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981,511
S587c
AnnyJackelineloires Silveira 1:335
BeloHorizonte
Faculdadede Filosofiae CiênciasHumanasda UFMG
1995
Dissertaçãodefendidae aprovada,em 29 dejuoho de 199~.pelabancaexaminadoraconstituída
pelosprofessores:
Pro! ReginaHortaDuarte
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À Dirceu Goulnr1Silveira.
que 11111dia me contou histórias de outros cafés.
outros homens. de mn outro lugnr.
de há muito tempo ntuis.
Agradeci1'fent0$:
(CulM Dru,,,11101ld)
Sumário
Introdução.........................................................................................
01
11-Fabrl.cll1l.do
reflexos....................................................................
72
UmJJcapitaldesonhos................................................................
76
Oscafésnoespaçoda cidade.....................................................
98
111-Acidadeparaalémdoespelho.................................................
129
Osdoisdiscursossobrea cidade...............................................
134
Lugaresde civilidade
.................................................................
143
Oshomense os cafes................................................................
.162
Considerações 2.53
Jinais.....................................................................
.Anaos............................................................................................
277
Bibliograji,a...................................................................................
280
INTRODUÇÃO
&a ainda no tempo dos ''ficus", de uma Belo Horizonte de dois
andares, de ruas vastas perfumadas a magnólias, de cidadãos funcionários
públicos, estudantes, e os quase s~e esquecidos cidadãos operários. Tempo de
uns rapazes cheios de idéias, de projetos, de desejos e de vida, que gastavam suas
horas em discussões literárias regadas a cerveja ou café e àgua eme as mesas
redondas de mánnore de certos cafés da capital. Tempo em que os políticos,
buscando avaliar a repercussão de seus atos; junto à população, mandavam
proceder a uma "pesquisa de opinião" na porta das casas de café. Cafés onde os
operários esqueciam as angústias do dia, se divertiam entre goles de diferentes
bebidas, ou trabalhavam pela uniio da classe na luta por seus direitos, e por isso,
rrnJitas veus, eram levados ao xadrez. Tempo em que respeitáveis senhores e
jovens da alta-roda protagonizavam escandalos entre a sociedade, ao se
apaixonarem pelas coristas que se apresentavam nos cabarés e cafés-concerto da
cidade.
Casas de café não faltaram àquela jovem capital dos anos dez e vinte.
Aftnal, uma cidade que se queria moderna e cosmopolita, como estampavam as
plmu e discursos dos responsáveis por sua construçio, não poderia dispensar a
presençadesse tipo de estebelecimento comercial, vitto por m1ito1 homens da
épocacomoverdadeirotímbolo de refinamemo
e civilir.açio da IOciedade.
A bem
da verdadeOI cafél nlo erammencionado,pelOI idealizadoretda nova cidade.
Pua o lazerpúblico el• haviamdelltinadopraça•,avenidu, pradode corrido,
Introdução
3
Mas, assim como as próprias cidades mudam com o correr dos anos,
seus cafés também nlo serão elementos estáticos. Afinal, se esses
estabelecimentos emergiram ligados às transf onnações sociais que atingiram a
sociedade e o mundo urbano - por volta dos séculos XVII e XVIII no continente
europeu, e no século XIX no caso do Brasil - e se é possível considerar que essa
sociedade e o mundo urbano estão em movimento constante, em uma sucessão
contínua de novos momentos, os cafés também serão atingidos por essas
mudanças. É o que se verifica em Belo Horizonte [e ainda em outros importantes
centros do país] no decorrer das década&ide quarenta e cinqüenta, com a crescente
substituição dos antigos café5-sentados pelos pequenos estabelecimentos que
serviam a bebida exclusivamente em balcões. Através da supremacia alcançada
por esses cafés de balcão entre os novos estabelecimentos abertos nesse periodo,
é possível perceber e sinalizar outras transformações no contexto social e urbano
da capital mineira.
mudanças que atingem os antigos cafés da capital, mas também a relação que elas
guardam com as transformações que a própria cidade atravessava. Novos
discursos inauguram um novo tempo - o da modernização - e os estabelecimentos
de café mudam para acompanhar a nova realidade e as novas necessidades da
cidade e da sociabilidade de sua população.
Mas, arraial acanhado, o Curral del Rei não tinha lá esses luxos, afinal,
talvez não tivesse nem mesmo freguesia suficiente para ocupar durante cada
diferente hora do dia, e diariamente durante os anos, um bem montado salão de
café. Ía-se vivendo, porém, com uma ou outra venda de produtos sortidos. Se a
falta de uma casa de café não incomodava os habitantes do lugarejo, seria algo
insuportável para os primeiros visitantes do local, logo que, definido como lugar da
nova capital do Estado, começaram a ser executados os primeiros trabalhos para
sua construção (2).
Se na Europa isto era wna verdade, então, neste caso, nosso cronista
estava certo: para se tomar uma grande capital '' ... falta-nos também o café".
Porém, diriaaindao mesmo cronista:
Mas qual era a origem dessa associação entre a imagem que se tinha
de wn "mundo metropolitano", "civilizado", "cosmopolita", e os estabelecimentos
de café? O que fez o café surgir ou ser tomado como um lugar privilegiado,
destacado dentro do espaço público das cidades (ô)? Algumas explicações para
estas questões podem ser pensadas a partir do acompanhamento e da análise a
respeito da instalação e da difusão desses estabelecimentos no contexto das
cidades.
Um modelo de civilização
Durantewande
parte detse século XVII,o café leria con1idendo wna
rara e can, e por i110,restrita •• malso,u .Ugmt•s.
bebida de luxo, extremamente
O cafl e a imagem de civilização
11
A absorção deste costume oriental pelas cortes européias estaria ligada a uma
imagem de aprimoramento e requinte dos comportamentos sociais. Cercado de
normas e regras, o hábito de oferecer o café nas reuniões era visto como um
refinamento do estilo de vida. A delicadeza e opulência dos utensílios em que era
servido deveriam intluir nas maneiras e nos usos, na sensibilidade, nos padrões de
delicadeza e polidez destas classes privilegiadas. Muitos homens desta época,
veriam esses contatos com os hábitos orientais como verdadeiros motores de uma
grande mudança nos padrões de comportamento. uma verdadeira revolução.
Escrevendo sobre a cultura e a sociedade francesas das primeiras décadas do
século XVIlI, 1-fichelet aporúava:
F.m vários dos autores que analisam as casas de café que pontuaram o
continente europeu, esses estabelecimentos aparecem como um dos indicadores de
toda aquela gama de mudanças que atingiu a sociedade no decorrer dos séculos
XVIl e xvm. Ou, mais especificamente, o hábito do consumo do café, seja em
ambiente privado ou público, é apresentado como uma das formas pelas quais é
possível notar o processo de dissolução da sociedade de ordens e das
transformações sociais e culturais que a acompanharam (16). A nova bebida criou
outros gnipos, formas e lugares para o contato e a troca social entre os homen5,
burgueses e familiares inicialmente. extendendo-se mais tarde aos outros estratos,
transformando-se, por fim. em uma "instituição" da vida urbana. Esses
estabelecimentos de venda pública de café passaram a substituir alguns dos
fonnatos da vida associativa aristocrática reinante até então, como por exemplo, os
salaes patrocinados pela nobreza (17).
dos séculos XVIl e XVDI até os nossos dias. Como em outras análises, neste
trabalho a sociedade do antigo regime é apresentada enquanto uma formação
profundamente fechada e hierarquizada, onde os comportamentos em público são
ritualmente ordenados e a troca social entre os diferentes estratos é bastante
restrita. Cada pessoa ou objeto era classificável, possuindo um lugar determinado
dentro de urna ordem natural. Isto significava a existência de um esquema pré-
concebido, dado de antemão, organizando a sociedade e as relações que se
estabeleciam em seu interior. Havia entre a camada burguesa um desejo de
ascenção ao "status" social da nobreza, de participação no intercânbio do mundo
social fechado da corte e, por isso, um certo empenho em ocultar as mas origens.
padrões de comportamento ela estaria oculta. Além das mudanças na forma como o
contato se dava e era percebido pelos indivíduos, no modo de estar em público e,
também, no próprio público (alargado a novas camadas da sociedade), outras
esferas da vida humana seriam atingidas. A nova ordem econômica agia também no
âmbito da vida material, fazendo com que certas "marcas públicas" da velha
sociedade fossem perdendo suas "formas distintivas", como exemplifica
SENNETT (1988) no que se refere ao vestuário (19).
Elitista, esta noção sobre o que era ser civilizado, acabou por tomar
persistente também, a imagem da cidade enquanto local de civilização,
identificando cultun e urbanidade em oposição ao nístico, ao natural, ao
provinciano (22). RONCAYOLO (1986) aponta que na tradição clássica da Europa
a cidade já aparecia como "lugar da cultura". Essa seria uma idéia presente
também em alguns estudioso• dai cidade■ em íans do século XIX e nas primeiras
décadas deste. RONCAYOLO (1986) afirma que O. Spengls [1918-22)
comiderava (fie "todu u culluru nasceram na cidade e que a história do rmmdo
(oposta i da lunanidade como espécie) [en) a história dos citadinos" (p.422).
