncargos d e sua resp onsabilidade. i\ par-
110 ro~ urbano' tir d e 1937, o governo ;m tori zo u os lAPs a ap li-
carem se us recursos e m co nstrução e habitação
j. B. VILANOVA ARTIGAS, 1952 lFa ra h 1985]. As obras deri vadas dessas inicia-
[198 1, pp. 65-6 71 tivas asse ntava m-se e m p remissas d o urbanism o
moderno. A Fund ação da Casa Popular- FCP,
criad a e m 1946 - , fr;:~s1 rl o en saio ele um orga-
nismo federal d edicado exclusivamente ao p ro-
Num quadro de confl itos ideológicos, blem a da habiwção eco nômica, também abra-
n ada ma is patente q ue a qu estão habitacional çou teses modernas na reso lução de conj untos
como f ulcro <..k divngê ncias para a conjuntura habitacio n ais. Sç essas i nstituiçôes ( ç a lg umas
p olírir<l cl <1 époc::1 . E nada m ais em blemátic o , outras, de ab rangên cia r egional c local, estabe-
como símbo lo da m ode rnidad e arqu ite tôn ica e lecidas na é p oca) não form ularam propriamen-
..Irbanística, qu e a m oradia po pular. te uma política de habi tação po p u lar, e las en-
Tudo o debate d o CIAM anterior à Segunda camparam uma série d ç iniciativas impregn adas
Gue rra (I ,a Sarraz, 1928; Fran kfilrt, 1929 ; Rru xe- de valores de uma m odernidade rcfor111ista , ao
- ~ - - - - - - - - - - - - - -

116 • ;!rquiteturas 110 8rusil

·.
sabor de alguns ideais da modernidade arq uite-

/~tiTU . ,- != fJ ~ L,
tôni ca e urbanís tica da prime ira metade do sé-
culo ~0 .
Tal espírito moderno estava imbuído nos
estamen tos burocráticos do Ministério do T r a h ;~­ ~ :~,r ·· -~ - i . n-~ .--___ ~= ~i ~r:l
-·· • ../~[ • ,-:;'.c" O., I(;, ! '",\~ ......
)\ -
lho, ao qual se subordinava m os IAPs. É interes-
sante observar as re ferên c ias urbanísticas elo pe-
74.Rube n s Po rto . .Jaime Fonseca Rod r igues, Aro;ostinho S(t,
r íodo - usual men te tidas cowo ci rcunscri tas ao Pa ulo Sá: rcstauranl<' popular do !AI' !, c. 1939 ( projeto
repertório do C IAM e a Lc Cor busier, mas não
não cxcnnarlo).
apenas a esses círculos. O arquiteto Rubens Por-
to (do Serviço de Enge nharia do Conselho Na-
cional do Traba lho, fun c ioná ri o da a lta lti e ra r- telégrafo-correio e posto policial ); a hierarquiza-
fJ ttia do min istério), n uma publicação de 1938, O ção elas via.-; de comunicação inte rn as c externas
Proúfmw rlas Casas OjJerárias e os institutos e Caixas aos conjuntos; a preferê nc ia por habitações cole-
de Pensões, descrevia um estudo de conjunto re- tivas e m casas ge mi nadas com ter reno próprio
sidencial (do qual não se pub li caram os dese- ou em blocos não mais altos que quatro pavi-
n hos) -e laborado p e los arquitetos Ru hr>ns Por- m entos (evitando elevadores), vislumbrando a
tu e Aifumo Visconti e os engenheiros Paulo Sá padronização e pré-fabricação rlos componentes
c Agostinho Sá- revelando algumas das matr izes constr utivos; o emprego de jJilotis como rec urso
de cultura urban ísti ca . Com ênfase, o autor cita- para liberar :treas de convívio COIIJUHitário e co n-
va o socialista utópico .J ames Silk Bucking ha m tato com a n atureza; a racio nalização elo in te ri-
( 1786-1855) c o livro National Hvil anel Prartiral or da nnidade d e moradia com a adoção do
Hrmwdies, with the J>tan ofa Model Town, d e 1819, e apartam en to e m dúp le x; a entrega el e unida-
Ebcnezer Howard com TrnnmTow, a bíblia elas ci- des com m o biliário rac ionalmente concebido, de
dadcs:jardins publicada em 1H9H. Sem precisar as acordo com a arquitetura [Porto 1938, pp. 40-
fontes, mencionava Clan:ucc Pcrry (1872-194.1) 55] . Não se sabe se essa proposta se materiali-
(sistemarizador da Neighborhood Unit) , Rubert zo u ; todavia, o repcnório proposto por Rubens
Whiw.:n (diretor de pesquisa da School of ê,ity Porto se coadunava com a política que a lg uus
Planning,da Harvard University), Charks Mulforcl !Al's desenvo lveram n os anos scg11i n tcs.
H.obinson (1869-19 17), Maurice Rotina! eLe Cor- Entre os IAPs, as m:ilis sig nificativas realiza-
husie r. A capa do livro reproduzia a maqueta da ções de caráter moder n o fora lll desenvolvidas
Casa Bloc em Barcelona, projetada por.José Luis pelo Instit uto de Apose n tadoria e Pe nsões dos
Scr t c const ruída e ntre 1932-193fi. In cl ustriários - JAPI. Suas primei ras iniciativas
A p ro posta da eq uipe de Rubens Porto apon tavam a tendência: um editlcio para re ndas
sin te ti zava um ideário de estrutura h abitacional em São Paul o , projeto n ão executado de Rino
de m:ilt riz racionalista. Contemplava um CO I~ jun ­ Levi em 1939 [Rino V vi 1974]; estudo de ResL<w -
to de "2000 moradias e co nôm icas a sere m CO II S- rante Popular de "arquitetura racional" desen-
tr nídas em série por processos racionalizados". volvido por Ru bens P orto, J aime Fonseca Rodri-
Conside rava o enfoque teórico de inserir a habi- g ues, Agostinho Sá c Paulo Sá [Porto 1939] ; o
tação num quadro regio nal, examinando os aci- edifício Anch ieta em São Paulo (avenida Pau lis-
cle n tes geográficos, os recursos naturais, o sistem a ta esq uina com avenida Consolação) e o Conjun-
de transporte; o en tendirnento de un<a relativa to Residencia l da P en h a no Rio de Janeiro, co m
a uto n o m ia dos conj un tos h ab itacionai s como 1 248 unidades, ambos projetados pelos irmãos
Ne igh borhood Unit Cells, cada qual com sua es- Roberto (o último, premiado e m 1940 no V Con-
cola, igreja, comércio, diversões, infra-estrutur a gresso Pan-americano de Arquitetos e m Monte-
administrativa (co m previsão para serviço médico, vidéu [Finep / GAP 1985, p . 54, jiassim]); o Cem-
.1 . \(i rmaâi .. I • 11 -

7 ."' e 7 G. Alht> r lo ck M 11
i\ tt i li o c e °
Flô r cs .
C •o rr<:i ''t 1 .tma, · H é lio U . •
aval canti <' J • ' h o.t
. . osc Th <:odulu ..
co n u n to . .· da Stlva:
C 1 t <;~t d enc ia l \'árzea
arm. .o _ IA P I • 's·•·10 Paul o, 1\l'l'> elo
.
parcwlmcn te ,, - (obta
ex~ru t arl) .

---
I
)~

I
1 JR • Arquil(>lllrtts 110 Brasil

ju nto Residencial Várzea do Carmo em São Pau- em 194G. O Departam ento nasceu d e um a gestão
lo com 1038 unid ades, p roj eto parcia lm en te im-
1 da engenh eira Carmen Portinha, inspirada nos
plantado d e Alberto de Me ll o Flôre s, Auilio estudos d e reconstrução <ias cid ad es britânicas
Correia Lima, H é lio Uc h ôa Cavalcanti c José que conh eceu durante visitas téc nicas realizad as
T h eodulo da Silva no início dos ano s 1940 [Flo - em l94!'í na Ing late rra, de o nde trou xe o concei-
res et al. 1942]; c o Co nj unto Residencial d o to d e "unidades de vizinhança", conforme depoi-
Rcalengo n o Rio d e .Janeiro, co m 23114 unida- mento I Segawa 1988a], aplicadas no Conjunto
d es I Fi ne p / GAI' 1085], proj e tad o p o r Carl os Residencial PrefeilO Mendes d e Moraes - con h e-
Fred erico Ferreira (1906-1 996), Waldir Leal e cido como Pedregulho - , proje tado por Mfonso
Mário H. C. Torres - o s dois últimos cor~ junto s, Eduard o Reidy a partir d e 1947, com 328 unida-
le mbrados t>m Rmúl Bui lds. Carlos Frederico des para ab rig ar funcio nários públicos do Discri-
Ferreira, que foi chefe da área de Arqu itetu ra to Federal. Outros conjun tos com característ iras
do Setor de Engenhari a d o IAPI entre 1939 e similares for am realizados (mas não concluídos)
1964 [Bo n cl uki 19941, projetou ta mbé m o edifí- nos ;mos d e 1950: o Conju nto Habitaci onal da
cio-sede ela de legacia <.lo IAPI com apartam entos Gávca (1954), de Reidy, c o Conjunto Residen-
no Recife [Ferrei ra 1942] e o Conjunto Residen- cial de Vila Isabel ( 1955), d e Francisco Bolonha
cial Vila Guiomar em San to André, São Paulo, (n. em 1923) [ 1956a; 195()b l- uma cit ação aos
e m 1919, com 1 11 1 unidades. O utras obras sig- edifíci os à Lc Corhnsie r ou à Casa Bloc de José
n ifi cativas foram o Conjunto Residencial Passo Luis Sert. O Departa me nto de H abi tação Popular
d 'Ar eia em Porto Alegre, com pr~ j c t o d e Marcos desen vo lveu, a inda no final dos an os de 1940,
Kruter e Edmundo Ga rd oli nski, com 2 500 uni- u ma linhagem de moradias eco nômicas unifami-
dades realizadas entre 1946 e 1950; e o edifício liarcs térreas em lotes isolados, com variações tipo-
.]apur á, em São Paulo, proj elo d e 1949 el e Eduar- lóg i ca~ d erivarias das dimensões e características do
d o Kneesc de Mello (1906-1994) com 2314 uni- terreno, número d e dependências e :trca útil cons-
dades, inaugr<~ do em lYS7. truída e n tre 37,29 m ~ c 57 m". Projetadas por Fran-
O s ócma is IAPs aparentemente não osten- cisco Bolonha, J osé Oswaldo Henriques da Costa
taram o mesmo fôlego e enve rgadura do I A PI. e H e lio Modesto, for mavam um repertório de ti-
Notáveis foram os pr~jeto s de Eduard o Kneesc pos residenciais à g uisa de pr~j e tos - padr õcs refe-
de Mello e m 1947 para um gra ndioso conj u nto renciados em no r ma do Distrito Federal estabele-
resi d e ncial do Insti tuto d e Aposentado ria c Pen- t:eudo a categoria de "habitações prole tárias"
sões d os Com e rciários (IAPC) em São Paulo , às
margens do rio Pi11he iros, c o Conjunto Residen-
cial Vila Ipiranga em Niterói, projetado em 1947
por Álvaro Vila! Brazil [1986] para o lnsriruto d e
Previdência c Assistê ncia aos Ser vidores do Esta- • c .... ..k.. &... w..tcv. .
~
do (IPASE) - a mbos não executados.
c:~J
Uma amostra de arqui tetura e n rbanism o
modernos promovida pela Fundação d a Casa Po- -.J~
........tu-~
pular é o Conjunto Residencial em Deodoro, n o
Rio d e .Janeiro, conjun to de 1314 unidades pro-
j etado p o r Flávio Marinh o Rêgo (n . em 1925)
[ 1954].
A ma is di fund ida experiência d e habitação 77.Eduardo Kneese d e :\11c llo: conju nto o-csidc n cia l Cidade
pop ul ar da ar qui tetura moderna brasil e ira foi .Jardim - IAPC, São Panlo , 1947 . Dia!-(r ama d e o r denação
realizada pelo Departamento de Habitação Popu- dos e q uipamentos co letivos, blocos de h abi tação c cir c u-
lar da Prefeitura do Distrito Federal, instit uído lação.
78.A!fonso Eduarrlo Rcidy/ Departa m c uiO d,.. T ab ica~·ü o Popular: conjunLU residen c ia l Prefeito Me nd es clt: Moraes-
Pe d regulho-, Riu d,.. .Ja ne iro. HH7 .

para edificações de no máximo 70 m", e m lotea- Os grandes c onjuLO ~ de moradias desen-

mentos conven cionais, sem vínculo com um pen- volvidos pelos sistemas previdenciá rios c institui-
samento urbanístico de maior amplitude ["Habi- ções habi Lacionais realizados dos anos d e 1940
tação Popular" l9 4R] . Francisco Bolonha teve e m cl.iante reve lavam sua filiação aos propósit.os
materializado o Con junto Residencia l de Paque- do urbanismo racionali sta, e nquanto uma teori a
t.á, reunião d e casas assobradacla.'; econômicas ele global (suposta mente científica) para enfrentar
1952 [Franco 1988]. Evidentemente, a vitrine do os problemas urbanos c a hipótese cl.e um mode-
DHP fo i Pedregulho , elogiado p or Max Bill em lo completo de organização d e cidade. Os proj«"-
1953 [Aquino 195 3] c louvado por Le Corbusicr tos urbanos pressupunham um ideal de território
em su a passagem pelo Br asil em 1962 [Segawa no qual se pretendeu a reconquista do controle
198Ra], vistosa am ostragem de preocupaçües so- público sobre a terra, precon izando o fim da ex-
ciais dos gove r nan tes que, toclavia, não livraram ploração in teu siva d o solo mediante a d isciplina
essas iniciativas d a dccadêll cia e da degradação dos espaços segundo um a lógica onde a ordena-
nas dl:cadas subseqüentes, supostam e n te por ção fundiária se subordinava ao bem-estar cole-
mal gerenciamento c d esvirtuamento dos con- tivo dos h abitanles, e não aos interesses d os pro-
ceitos que presidiram a criação dos conjun tos. príet:u·ios. Esses co njuntos pr orno Ye r am a
Infelizm e nte constituem , h~j e, r u ín as de um rt o rde nação de ár eas suburbanas, periféricas ao<.
cer ta modernidade . cen trus tradicionais - euormes terrenos adquiri-
I " . on.'in 1os
~ l.~ ' ~r '(, 0~'>1$ .:.o.qJt<l tiu-sot
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ri Aflmwçiío de 11111{/ !:~cola • 121

dos a custos mais baixos. A crítica à cidade tra-


d icional , privileg iadora do espaço rle prorlução
( tJ·abalho, comércio, circ ulação) reorientflva as
diretr izes da cirlad e moderna, como n o discurso
sintetizado pelas quatro fu n ções urbanas preco-
nizadas pela Carta de Ate nas: trabalhar, circular,
habitar c cultivar o corpo e o cspíriLO. Os últimos
dois tópicos foram ressaltados numa nova o rdem
urbana: a habitação wrnava-sc a p;) rte mais im-
ponante d a c irlacl e, insepar::ivel dos espaços d e
recreação c d emais equipamentos como a s ist ~ n ­
cia m édica, e nsin o, comé rcio, transporte e tc. A
unidad e de viúHilauça configurava um padrão
mínimo de te rritório racionalmente li<:raquz~ ­
do c au to-suficiente- um grau d e ;wto nomia que
acentuava o carúter de enclavc lúncionalista ante
a cid ad e trad icional.
A cl ualidadc espaço público/ es pa~ · o priva-
do - tão cara ao pe nsame n tu urbanístico moder-
no - encontro u man ífcstaçõc>s c> cli;tlélicas distin-
tas na re solução dos co njuntos habitacionai s
brasileiros. Propostas como as de Pe dregu lho, ele
RPirly, e o Conjunto Residencial IAPI Várze a elo
8 1 c R2 . .Marcos Kr utc r c Edmun d o Gardo linsk i: conjun LO
Carmo da equipe de Attilio Correia Lima vislum-
rt>idenrial PasM> d' .\rt'ia - T.\PI, Porto Aleg-re, RS, 111411.
b ravam alta densidade populacional c o tot;1l
No mesn10 conj un to, convivênc ia <k bloco ' residt:IH iais,
co ntrole do solo co mo espaço público: blocos rle
u ni dades geminad as e isoladas de ha i taç~o.
quatro aduLe pavimentos isolados num ambien-
te dc> parque, à maneira da Vi lle Ve rte corbusic-
riana. O Conjunto Resid encial do Rc alengo, el e
Carlos Frederico Fe rreira, admini strava uma so- Ped regulh o c Passo D 'Arcia parecem con s-
lução mista ele edifícios coletivos e unidad es uni- tituir o s cxln:m os da expcrif> ncia I;J·asilcir a no
fa milares geminadas. O Co njunto Residencial âmbi to d os COJ"Ú un tos h abitacionais do pós-segun-
IAPl Passo D 'Areia, de Kruter e Gardolinski, assi- da guerra: no Ri o d e jam:iro, o conj u nto im p reg-
milava a figuraç ão das cidad<'s-jardins, combi- nado d os preceitos urbanísticos d o CIAM, as áre-
nando blocos coletivos c unidades gem inadas e as l ivres d e caráter ge nérico, a colc>tivizaçào dos
isoladas, organicamen te distribuídos n o territó- espaços, d os equipamentos (como a lavande ria),
rio, com quin tais privados em cada unidade. o refina ment-o da geom e Lrização form;1l à Le Cor-
l ~ se conjuntos resideuciais f o ~ja v am
s ma- husier, à "escola cflrioca"; ern Po r to Alegre, a sua-
neiras de convivên cia e ntre seus habitantes: d o vidade uo p a d rão u r ban ísti co ci d adc ~j a rdi m, a
controle da célul<l habitac ional às áreas li vres, o mistu ra dc> códig-os simbólicos novos (blocos co-
pr~ j eto dos espaços buscava o r·denar as relações le tivos) e t rad icio nais (casfls c.o m q ui ntais) co m a
sociais, a vida comuníLária, afe tand o o se ntido predo minância de fo r mas arquitetô n icas vern a-
d e privacidade c coletividade d e seus moradores. cnlares, es tabelecend o cntornos famil ia res o u de
F. inegável a vocaç;io educadora d esses espaços, fácil assim ilação. Car me n Po rtiu ho tro u xe a in-
o imprimir u m a llloral inerente à doutrinare- formação britânica das New Towns; Garclo linski
dentorfl do urbanismo moderno. também parece r.c r m irado a exper iência inglesa
122 • Arq11 itt?t11ms 110 Brasil

- não na escalr1 elos grandes blocos, m as na inlimi- BRASÍLIA


d ade dos ba irros com o e rn Stcvcnage o u , m ais
provave lmen te , na "n ova trad ição" das c idad es-
_j ardins. O sucesso o u o fracasso desses conjuntos, A -rrvnluriio que B -rasília i mj1licaria, rm devt?-ria
enquan to apropri ação dos usuários, pode se r ;wa- simbolizar, llmi rlt• rrim 1·aízes, descer às inji·a-estru-
liado segundo a relação que as p ropostas [unnu- turas .soria~, jmm swgir aos olhos do povo e das eli-
laram a nte a q uestão e a ponde ração de três do- tes como obra Hut (r nüu tafn"ir"hn rio prrsidente), obra

mínios: o públ ico, o privado e o comu nitári o. rn{f'liVU, r.rtfmz. dt• YI'/JTfSl"'llal; f.JI/1(111/I(i, U/1/ I O II I" Ila ll l

na hi.l-ltírin fJolít ica, snrial e rultumt do Hmsil.


Bonduki r elati viza a pro d ução hab itacio-
nal dos fA Ps e da FCP. A realização de pouco m ais M ÁRIO PEOROSA, 195il [ 1981, p . 33R]
d e 140 m il uni dad es h a bitac io n ais pode ser
co nsidcrach1 nm m arco positivo d iante das con -
di ~ : <lcs e da po pulação brasilc ir<1 da época, assi- 11 A rquitl'l·ll'm Brasileira lnn SIII'TJÍ(OS fneslnrlos á

n ala ndo sobrnudo a q uestão da qualidad e arqui- nnrionalidade nr.u e sentido. Mostrou ao mundo ad-
mirado qur o H•·asil pode ergurr-.lt' fJam o roncerto
tetôn ica d as o hras exec u tadas:
1111iven al de nacões, com linguagrm /JIIÍ/Jria, na qual

O fa lo é q tt<" apesa r d e tudo o que já se ::1po n tou o brasileiro e o tt11Ívasal se rasam hannoniosa.mente.
como fn tgi licladc el a aç.ã o g ovf' f'lt <L IIJt: ntal , o resultado Onlrun, mnslruírmws timidamente nlf!,1WS ediji âns;
não foi to talm r. n le cl e cep c iu tta nt l' c mere ce u m a obse r- lwjt', j ilumos Brasilia - uma t:idade intrim - w-m

vação mais cuidaclosa d o rl' '"' te m sido kila. E, por o u- argumrnlns nossos. De Casa em Casa, rl11 {',idnrlf' em.
tro lado. de mo nstra q ue existia m p l e n ~s; con d iç õ es no Cidnrlr., fiwi n •rloç, r~judaemos a reconquistar o Bra-
sil pam ns hmsilrirus.
Brasil d os a nos 4 0 e 50 pa ra M! impl e m en tar uma

massiva p•·odução d e habitação social, de c xcC'I e n te


J. fi. VILANOVA i\RT IGAS, 1959
qua li d ad e! , se não capaz d l' a le nrlf'•· às necessidad es da
r19sl, ~-> · 31-321
pou l a~ :~ LO d e baixa renda , ao m e nos pa1·a limitar c c on-
feri r 11m o utro padrã o d e q u al i d acl f' ao incontt·o láve l
p roc esso d e favelizaç ã o e perifC:' rização q u e tomou con-
ta d::Js p rin c i pa i ~ c id ades brasi le iras a pa r tir de e ntã o A rnonttmrm.talidad" de Rm..1ília alimenta-se na
LBund u ki 1QQ1, r- 199] fo-rça I' no lransborrlaniP. nrg'lllho dt• 1tm povo quedes-
ro/yre seus próprios caminhos ,, .li' jJiir t'm marcha, ten-
É cla ro que as diver sas exp eri ên cias hab i- do dianlr de si grandiosas penprrtivas df' desenvolvi-
tac io nais dos moder nos cariocas pode m se r con- mento. / . .. }
I ~ m uito jJrovâv i!l f[1U! Rrasília, como solu_câo u r·
sider ad as como en saios da nova capita l do país.
banística e arqnitetônim, ente1TP mil e um pequenosc
A Afirmaçi:ío de uma Escola • 123

grandes dejeitos - mas é inegável que a obra j;ossui o de 1100 m ele alwra elo mar e corn pouca clensicla-
essencial: expressa os grandes r nobres ideais de liber- ele hu mana - , em área junto a um lago artificial,
taçrio do fJovo brasileiro, que já SI! revelam como )in-
clclimitacla a partir ele estudos de urna con sultoria
ca atua n te.
norte-americana. Co n ta-se que, p ara o desenvol-
EDGAR GRAEFF, 1960 ll979, p. 1') ) vimento do projeto da nova capi tal rlo Brasil,
Affonso Eduardo Re idy c Roberto Burle Marx
haviam suo·e
o r ido a contratação de Le Corbusier,
Juscelino Kubitsc hek foi um político vis io- repetindo a experiência elo Ministério ela Educa-
nário. Durante o Estado Novo, nomeado pre fe i- ção e Saúde de 1936 [Bru and 1981, p. 3541. Pres-
to de Belo Horizon te, emp ree nd eu o bairro de
sões do Instituto ele Arquitetos do Brasil e uma
Pampulha convocando Oscar Niemeyer e R ober-
d ose ele nacionalismo conduziram à solução da
to Burle Marx para os pro je tos de arquitetura e
abertura de urn concurso público nacional, divul-
paisagismo. Eleito presidente do Brasil em 1955, gado em setembro d e 19!'ifi, contemplando ape-
criou un1 .1l11[!/tn para o r itmo d esenvo lvimcntis- nas o plano urbanístico. Nesse momento, .Juscel i-
·
ta que preten d e u 1mpor: :J O anos em ,J
"r, h" . B1·as'1
< -
no Kubitschek j á havi a d e termin ado que Oscar
lia foi uma das alavancas ele sua gestão.
N ie m cycr fosse o autor dos projetos arquil.etôni-
A idéia da transferência ela capital elo país cos dos principais edif"ícios pú b licos.
do Rio d e .Janeiro para o coração d o território A pan.ir de uma documentação cartográ-
brasileiro data da primeira conslituição republica- fica e t>o·eo técn ica remanescente elos estud os de
na, ele 1891. Estudos n esse se nlido foram desen- localização do sítio da n ova capital , a dete r mina-
volvidos ao longo da primeira m e tade elo século ção ele uma cidade para no máximo 500 mil ha-
seo·uinte.
1':1
Corn seis meses da administração de bitantes, a exigência gráfica rnínima de "um tra-
Kubitschek, em agosto d e 1956, o Congresso Na- çado básico da cidade , indicando a disposição dos
cional ap rovava a mensagem d e lei preve ndo a prin cipais e lementos da estrutura urbana, a lo ca-
transferênc ia da capital para nova localidade, si- lização e interligação dos diversos setores, centros,
tuada n o Planalto Central- região :u·icla, a cerca in stalações e serviços, distribui ção dos espaços li-
vres e vias de comunicação (escala 1:20 .000) " e um
"relatório jusúficativo", uma elite da arquitetura
brasi le ira par ticipou elo concurso (com as nota-
elas ausências de Reidy, Burle Mar x c Jorge Mo-
reira). Vinte e seis projetos foram submetidos a
um júri formado pelo inglês Wílliam llolford
(1907-1975) , o fr ancês André Sive, o n o rte-am e-
ricano Stamo Papadaki (autor dos livros sobre
Niemeyer) e os brasile iros Oscar Niemeyer, Pau-
lo Antunes Ribeiro (1905-1973), L uiz Horta Bar-
bosa e Israel Pinheiro ( 1896-197::1) (presidente
da Novacap, empresa oficial responsável p elo de-
senvolvime nto da nova capi tal) . Em m a rço ele
1957, p roclamou-seu res ultado: Lu cio Costa era
o autor d o projeto ve nce dor, estando en tre os
demais p r e m iados arqu itetos co mo Ríno Levi,
i r m ãos Roberto, Henrique Mi ndlin / Giancarlo
Pahm ti ( l90G-1977) e .J. R. Vilanova Art.igas.
83. B rasília e sua escala JllOJHlmental, s~g undo o cro<1ui de Alguns participantes d o concurso elabora-
Luci o Costa . ram complexos projetos incluin do estudos sócio-
124 • .llr(/llilelllms 110 R r nsil

eco nô rnicos e dcscnvoh·imcnto arquitetônico. O conferiu ü c idn.-k nascente, d t:sde seu s princípios, a
vt:ncedor, ao cont r<írio, apresentou-se com urna mao-ca inelu~<ívd de efetiva c<tpital elo país.
id éia, um plano-piloto em uma única planta c A escala n·s id enc ial, com a proposta inovadora da
croquis ilus trativos dos co nce itos contidos num superqttadra , a st>rcnidade urbana asscg u racta pelo ga-
ba ri to u n ifo r me de seis paviml' n tos. o c hão li vre e :1Ces-
relatór io que del ineava apenas o t"sseu cial da
sível a toclos atrayés elo uso gene r alizado elos jJiloli.\ <: o
proposta, como obser vo u o parecer do júri: ''ex- fr anco predom ínio do \'enle , trouxe consigo o t! mbriiio
plica tudo o CfUe é preciso sa ber nesta fase; e de uma n owt III<IIH'Í ra de viver, própria de Brasíli>~ c in-
ornitt" tudo que é se m propósi to". tciramenl!· di ve rsa das d e mais cidades brasileiras.
O r e latór-io ele Luc io Costa c.:ra direto A escala g regária, prevista pan1 o centro da cidade
quanto à apresentação elas soluções: propunha -até hoje ainda em granclc pane dcsocurado -, teve a
inte nção dt> criar um espaço urbano mais d ensamente
a cidade "não apenas como 1nbs, mas como ci-
u tilizado c propício ao encontro.
vitas, possnidora dos atributos iner eu tcs a u ma
As t"Xtensas úreas livr es, a serem dcnsameutc a rbo-
capital". Seu desenh o inicial nasceu de uma poé- rizadas ou guarclitndo a cobertura Vt:){t'tal nativa, dire-
tica analogia ao "gcsto p r imário de quem assina- Tamen te contígua~ a <it·eas ed ificadas, man.:am a presen-
la um lugar ou dele toma posse: dois e ixos cru- ça d a t'SCala bucólica fCo~la 1987. p. 116).
zando-se em ftngulo reto, o tt seja, o próprio sinal
da c ruz " [Costa 1991, p. 20]. O dcsc n h o f'i nal Cada um dos grandes eixos assu miu urna
buscou conformar-se à orif'nt<tção c às caracte- significação. O n 1e nor, con cebido co mo o rixo mo-
rísticas do sítio. numentaL, espaço para o centro cívico e admin is-
L uc io Costa a1ribuiu à sua cidade 11111a o r- rrarivo, os setores comerciais, de serviço c cultu-
clenaçiio segundo quatro gn111des escalas: a mo- t·ais- corresponde à "escala rnouH~ta l " . O eixo

numen tal, :1 residencial, a gregária e <~ bucólica. maior, arqneado, o eixo mdnviário-residenáaf, é es-
N uma re;walia(ão da cicbclc, trinta anos d e pois truturado pelas amopistas de comunicação com
de sua co ncepção: as regiões vi:>:inhas e ao longo das quais se alin ha-
vam o s blocos d<' moradia, organizados segundo
A presença da escala monuntent"l - "náo no ~entido o princípio das superqu.adms : con jun to de quatr o
cb os tt·n taç<io, mas n o se-ntido ela expressão palpán:•l, CfHaclras d e 300 m de lado cada, <t>rcadas perife-
por assiut di;.:cr, rrm <l'il'nle dctquilo rp ot' vale e sig nitka .. -
ricamente por densa arbori7.ação e admi ti ndo

<l"Tn~ Qt f. ~ t .J>l!A( I A L

.- - - - -~ ·_
·.· = -
".': :,.

S tToQ. (DhEitC•A.l E
S ii.T"'R.. !:>~ b <vE~ ~ '>

84. A escala r esidencial ,. a proposta da suprrquaclra


d e Brasília .
85. O cent.ro d(· J3rasília abrigando a e scal a grc gclria.
A 1\{imwçiio de 11111a Escola • 125

somente edifícios lineares de seis pavimentos so- sc tori zação das aLiviclad es em áreas especiali-
bre pilotis, forman do uma "vizinhança" servida d e zadas (setor h o teleiro, se tor bancário, setor indus-
tod a infra-estrutura comercial e de serviços para trial, setor de cliversôcs e tc.) . O autor sempre r<'-
a comunidade local - à maneira das "u nidaeles lacionou Brasília aos espaços p úbl icos de Pa ris
de vizin h an ça", ideali zadas por C larc n ce Pe rry c (os grandes eixos haussmanianos, Cha m ps Ely-
materializadas p or Clarence Stein (1 882-1975 ) e sécs) e Londres ( Picadilly Circns, Times Squa-
He nr y Wr ight ( 1878-1936) ern Rad burn, Estados rc), rei n tcrpretando-os na reso lução do de se-
Unidos, e m 1929. É a solução co r respondente à nho urbano da nova capital, sem prescindir da
"escal a residencial". No cruzam eu lo dos e ixos referê ncia às concepçôes ela Vi llc Radieuse, de
ordenaelor cs, uma plataforma em vá rios níveis Lc Corbusier. A organização Jo setor resid e ncial
e quac ionan do o sistem a viário e a brigan do o ter- e ncontron seu pretcx to Lambérn no mestre fra n-
minal rodoviário - concentrando e m sua vizi- co-suíço: fiel ao princípio da Vi lle Ver te, Lucio
nhau ça o p r incipa l centro comercial c d e d iver- Cos ta co n cebeu espaços residenciais em b locos
sôes da cidade - rep resen ta a "escala grcgúia ". habitac ionais isolados, di spostos e m g rande s
O pl ano de L u cio Costa previu a localização pre- {treas ve rdes (a chamad a "esca la b u có lica''), eli-
cisa elos prin cipais edifíc ios públicos c a organ i- minando a rua tradi cional como eixo definidor
zação dos setores funcio11 ais n a malha da cidade. c aniculador dos vo lu m es constr uídos. F.rn li-
Brasíli a n asce u sob o signo da h iera rq uia: nhas gerais, a boliuclo o lote privaclo, o espaço
p e n sada corno capital de u m país, Lucio Costa resid e ncial caracteriza-se por lllll <l extcns;:io co u-
atribuiu ao se u pro jeto o co eren te ca ráter de ri- tí n ua c livre, se nr barreiras c tráfego ele automó-
vilas - atributo nem semp re evidenciado n os veis, co mo u m grande parq ue públ ico. As lições
dem a is p art ici p <HHcs do conc u rso, rn as rle vida- elos cuuj u n tos habitacionais mod en ros ~ Tmtnei-
mcntc formulad o pelo ve ncedor e d estacado n a ra dos blocos dos IAPs ganh avam u ma versão de-
ata do júri. Hierarquia c1ue pernu;ia o desen h o fin itiva enquan to agreg<Jção llrba n a integral. As
da cidade: uma clara d efi nição da dimen são pú- prirnciras supcrquadras implantadas ostcntam
b lica (eixo mo n ume n tal) da dim cusão privada essas caract.críslicas; h o8 parte, no e n tan to, care-
(e ixo res idencial) e, n o aspecto intra-urba no, a ce d esse tratamento paisagístico.

I I_

Hfi. A v<'gctaçào envolve ndo ;os supcrquadras c as e xtensas iir"'"' livrt's a r boriLadas como referências <I escala bucú lica
de Br asil ia .
J 2G • Artjll itetums nu Rmsil

É. incgúvcl que a ge n e rosidade dos espaço s ting internacio n al: o Brasil - uma terra subdesell-
li vres condizia também com o caráter rodoviário volvida - p rojetava-se no mundo co m o u m país
da o rgan ização urbana ("de um a parte, técnica de g randes iniciativas, capaz d e rea lizaçõ <.:s que
ro doviú ria, d e ourra , técn ica paisagísti ca ele par- um a potência do Primeiro Mundo não linha ou-
ques c _j ardins ", asseverava I ,ucio Costa e m su a s<tdo empreend er- construir e ina u g ura r nn1a
ju sti licativa do plano-piloto em 1957) . Pistas d e nova capital. A repe rcussão internacio n al foi d e-
alta velocid ade estruturam o eixo maior da cida- vidam e lll e aprop riada p e lo meio p olíti co c pela
d e; o sistema viário intra-urbano roi conce bid o população e-n1 geral e, panicularmeu le, me rece u
vinualmen tc sem cr uzame ntos d e níve l (dizia-s<.:, novamente um c ntusiúst.ico posicionam e nto elos
u o in ício , q u e e ra uma cidade se m sem áforos) ; a a rq ui te ros dia n te d as reali zações ela categoria .
setorização d as funçõ es na trama u rban a acabou Todavia , se o ê x ito form <JI, e m le rmos de im a-
exigindo nma forrna d e transpo rte motorizado ge m po lí1ica, foi hem-sucedido, o açodaru<.:n to
para veJ1 ccr as dis tânc ias e os compromissos. exigido pel<1 estratég ia de Kuhitsch e k voltou-se
ão se pode compree udc r essa ênfase rodovia- contra a p ró p r ia afinnação d e Brasília n ão com o
rista sem car acterizar agu ele m ome nto d e indus- r:apital, mas co mo cidarle.
tri alização que o país a travessava no fina l do s O pressuposto a n cestral ela t ransferên cia
anos d e 1950: Juscelino Kubitschek foi o grand e da ca pital para o inte r ior fundame ntava-se na
iucentivador da i mp lantaç;:ío d a indústria a uto- necessidad e t"stratégica de o c u pação te rritor ial
m obilística brasileira. Ati: e ntão, o i mpacto do ele vasta área ina n ic ulada econ ô mica e d e m ogra-
auto m óvel na m alha urbana das cidad es era re- fica me ntc com o res to do p aís. Nesse sentid o,
lativamente restrito , por se r um tipo ele u·an spor- uma n ova cid ade plantada n a a ri dez do Plana lto
te ainda n ão acessíve l à maiori a ela po pulação. O Ce ntral esta be lec ia um e lo d e ligação entre o
esp aço ocupado pelo veículo a u tomotor não e ra Su d es te indu slrializaclo c d e nsam<.:nte ocupado c
questão prevista no p rojeto d as casas e edifícios o N orte e o Centro-Oeste, fronteiras agrícolas
brasile ir o s, q ue>, até d ura nte a d(:cacla seg uinte , virtualmente virge n s na b usca de reconhecim e n-
n ão comportavam á reas para garagem. to e ocupação p o lítica elo território brasilei ro. Ao
U ma das grandes vir tud es que o júri do se caraCLcrizar como ponto d e articulação en tre
concurso deve te r vislumb rado n a p roposta d e regiões clesiguais, Brasília cornou-se local a trativo
Lucio Costa !"oi u ma con cepção de cidade possí- para as enormes cor ren1es m igratórias campesi-
ve l d e se via bi li zar materia lme n te e m qua tro nas que fu giam das regiões mais pobres rumo ao
anos- te mpo qu e restava para o fim da gestão Sud este ou às novas frc utes d e ocupação do N or-
de Juscelino Kub itschek e ri gir sua ca p ita l. Não lt> c Cen lro-Ocslc. Torn ou-se o e pice ntro d esse
fosse a cara c terís tica ge n érica de urna cidad e fe n ômen o .
formada por e difícios isolad os e iTl um grand e A nova capital foi con cebida se m maiores
p a r que - assegur ando uma es tratégia de organi- estud os sócio-econômicos, sobre os possíveis im-
za r v;:írias fre ntes simultâneas de canteiros de p actos d e um nú cleo urbano e m tão isolada p o-
obra-, d ifici lrnent<.: o preside n te te rminaria seu sição , sem um siste m a urbano o u rural apoia n do
mandado se m um coujunto razoável d e o b ras su a implantação. Ao con trário, Brasília foi indu-
co nstruídas a j ustificar urna ina u g uração da cida- tora da criação ele um sistem a urbano, tornou-se
de e a tran sfe rê n cia da sed e do p ode r político u ma cidade-pioneira na região e, por isso mesmo,
para a nova capital -como o fez , efetivam e n te, um nú cleo d e p e ndente ele suprime ntos que n e-
em 21 de abril d e 1960. cessitavam ser impo rtados d e regiôes afastadas.
A prioridade atribu ída à con stru ção de Mas, por essa con dição arLi c ul adora, a Brasília-ca-
Brasília c a sua inaug uração em tempo recorde p ital se confron tou com a Brasília-fre n te pioneira.
fo i nm audacioso lance d e afirmação p o lí tica p e- O dese nho ele Luc ia Cos ta p a ra Brasília
rante a nação e uma bem-su cedida ação d e marhe- atribu iu à cidade uma sig nificação espacial con-
A Afirmação de uma Escola • 127

dizente com o caráter cívico de capital d a n ação. A interação dessas p artes não permite
Seu escopo inicial - nos term os do concurso - afirmar que Brasília é apen as o plano-piloto de
previa uma população-limite de 500 mil h abitan- Lucio Costa. O Distrito Federal, com o um todo,
tes, c~ j o horizonte de expansão supostamente co ntinua se amplian do, novos núcleos vêm se
atingiria se u p a tamar máximo p or vol ta do ano agregando a o conjunto, tornando-se um com-
2000. Contrariando o ideal , a nova capital aco- plexo d e características m etropoli tanas. Nessa
lhe u gente não somente para formar uma p opu- reedição de processos conurbativos comuns a
lação d e trabalhadores admi nistrativos, m as para núcleos urbanos não n ecessariam ente organiza-
abrigar migrantes em busca de ponto d e apoio dos em sua expansão, d e m onstra-se que Brasília
para as perspectivas de expansão d a ocupação se tornou uma cidade como o utra qualq uer,
do Centro-Oeste . Inicialmen te, como cidad e- apenas com um setor origin almente planejado.
cante iro a ser materializada e m quatro anos, Bra- A UNESCO, em 1987, e levou Brasília à categoria ·
sília reuniu uma massa de mão-d e-obra d e forma de "Monumento da Humanidade". Como Quito,
exte n siva, que preferiu posteriormen te fixar-se no Equador, ou Salvador, no Brasil, Rrasí li a teve
n a "cidade do futuro ". O fluxo m igratório pros- um se tor de su a cidad e reconhecido pelo seu
seguiu tendo e m vista as pote n ciais fren tes d e valor cultural. Curiosamente, ela agora é cativa
emprego na nova cidade e na r egião. A absorção das n o rmas de preservação arq uitetônica e ur-
d esses contigentes extrapolo u a previsão inicial banística como suas coloniais cidades-monu-
de seus planejadores, que n ão anteviram o assen- mentos-irmãs. Brasília, uma cid ade no limiar
tam ento dessa população e tampouco ad mitiam dos quar e nta anos d e rundaçàO, filha de U!II ur-
a sua permanência no nobre setor r esidencial d a banismo que con cebe a cidade como um todo,
nova capital. Núcleos periféricos ao pla no-pi lo- que nego u boa parte do desenho tr adi cional de
to foram oficialmente criados ao longo das d é- cidades históricas como Quito ou Salvador, tem
cadas seguintes - as chamadas cidades-satélites agora reconhecido um ... "centro histórico".
- para abrigar uma população remediada, im-
possihilir.ada d e adquirir um imóvel n o pla no-
pi loto, ou mesm o ex-moradores do plano-pilo- F:ntiio eu senti esse rnovimen lo, essa vida intensa dos
to que preferiram pcriferizar-se: aufer ira m um verdadeiros brasiliensi'S, I'.Hn 11/.fl.I"Stt qu.e vive fora e
valor ao seu patrimônio, alienando a proprieda- converge para a rodoviária. Ali é a casa deles, é o lugar
de dum setor nobre. Originalmen te, esses n ovos onde eles se sentem à vontade {. .. ] Isso tudo é muito
núcleos som ente deveriam ocorrer com a com- diferente do que eu linha imagin ado jJam esse centro
pleta ocupação do p lano-piloto ; todavia, suce- urbano, como uma coisa mais requintada, ·meio cosmo-
d eu-se o inverso. Às rígidas normas urbanísticas polita. Mas não é. Quem tomott wuta dele .foram esses
no plano-piloto opõem-se a liberdade co nstruti- brasiltnros verdadeiros q·ue conskrnírmn n r.irlrulti e estão
va nas cidades-satélites: estas, cidades d e d ese- ali legitimamente [. .. j }:;les estão com a rauio, e eu é que
eslava errado. Eles tomaram conta daquilo que não jói
nh o tradicional, de certa maneira "informais"
concebido pam eles. Foi urna bastilha. Então eu vi que
(embora com r egras d efinidas d e ocupação, são
Brasília tem mízes brasileiras, reais, não é uma flor de
convenci on ais no conteúdo) , cresceram muito
estufa corno poderia m; Bmsília está funcionando e vai
mais e são m aiores do que a cidade inovado ra, a
junciona1· cada vez mais. Na verdade. o sonho foi menor
cidade "formal", p or assim dizer. A té 1985, o p la- do que a realidade. A realidade foi maior, mais bela. Eu
no-piloto abrigava ce rca de 396 mil habitantes; fiquei satisfeito, me senti m-gulhoso de ter cont1ibuído.
as o ito cidades-satélites jun tas abr igavam quase
l ,l milhão d e h abitantes. LUClü Cü.STA (1991, p. 7)
7