O cofl, a imagemd, cívílizaçio
34
- nos moldes de Paris e Londres. Esses cafés funcionavam mesmo como uma
verdadeira vitrine, onde se expunha o modo como os homens queriam ser vistos, e
aquilo que gostariam de ser:
O Brasil e a civilh.ação
sociedade, as suas instituições, a sua economia, sua cultura e seu estilo de vida,
entre outros. Na segunda metade do século novos fatos vieram agir de fonna a
extender e a aprofundar essas mudanças, como por exemplo a abolição, a
imigração, a instauração do regime republicano, o comércio e o desenvolvúnento
de uma incipiente indú~ia. Essas mudanças produziram consideráveis reflexos nos
centros urbanos brasileiros, em alguns de uma maneira intensa e abrangente, em
outros de uma forma mais branda e lenta, e por isso, às vezes menos visívei~
reflexos que também seriam observados em relação às casas de venda pública de
café existentes em certas cidades do país.
Seguindo e1N1 dado• ele apora: para o ano de 1792 foram contadas
trima e mu cau1 ele car,
nac,iela capital. Em 1794 havia vinte e seis caH1 de
O cefí , a lmqem d, civilização
37
café e licores e, em 1799, quarenta lojas de casas de café. Para este último ano,
porém, o número de tabernas listadas na cidade era muito superior, cerca de
trezentas e trinta e quatro (p.361). No entanto, apesar de constarem nesses
almanaques sob rúbrica diferenciada, é diflcil tentar detenninar distinções precisas
entre estes estabelecimentos, principalmente pela falta de descrições que nos
informe melhor sobre o ambiente e também, os produtos que eles ofereciam (24).
►
O c4' • tl imq~m d• civiliHção
39
■etoru ■ociail.
O cq/1, 12 lma6"" d, civilização
44
"terra arrasada", nada do que constava do velho arraial - ruas, praças, edificios -
estava presente nas plantas e croquis apresentados pela Comissão Const.rutora. O
adjetivo de moderna, com o qual se queria qualificar a capital, passava, em certa
medida. pela idéia do novo: uma nova cidade (sem passado), nascida da
instauraçio de um novo tempo (a República) voltado para o progresso, o
desenvolvimento, o futuro (32).
Seguindo
os dadosapresentados no trabalho de GO:MES (1989) sobre
os antigos cafés da capital do Rio de Janeiro, é possível perceber um aumento
considerável no mímero de estabelecimentos do gênero abertos naquela cidade, a
partir das décadas finais do século passado e início deste. Crescimento que se
refletiria também na cp1alidade destes estabelecimentos - na decoração, nos
produtos, nos serviços postos à disposição do público. Casas de café que, em
grande parte das vezes, buscavam seguir o melhor e mais famoso modelo de bom
gosto e de refinamento eme este tipo de estabelecimento, o já citado Café Procope
de Paris.
uuropretano, e que, como deixa perceber, estavam m•lito além daquilo que oferecia
a velha sede do governo mineiro.
Tanto para São Paulo c~mo para o Rio de Janeiro, esse processo de
tranformações e de crescimento urbano se tomou maii acelerado nas décadas finais
do século passado: Como foi mencionado, ele estava relacionado à abolição da
o cef, , a /magtm dt clvill'lação
53
!Í
português
imegranteda Comissão Construtora, Alfredo Camarate,apontavanas
páginasdo jornal h-finas Gerais, o quão desguarnecido e deficiente em conforto,
gêne.rose indústria era o arraial. Vendas mal fomidas, hospedarias - se assim se
podma chamá-las - de sétuna categoria, nem luz, nen1 água, nem restaurante, nem
café... (43). Como havia dito em crônica de maio de 1894, algo realmente
impensávelpara aquele "suprin1ento[extra) de população" que ...
E foi somente após o desembarque dessa "gente extra" nas poucas ruas
daquele lugarejo - entre eles, encarregados, engenheiros, operários e alguns
comerciantes, atraid05 pela promessa de maior fomento daquele pequeno mercado
local em função das obras da nova cidade - que este quadro de desalento ensaiou
seus primeiros passos de mudança. F.scolhido como local para a futura sede da
~a capital do Estado de Minas, o velho Curral dei Rei toma,,a contato com
iq>ortantes transformações. Reduzido às adjacências da Matriz da Boa Viagem,
poucas ruas e comércio limitado, o pequeno arraialcomeçaria a se expandir e
adensar com a chegada daqueles aventureiros e operários, a tomar novas feições
com o início dos trabalhos da Comissão:
"
circunjaccnciaa,os engc1d1c,lros,
manur,ettndo o rúvel,
o teodolitoou o b·Bnlto,coodutoros
e au.xillnre1.1,
b1do
numafbinnde quemquercho311r doprc"ait,e r,c,mpre
C('m n convicçãode que não du1gnr60 tifo depres!JII
quantoo dr.AarioReiade11eja" (45).
,r
►
O e~ , a '"'ª''"'d, t:t J/tz11~!/1
J8
aas de convrcio e, por mm.to, sa11 habítaota, ()1 primeiro, e ugundot eram
vistos como espaços de vuJo dos •mau• instintos,. dos teruíros, ísto é, das
•cimadas mais ínfimas da sociedade". Por íuo eram o lugar da derorder~ do,
dístúrbios, do perigo e~ainda, do atraso - quando pensados em relação aos i~í, de
ordem e progeeo que ínformavam o moderno (e burguês) projd.o urbara0 da
Cooúaio Comtrut.on. Nermma descrição, nem.ama lembrança. Menção sobre
esta botu{uíns, tuc.ll ou tabmia~. só nu ocorrênciu policíaw, ou ~ mffll6rw
e aooica$ que abordavam cpestôet relativas: ao "mundo da ordem", ou da
•de$ordem", na"'ela cidade em COflSUlJÇão:
os; fteguêses contavam ainda, ."infalivelmente todas as noites, às sete horas", com
uma boa xícara de cafe e a "encantadora prosa" dos assíduos clientes (BARRETO,
1936, p.371).
11
►
- O cefí I a '"'ª''"'dt civilização
62
"brouhaha"da freguesia, nos primeiros dias de julho de 1897? (47). Afanai, como
foi visto, a cidade ja contava com duas casas para a venda da bebida. Talvez a
questão mais importante a ser colocada a este lamento do cronista seja outra: a que
tipo de casa de café o autor se referia? Mais uma vez, a ausência de dados mais
ricos e esp~cífícos sobre estas duas casas - im~v-~l»
~biente, decoração, freguesia
- dificulta a elaboração de uma resposta .. • A,"e~·:iespeito o que se pode afirmar,
levando-se em conta o material disponivel, é que o·Café :Mineiro foi con.~;derado
o primeiro estabelecimento com "ares" daqueles "grandes cafés" - cariocas ou
mesmo europeus - aberto na futura capital mineira. Certamente ele não seria o café
mais elegante na história de Belo Horizonte, porém, era o mais "chie" e moderno
naquele ano de sua inauguração.
►
-- O ca/1, tJ '"'Q.6'"'
d, clvili:açio
6J
?,OTASCAPÍTULO
I
>
O co/í , a '"'ºi'IH d, clvl//1,,.,•ção
64
.rr
►
O cofl ~ a ima6•"' d• civilização
6.S
"(...) Em 1782, Le Grand d'Anssy explica que 'o consumotriplicou en França; não há casa
t,wgue~a•.acrescenta ele, 'onde não lhe apresentem o caie; não há lojista, cozinheira,
criadaquie de manhã não tome cate com leite. Nos mercados públicos, em certas ruas e
passagens da capital, estabelecem-se mulheres quevendem à população o que chaman caie
com leite, isto é, mau leite escurecido com um marco de café que compraram nas boticas
das grandes casas. Este licor está mm1atalha de lata, guarnecida com torneira para servir e
de--um--Í'1gão para...o -Conservar quente. Junto à loja ou barraca da vendedora, está
geralmenteum banco de madeira De repente vê-se, que smpresa, uma mulher do mercado,
ummoço de fretes chegar e pedir caie. Servem-no muna dessa grandes chávenas de faiança
a quechmiamgénieux. Essas pessoas veneráveis tomam-no de pé, com o fardo às co5tas,
a menos que por mn refinamento de volúpia não queiram pousá-lo no banco e sentar-se.
Das minhasjanelas,( ...) vejo nwitas vezes esse espetáculo numa das ban·acas de madeira
c:pJeconstruíram desdes o Pont-Neuf até o Louvre.( ...) Digamos para corrigir este quadro
traçado por-um t.:.:-.rendobw·guês de Paris. que o espetáculo mais pitoi·esco, ou melhor,
mais comovedor, é talvez o das vendedoras ambulantes. à esquina das ruas. quando os
operáriosvão para o seu trabalho de madrugada: têm às costas a talha de folha e servem o
café com leite 'em vasos de barro por dois soldos. O açúcar não sobressai( ...)'. O êxito é
conbJdoenorme; os operários ·encontraram maior economi~ ma.is recursos, melhor sabor
neste alimento que noutro qualquer. Por isso, bebem uma grande quantidade, dizem que
isso os sustenta quase até à noite'( ...)" Ver BRAUDEL, 1970, p.210.
12- "O indivíduo se distinguia no anônimo cenário urbano através da escolha correta,
associada a um determinado modo de vida sutilmente diferente de outro meramente rico.