A AFIRMAÇÃO DE UMA HEGEMONIA


1945-1970

J\' inegávP-f IJW! n Tli!S.IIl rlHf'U,ileiuTa Ü!11l grartjuuJ.n S'IJ.U!SSO mundial juslo:nUinle fiO/ afrmsr:uiaT
alguns rMjH!I:ios originnis, LijJir:amenili lnasiltáros. Nossa anzuiteinra wnfinna, na Jnrílir:a,
que o jnocesso de universalização da arte é alcançado na medida em que ela reflete
o e;pà"iio nacional, as exp,-essões rnais caraUe-rislicas de seu p1úpri o jJovo. (. .. 1
Vemos, jJor outro lado, que as expTessões novas da a.Tquiletura no Brasil, vêm sendo
aceitas pelo povo, mesmo quando se aprestinlu em .mr.IS formas rnnis a.uriru:io.\as.
Pudemos mesmo d'iz.eT que o povo bmsileim abre urn crédito de confiança
aos seus arquitetos. É nesse clima de súnfJatia e apoio pufntlm· qu e
lemos enwnlTadn o mrúm· incentivo ao nono trabalho de oiaçào.

j. B. VILA'IOVA ARTICAS, 1955 (198 1, p. 16]

A repercussão internacional da moderna engenheiros, tão ciosos quanto ignorantes do


arquitetura brasi leira representou, no plano do- conteúdo arquitetônico por trás dessas formas.
méstico, uma legitimação e um reconhecimento O extremo dessa situação foi o açambarcamen-
social inéditos para uma categoria e para uma prá- to grosseiro d e soluções formais "modernas" por
lica p rofissional, até então visível como urna d e- anúdinas constru~:ôe patrocinadas pela especula-
rivação da engenharia ou apenas uma atividade ar- ção imo biliária oportunista. Cidades em todo Bra-
tística associada à construção. Elementos formais sil que expandiarn seus limites tn-banos nos anos
dessa arquitetura d e prestígio foram apropriados de 1950-1960 formaram verdadeiros repositórios
como modismo, quer por construtores popula- dessa arquitetura imitativa- às vezes, alcançando
res (às vezes com ingênua elegância), quer por resultados agradáveis ou, no mínimo, toleráveis.
- ~ ~=- -

130 • ,-1rquileluras no !3rasi/

REVISTAS DE ARQUITETURA a c riação do Con selho Federal de Engenha ri a e


Arqu itetura- Co n ka. A prin cipal escola de for-
mação de arquitetos n o Bra sil até 1945- a Esco-
A arquitetura como Lema autônomo mani- la Nacio nal d e Belas-Artes- e ra a su cedânea ela
fes l" ou-se nos tlnos ele 1950-1960 com a circulação Academia ele llelas-Art<:s, fundada 110 Rio eleJa-
de q u ase: urna dezena de: periódicos especializa- neiro em 1H26 co m a prete nsão ele implantar o
dos- publicações com pauta centrada n a a rqui- ensino artístico d e alto níve l no Império . Outros
Lel.llra (ou re lacionada com as a rtes plásticas - cursos a n tigos, de alg-uma expressiio, funcion a-
u nut J->arce ri:-1 tí p ica do m omen to) e não voltada vam: e m São Paulo (o da Escola Poli técn ica, fu n-
apenas a alg un s de: seus as pectos, co mo a s traeli- dada em l 891, e do Mackem.ie College, criad o
cion:.lis revistas de: deco ração, engc n h a ria e cons- em 1917 , como derivações do curso ele engen ha-
trução. Algumas de las tive ram boa duração: Acrô- ri a) , eru Belo Horizonte (fu ndado e m 1930) e,
fwle ( Jg4l- 197l- sen período áureo foi e ntre 19fí0 m ui to irregularmente, em Salvador (Esco la ele
e 1970), ArquilPtum e Engenlul'lia ( 1946-1965), Ha- Belas-Artes, de 1896) .
bitat (1950-1%5- di r igida inicialmente por Lina Na década ele 1940, con comitan te ao cres-
Bo Bardi) , Hmsil Anruitetura Contmnjmrânea (1953- cimento elo prestígio da arqu itc:tnra co m o ativi-
1957) , AI> Arquitetura f /)pcora(âo ( 1953- 19SR) , dade (devido à sua r·epc rc ussão in te r nacional ),
Módulo (1955-Hl65- revista do g r upo d e Oscar o ensino da a rrJuitetura vai ganhando n i tidez c
Nierneycr) , /hasilia (1gfí7- l %l- publicação da autonomia das estr uturas de escolas d e belas-ar-
estatal qu e construiu llrasília) c A'rquztetum (19Gl - tes e cugcnharia. Em 194!1, a reforma u a cslru-
1969) - entre as mais import.t1tm•s. O ano de: 1965 wra da Escola Nacion:-1l de Belas-Artes do Rio ele
marca o fim de algnm<ts revistas com os proble- .Janeiro tornava o ensin o d a arquitetura indepen -
mas políticos relac ionados ao g o lpe m il itar de dente, co m a criação da Faculdade Nac ional de
1961. Nunca, em momento anterior ou poste- Arqui tcLUra da U niversidade do Bras il. Na nova
rior. os leitores esti ve ram tão ser vidos com publi- cst.rulura , a habilitação crn urbanismo d eco rri a
cações esvcciali zaclas de arqu ite tura. ele um curso de dois :-1nos acessível :-1penas aos
A vulgarização elo tt>ma arquitetônico em portadores de diplomas em arquite tura on e n ge-
tli;trios e publi cações ele grande circulação c , so- nharia civil. E m 1946, os diplomas da Escola ele:
bretudo, a gran de aven tura que se r.ornou Brasília, Arquite tura da lJ n iversiclaclc rk Min;1s Gerais
com ampla divulgação elo papel dos arqnit<::Los na (su cedânea do c urso fundado e ru 1930) foram
concretização elo e mpreendimento, redundaram validados nacionalmen te . Em 1947, recon h ecia-
também numa maior demanda por profissionais se, no nível federal , a Faculdade de l\rquite tu ra
ele urna categoria de "prestígio" n o aflu e nte mer- Mackenzie enr São Pau lo (separada ela Escola de
cado dos anos d e 19!JO, com reflexos n a rcformu- Enge nharia). A funda çã o da Fac uldad e de Ar-
lação do ensino de arquite tura - de antiga espccirt- quiletura f' Urbanismo da univcrsid<tcle de São
liztlç:ào derivada da c ngcn haria ou be las-artes par a Paulo (ind ependente d rt Escola Pol itécnica)
c ursos a utônomos, or-igem das escolas exclusiva- deu-se no ano segu inte, em 1948, com currícu-
mente orientadas para a arquitetura e urbanismo. lo d e urban ismo m inistrado no período de gra-
d u ação. No Rio Grande d o Sul, o cu rso de a rqui-
tetura foi autoriza do a fun c ionar (em níve l
A DISSEMINAÇÃO DO ENSINO federal) no interior do I nstituto de Be las-Artes
DA ARQUITETURA e m 1945; um ano depois, o governo fe deral au -
todzo u a criação elo c urso d e arquite tura n a Es-
cola d e Enge nha ria, c ria ndo uma duplicid acle
A r egulamcn tação federal das p ro fissões que foi r esolvida com a fusão elos dois cursos n a
de e n ge nh eiro e d e arquiteto data de 1933, com Fac uldad e d e Ar qu itetura da U niversidade de
A Ajirmaçiio de 11111a lf e ,~e/1olia • 131

Por to Alegre em 1951. Em 1945, o governo fede- exceções de uma regra que in cluiu Burl e Ma rx,
r al reconheceu o cu rso de arq uite tu ra da Escola J o rge Moreira, irmãos Robeno, e n tre os que não
de Belas-Artes de Pern ambuco, q ue se integro u m ilita ram sistema ticamente no ensino da arquite-
à U niver sidade d o Recife n o a no seguinte. Toda- tu ra, mas p romoveram verdadeiras au las magnas
via, somc n te e m 1959 foi criada a Faculdade ele fora da escola e n ão d t>ntro de uma faculd ade.
Arq u ite tu r a d a U n ive rsidad e ele Recife, junta- Nesse sen tido, surgiu uma maledicente afirmação
men te com a ela Ba hi a. Em Salvador, o curso de sohre as escolas d e arquitetura: "fez-se arquitetu-
ar quite tura, no bojo ela Escola d e Belas-Artes, fo i ra no Brasil, apesar d as escolas".
in corpo rado à U nivc rsiclaclc ela Ra h ia em 191 fJ,
e mbo ra o Conselho Federal de Enge nh a ri a e Ar-
qui tetur a tenha ad m itido a validade dos d iploma- ARQUITETOS PEREGRINOS,
dos a n terio r men te. A a u to nomia d idática veio NÔMADES E MIGRANTES
apenas em 1959, com a fundação da Faculdade
d e Arquitetura [Mo ralcs de los Rios Filho 19G4].
Na década de 1960, com a realização de Bra- É possível aventar a h ipótese de q ue hou-
sília , a p rofi ssão esteve em seu auge. Os cursos de ve d ois fa tores (entre tan tos outros) mais signifi-
arq ui te tura cr iados em Curitiba, n a U niversidade cativos na disf'mn<~ção d os valores ela arquiteLU-
Federal do Paraná ( 196 1) e o de Belé m , n a U n i- ra moder na atravi:s do país. A criação de esco las
versidade Fed er a l d o l'ad (19().1)), ti veram em de arq uitetura em várias regiões d o Brasil teria
suas p r ime iras turm as mui tos veteran os en ge- sido u rn d eles; o desloca m ento de profi ssion ais
nhe iros civis que bu scaram a q ualificação de ar- de uma r egião para outra também fo i dec isivo
quite tos. Em Fo r taleza, a Un iversidade Fed eral para a afirmação de nma ling uagem comum pelo
do Cear á in sta lava-se e m 1965 como a terceira território brasil eiro. Esses dois aspectos se con-
escola uo Norde ste. A criação da Universidad e fundem no te mpo c no espaço.
de Brasíl ia (U 11 B) ap o n tava para o surgimen to Uma escola de arq ui te lu r a pode ser um
ele uma escola de arqu itetura revol uc iomíria - im por tante centt-o formad o r e disseminador de
ex periência estan cada com o gol pe militar ele idéias. Mas não basta apenas a sua ex istência.
1964. Sua consistência intelectual deriva elas pessoas
Com o j á dito, o pr in cipal centro de for llla- q ue n e la mil itam - estnd<~ e professores,
ção ele arquitetos até po r volta de 1950 era o Rio principalmen te - , suas in terações com o m eio
d t> Janeiro. Todavia, se se buscar nm a c.o r re laçào profissional c suas relações com a sociedade e m
entre o surgim en w d a arqu itetur a m oderna bra- que se insere.
sileira e a Escola 1\""acional de Belas-Artes, consta- Contrariando a maledicência (a d e "exis-
tar-se-á um e ni g m a. A es trutura acad êmica do tir aryuilclura u u país apesar das escolas"), o
curso de a rqu itetura do Rio de jane iro foi abso- am biente de d isc ussão nas escolas de a rq u itetu-
lutamente conve ncional, à exceção da curtíssima ra fo i fu ndamental para a afirmação ela arq ui te-
gestão ele Lucio Costa à frente da ENBA em 1930- tura m odern a entre os jovens. E foi a circulação
1931. Os al un os e pro fessores part.iclários do j o- d e jovens arquitetos pelo Brasil que consli tui u
vc:-m f> revo lucionário d iretor - mais tarde consa- um vetor de disseminação das novas idéias.
grad os como os a rq uitetos in ovadores ela linha Foi um jovem t·ecérn-forrnac..lo (1Y4Y) no
carioca - quase não desempen haram atividades Rio de Janeiro um dos portadores da mensagem
no ensin o fo r m al de arqu itetura. Lucio Costa, de- m oder na par a o Nordcsle. Trausfcriudu-sc para
pois de 1931, nunca mais entro u numa sal<~ para o Recife em 195 1, Acácio Gil Borsoi (n. em 1924)
ensinar; Oscar Nie meycr teve uma cu na experiê n- inicio u sua atividade docente em 1951 na Esco-
cia docen te em Brasília , depois de 196~. Reiciy c la d e Belas-Artes d o Recife, r.ornan do-se urn dos
Alcides da Rocha Yliranda (n. em 1909) fo ram as m e n tor es- ao lado do português Delfim Amorim
--------
132 • Arqu flalll ras 11 0 llmsil

f\7. Adlcio Gil ilorsoi: t:<ISa em


J oão Pessoa. I'B, i11ício dos anos
de 19f>0.

RR. Román Frcsn cdo Siri: tribll-


nas sociais d o .J ockcy Cl ub d e
Porto Alcgrt!, RS , 1 9!:>2. A pr<'-
sc n <:'~ da arllllil<:: LUra uruguo ia
t->rn urna obra ítn par no panora-

111a gaú cho.

(1917-1 9 72) (de quem sp falará adian Lc) - ct e Campos, Puente y Tournicr c a Facultad de
uma "linha pernam bucan a" de cuquitetura (urna Arquitectura d e Moutcvideo- de onde egTcssou
derivação com linguagem pró pria da linha cario- Dem é trio Ribeiro - outra imponante referê n-
ca) , que vai form:~ algumas gerações de arqui- cia inte lectual n o su l do l3rasil. A esco la d e ilr-
lctos que hoje aLuam por toda a região, extrapo- quite tura do Riu Grande do Sul , nesse sen tid o,
lando as fronteiras do Estado de Pernambuco e é tribmá r ia da informação vangu ardista d e
mesmo ela regi;"ío em si rsilva 1988] o Montevidéu, do Rio de Janeiro e ta lvez, da e u-
Outro jovem recém-[onnaclo (1947) na ropé ia, com o ainda não-avaliado pape l desem-
Faculdade Nacional de Arcp1itc>tma, Edgar Craeff penhado pelo a ustríaco Euge nio Stcinhof, rni-
(1921 -1990), fo i qu em levou para Puno Alegre a lit.aJil C no ensino de a rquitetu ra na Escola de
informação ria linha carioca, influiu n a organiza- Engenharia rl c Pono Alegre, antes de sua
ção da Faculdarl c d e Arquitetura (na re fonna do integração ao curso m inistrado nas Belas-Artes.
ensi no d e 1962), tornando-se um i nclisc uLível lí- St.ein h o[ foi saudado em 1929 por Adolfo Montles
der intelectual, fort emente impregnado do ideá- de los Rios Filho (1887-1973) como um "arquit e-
rio arqui letônico originado no Rio de Janeiro. to moderno" vie ne nse, por ocasião de sua con-
Outra influência no Rio Grande do Sul derivou ferên cia no Rio de Janeiro, com pou cos m eses
do fascinanle mode rnismo uruguaio protagoniza- de diferença da palestra ele Le Corbusie r.
do por arqui tetos corno Villamajó (1 8 94-1 948) , Essa fusão de influê nc ias no Rio Grande
Surraco (1896-1976), Scasso ( 1892-1975) , de Los do Sul talvez esteja na raiz da grande rn o bilicla-
11 llfimwçiio de uma 1/egPmmlia • 133

de d e seus arqu itetos. Mobilidade produzida por péia de centen as de milh ares de brasileiros, (jlle
um vetor es pec ífico : o ensino de arqu itetura . vislu mb ra ra m em Brasília n ma nova etapa da
Parcela po nderável de profissio nais que partici- história d o país [Scgawa 1988a] .
pa ra m d o co rpo doce nte p ioneiro elo cu rso de É claro q ue o ensino não foi o único ve tor
Arqu it etura da U niver sidade de Brasília e ra com- cte deslocamento de ar(juitetos. O ensejo de tra-
posta por oriund os do Rio Grande do Sul. O gru- balh o promissor é capaz de mobilizar qualquer
po o rig imtl q ue im plantou o curso de arquite ru- tipo de p rofissional em b usca de uma oportun i-
ra em Re té m , no Es tado do Pa rá, na prim e ira dade mdhm· para ganhar a vida. Parte dos arqui-
metade d os anos de 19fi0, e ra maj o r ita riamente tetos q ue pe regrinara m pelo Brasil, sob o signo
de gaúch os - u m a empre itada de a tl·avessar o d o eusi u o de arq ui te tura, e nco n tra ram ta mbbn
país d o ex tremo su l ao extremo u orte. um lugar ctcfinitivo par:~ desenvolve r também a
São Pa ulo foi també m u m grande celeiro atividade de p r ~jctisa. No e n tanto, (jUanclo o
d e pro fissionais par a o Brasil. Outra par cela deslocamento profissio nal é provocado apenas
po nderável do corpo d ocente o rig inal da Univer- pela busca ele opor tun idade mt> lhor, t>sse mapea-
sidade de Rrasília partiu ele São Pa ulo; o g r upo men to é mais d ifíc il, mas certamen te fac tível de
in icial ele pro fessores do curso ele arquite tura de uma análise mais docume n tada no fu tu ro. Ape-
C uritiba, Estad o do Pa ran á era basica m e nte nas para il ustra r essa situ ação , do is exe m plos
compostO p o r ar q uitetos d e São Pa ul o . Nota-se bastaria m .
também a for te p res e n ~ ·a paul ista na formação A política rlc ocupação do interior do país
do cm·so d e arq ui te tu ra de For ta leza . no períod o pós-1964 definiu urna cstrat(:gia de
Mas a síntese do signo do d eslocam ento orupaç;ôio e in tegração de regiões isoladas c pou-
n a arqui te tura encontra sua m aio r expressão e m co d esenvolvidas do Brasi l, como o CenLro-Oeste
Br asília: o cor po docente d a exper im en tal Facul- c a Am azô nia. O Mato Grosso, Estado q ue faz
dad e d e Arq u ite tura da U niversid ad e d e Brasília fronteira com a Bolívia e o Paragua i, foi bri ndad o
foi fo r m ad o por um con tin ge n te de j ove ns do com recu rsos para sua modernização, inrlnindo o
Rio de janeiro, Rio G rande do Sul, Minas Gerais, reforço de sua rede urbana com a m elho ria da
São Paulo, Per namhnco, capitanead o por me~­ infra-esu·utura administrat iva e de serviços públi-
tres do pone de u m Oscar Niemeyer, Alcides da cos, o que levo u o a rquite to Oscar Arin c (n . em
Rocha Mi rand a e Ed gar Gracff. A r eu n ião ctcsscs 1 9~), de São P:-nllo, a transferir-se para a capital
arq uitd os num po n to e n tão lo n g ínquo n o terri- do Estado, Cuiabá, e eventualmente levar colegas
tó rio brasile iro confunde-se com a própria epo- de sua cidade n atal para desenvolver pn~jctos de

R9. Osca r Arint': fórum de T r ê'


Lago ~, MT, I !Hili.
- - -~ ~- - - - - -

/_:yf • Arquiteturas 110 Brasil

edifícios públicos - escolas, rónms, hospi1 ais, ca- elo com uma infor mação que, ade quad ame nte
deias, delegarias, a11ditórios c: a té um campus uni- apropriada ao níve l regional , !'oi e será ca paz de
versitário - , kvaudo para uma região in óspita um es tabelecer um a nova base de atuação d os arqui-
Lipo de anplitctura de va nguarda que se praticava tetos no arnbicntc.
em São Paulo nos anos d e 1960 lSegawa 1990] .
Situação anúloga c simultânea ocorreu com
o arquiteto do Rio de .Jane iro, Severiano Porto (n.
EM nu SCA DA AMÉRICA:
e m 1930) : convidado para d esenvolve r pr ~ j e tos e
ESTRANGEIROS NO BRASIL
fi scalizar obras em Manaus, capital elo F.staclo do
Amazonas, Porto foi o primeiro arquiteto a se
transferir para o Estado, 11 a segunda m cwde dos (l uando eslava no úliimo ano da fa.cu.ldadl<, saiu
anos de 1960, e sua prorlu('ão credenciou-o como um livro sobre a grande llllftiÍlelum bmsili'Ú'fl, IJitR,
um dos importantes arquitetos brasile iros no últi- naquele temfw, 110 imediato pós-guerra, foi rumo um
mo quartel d o século 20 [Zein 198(-)a j. farol d1! luz a resjJlnnrll'l'l't l'llt um mntjlll dP mm·te
I ... I })·a uma roisa maravilhosa.
Essas migrações inte rnas- como procnr<J-
m os demonstrar sinteti camen te - transcendem o LINA Bo BARD I, sobre B-mzil uild.~R l9R9
mero sentido de deslor.amento de profissio nais J P rojPIO I ~ ~ 9~, p. M]
e m busca de o portunidades melhores. Esse trân-
sito de profissionais pelo pa ís simboliza uma tro- A p erversão da guerra é capaz cte p rovo-
ca e nm enriquecirncuto de valores que, como car fenôme n os à ma neir a de uma di úspora . A
sementes ao vento, vão desenvolver n ovas atitu- Europa, desde o tem po de pre núncio do grand e
d es e m outras parageus. É a origem do quadro conflito, até po uco depois de seu fim, conheceu
diver sificado da produ ção arquitetônica qu e vai também um a diáspo ra d e in telectuais, cientistas,
dcsahroch::Jr no Brasil n os anos de 1980, como a rqui tetos e a rtistas. Destroçado pda guerra, o
verificaremos mais adiante . Essas migrações ca- Velho Mundo pouco tinha a o ferecer senão u m
rac te riza ra m um processo d e transfe r ê n cia de penoso trabalho ele reconstrução c urna situação
conhecimento c tecnologia de regiões mais de- econômica e política pouco confortável, m esmo
senvolvidas (como o Rio de J a neiro, São Paulo c com a vitó ria dos aliados.
os grand es centros regionais) para outras me nos O Brasil também acolh eu in úmeros refugi-
d esenvolvidas, num processo ind u tivo d e mode r- ados ilustres, incluindo aí literatos, artisws pl~st i­
nização c uniformização de valores cultura is e cos e arcptitcws. I\ e norme repercussão d o Bmút
técnicos via a rquiLc:tura. Nesse sen tido, o arqui- Huild.s duran te o período de g u erra foi decis iva
teto ro i um agen te de mode rni zação, contribuin- para a opção q ue a lguns desses imigran tes sem
rumo tomaram.
Um dos mais co n hecido~ es tran geiros a tu-
antes no Brasil foi Bernard Rudofsky, o arquite-
to aus tríaco conhecid o como o au tor do livr o A r-
chi t eclu n ~ willwnt A rchitects, além de o utras obras
de temáti<:;a alternati va. Fala-se qu e Rucl of:~ ky veio
ao Brasil tendo como meta alcan çar os Estados
Unidos: n essa é poca, um europeu não conseguia
im igrar d i r etam ente a esse país. Tr abalhon em
São Paulo e ntre janeiro de 19~ e abri I ele 194 1,
te ndo vivido a ntes no Rio de .Janeiro por seis me-
ses. Rudofsky construiu du as casas em São Paulo
90 . Rcrnard Rudofsky: r e lojoaria em São Pa u lo, 1939. (Arnstcin c Fro ntini , p u blicadas em BraziLBuil.ds) ,
/ I Ajirrna çãn de uma He15emonia • 13 5

91. Lukjan Kornp;old: cdillc io CBI-Esplanada, São L'aulo, 9L. Giancarlo Palanti : edifício Condt"" d t": Pral e s, S:-to Pau-

IV46. lo . I!JI'j2.

projetou lojas, desenvolveu trabalhos em artes andares panorâmicos, essas inovações tornaram o
gráficas e desenhou móveis de caráter precursor prédio uma referência para os edifícios de escri-
para o meio, empregan do materiais nativos. Che- tórios posteriorm en t.c desenvolvidos. Korngold
gou a ser premiado e m um concurso ele rlesign também foi o responsável pelo primeiro edifício
promovido pelo Museum ofMoclern Art de Nova com estrutura metálica no Brasil - o Palácio do
York em 1941 [Amaral1983; Segawa 1982, 1983] , Comércio, também em São Paulo, em 1951.
O polonês Lukjan Korngold (1897-1963) A experiência anterior do italiano Gian-
chegou ao Brasil para se instalar definitivamente carlo Palanti o credenciava como um inovador:
n o início de 1940, tendo no currículo um diploma diplomado na Politécnica de Milão em 1929, foi
de honra da Trienal de Milão em 1936 e uma professor de sua escola a partir de 1935 até 1946,
passagem profissional por Tel Aviv em meados ano de sua chegada ao Brasil, onde faleceu . Na
dos anos de 1930, durante o boorn de arquitetura Europa, participava do grupo m ilanês em torno
moderna que marcou a paisagem dessa cidade do racionalismo italiano ligado à revista Casabella
[The White City... 1994]. Ern 1946, projetou a en- (fechada pelo fascismo em 194;)), ao lado de Igna-
tão maior estrutura de concreto armado do país, zio Gardella (n. em 1905), Franco Albini (1905-
o edifício CBI , no Parque do Anhangabaú, um 1977)- com quem compartilhou projetos- e Giu-
dos canões-postais da cidade. Com rigorosa seppe Pagano (1896-1945), entre outros. P alanti
modulação estrutural, criando plantas livres com foi um dos co-autores do Grande Salão da VI
136 • Arquilc1uras no Brasil

T ri enal de Milão de 1936, na equi pe lid erada por se em 1932 a Jean Ginsberg (1905-1983) (ou tro
Eduardo Persico (1900-1936). No Brasil , Palan ti d iscípu lo de Le Cnrbusicr), com qu em proj eto u
fo i um pioneiro no desen ho de m obiliário in dus- algu ns ed ifíc ios de apartamentos na lin h a do
trial ao fu n da r em 1947, com Lin a Bo Bard i, o mestre suíço (obras q ue hoje fazem parte do ro-
Studio de Arte Pal ma; entre 1952 e 1954, dirigiu teiro a rq uitetônico modern o de Paris) . Em São
a seção de ;~ r qu i te ru a da Co n str u tora Alfredo Paulo , Fra nz H eep trabalhou in icialmen te p ara
Math ias; e, de 19!16 a 1963, esteve associado a I Ien- Jacq ues Pillon, para que rn modificou o proj eto
rique Mind lin, dirigindo o escritório de São Pau- da sede d o j o rnal O Estado de S. Paulo; trabalh ou
lo da sociedade. Sua ativid ade concentrou-se ba- por um breve período com He nrique Mindl in c
sicamente nos anos de 1940- 1950 em pr ojetos de abri u esc ri tório próprio em l 950. Sua maior pro-
edifícios come•-ciais, res ide n ciais e desenho de dução concen tro u-se e ntre 1954 e 1962, com pro-
mobil iár io [Rocha 1991] . j e tos de edifícios resicleuciais, comerciais e indus-
Como já dito a nt·es, ; 1 rom an a Achi lli na tr iais, além de algum as residências - todas obras
(Lina) Bo Hard i veio ao Brasi l em 1947 aco m pa- m etic ulosamente detalhaclas, transformando-se
n ha n do o lll<trido, o cr ítico el e ar te e mrtrchanrt num a prática q ue con heceu seguidores en tre
Pietro Mar ia Barcli, convidado para organizar o seu s colegas brasileiros [Gaui 1987). Heep criou
Museu el e Arte de São Paul o pelo j ornalista Assi s um a refe rência de q ualidad e para ed ifíc ios de-
Ch a teaubrian d . Na Itália, Lina Bo havia trabalh a- senvolvidos pa•·a o m ercado imobiliá rio, num
elo co m Gio P onti (189 1-1979) e dirigido a revis- período d e i n Lensa verticalização d a c id ade de
ta lJomus n o período da Guerra. No Brasil, em São Pau lo. Entre seus prqjetos destaca m-se o edi-
seus primeiros a nos, Lina d iri giu a revista Habitat, fício Itá lia ( 1956) e a igreja de São Do m ingos
dese nvolveu p r ~jetos de desenho de móveis, ar- (1953) no bairro das Perdizes. Professor do cur-
q uitetura de interiores, cen ografia e a residê ncia so de a rqn it.e tura do Mackenzie, a ativid ade de
do casal, obra marcante para a ép oca ( 1949) . En- Franz Ileep em Süo Paulo de ixou discíp ulos,
tre 1958 e 1964 trabalhou em Salvador, Escada da como o arq uiteto Salvador Candia ( 1924-1 991) c
Bahia, cie..,envolvendo projetos museogr:dicos, o Elgsoll Ri be iro Gomes (n. em 1922) -que se
proj eto de res tauro do Solar do Un hão, transfor- tra nsferiu para Curili ba, capital do Estado do
mando-o no Museu de Arte Popular e o p n~ j et o de Pará c projetou, com set t m estre, o ed ifício So u-
um a casa (demolida) . Arquiteta de poucas o bras, za Naves ( 1 95~), considerado como o primeiro
sua pr inci pai realização ary_ uitctônica dessa fase pr édio m oder n o dessa cidade.
fo i o Museu d e Arte de São Paulo (1957-1968), Outro importau le imigrante par a a arq ui-
q ue a lanço u como urna das g r andes fi g uras no tetura b rasileira foi o p o r tuguês Delfim 1\rn or im.
cen á ri o brasileiro - e cujo trabalho lerá desdo- For mado no Pot·to em 1947, foi professor e m sua
b ram entos nos anos de 1970-1980. Sua obra atu- escola e co-fun dado r da Organ ização e m Defesa
alm en te vem m erecendo as atenções mundiais, da Arq uitetura Mocierna (ODAM), movimen to
so br etudo a partir de um a exposição e d o livro p o rtu gu ~s q ue tin h a, entre suas referê ncias, a ar-
reunindo suas realizações, sistematizando um co- q uitetura b rasileira de então. Amo ri m imigmu
n hecint ento a té então fragm e n tado so bre as vá- para Recife em 195 L, trabalhando inicialmente
r ias facetas da arquiteta com o musa e agitadora com Acácio Gil Borsoi c, e m seguida, tornando-
cul tural [Ferraz 1993] . se seu assiste n te n o cu rso de arq uitetu ra da Es-
O utro estrangeiro imi grado e m 1947 foi o cola de Belas-Artes. Amorim, ao lado de Borsoi,
tcheco Adolr Franz H eep (1902-1978), formado foi uma figura cle ponta como projetista c edu-
em Frankfurt, onde Leve en tre seus professores cador n o panoram a do Nordeste, tend o sido um
Walter Gr opius e Ad olf Meyer (com q ue m traba- dos r esp onsáve is pela form açi'io de uma "escoi<J
lho u até J 928) . Entre 1928 e 1943, Heep viveu na pern a mbucana" a partir dos an os de 1960 [Del-
Fran ça: trabalhou para Le Corbusier, assoc iando- fim Amorim 1981).
A A{irnwçi:io de urna He,r; emo u ia • 737

93. Li11a Ro !%reli: casa no C h a me Chame , Salvador, BA,


195il.

95. Fr a n 1 T-Tccp: cdifi c io Ti n guá, S ã o Pa ul o , dé cada de

1950.
94. Franz H ccp c Jean Cinsbcrg: edifício de apartamentos
enl Paris, 19::\1.

96. Del!"irn Arn orinr e Lúc io EsLe liLa: c dificio Acaiaca, Re-
cife, PE, 1958. foto-co rt esia de Gerald o c;omcs.
--
138 • Arquiteturas 1w Brasil

Ao lado desses nomes, pode m ser lembra-


dos lambém os de Mário Rnsso (m . e m 1996),
Victor Reif (n. em 1909), Da niclc Calabi (1~06 -
1964) c Giancarlo Gaspe 1Í11i (n. em 1!:)~6 ) - os

três úllimos a livos e m São Pau lo. O ita liano Ma-


rio Russo p ode ser co n s id ~raclo u m precursor
moderno em Pernambuco, ao ch egar a 1949
con tralado co mo Chefe d o Escritó rio Técnico
cb Cidade Universit;:íri". elo Rt:cife. Desenvolve u
o plano urbanís tico do campus c os projetos d a
Faculcladt: de Medicina, do Hospital das Clíni-
cas, d o InsliLuLo de Bio log ia Marítim a , do Ins-
tituto de An tihió licos, da Escola de Enge nharia
e d e unid ades residen ciais n a p rimeira metade
dos <li10S d e IYSO (ne m tod os realizados) . Foi
professor do curso d e arquil c LUra da Escola d e
Belas-Artes, m a tr iz d o c urso de arguirctu ra [Sil-
va 1988; Russo 1956].
O polonês Vic tor Reif vive u anos acarlêmi-
cos e m plena efer vescê n cia ela va n ~u a rd a de
Ber lim no fimtl dos anos de 1920. Estudando na
famosa Technisch e Hoch sc h ule de Berlim-Ch ar-
lottcnburg a partir de 1927, f'o i alun o d e I-Jans
Poelzig (1869-1936) e estagiou alguns meses com
Bruno Taut. ( 1889-193R) , trabalhando nos estudos lJ7. M>trio Russo: Faculdade de Med ici n a da UFPE, Recife,

de habitação mínima e no conhecido projeto do PF. , d écarl~ • rlc 195 0.

conjunto h abitacional "Ferradura " em Berlim


( 19 25-1930). Nos anos de 1930 e 1940 (mesmo de se r efugiar no Brasil e m 1939, por sua origem
durante a Guerra) traba lhm' e111 Varsóvia e na re- juda ica. Em São Paulo, manteve u ma construto-
g ião ela Silésia com constru ção , pr o j e to ~ arq uite- ra c desenvo lve u projc tos (alguns e m parceria
tônicos e imc riores. Chegou ao Rio de J aneir o e rn com Rino Levi) e desenhou algumas residê ncias
1950 com p erspectiva de serviços e m arq uitet ura n o Láveis . Deixou o "Brasil cm 1949, com um pr o-
de interiores, mas logo desloco u-se p ara São Pau- jeto incolll pleto (C<~sa d a Infância da Liga elas
lo, o nd e seg11i u cancira e m escritório p 1·óprio Senhoras Católicas) associado ao n .:cém -chegado
desenvolven do belos proj etos residenciais marca- Giancarlo Palanli. De volra à Itália, pr~ j e t ou irn-
dos por sua formação racio nalista, com desenhos po rtan tes e di fícios universi tá ri os (1nstilul o ele
de geometria límpida acrescidos de um tOC]U e tro- Geologia e Mineralogia da U nive rsidad e de Mi-
pic<~ l. Segue até o presente como p ,-ofessor da Fa- lão, restauro do conven to dos To le tinos e nova
culdi1d e ele ArquiteLUra do Mac kenzie. sede d o lstituto U niversiLario d i Archi teltura di
Nascido em Vcrona, Daniele Calabi for- Ve n ezia), in ú mcras o bras hospitalares e de inser-
mou-se e nge nhei ro em Pádua ( 1929) e o bteve ção de ediiicios novos em tecidos antigos (Bihli o-
grau de a rqu iteto em Milão em 1933. Calabi d e- teca Augusta em Perúgia) - tendo sido premiado
se nvolveu algumas o bras significativas na Itá lia por dive rsas d essas obras rzuccon i 1992]. Dan ie-
(Casa d e! Fasc io em Aban o Te rme, Pád u a; le Calabi fo i o ún ico d os es trangeiros ,-adicados
Colonia Principi di Piemonti, Veneza; o bservató- no Brasil que retornou ao se u país de o rigem com
rio astrofísico da U niversidad e de.: Pádua) antes uma carre ira viLoriosa.
A /Jjlrm a çan de 111/l a Hegemonia • 139

Giancarlo Gasperini, fo rmado na llália, e que o Estado apresentava nos anos de 1940, j:t
sem perspectivas de trabalho em sua terra natal, como a principa l unidade eco nômica do país. O
o ptou pelo Brasil ao co nhecer pessoalmente o Rio de Janeiro e ra a capital (e até a década de
Rio de janeiro , para onde imigrou e freqüentou 1960, a cidade mais populosa) , e as encome1u.las
novamente o curso de arquitetura. Ao mudar-se aos arqui te tos modernos eram , em sua maioria,
para São Paulo no início dos anos de 1950, car- patrocinadas pelo poder público; em São Paulo,
regava consigo u1na forte influência de Affon so ao conrr{trio, o patrocínio esla lal aos escritórios
Reidy e iniciou uma brilhante carreira, toruanclo- privados e ra diminuto. O acesso a obra~ maiore s
se um dos importantes arquitetos brasileiros. O pelos proCissionais liberais dependia prin cipal-
r eno me internacional de O scar Niemcycr fo i ca- m en t.e da encomenda ela iniciativa privada.
paz de atrair para o Brasil inúmeros estuda ntes e Rino Levi foi o primeiro nnt<Í vPI arquiteto
arquitetos latino-am ericanos e d e ou tras partes moderno de São Paulo depois de Wa rc h avc hik.
do mundo para estágios com o mestre- entre os Trazendo ela Itália uma sólida formação profis-
fJU<~is o a11straliano Harry Seidler (n. e m 1923), sional [a propúsiLO, ve r o capítulo "Modernismo
que, antes de voltar para sua terra após graduar- Programático 1917-1932"], a sua obra madura,
se e m Harvard, passou uma temporada traba- a partir dos anos de 1940, transformou-se numa
lhando no Rio de Janeiro. Sua obra, ainda hoje, referência p ar;t o s jovens a r q ui tetos c demais
traz reminiscênc ias d essa passagem. colegas por seu cuidado na elabor ação dos as-
Boa pane desses estrangeiros chegaram ao pectos técnicos e artísticos, com a análise dos
Brasil atraídos pela vanguarda arquitetônica que condicionamentos fun cionais de programas ar-
se vislumbrava, a panir do combalido ambiente quitetônicos complexos de forma pioneira no
europeu. Todavia , destacar esses personagens meio profissional. Levi torn ou-se um especialis-
não é uma apologia da qualidade e da capacida- ta em arquitetura hospitalar (o que o levou a ser
de de sedução de uma arquitetura local. Impor- chamado pelo gove rno venezue lano para organi-
la destacar que algu n s desses arquitetos, em con- zar um sistema de edifícios hosp ital a res p;1ra o
tato com o Brasil e o s brasileiros, contribuíram país), de cinemas e teatros (o arquiteto mesmo
com sua cultura de origem e, na interação com cuidava dos cálculos de acústica d esses ambien-
a cultura local, foram capazes de fertilizar obras tes) , bem como enfrentou inúmeros e ncargos ele
que corroboram o poder de assimilação a que a resolução complexa na área industrial. Rompen-
m odern a arquitetura brasileira recorreu em sua do com a tradição local, Rino Levi foi o primei-
origem, a partir de fontes e uropéias - capacida-
de de assimi !ação, às vezes conciliando opostos,
comportamento pouco afe ito a certo racional is-
mo ou func ionalismo em voga nos anos de 1940-
19fi0 - c, talvez, razão primordial da "exuber:m-
cia" brasileira ante o olhar europeu.

CAMINHOS PARALELOS

A va nguarda ela arquiletura brasileira fica-


va no Rio ele Janeiro, mas boa parte dos arquite- 98. Riuo Levi, Roberto Ce rqueira César e Luiz Roberto

tos-imig ranles estrangeiros veio par'a São Paulo. Carvalho Franco: Instit.ut.u úe Ca~lroentgi, São Pau-

Essa preferê ncia tinha sua razão no dinamismo lu,l959.