Afinal, alguém com dinheiro ou qualquer burguês poderia comprar roupas caras. Os
aristocratas e os burgueses que pretendiam passat· por eles, só podiam se separar por
meio de escolhas que demonstrassem um gosto distinto", cit in NEEDEIL. 1993. p.186.
ô1
1 Aln <1 e,rr t, " toq o,tu u il (1?P 1.H,11), JnOJJVJtff(A1 Hd,p.1 1.
c1lhHlo 1
26 Tiieodorvon Leithold & Ludwig von Rango. "O Rio de Janeiro villo por dois
prussi1nos",citadoin 01.lVEIRA,1984,p.362.
Outl trabalhos baseavam-se na denúncia dos "ten:íveis" males que a bebida p,;,d_eria
, Jlf"incapacidade sexual e aqmetame.nto do "fogo das paixões" (sendo por isso de
d ,~i!l parapa~s , outros que tivessem votos de castidade), encm1amentodos anos
• vid nu,.greza "hru1ivel" e, supt.i-sumo de tais mazelas, ... cãncer de mão! do qual,
lft® Saint-Simon,teria padecido M de Montberon c,overnador de Flandres
- ' t:>
( UVE.IR.A~1984: 113)_
Estas t\J)ini~ .... cientificu" a respeito da bebida er·amusadas de modo a influir não
ap~ no seu consumo m~ ainda. na Ji-eqüência às casas em que ela en setvida, como se
notl pelo movimento das mulheres inglesas, abandonadas à cada noite em troca dos
pt t-es do$ salões de ente. e que daria 01-igemà "Petição das mulheres contra o caie,
lpt smtando à consideração pública a grande inconveniência para o seu sexo do uso
UUfflY\l ~$Si\ bebida emagecedot11 e enfi-aquecedora" que circulou em Londres no ano
de 1674. Nela consideravam que o hábito do cate "gasta a força viril dos homens e to:na-
oa tio midl's como as m-eias da Aribia., de onde dium que veio esse grão maldito: se
pns varem nesse gosto funesto, os descendentes de nossos robustos antepassados serão
dft\b'Q Ml breve nada mais do que venladeira raça de pigmeus". Contra tal afumação os
iagleses lançariam a "Resposta à Petição das mulheres contra o caie, sua bebida,
ddadendo-1 das imtJ-ecidas calúnias contra ela ultimamente assacadas em seu
scandaloso panfleto". Ver }lABERMAS, 1984, p.48 e OllVEIRA, 1984, p.71-72.
Das tens esse dtbare ,~olou pana publicidade, como se percebe pelo ~eguinte
IDÚnciodo jornal inglês lhe Publick Adviser, em 16.57: "'Na Travessa São Barolomeu,
por d,tris d1 Bolsa I bebida c.hmuadacafé, muito saudável e portad0t.i de excelentes
virludes: fecha o diafragma. aument~ o calor interno, ajuda a digestão, 3coUÇa
o espírito, dá
levua ao coração, ê boa pan dot· d'olho~ tosse., gripe e resfriados, ~erculose, dot· de
cabeça, bidropsia. escorbuto, escrofulose, e muitas outras moléstias. E \'-endida tanto de
mlnblcomo às tris bot"3sda tarde .. (O~ 1984, p. 129, nota 16).
►
-
O cq/i , a imagemde civii,zaçuv
69
.t
1
1984,p.358.
30-Humbetode Campos,·"Otare anedótico",citadoin OLIVEIRA,
1992e ALMEID~1993.
32-Vera esterespeitoJUI.lÃO~
34-Joãode Barros,"Crbônica",
citadoinNEEDEI.l.,1993,p.ó8.
fachadas-,
a realizaçãodo entrudoe os cordões sem aut'>rivção no carnaval,aaaimcomo
wia série de outros costumesbárbaros e hacultos".(Original sem grifo) Citado in
NEEDEll, 1993,p.57.
►
►
O c4/I, a IIHtZ6'"' d, civi/JzaçHo
71
46-Idem.
47- Crônica do jornal A Capital em 8 de julho de 1897, citada in B.AR.REI'O, 1936,
p.612-613.
•.
"Ainda não tenninado o século havia no centro da
cidade (...) restaurantes, confeitarias, casas de
bebidas,cafése inúmerosbotequins(...)"
►
l'ahricar.do reflexo.
75
►
l'aht1crmdo rf/l,co:
Jó
►
l'abricando r,jla.o,
78
►
FabrlcaJ1do reflexo.
79
.........__
- /lo.t, umdo rt/111/1.,;
IJ(j
rf
Mas, se nem tudo que constava das plantas elaboradas pela Comissão
estava pronto, já estava ao menos projetado, e assim, a 12 de dezembro de 1897 a
cidade era "inaugurada" com toda "pompa e circunstância" necessárias à ocasião.
Autoridades e comitiva desembarcando de trem, discursos pronunciados na Praça
da Liberdade, o centro dos poderes do Estado. AJ comemorações contaram com
salva de tiros de canhão e banda de música, ruas efusivamente ornamentadas
•
bandeirolas, arcos, festões, galhardetes e gente, ocupando todos Oi lugarei onde
Fabricando reflexo~
81
havia festa - que iria se prolongar até alta noite nos bares da Belo Horionte. E para
fechar em grande estilo os festejos de instalação da novíssima cidade, haveria,
ainda nesse mesmo dia, o nascimento daquela que seria a primeira cidadã da nova
capit.al, chamada por isso mesmo; de I\-finas Horizontina (BARRETO, 1936, p.713-
739)..
formalidade e a restrição reinantes nos salões da corte e das famílias nobres que
predominavam no período colonial e, também, na época do Império. Ao contrário,
a nova capital nascia num momento em que um novo tipo de sociabilidade~ mais
aberta e mais diversificada no que diz respeito às normas hierárquicas e aos
estratos sociais, começava a surgir e a se sobrepor àquelas antigas fom1as de
relacionamento presentes na sociedade. Um tipo de sociabilidade que, como se v'iu
no capitulo anterior, comportava o estabelecimento de contatos mais divei·sificados
e menos dependentes da possibilidade de classificação dos interlocutores, como
aqueles que se davam no interior dos cafés.
e51>1cial
das modernas cidades do velho mundo ao promoverem a individualiza.ção
e a indeterminação do sujeito, praticamente inviabilizavam as relações daquela
natureza. No tempo e cidade modernos predominava o chamado "tipo anônimo de
integração"·(ll);·bastante·diverso daquele que regia a interação entre os homens na
velha sociedade aristocrática. Nesse mesmo sentido, SENNETT (1988) aponta:
b
l'ab,icando ,eflaos
8.5
b
,ah,Jc,md~ ,,,Jln,;;:
86
eap■ ço urbano. P rém, •dedro de1H1 lugue1 (ou baitrOf) defmidos, como
RENAtJLT 1U ere acima, era pouivel obtervar esse tipo de te1aeionamento.
~ im, é nec árjo re ,altar, também que, 1e é poHível detectM relações mai
cordíait, apar • maie famíliaret ou íntimas, i~so não 1ítpifícava, ou era
suficíenu par• caractttízá,..Ju como menos etítistu e mais democráticas.
►
Fabricando .-,:J:aoi
88
►
- Fabricando r(/lao&
89
---
Fabricando refl.ao&
90
►
►
Fflhrlcando r~oor
91
►
f abricQJ'/do
t'{ffr:xoi
93
Se um dia a nova cidade teria seu café elegante (o Estrela), aberto r.J
►
Fabrícandor,j/exoi
94
ao espaç_o~..~-~pital.
Passar o dia no café contrariava O projeto urbano, que havia
designado a casa (familiar) como espaço do descanço, e também o projeto social,
que buscava criar e controlar o homem digno e trabalhador.
►
Fabricando refle.xoI
9.5
►
►
l'ahricando r,J[c.o;
96
passagem do escritor Cyro dos Anjos a respeito das suas primeiras in1pressões
sobre a capital nos começos dos anos vinte:
►
- ,ahrícar.do rq/aoi
97
►
l'ahrlcando ujlaos
98
........_
l'ahricar.do ,~Raot
99
.ri
falQndosobre o simbolismo[aquelesmoçospálidos e
~ªf!º~ e suas paixões tenebrosas por moças
matmgtveis]"(23).
►
p
l'ahrícando r,jlno&
101
.rr.
Uma casa de primeira linha para aquela que, em pouco tempo, havia
se transformado na "rua do Ouvidor" belorizontina, e que assim seria vista por
, ,
mais de cinqüenta anos. Af'snal a Bahia concentrava o que havia de mais "chie" na
1
►
l'ahricando ujlaos
103
café o cliente podia encontrar " ... uma bem montada seção de confeitaria ( ...).
Confortável salão com cinco excelentes e novos bilhares. [E mais uma] bem
sortida secção de charutaria" (34).
....__
l'flhrfcando rpj[c:xo.
105
Globo mm tarde chamado Palácio. O espaço inferior era dividido com mais doi=
c•-•6.idos estabelecimeutos comerciais na capital entre os anos dez e vinte: :i
►
-- l't1hricando r(J'laot
106
--
►
J'"Ci.(,lflLWTIIAV • v--
108
como era, por exemplo, o caso do Estrela, um café a respeito do qual não consta
nenhumi referência que indique a frequência das camadas mais baixas da
população (39).
►
---------------
► Fahríc(1}1do ~,•flo:ot
109
corno se pode notar pelas listagens dos almanaques, dos catálogos e, ainda·,
lembranças e crônicas escritas sobre a cidade.
Se nos anos vinte a rua da Bahia possuiu seu Café Paris, no início
dos trinta sua nova localização seria a avenida Afonso Pena. sem número (45). F.rn
meados de trinta havia o Acadêmico, número 732, que aparece nas listas dos
almanaquese catálogos do período como "bar", mas que, segundo a lembrança de
velhos moradores e conforme se verifica através de fotografia da época, ostentava,
inscrito no pára-sol fixado à fachada, o nome de Café e Bar Acadêmico. Em outra
foto, atribuída aos anos dez, é possivel ver mais um estabelecin1ento chamado
Café Acadêmico. Instalado no número 560 da mesma avenida, a casa ocupaV1l
metade do salão inferior do sobrado onde funçionava o Hotel Central, e ofet·ecia
torno atrativo e divertimento para sua clientela o jogo de bilhu (46). Na passagem
Para a década - de quarenta, novos estabelecimento$ s;eriam abettos na avenida,
p
Fabricando reflexo&
110
F.m outras ruas, outras várias casas: Café Santo Antônio, instalado
na a~da Cm-andai, número 161. Café Santos Dumont, nu1 Curitiba, 265. O
Guarany e ° Cascata, ambos na avenida do Comércio, respectivamente números
446-458 e 481-490. Café Java, um dos mais importantes cafés de balcão nessas
primei~s décadas, aberto dtuante os anos vinte e também na década de trinta, no
auz:nnent.o enb·e a avenida Amazonas e a tua Espírito Santo. Na rua Tupis
estanm instalados o Café e Bar Popular, número 29, e o Café e Bar Pedercini,
número 23. Dm-ante os anos trinta havia o B~u e Café Parque itunicipal, em
funcionamento 11" interior do parque, talvez como que remediando a ausência do
restaurante pres~~ no plano original e nunca consbuido (47).
estabelecimentos deveriam estar localizados. Essa idéia está bem evidente, por
exemplo,ria localização da casa de cafe mais elegante da cidade, 0 Café Estrela,
em plena Rua da Bahia, a via mais "chie" e de maior sucesso entre a ·ftnesse, a
gentede "esco l" da soc1e
• dad e mmeu-a~.
• • ....
Porém, é verdade que nem todas as casas que ocuparam essa àrea
poderiam ser qualificados como o Café Estrela. Estabelecimentos simples e
modestos e, muitas vezes bem diversos daqueles sonhados como dígnos de uma
verdadeira metrópole, também se ftzer~ pt·esentes no centro urbano. É certo que
eles ocupavam regiões menos elegantes, com maior presença de populares,
espaços de trânsito e de um comércio menos refinado. Ainda assim esse é um
aspecto importante, à medida em que aponta que nem tudo que tinha sido ti~
medido e pensado nos planos da moderna capital haveria de ter correspondência na
cidade "de fato", na cidade concreta.
►
l'ahrlcando ,('//no&
JJj
,r.
►
► Fabricando reflexo&
114
bairro, como diz O cronista, "são as vendas", ou então. como apontavam as crônicas
escritas sobre os primeiros dias da capital, os simples botequins. Atendendo uma
freguesia menor, essas vendas eram casas, a um só tempo, mais simples, no que diz
respeit.oàs -suas instalações - "geladeira ainda é luxo dos bares do centro" - emais
diver~iticadas, no que se refere aos produtos que ofereciam à clientela. Esta, por
sua vez, também ei-a diferente daquela que frequentrava o centro da cidade: mais
restrita, no que se refere ao número, e localizada, isto é, composta norma~ por
pessoas do próprio bairro.
b
►
l'abricando r(/luo,
JJJ
....___
• Fabricando reflexo&
116
►
p Fabricando reflexo.
117
período dos anos dez e vinte. Praticamente não são nomeadas nas crônicas e
artigosdejornais, outras casas do gênero que tivessem em seu nome O designativo
•café", exceção
.
feita ao Acre, apontado num artioo
b
sobre a vida boêmia da cidade
como ''bar e restaurante ... [e] café-cantante" (.54). Porém, como sugere o cronista
Moacyr Andrade, um número expressivo dos cabarés da capital funcionavam de
maneira idêntica, ou então bastante semelhante a este tipo de estabelecimento
(café-concerto, café-cantante). Danças, bebidas, jogos, pequenas apresenta'iões ...
O que talvez tenha sido o grande diferencial era o fato dos cabarés manterem
quartos para o uso dos clientes e de suas escolhidas, o que não acontecia nos
cafés-concerto. Assim como esses cafés, os cabarés também privilegiavam a região
central da cidade:
►
► Fabricando ujlexos
JJB
ainples - café, café-com-leite, média com pão e manteiga e umas poucas bebidas.
fksta época O serviço era executado pelos próprios irmãos, responsáveis pela
abertura do estabelecimento, 11enotti, Ricciotti, Alfeu, Anita e 3 mãe, Dona Júlia
Secundina,responsável pelo caixa (56).
►
l'ahricando "P/.'r~or
119
►
► ."t;bticu.do n/!2.Xos
!'10
.1
nada, ou então S•e er.:t.regar-à poesia. ao devaneio. "dor de como" ... Como se vê~
desculpa é o que não faltava.
NOTASCAJ'ÍTIJLOll
4- Tão desfavorável era Ouro Preto, que parecia mais iac:,ilconstruir uma nova ·cidade com
"estas mamas verbas que se consumirão no embelezamento local, que jamais será
satisfatório".ln: O Contem.poeâneo. Sabará, 16 de fevereiro de 1890.
5-José de Sá Rego, 1851, cit in Rvista do Arquivo Público l\ilineiro, Belo Horizonte, Ano
XXXIII. 1982, p.20-21. Quase dez anos antes, outro Presidente da Província também havia
se manifestado a respeito da inadequação de Ouro Preto como capital: "As Capitais ou
chefes de lugares de qualquer divisão de terreno devem ser nas posições mais v:mtajos~
não $Ó às comunicações internas e externas dos seus habitantes, como de preferência nos
lugares, em que mais interesses se jogarem~ ( ...). Nesta Capital está longe de satisfazer a
todas estas exigências, e mal poderá em qualquer tempo desenvolver-se com aquele
explendor, e acumulamento de interesses, que tocam a capital de uma Província tão
importantee tão extensa como é esta e ou ela tenha de continuar unida, ou tenha de ser· feita
algumadivisão por esses setões do Brasil, que facilite mais a Administração das três
Províncias centrais, é certo que se deve pensar em uma mudança de localidade para a
Capital mesmo de uma Reoião que compreendesse, por exemplo, toda a Costa do mar entre
Campos e Belmonte, e a ;arte desta Província e~tre os Rios Jequitinhonha, das Velhas, e
Paraibuna:até ao Paraíba e por este até o mar. E esta uma divisão sonhada, para a qual
ficaria fora de propósito uma Capital nest~ lugar:: ~utras. s~ podem imag~nar, ~ que o
mesmoca:;o de dê~ e por isso sendo para mam negocio dec1d1doque esta Cidade nao pode
Continuara ser a Capital da Provís~cia,t~o ~~ o é que_~o~vé~ esperar ~lgwua ~oi~a do
tempopara resolver negócio de tal 1mportanc1a. - Fala dtngtda a Assemble1a Provmc1al de
►
> F'1bricando reflexo.
121
7-Para o plano ver Revista Geral dos Trabalhos, Comissão Construtora da Nova Capital,
BeloHorizonte, 189.5.
"Concordamos com o colega do Bello Ho1izonte que, no seu último número, fez ver a
inconveniênciade dar-se a em:acidade o nome de Minas. Oficialmente podem chamá-la
assim,mas o povo nunca há de seguir a burocracia O nome de Belo Horizonte já está
consagrado,já está aceito~já tem o cuobo da popularidade. O de !,finas é exatamente o
contrário: ninguém o prommcia para referir-se à cidade e sim ao Estado. Demais Belo
Horizonteé título expressivo e que realmente esta localidade merece: o horizonte que aqui
se descortina é vasto, é límpido, mormente nos dias límpidos, em que a nossa natur-e.za
deslumbra-nos na sua louçania primaveril. O de Minas não exprime coisa alguma, é
am:ipático.Concordamos, pois, com o colega que. nesta linhas, tem a nossa adesão, à idéia
queacabade aventar. O Congresso resolverá a questão? O nome llinas foi dado por letra
constitucional.Hoc opus( ... )" -Artigo do jornal A Capital, de 1 de julho de 1897 em apoio
ao protesto do jornal Bello Horizonte ao nome escolhido para a nova capital. Ver
BARRETO, 1936, p. 704.
►
> FfJhrlcando ttf//P.xo
J]
12- Para o caráter SJfregacionista expresso pelo plano da nova capital ver: ALVES DA
5n.,V.~1991e JUI.lAO,1992.
14- Anuário Estatístico, 1922-1925. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1929, citado m
DUIRA, 1988, p.57;59;65.