740 • Arrplite/Jn·as nu Rmsil

ro arquiteto e m São Paul o a se dedic1r e xclusiva- d e canteiro , porquanto r ara era a encomenda de
mente ao projeto, desi ncumbíndo-sc ela coustru- projeto sem a respectiva obra. A in trodução de
ção. Ele e se us sócios mais jovens, Roberto Cer- componentes modernos na arquitetura paulista
que ira César (n. e m 1917) c Luiz Roberto Carva- não se in iciou med iante os recu r·sos formais qu e
lho Franc o (n. em I 926), construíram uma repu- caracterizaram a linha carioca: foi no tratame n -
tação profissional excepcional, marcando época to racional e inovador das plantas que certa
por sua atuação. modernidade emergiu em São Paulo. Í ~ provável
O segu nd o a seguir a tr ilha ele indepen- que um dos arquitetos que mai s se sensibiliza-
dência da obra, ainda nos anos de I940, f·o i ( )swal- ram com essa preocupação no contato profissio-
do Arthur Bratke, formado no curso de engenhei- nal com Bratke fosse o estagiári o João Batista
ros-arquitetos do Mackcnzic em 1~J:-10. Bratkc, Vi lanova Artigas.
nascido no mesmo a no d e Niemeyer, é represen- Bratke também foi um admirador da ar-
tativo das tnuctórias disliutas cutrc o s arquitetos qu itetura que se desenvolveu na Costa Oeste dos
mode rnos do Rio de janeiro e de São Paulo. ~ão Estados U niclos, sobretudo ela obra ele Richarcl
houve arquite to fo r mado e m São Paulo da mes- Neutra (1882-1970) e das manifestav)es ern tor-
ma g era\·ão elos pio neiros cariocas que te nha ini- no da revista da va nguarda Arts & Arr;h.itectu:re,
ciado sua vida profissional con1 a linguage m cujo p rograma das Case Study Houses (raciona-
moderna e sem en volvimen to com a co n struçiio. li7.açiio ria constru çiio , inrlustrializaçào c experi-
Todos o s paulistas praticaram uma arquitetura men tação de materiais, análise dos novos modos
eclética antes de se converterem ao modernis- ele vida pós-segunda guerra ) marcou vários ar-
rno; todos, ta mbém , adquiriram grande prática quitetos pau lis tas. Decerto O swalrlo Bratke é o

99. Q,waldo BraLke : ,íJa Sena <.lo 1\'avio , A I', 1955-1960 .


A Afirmaçàu de uma Hegemonia • 141

mais paradigmático entre os profissionais que do a condição de mais importante centro eco-
compartilharam desses princípios, não se atendo nômico e industrial do Brasil.
à int1uência de Le Corbusier como a maioria de Em São Paulo, mesmo contando com arqui-
seus colegas de geração. tetos de primeira linha em atividade, para o proje-
Numa outra senda, Bratke projetou dois to do Parque lbirapuera- centro das comemora-
núcleos urbanos no então território do Amapá - ções do quarto centenário da fundação da cidade
Vila Serra do Navio e Vila Amazonas - entre de São Paulo - a comissão organizadora contratou
1955 e 1960, bases para a estrutura de mineração Oscar N iemeyer - que reuniu urna equipe local
de manganês promovida pela empresa !COMI. para auxiliá-l o na tarefa. No período entre 1951 e
Divergindo de certa conduta funcionalista do ur- 1956, Niemeyer esteve projeta ndo edifícios co-
banismo de entào sem, contudo, negar opções merciais e residenciais para empresários de São
racionalizantes, Bratke foi cuidadoso em inserir Paulo (num período de puj ança econômica),
núcleos e projetar edifícios que buscassem ade- chegando a organizar um escritório na cidade,
quação ao ambienlt: amazônico e à cullura local, dirigido por Carlos A. C. Lemos (n. em 1925). O
sobretudo no desenho das casas operárias, des- edificio Copan foi projetado nessa época. No iní-
tinadas aos nativos da região. Realização con - cio dos anos de 1950, Niemeyer também foi cha-
temporânea à conslrução de Brasília, Serra do mado para inúmeros projetos em Minas Gerais-
Navio é um con lraponlo urbanístico à Brasília relacionados com seu mecenas mineiro, Jusceli-
no panorama da época [Ribeiro 1992; Segawa e
no Kubitschek (que havia encomendado o con-
Dourado, 1997] .
junto de Pampulha quando prefeito de Belo Ho-
rizonte), então eleito governador elo Estado nessa
época . Vários edifício s públicos (biblioteca c
A DIFUSÃO DE UMA LINGUAGEM

A influência da linha carioca se fez visível


em várias partes do Brasil, em obras de destaque
nas principais cidades do país. A disseminação
dessa linguagem deu-se, em hoa parte, pela par-
ticipação de arquitetos do Rio de Janeiro ou que
se formaram na Faculdade Nacional de Arquite-
tura. Por outro lado, diante da ampla divulgação
e repercussão por meio de publicações especiali-
zadas ou não, o repertório formal e projetual
mais o u menos codificado da linguagem carioca
permitiu que profissionais não necessariamente
relacionados com o m ovimento do Rio de Janei-
ro aplicassem as idéias dessa arquitetura moder-
na com maior ou menor fidelidade e acerto - e I 00. David Xavier Azambuja c e quipe: Centro Cívico Esta-

entre esses profissionais, incluíam-se engenheiros ""'"· Curitiba , PR, 195 1.


civis, técnicos de edificação e construtores - isto I. Palâóo do Gover no; 2 . garagem; 3. residên cia do
é, uma apropriação tanto erudita quanto popular. gov{'rnadnr; ~ t. monun1enlo . Ptdúcio da.Justi\:a; tJ. Tribunal

O Rio de Janeiro, por sua então condição Eleitoral; li. Palacio da .Justiça; 7. Tribunal do Júri; 8. Câ-
de capital do país, era uma referência cullural lilara dos Deputados (secretaria); 9 . Plenário da C:imara ;
muito forte para as demais cidades e regiões - I O Conlissúes ti'·cn icas ela C;ima ra dos lkp11 1.adns; 11. P a-
mesmo para São Paulo, no pós-guerra assumin- l;'tcio rlas s<~(Tlari de El'it.ado; 1~ . Pag<:uluria.
----
742 • A rr;u i/('1/1 ms l/O !Jrasil

teatro na capi tal, escolas públicas no inte rior do


Estado) I' privac!os (cdificios resicle nri ais, clu lws,
hotel) fo ram p roj e tados e a lg un s con struídos .
.Jove ns de várias partes do Rrasil qnc foram
busc.u· formação em arquitetura n o Ri o d eJam;i-
ro se t ransformaram e m m e nsageiros da a rquite-
tura moderna. Edgar ( : ra e fT, do Riu Grande do
S ul, jú fo i lembrado a nterio rm e nte. O baiano
J usl: Bina Fonyat ( 191 H-?), n1esmo estabeleci elo
no Rio d e J a n e iro, d e:;e u vo lveu inúme r os p r oje-
tos p a ra Salvador - o mais d es ta cado, o teatro 101. Rubens Me istcr: Teatro Guaí ra, C:u ritiba , PR, 1941-\.
Castro Alves (1 qs7- I 9Gu) . O paranaense Davi d
Xavie r Azambuja (1910-19H2) lide rou a equipe
do projeto do Ccnrro Cívico Estadual em Curiti-
ba, ao lado de O lavo Rc idi g de Campos ( 1906-
1984), Flávio Amilcar Régis (n . e m 1908) c Sér-
gio Rodrigues (n. em 1927).
Arq uitc tos-rnigrantes (como co n ceituamos
anLe rionnente) que se forma ram no Rio de Ja-
neiro rli sst:> minaram a linguagem carioca. Acácia ~;w .~:; - ~&tk:,.{; :4fu, ; ~!4;·
Gil Borsoi, como j á lembrado, foi uma fig ura c:~­ 102. J o~ Ralista VilaHoYa Anigas e Carlos C:ascald i: rodo-
pir.al par :~ Pe r nambu co. Carlos A! be rro rlc Holan -
viária de l.o11d rina, PR, 1tl50 .
d a Mendonça (1920-l V56), al:~gon qut> se trans-
feriu para Porto Alegre em 1948, introduziu o
padrão carioca e m emp ree ndim en to:; comerciais
rom dig-nidade c, nã o fosse a morte prematura, de Diógenes Rebouças (1914-1 991 ) e m Salvador,
seri a um a rquilt>lo com maior reconhecimento. c uj o TTote l rla Bahia (1947-1949 ), qne con to u
O ca rioca IIélio Dllartc (I 906-1989) fo i p ara- com a co-a11Loria do n 1r ioca Paulo Antunes Ribe i-
di?;mático como um arq uite to-peregrino: for- ro, foi um a das mais signifi ca ti vas obras do perío-
mado na Escol(l Nac iona l ele Belas-Artes e m do. Re b ouças, for mad o tan.li a me n te n o curso rle
1930 (antes d a tenlal iva d e reforma de Lu cia a rq uitetura da Bahia, foi um n otável seguid or da
Costa), D uartc t.raha 1h ou na d écada de 19::10 linha carioca p or aproximação aos mestres como
no Rio d e .Jan e iro e em Salvarlor, até insta la r- Niemeycr e Reidy, sem todavia ter viven ciado d i-
se d efinitivam en le e m São Paulo, em ·19 44. Le- re tamen te a agitação cultural do Rio d e J ane iro
vo u para Salvador, onde fo i pro ressor da F.sco- [Re is el al. 1995] . No su l do país, Nelso n Sou za ,
la de Rl·l:-1s-Ancs até 1914, as id (:ias de Le formado e m Porto Alegre, com o projeto d o Ae-
Corb u sier - e mbo ra não te nha co n seg-uido im- ropo rto Salgado Fil ho ( 1950), reto mou o m ode-
por conceitos modernos n o curso. Projetou al- lo do aeroporto San tos Dum ont do Rio ele Janei-
gulls cc!ifícios que estão e ntre as pri mei ras r o, dos ir mãos Roberto. Lui z Fer nando Carona
obras m o dern as da capi tal da Bah ia . Em São ( 1923-1977) c Carlos Maxim iliano Fayet (n. em
Paulo, desenvolveu b e m-su cedida carre ira profis- 19 30) ganharam um conc urso p úhlico nacio nal
:;ional e acadêmi ca, aposentando-se com o profes- de anteprojetos (1953) p ara o Palácio da j ustiça
sor titular d : 1 FJ\U-USP [Segawa 1990 1. de Por to Alegre co m uma p ropos ta clarameu tc
O o utro caminho para a vulgarização do refere n ciad a n a linha carioca. No Paraná, o en-
pen sa m en Lo carioca fo i a apropriação dos concei- gen h e ir o Rubens Meister (n . em 1922), inequ ivo-
tos por profissionais de o u tras regiões. Fo i o caso cam e nte um pioneiro do moderno p ara nae n se,
A Afirmaçiio de 11111{1 lie,~mona • 143

ao projetar o Teatro Gnaíra na capiral do Estado, fe vereiro de 1958, ~ i emy r revelava ter p assa-

o faz com algumas referências fo rm a is à arq uite- do po r "u m p rocesso hou csLO c frio de revisão
tura d o Rio d e Janeiro. Todavia, Me ister, na se- d e m e u trabalho ele arqu ite to". Fazeudo sua mea-
qüê n cia d e sua obra nos anos de 1950-1960, cle- r:nljm pelo excesso d e proj etos sem o d evido cui-
senvolve u uma linh a m enos vi nculacla à linh a dad o, r eveland o sen timen tos d e contr ad i ç~ w

carioca, ap roximando-se d a arq ui te tu ra norte- pessoal di an te do quadro social no Brasil c sua


americana [Zein 1986]. Em São Paulo , u m arqt ti- atuação profissio nal j u n to .:\s "classes abas tadas ",
tc to de personalidad e própria como R in o Lcvi ele admitia ter-se descuidad o "d e certos pro ble-
també m dese nvolveu projetos com p equenas re- mas e a ado tar uma te nd ê ncia excessiva para a
f'er€- ncias à linha carioca; e um arquite to qu e fez originalidade, no qu e e ra incentivado pelo:,; p ró-
fra n ca opsi~:ã id col (>gica ao t.rahalho de Lc p r ios interessados, de:,;cjosos ele da r a seus pré-
Corbu sier, João Ratista Vila n ova Artigas, abra- dios maior repercussão c realce. Isso preju dicou
ço u a ling uagem da arcplÍ tetura carioca e 111 e m algu ns casos a simplic idade d as construções
obras como o Edifício Louvc ira, em São Paulo, e o se ntido ele lógica e eco nomia que mui tos re-
ou seus p r ojetos para a cidade de Londrin a, in- clam avam" l).fiem eyer 195HJ. Nessa busca de de-
te rio r d o Estado do Paraná, como o edifício puração, o próprio arqu i teto a linhavou o que
Auto lo n c a estação rodoviária, d o final da d éca- considerava como uma n ova etap a dt: se u tl·aba-
da d e 1940 [Segawa 1990aj. lho, a partir d e alguns poucos princípios:

Nesse sentido . passaram a me in [Crcssar as soluções


co1npaclas, simp lt>s <" gt>om;;tricas; os p r o hle111as de h i-
A AUTOCRÍTICA DE NIEMEYER erarq uia c de cará ter arqui teJ ôni ro; ~ 1 s convc ni ê· n ci as
de un id ade c h ar m on ia e n t re os edifíc ios e, ai nda , que
es1es não mais se exprimam po r sctts dellleulüs secu u-
cl:tr ios, 111as pt>b p rópr ia est r u tu ra, ctevida mente in te-
Con sagra da urna n o rma a rqu ite tô nica,
g rada na conce p ção p lástica ol"igiual [N iemeyer 1958].
apropriada uma coleção d e "regras" para fazer
"boa " arquite tura, o lugar-comum c a ban aliza- A si mp licidade b uscada pelo arquiteto
ção de soluçôcs que con sag raram a arquitetura e nco ntraria na r.slm.lnra st"n principal protagonis-
brasileira tornaram-se ca mi s as-defor ç<~ ranro para ta, como p ouco depois ele mesmo accnt11aria:
os arq uite tos que participa ra m d a insta u ração
dessa lin h agem arquite tô n ica quanto p ara os jo- De nt ro dessa a rquiletu J·a, [JI OCuro orienta r meus
p ,·oj<'tos caracterizaud o-os, se mp re CJ llf' possÍYe l, p ela
ve ns seguidores. Esse falo não passava d espercc.:-
p r ó p ria estrutura _ Nunca basead a nas imposi(Õcs rad i-
bido ao seu principalmentor, Lu cio Costa, qu an- cai s do fnn cio na lism o , mas sim , na procu ra de soluções
do adm i1iu - tão ced o como e m 1953 - que a n ovas e variadas, se possíve l lóg i<as rlcn rro do sis1cma
"arqu itetura brasileira [ ... ] anda mui lo n ecessita- estático. F. isso sem lemer as contradições d e fo r ma com
da d e d u ch a fria d e quando em quan d o", por a técnica e a fun çào , ce rto que permanecem, u n icam e n-
O('asião da resposta às críticas ele Max Bill. re, as solu\:Ócs b das , in esp erada s e h ilr mon iosas. C om
esse objetivo, ;-tec i lo todos os a rtifíc ios, tOdos os compro-
A cr í tica (o u auw crüica) m ais rclc:.:va ntc.: c
missos, convicto d e q ue a a rq u it t'lur<J não co nsliLUi um a
d e re percussão foi e laborada pelo protagon ista simpl es qucsr<io de engeu ltal'ia, mas um z, m;-, n ift>staç;i o
mais e rn evidê nc ia , Oscar N ie meyt>r. Na seguuua do espírito , da imagin a(iio e d a poesia [Ni c- J11eyer lY(iOJ .
me tade elos an os ele 1950, e ngajado nos projetos
dos palác ios d e Brasíl ia, o arquir.ero publicou Esse parágrafo conté m a síntese do pen sa-
um a sér ie de artigos n a r evista M ódulo, qu e j.>O- men to nie m eycriano: a licen ça pol:tica sem su-
d e mos consider ar e ntre as ma is importan tes ma- bordinação às imposições técn icas - mas o con-
nifestações por escrito d e um arquite to mode rn o t rário- admi tin do a busca ela "forma bela ", do
brasileiro, d epois dos e nsaios d e L ucia Costa . "novo " co mo desafio à o rLo cloxia elo lúnciona lis-
Em uu1 cl:lc:brc tcxlo , "De poime nto ", saíd o e m mo, um r econ h ecimc n to da "von tade artística"
144 • ,;.JI·qu itetu r as no Hrusi I

(Kunstwollen) à maneira tlc Alols Rit>gl (1858- sion al de 1933, Artigas caracterizou-a apenas
1905) como vetor da a rqui tetura, elegendo a es- como uma n orma d e natu reza corporativa, sem
lrumra como personagem principal da sua cria- dimensão política:
ção [Segawa 1992] .
O rlerreto ck rcgulamcnlação [ ... ) baseava-se no
O manifesto de 1958 foi pronta mente
p rincípio ele assegurar para os l'ngenheiros (c para os
sentido pelos colegas: seu con teúdo foi semin al arq u itetos) a construção d os edi.lícios que esteve por·
para os arquitetos das esquerdas e certamente longo tempo a cargo de leigos. O "p rojeto" na rcalirla-
tornou-se um ponto de partida para uma nova de não tinha importância maio r. Qualquer projeto. Ou
"linha": um tipo de arquitetura feita em São Pau- t<~lvez fosse mais corrt>tu dizer que não se atribuía valor
lo, a "linha paulista". de autenticidade ao projeto brasileiro. Para construi r o
Ministério da Educação foi necessária" presença deLe
Cor busier a fim de gar;-rntir o resultado ela o bra, seu sig-
ni fic ado moclenrizarlor tão necessário à conjuntura da
Revolução de 30 nas a lw r·as de 1937.
VILANOVA ARTIGAS
No fim da d écada d e 50 já podíamos definir o pro-
E A LINHA PAULISTA j eto, os pr ~ j etos em geral, como manifesta ções d e sobe-
rania.
A compreensão deste princípio muito custou e a in -
No comPro de 1967 fizemo.~ u ·m estudo sob-re a j>a- da custará aos arC]uitetos brasileiros. Ele cuutém e m si
ln.vra desenho cuja inümrtlo era mostrar como na his- a idéia de emancipação de n ossa cultura técnica e artís-
tória do desenvolvimento econômico-social bru.siüáro tica, de d f'resa da nacionalidad e [Artigas 1977, p. 34] .
twhn ela perdido fmrtfi "'' sru sig;nijicado, o signifi-
cado de desígnio, de projeto. C'umo o desPnho é eman- O mais brilhante interlocutor de Vilanova
rijJa{'ão Como o projeto é demonstmção rlPsoberania. Anigas nesse período foi o professor Flávio L.
Motta (n. em 1923), com quem d ialogou para a
J. B. V TI .Al"'OVA ARTIGAS, 1974 [1977, p. 35]
elaboração de um forte e influente discurso sobre
a semântica dos termos "projeto" e "desenho " e a
poderosa carga ideológica a eles atribuída.
Essa manifestação de 1967 sin teli:tava u rn
conjunto de preocupaçõe:; de João Barista Vi- Convém, preliminarmente, fazer uma obser-
lanova Anigas qu e data do final da década de vação d e natureza etimológica. Na língua portu-
1950. Nesse momento - na efervescência de Bra- guesa, não existe a diferenciação que em inglês se
sília- a vangu arda arquitetônica, as esquerdas e manifesta nos termos "rlesign " e "drawing", ou em
alguns setores da sociedade compartilhavam da espanhol com "diseiio" e "dibtuo" - ambos se defi-
estratégia do desenvolvimentismo brasileiro com nem, no português, ambiguamente no termo "de-
forte tintura nacionalista. Postulava A.rtigas: senho". Um texto de Flávio Motta, de 1967 (a partir
de considerações an terior men te feitas por Lucio
A década d e 50 caracter-izava-se para a história da Costa), ~ j ucla a ilustrar a dimensão ideo- lógica dos
arquitetura brasileira pela planificação c construção de conceitos propalaclos por Artigas:
Brasíl ia. Note-se q ue a arquitetura brasileira represen-
tada por Luci o Cost<t e Oscar N iemeyer j ü gozava nacio- O problema do desenho tem muito a ver com a
na lmente de p restígio suficiente para não ser necessá- nossa emancipação política.
ria uma ''t:obcrtura" técnico-cultural es tran geira par'a Ele se confun d e com n desígn io d e fo rj<lr mos urna
enfrentar tarefa desse tamanho [Artigas 1977, p. J3j. cul tura humanística.
Bem sabemos que a palavra "desenho" tem, o rigi-
O arquiteto de São Paulo pretendia de- nalme n te , um comprom isso com a p a lavra "desígnio ".
Ambas se identificavam. Na medida e m que res tabele-
monstrar uma tese: que a responsabilidade social
cemos, efelivamen te, os vínculos entre as duas palavras,
do arquite to se sustentava no conceito do projeto
estaremos também recuperando a capacidade de in f1uir
como um instrumen to de emancipação política e nu rumo do nosso viver. Assim , o desenho se aproxima-
ideológica. Ao comentar a regulamentação profis- ra da noção de "pr-ojeto " (pr-ojet), d e uma espécie de
A Ajirmaçâo de 1111/tl I /ei;enJ0 /1 ia • 715

lançar-se para a frente, incessante m ente, movido por No capítul o anterior, "A Afirmação de
uma "preocupação". Essa "pré-oc upação" compartilha- urna Escola 1943-1960", reportamo-nos ao deba-
ria da con sciênc ia da necessidade. Nu m certo se n lido,
te entre o grupo comunista do Rio Grande do
elaj;j assinala um encam inhamento no pla no da liber-
dad e. Desde que se conside re a preocupação como re- Sul (à frcu tc Demét rio Ribeiro) c o a rquiteto
sull<tnte d e dimensões históricas c sociais, ela transfor- paulista. Artigas posicionava-se contra o tipo de
rn a o projeto em "p r ojeto social". uacionalisrno c o tradicioualismo da arquitetura
Na medida c·m f[ll<' 1111l él sor iPdadc ITill iza suas con- dos gaúc hos, defensores d e estéticas "compreen-
d ições hum an íst icas de viver, então o desenlw se man i-
síveis" ao povo. Ao contr~i, ele segui u a senda
festa mais preciso e dinâmico em seu significado. Vale
da arq uitetnra moderna da vanguarda ocidental:
di zer que através d o desenho podemos idenLificar o pro-
jeto socia l. E com e le enconr.rarem os a li nguagem ade- Assumi p osiçcies próximas rla arquite tura rha m arla
quada para cond uzir a e m an ci p ação hu ma na rMotta r:1cionalist:1 , on post erio r mente cha mada "cn rhusi e ri;J-
1975, p. :!9 J.
na ", l<t~ fá: isso con1 espíri lu u íti c u, 111 eu própri o, sa-
ht>ndo f[llf> t>ssas posi(Ôt>s j;í nri11n d as de u rna vi-
er<~n
O próprio Anig-as, em aná lise de HJ74 ,
são de mun do das quais homens como CorbHsier, q ue
circunscreveu o contexto inicial desses posicio- as fundame ntavam , não pod iam participar. Essas fo r am,
namentos: rra sua e~sê1cia, originc-1<1:-ts d e lllll él cor~pti ."iociali s-
la do mundo, buscadas nos primórdios do socialis m o
Os anos q u e antecederam 1962 roram de intensa
11a U11i;tu Suviét i c:~, e se t TisLal L~u-a n.t L Uill as inllTjJJT-
<tt ivielack elos <~ rquiteos brasil eirosjunto à Un i ~n I nter-
taçôes pessoais de uma porção d e ge nte que se a prcscn-
nacional de Arqu itetos I .. j
t<tva 11<1 i\lcman h <t, 11 <1 Fr<tnc;a- n<-10 nos Estados Unidos
Na Uli\ a couviveucia dos arquitetos de LOdas as ua-
- corno 1 . .. 1 pessoas t)lle lurava111 contra as opressrws
ç.ôes, para um mundo de p az, pretend e a valorização da
dt>ntro do seu próprio país , e ofereciam isso ao seu
cul tura arquitetônica de c:ada p aís, a dcscolonizaçiio des-
povo, acima ele tudo , a casa populnr, com o um m o m en-
ta~ c ul t.ld~ A u i ~tlibu : ão entre torht' <L~ culturas das
to de art.c moderna.
melhores con quistas da técn ica universa l ;1 pa •· do respc ~ i­
Foi com essa compreensão, já com uma comp•·ee n-
to e reconhecimento à hist ória de cada uma d elas. [ ...]
são de que nao era aí que estavam os idc <Jis do povo
A d cscolonização na arqu itetura não se faz pe la
b r asileiro, mas nos id cai.s ele li b e rtação nacional, de
proihiç.ão d a importação de modelos de so lução de pro-
lnT:1 conTra os poderes rnuito maiores que nos opri mi-
bl emas estético-construtivos . Mas prin cipalm ente pela am, toi dentro desse caos que pude con str uir minha
descolonização da consciência dos arquitetos dentro da
vis;lo ele arquiTeTura [Arrigas llJRHh, p . 94].
c ultura em que trabalham . Por isso são importantes as
escolas de arquitetura nacionais. A elas cab e educar os
Vi lanova Artigas a braçou uma interp reta-
a rqtti t.c tos na direção d e c.onhecr.rem a fundo as ques-
ção peculiar do intcrnacionalismo, sob a leitu-
IÓes d e suas p~t!r i as para versan·u1-nas eles mesll)oS l ...j
A posição colonizada flll e se car acter iza pelo "não sabe- ra d e Le nin:
mos " atribui a outros setores da cultura responsabilida-
E quando se fala em estilo internacional. qualquer
d es nossas. Entretan to o pior dessa ati tude é que com
comun ista. com o cu n aquele tempo, logo sabia que o
ela também se atribui a estrangei ros na constante pro-
sentido da intemacionalidade era de origem p roletári<l.
c ura de lid e r ança metropolitana, co1no se constata nas
universa l. Q u e r dizer, universa l fJelo conteúdo, nacional
declarações sobre a crise da arquitellrra brasileira e tan-
{llilafm·uut. U ma a rrptitet.u ra intern<Jcio nal seria aquela
tas outras rArtigas 1977, p . ::141 .
que servisse ao total ela humanidade e tivesse suas lor-
lllas 1Laciouais cobrindo a i111ernacionalidatlc tla int.en-
É preciso relembrar o delicado quadro
ção. Essa relação entre forma c conteúdo é tipicamen-
político do segundo pós-guerra e da década de
te do pensa.mc:nt.o d essa é p oca e , partiCltlarmente , d e
1050, como moldura d essa rellexão- imperialis- Lenin [Arligas 1989, p. 601.
mo , colonialismo, Guerra Fria, Cor tina d e Ferro,
macarthismo, a crítica ao estalinismo promovida Assim reconheceria Anigas em 1981. A
duran te o XX Congresso do Partido Comunista r econstituição do seu raciocínio em momentos
da U nião Soviética, a invasão da H ungria por d iverso s mostra correlações que permitem com-
tropas do Exército Vermelho - tudo isso esgar~: ­ preender a coerência in terna do pensam e n to
va as esquerdas brasileiras. desse arquiteto, fundamental na formulação de
1 4() • AnJU Í/elums nu Rrusi/

conceitos ~u c embasaram a arquitetura paulista e ngé~ar no ensino, na teorização, e se deslo-


am
elos anos ele 1960. Sem renuucíar às suas convic- caram pelo país nessa peregri nação; a ele São
ções nacio nalistas e anticolonialistas (no plano da Paulo, também pela formação de teóricos mas,
subordinação c ultural e tecnológica diante das sobretudo, pelo desenvolvimento ela prática de
potências o cide ntais) - ao ponto de qualificar Lc uma arquitetura com caracte rísticas peculiares,
Corb usier como um "agente do imperialismo"- , ao ponto de ser qualificada como uma "esco la".
Arligas cnconlrou em Lenin uma interpretação O currículo da FAU- USI', na proposição de
de solidariedade universalista ( "internacionalida- Vilanova Artigas, tinha como fundamento básico
de oper ~ {ria") sem conflito com a busca ele ide n- o conceito ele fJmjel.o estruturando o c urso , em
tidade c nacionalidade. Ao vislumbrar no movi- torno do estúdio ou ateliê como espaço de au la e
menlo modern o ela arquitetura elos anos de 1920 discussão , e organização didático-adm in istraliva
(anterior a Corb usitT e Gr·op ius, estes tributários em departamentos - História, Projetos e Técni-
daqu e le) uma utopia de concepções socializantcs, cas - co m o departamento de Projetos instiluído
co m proposlas por uma sociedade igualitária c em seqüên cias temáticas ele planejame nto urba-
justa, servindo ao " to<~l ela human idade" sob a nístico, do edifício, da comunicação visual e elo
égide da industrialização, essa arquitetura moder- desen ho industrial. Essa amplitude de áreas, se-
n a, em seu d esenvolvimento, afigurar-se-ia como gundo Artigas , visava a formação de um profis-
um caminho redentor para a sociedade como um sional qualificado para f: n[re ntar as mais dis-
Lodo. A arqui tetura moderna, e ntão, como mui- tin tas demandas:
to bem colocou Aualolc Kopp [ 1990], não seria
lllais um estilo, mas uma causa. Os cu rsos de arquitetura devem padronizar o futu-
ro arquite to d e for ma mai s ampla do yue até lHlje.
Abrir as eHradas p ar a o conhecimento d~s v::i rias ques-
tões permitindo ao estud an te d esco brir o seu mais pro-
MATURAÇAO fundo inLeresse , a sua maior vocação. A Fl\.U-USP tem
DO PROJETO PAULISTA alg uma experiência p rática nesse sentido, se conside-
rarmos que seus alunos se clistrih twrn na açiio pe los
mais variad os ramos das L{ ~c nica s c das artes. Assim, o

jJnfil elo arquite to eleve se •· o mais variado possível e ba-


A partir ele 1957, os Encontros Nacionais
seaclo no mais am plo s is tema de informaçôes de rnanei-
de Arquitetos, Professores e Estudantes de Ar-
,·a qu e possamos contar com arquitetos nos mais varia-
qui t<:tura promoveram vários tórun s de debate dos ramos da arividad c social.
acerca da formulação de um currículo mínimo
para os c ursos de arquitetura. Em 1962, a Facu l- O arquiteto, nessa visão derivada da expe-
dade de Arquitetura c U rbanismo da Universicla- ri ê n cia da Bauhaus, era um profissional "com-
clc de São Paulo e a Faculdade de Arquitetura da pleto": "Há que formar e educar e prestigiar os
U n iversi dade elo Rio Grande do Sul irnp lanta- arquite tos para desempe nharem as mais variadas
varn se us novos c urríc ulos, produtos desses anos missões. Desde a construção, passando pela foto-
ele discussões. As propostas foram capitaneadas grafia , e a canção , até o s cargos de natureza ad-
pelos mais impo rtantes líderes regionais: no Sul, ministrativa c política".
por D e métrio Ribeiro e F.elgar G raeff (qu e , toda-
Mais elo que apenas um construtor, o
via, nesse ano j á estaria engajado na organ ização
conceito de projeto e mbutido nessa proposta
do curso de arquitetura da U nive rsidad e de Bra-
instauraclora atribuía ao arquiteto uma verda-
sília); em São Paulo, Vilanova Artigas. Há de se
de ira tarefa redentora, missionária, ele reformu-
constatar que essas duas facu ldades- fermentan-
lação do mundo:
do d esde os anos de l9!'í0 - tiveram fundame~
tal re levância nos anos de I 960-1970: a de Porto Educar os estuda ntes na convicção d e que o dese-
Alegre , pela for mação ele profissionais que se nho é arma de expr essão das pesquisas as mais profun-
A Aj !rmaçào de uma 1/egenu m ia • 147

das e de sín teses as mais complexas. Exato como os re- ideário: 1. as condições políticas d e discussão e
c ursos da ciência. ação das eSC]Ite rdas, possíveis nessa passagem d e
Os arquitetos tênt experiência acumula da para o tra-
década p a ra os anos del960, a té o golpe militar
Tamento de questiies qu e e n volvem o condicionamen to
do espaço apropriado para a vida lnuuana. Os limites
de 1964; 2. a arquitetura era um tema presente
que a tec nologia mode rna estendem para o domínio ela n o deb ate público cotidiano ern função sobre tu-
n<ltLlleza ultrap<lssam os limites da terra. As c iências do do da construção de Brasília; 3. o domínio d e
meio ambiente vêm mostrando q u e o h omem é cada vez um a tecnologia própria constitu ía uma elas
mais o se nhor da natureza. P reocuparn-se e nos a lertam
q tt es tôes progra m<Í ticas do n acional-dese n vo lvi-
a todo o momento sob re as r e lações sociais entt·e os ho-
mentismo da época, e São Paulo, como o m a io r
men s, as quais pode rão le v ~-lo rk senhor~ destrui dor do
meio em que vivem. Repilo-lhes estas coisas para desta- pólo industrial do país, enquadrava-se adequa-
c;u o p ape l que o arquiteto pod e rCt d e sempenhar na damente ao figurino de centro de pesq uisa ele
a p ropriação caute losa d o meio ambien te assim como na soluções tec nológ icas e indust rialização d a co ns-
participaçã o socia l ca p :u de mod iri ca r as relações e n ue trução (nos mold es ela busca de re sposta indus-
os homt>ns em proveito do pn)p ,·io homem. As escoi:ls
trial para a construção e m massa, tese da arqni-
de arq uirerura devem educar os jove n s p a ra a p;-trricipa-
tetu ra moderna d esde os anos ele 1920); 4 . o
~ ·;to do a rqnircro twsr<· concci ro de cnnhccimcntn dare-
a lidade da existên cia humaua [Art.iga' 1977, p. :37] . c urso ele arq uitetura em São Paul o, diferente-
mente das dema is r eg iões, ti nha suas origens
não nas belas-artes, mas na engenhari a, o que
lhe configu rava uma maior familiaridade com a
ARQUITETURA COMO MODELO
arquitetura enq u anto questão tecn o lógica.
Mas o fator mais palpável para a mate r ia-
Qual a razão do alcance e influência que a lização de uma arquite tura for malmen te ide nti-
linha paulista a tingiu n os anos d e 1960-1970? U m ficável como "paulista" deveu-se ao seu car áte r
aspcno fundam en tal foi a clareza c a forç_:a ideo- d e continuid ade à linha carioca. A importante
lógica contida em torno dos conceitos d e fJrojeto c autocrítica d e Oscar N icmeyer em 1 95~ foi pron-
de.wn.lw, linha mestra d a reorgan ização curricular tamen te apreendida pelos arqui tetos, so bre tudo
da Faculdad e de Arquitetura da Universidad e de aqueles i<kologicarncn Le alinhados ao mestre do
São Paulo c convicção prorw.uncn t.c assimilada ou Rio de Janei ro. M as Vilanova Artigas foi e nf:ttico,
discutida por alunos e discípulos. É preciso co n- e o primeiro a ac usar sua imp o rt~mci a de manei-

side r ar algun s dos fatores que propiciaram um ra positiva na revista 1\crójJole, com um curto tex-
meio fé rtil para cliscussào e legitimação desse to, "Revisão Crítica de N ie m e yer", algun s meses
depois d a divulgação elo manifesto de Niemeyer:

T rata-se de documento ric o d e su gestões para a aná-


lise d a atua l eta p a d o dcseu volvi mc nto d a a rqu itc lllra
h r ;-1sil el r;-l. Ni( ~ JT J t->ye r nos C (Hnuic ~ l c on fian\·a n o des ti-
ll ü da no~ s a arqu itetura e da cultura nacim1a l. Numa
demons tração de grande se n sibil idade, define corn se-
guranç a o significado d e certos aspectos deco.-at.ivos
qu ~ in1 ag ina1110S f}llf" de C ~r1a ronna t"' il Vo }vial n l U S ~ ;- 1s

e x pressões arquitetôn icas, traçando o rumo c erto para


e vitá-los [Xa vier 1987 , p . 2~ -1] .

A autocrítica ele N icmcycr foi muito m ar-


cante pa ra Artigas. l\1Iesmo anos d e p ois (1965), o
103 . .João Batista Vilan ova Ar ligas c Carlos Cascaldi : Giná- arquiteto d e São Paul o vo ltaria a citar esse man i-
sio de lLa nhaém , SP, 1959 . A estru tura é definidora d a for- festo num ensaio, "Uma Faba Crise" [Artigas
rna do ed ifí cio. 1981], a propósito da p o lêmica da anti-racionali-
r.--- - - --

148 • A ·rrtllili!fllms 110 lJmsil

dade de Ronchamps ck l.e Corbusier e o debate cionais, elevavam a questão a nma d im ensão rla
sohrc a falência elo funcionalismo . ~es texto, é Lica p o lítica e social. Essas idé ias conh eceram
AJ·tigas, além de manifestar- sua reco n c ila ~ : ào com tentativas de materia lização e m for ma de edifí-
o mestre franco-s uíço (c hamava-o de "ge nia l cios, conjuntos e difi cados e espaços urbanos,
arquiteto"), rckmbrava a passagem de outro tex- com ling uagen s forma is e téc ni cas apropriadas
to de Niemeycr com sua apologia d a r'.\lntlum da experiência da arquitetu ra carioca, d a essên-
com o su porte de uma "m a nift>staç':ío do espírito, cia da estética d e Osc;~ r Nie meye r. Nunca antes

ela im aginação e pocsia" [ver a parte "A Autocrí- no J3rasi1 houve um a ~.:s for r,;o Lão claro de correla-
tica de Oscar NienH.:ycr" no preseme capítulo]. O cionar ur na série de teses com realizações arqui-
caráter mais marcan te da arquitetura paulista - a te tô nicas concretas. Ética e estética nu nca estive-
eslrutum mmo mquiletura - é tribu t.ário das condu- ra m Lào e rn evidência. Uma estética com ética o u
sões de Niemf:'yer de 1058-- l 960. u ma é ti ca com eslética -jogos de palavras que
Não se deve descartar, ta mbém, uma influ- ron dar am as discussões e a prútica da arquite Lu-
ê ncia da visão "indusLrial izávcl" da arqnitetura ra em São Pau lo no::; anos de 1960-1 970.
no rte-am ericana , q uer pelo conhecimento dos
princípios elas Case Study Houses, e em partic u-
lar a obra de Mies van der Rohe- si nteti:t.aclor da CONSOLIDA<;ÃO DO MODELO
máxim a da "arqu itetura como estrutura ". A no-
ção de "modelo" tamhé-m veio caracter-izar uma
série de atitudes elos arquiletos paulistas: mode- Vila nova Arligas era um per son age m ca-
los d e soluções arquitetônicas, m odelos d e estru- rism á ti co, !Jl'Ofcssor e loqü ente c articulado, mi-
turas, até mode los de re lações sociais (!). litante de esquerda : perfil q ue lh e gra nj eou
Ao ass im ila r a a u tocrí ti ca d e Niemeyer, ad mi ração, seg uidores e vasta influê n cia, com o
Artigas encon trou uma "saída " concre ta de co- detr-alores e adversários. Mas não se pode cr ecli-
mo expressar materialme nte u m a coleção d e lar a e le a soli tária tarefa de fo rmulação de uma
conceitos de admirável coesão in terna. Dife r-en- linguagem clcsenvo lvida e m São Paulo. À man ei-
te men te de seus colegas de restruturação c.r trri- ra da lin ha carioca, a lin ha paulista também fo i
cular d o Rio Grand e do Sul - que também de- um conjunto de vertentes não formalme nte e m
senvolvera m :suas teses de ensin o a partir elos acordo entre si, unitário, mas, examinadas e m
encontros de 1957-1062 c ab r a~:r rn fundamen- se us fu uda m entos, derivadas d e um a saudável
tos con ceituai s ele e::oq ucrda - , Artigas foi um pro- dialética en tre as duas e stolas de arquitetw-a
fícuo realizador na prancheta e no cantt>iro, pa- (USP c Mackenzie) , um ativo departamento regio-
ralclarncn rc à condição d e esplêndido teóri co nal do Instituto de Arquiletos c profi ssionais inde-
rzein l984]. Se Niemeyer foi u ma referência co- pend emes, resp eitados por suas realizações, e m
muul ao Rio Grande do Sul e a São Paulo, no Sul, wrno de pre ocupações concerne ntes à ma io ri a.
o mestrf:' carioca era reve renciado pelas convic- Grosso modo, cada vertente po d eria ser clisLingui-
ções políticas c alguma mime::oe arquitetônica; em d a com o urna resposta possíve l a essas q uestões
São Paulo , Nicm eyer foi cul tuado pelas idé ias e comuns. A iden tidade paul ista, portanto, não se
pelas realizações construídas que, passadas por e n contra some nte na sim ilarid ade formal que
uma re leitnra, se transformaram noutra arq uite- obras d e alguns arquitetos podem compartilhar,
tura nas mãos dos arquitetos paulistas- sem per- mas ele pressupostos iniciais comuns que geraram
da da essência qu e a o r igi n ou. resp ostas distintas.
As formu lações teór icas e ideológicas do Entre as r eferências dire tas ou indi retas, a
gr upo em torno de Vilanova Artigas buscavam a rquite tllra brasi le ira em geral estava ate nta a
fundamentar teses-utopias que, longe de co rres- de term inadas discussões ou personalidades no
pon d er a pe nas a teorias a rquite tô n icas tradi- plan o inte rnacion aL A polarização entre posições
A Jifirmaçüo de 11111a llegem o11ia • 149

"organicistas" (da linha de Frank U oyd Wright e nica d e seus pr~ j etos, constituindo um paradig-
do proselitismo de Bruno Zevi) e "racionalistas" ma de qualidade para os jovens arquitetos.
(Le Corbusier, Gropius, Mies) tornou boa p ar te No â mb ito d os sistem as construtivos de
dos de bates até o início dos anos de 1960. Um maior tecnologia , o concreto armado lll0110poli-
a rquiteto guc inspirou mu itos j ovens brasileiros zo u as espcci ficaçôes: material de ampla d isponi-
foi Richard Ne utra, que vis itou o país e foi o bilidade no mercado brasileiro, sem a concor-
úuico arquiteto estrangeiro nesses anos que teve rê ncia dos sistemas metálicos - na ocasião, não
nm a publicação bilíngüe cuitacla no Brasil (Ar- rão a cessíveis à con str ução civil. São Paulo co-
quitetura Social ern Países de Clima Quente/llrchi- nhecia longa tradição com a ma téria - desde a
ü:r.l1.m: of Social Concern in Hegions of M ild Climate, pione ira estação Mairinque de Victor Duhugras
1948), com uma introdução do pione iro Grego- [ve1· capítulo "Do Anticolonial ao Neocolo n ia l: A
ri Warchavc hik. Ademais, a an1uir.et.ura da Costa Busca de Alguma Mockmidadc 1880-1026", em
Oeste dos Estados Unidos teve am pla repercus- es pecial , a parte "Estética da Rac ionalidade"],
são em São Paulo, sobn:tudo 111cdiantc as p:-íg i- até u ma vasta li teratura c ensaios t.ccno lé>gicos
nas da revista A-rts & Architecture e as propostas prodmirlos pela Escola Politécn ica desde os anos
dos arquite tos do prog rama Case S!udy TTouses - ck 1920.Já em 1951, os hrasi le iros to mnvam co-
exp eriên cias de ha bitações racionalizadas na tec- nh ecimento dos e nsaios em concreto apare nte
nologia e na revisão dos con ceitos de vida do- de Le Corbusie r na unidade de habitação e m
méstica no período pós-segund a gue r ra [Segawa Marselha ( 1 946- L 95~), por meio d os premiados
e Do urado 1997 J. painé is presentes n a I Bienal Internacional de
A linha carioca foi um refer encial marcan- São Paulo. Na mesma mostra, as exuberantes es-
te: além da óbvia alus3o a Niemeyer, a influé'ncia truturas aparentes d e outro premiado, Pie r Luigi
de Reidy pod e ser notada em arq uitetos tão Ncrvi (189 1-1979) , para o edificio para Ex posi-
d íspares do cenário paulista (pela traje tória pos- ções de Turim (1948-1949) e o hang;u· para avi-
terio r ) quanto Art.igas, G iarKarlo Gaspe rini ou iks ( I 940-1943), cenamente sugeriram novas es-
João Waltcr Toscano ( n. em 1933). t é- ti c<~s pa •·a os arqui tetos brasileiros. Reidy foi o
A tecno logia da constru('ão era um te ma primeiro a empregar o concreto aparente de
r elevante: a industrialização representava o alvo m an ei ra expr t"siv:~ no Muse u de Arte Moder na
maior para o pensam e nto nac io ual-desen volvi- do Rio deJaneiro, em obras no final dos a nos de
mentista ela época. Para essa m e ntalidade, o do- 19!'i0. Qua nd o Ri no T,evi começo u a trabalhar
mínio de tecno logia própria co nstituía um atri- também com o concreto aparente de forma
buto o l ~ j e ti vo elo grau d e p rogr esso do país. A escultural , não tardou a dissemin ar um<:1 genera-
industrialização da con strnção foi uma preocu pa- lizada aceitação das possibilidades esté-t icas do
ção constante, ainda vestígio do cred o revolucio- m ate rial apare nte.
n ário eu rop eu d os anos de 1920. O emprego de Com a deferência de Oscar Nicmcycr c
pré-moldados e a bu sca ela pré-fabricação conhe- sua apologia do material como supor te id eal pa-
cera m e nsaios no período (ern todo o Rr<~sil ) ra suas e labo raçôes p l ~s l iras, o concreto armado
sem , todavia, ter-se alcançado resolução salisfató- torno u-se uma solução reco r ren te c im harível
ria, afora experiências isoladas de alcance resu-i- entre os arquitetos alin h ados ao pensamento da
to. Mas o domínio da construção, mesmo artesa- "escola". Enfim, o concreto transformou-se na
nal e tradi cional, conhecia em São Paulo a força expressão contemporânea da técnica construti-
dos mestres de obras e con stru tor es italianos e va brasi le ira .
alemães, aliada à sólida inf orm<~çã dos egressos Não se deve, todavia, limitar a aurangf:n-
da Escola Politécnica e da Escola d e Engenharia cia da exp ressivid adc el o concre to ar m ado ao
do Mackenzic. Rino Levi e Oswaldo Bratke foram Brasil. Em tocb Amé r ica La tina, a influência de
profissionais que primaram pela elaboração téc- Le Corbusier o u, por via indireta, a influência ela
750 • Arquitctums no Rrasil

arq ui te tura brasileira d e vcrl(;U tc corbusie r ian a,


promove u u m conjunto de obras rcfcrenci::lis d a
cnlltlra arquitetô nica latinO-am eri cana: o Edifí-
cio d as Nações U nidas/CEPAL( l 960-196 6 ), d e
Emíli o Duhan (n . em 1918), a Capela do Mos te i-
ro Be neditino (1964), de Gabriel Guarda (11. e m
1928) c out ros, arnbos em Santiag o de C hile; o
Urná rio d o Cem itério do Norte (1962) em Mon-
tevidé u, U rug uai , d e Nelson Bayar do; o Edif'ício
d e la C obernació n ( 1956-1963) d e Santa Rosa,
Argenti na, de Clo rinclo Testa (n. (;IH 1923) e ou-
tros- entre algumas o bras m arca ntes_
104. Carlos Mí llan: casa 110 Morumbi, São Paulo. 1961.
O apelo à ex prc:;sividadc do con cre to, d e
matri;.-. c:orbusie ria na , também se ria tributário do
pen sam e nto em to rno do movim ento ang lo -sa-
xô ni co d o Rrutalismo, ou Novo Br utalismo, d e Não se po d e negar que arqu ite tos brasile i-
mead os dos a nos de 1950, como caracterizado ros ta mbé m foram tri b utários do Br utalismo;
por Reyn er Banh<H ll [ Marc hán Fiz J 974, p p. 10G- mu itos p au listas caminha ra m p or essa sen da, e
4 16 j. A austeridade e o respeito no uso d e m a te- talvez n ela te nham ide n tificado um r ecu rso con-
riais c instalaçõ es à vista (tidos como acaharnen- C(;itual de leg itimação de u m a prática. Todavia,
tos e m si), a preoc upação por um fun cionalismo d isling ui r a produção paulista como "n ru ta lista"
n ão necessa ri a me n te mecanicista, fo ram evidê n- for ça um a relação de ascendência que minimiza
cias fo rmais qu e, assoc iadas às ol>ras de Vilan ova as d erna is influên cias o u co ndicio namcs sign ifi ca-
Artigas e seu gru po, ge raram a a lcun h a d e "nru- tivas na formação d e~s e pensame n to arquitetôn i-
talismo Pau lis ta" ao trabalho dos a rqu itetos d e co . Não há como tor nar eq uivalentes a austericl:l-
São Paulo. O Brutalismo pmpalad o pe lo casal de l>ri tânica de u m p aís qu e aind a passava pelo
ing lês Smith son ti nha compone ntes de inquieta- rescaldo d e gu e rra, sufocad o pela momentân ea
ção so cial e ético q ue se < ~ju s tari a m ao pcns::lmen- carê ncia m aterial , e um país como o Brasil , d e li-
to pauli sta _Todavia, o pró p r io Vila nova Artigas mi tados rec urso s tecnoló g icos e cuja sobriedade
co ntes tou essa influê n cia em 1965, traçau do u m arq uitetônica (para não dizer "rustic idade esteti-
par alelo ao seu pensamen to ao comentar pos tu- cizad a") d erivava d os limites impostos pelas pos-
m ame nte a obra ele seu cokga Car lo s Milla n sibilidad es of e 1 ~ec ida s pela i ndústria d a constru-
( 19 27-1964): ção civil. O concreto armado c sua pote ncialidade
plástica e estética (via Lc Corbusier ), nesse sen ti-
As ú ltimas residi'-nci01s CJUe construiu e m São Pau lo d o, era o Jront tecnológico m ais avançad o à d isp o-
rf'w laou u m a tend ência p ara o que a c oítica, em especia l sição d os arquite tos brasile iros.
a e uro p é ia, ch a ma cl c h n n alismo. U m br u tali smo bra-
Entre a m elancoli a do pós-gu er ra e urop eu
s.il eiro, por assi m d ize r. Não creio que is to se justifiq u e
ele todo. O conteúdo ideológico d o h r n ra lismo europe u e o s imultân eo o ti mis m o nacio n al-dese n vo lvi-
é bem o u tro . Traz consigo uma carga de irraciona lismo mentista brasileiro, os arqu itetos il udiram -se com
tt"nrlen te a a ban donar os valores artísticos d a arqui te tu- as possibilidad es de t ransfo r mação do Br asil
ra, d t' um l:ulo, aos imperativos d a téc nica con str uLiv<t rumo ao progr esso c ao ate ndime nto d as neces-
qne se transform a e m f ato r d e te r m inan te; de o u tro
sidad es sociais_ A p rá tica arquitetônica pauli sta
lad o , a f orma arq ui tetôn ica surg i r ia como tnn <lc ide rne
da solu ção técnica. Como só o artista colhesse, na a n ar-
d os an os d e 1960 - apesa r d o gol pe mili tar d e
quia das soluções téntícas, os momen tos de emoção 1964 - não aban dono u o positivista ideário utó-
qu e mio pre rl e tcrminou mas que surgiram ao ar;~so pico d e um país novo, econô mica c socialmen te
IAnigas 1988a] . reso lvido . Mesmo d istan te ele qualquer tran sfor-
i h •t>liotecaJoaquimCardofo,
) CAC - uTIE AAjirmaçiiode umallegemonia • 151

mação redentora da sociedade brasileira (que as Condicionadas pelas lim itações elo lote urbano
esquerdas naturalmente não admitiam como sen- tradicional, as casas implantadas em vizinhanças
do o golpe militar, muito ao contrário) , a arqui- convencionais fec havam-se introspectivamente
tetura rl everi a ensaiar mode los de espaços para com empenas cegas, como que negand o o entor-
uma sociedade democrática, atendendo aos an- no imediato e voltando-se para dentro, em volu-
seios da maioria da população. Para esses arqui- mes monohlocos (fiel ao instrumento do plano de
tetos, a cidade era concebid a como um espaço massas ao nível urbano). O s inte riores, todavia,
d emocrático, espaço de con vivência, de encon- eram admiravelmente abcl'los, com ambientes .Ou-
tro. O so lo u rbano deveria ser de todos e assim ente:s e inte rligados física e visualmente, muitas
man c:; jado, com a rni nirni zaç;io ela propriedade vezes abolindo hierarquizações ele uso e convivên-
privada. Brasília, em suas características fund a- cia tradic ionais. Os espaços comunitários eram va-
m entais (organização à Ville Verte d e Le Corb u- lorizados; os recantos privados, compaclarlos.
sicr, sctorização de funções, abolição das estrutu- Vilanova Anigas foi o decano d a te ndência;
r as urbanas tradicionais, planos d e massa), era a geração seguinte am pliou o retrato paulista com
um paradigma ele cidade, que pode ri a se r traba- formuladores ou praticantes: Carlos Millan, Pau-
lhado como um modelo urbano aplicável no ra- lo Mendes da Rocha (u. em 1928), Fábio Peute<t-
ciocíni o ele um edifício. Um escopo mais am plo do (n. em 1 9~8 ), .Mig ue l j uli a n o (n. em 1928) ,
justificando soluções genéricas, a busca d e um Julio Kuin sky (n. em 19~2 ) ,João Waltcr Toscano,
se ntido maior na prática de arquiLe wras meno- Eduardo de Almeida (n. em 1933), Pedro Paulo
res, mas supostamente coeremes com pressupos- de Mello Saraiva (n. em 1933), Abrah ão Sanovicz
tos d ig nos: um mo delo ideal. (n. em 1934), Siegbert Zanettini (n. em 1934),
Modelo que, aplicado numa habitação, cri- Décio Tozzi (n. em 1!)36) , Paulo Bas tos (n. em
ticava padrões e valores tidos como "burgueses". 1936) , Ruy Ohtakc (n. e m 1938) , Sérgio Pileg-gi

105. J oão Walte r Toscano, Odi léa Tosca no e M as<lyo~ hi Kalllimura: Balneário de Águas da Prata , SP, I 969-1073.
!52 • .Arquitetllras no Brasil

10::!. R11 y Ohtakc: Aché l.aboratúrios Farmacêuti cos,


IOG. S icgbcrl 7.anctrin i: flospital c Maternidadt"' rlc V ila G u;u·ulhos. SI'. I 970 .
:\uva C<tdwt'irinha, São Paulo . l9Gl:l- l !)72.

107. Ahrahüo Sanovicz: Parqu.- Cccap Serra Negra , SP,


197f). 109 . .Joaqu illl Cucdcs: casa em S<io Paulo, 19!>!\.

(n. em 19~) - <.:ntre alguns CJllt' se ckstacaram (n. e m 1933),Jocl RamalhoJúnior (n. eml934),
com escritórios próprios ou na docência -, a maio- Luiz Forte Netto (n. e m 1935), Roberto Luiz
ria engajada na 1;',". \U-USP. A produção de alguns ar- Gaudolfi (n . em 1936) - e a vizinhança dos Esta-
quite tos, supostamen te antagô n ica ou divergen te dos do Paraná c São Paulo asseg uraram um in-
ckssa linha, n ão pode, entretanto, ser avaliada te nso in lercâmbio e in fluêuci a profissional.
sem o contexto da linha paulista: Joaquim Gue- A disse m inação mais a mpla de algu n s va-
des (n . em 1932), Sérgio Ferro (n. em 1938) e lores da arquitetura paulista, no en tanto, se deu
Rodrigo Le revre (1938-1 984). por meio da revista i\c·rópole, editada e m São Pau-
A cidade de Curitiba abrigou a derivação lo. Em 1965, várias revis tas de arqui tetura de ixa-
m ais eloq iien te do pensam cn to de São Paulo. ram de ci t-ctdar, inclusive a influenle J\tfódulo, de
Como já dito pouco ac ima [em "i\.rqui teros Pere- Niemcyer. De alcan ce nacional , ao lado da revis-
grinos, i'\ô m<-~ des e Migrantcs"], a porção pau- ta p aulista, apenas a A-rqu.itPtum, edilada pelo
lista do corpo docente do curso de arqui tetura departam ento carioca do 1nstituLO de Arq u itetos
paranaense - entre os quais .José Yfaria Gan doHi do Brasi l, mantinha uma regularidade confiável.
A -~ li rmaçilt' de uma li<~ em 11 :a •

li O. Lu i7 Forte :--leto . José ~la ria


G a n dolfi, Joe l Ra ma lho Jr. e \'i-
C t" ll t e d l:' C;o.,l oo : Cl:' n lro P r e\i-
cle nciã r io d o Es1a do elo Pa ra ná .
Curitiba , I'R, 1967 .
11 1. Ed ison Morozowki, Everson

Mor ozowski , l.n iz Eduard o Pc r r y:


Sed e Soci al e Recreativa d os
E c o JJ UI JJiÚ Jios do P:n a n(l , C 11ri ti-

ha , P R, 19 76-1978 .
11 2. Ro dri go l .t'fi:·vn·: casa em
São Pa ul o, I 970.

P el a t ra d ição , a A r.róf>olr (e m circu la ção d esd e


1941 ) impôs-se como a prinô pnl p u b licação d os
a rquice to s c até ~ c u fcc h <unc n to, em "1 971, vir-
tmtlmcntc e ra o ó rgão oticial d e d ivulgação da li-
nha paulis ta.

A DIL UIÇÃO UO MODELO


E A CRÍTICA

/fá momentos {... / romo no Rm .,il mlre 10 t' 60,


em que os ~ i-nlomrH de um fJiovávd drsl"nvolvimt•nlo
socinl [. .. ] esliumlaTa 111 'll ma oli mista. n.lividadr
anlecifJadora. O fu.tu-ro parecia con ter jJromPssas pró-
ximas qu11 [... / n•queriam novos inst rttmentos. 1\s
154 • Arquiteturas 1zo Rrasi/

jJmfJOstas, sHpostamente passíveis de afnovei tamento ele transformação ela sociedade, Ferro acusava
quase imediato, procuram cola·r-se às disfJOnibilidrule.\ se us colegas de "maneiristas":
concretas do nosso máo r: ás r.rt-ríinr.ias do nosso sub-
desenvolvi mento.
Ao a di ame nto d e suas esp era n ças r eagiram [ os ar-
1~ · o que dis tingue os trabalhos de Ntt!liWJWT e
quite tos], no p r imei r o in st;mte, com a afirmação r eno-
Artigas: av1mçamm uma arquitetura sóbria e diretrt,
vada e acentuada de su as p osições pri ncipais. Daí I':'SICI
armada wm lodos os re1:unos rulequados â situação
es péci e cabocla de brutal ismo (oposto ao brutalísmo
bmsilàra. r:qu iparam-se r:om a clareza, a abertum e
eslt i z C~ n t l': e11rop e u ); est<1 clícl<llização for çada d e rodos
a coragem construtiva frrtÍflrins j)(l,m as transfonno.-
o s p rocedim e n tos; a excessiva racionalização const ru ti-
.(Õt!S vagamente anunárulas. l!ntsília marcou o apo-
va; o "econ omisrno" ger ador d e espaços ultraden sos ra-
geu e a in terrujl(âo destas esperanças.· logo f>'eamus
r amente justificados por imposições o bjetivas etc ...
nossos tímidos e ilusó-rios avrmços sociais e atendemos
Re p etind o: nos projetos e labo rados por este gr upo
ao /()(flUI militar de raollun:
de novos arquite tos - o mais significativo d a atual gera-
SÉRGIO FF.R RO, l9tiB l19RO, p 90 1 ção -, a p anir de 60, as propostas anteriores que carac-
te rizavam a arquitetura brasile ira, feitas para um clesen-
volvim e ulo que parecia provável, são retomadas com a
Urn jovem professor da FAU-U SP, Sér gio e nfase exage rad a d ecorre n te da consciência d e: sua
im p ra licabilid ade presente e d o desaparecimento de
Ferro (então com trin ta anos de idad e), escre-
suas tênues bases efetivas, d esapa1·ecimento selado p elo
veu em 1968 um a contundente crítica à arquite- trun c:1m ento irracional d o nosso pro cesso social [re fe-
tura de seus colegas paulistas. Intelectual e nga- r ind o-se ao golpe milirarj lFe rr-o 19RO, p . 9 11.
jado nas esquerdas, militamc de urna dissidência
do Partido Comunista Brasileiro , Ferro posicio- Os vários aspectos formais da linha paulis-
no u-se radicalmente contra seu~ antigos compa- ta são dcsa.tados na crítica:
nheiros de ideol ogia . O ano não poderia ser
Se antes o uso do concreto apar ente, n a sua rustici-
mais carregado d e denotaçõ~ críLicas, ern todo
dade, colabo rava para uma constr ução mais fra.nca e
o m und o. No plano local, foi um momento de econôm ica, h oje com<Jndi! , po1· razões qu e ninguém
grave crise polí tico-insLitu cion al, que resultou examina, a s mais rebuscadas filigranas. A organização
no endurecimento do regime militar com bárba- dife rente d e plantas e espaços, fruto de um pensam e n-
r as perseguições a inte lectuais c opositores ao to at.e nlo , desem boca n o exolismo inconseq üente dos
r egime o u às figuras instaladas no pode r. ar r anjos hipe rbó licos. E tudo explicado em função d e
cu idadosa observação de sig nificação imanente d e téc-
Em 1968, a situação econômica tampouco
nicas ou ma teriais, sob a p roteção da racionalidade pró-
era boa, mas a mudança desse quadro era anun- pria de sua e volução. A técnica crista l izaela a ssume o
ciada: n os anos posteriores o país conh eceu um papel a t ivo - ela conté m a ve rd ade . De ins trume nto
p eríodo de puj a nça econômica sem precedentes. p assa à motivação lFe rro 1980 , p . 92 ] .
Foi o chamado "milagre" econômico. O jovem
crítico op erava sua análise em torno ela produção A técnica do concreto armado e sua ex-
arquitetônica de um período de economia em pressividade plásti ca eram parte d e um discur-
baixa (en tre 1964- an o do golpe militar - e so auto-suficiente e exibicionista:
1968). Mas Ferro constatou com clareza na o bra
As estrutu r as fo r am sempre u ma p r eocupação fun-
de seus p ares uma exacerbação projetual con tra-
d a m e ntal para o ar q ui teto brasileiro e por várias ra-
ditória com a utopia que originou algumas atitu- zões: opos ição ao primitivismo d e nossos an ti quados
des da lin ha paulista. Para ele, as novas gerações, métodos construtivos, necessidaele didática de um mo-
formadas sob o signo do desenvolvimentismo e ele viment o que buscava a firm açã o , reflexo de uma visão
uma nova realidade democrática e social que não de conj unto racion a lizan tc estimulad a p ela p romessa
ele d esenvolvimento etc. Se eram escolhidas e propor-
se concretizou, preparadas para responder com
cionadas com algum excesso, respondiam a uma de-
propostas de grande alcance social, fr ustraram-se manda d e exp eriê n cias . H oje assisti mos, n as obras de
com os rumos tomados pelo golpe militar. Impo- m ui tos a r quitetos ela nova geração, à hemorragia das
ten tes para material izar suas crenças numa escala pseudo-eso·uturas. Muitas ap r esentam um novo dese-
.A Afirmação de uma 1-Iew.>monia • 755

nho d as p oucas fó rmul as estruturais compatíveis com co n sciência d a arquitet.ura, n e m como gu ia da elabora-
as nossas limi tadas poss ibi lidad es, geralmente inadapta- ção d e um programa para a fo r maç;\o d e arquite tos.
d o às reduzidas dimensões elo programa . Sublin hadas A atual situa ção ele crise e de transição impõe u ma
artificialmente para evidenciar sua presença [ ... ] com- conduta m etodológica específica c experimental, colll-
paradas às anteriores imediatamente r evelam seu absur- posta de três e t.apas fundamentais:
do: a simplicidade c a e fi cácia esquec idas pelo prazer A) Preservar e ape r kiçoar os m e ios d e produção
do vi rtuosismo individual [Ferro l 980 , p. 92]. arquitcturais.
B) Aprofundar a crítica I·adical do atu al modo de
Sérgio Ferro d en un ciava o desvirtuamen- produção.
C) Tentar, com um critério rígido, novos mod os d e
to das melhores r.écn icas e práticas, anterior-
p roduç~ arquitetura!, na expectativa de nm a de termi-
m e nte elabo radas sob a perspectiva de mu dan-
nação por um uovo Illodo de produção social.
ças prog ressistas: /\ s novas n ecessi dades a tuais, se exam in <u las racio-
n almente, estar ão na o rigem dos m o d os ele produção
Assi m , os esLUclos sobre p lanejamento ou sobre nos-
a rqu itet ura is novos, próximos. possivelmente , daq ueles
sa li mi tação construtiva h~jc são utilizados, depois de
considerados p o r um outro tempo [Ferro 1980a, p. 991.
conven icn 1c m en te deformados, p elas forças mesmas
q ue estas in te n ções modifi cad oras, em essê ncia, contra- O corolário d essa complexa elaboração
r iam: a ditadura c o imperia lismo L... ] .
teórica foi um trabalho qu e circulou no Brasil
A in esgotável capacidade an tropofúgica elo sistema
e rn uma publicação alternativa, em m eio ao qua-
baseado no comércio forçado pela propaganda de mcr-
ca do,·ias freqüentemente supérfluas , com sua crônica dro ele repressão da ditadura na primeira m eta-
carência ele novidades cstirnulames, clegllltill , com fac i- de dos a nos de J 970, com o au tor exilado n a
lidad e, o qu e parecia conter tod~ os req uisi tos de urna França. O texto, q ue em 1979 foi publicado em
atitude inquie tante : a arqu i te tura bras ilci l·n, castraria, forma de livro , cham ava-se O Canteiro e n Desenho.
serviu d e agente de vendas [Ferro 1980, p . Yll.
U m libelo con tra as forma s d e exploração cap i-
talisla ela mão-d e-obra o p erária , a su a alicn ç~LO
Radicalizando, d e nunciava os d escami-
a nte o t rabalho que realiza (divisão do trabalho
nhos da arquitetura para situações "sem saída" -
no canteiro de obra co m o recurso segmentador
extrap o lando o limite da arquitetura corno prá-
d o d omí n io do con h ecimen to do trabalh ador
tica política:
d iante do produto em gesLào) e a responsabiLida-
Pa ra enfre ntar a~ fon,:a> negativas qu e os clilucm, de do arquiteto corno amor d o desenho (num a
aceitam a fragmentação d a particularidade, o que é alusão ao "desenh o" de Artigas).
outra forma de diluição. Adensando seus projetos, re- Não se pode d esvincu lar o conjunto de
vestindo-os d e malabarismos expressivos para agr edir, enunciados de Sérgio Ferro d o co ntexto intelec-
afastam-se mai s e m ais do objeto da agressão e da pos-
tu al simbolizado n os acontecime ntos de 1968. O
sib ilid ade da agressão : com pl exo s demais, já não são
mais ouvidos . Para de,alie n arcm-sc, au m e ntam a pró-
clima de di sc ursos radicais dos inLelectuais fnm-
pria a lienação. Dentro da arquitetura , este é o limite da ceses (com os quais Ferro tinha afinidades) c o
ati tud e crítica : a r adicalização da con tnHlição ató o ab- ambien te o pressivo que se formava n o Rrasil no
surdo. Esta situação , obviamente, é insuperável porca- final dos a nos de 1960 explicam parte elas postu -
minhos arquitetôni cos [Ft:rro 1980, p. 921. ras de Ferro. No plano latino-ame ricano, o deba-
te arquitetô ni co tendeu também para uma visão
A trilha analí tica seguida por Ferro condu-
polilizacla, allam e nte sociologizan te d a arquite tu-
ziu-o à elaboração de uma complexa hipótese de
ra, direcionando o in teresse elos estudantes p ara
reavaliação da arquitetura, centrada f'undamen -
o plan~jmeto urbano. Sérgio Ferro, e mbora
talme n re numa visão ma r x ista do "modo de pro-
auscn te do Brasil (e talvez por isso m esmo), foi
dução arquitetura!". Nu m texto d e 1969-1970, o
entronizado corno principal intelectual alterna ti-
arquiteto sintetizava a base de seu pensarnenlo:
vo da arquile lura sob o regime ditatorial. Suas ob-
O atu al modo de produção arquitetura!, d eformado ser vações guardam relações com as a nálises que
e d eformador, n ilo podeservi r como base de uma nova filósofos fnwccses (e n tr e os quais Mic hel F ou-
756 • Arquiteturas 11n 11wsi/

__., . -~ ... , -· " ~

1 1:~ . P~1l o Me ndt·s d a Roch a , J o rge Caron , Júl io Ka tius ky, R11y Ohta kc (ar<]ui tc tuca ) ; Flávio Mo11a , Mn :~· lo :-.l itsc h c,
í.a.-111ela C ross (consultores): Pavilhão do Tlrasil na Feira In ternacional d e O saka, 1969- 1!-170 .

cault (1026-19R4) ) desenvolviam denuncia ndo as o dese nho, tendo publicad o artigos dele c de se u
de rormaçõcs da modernidade, o r acionalismo re- grupo de estudos na França e no Brasil, mais re-
pressivo , a te leologia posilivist.a d o modernismo. cent e m ente. Seu seguidor brasikiro rn ais consis-
Todavia, suas idé ias no Brasil foram transformadas tente é o gaúcho Paulo Bicca (n. em 1943), que
na palavra de ordem con tra o projeto, isto é, a publicou e m 1984 o li vro Arljuileto: A Máscam e a
defesa do "não-projeto". Fcucr o projeto de a rqui- Fau:, prosseguindo a ve rtente aberta p o r Ferro.
tewra sig nificava e ndossar o sis1ema, corroborar Recluso nas idé ias e nos pincéis, Sérgio
a ditadu ra; recusar o projeto era boicotar o "modo Ferro n ào bu scott rebater a su a teorização n a
de produção arquiteturéll" vig-en te, que deve ria ser prática . Todavia, e le teve u m inte rlocuto r que
subslituído. O CantPiTO e o DPsenho torn ou-se um perseguiu um d esdobramento concreto desses
dos mais m encionados trabalhos entre os estudan- conce itos. Rodrigo Brotcro Lel'e vrc foi um com-
tes de arquitetura c os jovens profissionais, muito panhe iro de trabalho ele Feno que n ão abando-
e mbora rarissim amcnte lido na ín tegra c compre- n ou a p rancheta, tampou co o can teiro (e a d o-
endido. Trata-se de nm texto de dificílima leitura. cência, na qual f o i urn professo r de g r a n d e
O pr·ópri o a utor esclareceu , mais de dez anos de- in fl u ê ncia) . Cioso da possib ili dade de supentr
po is, que sua escrita complexa derivava d e uma as desave nças co ntid as nessas duas esferas da
é poca p o lítica pesada, na qual os intelectuais se materi alização da arqui te tu ra, Lcfcvre raleceu
manifestavam (às vezes, instin tivamen te como de- num cante iro de obras na África, trabalhando
fesa) median te figuras de linguagem m uitas vezes para u ma grande em presa de cons ultoria brasi-
in dccifráwis, pelo tem or à perseguir,:ão. leira- talvez ensaiando as teses tão caras a si e
Tendo pa rticipado de escaramuças políti- a Sérgio Fe rro fZein 19R4a J.
cas e sido preso, Sérg io Ferro exilo u-se no exte- Deduzidas as de notações própr ias d o cli-
rior no início dos anos de 1970, radicando-se e m ma polí tico da época, Sérg io Ferro já h avia pres-
Gre noble, França, onde a inda h oj e atua como sentid o o açambarcame n to d a vi talidade criativa
professor do curso de arquitetura e com o pinto r, e prog ressista imbuída n o pensam ento a rq ui te tô-
abando nando o projeto arquitetônico . Organizou ni co dos pione iros do Rio d e J ane iro e d e São
um g rupo d e pesquisa que prossegue em suas Paulo . Efeti vam e n te , os anos do "milag re econô-
teor izações acerca das re lações entre o can te iro c mico" burocratizaram as formas orig in alme n te
A A(lrmaçào de umu llef!.emonio • 15 -

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instauracl o ras ele inovações e plenas ele co n teú - ta: uma grande co bertura reg ular, com ilumina-
dos ideológicos de forte coerência interna. Essas ção zenita l em toda sua extensão, apoiada e m
formas foram eslampaclas indistintame nte aos apen as quatro pontos. Espaço coberto , livre: pa-
mais diversos programas a rquitetô ni cos, nas mais vilh ão CJUC não tem portas, barre iras físicas, o
disparatadas escalas: casas, escolas, agências ban- p iso "interno" era uma continuid ade do chão
cárias, hospilais, lcrminais rodoviários, garagens, comum d e toda a Feira; local ele e n co ntro, recin-
clubes, prédios residenciais, prédi os comerciais, to de confraternização.
esc ritórios, igrejas, for no crematório, galpões Fonuit.a a eleição das refe rê n cias de uma
industriais, viadutos etc. A generalização elo m o- épo ca: a pri me ira obra efeLivarn enLe reco nhecida
delo banalizou a inovação, a ruptura. Diluía-se e ela arquitetura rnoclenJ <t bra.sileira foi o Pavilhão
degenerava-se uma visão de arquitetura. do Brasil n a Feira Mundial de N ova York; o mar-
O marco simbólico de e n ce rrame nlo des- co simbólico da arquitetura paulista foi o Pavilhão
se ensaio d e vanguarda arquitetônica fo i, se m dú- do Brasil em Osaka. Parece uma iron ia deste que
vida, o Pavilh ão do B ras il na Feira Mundial de escreve: os paradigmas de uma van guarda j ~ t uão
1970 em Osaka,Japão, projeto ele uma equipe li- mais existem. Naturalmente, n ão foram concebi-
d e rada por Paulo Mendes da Rocha. Síntese elos dos co m o paradigmas. Tampou co para sobrevive r
aspectos morfológicos mais caro s ~t lin ha p a ulis- ao te mpo: c•a m ;;uquiteturas do e fême ro.
8

EPISÓDIOS DE UM BRASIL GRANDE E MODERNO


1950-1980

Ainda há pouco, certo órgão da imprensa brasilei1·a definia o Brasil,


em manchete. como o país do "Samba, Café e A1·quitetum ". Vejo "''SSfl
df'jirti{"ão um intuito uwliciuso de fazer anrditm· ainda hojr> q1w
o nosso jmú f uma terra est ranha, curiosrt e indefinível, desordenada
e injustificável. É uma definição que pn•tende dimitwir a torlo1
t' apre~nt r a aTquitr>tura romo um desenvolver acromegáliw,
sem justij!cntírJa no desenvolvimento nacional.

J. R. V !LAJ'\OVA i\RTIGAS, 1959 [198 1, p. 25]

O quarto de século após o té rmin o da Se- cambial decorrente das exportaçôes de produtos
g und a Gue rra foi crucial para a transform ação para o palco de conflitos e pa ra os aliados, ge-
do p e rfil do Brasil. Em 1950, 63,9% d e se us qu a- rando um exced e nte q ne, no caso brasileiro, ·em
se f)~ milhôcs de habitantes viviam no campo. parte estimulou o d esenvolvim ento industrial
Em 1970, 56% dos m ais d e 93 milhões de habi- nacional com a impo rtação de equipamentos a
tal'\tes viviam nas cidades. Essa variação ilustra a custos baixos, graças às diferen ças cambia is favo-
pressão demográfi ca qu e as cirlarlcs brasile iras r áveis nessa oportunidade.
sentiram n o período. O Brasil ela primeira m(·tad c dos anos de
A guerra, sempre um sig no de destrui ção, 1950 sofreu convu lsôes políticas com o suicídio
assegurou à Am érica um mo m e nto p ositivo na do preside n te Ge túlio Vargas c movim entações
siluação econ ômica c culturaL Vários países lati- n o sentido d e im pedir a posse consLi tucional d o
no-ame ricanos ben eficiaram-se de nm bom saldo presidente e le ito, Jusce:> lino Kub itsch ek d e Oli-
160 • !lrqui/l'lurus 1111 limsif

veira. Superada a c ri~ e, Kubitschek eng<~jou - sc fundamenta lmente nas áreas de infra-e~lut ,
em se u Plano de Metas, cujo símbolo m;úor fo i transporte, comunicação, estradas e outros, num
a transfcr(:ncia da capit a l federal para Brasília. projeto político-econ ô mico de integração nacio-
For<'!m anos de intensa atividade econômica - na l, constituindo um ramo din âmico c concen-
com a reorde nação elo sistema ele energia e trans- trado no setor e solid ári o aos setores mais dinâ-
portes, impla ntação de estruturas industriais c d e micos da economia" LOseki 1982 , p. 120].
bc.:ns de produção (siderurgia, e létrica pes;l da, Nesse ím peto de modernização e int eg ra-
máquinas, construção naval) c o nascimento ela ção nacional , a arqllit.e tnra vai conhecer novos
indústri a automo bilística brasikira. Essa apa re n- r ecantos gpogr<í.ficos, até então inexplorados.
te prosperidade era acompanhada, ao ritm o do Arquitetos vão se envolver em gr a ndes pn ~ j etus
surgimento ela Bos::;a Nova no Rio de .Jan e iro , desenvolvimentistas, embutidos em equipes rn -
pelos clois campeonatos mundiais de futebol con- ga ni zadas por grand es empresas de engenharia
yuistados pelo Hrasil (1956 e 1960) e pela gran- comultiva (Thernag, IIidroservice, Pr·o 11rou, Fi-
de divulgação da arquite tura brasileira, solJrct.u- gu eiredo Ferraz, lESA, C:N vc , Tcucngc), que, nos
do com as expectativas e m torno de Brasíli a. a nos de 1960-1970, virtualmente monopolizaram
A chamada "Era .JK" (iniciais do presiden- o planejame nto das g randes obras civis do regi-
te) trouxe uma série de inovaçôes no qu adro me m ili tar.
econôm ico l>r:-tsilciro , m as deixou uma herança Entrc 19G8 c 1974, o crescimf'nto médio da
crítica com inflação alta e déficit dr~ balan ça de ccunornia brasileira foi da ordem de lO% ao ano.
pagam entos. O s investimentos intcnracion;.ris ingTessavam no
O conflituoso quadro político no iníci o elos Brasi l ern grandes fltr xos. O capital ismo brasilei-
anos de 1960- entre um a esquerda confiante e a ro tinha como base d e s u stenaç~o o Estado, as
direita acuada , entre nacionalistas e liberal-intcr- m ulti naciouais c o grande capital local. Nf'ssa
nacio li ~tas - teve como corolário o golpe militar é poca, o presidente nonc-arnericano Richard
de março de 1064, com o triunfo elos conservado- Nixon (191 ?,-1994) afi r mava: "p<rnt onde se incli-
rt>s. O Exército passava a controla r os ncgúcios nar o Brasil se inclinará a Am é rica Latina" L~ it ].
públicos, com forte resp<tldo civil. O F.staclo pas- A crise elo petróleo faz desmoronar todo c.:ssc o ti-
saria por um processo d e modernização burocrá- mismo ilusório.
tica apoiada em intensa cenu·aliza<;ào arlmin istra- Conviria retomar alguns desses aspcctos em
tiva c fi nanceira na esfera federal. i\ política das scus dcsdobramentos no plano da arqnitf'llrra.
reformas pós- 1964 voltava-se para a capaci t;~ção
do aparelho do Estado para intervir na economia,
apc.:sar da retórica liberal de seus promotores. ARQUITETURA INDUSTRIAL
Nesse período , a estatal Petrobrás (seto r pe trol í-
fe ro) tornou-se a maior e mpresa da Améri ca La-
tina, ingressando no clnhc das cem maiores do Como já d ito, circuu stâncias cambiais favo-
mundo. O vc to 1· domiuante na economia era a ráve is nos anos subseqüentes à Se)?;unda Guerra
concentração; na verdade, o incentivo à organi- assina laram uma época ele grande d esenvolvi-
zação de conglomerados fortes, às custas ela re u- mc.:nro para a economi a brasileira e, em par ticu-
nião ou absorção de grupos pequenos. Essa me- lar, um mom ento de prosperidade industrial.
dida contemplou áreas es tratégicas da economia: Uma política seletiva de importações (prioridade
setor e n ergético, serviços bancários, transportes, à aquisição ele eq uipamentos e matéria-p rima e
comércio at c;~ di s t a e varejista etc. dcscsúmulo a bens manufaturados, c riando urna
No campo da construção c da arquitetura, reser va aos produtos nacionais) e, em segu ida, a
h ouve uma "inten sificação do processo de dife- entrada m ac iça de capitais estrangeiros n o setor
renciação n o setor da con strução civil , baseado m anufature iro (sobretudo com a rápida implan-
Lj.>isúdius d e 11111 Brasil C ronde e M oderno • 767

tação da indústria au tomobi lísti ca, e m apenas rnacêutica, 1956-1959), em São Paulo. Dois dos
cinco an os) consti tu íram fatores m a rcan tes na mais interessantes projetos industriais iniciados
boa fase econômica registrada entre 1946 c 1961 nos anos de 1960 foram desenvolvidos para seto-
no Br asil. res d istintos: na área têxtil, setor tradicional, o
Entre 1948 e 1955, a p rodução in dustrial complexo da Companhia Tiering na cidade de
g lobal teve um incremento de 87% em se u desem- Blurnenau, Estado de Santa Catarina, é um exem-
penho. Num exame setorizado, a indústria têxtil plo de planejamento físico de longo prazo com a
evoluiu 61%, a de alimentação 77%, a indústria participação do arquiteto Hans Broos (n . em
me talúrgica e m 172% e a q uímica em 608% ~ es- 1921); no setor químico, a Refinaria Alberto Pas-
ta última, beneficiada com o petróleo e o mono- qualini no município de Canoas, região metropo-
pólio d o refino atrib uído à esta tal Petrobrás [Pe- litana de Porto Alegre, no Estado do Rio Grande
re ira 1 98~]- do Sul, constituiu um trabalho inusitado e inova-
Não se p o d e a fir mar q u e, nesse m omen- dor no campo da <trquitetura.
to, o edifício i nd us trial fosse uma encomend a A origem do complexo têxtil da Com pa-
típica aos arquitetos. A g rande maioria das ins- n h ia Bering data de 1880, qua ndo os ir mãos
ta lações ind ustriais ab rigava-se em galpócs an- Bering, de origem alcrnà, montaram uma tecela-
tigos, improvisados ou adaptados. gem em Blumenan ~ colôn i a germânica em San-

Examinando-se o conjunto de o b ras indus- ta Catarina, atualmente um dos mais importan tes
triais divulgadas em publicações esp ecialiLadas muni cípios <'lo Esrado. A colahora(ào profissional
en tre 1950 e 1!::170 [Costa et al. 19741, há evid en- do arqui t<.:to Haus Broos u a He ring data dos anos
te p red o m íni o de obras projetadas para a indús- d e 1960 e constitui, ainda hoje, um exemplo po u-
tria autom obilíslica, química, têxti l e al imenta r. co usual de processo con li n uaclo de planf'jamcn-
Roa parte d os projetos era atribuída a construto- to físico das instalações de uma ?;rancle indústria
ras e e m presas de engenharia. Pela co mplexida- brasileira.
de e especialiLação das estruturas ind ustriais que A atual matriz industrial da Hering desen-
aportavam no Brasil como iniciativas estrangei- vo lveu-se ao longo do vale do Bom Reriro, nas
ras, o layout industrial e as plantas e ra m elabo- cercan ias de Blumenau, no mesmo local onde os
radas nas matrizes e transplantadas ou adap tadas fu n claclores da empresa mon taram os galpôcs da
par a as condições do país. Predomin<tv<t, tam- malhari a e confecção no final do século 19. O
bém, o p roj e to do galpão ind ustrial iso lado ~ plano diretor elaborado por H ans Broos busco u
sem a amplitud e de u m conjunto mais amplo de equacionar uma complexa ?;ama de condicio-
preocupações q uan to à expansão das instalações, nates ~ o maior deles, relac ionado à vontade da

sistem as de segu rança ind nstrial e con t role de empresa de permanecer no sítio original do em-
emissão d e resídu os, depen dências ele atendi- preen dimento pioneiro da b rn ília, em detrimen-
mento social e co nforto dos operários. Algumas to de uma expansão para outro .locaL As premis-
m u llinacionais, todavia, ch egaram a impla n ta r sas e as dificuldades básicas que nortear am a
indústrias p reviam ente elab oradas com planos formulação do plano diretor foram: respeitar a
dire tores do com plexo industriaL paisagem e a vegetação do vale onde se insere o
No iní cio dos an os de 1950, o projeto da conj unto; organizar e construir um conjunto de
fá b r ic::-1 Peixe c Duchcn (prndH tns alime n tícios) edifícios numa área de configuraçào estreita e
tor no u-s<.: bastan te conhecido po r ser de au toria alongad a; valo r iza.r os remanescentes arqui tetôn i-
ele Oscar N iemeyer ~ tipologia a rqu itetônica, to- cos das instalações pioneiras da empresa e inse-
davia , rara no acervo do arquiteto. Rino Levi no- rir novas edi[icações industriais e adminis tra tivas
tabilizou-se também com projetos ind u striais: os com outra escala vol umétrica; implantar a expan-
escritórios e torrefação Café .Jardim (1943) e o são do co nj un to sem in terro m per a li nha d e pro-
Laboratório Paulista ele Bio logia (indús tria fa r- dução exi~Lcnl; program ar a exec ução do co n-
1 ó2 • A rqu itet11 ras 11n Fim si/

11 4 e 11 ?;. Hans Rroos c equipe . Rob~:rt Burle Marx


(pai'~ i snw): complexo tC·xtil da Companh ia He r ing,
Blum cn~ n , S< :, dé cada <k 1970 .

junto e m etapas. A paisagem final do conjunto é


marcada pel<t estruturação linear do parque in-
dustrial num fundo de vale rodeado de vegeta-
ção, onde edifícios an ligos (co m características
da arquitetura da imigração alemã da r egião)
convivem com os novos blocos fabris, admi nistra-
tivos c sociais em concreto apare n te c tUolo à vis-
ta e em permanente contaLO com be m cuid ados
jardins, projetados por Roberto Burle Marx.
A expansão da indústria estendeu-se tam-
bém para regiões vizinhas, segundo a co ncepção
LjJisôdios de 11111 D ra.>tf Grande e Moderno • 763

1 ](i. Eq~tipe de arquitetos: refeitório na


Re finari a Alhcno Pasqualini, Canoas, RS,
1962- 1969.