!, :
15- Ver ARAÚJO, 1993, especialmente Pat1e IV: • "A família na rua". Segundo
SALDANHA(1993), essa 1·eclusãopode ser observada desde. o pe.i·íodo colonial, citando
Gibeto Fre}'Te,ele aponta "o desdém do brasileiro colonial pelos espaços públicos. pelo
quenão fosse o específico recinto da casa de moradia e suas adjacências imediatas:
imlusive no plano da higiene, vez que o li."'to- inclusive algwnas formas terríveis de li."'to-
erajogado à rua (ou rio) sem nehuma cerimônia e sem nehum respeito ao que fosse público,
comunal,de todos". Ver SAIDANHA, 1993, p.103-104.
1'- ''Nesse particular, mostrando as necessidades de 'uma cidade que surgia dit-etamente do
matoe da flore5ta e que prometia muitas galas aos arquitetos, muitas folistrias científicas aos
eagenheirose sobretudo muitas ralações e dores de cabeça aos futun,s edis, que tivessem de
por oa regra do bem viver o bom povo de Belo Horizonte. seus subúrbios e cercanias'.
comentavaAlfredo Camarate, em crônica n'A C:tpital: 'Porque, confessemos mna verdade:
não há povo mais avesso do que o nosso á disciplina municipal. Não porque dei."'tede ser
bom,cordato e razoável; mas pot·queninguém pode aprender o que se lhe não ensina ( ... ).
~ não começarmos desde já a por em vigor algumas posturas, a edificação da nova Capital
será ·um problema itresolúvel. AtTiarão mantas de toucinho nos degraus da majestosa
e~adaria do Palácio Presidencial~ atarão as animálias às colunas do Palácio do Congresso,
comose elas fossem moirões de estrebaria, apassentarão bois e vacas nos talhões do nosso
majestosoParque, se é que não lhe ativarem a cultura com estrumes gratuitos e fornecidos
de boa vontade; cortarão os cuidados macadames, as ruas calçadas de pedrn ou de madeira
com as rodas desses monstruosos carros de bois e que se talham em gume como que
tspressame:ntepara reduzir as ruas a talhadas de melancia; pintarão, finalme~. o padt-e, a
manta,o caneco, o diabo,"'. Mais adiante, BARRETO (1936) aponta que foi "pensando mais
oumenos" como O cronista, que o F.ngenheiro chefe da Comissão Constrntoru incumbiu à
terceiraDivisão o encargo desde tipo de serviço. ''E tudo teria de ser resolvido de acordo
COQl as circunstâncias de momento, sem prejtúzo do futw·o des~11Volvime.nto da ddade e
das boas normas de um centro que teria de servir de modelo para as demais
lllunicipalidadesdo Estado".(p. 568-.569).
>
►
Fahricando .·e,fll!ror
124
.rr
17• Teoric~ente, se_~do .as opiniões expressas por ARAÚJO (1993). Analisando as
transformaç.oesque atrng1rama capital da República a autoraafmna: "(...) a remodelação de
s
Pere~aPas~o_, que trai:is-fonnouo cenário urbano, intensificou a frequência e. o go$fo do
p~sern funultar ao ar livre, promovendo interação social e valorizando es~e tipo de lazer,
como ocorreu em outras cidades do mundo, através de programas de embelezamento e
reformasurbanas"(1993, p. 327).
18- Paraa crítica a respeito das influências negativas exercidas pelo w-bani::momoderno
sobre a vida pública das cidades consultar: SENNEIT, 1988; BERMAN, 1986; GHOAY,
1979, HOLSTON, 1993; outras críti_c~ a_o pl~~j&nento _ro,o~o _ 4~ cidades são
encontradasem SITTE, 1992, e ARGAN, 1992.
20- Citado in Revista do Arquivo Público ~fineiro, Ano XXXIII,Belo Horizonte, 1982,
p.281.
22- Considerando essas casas de café da velha capital, é possível pensar ainda que os
encontros, os debates, a reunião social dos quais os cates belorizontinos fo1·am palco
tambémtiveram lugar naquela antiga Ouro Preto, e neste caso, a nova capital talvez não
tenhain~onrado nada de tão novo ou "civilizado" no que se refere à sociabilidade no
interior das casas de café. E neste caso, se o café era tomado como signo de civilização,
Ouro Preto talvez não devesse ser vista como wna cidade tão pi·ovinciana, como
proclamavamalguns.
24- Para a importância alcançada pela rua da Bahia nas primeiras décadas da capital
consultarCHAGHAM,1994.
2~. Sobre a ligação entre os componentes da geração modernista e o Café Estrela, ver
NAVA,198~ e DIAS, 1971.
►
Fabricando ,ef[aos
125
1J-Ver L!s!a de Assinantes~ Companhia Telefônica para O mês de julho de 1933 [Café e
uarMurur.1pal]e para fevereiro de 1934 [Café e Bar Aguiar]. Ver também Almanaque
tammerl Edição para o ano de 1936.
30- Sobre a "sacristia" do Café Estrela, ver NAVA, 1985, p.101, outras informações
tambémno próximo capítulo deste trabalho.
31-Paul~ Mendes Campos, "Subir & descer~ Rua da Bahia" in: ANDRADE, 1967. p.59-
61.
32-"(...) iremos ver de novo a rua da Bahia alvoroçada, revivendo os seus dias passados,
naqueletempo em que alí se reuniam os elegantes da cidade". Folha de A-fius, Belo
Horizonte;8 de a6 :.stc de 1941, p.3. Ver ainda reportagem especial sobre Belo Horizonte na
RevistaO Crnzeiro, Ano XLIII,n.11 de 17 de março de 1971 - artigo "Rua da Bahia de
onteme de hoje", e Fernando Sabino, ''Belo Horizonte de todos os tempos", in: Estado de
Minas,Belo Horizonte, dez de dezembro de 1987.
3~- ·ver Catálogo telefônico para dezembro de 1931. "Caldellas e Irmãos, 911,
Bahia ..........3921.
36- F.ntre os estabelecimentos mais modestos instalados na rua da Bahia estavam, por
exemplo, a casa do sr. Balila, onde eram vendidas balas, biscoitos, e produtos afins e a casa
de frutas do "negligente" Baiano (sujeira, ftutas velhas e mosquitos). Entt-evista: Valentim
FerreiraDiniz, Belo Horizonte, 28 de setembro de 1993, ver também Fernando Sabino,
"BeloHorizonte de todos os tempos", op. cit
41-Ver Almanak f.'ommercial, referente ao ano de 1925 para os cafés Colombo e Avenida, e
alista de Assinantes para dezembro de 1931 para o Cale Passos.
42-Ver dados constantes no Almanak Comercial para o ano de 1925 e Catálogo Teleíonico
de 1940.
43-"A firma Caldellas e Irmão~, que é também proprietária do Café Paládio e do já fümoso
Bar Trianon, além de outros pequenos estabelecimentos (...)" - além do já citado Bar do
Ponto.Ver Folhade Minas,Belo Horizonte, 6 de abril de 1940, p.3.
44-Ver Almanak Comercial para o ano de 1924 e Catálogo Telefônico para fevereiro de
1935.
46- Porém, como se percebe peta foto, o.essa época o estabelecimento já estava fechado,
sendoo imóvel anunciado para aluguel. Não foi possível determinar se o cafe dos anos
trintaera O mesmo estabelecimento que, alguns anos antes, esteve aberto nesse DÍlmero560
da avenida A falta de documentação seriada, como catálogos ou almanaques, para ~sses
período, impedem afirmações a esse respeito. A. ~~eia de dados em outros materiais
consultados(crônicas, artigos, publicidade, obras hteranu) convergemno mesmo sentido.
47. Ver projetos par~ 0 Parque Murucipal em BARREfO; 1936, p.560- 562.
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- Paraos dad~ rel tivo • 0 to d 1 1 con ult r o r lnt 1•lodo pr UoA1JõnsoV _zd
MeU~ .. É . pt c.t O h..maa trnç {\ pat m 111rnn fl\11, d i t ,nmti.1.a~~.
cte,continu1dde d ~e. levftnt m_ntos e ttlt iti . Umn r,nnda p rte dos relnt rio
n {\b't\ m d <fo.~, tt,·o~a, , tip i-i t' t 1,,~ imentoi,.Ontf'ft v Zf , qu. nc1o
cM..'IJltad('._
m i n d , esses e, t bolecim nl ão todos reunidos oh n d n minaç o de b , qum
rJ• p« exemploO 1 1 t~rio de 01 rntoM irei do onode,191• ). Diflouldadete 1 cuno•
~ est•o pre entes n uso dos d dos dos hn quc,s cnt lo oo, ni>reaootodos a a guir.
St-Entrevista:ValentimFerreirn Diniz.
60-Infonna~ão dada pela família em entrevifrta Há porém nas páginas da Revi~a Bel?