117. Equipe de arquit.c t.os: montagem de


gal pão de man~t. e n çã o na Re finaria Albe r-
to Pasqua lini , Canoas, RS, 1962-1969. Ex-
periência pion e ira em pré-fabricação.

edificações (incluindo as do Terminal Alm irante


Souza Du tra, em Tramanclaí) - mais ele 25 pré-
dios- foram concebidas pelos arquitetos, desta-
cando-se a portaria (Pereira), o refeitório de lin-
guagem da arquitetura do Rio deJaneiro (Mar-
CJUes) e o e mprego pioneiro d e pré-moldados nos
galpões de manuLeiH,;ào (Fayet c Araújo). A hem-
sucedida contribuiçüo dos arquitetos reflete-se
h~je , quando os membros cb eCJuipe original ain-

da são consultados para reciclagens ou novas ins-


t.alações dentro elo conjunto.
d<.: "satélites" - unidades d<.: costura com empre- Com o "milagre econômico" dos anos de
go ct e mã.o-dt>-ohra de peCjuen;1s c id ;1 d es loca li- 1970, a expansão industrial patrocinou inúrn<.:-
zadas no inte rior elo Estado de Santa Catarina , ras encomendas de projetos a esc ritórios de ar-
inspiradas nos conceitos q tt e ori e n tara m a. ar- quitetura c empresas de consultoria de engenha-
quitetura dos espaços de produção e convivên- ria com quadros funcionais incluindo arquilelos.
cia social do conjunto matri z de Blumenau. A experiência desse período redundou num cer-
F.rn 19()1, quatro escritórios foram conviria- to grau de especialização de profissionais, sinro-
dos para desenvolver o plano diretor d<ts :ueas niZ<tdos com técnicos de engenharia, tanto na
administrativas c os projetos dos edifícios da Re- e laboração de planos diretores el e co njun tos,
finaria Alberto Pasquali ni , primeira instalação layouts e plantas industriah, quanto no projeto
dessa natureza e porle da Petrobrás no Rio Gran- de edifícios complementares (áreas administra-
de do Sul. A equipe que então se o rganizou- tivas, refe itórios, centros sociais) decorren tes da
formada por Carlos Maximilano Fayet, Cláudio ausência inicial de planejamento físico dos com-
Luiz Arai\jo (n . em l9:il) , Moacyr Moqjen Mar- p lexos industriais. As vicissitudes eco nômicas
qu es (n. em 1930) c Miguel Alves Pereira (n. em uos auos de 1980 deprimiram a aliviclade indus-
193?!) - preocupou-se em definir um projeto pai- trial como um todo, e mbora o período se tenha
sagístico no qual bosques e a antiga casa-sede da caractcri1.ado co mo o ele melhorias das áreas so-
fazenda original do síLio fo ram preservados, bem ciais, corno resultado da reivindicação de síndica-
corno o plauliu ele novas úrvores na ~{rea . O pla- Los mais bem organizados qu e e m e r giram com o
nejamento paisagístico do en torno de refinarias fim ela era de exceção c a normalização do qua-
era uma proposição inédita na ocasião. Todas as dro político.
164 • Arquileluras 1/U /Jrasil

ARQUITETURA EM senvolvida no vale do rio Te nnessce, nos Estados


HIDRELÉTRICAS Unidos, em torno da Tennessee Valley Authority.
A TVA foi um esforço inserido no New Deal norte-
am ericano; criada em 1933 como uma iniciaLiva
Um dos aspec tos marcantes na história da federal de p lanejamento territorial de uma região
e n e rgia elétrica no Brasil foi o e mbate entre a pobre e desassistida, possuía múltiplos o l ~cr i vos:
ação efetiva de co ncessioná rias estra ngeiras n a Inclhorar a navegação c controlar inundações do
produçào c dis tribui çáo en e rgética e as posturas rio Tc uu esscc median te barragens a co pladas a
n:-tcionalistas propugnando a intervenção doEs- centrais hidrelétricas pro pi ciando eletrificação
tado no setor. rural e industrial, modern ização da agricultura,
No período da segunda pós-g uerra, a in- re fl o r es tameuto c proteção do solo, es tabeleci-
d ustrialização aceler ada (co m o surgime nto ele mento de rede d e com uni cações e estruturas ur-
setores de a lta demanda: me talurgia, química, h<m as- enfim, um projclo d e desen volvimento
fa nnacêntica, bens d e capital) e a forte urbani- regional integrad o. /\o m encionar o ernprecncli-
zação (com o incremen to do consumo de ener- men Lo, Anatole Kopp [ 1990, pp. 197-l 98] desta-
gia elétr ica domiciliar e pública) ace ntuaram a ca a participação ela arqu itetura no processo ele
ausência d e 11ma po lítica de in ves timento em su pervisão de todas as realiz<J ções- u as barra-
infra-estrutura encrg(:tica, tornando-se um pon- ge ns, nas ccn trais h idre létrícas, nas habitações e
to d e. estrangulamento na d inàmica ecouômica nas o bras complem entares elo sistema viário. O s
que em ergia nesse m o rn cnto. Nos a nos de 19!10, arquitetos da TVA fo rmn respo nsáveis pelos pro-
cerca de ~ 80% da produção de energia e létrica jetos de resiclênci<1s dos o pcr ~tr i os de barrage ns,
eram ele respo nsabilidade de empresas estrangei- posteriormente ocupad:-ts pelos e ncarregados de
ras, que não realizavam novos investim entos no o peração das centrais hidrelétricas- as chamadas
setor di ante das haixas t<~rifas im postas pelo go- "vilas ele oper;.~ds", pequenas "cidades" a servi-
wrno. A crise energéti ca impulsi o nou o Estado a ço das operaçôes energéticas. Eswdos de pr~ j etos

programar invcsrime ntos na expansão da capaci- habitacionais envolvendo pré-fabricação, incluslria-


dade instalada de ene rgia elétrica no país, cami- lizaç~ t o, alojamentos rlesmontáveis c transportá-
nhand o em sintonia com o ideário nacionalista, veis, foram preocupações dos arqu itetos e nvo lvi-
industrialista. <' intervencionista que se im planta- dos no program a. Os prqjctos arq ui tetônicos da
ra rl esrle a revo lução de 1930. Getúlio Vargas, e-m TVA fora m objetos de uma exposição e m 1941-
sua seg unda gestão presidencial ( 1951 -1954), 1942 na priucipai instituição div1.1 lgadora da arqui-
prosq~ui e-m sua polí tica nacionalista e definiu te tura m oderna em meados do século 20: o Mu-
uma estratégia privi legia ndo a presença d o Esta- scum of Modc rn Arl. ele Nova York [Built ... 19441 .
do nos serviços públicos de base, com ên fase e rn As iniciativas congê neres brasile iras inspi-
transpor tes e energia elé trica. Essa visão naciona- raram-se na experi ê ncia no rte-americana, mas
lista definiu as fronteiras de competências entre não a reproduz iram na íntegra. A participação
a iniciativa privada e o poder público: enquanto de arquitetos rw seto r e n e rgéti co data do final
este se voltava para a amp liação do setor de ge ra- dos anos de 1950, in icialmeutc d e fo rm a d iscre-
ção, aqu ela se dedicou à distribuição de energia. ta (Tsukumo 1989; 1994j.
Enu·e 1945 e 1962 (ano da consti tu ição da No Es tad o ele São Paulo, o escri tó rio do
Eletrobrás- estatal responsável pela política nacio- arq uiteto Ícaro d e Castro Mello (19 13-1986) foi
na l de energia elétrica), inúmeras com panhias contratado para o proj eto das edificações de uso
pú blicas de e nergia elétrica - reclerais e estaduais com un itári o da vila residencial dos operadores
- foram organizadas. Uma das refer ências funda- da usina Salto G r ande, no r io Pa ranapanema. O
me ntais d esse período pioneiro da indústria ele arquiteto e ncarregado desse p rojeto, Hé lio Pasta
en e rgia elétrica no Brasil foi a experiê n cia de- (n . em 1927), posterio rm ente interferiu na solu-
Apisódios áe 11111 Brasil Grande P M ndemo • 165

ção arquite tônica da casa de força- constitu in-


do a primeira p artic ipação consistente de u m
arquiteto e m projeto até então de exclusiva ges-
tão de engen heiros. Tamhém pioneiramente, o
arquiteto-paisagista Roberto Coelho Carclozo (n.
e m 1923) foi c hamado para desenvolver uma
proposta de recuperação da paisagcrn do e ntor-
no ime diato da usina, inaugurada em 1958.
Hélio Pasta, a partir d essa expe ri ê ncia, e nga-
jou-se em diversos projetos hidrelé tricos, amplian-
do o seu campo de atuação. Na usinaJurumirim,
ta mbém no rio Paranapanema, Pasta não só par-
ticipou integralme nte - ao lado d os engenheiros ll ll. Jú lio K ~ r ti n s k y , H élio l'asra, llé lio Pe nteado,
- na co n cepção d a casa de força, como definiu Ur uue n o l.euue (arq uitetura), R o berto Co elho Car·dozo ,
elementos da barragem c do ver te douro, a lé m d a Fernand o Chaccl (paisagismo ) : u sin a h icl rclé rric a ele
vila de operadores. A atividade d e Pasta f·oi mar- Xavantes, SP, 1970.
cante a ponto de estabelecer um setor d e a rquite-
tura n a companhia respo nsável pelo aprove ita-
m e nto e n ergético da b acia d o r io Paranapanema : projetos de tratam ento paisagístico d e entorna s
a Usinas Elé tricas do Paranapanema- Usclpa. de bar rage ns, vilas de operad ores e subestaçôcs.
No início dos anos de 1960, a Uselpa con- A fusão das empresas estad u ais ele e n erg i<'~
tava com e(1uipe de a rquitetos e desen histas-pro - elétrica de São Paulo em 1966 na CESP- Centrais
j etistas lide rada por Hélio Pasta, co m a partici- Elétricas de São Paulo - transformou o agrupa-
pação d e Robe no Coelho Cardozo em projetos men to d e arquitetos da Uselpa no núcleo inicial
paisagísticos. Em São Paulo, també m a Compa- do que ma is tarde se cons tituiu com o a Divisão
nhia Ilirlre létri ca do Rio Pardo- CHERl'- rece- de Arquiterura e U rbanismo da e mpresa , diri-
bia uma assesso ria de n amreza <HC]llitetônic:a por g ida p or Hélio P asta. Ao longo do tempo, ares-
m eio do e ngenh eiro Erns t Robert de Carvalho ponsabilidade dos anplit.et.os na definiçã.o d as par-
Mange (n . em 1922 ) . No Estado ele M inas Ge- tes dos empreendimentos hidrelé tri cos tornava-se
rais, a Central Elétri ca de Furnas contava, desde maior: casas de força, casas d e co mando , co man-
1963, com a colabo ração do a rq uit.cw-paisagis t.a do de eclusa, aclmp<lmentos de operários, vilas
Fernand o Magalhães C hacel (n . e m 1931) em de operadores, edifi cações com u nitárias, recupe-
ração da paisagem do e n torno de usinas, tra ta-
m ento pa i ~agíLico de vilas, ~ubest.açô c en t.or-
nos do reservatório - fo ram tare fas enfren tadas
pelos arquitetos da CESP. A p arti r d os a n os d e
1970, o setor de a rquitetu ra passou a desen vo l-
ve r tra balh os de abordagem mul tidisciplinar pre-
ocupados co m o impacto ambie ntal regional do
e mpree ndim e nto hidrelétrico- num<l ~poc: <l em

que as preocupações d e natureza ecológica ape-


nas se esboçavam no mund o . O com p lexo Parai-
buna/ P araitinga , no rio Paraíba, foi a expe ri ê n -
cia p io neira no gênero [Tsukumo 1994] .
11 8. H é lio Pas t a (anp1itctura ) , Robe rto Co e lh o Ca rcl ozo Paralelamente à Divisão ele Arquitetura c
(paisagism o) : Usina Hidn.: lé LricaJururllir·irn , S P, 1962 . Urb anismo da CESP , o engenheiro Ernest Robert
JGG • Arquileturets no Brasil

ca l racio n alidad e exigida por p roj e tos desse por-


te c natureza. A Pla nemak dese nvolveu o p roj e-
to urba n ístico da cidade de Ilha Solteira- a pri-
meira ex periência de c riação de um aglomerado
urbano p ermanente (a partir d e 19G7) , vo ltado
inicialmente para abrigar a pop11la<;ão d e operá-
r ios envolvidos n a o bra (qu e ch egou ao p ico com
cerca d e 30 mil h o me n s) e com o horizonte d e se
tra nsfo rm ar e m mun icípio indepe nde nte. Ao fi-
n al elos anos de 1980, ela co ntava com um a popu-
lação d e cerca de 25 mil habitantes c co m um dos
120 . .Joào Rodolfo St roctcr (arquit.el•to·:•). A, ;, Ab'Sahc r, Fn-
mel h ores p adrões de vida d a região. A cidade de
nanclo Chaccl , N in ajanm• Tsukumn ( paisag-is1110 ): usina hi-
Ilha Soltein1 caracterizou-se como um e m preen-
d rclé triCil ele Paraihuu" e h:1r~g<>m (] ,. f'ara i Liuga, SP. 1978.
d imento criador de um púlo de desenvo lvime n-
to region al , nu m tenitório até e ulào de ocupa-
de Carvalho Mange de~nvolcu um vigo roso Lra- <JL<> rarefeita c rede urbana d eficien te LTsukumo
balh o de arquileLUra e urbanismo, inicialmente 1989: 1994].
para a Chcrp e, em seguida, para a CESP, p o r meio A atuação d os dois principais agrupame n-
d e seu escritório Pla nemak- associado ao arqui- tos arquitetônicos envolvidos co m projews hidre-
teto J\riaki Kato (n. crn 1931). Man ge, como t>n - lé lricos d e São Pau lo - a Divisão d e Arq uitcmra c
ge nheiro, tiu lt a fúrrnaç::ío profi ssional "confiável" Urbanismo da CF.SP e a Planemak - assin alam a
p a ra o meio téc n ico envolvido no setor hidrelétri- co m rapartid i'l arquitetônica no desenvolvimento
co e era profission<1l com gnmde sensibilidack da t ec n o l o gi<~ b r<~s il e i ra no setor da co nslrução
para a arquitetura, lendo sido professor da Facul- de centrais hidre lé tricas. Todavia, lll ais d o fJUe
dade d e Arquitelttra c Urbanism o da U niversida- carac teriza r 11 tn ra mo específico d a arqu itetura,
de d e São Paulo. Ele iniciou suas a tividades no a partic ipação dos arquitetos n esses eul)Jrec n di-
se tor em 19.~ com pequ enos projetos residen- m e n tos revela-se um esfo rço in tegrado d e várias
ciais p a ra a usina Limoeiro, no rio Pardo, e foi se á reas de conhecim ento (da e n ge nha ria à ecolo-
envol vendo e m questões maiores, até ch egar aos gia, passando pelo leque do desenho urhan o c
projetos de usinas. A Planernak, n os anos d e 1960, das ciências sociais) em que a contribuição a r-
dese n volveu p ara a nsi n a de .J upiá, no ri o Para- quirerônica n ão faz se ntido sem essa in teração
ná (na divisa dos Estados do Ylato (~ros so e São e m busca das complexas soluções qu e têm co mo
Paulo), os pn~ j etos arc]uire rô ni cos p a ra casa d e o~ j eto mais visível a 11sina hid relétrica, envolven-
força, sulH'SI"(ào, eclu sa, casa de comando c do um conjun to ele o perações que necessaria-
acam p a m ento de operários (o prime iro esforço mente provocam forte impacto a mbien tal, eco-
p la nejado leva ndo e m con ta os problemas sociais n ô mi co c social sobre vastos territórios ating idos
e nvo lvid os e rn obras desse porte) e a arquite tura por esses e mpree ndimentos. A colaboração dos
para a então rnaior hidrel é trica do país, a usina arqui tetos n o setor é um p rocesso em marcha. A
de Ilh a Solteira, inaugurada em 1973, também n o participação pioneira ele H élio Pasta e E rn est
rio Paraná. Ilha Solteira constitui uma referência Robe rt de Carvalho Mange constituiu o marco
tecnológica e u rbanística-arq uite tônica no se tor inicial dessa colaboração ela arquite tura num
energético b rasileiro. Todo o edifício industrial â mbito de in tervenção Le r ritorial mais a m plo. A
d e geração de e n e rgia (integrado numa estrutu- atuação p osterior de maior número d e arqu ite-
ra-barreira de concreto a rmado de 984,50 m de tos c o reco nhecimento da importância da par-
extensão) fo i concebido com ma r cante visão ar- ticipação d esse profissio n al n o setor _ca racteriza-
qui tetânica e paisagística, sem d esc urar da radi- r am as primeiras d écadas da implantação do se-
LjJisódius de 11111 Drasil ( ;rande e /Vlodenw • 16 7

tu r elétrico no Brasil. N in a Tsukumo [ 1989; O exame dos objetos edificados pela CESP reve-
1994] propõe que o projeto rla cidade d e Porto lam o qnanr.o a estatal patrocinou a arquitetu-
Primavera (1980), prornovicto pela CESP- incor- ra e os arquitetos da linha p au lista . Todavia, h~1
porando a ex peri ê ncia pioneira elo núcle o ele urna dimensão maior na iniciativa. Nesse perío-
Ilha Solteira-, assinale o fim desse período pio- do (grosso modo, cn ITC:' 1966 e 1980) os projetos
n e iro, pelo menos no âmbito elo Estado ele São hidrelétricos serviram como su porte para as ex-
Paulo. De fato, a realidade do p aís nos a nos de perimentaçôcs arquitetôn icas fortemente im-
1980 parece direcionar a políti ca energética pregnadas pelo rac ionalismo técnico, numa ma-
para outros caminhos, aparentemente com ru- terialização elo ideá rio modernista dos anos de
mos e estratégias rpte não co ndizem com a ima- 1920 no qual a arq uitetura deveri<t representar a
gem moderniz:1dora do período entre o golpe nova sociedade ind us trial - icon icamcntc si mbo-
militar de 1964 e a falência elo modelo "desen- lizada, nos discursos de Gropius eLe Corbusier,
volvimentista" brasileiro nos anos d e 1970. A atu- em instalações hbris ou silos. A harr:1gt>m , ~ ~ cas
ação d o Departamen Lo de Projetos Ambientais c de força, a casa de comand o , 1cstituíram esse
ele Arquitetura das Centrais Elétricas do Sul elo imaginário relacionando a arfluite tura moderna
Brasil - Ektrosul - sobretudo com o projeto da com a instalação industJ-i<tl. A figlll-a elo arquite-
cidade de Nova It.á- indica novas experimenta- to atrelado ao "edifício" se torna di fnsa: o que é
ções no seto r. o "edifício" numa instalavio hidrelétrica? A hidre-
Com o alagamento decorrente ela Us ina létrica limita-se apenas à usina? Nesse sentido, o
Hidrelétrica ltá, as cerca de duzentas famílias significado tradicional de "cditicio" esmaccc-se
desse município - cuja população mantém ain- em meio à complexidade tecnológica-urbanística-
da est reitos vínculos de pa1·entesco e viLinhança ambiental do empreendimento hidrelétri co, sub-
-foram incentivadas a se rnudar para urna nova vertendo o papel tradicional do atTJlliteto num a
cidade, cerca de quatro quilômetros do sítio atuaçüo mullifacctada, be m ao espírito da abran-
original , com a promessa ele uma organização gência totalizaclora assumida pelo movimento
condicionada à preservação das relações urba- modenw da <uquilelura do século 20. Nesse se u -
nas, usos e costumes. Essa preocupação não se lido , a a rquite tura de hidrelétricas desenvolvida
restringiu apenas aos aspectos urbanísticos. A pela CESP (incluindo , nessa defin ição, os váJ-ios
arquitetura dos edifícios buscou uma linguagem níveis e campos de atuação dos arquitetos envol-
atribuindo aos prédios públicos características vidos no empreendimento) representou a síntese
referenciais marcantes, bem com o habitações elas possibilidades e potencialidades desse ideário,
com feiçôes personali7.adas - resultantes <k um filho ou neto da revolução industrial.
diálogo arquiteto-usuário nos limites de parâme-
tros flexíveis estabelecidos pela equipe de proje-
to. As formas c os materiais adotados para as cons-
TERMINAIS RODOVIÁRIOS
truções sào as mais tradicionais e convencionais:
DE PASSAGEIROS
não se adotam referências que possam ser estra-
nhas ao repertório da população reJo cada l "Re-
locação ... " 1985; Santos 1989; Scgawa El89]. Ainda no início dos anos de 1960, uma ci-
Embora atrelado a um esforço de moder- dade do porte de São Paulo não tinha um edi-
nização dependente de circunstâncias políticas e fício especialmeo te cuustruídu para servi r como
econômicas peculiares, a pan.icipação dos arqui- terminal de ôn ibus intermunicipal c inte resta-
tetos nos projetos hidrelétricos (sobretudo com dual de passageiros- a estação rodoviária. O aten-
o agrupamento inserido numa es tatal) deve ser dimento desse serviço se fazia ele forma d escen-
interpretada como uma importante contribuição tralizada, na porta das agências de ônibus - no
tecnológica e cultural, ainda pouco reconhecida. meio-fio das ruas e praças d o centro da cidade.
168 • Arquitet11rus 110 Rrasil

121. Paulo Mt·rHies d:r Ro cha.


!Vloacyr Freitas, Erc ílio So 11za:
rodoviá ria de C11i <tbá . .vrr. 1977.

Quase a total idade das cicbt des brasileiras nessa Nos anos do "milagre econômico", a mbicio-
t!poca d escon hecia a tipologia el a e-stação rodo- sos projetos fo ram concebidos c cxl"cut<tdos, como
viá ri a - ou algo mais organizado que Ulll <l sala o term inal rodoviário ele Flori<tn ó polis, e m Santa
ele esper a , uma garagem ou abrigo improvisado Cata rina (1976-198 1) dos arquitetos Yamand u
para passageiros munidos de bagagem. Não que C,;ul evaro (n. e m 1934) e Enrique Brena (n. e m
houvesse desconforto total - muilas dessas agên- 1937), - prcvcnrlo complexa o rg<t nização d e nu-
cias eram cuidadosamente o rdenaclrts -, mas a dis- xos de carga e a bastecimen to , com instalações
persão desses ser viços trad uzia-se em ineficii-ncia, a lra ncl cgúrias - ou o Termin a l Rodoaqu aviár io
desco nforto e congeslionamcnw nos centros ur- el e Vitória, no Espírito Saulo (arquitetos Carlos
banos maiores. Maxim ili ano Faye r e Nelson Inda, 19 78 ) , urna
Nos a nos ck I ~)70 , o Oepartame n lo Nacio- granrlc estrntm·a intermodal ele transporte te rres-
nal ele Estradas ele Rodagem- oq!;anismo vin cu- tre (ônibus) c marítimo (barros). Embora progra-
lado ao Mins t ~rio elos Transp o rtes - c departa- madas para uso in ten sivo, n o fin al elos an os de
me n tos estaduais esta belecem uorm as para 1980 ambas as e stações atcnrlc m a demanda dis-
implantação de termin ais ele carga t> passageiros. cr e ta - te nd o sido a aquavic\ria desativada.
Essa regulam entação d efini a crité rios de localiza-
ção e dimensionamento ele termin ais rodoviários,
considerau do a inserção rlcssc equipamento nas AEROPORTOS
cidades: le is de uso d C' solo e parcelamento , cus-
tos do terreno, acessos rodoviários I" sistema viú-
rio lindeiro, facilidade de deslocam e nto pa ra os A satura ç5o elos principais aeroportos bra-
usuários, população servida, nú mero de partidas sileiros n os an os de 1960 ensejo u o redim ensio-
c chegadas, viabilidade econômica do empreen- na mento d o sistema aeroportuário do país, pla-
dimento. A estação rod oviária não mais er<1 um- n ej arlo nos de 1970, c boa parte m a lcrializada na
n .:bida como um espaço exclusivo para transbo r- cl{;c.ada seguinte. Os aeroportos das principais
do ele passageiros: constituía tam bé m local ele capitais brasileiras foram implanta dos nos anos
viv(: neia c lazer, lugar de encontro para a popu- d e 1940-1950 - Ri o de J an eiro, S~o Pau lo , Po rto
lação da cidade, oferecendo bares, rcstauntntes e Alegre, Recife, Salvad or, Curitiba - , alguns deles
p equ en o com{;rcio como atrativos. clararn cn te inspirados no m odelo ditado pelo ae-
São Pa ulo roi o Estado que melh or o rgan i- ro porto Santos Dumont do Ri o de J aueiro, pro-
zou seu sistema de rod ovias, im p lanta nd o , a o j eto dos irmãos Robe rto. O crescimento dessas ci-
lo ngu dos anos de 1970 e até hoj e, ccn te nas ele dades fez co m que os outrora distantes isolados
es tações rodoviárias, boa parte delas projetadas aeroportos fossem rodeados por novos bairros,
por arqui tetos. to rn ando conflitante o convívio desses terminais
Fpi.w idios de 11111 nmsil C7mnde e .l fodemo • 169

122 . Milton Ramos/ Figue iredo


Ferraz Co nsulto r ia e Engenha-
ria de Projetos: Aeroporto de
Confi n s, MG, 1979- 1984.

na malha urbana- além de não mais cam pana- Tanto o aeroporto do G;.tl6io, elo Rio de .Ja-
rem os avanços da tecnologia ae ronáuti ca. n eiro, quanto o aeroporto in tcrn acional de Ma-
Três Estados foram contemplados com ter- naus, Esta do do Amazonas, fora m proje tados
minais internacionais de primeira categoria: São pela consulto ria d e engenh ari a TTielroservice , se-
Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizo nte . gundo o siste m a nose-i.n d e atracame n to de ae ro-
O Aeroporto ele Cumbica, na região metro- n<tves, c cstava m rm fn ncion<t mcn to no fim dos
politana da cidade de São Paulo, é o maior tcnni- anos de 1970.
nal brasileiro, segundo o sistema .finger de atraca- Vários aeroportos de m eno r po rre fo ra m
menta d e aeronaves. A co ncepção básica é de o u ainda es tão se nd o refo r mados P adaptados,
autoria do arquilcto Walter Mattci (n. e m 1942), sem mudan ça de sítio . Em 1984, o term inal de
fnncion:'írio da empresa d e projetos IF.Si\- lntt'r- passageiros do aeroporto internacional de Salva-
nacio n al de Engenharia. O desenvolvimemo d o dor, Estado ela Bahia, fo i re mode lado (arquitetos
proj eto exec uti vo envolveu amp la equi pe d e téc- André Sá e Francisco Mora) . Um imp o rtante ae-
nicos e consultores especializados. As obras foram ropon o, o d e Brasília, apen as n o início elos anos
iniciadas em 1979, e o prime iro dos cinco te rmi- de 1990 está se ndo rcforrnulado, com ttllt proje-
nab previstos fo i inaugur ado em 1985. to C(He prevê a total transformação do terminal d e
Os estudos para o proje to d o Aer o p o rto passageiros sem interrupção do l'u ncio name n to
d e Con tin s, na região metropolita na ele Belo Ho- elo terminal antigo (arquiteto Sérgio Roberto Pa-
rizonte, data m de 1979, com proj eto de um co n- rada (n. ern 1951 ) / The mag Engen ha ria) .
só rcio liderad o pela Figueiredo Ferraz Consulto- O quadro econômico dos anos d e 1990 não
ri a e Engenharia de Pr~j eto. A con cepção co nfirmou as previsões ele demauda do equipa-
a.rC(llitctônica do term ina l, n o siste ma ?10.\'f!-in, é mf' nto aeroportuário formulado nos an os de 1970.
do a rquiteto Milton Ramos (n. e m 1929 ), qu e O otimismo exager ado dos tempos elo "mi lag re
orie n tou e acompanhou o d etalhamento arqui- econômico" superdi m e nsío uo u o h oriL:on le de
tetônico da o bra, com evidente marca ele solu- realização dos terminais c , além do knto e ncami-
ções pessoais. O primeiro dos quatro te rminais nh amento d e algu mas obras an teriorme nte c m-
gêm eos elo conjun to estava concluído e m 19R4. pen h a das e das reformas de cslrll l ttras an tigas,
Todavia, não há perspectiva imediata d e constru- tudo indica que a participação decis iva de arqui-
çào d os demais te rmina is previstos. te tos na concepção dos p r ~ j ctos aeroportuários
7 70 • Arqui/e/1/rctS 110 /Jrasi/

te11to-brasilei ro foi encarregado ele d esen volver os


estudos de viabilidad e e o proj e to de enge nharia
e m 1966 (q uase o mesmo consórcio realizou os
estudos para o Rio de J a ne iro, pouco d epois) . [ P"
1968 era fundada a Companh ia do MetropolitaP
de São Pau lo , e nesse ano iniciavam-se as o bras da
prime ira li nh a - a Norte-Sul- qu e en trou em
o perapio come rcial parcial em 1974.
No início, to da a tec nologia (projetos, equi-
pamen tos) foi imponada. A adoção dos conceitos
alemães m ostrou-se inadequada <i realidade local
123 . Marcelo Frag•·lli / Promo n Engcn hari:-t: estar ~ "' Arm ê - (tanto em São Paulo co mo uo Rio de J aneiro ).
nia, lin ha Norte-Sul do Metrô de São Paulo, c l\.J70 . Segundo essa o rie nlação, o metrô seria um meio
a l tern :~ ti v o ao tran sporte indi vidual c n ão um sis-

tem a esscucial de tr anspo rte de m assas, relacion a-


iniciada nos anos de 1970 encerra-se du as d éca- elo ao contexto urbano. A cidad e é um centro d e
das d e pois com o acroporlo de Br:~sília. múltiplos deslocamen tos, e um sistema d e trans-
portes pode também valer-se da com binação de
meio s d iferen tes ( m etrô, ônib us, tre m nrhano ,
ARQUITETURA MRTROVIARIA au to móvel), evi ta ndo possíve is estrangula mentos
e visando urna circu lação funcional e ad equada
para as car<lc terísticas de uma grande metrópole
A implantação elo met rô no Brasil come- como São Paulo. Nesse sentido , o p rojcto original
çou mais de cem anos depois d e inaugurad o do m e L1Ô d e São Paulo visava apenas usuários
co rno u m sistema de t ransp orlc sub terrâneo em lindeiros às linh<ls, desconsiderando as possibili-
Londres e de pois de mais de meio século de f u n- d ades de aniculaç?ío com outros me ios ric tran s-
<.:ionamento e m Rne nus Aires. As duas prime iras porte. Na pioneira Norte-Sul, a dcsapropriaçiio
linhas de metrô no Bras il datam de meados d os de terre nos ao longo d o traj eto limitou-se hasica-
anos de 1960, crn ho ra propostas de adoção d es- menlc às ~trc;-Js correspondeu lcs aos acessos d as
se si stema recu em até os :~ no s de 1920. O metrô es tações - o que d emand o u , pos te ri orlllcnte, no-
urba no pesado- como um sistema ferroviário vas interve nções para liberar áreas destinadas a
pec uliar d e rede segregaria com vocação típica te r m inais in termo dais. A segunda lin h a em São
para as áreas u rban as, capa z de :Ht>ncl er a de- Paul o, a Leste-O es te (iniciada em 1975, aiu da em
manchts superiores a :20 mil passageiros/ hora/ andamento) , totalmc11 Le p roj etad a n o Rras il, assi-
sentido com estações próximas e ntre si e deman- milou os problem as detectados na ex periência an-
da h omogê nea durante o dia- n esse momen to tt>ri or, e o m etrô fo i concebido den tro ele uma
se configurava como a sol ução adequada para o ó ptica pla n~jador, como um indutor d e renova-
candente problema elo transporte d e massas para ção urbana e integrad o ao sistema de tr an sporles
o Rio de _janeiro e São Paulo, as duas maiores ela cidade. Superava-se ta mbém o conceito de que
metrópoles brasileiras. Cidades territoria l me nte o me trô era necessariamente um sistema subter-
dispersas, grandes centros d e ativiriade terciária, râneo. As d esapro priações previam a impla ntação
apresem avam inte nsa c irculação n os seus p rin c i- d e terminais d e tran sbot-clo, áreas de renovação
pais corredores urbanos e o s respec tivos ce ntros urbana e con tro le de ocupação do solo das faixas
tradi cionais em ponto d e saturação. lindeiras à linha .
O Brasil n ão tinha n en h um domínio técn i- A p articipa<,:ão d e ar quitetos na impla n ta-
c ~ acerca rio sistema: em São Paulo, um consórcio ção do sistema m e troviário d eu-se tanto nas equi-
t:pisódios de 11111 Brasil G'mncle e .l!oclemo • 1 - 1

pes técnicas de planejamento urbano quanto na Te rminal de Ônibus Interurbanos doJabaquara


e laboração dos projetos de estações e te rmin ais ( pr~j c toJcr Esteves (n. e m 1933), Israel
ôu i mo
imc rm odais. Sancovski e Paulo Bastos, 1972), o Te r mina! In ter-
ü m dos aspectos mais m arcantes elo metrô municipal do .J abaquara (pn~jeto .Júlio Neves c
ele São Paulo são as suas estações. Os pr ~je t os o ri- Luigi Villavecch ia (n. em 1940), 1974) c o Termi-
ginais elas es taçôes da linha Norte-Sul d esenvolvi- nal Rodoviário do Ti etê (elaborad o pela equipe
dos p elo consórcio teuto-brasileiro ainda seguiam de arq uitetos do Metrô : Renato Vicgas, Roberto
os conceitos elo metrô ele Paris do coweço do s(~­ MacFadden (n. em 1944) , Dicran Kassardj ian,
culo 20. A equipe ele arquitetos d a l'romon En- Aruo Hardlich F ilho), inaugu rado em l9R2
genharia, liderada por Marcello Frage lli (n . e m como o maior terminal de passage iros da Amé-
l9 ~H) numa reavaliação das proposras em I967- ri ca Latina. I:<:ssas ob1·as de vem ser exzrmi nadas à
196R, clesc nvolveu os projetos arquitetôn icos es- luz d a reo,-g:mi zação cios padrões de terminais
tabe lece ndo um novo padrão , de me lhor qual i- inte rmunicipa is e rodoviários regulame ntados
c\ac\e arcpútetônica c funciona\. Coerente com a nos anos d e t 970 . O Centro rl~ Controk Opera-
tend ê n cia em voga - rla arqui tetu ra ex pressa cional do :.Vfetrô, projetado e m 1072 pelo escritó-
como uma esu·utura -,as estações elevadas fo ram rio Crocc, i\.Jlalo & C aspcriui, é o utra obra arqui-
d elin eadas como estruturas-pontes esc ulLUrais tetô ni ca de interesse elaborado para o sistema.
e m concreto armado, d e rorte presenç-a na p aisa- O escritório PAAL, dos a rquitetos Sabino
gem (deve-se lembr ar também elo viarlu to n o tre- Barroso (n . em 192 7),jos(: Leal (n. em 1931) e
cho próx imo à estação Conceição, concebido po r Jayme Zcttel (n. em I 9~ 1), responsabilizo u-se em
Fragelli); as es tações subterrân eas ta mbé rn ex- 19 68 pel os proje tos pioneiros das estações das
ploravam a plasticidade do concreto aparente, duas linhas do m ctn) d o Rio de Jan eiro, com fi-
adotando diferentes configu rações estr ul.ttrais e liação à verten te arquitetura! d e Oscar Nicm cycr.
dcsc!l h os de fôrmas - carac te ri zando es p aços Suas obras envolver am in terve n ções e m á reas
a usteros, mas não nccessari amen te. r!:"'peti t ivos e históricas do centro d a cidade, c os projews elo
mo nótonos, pe lo trabalho em con creto. ~ rup u PAAL tinham preocupaçõe-s rl<' in tcgra ção

A concepção arquitetônica d as estações da paisagística ao con tcxro, cmno no jXUjt:tu de reur-


linha Leste-O este, na segunda metade d os anos h<~n i zação do trecho Largo da Carioca-rua Uru-
de 1970, fo i d esenvo lvida po r equipe p rópria d a g ua iana. Dificuldades no andame n to das obras
Companhia d o Metropolitano d e São Paulo. Reco- atrasaram c atrasam o cronograma do e mpreen-
nhecendo a experiência desen volvida por Fragelli dimento (qu e inaugurou seus p rimeiro s 5 km
na linha None-Sul, assimilada à concepção d e q ue apenas em 1979) e não pc rmi rjram a execução in-
o r amal I ,este se desenvolve n a superfície ou crn teg-ral das in te rvenções arquitetônicas propostas.
via elevada, c restrita à realidade de um momen- Corn o participação iso lada, rnas in tegra-
to eco nô m ico menos opulento que a fase ele im- elos a sistemas de t ransporte d e linhagem metro-
plantação da linha pioneira, as estações d a Leste- viária, arquitetos desen volveram projetos d e es-
O es te buscaram soluções mais eco nômicas c d e tações para sistem as d e trens metropolita n os. A
execução rápida (estruturas d e alumínio e fe rro, Trensurb, sistema de trens qu e atende à região
nu lugar do predomínio do con creto apare11te), m e tropolitana d e Porto Aleg re, teve a es tação
preoc upadas com a presença na pa isagem com Mercado ( 1R7H) projetada pelo arqu iteto Elysc u
marcante uso da cor. As cstaçôes sub terrân eas Victor Mascarello (n. em 1935) c a es tação Ca-
buscaram sempre alguma refe rência ao exte rior, noas (198 1) pr~j e ta da por Jorge Uecke n Dc biagi
m edian te abertu ras que pe rmitem vislumbrar o (n. e m 1939) . Debiagi também é o autor d a es-
céu das platarormas, aliadas a vistas para j ard ins. tação Central elo Oem ct ri> de Belo Horizonte-
De ntro do sistema m e troviário de São Pau- uma revit.alização d a antiga es tação fcr ruvüü ·ia
lo, caberia d estacar os term inais intc nn odais: u com amp liações adap tan do-se ao sistema metro-
172 • Arqnilelnms 110 lJmsil

l~ I. Vital P('ssoa de Melo" Reginaldo Estev<'s: estaç:tv Caval<·íro, met.rb do Recife, PE. l\Jil'>.

pol it<tuo de 1rcns- c da estaç?iu rodumetroferro- nrbauos maiores. i\ ciistrihuição va rejista (tendo
viária de Contagem (ambas inauguradas nos anos como fornecedora as CEASAs) era e ncargo dos
de 1080). Em Recife, os arq ui te LOs Viwll'cssoa ele municípios, m ediante a o t-gan izaçüo ele merca-
Melo (n. em l9~fi ) t> Reginalclo Estevcs (n. em dos municipais c feiras-livres.
1930) desenvolveram o pn~jel o das estaçôcs Co- Nos anos de- 1970, inúmeras CEASAs e mer-
queiral <: Cavaleiro, para a linha do trem metm- carlos mtmicip<tis foram implantados nas e<tpitais
politano da Melrorcc, inaugurada em 19RG. c grand!"s ridatles, na esteira dessa polílica. A em-
presa ele consultoria IIidroserviu: fo i responsável
pelas CF.i\SAs ele algumas capitais, como Belo Ho-
CENTRAIS DE ABASTECIMENTO rizonte, fortaleza, .João Pessoa e Cur itiba. Do
ponto rle vista uquitctôníco, o mais interessa nle
pn~eto de central de abas tecinu:nto foi desenvol-
Os anos ele 19(-iO conheceram uma crescen- vido no Riu Grande elo Sul. A CEASA de Porto
te preocupa(ão governamental quanto à regula- Alegre foi um minu cioso projeto elaborado pelos
mentação dos mecanismos de armazenamento, arquitetos Carlos Maximiliano Fayct, C láudio
conservação, clistribuiçào t> comercialização de Luiz AraCuo, Carlos Eduardo Dias Contas (n. em
produtos alimentares perecíveis e- de origem ve- 194~) e José Américo Caudcnzi. Situada num es-
gelal -os ltortifrutig-ranjeiros - , em husr<t da ga- tratégico cntro ne<tmento elas principais rodovias
rantia de flu xos regulares, padrões de qualidade do Esraclo na região metropolitana da r;:tpital, o
e controle de preços. Na visão cksenvolvimentis- com plexo desenvolve-se numa área ele tiO 000 rn ~ .
ta do período, o governo adotou um sln .~an gran- Para a resolu ção dos grandes vãos livres exigidos
dioso: "Brasil terá o tama nho de st1a agrícullllra". para os pavilhões, os arquitetos couvocaram o
E~trulJo-se um sistema envolvendo age n tes fe- engenhei ro uruguaio Eláclio Dicste (n. em 1917),
derais, estaduais e muni cipais. O Ministério da respons;lvel pelo cálculo e execução das abóbadas
Agricultura rC'sponsahilizou-se por uma parcela de ti jolo armarlo el e dupla curvaLu ra. (Pavi Ihão
ponderável d o sistema, atuando no controle dos dos Produtores, vãos de 25,4 m) ou autoportan-
preços, na estocagem ele alimentos e na distribui- tes (Pavilhão dos Comer ciantes, v<ios ce n trais de
ção de produtos. Na es ~ra estadual, criaram-se as 20 111 e balanços de 5 m). A experiên cia ela Ceasa
cent1ais estaduais ele abastecimento- CEASA.- d t':' Porto Alegre serviu de referência para o Minis-
grandes estruturas com ins talaçúcs e serYi ços tério da Agricultura para outras obras. As C: ~ ~A SAs
para rece bime nto c distribuição ele hortifruti- de Maceió c Rio de Janeiro também adotaram os
granjeiros por atacado, localizadas nos centros sistemas ele cobertura projetados por Dieste.
Epísóclíos de 11111 !Jmsíl (1m nele e ,1/odemo • 173

A realização da CEASA de Porto Alegre de- lo 20. Mencionamos, em outros capít ulos f"Do
mo nstra um caráter específico da arquitetura do Anticolonial ao Neocolonial. .. 1RR0- 1926" e "Mo-
Rio Grande do Sul. Até então, o engenheiro Elá- dernidade Pragn1~tic a 192-4~"] episódios em
dio Dieste era um p rofissional de atuação li mita- que o eciitlcio escolar foi 1mporrc dc d<'h~tes esté--
da ao seu país, o Uruguai, completamente des- ticos e funcionais. Em 1936, I .e Corbusier fora
conhecido nos demais centros do Brasil. Fo i o comidado também para desenhar a Cidade Uni-
intcrcfnn bio histórico entre o Rio (;rande do Sul vt"rsilária ela U niw·rsiclade do Brasil [ver ca pítulo
e o Uruguai que assegurou essa colaboração en- "Modernidade Correllte l !:!29-1945 "j. Nos anos de
tre Faye t & Araújo e Dieste, caraneriz;mclo rn(lis 1950, edifícios escolares para c11rsos hásicos tam-
uma vez a permeabilidade ele influências com o bém mereceram projetos de arquitetos ilustres -
Cone Sul do contine11te- lipo de relacionamen- Demétrio Ribeiro no Rio Grande do Sul, Oscar
to inexistente nas demais paragens brasileiras. Nicmcycr para escolas em Minas Gerais e Mato
Grosso, enln:: outros. Em São l'aulo. o programa
do C01wên io Escolar, desenvolvido entre 1949 e
ESCOLAS E O ESPA<,_;o 1955 pela mun icipalidade com a participação do
lJ N I VERSlTÁRl O Governo do Estado, inlrodt u ia d<" fonna singular
uma coleção de 68 edifícios na linguagem "cario-
ca" (com alguns arqni1e1os formados no Rio de Ja-
O programa escolar foi ttnt lema penua- ne iro): Hélio Duarte (coordenador, arquiteto que
nenle ua pauta da arquitetura no Brasil do sf-n t- trabalhou no Rio ele .Janeiro c Sa lvador - ver capí-

125. Carlos M. fa)•eL, Cl:tUu iu Antúju. Carlos E<luanlo Colas,.J(~ Amí~ r ico (;;mrlcnzi (arCJlli te l\lra), F.l<'idio J)i este (estru-
ru n t e m cerâmi ca armada): Central de Ahaslcci nw nto ck P01·Lo Akg-~< : , RS, 1972.
174 • Jlrquileturas 110 Hmsíl

t.ul o "A Afi rmação rl e uma Hegemonia 1945- de p rojetos de edifícios c equipamentos escolares.
1970"), Eduardo Corona (n. em 192 1, ex-proj~t.is ­ J.<:m São Paulo, a Companhia de Construções Es-
la de Nícmcyer), José Robe rto Tibau (n. em colares do Estarlo (Conesp) desenvolveu um cui-
1924), Oswaldo Corrêa Gon çalves (n. em l 917) c dadoso trabalho de normalização técnica, traba-
o e ngenheiro F.rncst Robert d e Car valho Mange. lho preocupado com constnu,:ão em massa co m
Tam bém em Silo Pa ulo , entre 1957 e 1975, qualidade c dive rsi da d e, coordenad o por .João
o lnslilllto ele Previdência do Estado de São Pau- H o núri o d e Mello Filho ( n . e m 1940), envolveu-
lo (I PESP) e, a partir d e 1959, o Funrlo E!itadual do a p a rti cipação de mais de quinhe n tos arqui-
de Constn1 çõcs Escolares (F t·:cE) d esenvolveram tetos 0 11 escritório s independentes pr ~jctand o

um conj111llo d C' escolas públicas com a van guar- edifícios escolares; no â111biLO fe deral, o Centro
d a da linha paulista, tornando-se uma r cferênci<l Brasileiro de Construçôcs e Equipa me ntos Esco-
para as e-xpe riências em ou t ras partes do Brasil. lar es (Ce brace-), subord inado ao Ministério d a
Nesse progrmna, ensaio n-se, no início da década Educação e Cultura, elaborou vários cadernos de
de 1060, o e m prego d e p ré-Fa bricação e estrutu- o rientação ele projetos escolares.
ras prolendidas de concreto. Não se porle constatar, todavia, u m <t tra-
Os anos de 1970 conhece ram programas dição simila r nos espaços de ensino superior. As
d e construção escolar nas quais a norma lização c uni ver sidades brasile iras nasceram da reunião
a raciumtlização ela construção ge raram manuais de unidades isoladas, cada qual com acomoda-

llilllllllllllllllliiiiiii!UIIIlU!Illll;t:l!;lllllnÍR
I;J!il :; :uan~; u: : tun ~m• ;~ua m m IU11iln

. ., ==::::::::
'""'w"'"'""'"'""'u. lllll!lllmmummxm:iillllllllllllllllllnmmt
uummuunnurwrum IIIIIIIIIIJIIIIIIIillllllliii!UUUUIIIII!:IIIunnuJ
SIIDIIIIIIIIIHIIIHIII UIDIIIIIIIDnnmmumno
1!1:1 mmn1111u"u"""rnoa 111111101nummnumuunw
. , . DIIUU
. 110
. UJIUUIUIIIIW . -
~1\LQI .Ii@!_WJ:;fl ~

1:./6. f.duar·do Kneesc de Ml' llo , Joel


Ramal ho Jr., Sidney ele Oliveira: c on-
j unt o residencial d <l Univcnid adc de
São Paulo, l96~. lJ ma d as propostas
pioneiras em pré-f"abricação n ;1 ar-
qui telllra d o in ício d essa déc;~a .

127 . .J orge Mac hado Morei ra/ Esc ri-


tório Técn ico da U niversid ad e do
Brasi l: pré d io da Facu ldade de Ar-
quite tura, Rio d e Jan e iro, I !157.
t:písódíos de 11111 Brasil C:ra/1(/c: c: M odem u • 175

ções usua lm e nte adaptadas e m imóveis não pro- m ico iné di to no país, sob a o rientação ele Anísio
priamente d esenhados para a brigar o ensino Teixeira e Darcy Ribeiro ( 1922-19 97) -c a apro-
universitário. A mais antiga unive rsidade brasilei- vação d a Lei ele Diretr izes c P,ases d a Educação -
ra- a cto Rio ele Janeiro - foi fund ada em 1922. definindo a cst.nll.ttra das u n iv~ rs id ades. O golpe
Seguiram-lhe a de Minas Gerais ( 1927), São Pau- de 1964 liquido u a experiê n cia el a UnB, t' a t-e-
lo (1934), Pernambuco, Bahia (década de 1940), gulame n tação ela lei de 1961 sofre u graves clis-
Rio Gra nde d o Sul, Paraná, Pa rá, Para íba ( déca- to rçôes, al é m d os descam in h os políticos qu e a
da de 1950 ) - entre as oficiais. U li ive rsidades par- educação sofre u n o fina l dos an os ele 19()0 co nt
ticulares de orige m religiosa Sllrgi ram em várias o endurecimen to d o regime militar e a p ersegui-
capitais brasil t' it·as nos anos clL: 19 40-1950. fu ci- ção dos intelectuais. Destroçado e m seu con teú-
dades universit ár ias proj etadas pa ra n Universida- d o, no en tanto, o espaço físico elas unive rsidad es
de de São Paulo, Minas G era is e U niversidade do brasileiras foi-se consolid an d o ao longo d essa
Brasil (Rio de J ane iro) rlata m do .final dos anos décad a e pr incipalmente no d ecên io seguinte. Í<:
de 1940 e 1~ 5 0 , co m destaqu e para o último caso, pertin e n te afi r m ar qu e o "mi lagre econ ôm ico"
projeto da equipe coordenada po rJorge Macha- pa tro cinou a construção ele vários setores c cdifl-
do Moreira. O Centro PoliLécnico da Universida- cios de campi universilúrios em lodo o país, tan-
de Federal do Paraná, em Curiliü a, fo i pr~jcto de to nas universidades fede rais quan to em in sti tui-
Rubens Mcistcr d e 1956. Todavia, a constru ção ções privadas (so bretudo as vi n culadfls com
dos edifícios nniversit.ários n t>sst's campi fo i pre- mantcn ed oras religiosas). A crise econômica pos-
dominan temente executada na década d e 1Y60. lt'rio r de ixou in (t meros desses cam pi como can-
O a no df> 19111 é significativo na vida uui- te iros e m aberto; w davia, os arqu itetos brasileiros
ve rsitária d o país: fundava-se a Unive rsidade de desenvolver am um a larg-a expe riê ncia em pla ne-
Brasília (Unn ) -nma p rop osta de m od elo < tead( ~- jam e nto ele espaços uu iversit:uios n o período.

128 . P au lo Zimbrcs: re itor ia


d a U ni ve rsidade de llrasília,

d éca d a de 1970.

I ~U - .José Ca lhin sk i: r!'f!'irório


da U ni \·e rsida dc d e Rrasília,
década de 1970.
7 76 • Arquiteturas 110 J11·asil

federal- complíca-se na mesma proporção que


a burocracia se Lorna mais complexa e na maio-
ria das vezes ininteligível. Rebatendo essa com-
plexidade no espaço físico , o crescimenLU confu-
so da burocracia produz uma desorgani;.ação
espacial usualm e nte caracterizada pela pulveri-
zação de repartições no tramo das cidades tradi-
cionais, acomorlações nem sempre satisfatórias
do ponto de vista da articulação das partes adm i-
nistrativas do conjunto. Essa observação parte
apeuas de um pt-cssuposto de organização técni-
130. Franci~o rlc Assis Reis: s!"dé' da Com p anhia !Iidrc lé tri- ca . Do espaço da administração pública não se
c a do Siio F t-ancisco, Salvad or, BA, I ':J79-I.tl~
deve isolar sua denotação mais ampla de locus do
poder, da simbolog ia inerente ao exercício das
práticas políticas em uma sociedade. B rasília
configura a ex periência máxima ela espacializa-
ção de um desejo de projetar um símbolo de
poder da nação e sobre " nação.
A nova capital do Brasil não é experiência
pioneira nessa vertente: Belo Horizonte, capital
do Estado de Minas Gerais ( 1894) e Goiânia ,
ca pital do Es tado do Goiás ( 1933) re presenta-
ram esforços anteriores recentes para assinalar
vontades políticas de afirmação territorial e de
autoridad e pública. Nenhum d esses empreendi-
mentos se isentam de urna prcocupaçáo de ocu-
par vazios humanos, d o caráter de domínio
territorial de regiões ulexploradas, a imposição
de vetores de desenvolvimento urbano ou rural.
131. I lumbcr to Scrp a, M<1rciv Pinto de Barros, iVIarcus V i- Mais recentemente, Palmas, capital do novo Es-
nícius Mcyc r, William Ramos Abdal l a: edifí cio-sed e do tado de Tocantins (1990) d;Í seqL.Jê ncia à inven-
Banco de Dest:nvulvirueutu de Minas Ccrais, ReJo Hori- ção de capitais.
zvnte , MG, 19 69 . llrasília transformou-se também num para-
digma para a reorganização física dos espaços da
burocracia oficial. A hnsc:a ele lu ga res pr-óprios
CENTROS para a administração pública tornou-se recorren-
POLÍTICO-ADMINISTRATIVOS te sobretudo no Brasil dos anos d e 1970 - tanto
E A BUROCRACIA OFICIAL com a implantação de centros político-administra-
tivos ocupando grandes vazios na periferi a urba-
na (como o vazio anterior de Brasília) qua nto na
O abrigo das atividades governamentais é construção de sunLuosos edifícios para sedes de
uma f]Ues tã o arquitetônica cbssica, preocupação empresas estatais ou paraestatais - , fenôme no
de qualquer tratado ou manual de arqu itetura que não deve ser desvinculado da oste ntação do
do passado. N o en tanto, a a rticulação entre as "milagre econômico" do período nem da políti-
várias partes de urna administração pública - ca de centralização administrativa, ao estilo auto-
quaisquer sejam as esferas: muni cipal, estadual, ritário do governo pós-golpe de 1964. Claro que
l:.pisódios dc> 11m Dmsil C m11dr,> r,> Jlodem n • 1 77

..

132 . .João Fi lg uc iras Lim a: edifício de secre tari a do C<'ntro Po lírico-Admin istrativo lht Ra hi a , Sa lv;u ltll, BA, 1973.

de, quando atributo próprio do programa arqui-


te tônico, não é suntuosidade gratuita.
Os cen tros político-administrativos esla-
rlnais efetivados nos anos de 1970 foram organi-
zad os como cidadelas afastadas dos núcleos urba-
nos tradicionais. Implantados em grandes vazios
perifé ricos à cidade, obedecendo a p lanos dire-
tores que, na maioria d os casos, re produziam o
esqu ema de Brasília: ed ifícios isolados para cada
fnn ção o u agrupamento de fun çôcs, scgun rl o
l~ . Saty•·o Po hl Moreira de Castilh o , .J(IIi o dt> Lamon ir<t
conveniências d e exeqü ibilidade e m dikrcn tes
Fn.:in.:, SC:·rgiu de Mor:1es, Ant ônio Ca r los Carp intt:ro. Ma-
freu tes el e trabalho. Ass im se desen volveram os
nu el Pe rez Sa ntana, Moacyr Fre ita s, José Antôn io Lemos
centros políti co-ad ministrativos de Salvador (com
do~ S; tno ~, Antô ni o Rodrigues Can 'a lh o, Pau lo Zimbres
plano urbanístico de Lucio Costa), Rc lé m , Porto
(consultor) , fira nk Sven sson (co nsul tor): Centro Po l ítico-
Alegre, For1 a leza, Natal. A g ran deza desses em-
Administrativo do Es tado do Ma10 Grosso , Cuiabá, MT.
preendimentos ínvíabílízou a sua conclusão, es-
1971.
gotada a gastança do "milagre econômico ".
Um dos m ais eloqüentes exe111 plos desses
a p roposta de cen tros político-administrativos compl exos administrativos- c que també m foge
não é ncu:ssa riamcnte sinônimo de d il ad ttra: o um pouco à regra - fo i o Centro Político-Admi-
Paraná organizou seu Centro Cívico Es t adu<~l em nistra tivo do F.stado elo Mato Grosso. O p r ~jeto,
1951, uum período de mocrático; Brasília fo i obra in ic iado em 1971, r eunia uma equipe básica d e
de um a ges tão democr á tica. A mo nume nta lida- j ovens arqui te tos formados na Universidade de
7 78 • Arquitet11ras 110 Brasil

Brasílit~. O complexo aclministrativo deveria ocu- 40%, alcan çand o a marca de 483 038 habi laules
par um vazio de 3 mil hcclarcs, afastado do cen- em 1970. As diretrizes de Wilheim referenciav;J-se
tro d e Cuiabá- numa superfície maior que a nos seguintes pontos: l. mudar a confor mação
área total da capital. Essf' <~fs t anw to pressupu- radial da expansão para nma lin cr~ i zula, in te-
nha urn a tenta tiva d e es ta be lecer um vetor de grando os transportes ao uso do solo; 2. descon-
cr<'scimento para a cidade , rumo ao centro po- gestionar a área central e preserva r o centro tra-
lí tico-administrativo. O c:o njunto não privlq~a ­ dicional; 3. conter a populaç;'io de Curi tiba de ntro
va edifícios isolad os: uma malha estr utu ral regu- elos seus limites físico-territoriais; 4. dar um supor-
lar organizava os vários b locos, proporcionando te econômico ao desenvolvimento urbano; 5. pro-
um sentido de continuidade, resul tando num piciar o equipamento global da cidade.
conjunto de edifícios com uni dade arquitetônica O plano básico fo i desenvolvido no primei-
abrigaudo tanto a sede Jo governo quan to as se- ro sem estre de 19G.S, com a parti c i p<~ç;'io de vár-i-
cret.a rias como que num único volume espraiado os profissionais locais - entre e les, engenh eiros
- como uma megaeslrulura. A proposta inicial civis Uovens c veteranos) que complemen tavam
não foi respeitada pelas administrações pustcrio- suas formações freql'1entando o recém-aberto cw--
res. O conjunto hoje se encontra incompleto, e so de arquitetura, e fo r mados na primeira turma,
vá ri os edifícios iso lados se ;1dicio naram ~ ~ paisa- em 1964. Wil hc itu c se u g rup o ele assessoram cn-
g-em circundan te do centro po lítico-adm inistra- LO local p ercor rera m toda C11ritiba, e essa intera-

tivo , rompen do a unirbtde original. ção esta be leceu os ví ncul os entre o cotidiano ur-

O PLANEJAMENTO DE CURITIBA

U ma das mais bem-sucedidas ações dc pl<t-


nc:jamento urbano no Brasil desenvolveu-se para
a cidade de Curitiba, capital do Estado do Paraná,
a partir ele 1964. !\"esse ano, o Depanamenlo de
U rbanismo da Prefeitura e a Companhia de De-
senvolvimcn lO do Paran á - Codt>par - abrira m
uma concorr ência pública para a elaboração ele
um plano preliminar de urbanismo. O concurso
foi ven cido pelo consúrcio .Jor~e Wilheim Arqui-
le Los Associados (conceituação e proposição urba-
nística) c Sen·te Engenharia (estudos de engenha-
ria, iufi·a-cst rutura e aspectos sócio-econômicos).
O aspecto me todológico principal da proposta elo
arquiteto J o rge \Alilheim (n. e m 1928) fo i a ele de- ~ ··

linear nm plano com cliretrizcs gerais, sem um de-


senho ftxo , que dcveria ser desenvolvid o a partir
da criação ele um a estrutura local de acompanha-
..
. l,.,.....,,.....
mento do plano, com profundo envolvimento de - . .l(' a.(: lo
COI., IOOI.. \
O( ., .:t~l · ;.~ f->'! i ~

técnicos da própria cidade.


~ ~
Em 1960, Curiti ba abrigava 344560 habi- .CURITIBit
t5?:5I:J
tantes - o nono maior aglomerado brasileiro; ao
longo da década, sua população cresceu cerca de 134. ll'l' UC: plano de C u r itiba, PR.
Episódios de 11111 Brasil Gra11d e e .\ lodemu • 1 ~

bano e as diretrizes teóricas de ordenação da ci- nessa opo rtunidade. Inicialme nte, estabelecendo
dade. O plano propunha o desenvolvimento da diretrizes flexíveis que fo ram conformadas de
capital mediante duas vias estruturais ele tráfego acordo com a realidad e a partir da filtrage m por
rápido formando vetores de expansão (rumando técn icos locais, mais sintonizados com o cotidia-
para oeste e sudoeste) tangenc ian d o o centro , no ela cidade - e Wilheim não desdenhou esse
sem sufocar o núcleo central -adequadame n te as pecto da contri buição local. A institucionali-
servido com transporte coletivo e preser vand o-o zação do planejamento m ediante a criação do
do adensamento sem controle. As áreas lindeiras IPPUC - absorvendo a equipe local que acompa-
das vias constituíam alternativas qualificadas para nhou vVilheim e incorporando novos elementos,
ocupação. Outra inovação para a época foi a pro- afi nados com os princípios origina is- estabele-
posta d e peclestrianização ela via principal do cen- ceu um siste ma de acompanhamento do proces-
tro antigo da cidade, a rua Quinze de Novembro so de plan ejamento que foi trabalhando o plano
- espaço trad icional de encontro ela po pulação, inicial com prq jetos arquitetô nicos e urbanísti-
em bo ra urna via fr egüentada p or automóveis. cos pontuais, a ponto de con solidar uma série de
F.ssa postura refletia a iciéia de f[UC o crescim en- propostas f[U e , amadurecidas, foram e ncampa-
to da cidade p oderia ser ordenado sem ciru rg ias das pelo govern ador elo Estado, nomeando pre-
urbanas radicais no centro tradicional -com to- sidente do TPPU C o arquiteto J aime Lcrr1cr (n .
das as seqüelas econômicas e sociais, às vezes mais em 1937), prefeito de Curitiba em 1971 (nessa
graves que os pro ble mas que se imentavam solu- época, em pleno regime militar, os prefeitos das
cionar. A ddinição ele áreas industriais compati- capitais não eram eleitos, mas nomeados) . A im-
velmente localizadas em re lação à cidade e a im - plantação concreta do plano iniciou-se em sua
plan taçào de :ti-c as de recreação c laze r nos gestão. Cenas propostas, como a peclestrianíza-
bairros eram outras diretrizes prioritárias do pla- ção da principal rua do centro tradicional (a pri-
no básico. meira experiência no pa ís), sofreu fortíssima
O conju nto ele propostas fo i ap rese ntad o oposição do com ércio, além do estranharnento
num seminário aberto ao longo do mês de julho gc r·al corn a r·ctir ad<t dos automóveis- u m símbo-
el e 1gf)!), com a parricipaçi"io de associaçôes de lo ela industrialização no Brasil; as vias estr utu-
classe, profissionais liberais e interessados em ge- rais fo ram conside ra das "perigosas", pela velo-
ral. Em seguida, fo rmalizou-se a criação d e um cidade elos veículos q ue nelas transitavam. O
organismo responsáve l pela institucionalização conj unto de diretrizes estabelecidas pelo IPPUC
do plano, o lnslituto de Pesquisa c Planejamen- conseguiu , com maior ou menor sucesso, vence r
to Urbano da Cidade de Curiliba-ll'PUC - ,que as resistências e atravessar sucessivas adm in istra-
complementou a proposta inicial do plano de çôcs, diminuindo o impacto da descontinuidade
Wilheim, afi nal transformada no Plano Diretor do planejamento municipal. Jaime Le rn er vo l-
de Curitiba, aprovada pela Câmara Mu nicipal tou à prefeitura de Curitiba em 19R9, triunfal-
em 1966. mente pelo voto direto.
Ao final d os anos de 1980, a capital d o Pa- Cu ritiba significo u urna p ossibilidad e real
r<má é considerada a cidade com a melhor quali- de desenvolver planos urbanos ele forma bem-
dade de vida urbana do país. As soluções implan- suce dida. A experiência tornou-se paradig máti-
tadas pela administração pública nos moldes elo ca em termos brasil e iros e, a tualmente , opa-
plano da década ele 1960 foram apropriadas satis- drão de qua lidade de vida ela cidade chama a
fatoriamen te pela pop u lação. Co mo se expli ca atenção dos técnicos do mundo. Todavia, con-
essa trajetória? vém caracte rizar esse sucesso como a conjuga-
E mbora o plano elaborad o em 1q55 há ção de uma coleção ele fatores que permitiram
muito tenha sido superado, as bases do processo mater ializar essa utopia p lane jadora . Bem lem-
ele plan c::jamento e desenho urban o esboçaram-se bra Jorge Wilheim que, n o mesm o ano e m que
180 • ArquitelllrttS 110 Brasil

ganhou a concorrência para o plano de Curi tiba , hab itacionais pa ra população de ba ixa re nda. Co-
seu consórcio também foi ind c:~rlo par·a d esen- missão para Extinção de Favelas (Rio de Janeiro.
volver o plano de Joinvillc, cidade no Estado ele 1947), Serviço de Recuperação d e Favelas (Rio de
Santa Catarina. Segundo o arq uiteto, as idé ias J aneiro, 1952), Comissão d e Desfave bmento d a
n esse p lano catarinense e ra m mais in ovad o r as Prefeitura de .Belo Horizonte (1955), Cruzada São
do que as d a capital paranaense. Todavia, a fal- Sebastião (Rio de J aneiro, 1956), Serviço Social
ta de u ma vontarl<:> política e a a usênc ia de Ullla comra o Mocambo (Pernambuco, 1956) são no-
equ ipe local de acompan h amen to d o pr~jelü mes sugestivos de iniciativas na área habitacional
fr ustrou a seqüência do plano [Memória... 1990]. nos an os de 1910-1950 [Finep/ GAP 1985]. Favelas,
mocambos, malocas, barr acos, alagados, cortiços-
te rmos regio nais para fo r mas d e moradia estra-
nhas aos par ânwtros arquite tú nicos e 11rbanísticos
HABITAÇAO POPULAR
tradicionais, classificad os oficialme nte como habi-
tações "subnormais" o u de "interesse social".
l~ impor/ali/e que o BNJ-1 (Banco Narional da A in iciativa do governo mili tar de criar o
f-fabitariio) Lmha presenlP IJUP Pslri criando uma nova Banco Nacional da H abitação (BNII ) e m 1965 foi
smuíntica de moradia limsi.Lei-ra. tomada na ép oca como u m ale n to ao défic it h a-
Nós jJagu.nln.m.ns St' PHI' 1101111 .ügnijiwdo não é
hit acio n;.JI. Até sua extinção, em 1990, a instit ui-
11ada mui.~ do ']l.W '11.111.11 delet-iomfâu rrijJidn di' algo
qu e se eslntlumva fJusilivmnente. Temos mrrlo rle que,
ção passou po r dife ren tes etap as d e atuação, que
denl ro t'm breve, moradia para o bmsileim seia rtfw- não caberia aqu i retomar. A política habitacional
na~ um cúlt-ulo "'' Unidrult's de Patb·ào de Crédito, pós-golpe d e 19G4 priorizou os investimentos na
nu a preocupação rom. n jiTestaçiio mensal e ronSP- construção iu tcusiva de casas para venda (segun-
qüenle mneriio on o pavor rfp .wr levado mnlm. a von-
d o o conceito de pt·op riedade resid encial para as
tade Jmm um ajHtrlanumlo rm r:oniu.nto n>sidl'nrial.
classes de m en or re nda) com o forma ele e stimu-
1:,'.\/tt jnt!Of:'llfwçrin, goslodmn11s dt' t-ransmiti lo ao
/JN/1 . (;nstnriamu' lfltl' ,.z,, -''' 'l'"''slionassl' a 'i rne;mo lar o setor d a construção civil e recurso para am e-
,\UÚrt' o qut• rslti Jnznulo. n izar o dcscuq.ncgo, por ser atividade cap az de
absor ver m ão-d e-obra não-qual ific<1da nos gran-
RI'.NJTO SARNO, presidente
d es ce ntros u rbanos. A diretriz não era assegu rar
do Instituto de Anp1itetus do B1·asi l, 197 1
[Scrran 1976, p. B9 l co ndições mínimas de habitação . Impleme n tar
um setor p ro dutivo e com bater o d ese mpr ego
era a preoc upação bás ica, tendo co mo subprodu-
A participação d e arqui tetos modernos e m to a construção d e moradias ao me n o r custo pos-
pro je to s habimcio nais inicia-se d e for m a mais sis- sível. Essa co ndic io nante gerou conjuntos habita-
tem ática com a ação dos ln stitutos de Aposenta- cion ais com padrões de qualidade mu ito baixos.
doria e Pensões ligados às categor ias profissionais O produto concreto dessa prática resultou em
-os IAPs -,a Fundação da Casa Popular e o Depar- dezen as de agrupamentos d e co nstruções em
tamento de Habitação Popular, com o vimos n o ca- altura ou com descnvo lvirnento h o rizonta l, isola-
p íwlo an terio r. dos elos contextos urban os aos quais se deveriam
A eufo ria desenvolvime n tista dos <tnos d e relacionar- posto qu e se abstraísse a articulação
1950 não se sen sib ilizou com uma das maiores ca- d a q uestão habitacional como um a p roblemática
rên cias do país. O Plano de Metas do presidente u r banística. Praticava-se a periferização oficial e
J uscelino Kubitschek não continha qualquer refe- compulsória de largos scgmen tos ela população
rência à questão habitacional. /\. prática governa- com custos imediatos baixos; a m édio c lon go
men tal limitava-se à re pressão da con stru ção d e fa- prazo, a consolidação d essas periferias demand a-
velas o u medidas insti tu cionais de levantame n LO ram investi men tos al tíssimos na instalação de
cen sitár io e diag nóstico elo qu adro d e carên cias i nfra-estr u t u ra negada n o prime iro momen to .
i;jJis<idios de 11111 lirasi! C rand<? e .Vlodemo • 1 81

135. j oiio BaLisla Vilanova Artigas, F;thio P C' nl eadu , Paulo :\<lcndc s da Rocha: co nj lHllO H ahi Lac iona l Cc cap Zezi nho Maga-
lhiies l'rado, Gurtrulhos, SP, 1967 .

Distorções da política habitacional do pe- cido também como conjnnro Cecap-Cumbica. O


ríodo pós-1961 leva ram o Banco Nacional d a pr~j e to foi coordenado p or três expoentes da li-
Habitação a con templar so bretudo o financia- uha paulista: .João Batista Vilanova Artigas, Fábio
m ento de moradias pa ra a classe m édi a e alla. O Pen teado e Paulo Mendes ela Rocha . TrM.ava-se de
aproflmdamento do déficit habilaciomtl parr. r.s um conjunto planejado para uma populaç:'ío de
populações de baixa renda m an ifestava-se no in- 55 mil habitantes e m 130 hectares d e área , co n-
creme nto d e htvelas, invasões, loteame nLOs clan- tando com toda infra-es tr utura urban a: esco las,
destinos, cortiços, sobretrabalho na autoconstru- hosp ital, centro d e saúde, posto de puericul tura,
ção- a transfo rm ação da paisagem das periferi as estádio, cinemas, hotel , teatro, com ércio próprio,
das grandes cidaucs como :~se n ta m e nt os de es- clube , transp orte e tc. A organização dos espaços
paços de subsistê ncir.. Foi na década de I 960 se l'::tzin f'm tu ruo do con ceito da freguesia - termo
que se tornavam nítidas duas atitudes dislintas tradi cional d o urbanismo portug u(:s rel acionado
dos arquitetos perante à d egradação habitac io- com uma comun idade co m vínculos eclesiásticos,
nal, à ine ficácia do programa govf'rnamcntal c a tu a lizado em scn sentido no Cecap-Cumbica
os resu ltados ir11positivos e pouco qualificados como conjunto d e pessoas com in teresses comu-
das rea lizações ofi ciais conveucion ais. n itários. Cad<1 freguesia comportava agrupamen-
De um lado, arqu itetos politicamente o pos- tos de edifícios c equipame ntos urbanos em u .:r-
tos ao regime m ilitar, mas interessados pela cau- ca de 15 hectares, com população prevista para
sa habitacional , ocupando trilhas in sti tucionais 9 884 habitantes. U ma derivação do conceito de
do Estado a partir da proposição de espaços d e superquadra , adotada por Lucio Costa e m Brasí-
formu lação erudita. No o utro extre m o, a assimi- lia. O conjunto Cecap-Cumbica- incon cluso-
lação da cu ILura e da prútica popular corno re- fun ciona hoje parcialmente segundo a con cepção
curso possível e de s~ j ávd para a resol ução does- orig inal , ocupado por pop ulaçáo de renda m édia.
paço d a moradia pobre. Na priln eira vc nente, a No outro extremo, e mergiu llOS a nos d e
exp eriênc ia m ais consiste nte fo i a realização , a 1960 uma contestação ao conceito de conjuntos
pa rtir de 1967, do conju n to ha bitaciona l Zezi- h abitacionais no princípio da unidade de habi-
n ho Mag-alhães Prado, patrocinado pela Caixa tação- corn o e m Pedregulho, Várzea do Carmo,
Estadual de Casas para o Povo (Cccap) no muni- Brasíli a ou Cecap-Cum b ica. A crítica ao con cei-
cípio de Guarulh os, Estado de São Paulo- conhc- to par tia da constatação mínima da inviabilidade
182 • A rquitet11ras 110 13rasil

do acesso à popu lação marginalizada a empreen- tárias d a população d e baixa renda. A proposta
d im e ntos cuja to tal ização - tida corn o ambiciosa buscava in tegrar um certo repertó r io constr u tivo
- exigia altos investimentos, subordinados a po- tradicional, a. fixação da população no local com a
líticas d e fina n ciam en to nem sempre favoráveis alternativa de morar em casas de me lh or qualida-
o u capacitadas a arcar com tal aporte, d iante das de, sem violen tar as características culturais c co-
múltiplas demandas de uma economia carente tidianas da comunidade favelada. O golpe de l964
de rec ursos e m inúmeras outras á reas d e igual interrompeu a expe riência, sem possibilidade de
pr ioridade ou p recedência econ ômica ou social avaliação. Em 1969, um gmpo de j ovens arfJuitetos
- sobretudo as r elaci o nadas ao co ntrole d o c res- do Rio de janeiro -Adina Mera (n. em 1927), Ana
cime nto urban o dos g randes centros. A a morti- Maria Sobral, Carlos Nelson Ferreira dos Santos
zação desses conjuntos seria inviável ao pod er (1943-1989) , joão Vicen te Amaral Mello, Marcos
aquisi tivo do segmento populaciona l de baixa Meycrhol'e r Rissin ( 1939-?) c Silvia Lavanere Wan-
renda, salvo nus casos de r edução ao m áximo derley - aprese ntava um relatório para o X Con-
dos custos, ao nível do absurd o d a in a bitabilida- gresso Inte r nacional da União In tern acio nal d e
de - como se constatou efetivamente. Um prime i- Arqu itetos (UIJ\.) com uma abordagem inédita no
ro reconhecimento dessas contingê ncias limitado- meio profissional brasileiro. A pro blernati zação
ras fo i te ntado por Acácio Gil Bor soi, em 1963, em do g rupo partia d e três questões:
Pernambuco, onde, por iniciativa do Serviço So-
cial con tra o Mocam bo, o arquiteto prop ôs, para 1. Elll q ue merlida a incorporação d e soluç<l<:s indi-
vid uais c espont:'l n<:>as d e moradia - tais corn o as e ncon-
a co m u nidad e fave lada elo C~ ju eir o Seco, casas
tra mos n as ravelas e que achamos muitas vezes válid<ts- c
segundo um siste ma de pré-fa bricação de com-
sua tradução n~ linguagem próp ria dos <1 rquirc ros, pode-
ponen tes construtivos baseado na tai pa- sistema r-ia cou trib1rir para reali?.ações de u·anscc nd[·ncüt social?
tradicional <Jssociando urna malha de made ira 2. Como as pote n cialidad es do favelado, conside-
revestida com barro -, uma arqui tetu ra de cusLO rando a ex i s t ênci <~ d e nma mobili dade soc i<1l c](' veloci-

baixo e factível dentro das limitações orçamen - d adt: direrenre nas nossas cliversas si tuações nrlturilis,

136 e 137. Acácio Gil Bo rsoi: comunidade dt:


C~j u ci w Seco , .Jaboatiiu, PE. 1963.

protective painting. • ~
ptntura de prote~. .,-

,
rll>
rool storage.
depósito de rolos.
.
.
• """';;::sii.: .
/?,-.... --'ESC N-/.

table.
mesa.
• straw sto r a~ .
depósito de folhas.

pre - cut straw bunches.


feixes de folhas preparadas.
h."pisódios d~ tllll Brasil c:ra1tdl' e ,1/odemo • 183

p o de r ia u1 ser ca n a lizadas par a co ntr ib u ir para a solu- da Guanabara (FAFEG), n a urba n ização ele fa\"C-
ção dos p ro ble m as de morad ia das pop ula ções de ba i- las desenvo lvidas pela Compan hia de Desenvol-
xa re nd a?
vimen to de Comunidades (Codesco), e ntre 1967
:1. Estam os pre parad os, os arqu itetos d e p aíses su b-
clesen volvicl os, para e n cara r estes asp ectos espec ia is ela
e 1970, registrada no livro Movimentos Urbanos no
n ossa realid a d e para os q u :-tis nossa particip ação é so lic i- Rio de J aneiro- uma d issertação acadêm ica na
tada? [Serran 1976, pp. 128-129]. á rea d e antropologia social dan do conta dos mi-
tos e elas realidades na interação <.: uo confl ito
Essc.:s arquite tos propunham , e n tão, um a e n tre a cultura favdacla e a p resença d e.: um téc-
a tua ção em q ue os fins necessariamente r efl e tis- ni co (co m o o fo i Ferre ir a d os Santos) na rcso-
se m os me ios: luçào d a q uestão ha bilací onal de baixa rencla .
Re fl etia Ca rl os Nelso n , a nos mais tarde, n u m
No campo d a habitação d e intc rt-sse soc ial, n a m e d i-
d a e m que p uderm os aceitar cen as form as espontâ rwas
rccncon tro d istauciado com sua prática d o fi nal
d t> m oracli<1 co rn o express:'io vftlida da von tad e huma n a d os anos ele 1960:
- c sob reLUdo como m e io efi c ien te de sati sfazê-la - tal-
ve z possamos lh es trazer a c o ntrih niçiío d e uma arquite- Ali m e d emonst r ava m ll lllil Lec no lvg ia que c u so
tura er ud ita, a o in vés de compe tir co lll elas uun 1 p roces- con s1·gn in 1 im p lan tar ele fo rma m u ito impel"feita em
so desp ótico e d estr utivo . [ ... j Nesse se n tido, pe nsa m os m e us pró p rios trabalhos [ favela de Brás de Pin a ] p o r-
q u e a maior co n trib u iç ã o q ue o arq uiteto p o d eria d::u- q u e ob\"ia mc n te jamais p o d eria co n seguir u ma fusão
ao s progra m as de habitação d e interesse social seria pro- tão a ni nt!ada entre p lanos, modo de \"ida e t>xpecl<l ti-
move r seu rd<~e i o nal cn to no todo u r bano, fun c ionan- vas d a p op ul aç~w c envolvimento cotidiano. Em suma,
do co mo liga~ · io e ntr e estas duas cidades contíguas e tà.o r ealizavam a lgo que para mim era a penas uma possibi-
opos t<JS, :1 cla ndestin a dentr o ela o fi c ia l. [ ... ] Supomos lida de teóri ca [Vall adares 1983, p . 88 ] .
q u e cad a vet se (;v . mais n c ccss:í ri o que o arq uiteto, ao
ag ir n esse cam po, p roc ure resp eitar os siste mas d e Ya lo-
res c ap n::nder co m eks. Ao cruz:1 r se us co n h ec i m ~: n t v s
Em termos genf>ricos, os a nos de 19f:i0 her-
d e uma arquitetu ra erudita, com esta o utra, espon tâ ne il, dara m a trad ição mod erna dos conj untos habita-
n asc irl ;~ das p ossibilid a d es c di spo n ibilidad es d ire tas do cionais esqu ematizados em sua LOLaliclade - in -
in divíd uo, objeto d t> ações de interesse soc ia l, talve7. (') (' clu indo nessa categoria tan to as propostas u1ais
possa cr iar conceito s, p ,·e n1issas o u t>o ri <~s sobre o ur·ba-
elabo radas pelos arqu iLelos, qua nto os absu rd os
ni smo .- ha bitação até a gora n :io previsto s en tre n ós
[ S t: IT<LI I 197G, p . i:H , j)({SSim.j .
coujun tos do JJNH ( degeneraçiio d e concc it.os
com o os de superquaclr a) [Com as 19H6l - c in-
As investi gações de J o h n T urner foram bas- co rpo raram a a titude alterna tiva de recon hcccr os
ta n te intl uc n r.es n essa linha d e pe nsam e nLo . A asseuL<uucu los margiuai!; como estruturas válidas
post11ra pela urbanização de favelas, da regulari- no con texto das grandes cidad es. Era o em bate
zação do ilegal, ela a titude d e.: fixar po pulações d e entre o recon hecido, o regular, o oficial izad o, com
baixa r end a e m sítios consolidados e conven ien- a clandestinidad e, as invasões, a ileg·a lidacle. O
tes, encontr ava um a r azão de ser, conh ecend o Ran co Nacional da H ab itação c sua política fo-
largo d ese nvolvim ento e ntre j ovens ar qui te to s ram a baliza: ou a inserção no Sistema Financei-
poli tizados nos an os de 1970, como um desafio ro da Habitação ou a o posição a ele. À medida
ao quadro d e sever a repressão p o lí tica e cultur al qu e a pol íLica oficial mar ginalizava as popula-
da ditadu ra mili tar pós-1964 e ante o d escala bro ções de renda mais baixa - mais e mais excluídos
da situação da população m a rg inalizada di a nLe d o sistema ecou ô m ico - c se acirravam os âni-
dos program as h a bitac ion ais do gove rn o . mos peran te a situação polírica el e exceção na
Os ace rtos e e quívocos d essa postura po- p ri meira m e tad e dos an os de 1970, radi caliza-
de m ser estudados na auto-re flexão que Carl os va m-sc as posições. A questão h ab itacion al assu-
Nelson Fe rre ira dos San tos pr o m ove u, a p artir mia su a natural cond ição de ban deira polí tica c
d e sua experiên cia de trabalho conjun to com a ideológica, e , entre os a rq ui te tos, o te m a deixa-
Federação elas Associações de Favelas d o Estad o va de ser tam bém u m dado de desen h o pa ra si-
- - -- -- - - -- - --- ---

784 • A rqu i/etu ras 11() B rasil

lua r-se sobr et.udo como u ma pro blemática n o to as cidades de m~;uor porte p ermanecem pr<~licamn­
â mbi to pulílico-ideol ógico. le in;tl leradas. Em 1960 ape nas duas m e tró p oles, R io de
J anei ro e São Pau lo. poswíam 111ais d e um milhão de
O redu cionism o da ação gove r na m e ntal habitantes (contavam cnt<io com ma is de r.r('s mi lhões) .
n a ár ea habitac ional nos anos d e 1970-1 980 d ifi- Em 1970 t ínham os cin co c e m 19RO nove regiôes me-
cilm ente poderia se r caract.e riza d o como um tro p o litan as c- nrasíli<~ colll mais de um m ilhão qut:. em
"programa": a trajetória entre o co nju n to de Pe- conjunto, acolh iam ma is clr 35 111i lhôcs de habitanles.
Nos nwsm os ittlnva los, o n ú m ero dt' ci d ades com mais
dreg ulho, rl e Reidy, üs casas-emb ri ões se r vidas
de I00 m il habitantes passou d1· 31 pa ra 60 c 95, res-
basicamente com a instalação da pane h idrá uli-
p el"l iva m c u Le. c as com ma is de 50 111 il , de(-)!) pi!r:t 115
ca{; suficiente para ilustrar o re trocesso ao lo ngo e 198. Em 1980 as nove regiôes mclro p o lita n as (excl u-
dessas décadas. Superado o radicalismo e n tr e as indo-se Brasí li a, p onanto) a bson·iam 29 % da popula-
p artes, exl into o Banco Nacion;tl d a H abitação, a t;ão lotai do p<'~Ís c 42% d e st Ja população u rban a ( Re is
qu estão per man ece e m aberto. O pod er públi co F il h o 199fi, p. 231.

hoje ram bém assim ilou as cr íticas aos p rogramas


h abi taciouais e à arquiletu ra praticada nos co n- Nessa trajetóri a, pi"Olife raram os o r ~;.n i s­
j u ntos. A pa r cri;-~ e n tre iniciativas o fi ciais e a m os de assistl:n cia téc ni ca aos mu nicípios para
população de baixa re nda faz pane das p rá ticas p romoção de "p lanos locais integrad os", "planos
de a lguns m u n icípios b rasilei ros. Todavia , ne- direto res" e o u tras a ti vidad es-m ei os, C[ uc: so-
nh u ma <hts rl uas ;-~t it udes, tão marcadas nos a nos m e n te alil nc n taram os devau e ios da recn o -bu-
de 1960 c suas derivações, quase uma 1crceira ou rocracia que m onopoliza ra m os gabinetes polí-
q uarta via in sp irad<ts nas expe riênc ias a n teriores, ticos d os anos d t> 1970. No mesmo di apasão , o
qualificam-se corno resposLas abrangen tes para o en ten d imen lo que as discip linas d e urbanismo
pro blem a . Constituem ainda um reco nhecimen- d as escolas d e arq u itetura n ão aco m pan havam
to p rcc::i rio da questão c um a :-~ção microscópica, as tr an sformações que se operavam no p lano
loca lizad a, p ossível e fac tível de m a rf' ri a li zação. tcc n o-buroc rá lico cond uziu à implcwe n tação,
Talvez a chavt> d a resposta esteja em estar a te n- com incen tivo s oficia is, dP cursos de pós-gradu-
to nessas ações pequenas e insiste n tes - c, que m ação e m p lan ej a m ento u r hano . São Paulo , Rio
sabe, co usist.en rcs n u m fu turo q ua lcpwr. d e .Janeiro. Pono Alegre, Pern ambuco e Brasília
a Iin h a ra m-se nessa d iretriz, além elo inte resse
suscitad o pelas inú meras opções d e cu rsos no ex-
terior. Certo é que, n esse mo mento, o pro blema
ORDENAR E REFAZER CIDADES urbano cada vez mais se configu rava como a de-
d u ç~o de uma conjuntura econômica e política,
carac te r izando u!lla poswra cviden ciado ra elas
Em 1965, criava-se o Banco Nacional ela figuras d o economista e do sociólogo, sobretudo.
H:-~hi ção (BNH) . 1\'o ano seguinte surg ia o Servi-
ta F<tlava-se o "econ o m ês", o "socio loguês" c o u tras
ço Fed eral de l labitaçâo e Urbanismo (Serthau). "líng uas" d e rivadas ele jargões téc nicos, buscan-
A implantação de um sistema ou p olítica nacio- d o-se fusões d e d iscipli nas d istin tas em produ-
na l d e pla n ejamento urbano teria se u co ro lár io to s d isLa n tes e à r eve li a elo cotidiano d os cid a-
com a d efinição das regiões metropolitanas c a dãos. Na radica lização do d iscurso de oposição
criação da Comissão Nacion al ele Regiões Met.ro- ao reg ime não-d e moc rático, os arq ui tetos p oli-
politanas e Política Urbana (CNPU) em 1974. Ob- ticame nte eng~ j ados ex tre m avam seus posicio-
se rva Nestor Goulart Reis Filho que name n tos com a atitude elo "não-p r oj e to", u ma
exacerbação das aná lises de Sé rg-io Ferro sobr-e
[ .. .] a pou l a~ -, - w brasileira vem r.enclenclo a se coJtcen- o co ntexto br asileiro e a práti ca a rqu ite tô n ica
tra r nas aglomerações ele maior porte - regiôes m eu·opo- [ver final do capítulo a n terior] . A discussão so-
litanas, m e trópoles regio11ais c cicl<1des médias- e n qu<~n - b re a arquitetu ra c o u r banismo nas escolas pri-
Hpisôdios de 11111 Brasil ( ,"rc111dc e .llodemo • 185

vi legi avam as a nál ises políti cas e sociológicas, TENTATIVAS DE NOVAS CIDADES
e m detrime nto do projeto.
No plano internaci o ual, os resu ltados ne-
gativos el e um planejamt>nro recn icista susci ta- Semear cidades no Brasil é um e mpreen-
vam críticas. No grasil , a es tagnação ela moder- d im e nto que se confunde com a integraçi'io de
nização econômica com a falê ncia elo "milagre" seu território à eco nomia mu nd ia l, desde épocas
evide nciou a fa lácia do discu rso plan<::jador de- colo niais. A uro pia estava na Am érica: a "cidade
senvo lvido nos anos de 1960-1970. Esses legados ideal" se d ese nvo lve ria har moniosa me nte neste
decerto conduziram a u ma nova perspectiva que lado do oceano - pe nsavam os antigos. Parte des-
gan ho u corpo 11 <1 década el e 80: o rlr'srm.ho ttrbann. sas ··utopias" chegaram aqui ape nas na forma de
Essa visão ga n hou força e esta ruto para debates traçados urhan os, f[Ue corrcsponderam à aspira-
entre nós a partir elo I Seminário so bre Desenho ção de modernidade que alimentou o Brasil-i nde-
Urbano no Brasil, reunido em 1984 em Brasília. pendente : Teresina, Be lo Horizo n te, Go iâ nia c
Linha de trabalho que m erece u discussões e con- Brasília, com maior ou men or inspiração, reprc-
testações até de natureza e timológi ca (teria o sl"ntararn c r epresentam um desejo de aulo-afii·-
Desenho Urbano o mesrno coutel!du do Urhan mação, buscand o legitimidaclt> em co nteúd os u r-
Design ventilado nos Estados Unidos e 11 a Europa banísticos co n sagrados no pensamento ocidental.
no linal d os anos de 1970?) . O Desenho U rbano A eufori a econômica e a síndromc plane-
pareceu consubsranciar urna nova atitude pt>ran- j adora dos anos de 1970 palrociuaram a criil çi'io
te as inter venções sobre novas e antigas tramas dt> diversas Yibs t> cidades: colo nização, miuera-
urbanas. Se é evidente um posicionamento críti- ção e hidrt>li> tricas serviram de álibi p ara deslo-
co d iante dos postulados fnncio nalistas à C:Jrta car dinheiro e gente pelo firasil. No e ntanto, o
de Ate nas, igual disposiç::io se observa con tra o qui" existe e ntre a cidade-do-agrimensor c a cida-
privilégio das aná lises cenu·adas exclusivamente cle-carta-de-<Henas? Com o são essas cidades cria-
sobre o processo sócio-ecouôuúco nas cidades. O das n a maioria das vezes num territó rio vazio de
Desenho U rbano saía em busca de uma re lação se res human os? Poderiam ser corno Vila Amazo-
entre as implicações d o espaço concreto (a forma nas e Vila Se rra do Navio, no Amapá, con cebidas
urbana) sobre as práti cas c referências sociais. por Oswaldo Bratke nos a nos de 1950 como cida-
Essa postura conduziria a o utras formulações des de apoio à mine ração de man~ê s, sol uções

para o espaço urbano, no plano do cotidiano do brilhantes de arquitetura e de con vivê n cia com
habi tar a cidade e o respe ito aos valon.:s dos ci- o ambiente regiona l. Dificil coufigurar o pe rfil
dadãos c dos g rupos sociais. Pcsrpri sas como de um assentamento que, desen hado por· a rqui-
Qucmrln a Rua Vim Casrt, coorde n ada po r Carlos tetos, nasc ido sob tutela , cresce, amadurece e se
Nelson Fe rre ira dos Santos, apo ntava m cami- torna independente. Ou o oposto, com o a cida-
nh os. Não mais a renovação urbana à base do d e-labo ratór io TTumboldt, proposta d e n úcleo
Bulldoz er mas a preservação c a reciclage m dos urbano no no roes te elo Estado do Mato Grosso
espaços exist.ent.es sem a rragmentação do tec ido p ara a br iga r a lt os estud os so bre a Amazô nia.
social. As expansões urbanas, os lotea me ntos, as Criado em 1973 numa iniciativa envolvendo a
invasôes , as favebs, os conjuntos habitacionais, Universidade Federal do M:Ho G rosso, o gove r-
as cidades n ovas. seriam questões tratadas com no elo F.st·ado e alguns m inistérios (Planejamen-
nma postura não mais apenas no plano da inter- to, Interior e Edu cação c Cultura), no fin al elos
ve n ção físico-ambiental como coucil iação de anos d e 1970 o projeto estava em desativaç<io. Di-
conflitos de uso do solo urban o, o u na dicotomia ficuldade de conli gnração por conta de experiên-
"cidade conve n cio nal x c idade m a rginal". A cias implantadas e por impl a ntar, mas recentes
abordage m era o utra c cerramente a d iscussão demais para urna averiguação: conhecem-se inú-
a inda está longe de atingir o consenso. rneros uúclcus empreend idos nos anos d e 1970
l8G • / I rq11 il e/11 ms 11u Hmsil

l !-IH . .Joaquilll Guedes: núcleo n :side11 <.:i al Pilar par a Caraíb a Metais, .Jaguara ri. 13A, 1976-1982.