Horizonte, n.7~, de 21 de defflllbro de 1936, publicidade do Restaurante e Bar Guaram.
localizadoà rua Santos Dumont, 415, esquina com rua Rio de Janeiro, mesmo endereço do
antigo_cate,~egundo as informações prestadas pela família
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CAPÍTULO 111
A CIDADE PARA ALÉM DO ESPELHO
►
►
1
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b
►
.Acídod, para alím d1,.,,;pelho
133
avenida Afonso Peru- (8). lim 27, vejam só, tínhamos "mais de 2.000 automóveis~"
(9), e em 38, "hipismo, e piscinas e 'canchas' ... Breve, regatas ... Maillot e concreto
armado... " (10). Tomando de empréstimo a afirmação de certo artigo na Revista
Tank. em 1919: "Belo Horizonte civiliza- se" (11). E, como mgeríam os autores
das crônicas citadas acima, publicadas entre 1897 até fins da década de trinta
deste século, não apenas por volta deste ano de 1919: Belo Horizonte civiliza-se
desde sempre. _ ·-·· _ . . ...
Pua além desse debate, interessa muito mais tentar perceber a cidade
encoberta por essas imagens e esses discursos. Como eram e quais eram os
contornos dos seus "lugares de civilização", e em especial. dos seus cafés.
►
.A cidade para alim do e,pelho
134
--
- A cidad, para além d, 1.p1:lho
135
►
- .A cldad• para a/ím dr.,1tp11/ho
136
! .: rr
..
supet'ada, estava com os seus dias contados. J-lavia a todo momento um
~t imento que fazia dela algo como que inscrito no passado: ora, pois como
diriti o cronista: ..Belo Horizonte civitiza:se!". Novamente os bailes, o~ cinemas,
os clube$, as nows e bem inst.aladas casas de comércio , O movimento das ruas,
estavam mostrando o quanto a cidade promissora já havia percorrido, a passos
111-gos.,
no caminho da civilização, desenhando, para um futuro muito próximo, o
horizonte_.de.uma ..metrópole. Estava-se sempre ma eminência do civilizado, a um
passo do cosmopolit.ismo.
tranqüilas", como apontara João do Rio (17), um povo roceiro, arraigado em seus
velhos hábitos interioranos. Uma cidade sem imprevistos:
.,r
ser considerada nma cidade civilizada, 0 autor argumenta que ela oferecia todas as
condições· e os equipamentos necessários para a diversão e o conforto de seus
moradores: avenidas, praças, prado de •corridas, teatro ... , tudo completamente
tntregue "às moscas", abandonado pela população:
►
.A cldarltJpara aftm do f!.p«lho
/38
rut.aqOera. Se a cidade tinha plano, para 011 homens, a ocupação que· eles nela
fizeram acabou por subverter alguma,, ou muita, dessas metas. Não há que negar
aqui a intenção d cálculo e previsibilidade, de eficiência e de ordenação social
que o espaço urb:mo cientificamente projetado contém e propicia. Mas, há que
pensar que os homens que para ele 1e dirigem nio necessariamente prevêem,
sentem ou desejam em 1intonia com 01 1eu1 • idealizadores. Eles têm
comportamento~ próprios, têm sonhos e ojetivo11outros que aqueles para eles
ptnsados. Assim, existe um embate entre o que é traçado pelo discurso de quem
cria e os aMeios e ações de ~em habita, de quem transforma um plano em cidade.
Isto não significa que o plano não consiga atingir muitos dos seus alvos, porém~
que seu bóto não costuma ser completo. A cidade, primor do que se pensava
moderno, era, na opinião de muitos, rnodorrenta e provinciana.
experiência· do viver numa capital, buscava dar forma ao que se imaginava ser o
"espírito moderno" eo "ser modermo".
Nessa busca, esse1 literatos seriam, como afirma a autora,
"participantes da criação, e emiHário11da imagem da cidade de Belo Horizonte,
.......----
A cldtYÍ• P""' •"'" do -,p,l/11,
JJ!)
se definia. O segundo, calcado nas idéias estéticas do perlodo e sobre como 1ería a
experiência do viver numa capital, buscava dar forma ao que se imaginava 1er o
"espírito moderno" e o "ser moderrno".
---
.Acidade para além do espelho
140
Porém não era apenas quanto aos cinen1as que a cidade pecava em
relação • aos modelos de civilização desejados, aos modelos que deviam ser
seguidos. O mesmo se passava quanto aos cafés. Afinal, como apontava a "opinião
valiosa do arquiteto" Luis Signorelli à enquete do Jornal Correio ~fineiro, os
estabelecimentos do gênero· existentes na capital, mesmo que já tivessem
melhorado bastante, eram ainda muito "medíocres" em suas instalações. Quer
dizer, também não bastava um café qualquer. É certo que o pt·estimoso at·quiteto
tinha em mente os cafés de grandes cidades como São Paulo e o Rio de Janeiro,
quiçá outros, para além da imensidão do Atlântico.
--
A cidad• para além d.:, e&pelho
141
►
►
A cidQJ~pca t,;Jó,r d7 e;ye:_,;:;
1n
05 cafés. Podiam não ser a cópia fiel daqueles existentes nos ganc1es cemros, mas.
nempar isso deixavam de atnir a população belorizontina.
►
o que era a cidade,~ a ~~~<lladt" pn~uwu r t hti
la ou instti-1 ffll nl<>del '-e ~ d ~ 00 .. ..COllQ'N ..
Lug3res de c.hilid:tde
buJj i
monotonia da n1odema capibl, como seria m.1131,a '\-ida..soci•l
Quais en.n1 os e-Spaços que a cidade om-ecia: par-a o e~~ledn
de intenção entre os seus habitantes. As mesmas cronicas que ~uinm as
imagens citadas ac-ima SUgeRm aJgmna.s t-espoms pai-a esb.s ques:t~ É tr.l'\-~.;:
►
.A cldod, para a/ím do 1tp1/ho
144
(J,Õ). Com sua pequena população Belo Horizonte não era uma boa praça para a
apr-esent.açãode grandes companhias, mas, mesmo que O espetáculo inaugural fosse
levado por um grupo de terceira, não deixou por isso de ser um acontecimento
saudado pela imprensa.
Este não era, decerto, o teatro sonhado para a cidade, uma ·vez que
funcionava num velho galpão ren1anescent.e da época da construção, adaptado por·
seu fundador às funções de uma casa de espetáculos. A mobília vinda do Rio de
Janeiro, aponta BARRETO, era "sóbria mas elegante, sólida, confortável e de bon1
gosto" (28).
Apesar de não ser uma casa como as dos grandes cent.t·os, toda
sociedade prestigiava as diversas companhias que se apres~~ntavam no pequeno
teatro. Numa série de crônicas publicadas na met.ade da déca~a de qlliuent.a (29),
BARRETO narra diversos eventos de que o teatro foi palco, até o ano de 1906,
quando foi demolido. Os espetáculos recebiam grande e concorrida platéia: moças
e senhoras "lindamente penteadas a trepa-moleque", trajando "longos e elegantes
Vestidos dos gi·andes dias", com seus leques, jóias e binóculos au·aves dos quais
admiravam tudo:· 0 teatro, os rapazes e, especialmente, as outras toilatts~
---
.....-- " .Acidadt para além dv eipefho
146
►
►
.A cidad~ para aüm do c;;pelho
147
►
p .Addade para além do e$peo10
148
"
>
.Acldod, para aUm G',•, 1::p11/ho
149
►
A cidadt para além d,; espelho
150
rf ,
►
► ,A u:J~<p~ e::;~-·t,,,, d~ r-;,-...,•.,
,
#
~
•
.
........_
►
A cidade para além do tspelho
152
p<>esia,
pequenas apresentações musicais e festas, que contavam com a presenç~
do "e.scol social da Cidade de lv~as, que aplaudia e cobria de flores o vitoriM<>
grupo ( ...)" (39).
........_
A cidade Pª!ª afim d:; eirulho
153
.,,arao contato entre H familias, os jovens, o início de romances ... Participar numa
a~emiação contribuía para a inserção dos indivíduos entre a sociedade, facilitando
também as possibilidades de aumentar e diversificar as relações sociais. Mas, se
por um lado facilitavam uma aproximação, especialmente entre seus associados,
esses clubes também impunham algumas restrições ao contato social, afinal não era
cpalquer pessoa que tinha acesso aos seus salões, além dos sócios, só os
convidados estariam aptos a participar em ~as reuniões.
►
A cidade para aum "'J ~~, -
154
O sucesso desse tipo de passeio ah-avessou anos, a ponto de., eni fins
da década de 30, o Jornal Folha de !\tinas noticiar na coluna "A Cidade", o desejo
da senhorinha da Praça Hugo Wetneck em estabelecet· alí un1.,f<."<."'>ting.
Afinal
belos logradouros, belos jardins e belos passeios apenas desen1penh varn sua
ftnalídade, ou ~e completavam, com a presença das moças e dos moços. E qual
haviade ser a finalidade desses belos passeios e belos jardins?
'Vtrdadêirarn nte pantagruélicas doi 'beefs"' que servia aos fregueses (198~
,,,,,.--- .,! cidade p<ZNl alim do espt·u,v
156
A crer nos depoimentos dos cronistas e liuratos,. essa foi uma boemia
lle~e e moviment2da. lnicialrneot.e ela se instalou em plena Avenida Afixwo P~
onde pontuavam os cabarés famosos: "Cbat Noir", ~{oulin Rouge 11, NJtat ~lort .
"Boêmios" e "Elite". A "função" c~eçava já ao meio dia com nlÚsica~ danç..a,
~alhadas e muito jogo (42). Mais tMde, essas casas se agruparian-i ern outra
região da cidade, próximo 3 Estaçio FerToviâ.ri~ onde u nmigiariam polit~co
p A cidadE para além ti? espelho
157
"familia minein ", mas sim dos seus representantes masculinos, daqueles que
fiztnlll a boani:i d3 cidade.