n o none elo Mato G ro~ , polarizados por Alta tação da nova vila, <.:m busca d e uma iden lidad e
Fl o re~ta , c dos quais pou co se sab<.: <:tc<.: rca d e suas espacial compatível com o re pertó rio dos habitan-
"vidas" urbamts. tes da r egião semi-árida local [Camargo 1989;
Ma tupá , no Mato Grosso, é outra promes- Zcin 1989] . O fracasso da cxploração mine ral se-
sa de núcleo urban o nascido cl :~ iniciativa coloni- lou o d estino da cidad e. Gu edes também foi o
zadora parti c u lar q ue, no futu ro, ganhará sua responsável pelo plan o da Vila dos Cabanos, nú-
autonomia política conforme o sucesso do t> m- cl co urbano para a mi n eração ele alu m ínio em
p ree ndimenw. P r~jet ad o por Cândido Ma lta Barcare na, Pará, implantando na década rle 1980.
Campos Filho (n. em 1936) e Luí~ Carlos Costa Uma cidade abe rta, para receber morad o res que
(n. e m 1935 ) no início dos anos de 1980, trata- não se subordinam ao controle do empr<.:e ndi-
se de pr o po st:~ ele assenta m ento com expansão m en to minerador. No e nlanto, sua proposta d e
preocu pada com sua integração ao meio amaz ô- distribuição de habiL~ões e eq uipam e ntos urba-
nico- uma sensibilidad e a mbie ntal que assume nos teve sua realização desvirtuada. Da con cepção
contorn os mais nítidos nessa d écada. original reslou apenas o traçado urbano.
A equipe de J oaquim Guedes desenvolveu , Um ambiente pode pt·essupor uma paisa-
no período de 1976- 1982, o projeto do Núcleo ge m físic a com o um a m emó ria socia l. E o dese-
Residencial Pilar, p ara a Caraíba Metais, no nor- nho urbano parece incorporar esses valores, tão
te da Bah ia, su bordinada à mineração de cobre. desprezados pelos planejadon.:s num passado re-
U m cuidado inovador foi o de se estudar os pa- ccnte e tão significativos para os que viven ciarão
drões urbanos c arquitetõnicos de assentame ntos esses novos espaços. Valorizar "práti cas corrcn tes,
consolidados nas vizinhanças do sítio de implan- lóg icas de uso consagradas historicamente" fo ram
Epistídios de 11111 /Jrasif Gra11de e .llodemo • 18 -

motes utilizad os pela equipe do Instituto Brasi- segundo Carl os Nelson. Uma concepção decida-
leiro de Admi nistração Mun icipal (IBAM) coor- de an tiautoritária , na visão do urbanista [Santos
de nacta por Carlos Nelso n Ferreira dos Santos, 1987; 1988] .
destacada para pr ojetar seis cidades-novas e m A sofisticação do discurso na elaboração
Roraima. Inte r ve nções e m espaçosjá habitados, de novas cidades não foi propria mente um a r e-
popu lação q ue estava e ntre os futuros usuários gra. As Cornpany Towns, ou assentame ntos orga-
desses asscntamcn tos in spiraram pro s t :~s per- ni z<ldos por empresas a título ele infra-estrutura
m eadas por um sentido de cidadania, de gestões urbana de seus e mpreendimentos, povoa ram os
coletivas para "se ajJmjni anlos lugares, r.ornando- esforços d e in tegração e exploração de vastas
os afJrojJ'I"iados a seus fins, fazend o-os p-róp·1ios", áreas anlcriormenlc iuart.iculadas do ter ritó rio

~:'lfJ
~ -

139. Carlos Nelson Fen·cira d os Santos/ IBAM: p roposta d e quan cirão para cidades n ovas em Roraima, RR , 19H5.
188 • llrquileluras nu Brasil

brasileiro . Entre a sofi sticação d e Vila Serra do .Já se


menciono u , ante riormente, a experiência
Navio ou Vila de Can a Brava (Estado de Tocan- e m curso de Nova Itá, e m Santa Catarina .
tins) e os inú m eros acampamentos precários co- O reassentamento de Porto Castro Alves.
mo Vila Cac h oci rinh a (Rondônia), núcle os Bah i<1 (perto ele Cachoeira), pelo represam ento
como Mas;~ng (Rond ô nia), Ita bira (Min as do rio Paraguassu ~ e o surgimento do rese r vató-
Ge rais) , Paulo Afonso (fia h ia), Vila Resid eucial rio de Pedra d o Caval o - contemplou uma popu-
de Tucuruí, Carajás, Parauapc bas/ Rio Verde (to- lação de ce1-ca de qu inhe ntas famílias, transferidas
das no Pará) fazem parte de uma li nhage m de para um núcleo o nde os técnicos elo Consórcio
n ovos assentamentos que mereceram [Farah e Nacional de Enge n he iros Con sultores (CN ~ C) -
Farah 1993; Oliveira 1989] o u m e recerão diag- coordenados po r H ecLOr Vigliecca Gani - desen-
n ósticos ace rca dos as pectos antro pológicos c vo lveram um projeto e m 1983-1981 suhsidiad o
sócio-econômicos de comll nirlad cs fe chad as, p or um a análise li pológica d o hábitat p opular da
muitas d elas uc cxisl(: n cia fumra incerta face ao localidade, buscando-se a manute nção de laços de
d estino das a lividades que as geraram. vizinhança c as atividades de apo io existcu tes.
E nada mais perturbardor em um contex- Muitos dos assen tame n tos implil n tados
to - u rbano ou nalUral - que o surg imento de um desde os anos ele J 950 são verdadeiras incógnitas
represamento de h idre lé tr ica. Relações urbanas c qu an to ao seu dest.ino. Decerto, alg uns floresce-
ecológicas que silo modificadas n esLC grande em- ram e frutifi caram ; o utros dissiparam-se ou estão
preendimento q ue assinalou a política energéti- em vias de se tornarem cidades mo rtas. Talvez o
ca brasilci1a pós-1964. No in ício dos anos de Brasil seja um dos países que mais scmearam ci-
19BO, alg um as p opulações a tingidas por css"s c"- dades no século 20; todavia, ainrla não rem clare-
tústrofes pessoais e ro le livas têm m erecido maiOI- za do que colheu ou colherá, cloravan tc, apesar
consideração p o r parte das empresas energéticas. de tão vast.a experi ê ncia.
9

DESARTICULAÇÃO E REARTICULAÇÃO?
1980-1990

O Brasil se revela uma vasta desaTLiculação.


O t.odo pa-rece uma exjnessão riivena, r.st-ranha, n.lheia ás jwrtes.
]<,' estas pennaneam fragmentadas, dissoárulas, ràt.eando-w ~ rll]lti ou lá,
ontem ou hoje, corno que extraviadas, em busca de seu luga1: I ... I
fiá momentos wm que o jmís jntrece uma nação
compTeendida como um todo em movimento e l'mn5jónnação.
lvl.as siío freqüentes as conjunturas em que se revelam
as disparidades inerentes às divenidades dos estados e regiões,
dos grupos raciais e classes sociais.
Acontece que as forças da díspersiio .freqüentemente se nnjJõem
r!quelas que atu.am no sentido da inugmção.
As mesmas .forças predominam no âmbilo do Estado,
w ·ri)i:'rindo-lhe a wpacidade de wntrola·1; acmnodar e dinamiza·r,
reiteram continuamente as desil..,rualdades e desencontms,
que fnomovem a desarticulação.

OcrAvlO l ANNl, "Uma Nação em Busca de Conceito", 1992 [pp. 177-178]

Nos anos de 1970, morreram Pablo Picasso Ernst (189 1-1 976) , David Siqueiros (1896-1974),
(1881 -1973), Charles Chaplin (1889-1977), Tgw Bertrand Russell (1872-1970) , Martin Heidegger
Stravinsky (1882-1971), Pablo Neruda (1904- (1889- 1976), Hanna Arendt (1906-1975), Charles
1973), André Malraux (190 1-1976), 1\lexander Lindhergh (1902-1974)- e ntre outros. Parte sig-
Calder (1898-1976), De Chirico (1888-1978), Max nificativa ela miLOlogia da modernidade do sécu-
í
190 • A rquiteluras 110 JJras il

lo 20 desa parecia n essa d écad a. Mo r tos ilustres, ri ca Lati na , fo ram d os su pe rlíde res d itato r iais ,
qne merecer am páginas de e logios 0 11 r etrospec- d a re pressão à ma ni festação in di vidual c d issi-
tivas n os p rincipais me ios d e comunicação. Uma d e n te , da hipe r valo r iza ção d a tccn o h urocracia
mo r te , todavia, fo i pouco notic iada , e talvez, tar- estata l.
di a m e nte per cebid a, con fo r m e o co m un icado
"oti cia l". O crítico de anp til ctura C har k s jen cks
a nun ciou ao m und o, em 1977, C]Ue a arquite tu- O AÇAMBARCAMENTO
ra m oderna m orreu em julho d e 1972 e m Sai n t DE UMA VANGUARDA
Louis, nos Estados U n idos, com a implosão do
conjun to h a b itac io n al Pr uitt-Igoe, d e Minoru
Yarn asaki . Ji11 me .fonnPi em /974 {. .. f No meu ltmpo de es-
Aos an os de 19 70 atribuem-se uma série de wln, n qu1•stão do praur <!llt arquiil•lurn '~lav abso-
rcavalia(ÕCS dos parad ig-mas rlo passad o. MurLcs ltttamPniP inllmli!nda. Nrrmn exatamPnle u . ~ mw~ do
de e x-líderes como Char les De Ga ull c ( 1~9 0- governo Mhtiri e essa inlenliçiin foi colowda jJelus
1970), Colda Meir (1R98-1978) ou Mao Tsé-Tung pni/J1'Ú!S j!ro[Psson!s r. e~tudns de arqnitetu:m: ·nen•s-
sário substituir o lrífJÍS poT instru.mmtos lii(IÍS ronlun-
(1893-1973) anunciavam a extinção dos su p e r-
dentes. [ . .. / Nós vínhamos dP trinta ou quarenta
condutores de p ovos. As instituições fo ram macu- anos de uma arquitetura muito rigorosa, muito disri-
IMb s: Rlchard Nixon era o brigad o a renunciar. O jJli rwda. que se conl·mjmnhn a 'l""llfltL"'. idéia df PX-

acideu te nuclea r ele Th 1-ce MiJe Isla ncl m ostrava (I'SSo .. .

os r iscos da confiança irrestrita no pod er red e n-


ANTOI\10 CA.RLOS SA::\T'A:\":-\Aj(: NIO R
to r da cif> ncia para o futu ro da human idade . O Lt'rojrto 1990.p.l44] .
conceito de m assa com o valo r absoluto (segu ndo
a crença d os an os d e 1960) perdia espaço par a o
cultivo do individual, d a YaloriY.ação da idcmida- Ao co ntrár io de alg u ns países elo Prime iro
cle, devi d o à tolerància com as d ifere nças indivi- Mu ndo, o Brasil, na segu nda metade dos an os de
duais c à e m er gf:ncia ri as min orias (m ulh e res, 1960 e início dos anos d e 1970, p assava por urn a
negros, homossf'x uais). O conservacio n isrno eco- época d e p l ~ j a uç a econôm ica. Parte do legad o da
lógico ganhava força, e o conceito de "conserva- arq u itetura dos a nos d e 1950- l960 encontro u ca-
do r" de ixava de ser pejorativo para ser p romovi- mi nhos ele viabilizaçáo nos an os d o "milagre".
do a um a categoria positi\'a. U m conj u n to de valo res da arqu itetura moderna
Fo i esse també m o quadro d os a nos d e brasile ir a- que e m seu momento inicial instau-
1970 para a América do Sul? O p residen te chi le- ro u um saber in ovad or - fo i aça mbarcado, crista-
no Salvador All f'ndc (1908-1973) foi d eposto em lizo u-se desti tuíd o da for ça in augural. Um certo
1973 por um golpe m il itar.Juan Domingos Pe J-ó n pensamen to e prática, de vitalidade e sensibilida-
morre em 1974, e sua su cessora, Maria Es te la de loca l, mas de un iver sa lidad e suficie n te p ara
Per ó n , é derr ubada do gove rn o argen ti no dois seduzir a crítica internacion al, di lu iu-se c in stitu-
anos depois pelos m il ita res. O Br asil co n h eceu cionali zo u-se co m o conhecime n to d efini tivo e
uma década de p reside n tes indicad os pe los mili- imutável. Fil trada por um a ideologização q u e
tares. O p eríodo fo i u-ágico para a democracia la- n eutralizava as diferenças, escam oteava as con-
Lin o-amcricana, tomada por d itadur as tecnocrá- trad ições, n egava a in terrogação (coere nte com
ticas e intol era ntes. In tolerân cia q ue, no Brasil, o espírito autoritár io do m o m e nto), propugnava-
perseguiu sobretu do os intelectuais c sim patizan- se um ideal d e cultura ar quitetônica com pr essu-
tes d a esquerda- presos, mo rtos ou exilados. Os- postos oriun dos de u m momen to ép ico da arqu i-
car Nie meyer passou parte dessa década exilado te tura brasileira- m as agor a fo r m ulad o corno
em Paris, onde continuou deseuvo lve n do sua ati- único, autori zado c h egern ônico. Can o n izava-se
vidade p rofissio n al. Os a nos de 1970, para a Amé- e burocra tizava-se uma postura arqui tetôni ca.
f)esarliculaçao e Nea r lic ulaçi.io ' • 1.91

Não importava o programa de uso: da casa ao vi- a lguma densidade tardia na segunda metad e
aduto, da agência bancária ao forno crematório, dessa década.
da escola à torre de garagem, do sofá ao edifício
administrativo - era a moda (ou di tadu ra) das
grandes estruttu-as de concre to, do concrelo apa- VELHAS PERPLEXIDADES
rente, dos pilares esculturais, das estr uturas pro-
tendidas, do exibicionismo estrutural, a competi-
ção por vãos livres maiores, dos panos de vidro -, Não se pode negar que a discussão inter-
imitaçôes esvaziadas dos conteúdos elaborados nacional em torno do pós-modernismo contri-
por mestres como N i emeyer, Vilanova Artigas e buiu para o arejamento dos de bates no Brasil.
seguidores consistentes. Evid ências técnicas e Entretanr.o, é preciso verificar até que instância
formais que simbolizavam uma visão de m oder- essa polêmica teve repercussão n a virada dos
nidad e, certa compostura legitimadora de uma anos de 1970 para os de 1980. Esses debates -
arquitetura se m crítica ou crí ti cos, num tempo fortes nos países desenvolvidos c tímidos no am-
de generalizada desconfiança e perseguição p o- biente loca l - , por si só , n ão alimentaram as mu-
lic ialesca, no qual o criticar era uma atitude re- danças e n ão explicam as transformaçôes consta-
primida ou interpretada como cldac,:ão política. tadas na arquitetura brasileira na década de
Ingressar no clube dos países desenvolvi- 1980. A questão pós-nwderna abriu as sensibili-
dos: LL!ll sonho dos militares, mas certamente o dades c a tolerância com a di versidade de posi-
sonho de qualquer cidadão de um país subde- cio nam e ntos, corn a apreensão e compr eensão
senvolvido. A arquitetura brasileira desses anos de o utras formas de instrume ntar o raciocínio
do "milagre" também alime ntou uma pretensão do projeto. Fcuôwno~ ]JCrccbidos mundial~; ­
dessa natureza. É provável que nunca se tenha te 'tpnrtavam ent.re os arquite tos brasileiros: a
planejado c projetado tanlo no país em tão pou- percepção da falência ele panacéias arq uite tôni-
co tempo; nunca se construiu tanto, também. cas (soluçôes snpostamente válidas p a ra todas as
Mas o sign o da quantidade nã.o autoriza uma realidades), o maior diálogo com o contexto ur-
equivalência de qualidade. O excesso de trabalho bano ou o ambie nte naLUral na imp lantação elos
e mbaraçava a autocrítica. Os arqu itetos encaste- edifícios, o reconhecimento da história como re-
lavam-se num isolamento de olímpica auto-sufi- ferência projctual, a rcvalorização da reciclagem
ciência ante as discussões em cu rso no mundo. A de edifícios como atitude de preservação cultu-
arquitetura brasileira dialogava menos com o ex- ral, a produção do espaço co mo resultado de
terior. E dialogava menos internamente, p orq uan- uma colaboração entre arquitetos c usuários,
to a última revista da "fase heróica" da arquite tu- bem como uma postura men os hierálica, unívo-
ra brasileira, a Acrópole, deixou de circular em ca, de te rminista e sintética, substituída por uma
1971, ficando os arquitetos brasileiros sem ne- conduta mais analílica, simbólica, admitindo a
nhum periódico r egular até 1973, com o lança- ambigüidade. Esses valores podem ser percebi-
mento de q Arquitetura (extinta em 1978 ) e o dos em diversas obras e intentos teóricos sobre-
rclançarncnio, crn 1975, ela revista M<idulo (de O s- tu do a partir da segunda metade elos anos ele
car Niemeyer), sem a pluralidade de posiçôes, to- 1980, entre arquitetos mais jove ns, com suave
davia, que marcaram as revistas de outras épocas. adesão de profissionais mais antigos.
A ilusCtu do "Brasil-grande" desabou , tra- O tcnno "ade~ão compona urna arnbigi.ti-
zendo a reboque um grave quadro institucional. claclc. Em que medida o questionamento pós-
A arquitetura brasileira, no início dos anos de moderno efetivamente tran sformou o posiciona-
1980, se n tia mas não ac usava as necessárias revi- mento dos arquitetos? É a dúvida que paira ao se
sões no discurso c na pr:tlica <tryuitetônica. O examinar, por exemplo, o trabalho de Severia-
debate da p ós-modernidade somente alcançou no Porto e Mário Emílio Ribeiro (n. ern 1930),
192 • llrquitetums 1111 R1·as il

110. S~:v<.r i ano Porto c: Mári o Emílio Ribeiro: Centro dC' Proteção Ambiental de Balbin a, AM , 19~4- 1 08.

14 1. Milton \1onte e Paulo S.:·rgio Na sci nwnw: l ntcr pass Club . Belém, PA. 19R9.

arqu itetos e ngajados n a n:giiio amazônica brasi- da c ultura arquitetô nica brasileira. Na rt>alidade,
k·ira desde os anos de 1960 e que, no início ela dcvc-st> r·econ h ecer a obra de Porto e Ri beir o n a
década dC' 1980, emergiram como supostos "p ós- li nha de fren te da arqu ile t ura l>rasilcira rece nte
mode rn os", com se us projetos em madeira (casa como r esul tad o de uma persistente experi menta-
do a r qu i teto e m Manaus, I 97 1; Pousada da Il ha ção arquitetônica ao lo ngo de mais de vinte anos
de Si lves, 1979; e Centro d e Proteção Ambiental d e vivência regional [Zein 1986a]. A at itude de
de Balbina, 1984), inserção ecológica com mate- Porto e Ribeiro confunde-se com alguns posicio-
r iais industriali zados (campus da Un iver sidade n amentos genericam e nte pós-modernos, mas eles
do Amazonas, 1971) e obras executadas com uma são, a nte o contexto de se us trabalhos e traj e tó ria
economia d e m eios (pequenas estações telefô ni- d e coerência p rofissional, gen uínos a rq ui tetos
cas n a selva a mazôn ica) que rompiam com o mo- modernos - que ce rta se nsibili dade pós-mod er-
d elo vigente d os g ra n des centros "produtores" n a soube r econhecer e valorizar. Mas a mode rn i-
Desarliculaçéio e Rea rtic ulaçiio ? • 193

dade de Severiano Porto e Mário Emílio Ribeiro zônica antes referida surge ma1s por uma p e r-
não pode ser entendida sem a referência do Park cepção de contexto que po r urna vo ntade de
Ho tel de Nova Friburgo , clássico projeto e m m a- tipificar alguma manifestação arqu itetônica. São
deira executado em 1942 por Lucio C osta. A manifestações que coinciclern co m a lgum a preo-
Amazônia, por suas peculiaridades ambientais, é cupação pós-moderna, mas n ão t.êm o rige m n es-
capaz de induzir à for mulação de uma arquite tu- se fenômeno internacional. Tampo uco voltam-se
ra específica, necessariamente e m diálogo com o a uma busca específica de ide ntidade. Se há al-
meio. Esse diálogo não n asceu de uma imposição guma preocupação n esse sentid o, trata-se ele um
teórica, mas resulta de uma visão pragmática, de- esforço da crítica d e arqu it.emra. E é a partir da
purada ao longo do te mpo e p ro duto sobretudo ap reensão dessa diversidade, do a pro(i.Jndamen-
do amadurecimento dos arquitetos diante de sua to das diferenças que se permite e stabelecer a
região. É o caso de Milton Monte (n . em 1928) e condição mais precisa d o r egionalismo: caracte-
.João Castro Fi lh o (n. em 1950), e ntre outros - ar- rizar uma singularidade no inre rior d e uma r.ota-
quitetos que produzem urna arquitetura com lidade; a prálica de um<t especificidade que se ar-
dara consciência dos limites c das imposições ticula e interage numa dimensão mais ampla.
do aml.Jícnte, c por isso mesmo cl<.: mentos de Nos anos de 1980, colhem-se, no â mbito
insumo para o desafio d e buscar soluções c r ia- arquitetônico, os primeiros frutos dos programas
tivas e in ovadoras [Segawa 1992] . de interiorização da economia no país. Os arqui-
tetos que se deslocaram pelo território brasilei-
ro corno rnigran tes e nômades, saindo elos gran-
des centros, c os profis~na egressos dos vários
A EMERGÊN CIA
cursos de a r quitetura implantado s nos a nos de
DE REGIONALISMOS
1960 e 1970 fora dos centros tradicionais, e nfren-
taram se us prime iros projews de magnimde com
o "milagre econômico" e tive ram su as primeiras
Esses arquitetos amazônicos poderiam per-
obras importa ntes materializadas ao longo das úl-
feitamente se r qualificados na categoria "nco-
timas duas décadas. Arquitetos com r cpc rt.(>rios
vernacular" d e Charlcs.Je n cks ou no "regionalismo
d os grandes centros ou formados segundo esse
crítico", conceito que emergiu na primeira meta-
modelo, enfrentando um Brasil d istinto do Rio
de dos anos de 1980, sobretudo com o proselitis-
de .Janeiro ou São Paulo: o interior e as á r eas me-
mo de Ke nn eth Frampton. Esse crítico atribuiu ao
nos moder nizadas do país. Outras arquite turas
regionalisnw críti co um pote 11te vetor ideológico:
surgiram dessa dialética.
En t re as condí<;ôes prévias para o ,,u rgíme uto d a
(Oxpr(Ossáo regional crít.ir.a náo f:: sufi cie nte 3pe nas a
pros perid ade, mas t.amb( ~ m que exi sta um fo rte desejo
d e realizar uma idenlidade . Uma das causas da cultura
MAPEAMENTO DA DIVERSIDADE
reg ionalis ta i_~ UITI scntirn cnto anti-cc n tr·ista, 1.1111?1 aspira-
(ÜO a alguma ro rma d e independência c ultural, er.on ô-
m ica e política [A & V 1985 , p . :!01. A consolidação de uma revis ta d e arquite-
tura ind e p e ndente (d e svinculada d e entidades
"Realizar uma iclen ticlad c" é um intento profissionais ou universidades) d urante os anos
programático, na maioria das vezes inexiste nte ou de 1980- a J>rojeto, lançada oficialmente em 1977,
ina dequado para qualificar uma séri e de ma- mas cuj a origem remon ta ao ano de 1972, como
nifestações que têm corno o rigem a necessidade um periódico do SindicaLO dos Arquitetos do Es-
de re spostas arq ui te tônicas diante de questões tado de São Paulo - caracterizou o renascer d a dis-
concretas c premen tes - na maioria das vezes, cussão arquitetônica em seus termos m ais especí-
com motivaçôes jJmg'mátiws. A arquitetura ama- ficos. Pouco a pouco, a pauta arquite tô nica como
194 • Arquiteturas no Brasil

um problema de desenho- e não de sociologia cia ao pr incipal ma rco do m odernismo arquite-


o u ciência política - retomava o fôlego mediante tônico brasileiro em terras mineiras - conjunto
um veículo de comunicação específico de circu- arquitetônico proj e tado po r Oscar ~ i e me y er em
lação nacional. Esse fenômeno foi reforçado a 1939. Seu primeiro núme ro trazia n a capa um
partir de 1985 com o lançamento da revista !I u - desenho do própr io Niemeyer, e as matér ias prin-
Arquitetura e UTbanismo, também em São Paulo. cipais eram um depoimento d e N iemeyer e uma
O ponto de partida para uma rearticulação entrevista com Lucio Costa. Nada mais conven-
do d ebate amplo teve seu prime iro mome nto cion al que a ho menagem ao s gra ndes mes tres
com uma grande exp osição organizada em 1983 moder nos, n ão fosse Pamjn.1.lha transforma r-se
pe la re vista Projeto, associada com o Centro de (mesmo sem esse intento inicial), em seus poucos
Arte y Comunicación (CAYC) de Buenos Aires. O n úmeros e anos de circulação, numa referê ncia
ecl i to r d a revista, Vicente Wissen bach (n . em do debate por outras li nhas de arquitetura - exa-
1942) c o crítico argentino Jorge Glusberg (n . em tam en te as não re presentad as por Nie me yer e
19:)2) organizaram uma semana de arquitetura no seus seguido res.
CAYC, cuja participação brasile ira contou com 97 Como produ to editorial, Pamputha tói uma
arquitetos ou equipes expondo centenas d e revista inde pendente, re unindo os interesses e a
obras, numa cole tiva que apresentava um in(:rlito vontade ele arquitetos numa difusa e n ão-
panorama brasileiro de duas décadas - mesmo direcionada discussão arqu itetô nica. Era porta-
para os brasileiros. Essa grande mostra, d euomi- dor a de u ma men sage m com ling uage m local,
nada Arquite tura fi rasileir<t Atual, fo i inaugurada bem-humorada, otimista c n em u m pouco com-
em Bue nos Aires, perco rrendo d epois algumas promissada com discursos fech ad os e completos
capitais brasileiras (São Paulo, Brasília c Rio de - r efle tindo um cole ti vo de colabor adores das
.Jane iro). A iniciativa , do ponto de vista argentino, m ais diversas m ati zes. Ainda e m plen o períod o
foi tão be m-su cedida que o CAYC transformou a da ditadura mili tar, a revista publicava artigos de
Seman a de Arquite tura na Bien al d e Arquite tura arq ui tctura, artes plásticas, literatura , ecologia e
de Buen os Aires a partir de 1985. tem as afin ~ com uma seren id ad e distanciada d a
Essa exposição configurou u m excelenle engaj ada retórica política vigente em São Pau lo
mapeamento arquitetônico para a revista, que pas- c Rio de J aneiro.
sou siste maticamen te a publicar essa enorme di- Esse clima d e descontração também assina-
versidade de manifestações sem outro critério se- lou outro momen to im portante para a arquitetu-
não o de dar publicidade a toda arquitetura que ra brasileira. Foram os arquitetos de Minas Gerais
se produziu e se produzia n o país. Gradativamen- que organizaram o XII Congresso Brasileiro de
te , a revista foi crescendo e incorporando novas Arquitetos em Belo I Iorizonte, e m 198.1 - e ~joet
seções, algu mas das quais permitiram veicular tra- homenageado principal era Vilanova Ar tigas, fale-
balhos teóricos ou de investigação d e arquite tos cido no início d esse ano. Nesse encontro com
ou professores desconhecidos em nível nacional mais de cinco mil p rofissionais, a realidade po líti-
(na maioria, j oven s) . Foram os primeiros passos ca (abrandamento da ditadura, então com a pos-
por urna nova crítica de arquitetura n o Brasil. sib ilidade de indicação ele um candida to civil à
presidência da República) e econômica (agrava-
mento ela recessão e crise inflacion ária) convive-
REINTRODUZINDO A VITALIDADE ram civilizadamente com a d iscussão d a arquite tu-
ra como disciplina, abordagem até então bloqueada
n as escolas e na categoria profissional diante do
Em fi n s de 1979, um grupo d e jove ns ar- quadro de acirramen to político e ideológico.
quitetos de Minas Gerais iniciava a publicação d a O grupo mineiro, n um certo sen tido, ca-
revista Pampulha. O título era um a óbvia referên- talisou uma coleção d e ansiedades rep rimidas. A
!Jesarliculaçãn e keu r l iculuçàu " • 195

142. Éolo Maia: Gru p o Escolar


Vale Ve rd e, Tim ó teo, MG ,
ID83-1985.

143. Gu s tavo Pcnna c Flávio


Car salade: TV Bandeiran Lcs ,
Belo Horizonte, MG, 19R'l.

discussão sobre a arquiLetura pós-moderna, alé UM PANORAMA EM ABERTO


então represada, ganhara um foro, espelhando-
se sobretudo na pequena mas ousada produção
dos arquitetos mineiros: muitas idéias ainda em Se u grupo mineiro constituiu a vertente
desenho (às vezes, o desenho quase como uma menos compromissada com a tradição moderna
proposta em si) , ob ras modestas , desvinculadas local- c, em panicular, as obras de Éolo Maia c
das práticas e linguagens usuais dos mode los ar- Sylvio Podestú como as mais livres e ousadas nas
quitetônicos do Rio d e .Jan eiro e São Paulo. Ál- formas , no mesmo plano das experime ntaçÕ<::s
varo (Veveco) Hardy (n. em 1942), É o lo Jv[aia mais arrojadas em prática fora do Brasil , mas
(n. em 1Y4~), Maria.Josetina d e Vasconcellos (n. presumivelmente com elementos da cultura mi-
em l947), José Eduardo Fcrulla (n. em 1947) , n eira - , h;i d e se localizar outras manifestaçôes
G ustavo Penna (n. em 1 950) , Joel Campolina (n. que revelavam preocupaçôes de assimilar repertó-
em 1947), Sylviu Podcslá (n. em 1952) são arqu i- rios formais regionais característicos. São os casos
tetos de sse grupo m ineiro que desenvolveram dos arquitetos Moacyr Moojen Marques, .João .José
projetos de maior envergadura posteriormente. Vallandro (veteranos arquitetos) e Carlos Alberto
196 • Arquttetllras 110 limsil

forte imprrg nação da n a tu reza, da preocupa-


ção d e inseri r a nefatos em ambie n tes ecológi-
cos seusívt>is.
Todavia, se o contexto é a me trópole, essas
referê n cias cul turais e ambie ntais inexistem o u
se dilue lll num complexo emaranhad o de valores
que n ão nece.ssariamente se r etlctcm na reso lu-
ção arqui tetônica. Me trópoles como São Paulo e
Rio de J aneiro abrigam gr·andes escritórios que
buscam atender às de mandas arquitetônicas de
grandes e mpresas n ac io nais e mu l tinac ionais,
144 . Moacyr Mnu je 11 Marq ues, J o:io Jo ~é Vala n dro. Car los
produzindo uma cuidadosa arquitetura cujo com-
Al bcno Hü iJller: (;pnrro de Ativirlades do Scsc , Caxias do
promisso de eficiên cia tecnológica e a im agem
Sul, RS . 19R5-1 989 .
empresarial é cldini cla por padrões internacio-
nais: Croce, Aflalo & (;asperini, Carlos Bratke,
Kõnigsberger / Vannucchi, Ediso n & Edm u ndo
Musa, Rino Levi Arqu it etos Associados, Botti &
Rubin, Pontual , en tre o utros, são gran des escri-

145. Dcparlam.-nro d t' Projetos Ambientais c d e A.rqu itt" lu-


ra da Eletros u l: púnito da ga iN i::l comerc ia l, prefeitura c
câmara rnunicipal (ao lúndn) Jc 1\ova ltá , se, 1985-1 989.

Hübnc r, especi fi camente no Cemro de Atividades


d o Serviço Socia l do Comér cio (SESC) na ci-
dade de Caxi;t:; do Sul, EsLado do Rio (~ ranl e do
Snl, e da a rquitetura do p rojeto de re locam e nlO
da cida de de Ttá, no Estado de Santa C:ararina ,
pela Divisão d e Urban ismo da F.ktrosul- Cen-
trais Elé tricas do Sul do Brasil. Em a mbos os casos,
o r eco nhecimento da arquitetura popular tradic i-
o nal d o Sul- car ac1erizado pela presen ça de imi-
grantes alemães e italianos, sobretudo (contigcn-
tes imigrad os durante o século 1q) -serviu para
a ela> or;.~çã de edifícios relacionados com as for-
m as arquite tônicas características dessas culturas
["Re locação ... " 1985; Santos 1989; Segawa 1989].
Esse ripo de abo rdagem do contexto ta m- 146. Fl;"tl"io Kiefer e J oc l ( ;o rsk i: Casa de Cu lrura Múrio
bém su cede com os a rq uitetos amazô nicos, -com Qu inla na , Porto Alcgrr;, RS, 1987-1990.
Desarl'iculaçào e Rearticufaçào? • 19-

paulista, com méritos próprios, como Acácio Gil


Borsoi,João Filgueiras Lima (n. em 1932, conhe-
cido como Lei é), Paulo Mendes da Rocha, João
Walter Toscano , Ruy Ohtake, Milton Ram os,
Paulo Zimbres (n. em 1933) , Marcos Acayaba (n .
em l944),Jamcs Lawrencc Vianna (n. em 1951 ),
Marco Antônio Borsoi (n. em 1954) o u mesmo
Li na Bo Bardi- entre outros.
Paralelo a essas linhas - outrora quase do-
minantes- c críticos em relação a essa "herança"
carioca ou paulista, arquitetos como Joaquim
Guedes, Luiz Paulo Conde (n. em 1934) e Francis-
co Assis Reis (n. em 1926) , Vital Pessoa de Melo
(n. em 1936), Sérgio Magalhães (n. em 1944),
.Juan Villà (n. em 1944) defendem distintas fren-
tes conceituais. A maioria dos arquitetos citados
147. l.niz Panlo Conri<:, Sérgio l'vlagalhiies, Cristina
em capítulos anteriores seguem trabalhando, al-
Hartmann: Ceutro de Treinamento e Aperf"eiçoamlénto
guns fi éis às origens; outros, preocupados com o
Pessoal, Rio de .Janeiro, 191\2- 191\!"i.
futuro, mas não necessariamente partidários de
correntes consensuais ou armados em grupos ar-
tórios de excelência nesse segmento- alguns dos ticulados, mesmo informalmente .
quais com décadas ele atividade.
A condição urbana c suas transformações
funcionais também asseguraram , nesses tempos FIM DA UTOPIA
recen tes, intervenções em estruturas arq uitetô- E O ESTIGMA DA MODERNIDADE
nicas an tigas - quer e m refuncionalizações como
em obras de restauro. Os casos mais bem-sucedi-
dos pela qualidade de proj e to c sucesso na apro- Em 1984, o Brasil frus trava-se com a der-
rota da emenda constitucional que restabelecia
pria~,.:ão pública foi a reciclagem de um antigo
o voto direto para pr esidente da República. To-
galpão fabril em São Paulo, transformado em
davia, era o início do retorno à normalidade de-
centro de lazer pelo Serviço Social do Comércio
mocrática. Com a assimilação do debate sobre o
(SESC) num pr~jeto de Lina Bo llardi, em co-au-
pós-moder no, ganha corpo um sentimento anti-
toria com André Vainer (n. em 1954), Marcelo
mudenüsla no Brasil. As milológicas ol.Jras da ar-
Ferraz (n. em 1955); o restauro do Mercado Mo- quitetura dos anos de 1950-1960, por falta de
delo em Salvador ou a Fábrica Danneman em manutenção e por obsolescência, transforma-
São Félix, Bahia, projetos de P aulo Ormindo ram-se em ruínas da modernidade; Brasília, cida-
David de Azevedo (n . em 1937); e a reciclagem de elaborada n o período democrático, am a-
do antigo hotel Majestic, transformado na Casa durecida durante o regime militar, confunde-se
de Cultura Mário Quintana na cidade de Porto com o caráter autoritário do período ; as realiza-
Alegre , Rio Grande elo Sul, pro_jeto ele Flávio ções dos anos de 1970, pela suntuosidade e pelo
Kiefer (n. em 1956) ejoel Gorski. monumentalismo , transformam-se no símbolo
Independentemente de categorias estan- da burocracia estatal e do desperdício.
ques, inúmeros arquitetos vêm d esenvolve ndo Criticar Niemeyer e Brasília, negar valida-
obras de interesse. Alguns podem ser enquadra- de às teses de Vilanova Artigas tun1aram-se pon-
dos como seguidores da linha carioca ou línha tos de vista correntes e dominan tes. Antes, a re-
198 • Arquite!Ttras uo Brasil

fcrê ncia a e les era um r ecurso de legi1imação; palavras, a f ~ tl a d e uma crítica sistemática despro-
hoje, parece que uma lig<~ ção com esses mestres vida de paixões- prostrou os horizo ntes possíveis
é um atestado d e maus anteced e ntes. Boa parte de avaliação, renovação c atualiz.açào de conceitos
d essa . ~eaç ã o d e rivo u de um sentimento de ín do- e prá ticas de brilhante fatu ra local. Desperdiça-
le pós-m oderna: o ocaso das "gra ndes narrativas" ram-se o po rtunidades d a verificação e prova da
ou in terpretações racionalizad oras, o fim das qualidade e da n atureza da arquitetura brasileira ,
utop ias,. o questionamen to dos m od e los, dos em nome da preservação de u ma memória posi-
grandes sistemas de pensamento. Na revisão pós- tiva e ela exaltação de episódios m·arca ntes d essa
m oderna intcrn acion<J l, caía d efiniti vamen te a mesma arquite tura, ere ta como paradigm a qua li-
utopia dos modernos dos an os de 19~0 por um tativo inatingível e in su pe rávcl - por isso mesmo
mundo melhor e, por conseguin te, o suposto po- relegada aos panegíricos ela história da arquitetu-
d er re formador e redentor da sociedade medi- ra. Um a perm a neme assombração do passado a
ante o desenho, o fJrojeto, tese e estand arte d o g r u- rondar o futu ro - isto é, a nós.
p o de Vilanova Artigas. As límpidas geometrias e Essa h erança moderna brasile ira, em tem -
curvas de outrora tornam-se rlP:modées, substituí- pos pós-modernos, con stitui o bjeto manejável?
d as por "contextnalismos" e "citações", sob o Não me parece que essa h erança se tornou im-
m<Jnto d a "diversidade". No p lan o inte ru acional, prod utiva, deixou de deitar galhos. Jove ns arq ui-
a im piedosa varredura dos cânones do fu n ciona- te tos, não alheios d o de bate internacional, mas
lism o e do rar.ional ismo ar rastou t;Jmbérn o for- vigorosamen te ciosos d a experiência mode rna
malismo brasileiro- uma ocasião qualificada ele br asi leira, vê m trabalhando sobr e o tem a. Se é
"irracional" por Pevsner. certo que alg uns . ~amos dessa árvore ele raízes
~o Brasil, uma reavaliação segundo uma modernas estão fenece ndo - por in fru tíferos,
óptica d a condição pós-moderna, lodavia, não sig- por incapacidad e de reprodução - , outras rami-
nificou a implantação de uma arquitetura pós- fi cações parecem buscar simbioses, sincre tismos.
moderna. O mal-estar ela modem idade é um sin- Numa ép oca ele o bso lescência programada, a ar-
toma não n ecessariamente compartilhado pelos quitetura bt·asilcira 1cm a pos:>ibilidade de não
países n:to-cksenvolvidos, como o Brasil. A atua l simplesm e nte defe ncstrar seu s paradigmas dig-
contestação à arquitetu ra moderna brasileira atin- nos, mas renová-los. Ora, o termo "ren ovar" cons-
g-e seus m i 1.0s, não seus princípios. Essa crítica ta no dicionário com as acepções ele "substituir
tem (iJndamentos e- é precisa em vários aspectos, por um n ovo", "recomeçar", "m odificar para me-
mas por enquanto caracteriza-se mais como uma lh o r ", "con sertar", "restabe le ce r", "revigorar ".
atitude ele reação a uma precisa m odernidade, Nos arquitetos brasileiros, persiste a respo nsabi-
se m apresentar uma alternativa con creta comes- lidade por uma busca conscien te de u m a nova ar-
pessura conceilual consistente. Nos anos ele 1970, ticulação com a reali dade elo país an te as tran s-
o cerceamento ele opiniões confl itan tes, em nome formações no mund o. Uma bu sca por um ftH uro
de uma "un idade estratégica" e "consensual " ele d igno. Nisso, há uma utopi::t qu e túo pode seres-
con tornos nitida m en te ideológicos - em outras tigmatizada.
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Bratke, Carlos, 196 Cavalcanli , !Ié lio Uc hôa, 11 7, 11 8
Bratke, üswaldoArthur, 63, 106, 140, 140, 141, 149 , 185 Cebrace, vPrCe n tro Brasi le iro de Construções e Equipa-
B razil D · ui ld ~ ( expo s i ç~ w , ca tálogo), 9 2, 100, 100-1, 102, mt:"n tos Escola res
105, 107-8, 118, 134 Cecap, ver Caixa Estadual de Casas para o Povo
Brazil, Alvaro Vital , 46, 78, 81 , 85-fi, 86, I 18 Celso, Afo nso , 29
Bre dwre t, Victor, 45 Cen drars, Blaise, 63
...
Índice Remissivo • 2 77