A aer nos depoimentos dos cronistas e literatos essa foi uma boemia
• • ~. . ·-...... , ...... ,,,. !....... . ..
►
f cidade para além do upeino
J )58
sobrePoesia, sobre suas experiências nas cidades do. velho mundo , e na língua que
freeuêsprefetisse: :francês, inglês, espanhol, italiano,· ...
o ..,
lt.4..GQ
(1990), a novidade, 0 nomadismo eram impottantes elementos de excitação
hessern
Unclo da prostituição (43).
►
Ji cidade para além do e&pelho
159
►
.A cidade para além do espelho
160
alterictade e para a sua integração social" (RAGO, 1990, p.271). Era o ser homem,
serviril, ser tratado pelos outros com respeito, talvez com inveja.
b
.,4cidad, para além do eipelho
lól
►
►
.Acidade para além do Espelho
162
l\r'as
1 i::eeram
• - .
semelhantes aos cab ares
• no que se refere, por exemplo, a, frequencta
-• •
Os homens e os cafés
.....____
►
.Acidad, para aüm d? espelho
163
.ri'
►
►
.A cidade para além d) e&pelho
164
Café Java. No entanto, mesmo que revelassem certas preferências sociais, estes
estabelecimentos apresentavam um tipo de sociabilidade menos restritiva. formal e
seletiva que a maior parte dos; outros espaços mencionados acima.
►
►
A cidade para além do e;pelho
165
11111-...___
.,1cidade para além do e&pelho
166
distinção entre estes cafés, marcando, por sua presença e preferência, cada casa
como reduto de determinada corrente ou atividade: profissional, literária, política,
esportiva entt·e outtc1s.
>
p .Acidade para além do e.peího
167
►
► .14cidade para além ó., l!&pt!ho
168
.rf
!1Sl3V3
instalado o cúé, ou a Vida de :Minas, na esquina de Bahia com a avenida
Augusto de Lima.
►
? .A cidad, para afim d,. e&pelh.,
169
.rf
assim q~1e,_para alguns ir ao Estrela era ser poeta, ou melhor era ser modernista.
Afinal,poetas havia aos montes pela capital mineirn - como se viu, no início desses
anos vint.e, o Paris seria reduto da corrente simbolista - por isso não er~ difici:
enc.onb-á-losnos dive.r·sos est.abeledment.os de café abettos na e.idade:
►
p
A cidad, para além do npe1J1o
171
►
►· A cldarü para além do e&pelho ..
172
>
►
.rf.
>
►
.1
b
►
A cidade para além do eipelho
175
►
? A 'dade para além do upelho
CI }76
írtfluêrú
Um dos eler-ner-do1 na ft'e<~.rvfa ~ J'.irr,:,Ji~ ... 1- i';~~
11111
_____
A cidade para além ó....l!~peino
179
.rf
para muitos uma das mais in1portantes - características presentes na grande maior!a
destes estabelecimentos. Como aponta BÕDEKER. (1990) em relação ao continente
europeu: 'Mesmo nas pequenas cidades [alemãs], os cafés, poI" volta de de 1800
haviamadquirido um papel primordial na formação da opinião pública" (p.581).
►
.,e·reunir em público, e onde seria possivel divisar a formação de uma opirii, 0
,ubJica esses autores apontam, entre outros o teatro, os clubes e os café,.
►
.A cidade para além do 1!.pefho
181
rf
►
A cídad1 para aum uv ... , -
182
►
00 ,y•.i•,,.
A cldad, para ai "'
J8J
aüngtramrunguém."(RENAULT,1988,p. 18).
►
..~ cldad~ para além r,:, upemo
186
rf
.1
-na
••• em certo ar de pilhéria:
escrc.
1111---
► À t:!dadtpara o.Uml 1~ t:yeino
189
1orém elas devian1 acontecer na surdina. Diante de olhos alheios era preciso toda
"cerimônia ( ...) compostura, comedimento, seriedade, gravida.de, círéunspecção,
cautela, ponderação, prudência" (p.119), ou, no dizer de NA V A, muita hipocrisia.
É assim que ele se referia a esta questão, quando critica a atitude de ír.oportantes
figuras da sociedade - magistrados, políticos, advogados, engenheíros, médicos - de
recorrerem ao biombo, ao detrás dos balcões, aos reservados de ''botecos
escondidinhos, camuflados nas folhagens de caramanchão" (198.S, p. 169), para
tomar seus "espíritos", para trocar dois dedos de prosa inocente ou sem-vergonha,
para apenas se deixar estar. Hipocrisia ~e estava pre.sente também, na bebida
servida em xícaras: "conhaque e pinga fingindo cafezinho" ou "uísque travestido de
chá" (p. 169).
►
► .A cidad~ para aüm do esp,l};o
190
►
NOTASCAPÍTULOID
3-Idem,p.8.
7-Revistado Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte,Ano XXXIII. 1982, p,219, Sobr-1!
a atrizPauloKrüger Mourão escreve: "F.raela mineira,natural do Di~íto de CtirllW do Rio
Verde,(...) Não se sabe por que artes saiu do seu interior so~egado (...) Na Eur-~. ~ma
fezparte de afamados conjuntosam~icos, como o da CompanlúaDramática de El~a
Ouse(...) Mais tarde, (...) passou a integrar uma companhiafrancesa que fazia tornu pela
Europa.Edmond Piccard teceu elogios à arte da atrízinha mineira. Adolfo Ef'...,,· "'__,..._
enaltecendo Nina, achou po$sÍvel viesse seu nome a ser célebre algum dia NBeloHorízom.e
recebeu.ano auge da fama. Seria a Sarah Bemardt d3$ aJteros~." (MOURAO, 1970. 12.~-
126).
►
.A cidade para alé1'f do upev,v
194
14-Idem.p. 753.
23-Ver a carta das senhorinhas r-esidentes nas proximidades da praça Hugo \Vemeck à
coluna"A Cidade" do jornal Folha de Afinas, de 26 de novembro de 1939, reivindicando a
realização do .footing naquele logradouro (assunto discutido na segunda parte deste
capítulo).
24-°Aschamadas "identidades urbanas" são entendidas pelo autor·como "o ter· em comum
suficientestraços semelhantes capazes de criar uma identidade". O termo identidade é
definidopor ele segundo a noção de "similitude": traços característicos manifestadamente
semelhantes(BARRY 1993, p.8.53-8.54).
►
• cidadt para aíé,,, do e~pemv
J~ 195
. "lleci>t'dar
é viver", conjunto de cronicas publicadas por Abílio Bareto na Revista
29· .. eJitreoutubro de 1946 e jwibo de 19.:J7.
~~~. .
·iO-
~foacyrAndrade. Re,ista do Arquivo Público :Mineiro. Belo Horizonte, Ano XXXIIL
Í9S2p.27S.
34-Sylviode Vasconceltos. Revista !\finas Gerais. Belo Horizonte, n.34, fev de 1991~
p.28.
36En1 crônica publicada no jornal Estado de ~finas, em 1973, :Moacyr Andt·ade apontava
cpieos quadros de formatura dos estudantes universitários sacudiam toda a cidade. "O
Ultttesse,
então, das moças solteins por tais quadt·os- e1·aimenso". Tal sucesso e-t·awedido
peloempenhodas casas comerciais junto às comiss•es de formandos, pela pret"et·ência na
exposiçãopública destes quadt·os. Ver Revista do Arquivo Público ~fine-iro. Belo
Ano xxxm,1982. p.243-245.
Horizonte,
~7- "A Chichica [Dona Francisca, irmã do ministro Cândido de Oliveit-a], nos int~valos,
tillba
~zes que levantava e andava dum lado para o outro, conversando com um, com aquele.
coai~enhoras,com os rapazes. Ela tinha esse hábito ou então o de ficai· repimpada na sua
~ll'a (grupo do centro meio do cinema,e:drema direita) onde vinham corteiá-la seus
llnigosde todas as idades:" NAVA. 1985, p.51. • • -
38
• AbilioBarreto. Revista Belo Horizonte. Belo Horizonte, n.38, nov de 1937, s.p.
3g_ldezn_
40. ~!hi
as Gerais. Belo Horizonte, 13 de março de 1933. p.20.
p ,
_.t':trffl' Andrade. Estado de Mma.s. Bt'f Hori?.«J 2t~"·
4.-:lU '-J" - ' ,_,, ,y; o, ,,
~ ,
(3· "Nômade,3 prostituta não ,e. fixa tJUm ÚflÍeQ bf-otkJ,WJ ' "'Yf:/J,Hlf~,rf
rtllÇÍO,-,da ~onstaotemente de •~~- omad.., tp)f'J' I ,
~~e oo a nnadar-se com freqtJfflCJ a, ... ~ nr, . _;d~ r. ~
ptl• ~oca..rápí~ dos íre~se.s:. aw p~l ~ ll . •~ ~ ~ iJ'ff .
idedJdade ora fumcesa , ora polaca , ora -'br~d,e1ra", n "ª'
t ir~
suas{aotasias e as expectativas do fregu.ês". • , 1 (j _ p. 04 ,
.,.,madismonão e~va presente em todu ~ mu . , ~ b«tfi. , (fel 7
;. _í'I~ r,11 ~
pn muitasdelas.