Centra is Elétricas ele São Pau lo , ve r Di visão ele Arquite- Conselho Federal de Enge nh aria c Arq uit etura, 130-1
tura e Urban ismo da CF.SP Constru tora Co111erci a l e Ind u strial d o Brasil, 70
Cen tro Brasi leiro d e Con struções e Equipam e ntos Esco- Convên io Escolar, 173
lares (Ccb race), 174 Coro na, Eduar d o , 174
Cerque i ra César, Roberto , 13 9, 140 Co ron a, Luiz Fernando, 142
CESI' , ver Divisão de Arqu itetu ra c Ur banismo ela CESP Corre io da Manhã (jornal), 44
Chacc l, Fernando Magalhàes, 165; 165-6 Correio Pau lista no (jorn al), 45
Chapli u , Ch arles, 189 Costa, José O swa ldo H en riqucs da, 118
Chateaubriancl , Assis, I O!i; 136 Costa, Lucio, 3R, 48 , !í9, 61, 77-9, 8 0, 81 -3, 85, 89-90, 92,
Choay, françoise , 1 07 93, 9 3, 94- 5, 96 , I 00-1, 103, I 06, I09-1 O, 112-3, 123-
Christia ui & Nie lscn , 64, 68, 70 7, 122-5, 131, 112-4, 177, 18 1, 193-1

Churc hill , Winston, 104 Costa , Luís Ca rl os, J H('i


CIAM , ur
Congrês lnterna tio n aux ci'Architecture Costa, Osvaldo, 49
Mode rne Coutinho, Aluizio Bo .n ra, 7i
Ci ty of Sa n Paulo llnproveme nts and Free hold Company. Cre ig hton, Thoma s, I 08
22 ; 22 Crocc , Af1alo & Gaspe rini , 171 , 196
q Arquitetu ra ( revista), 191 Cro nache di Ar-ch it etlura ( r t>vis ta), 107
Club ele Engeulraria do Rio rk .Jan e ir·u, 18 Cru zada São Schast i:'i o , 180
CN EC, 160, 188 Cuchct, Fran cisque , 61, l:l9
CNPU, uerCom issão N acional de Rt'KiÕes Metr opolitan as C.:ttllu m Brasileira (A), <ic Fer nando d e Azr ved o, 37
e Pol ítica Urba n a Cunha, Euclid es d a , :12
Cudcsco. ver Companh ia de Ocsenvo lvinrenl.o de Conll r- Cuuha,.Jos(; Mar iano Carneiro da, tJer Mari;r no F il hn , Jos~
nidades llAC, v t'r Departa nwlllt> de A r·lJllitctura c Urbanismo,
Comas, Ca rlos Eduardo Dias, 172; 17) Pernambu co
Comissão d e Oc sfave la111en1.o da Prt:>fei tura d e Belo H o - Daly, César, 3 1, 35
rizo n te, 180 Das Nc uc Fra nkfur t (revista), 49
Com issão Nacio nal de Rcg iôes IVIetrupolílanas c Políti ca Dl\ l J, ver Deparlam e ut o de ArqnitTl ll rtl c U rbani smo,
Urh;rna (CNPU ) , 184 Pernambu co
Comissiio para Extinção d e Fave las, 180 !)(• Ch irico , Gi o rg io, Hl0
Comp aguie eles Arts Français, 60 O c bit~g i, Jorge Deckcn. 171
Companhia ~ra s ilera !mo biliária c Construçõcs, 70 Oecade of Conl t>mpora r y Arch itcctu re, d e S iegfriccl
Com p a nhia City. lli!T City o f Sau P a u lo lm p r o veme n ts Ciedion. 105
an d Frcehold Cornpany Uel au nay, Son ia, 15
Companhia Con str u tora de Samos, 47 . 5 1, 55 , 55-6, 66, 77 Dc p artam emo de Arquitetura c Urban ismo, Pernambu-
Companhia de Construçõ es F.sr.olues el o Estado co ( Oi\ U), 84-5; /55
(C:on esp ), 174 Departam e nto d e Corr eios e Telí·)!;r afos, fi!l; 77
Companhia d e Dese nvolvimento de Comunidad es De p a r tam e n to d e H abi tação Po pular· da Prefeitura do
(Cod esco ), 183 Di strito Federal, 11 8, l.1 9 20, 180
Comp anhia Urb auizadont cl<t Nova Capital (Novacap) , 123 [)cp:'lrtamento de Proj e tos Ambi e ntais e d e Arquite t ura
Con dc, Luiz Paulo , 197, 197 d as Centra is Elétricas do Su l do Brasil - Elct r os ul ,
Conesp , un Cu111panh ia de Constr u ções Escolares d o 167, 196
Estado Departamcnlo Nac io nal de Estradas d e Ro dagem , 168
Con fea. ve r Con selho Fed era l de Eng enh aria e Arqu i- De u tsc her Werkbund , !">!í, GO
tetura Diário Nacional (jornal), 45 , 50
C:o ng d :s 1n ter ualionaux d 'Archi tec ture Modern c Dias, Cíce r o, '15
(CIAM), 4fi , 7R, 82 , 105, llfi-6, 121
Dieste, Elaclio, 172, 173
Con gresso Brasileiro d e Arq uitetos, 113, 191 Direto r·ia d e Arquite tma e Cons tru ção d o Pernambuco .
Con g resso de Engenharia e Indú stria, 18-9 ver Departa m ento de ArquiiCi ura c Crhanismo. P t>r-
Cu o Intern acion a l da Un ião Inter nacional de Ar-
g r e .~s nambuco
q uite tos, 18 2 Dire toria d e En ge nh aria da Prefei tura <io Disrl'i to Fede-
Con g resso Pan-Am erica uo de Ar q uite tos, 51 , fí4, 11 6 ral , Rio de Janeiro, 69 , 8 2
218 • A rquiteturus n o Bmsil

Diretoria de O bras de Po rto Alegre, 69 Exposição do Ce n rc nário no Rio de Janeiro, 36


Di retoria dt' Ohra~ Púhl icas el o ~ :st aclu de São Paulo, 66, 6 7 Expositio n Tnl t'rn;Jtio nal e des Ans Décoratifs ct
Dis ney, 'vVa ll , I 00 lndustriels Modcrn es, 54, 59
Divisão d e Arquitetura e U rbanismo da CESP, 165 Faculdade de ArquitetUJ·a da Bahia, l31
Divisão d e Prtidios e Apare lh ame n tos Escola1·es d o De- Faruldade de Arqnill'llll·a da Universidade de Porto Ale-
partame n to dt' f.dnc;rçiio da Prefeitura do Distrito grt>, 130-1 ; ver também Faculdade de Arqn ircrura do
Fe d eral, 67, 68 Rio Grand e do Sul
O:.JER, uer Depart;unt'nto N;Kio na l de t:srrad<Js de Rodagem Fanliclad<· de Arqui tetura d a Uni\'ersielade de Recife, 131
D ormt.\' (revista), I 07-8, 136 Fac uld adt> de Arqu ile l11ra d a Uni versidade do Rio Gran-
Do rfl es. Gil lo , I 07-8 de d o Sul. 146
Duarte, Ilélio, 14 2, 173 Fanildadc de.: Arquitemra d o Rio Grande do S11l, 13 1; vl'r
também Faculdade de Arqu ite t ura J a lJ II ivnsidade
Dubugras, Vinor, 33, 33, :14-6, 56, 60, 149
de Por to Alegre
Duhart, Emílio . 150
Faculdade de Arqu ite tura e U rbau i ~mo da llllivnsidaclc
Earnes, Charles, 104 de Siio Pau lo, 1:10, 11 2, l 4 G, 14R, 152, 154, 166
f:co le Spuia le el es Tnwaux P11 h li cs du Bã liment et de Faculdade de Arqu itetura Mackenz it', 1:w, 148
L' Jndustrie de Paris, 57
Faculdad e Nacional de Arq uitetur<J da U niversidade do
Fhistihs (revista). 107 Brasil , 1?.0, ~ ~2. 141
F.l c me11ti dcll'archi te ttura hmzio nale (Gli ), de Alhrno Facultar! dt- Arq11itertura de Montevidcu, 132
Sarloris, 45, 68
FAP EG, m•r Fede 1a<.:ào das Associações d e Favelas do F.~ta­
El errosnl, ver Departame nto de Projetos Ambiemais e do da Guanabara
ck Arquitetu ra da;. c ... 11 trais Elétricas do Sul do Bra-
F<~ ri <l, Ubatuba de, 2fi
sil - F.le trusul
Faye t & Ar<J ,·,ju, ver Faye t, Carlos Maxim iliano; c Ara(r jo.
ENBA, ua Escola Nac io11 al de Belas Artes do Rio d e J a-
Cláudio Lui7.
nei r o
Faye t, Carlos Max im il iano, 142, 163, i6R, 172, 173
Eng-ineering Ne\VS R euJfd (n·viqa) , 10 7
FCP, ver Fundação da Casa Pop ular
Eq uipe de Arlluitcros, 163. \ltn· tamblm. /\ ,·alijo , Claúdio
Luiz; F:~ y<' l , e;, ri os .Max irn il iano; Marques, Moacyr FECE, ver Fundo Estadual d e Co w; tr uçôes Es cnl <l' e~

Mooj en ; Pe rt>ira, Mign<' l Alves Fe derariio das Aso cia ~ · ões d e Favelas elo Estado da
EmesL, Max, 1t>Y Cnan ::r hara (FAPEC), 183

Escola d t' Arquitetura da TJn iversidad<· de Minas Gerais, Fero lla . .José Eduardo , 195
] ?,() Ferraz , Figueiredo, 169
Escola de 13elas Artt's de Pemawhuco, 131 , 138 Fe.-raz, Marce lo, 197
~ :sco la ele Belas Artes de Salvador. 130-l. 142 Ferreira, Carlos Frederico, l l8, 121
r:sçola d e Engenharia de Porto Alegre, 130, 132 Ferreira, .José. Ma mede Alvt>s. 1m· Mamecle, J osé
F.sco lé! d e Enge nharia Mack<:nzie, 105, 140, 149 Fe JTeira, Múrio L<:al, 26
Esrol<~ de Mi n a~ el e Ouw P1·ew. 18 Fe rro, Sér~io. 152. 1.'>4-7, 184
Escola Nario nal d e Belas Artes d o m o d e .Janeiro , 48. 51, Feniu, Mario, 70
77-8 1,83,85-6,89, 130-1, 142 Figuei redo Ferraz Consultoria e Eng enharia de Pn ut'los,
Escola Pol itécn ica d o Ri o d e .Ja neiro , 19, 29 160, 169
Escritório Técn ico d a Un iversidade d o firC~ s il , 174 Fi gue iredo, Nestor, 26
Escritó rio T écnico F. P. Ra mos d e Azevedo , 35, 37 ~ l il s i nger, Fran z, 58
F.;jJril Nouveau (L) (rt'vista) , 5 1, 56,77 Firme, Rau l Pen na, 67
Estado d e S. Pa ul o (O) Uor·nal), 3 7, 43, 48 Flodercr, 64
Este li la, Lúcio, 137 Flo res, Alben o d e Mell o, 117, 11 8
Iisli:lica (rt'vista), 42 Fonyat, J osé Biua, 142
Esteves, J erôn imo Bonilha, 171 Form (revista), 78
Esrcves, Rcginaldo, 172; 172 Fo ucault, Michel , 155-6
Estrella, T homaz, 88 Frage lli, Marcello, 170, 171
Expo sição do Cen te nário da Revolução Fa rroupilha, 62 , Frago so, Pau lo , 90
62-J, 74, 75, 84 Frarn pto n, Ken neth, 108, 193
....
Índice Remissivo • 219

Fnmck, Klaus, 108 Hanman n, Cristina, 197


Fran co, Luiz Ro be rto Car valho, 139, 140 Ha uss mann, Barão de, 82
Frei r e & Sodré, 65 H ec p , Adolf Fra n z, 136, 137
Freire, Júlio d e Lam onica , 177 Heiclegger, Mani n , 189
Freitas. Be rna rdo Ribe iro de, ~1, 35, 39 JTt"nnebique, Fran çois, 3'1
Fr eitas, Moacyr, 177 Ilidroservicc, 160 , 169,172
Fr t>sn<:>do Siri , Román , 132 Hi tch cock. Ilen ry-Russcll, 108, 112
Fro ntin , André Augusto P au lo d e, 24, 29 H offma nn, .Jose f, 60
Fu ndação d a Casa Popular (FC P) , 115, 118, 180 l lolanda, Sé rgio Buarquc de, 42-3
Fundo Estadual de C onstru ções Escolan~ ( FECE), 174 llolford, William , 123
Cabagl ia, G. R., 29 Tloward , Ebenez.er, 22, 111i
Gabine te de Resi stência d e Materiais, 34 H1-ilm c r, Carlos Alberto , 196, 196
Galbinski, J osé, 175 Huxtahlc, Acla Lo uise , 107
Ca lvão, Rap hae l, 70 1.\B , vt:r InslÍ lll lO de Arquite tos do Brasil
Ca ndolfi , José Maria, 152, 153 Ianni, Octávio, 189
Gandolfi, Ro berto Luiz, 1!'í2 IAPC, ver In stituto de Aposentadoria e Pensões dos
Cardclla , Iguazio, 135 Comerciários
Gardolinski , F.dn•undo, 1 18, 121, 121 IAP I. wr ln sritnto de Ap o s.-uladuria c Pcnsôcs d os
C asperini, Giancarlo, 138-9, 149, 17 1 Industriários
G a t c p <~c, ver Grupo d e Ar tistas y T écnicos Espaõoles IFSt\ , 160 , 169
para el Progreso de la Arquitec m ra Co nte•n p m·;ínca Inda, t elsuu , lu~

Caudenzi, José Américo, 172, 1 73 Instituto Brasil e iro d~ Arquitetos, 36


Gai tll e, Charlcs De , ElO I n stitu to d e posentadri~A Pensôes d os Comerciários
Gelben, Chr istiano de la Paix, 62, 69 , 70 (IAPC), 87, 11 8

C iedion, Sicgfried , 46-7, 1OG-7, 11 1, 1 15 l nMi lUto de Aposent;Jdor ia e Pensôcs dos Industriários
( 1:\1'1) , l i G-7, 116, 121 , 121, 177
Gin sberg, J ean, 136, 137
Gire, joseph. 64, 65 In stituto ele Apose ntadoria e Pensôf's, I 15-6, 1 ~2. l2.'J,
180; 1wrltunhhn IAPC, IAPI, I PASE
Gladosch , Arnald o, 2 6, 76, 75
Insti tuto de Arquite tos d o Brasil ( ti\11), 113
Glusberg, Jorge, 191
In stituto ele Belas Artes d o Rio (~rancle elo Sul , I ~()
Goff, Bruce, 101
Ins tituto de Pesquisa c Plan ~ j a menl o lrh~no rb Ci d ade
Cumes. Elgson Ribeiro, 136
de Curitiba ( IPPUC), 178, 179
Gonçalves, O swald o Corrêa, 174
Instituto d e Previdência do Est<~do de Siio Pa ulo ( IPF.SP),
Cootlwin, Philip L. , 100-1 , 11 !> 174
Corski , .Jo cl , 196, l'.J7
I nstituto de Previdência c Assistência ao, S,.rvidores d o
(~ra <:> f , Edgar, 12:!, 132-3, 1'12, 146 Estado (IPASE) . 118
G•·az, .J ohn , 45 I n~t i tu to Pol itécn ico Brasileiro, 18
Craz, Regina Comide, '15 lnte,·national Styie, de H enr y-Rn sse l Hichcock e Phi lip
Grê mi o Po litécn ico de São Paulo, 34 Joh n son, 108
C r o p iu s, Walter, 55, 69 , 8 1, 104, 106-8 , llO, 136, 146, ln tcrna tiona le Ar chi te ktur, d e Wa lter Gropius, G9
14'.J, 167 IPASE , vn· l n stit:Uto d e Pt·evid ê: nci a e As i stc~ n c ia aos Se c-
Gross, Carmcla, 156-7 vitlores do Estado
Grupo de Artistas y Técnicos l: s p a ilo l ~ s p ar a d Progrcso IPESI', ver Instituto de Previdência d o Esrado de São Paulo
d e la Arq u itectur a Comemporánea (Catepac), 82 JPPUC, ver l nsti t11to d e Pesqu isa e l'la nejamenw Urbano
Guarda, Gabriel, 150 da Cidade d e Curitiba
Cuecles, Joaquirn , 152, 152, 1R6, 186, 197 I rrniios Roberto, 86, 106, 131, 112, 168. Ver lambhn Ro·
Guim arães, .An to n io Hugo , 61 beno , Marcelo, Maurício. Milton
H abitat (revista), 130, 136 .Je :~n nc ret , C:h arles-Edo uard, va Corbusier. Le
Hardlich Fi lh o, Amo, 171 .J ca n nen: t, Pierr e, 99, 99
H an ly, Álvaro (Veveco), 195 Jw cks, Charlc ~. 110, 190, 193
220 • Arquitelltms no Rrasil

J e n ncy, W ill iam Lt> fbron , 63 Maekawa, Kun io , 101


J oão VI, Dom, 29 Maffei, Wa ltcr, I 69
J o h au sen , .Joh n , 104 Mag alhães, Sé rg io , 197, 197
J ohnson , Philip , 104, 108 Maia, Éolo , 195 , 195
J nurnal a rR IBA (revista), 11 0 M<lia, Franci sco Prestes, ver Prestes Maia , Fra n ci.~ co

J u liano, Mignt>l, I!íl Malch er, Gama , 68, 68


Kamimtn·a, Massayoshí, 151 Malfatti, A.nita, 42, 45
Kassardj ian , Dicra n , 17 1 Mallet-Steve n s, Roh , 67
Kat insky, Julio , I !í I , 156-7, 165 Ma lnwx, André. HlY
Kiefer, Flft vio , I 06, 197 Mamcrlc , J osé, 30
Kirchgãssucr. Fred erico, !'J7, 57 Mange, Ern st Rohcrt d e Carvalho, 165-6, 174
K1 abin, M i n <~ , 44, 49 M;1riau o Filho , .José, 36, 3H . 4 3, 53, 6 1-2, 66-7, 78-9 , 96
Kn t"t"Sf' ri~: Mello. Eduardo, 18, 118, 174 Mari nho, Adhe milr, 85
Kõnigsucrgcr/ Vann n cchi, 196 Marques, Moacyr Moojcn , 163, 195. 196. Ver Lllmbém
Korngo ld, Lukjan . J::l5, 135 Equipe de Arq uitetos
Kru tcr, Mar cos, 118, 121 , 121 Mars , 82
Kubitsc h e k,Jusce lin o, 25, 96, 100, 114, 123, 126, 141, Manin clli , Giuseppe, 63-4
Hi0- 1, IRO Marx, Roberto Hurlc . Ver Bu rle Marx, Roberto
Kun s l ~c hul e dl' lk rli m, 5 7 i'vlascare llo, Elyseu Victo r, 171
f.andscafJe ATchitt'clure ( rnista), 107 Matarazzo Neto, Fran cisco , I OI
l .anf!.uagP of Po ~t - 1 no ri Pm Arrhill'c/uu (Tht'), de Charl <:s Ma ta razzo Sob rinho, frandsco, 106
.Je nc ks, 110 Mathias, Alfredo , 13!-l
Latin AmCI·i can Archi ten u re sincc 1945, de Henry- May, .t::rnest, 4(); 54
Russcl Ilitchcock, 108
Meio·, Golda, 198
Lavcrgn e , Gérard , 34
Meister, Rube ns, 142, 142, 17!)
!.e Corh usier, 1fí-8, fí 0-2, 5 4, 56, 59-60, 67, 7:',, 77-?12, ?14-7,
Me ll o, Ícaro d e Castro, 164
80-02. 95,99. 99, 10 1, 104, 10G, 110, 11 3, 116, 118-9,
12 1, 123, 125, 132. 136, 14l-6, 148-!'J I , ló7, 173 Me ll o, João Vicente Am aral , 182

Leal, J ost>, 171 Melo , Vita l Pessoa de , l T:.!, 172, 197

Leal, Waldir, I IR Me111Úria, Archi mcd es, 61; 89

1.eão, Carlos, 78, 80, R9 Mendelsohn , Erich , 101

Lt>fevre, Rodrígo, 152, 153, J 56 Men d o nça, Carlos Alberto d e Holanda , 142

Legorreta,Juan, 11 2 Mera, Adiou, 1H2

Lei é, vn- Li on a, João Filgueiras Meyer, Adolf , 5.'í, 136

Lemos, Carlos A. C., 141 Meyer, Mal'Cus Vinícius, 176

Leoll(', Umbe n o, 165 Mies van der Rohe, Ludw ig, 81, 101 , 148-9

Levi, Rino, 43, 56, 61, 64 , 106, 1 16, 123 , 1 ~l8-9, 139, 40, Mi ll a n , Carlos, 150-1, 150
143, 149-50, !til , 196 Mindlin , H enrique , 102, 105, 107, 11 3, 123, 136
Liga Pró-Saneame n to do Brasil , }6 Miran d a, Alcides da Roch a, 131, 133
Lima, Attilio Corre:iil, 26, 62, 88, 101 , 11 !>, 117, 118, 12 1 Modern Arch itecture in Bra7.il, d e H e nrique Min d lin , l07
Lima, João Filguciras, 177, 197 Moclcrn fi :~uformen (revisla), 78
Lindbergh, Charlcs, 189 Modesto, H e lio, 118
L ipchi tz,Jacqucs, 45, 92 M ódulo ( revista) , 109 , 130, 143, 152, 191
Lohato, Monteiro, 36, 42 Moh o ly-Nagy, Sybyl, 107
Lohwcg, Julius, 58 Mon te, Milton , 192, 193
Los Campos, d e, J ~2 Mo nteiro Lobato, .José Bento, ver Lo b ato, Monteio·o
Luís, Washin g ton, 23 Mon teiro Neto , João Am o nio , 58
MacFacldcn, Robe rto, 171 Mon tig n y, Auguste H en ri Victor Gra ndjean de, 30
Macke nzie College, 18, 130 Moraes, Dácio Aguiar d e, 45-6
- Índice Remissivo • 22 7

Moraes, Léo Ribeiro d e, 101 Ozenfant, Arnédée, 56, 77


Moraes, Neto, Prudente de, 42-3 PAAI., 171
Moraes, Sé rgio de, 177 Paiva , Edvaldo Pereir a, 26
Morales de los Rios Filho, Adolfo, 132 Palanti, Giancarlo, 123, 135 , 135
Moreira,Jorge Machado, 81, 8R-9, RY, I On, 123, 13 1, 174, Pampu.lha (revista), 194
175 Pani, Mario, 106
Morowwki , Edi~on , 153
Papadaki, Stamo, 107, 123
Morozowki, Eve r ~o n , 153
Parada, Sérgio Roberto, 169
Morpurgo, Vi torio , 90 Parkcr, Bari'}', 22, 65
.\1ota, Francisco, l 69 Passos, Francisco Pereira, 19, 24, 82
Motta, Arthur, 36, 77
Pasta, Hélio, 164-5, 165, 166
Motta , Flávio L, 144, 156-7
J'J)J•: ver Revista cht Diretoria de E ngenharia.
Moura, Luiz Eduardo Frias de, 76 Pedrosa, Mário, 106, 1 08, 112, 122
lvlovimentos Urbanos no Rio dejaneim, ck Ca rl os Ndson Pcnna, Gustavo, I ~J5, l .'J5
Ferreira dos SanLOs, 18~
l'emeado , Ernani do Vai, 88
Moya, Antônio Garcia, 18, 13 , 60
Penteado, Fábio, 151. 181, Jfll
Musa, Edison & Edmundo , 196
Penteado, H élio , 165
Nascimento, Paulo Sérgio, 192
Pereira, Migl.tel Alves, 163. Ver também Equipe de Arquitetos
Nassau, Maurício de, 83
P cr ón, .Ju a n Domingos, 190
National Evil and Pranical Remedies, \~ li th The Plan of
P nón, Maiia Estda, 190
a Model Town, de ] am es Silk Buckingb am, 11G
Neruda, Pa blo, I R9 Perret, Auguste , 58-60, 7:\

Ncrvi, Picr Luigi, 107, 149 P eny, Clar ence, 116, 125

Netto, Luiz Forte, 152, f 5 '3 Perry, I.11iz F. du ~rdn, 153

Neutra, Richard, 107, 140 , 149 Persico, Eduardo, 136

Neves, Christiano Stockler das, 58, 60, 75, 75, 79 l'ese nti, Cesar e, 34

Ncvcs, Josf Mar i~ dil Sil va, 67, 67 f'evsner, Nikolaus, 107-8, llO, 198

Neves,Júl io, 171 Piacen ti n i, Marcello, 60, 67, 74, 90

Niemeyer, Oscar, f\1 -2, 85, 88-9, 93, 94-5, 96, 97, 97, 98, 98, Pi casso, Pahlo , 189
99, 99,100-1,104,106-9, 109,1 10, 112,123,130- 1, l'ileggi, Sérgio, 15 1
133, 139-'11, 117-9,152,161, 171 , 173,190-1,194,197 Pill on, Jacqucs, 136
Nitschc, Marce lo, J5fi-7 Pinh eiro, Israel, 123
Nixo.n, Richard , 160, 190 Pirandel lo, Luigi, 63
Novacap, ver Companhia Urbanizadora da Nova Capital, Plan em ak, 166
123
Podestú, Sylvio, llJ:)
Nuestra Arquitectura (revista), 107
Poelzig, L-lans, 138
Nunes, Luiz, 62, 81, 83-5 , 84, 85
l'olillo, Raul de , 53
ODAM, va Organização em Defesa da Arqu itetura Mo-
Politécnica de Milão, 135
der na
Pon ti , Gio, 107, 136
O'Corman, Ju an, 104, 112
l'onLUal Arquitetos, 196
O h take, Ruy, I !J I , 152, 156-7, 197
Portinari, (;ândido, 92, IOFi, 11 2
O liveíra,.Juscelino Kubitschek de, ver Kubitschek, Jusce-
lino Portinh o, Canneu, 78, 81, 118, 12 1

Oliveira, Siclney d e, 174 Porlo & Ribeiro, 191

Olmsteacl, Freclerick Law, 111 Porto, Rn b ens, I 16, 776

Organização ern Defesa da Arqui tetura Moderna (00/\M), Porto, Severian o, 134 , 19 1, f 92
13() Ponoghesi, Paolo, 104
Oscar N ierneyer: Works in Progrcss, de Stamo Papadaki , Po·rtugália (revista ), 35
107 Prado, Car los d a Silva, 51-2, 52
Oud , Jacobus J P., I I O Praesens ZP, S2
222 • Arquiteturas no Brasil

Préci sions Sur un Ét<tt Présent dt> L' Architccnu-c e t d e Rodrigu es, José Wasth , 111' r Wasth Rodrigues, .José
L' UrbaHisnw , deLe Corbusier, 78 Rod ri g ues, Sé rg io, 142
Prcn ti ce & Floden~ r . (i;f , 66 Rog<:: rs, Ernesto Nathan, 10'1, 10 6, 11 0
Prestes Maia , Francisco, 25-6, 26 RooseveiL, Franklin , I 00
Pmble ma da Habitação Higiênicil nos Países Qu e ntes Rotiual , Manricc, I 16
em F ace da "Arq ui tetura Viva, <k Aluizio Bezt'rra
Royal1ustitute of IJritish Arch itects ( RIBA) , 110
Coutinh o, 78
Rubem Pono, 116
Problewa das Casas Opc:ní ri <ts e os Institutos e Ca ixas de
Pensc"w s, de Rub<'ns Pono, 116 Rudol'sky, Bernard , 107. UH, 734

P rog•·essive Arcl tilnl ur<' ( revista), 107-8 Rudol p h, l'<tu l. 104


l'mjPIO (revista ), 193 Russell, 13enranc.l, 18!)

Prom on Engenharia, 160, 170, 170, 17 1 Russo , Má rio, 138, 1J8

Przyrcm b el, Georg, 36, 43 Sá, Ag osti n ho, 116, 71 6


PucuLe y 'l'ourn ier, 1 ~2 Sú , Auc.lré, 169
Pu jo l Jú n ior, IIyp polito Gustavo , 3'1 Sá, P<tul o , 82, li G, 11 ó
Quando a Rua Vim C:a..lf1, de Carlos Nelson Fen-eira dos Saarinen, Eero, l 04
Santos, 18!"i Saka kunt,.Junzo, 104, 106
Ragon , Michel, I 07 Saldanha, Firmino, 90
Ramalho J r. , J oel, 1!>2, 153, 1 71 Salgado, Plínio, '19
Ramos, H<'rcu lan o, 30 Sampaio. Carlos, 25
Ramos, Milton . 169, 169, 197 Sanrovski , ls•·ael, 17 1
Real Aca clc·mia d e Belas Artes de Berlim , :\0 Sanovicz, Abra h ão , 1!) 1, /52
Real Escola Supe rior de Arq nitc tu r<t c.l<:: Ro ma, 4:1 San t'Auua jr., Amonio Carlos, 190
Rebou (as, Oiógcn es, 142 San tana, Man uel Pcrcz, 177
Rêg is, Fhívio Amilcar, 1'12 Sant'Elia, An ton io , GO
Rêgo, Flávio Mariuho , 1 18 Santoro, Filinto, 32
Rc idy, !\lfon so Eduardo. 62. 78, 81 -2, f/2, 89, SY, ~ I , I 06, Sautos, Carl o s Nelson Ferreira dos, 182-3, lS!"i, 187, 18 7
1()6, lOR-0, 113, 118 .119, 123,131, 139, H 2, 14!l, 181 San tos, José Antônio Le mos d os, 177
Rt>if, Victor, 138 San tos. Renato Mesq uita elos, 88
Reis. Aarão, 19 Sara iva. Pcdro Paulo de M<'llo, 151
Re is, F ran cisco Assis , 776, 197 Sar no , BcnitO, 180
Re is, Jos<·:, XR Sa rtoris, Albeno, 45, 68, 107
Revista da Di retoria d e Engt> nh ;Hia , R1 Saturn in o ele' Rrito, Fer nando, uer Brito, Fernando S<ttur-
Revista Po lytechn ica, 33-, 5 1, 5!) n ino rlt>
IUHA .fottrnal (revista) , 107 Saturnino de Brito, Francisco Rod•·igu es, 20, 21
IU~A. ver Roya l Institnte o f British Arrh itects Seasso, J m111 Anton io, I 32
Ribe iro, D; tn:y, 175 Scharoun , H ans, 110
Ribe iro , De méu·io, 11 2, H 2, 115-6, 173 Schreiner, Luiz, 30
Ribei •·o , En ilda, 113 Seidl er, Harry, 139
Ri beiro, Má•·io Emílio , 191, 192 Semana d e Arte Moderna d<:: São Pau lo (1922) , 36, 42-
Ribeiro. l'aulo Antunes, 123, 112 1,18,55, 60
R i<'"gl, Alols, 11 '1 Seminário so bre Desenho Urba no n o Brasil, 185
Ri ssin , Marcos Mey<:: rhofer, 182 Sere te Enge nh aria, 178
Robcn o , Irmãos, 116, 123. lft'r também Ro berto, Marce lo; Serpa, Hum I.><:: no, 176
Robcn o , :VIíiLOn Sen, J osé Lu ís, 106, 11 5-6, 118
Rob<::rto, Marcelo, 86-7, 86- 7, 101 Se r viço d e Recuperação de Favelas, 180
Roberto, Milton , 86-7, 86-7, 101 Serviço do Patrimô ni o H istó rico e Artístico Nacional
Ro binson , Ch arles Mulford, 11 6 (SPIIAN) , 85, 96
Rocha, Paul o Me n des da, 15 1, 156-7, 157 , 181 , lf/1, 197 Serviço Socia l Con n·a o Mo cambo, 180, 182
Roder, Samuel , 65 Severo, Ri cardo, 35-6, 36, 38-9, 43
Rod rigu es, J ai me Fo n S<:C<t, 11 6, 116 Siegen, Ka r l, 58
- Índice Remissivo • 223

Sig norelli, Luiz, 62, 71 T e rragni , Giuseppe, 60


Si lva Te lles, Francisco Teixeira da, 77 Testa, Clo rinclo, 150
Silva Telles, Jayme da, 51 , 56, 77-8 The Arc hitects' Journal ( revista) , 107
Silva, I::néas , 67, 68, 70, 8 1, 83, 88 The m ag t:ngenharia , 160, 169
Silva , José Loureiro da , 26 Thiese n , Fleming, 64, ófí
Si lva, José Theodul o da , ll7 , 117 T ibau,José Roberto, 174
Simôes, P e reir a , 30 To ledo, AugustO de, 33
Simonsen, Roberto Cochrane , 47, 55-6, 77 Tomorrow, de Ebenezcr Howa r d. 1 16
Siqueiros, David , 189 To rres, !viário H. G., 117
Si t·i, Ro mán Fresnedo , l ll'r Fresnedo Si ri, Román Toscan o,João Walte r, 14\:l, l.'i l , 151, 197
Siue, Cam ill o , 2 1 Toscano, üdiléa, 15 1
Sive, And ré, 123 Tozzi, Décio, 151
Sm ith , G. E. Kidder, 100 '11-abalho lvlorlemo (0 ), d e Roberto Simonsen , 55
S ntit.hsott, Alison, 104, 150 Trienal d e Jvlilâo d e 1936, 1 3~J - 6

Smithson, l'eter, 104, 150 Tsé-Tnng, Mao , 190


Sobial , Aua Maria, 182 Tsukunw, Nina Ma t iaJnnra , 166, 167

Sociedade Eugênica d e S. Paulo, 36 Tur n e r, J o hn , l H3


Sotiro, Rtll<llo , 88 U IA, ver Union lnter natíonale d 'i\ rchiteclcs

Souza, Erdlio, /fi/1 U nion Internationale eles Ar c h ilecles (UIA), 11 5, 182

Souza, J orge Félix de, 63 Unive rsidade d e Brasília, 131 , 133, 146, 175, 177-8

Souza, Nelson, 1 13 Universidade Fe d era l do Cea r;:L (curso d e arfjHil etnra) ,


13 1, 133
Souza, \Nashi ngtnn Luís Pen ~ ira ele, t1m- l.u ís, Washin gTOn
Uni ver sid ade Federal do Parú (curso dt arquitetura),
Souza, Wladirni r Alves de, 67, 88
131, 133
SPHA:'\, ver Set·vi(o cln Pittrirn ônio llistÍlrico e Artís tico
Universiclaclc Fed e ral do Paran:L (curso de arquitetura),
'lacional
131. 175
Ste in , Cla rence , 125
Unwin, Rayrnond , 22
Ste inhor, Eugenio, 132
Urbanisme, d e Lc Corbu sier, 77
Stntvinsky, I~or , 180
Utzon, Jorn , 104, 110
Strneler,Jo:io Rodolfo , 166
Vallandrn, Jn;;o Jns<':, 19!), 196
Stubbins, IIugh , 104
Van Eyck , Aldo , 104
Sul ac.ap, lJer Sulam érica Capitalização Vargas, Getúlio, 23-4 , 49, 66, 74, 76, 78, 89-90, 92, I 00,
Su lambica Capitalizaç<i.u (S ulacap), 72, 72, 75 112, lJ4-5, 159 , 164
Surraco, Carlos, 132 Vasco n cellos, Er nani, 8 1, 89, 89
Suzuki, Marcelo , 197 Vasconcellos, Maria Josctlna d e, 195
Svensson. Frank, 1 77 1'Í'n une A â úl!iâuni, de Lc Corbusic r, 52, 78
Szilar d, Adal h erto, 64 Vianna, An toni o Ferreira, ~ 1
Tange. Kenzo , 104 Vianna,Jamcs Lawrence, 197
T a ul, Brun o , 13H Vicgas, Renato, 1 TI
Taylor, Frecle ri ck Winslow, 47, 55, R3 Viganô, Vi ttoriano, I 04
Tec hniques et Arch itecture (revista ) , 107 Vigli ecc.a G ani, Heclor, 188
Tec hní sclw Hochschnlc d e Ikrlim-Gh a rlo UcnlHLr g, 13R Villa Lobos, He itor, 49, 1Ot>
Tecwn, 82 Vil! à , Juan, 197
T eixeira, Anísio. 49 , 67, 83 , 175 Villagrá n García, José, J 12
Tel e~, Francisco Teixeira da Silva, ver Silva Telles, Fran- Vilam:_j<\Jn~ , 132
cisco Teixeir a da Villanueva, Carlos Raúl, 11 2
Tclles, J ayme da Silva, ver Silva Telles, J ayme da Villavecc hia, Luigi, 17 1
T c ncnge, 160 Viscomi , Affonso, I 16
T e nnessee Valley Autho rily. (TVA), 164 Vital Brazil , Álvaro, oer Brazil, Álvaro \'ital
'J'eorie e Storia Dell'architeltum, de lvla nfredo Tafur i, 110 Warchavch ik, Gregori, 44-5, 45, 46 , -//. -!~9. :l~ . 33-= -
Terra roxa c 01nras terras (re vista), 44 7, 72-3 , 77-9, 81 , 96, 10G, 111 , 1 ~ 9 . H9
224 • Arquiteturas 1'10 Brasil

Wasth Rodrigues, J osé, 37 Wright, Henry, 125


Werk (revista) , I 07 Yam asaki , Min o r u, 104, 190
Whitten, Roberl., 116 Zan cttini, Siegbcrl, 151, !52
Wiedersphan, T heo, 57 Zerhfuss, Bernard, 104
Wilhcim, J orge, 178-9, 180 Zcncl, .J ayme, 17 1
Wisscnbach, Vicente, 194 Zcvi, Bruno, 104, 107-8, 11 0, 149
Work of üscar Niemeyer (The) , de Stamo Papadaki, 107 Zimbres, Paulo, 175, 177, 197
W ri g ~ lt, Frank Lloyd, 60, 79, 81, 104, 149 Zodiac (revista), 107

Títuio Arquiteturas no Brasil


Autor Ir ugo Segawa
Produção Julia Uoi
Projeto Crájico ll•l aria Cristina Bugan
CajJa Lígia Eluf
EditomçâoE/et•·ônica Studium Gcnerale
I ~'dito r açõ.o de 'Texto Alice Kyoko Miyashiro
Reviscio de Texto Valéria Franco Jacintho
Revisão de Provas Ricardo Miyake
Divulgaçcio Regina Brandão
Guilherme Maffei Leão
Aline Frede rico
Seaetaria Editorial Eliane F. dos Santos
Formato 22 x 27 em
Mancha 16 x 22,5 em
Tipologia Ncw Baskerville !O/ 14
PajJel Cartão Supremo 250 g/m2 (capa)
Offset Pigmentado 85 g/m 2 (miolo)
Número de Páginas 224
Tiragem 3 000
Fotolito Macin Calor
Impressão e Acabamento Imprensa Oficial do Estado

A Edu1p é ofiliodo 6

~I>
IWOCio\ÇAO t.:IASlEIAA. OE Of!E:ITO$ REPROGAÁACOS
CÓP IA NÃ O AUTORIZADA ' CR I ME
,.-~ -

Arquiteturas no Brasil, ao mesmo tempo que


traça um panorama do período pós-Guerra,
considerado o apogeu do prestígio
internacional da arquitetura brasileira, narra
as realizações da época e examina seus
principais protagonistas - entre os quais Lúcio
Costa, Oscar Niemeyer e Vilanova Artigas. Ao
investigar as relações externas e internas dos
arquite tos e da cultura arquitetônica do
período, o autor estabelece um quadro
referencial que balizou o desenvolvimentismo
nas décadas de 1950 a 1970- ascensão e
ocaso de uma arquitetura que mergulhou
num período de incertezas e ausência de
rumos, característico da chamada "década
perdida": os anos de 1980.
Esta obra constitui, desse modo, uma
leitura inovadora em vários aspectos das
conquistas, das polêmicas e também dos
malogros d a aventura de construir
espaços, ·cidades e edifícios num país em
formação e em busca de afirmação.

H uço MA.SSAKI SECAWA é professor do

Departamento d e Arquitetura e Urbanismo da

Escola de Engenharia de São Carlos,

Unive rsidade de São Paulo. Autor de Ao A mor

do Público: jardins no Brasil (São Paulo' Studio

Nobel, 1996), co-a utor d e Oswaldo Arthur Bratiu

(São Paulo ' Pro-Editores, 1997), Casas

Latirummericanas (Méx ico: Gustavo Gili, 1994);

editor de Arquiteturas no Brasil/ A nos 80 (São

Paulo: Proje to, 1989).


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IS BN 85- 314-0445-2

111111111 11 1111111111111111111
9 78853 1 404450

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