48-Revista
Bel• Heriz•te, Belo Horizoote, Ano N, n.13, 30 de CdlJtwode 191
49-Jlevista
Vita, Belo Horiz.onte, 7 de sdftnbr'o de 1913.
►
! cidade par.:i ai.em "'v ~-,
J 191
00.
62-0 termo aparece~ STEPHENS, 1990, p. 97, com a seguinte observação: "nouvelle é a
Palavrafrancesa que designa noticias". Essa imagem dos cafés seria bastante mat·cante por·
Voltados séculos xvne xvm. como revela esta sátira inglesa do ano de 17.57: "À noite
O
~;a Tom·s ou Chapham' lá vou eu, ansioso por saber o que de novo aconteceu.
l'EPHENs, 1993, 100).
.. ,J ..y/, para .,.·J~,,,
dv c&p ,,,..,
Jl J98
•s selttiVi>Se restnlos __em t-elaçao aos grupos sociais presentes em seus encontros •e
~:,_t3ç5,·.os clubes e saloes apresentavam alguns obstáculos ao flLL~ode infon11ações que
: verificava n~s ~~s, ond~,. c,?'11.ºassinala SENNETr, 1988, p.111- 112), a "aparente
~~~ das ~•~Ç('t'S S('Ctats V1sava sobt-etudo à e~$3 cir·culação de jnfNmaç3e~. ~Jém
diSSº a p<>ss1bthdadede contato con~ pessoas de lugares ditcrentes tinha ma•or~s
\,bsbilidade.s de acontecet· nesses locais~ abertos diariamente ao público, o que nao
~rii cc~1_clubes e salões, novamente pelo seu caráter elitista e, também, em função de
IJllJpa-iodic1dademe.nor·nos seus e.ncontn,s..
dados sobre essa maior liberdade nos contatos que ocorriam dentro
()ulrOS dos
~belecime.ntos de caie podem se.r·encontrados em AGUlHON, 1971.
6'1-MoaC}T
Andrade in Re,ista do .A.rquh10 Público ~.fineiro.. AJioXXXIII, 1992, 281.
67-Para o papel dos cates nas revoluções de 1789 e 1848 na Frnnça ve.r: DARNfON,
1987; SIEGEL,1992 e L.\LOUE1T, 1977.
71
-Diãrio de Minas, Belo Horizonte, 19 de fewreiro de 1921..
72- n:..:..• o
uaano de ~finas, Belo Horizonte, 13 de julho 192 •
.1! cidade para além do eipelho
199
.,. ,~· a este r-espeitodados presentes no Anuário Estatístico Policial e Criminal de 1929,
• apt ~.nt~d~s os num~t\)S de contravenções e crimes praticados na capital durante
~ ~Nk'- Dtsc~nunando ~.ttp~ de delit~ e, também, lugares de sua ocorrência, entre ~s
·: ~ ~C3" 1~ n. ?- C~s. botequms, tavernas, bares, etc." Para os dados a stgmr
....tun,e do ano de 1930.
~~'"'·
lllllltclo~uutiodo.
Ne111 p.ás que foi o ao110
(CAl'losDrummoacl da Andnde)
rf
todosos centro& do mundo. Uma popularidade que, alguns anos mais tarde, seria
Percebidaentre os homens da Belo Horizonte como uma verdadeira tndição.
►
f)1Jl1 t/1 hli mu//lJ
Nu.1'1 IIIIH/1'1
205
''Elesviram&cluu·-11a,
ouconverter-se,cmlllllcbonctcs
abomb,àwis, OI nntigos C~IMentados, onde •cóm
escasso dinhcia·o e muita riqueza de tempo
con\'lt'IIVWll bon111" fio Bobrc coi11u literáriu,
artlsticas,poUticftll,fitsceninas~
mostravam-11e
os seua
~spectivott. sonetos e artigos, criticavwn-1e e
criticavamespccinlmcnteos ausentes"(3).
!l.
---- liaD.,. ~~
-mm'~-~.~~ ~-"
-~.~~~iJ>".' ,,
,Gil~:ds>~~~~-~
-~~~~~.,,.~*$~,,(;,e
~ ~ -- :tufí~p • ~ -~~
:tál>.6,ef~~.--, • ~~~~ ·J:rz•·'A~;~~U',.!!!!!'
:~,_.~_.~
-~ - ~ - ,~.;a:; .. ~ ,~--iilSii()~
~- ~~~~~~~~~:ffll.~~
-,- • ~ , ----Allt~ ~~ráitl~lt!~p$',fm,.;~!P:'raid~~
~·~9~
•Mãu.~- ail.!Pffllll-
~-
--,~e~•~-
Num pais d, há m1A1tor11mpo
109
Outro extmpi§ capazde rr✓dar vsm t:rMD ~& as casu de' c:afi
to bábítode frequertá-~, é dado fJUtm a-~ &! Cz:rlr~ Jrm.r.iffli~ de ~
ttllabrilde 1930 (3). ~ sobt'~ o ~ae da· term.de de~~
~~lmente nos modos e modu ~ l~hA *art~ M ~ na ãcata de
ciitqpír~. oa busca de tomar~ mw ~. Dn.m:~ v;;e,tía-: - ~
&odos
~- Isto é, o cost,ine de fre.r-,,iecúr Dm estaj-.,,eS,...cimaJto de café iJ
tomadocomo nw.dida capaz de detamioar o caráúi- de ~ ~ , de ~
a cidade
comoobjeto ou eemrio, - exteodepor uro período de ap-oúnac:lamente
ff.J1rertaanos . um per'iodo, como se v«á adiante. em cp,.ea cidade atará sofrendo
~ e ContaJadu ~- ~ dLWaru o c,gl os ca:fá atnda mantém sua
~ncia comoespaços de reunáio dos seus habítarús. Se a lítaatura é capaz
~~-1)fl!I~~~~
~~
-~~~ tl.'drdkr
~ ~---6íií~~!i:«-.,*d&
-~---- ._. ......__ ,... ,'fif ai~a.e,..t.-m~~~ I.Cáfé~
~~~.-y.~·~.-~
~~~~~'D!~ -d.e~m ~~
~~-p,..-dá~*~~~~ ,de11u:totet;-~
'flPStAes
ciféina vida literária da primeira metade do século e~. põr ser analís;ada" (11 ).
•velrnente,as casas de cafés não ·tenham sido o· el~mento determinante no
p0sst
..recunent<>desses grupos literários, (como no caso dos modernistas de Minas),.
apoi
orérnnão há como negar que muitas delas tenham influído e contribuído para isso7
p .
enquanto espaço de encontro, de foro de debate, do contato entre escritores e de
Aut~~e~9~. ~_µf!as con:~~-e
dis.GJssão_de.coisasliterárias. e. também cotidiaJ;l&~--
geraçõesseguiriam os mesmos passos, pelo menos enquanto houvesse casas de
cafédesse gênero disponíve_is pelas ruas da cidade (12).
A visão do café como uma "sala de estar particular", como lugar onde
se estabelecem laços de intimidade e familiaridade, pode ser percebida também
lJD outros_lugares, talvez apeoas ..não..na_mesma_lntensidade com .que é .atribuída.
aos cafés vienenses. Na Inglaterra do século XVIII, por exemplo, Jonathan Swift,
/
autorde As viagens de Guliver, recebia muitas de suas correspondências em
determinadoscafés, indicados previamente por ele (OLIVEIRA, 1984, p.158).
público seu propósito de incluir a freguesia do famoso café em suas notas sociais
publicadas pela revista.
f#"tÍl'NJu~r,,l!r,I,~ hfMf#lfJ).J;o,;1
tfJttt l çj3 f1tfaçõ ç~ mtis
"111.7; transitórias, qiJ1!
p(#~
"W>PIH fuprn d, ~1g e bzer. Outro a~peeto que pode ier observado
,;j.jJtl~fiA M ~ajg ~~) é que, ao ine~rno~o, no campo econômico o
fl'~ prodtmvoH derti.ooubva do ~o ~C9 7 criando novos ambientes
,.,. o WMeieio p,c,f~J, A ~idade §e povoava de lugar.e, distintos e variados,
fll' o~®? o t,31',aJJ,,.> dnc3n90 a adminiw·ação ... dístinguíndo-se esferas
1 • 1
1
1
!
Nw,t pais de há muito tempo
216
. ,otl11ivio
que, a seu ver, "define bem um espaço de transição entre o privado e o
'blico"(p.116).
pU
, li ,,t q1,,sntJ1dor
I do Cofó E1tt·c,II tambémtinham lá suas regalia•.
# m@daJhfhu1
onttlvftm CJ6mn "111cri1tia",louJlizada de forma estratégica nos
nmdofJ
~o @§~ b I im nt,0, como é ttpont,do anu,rionrumte. Numa sala discreta e
do olht1r11ineonfidente1,
rrot@Sldt elea enm ervido1 pelo Simeão em pe•soa,,
s@ront@
d1 1111, ropro11cmtftnte1
modmnima , 1tpesar de menos tarimba, não
n1v1un
1td1 tm pr1t1og11tivo1:
Et,n nmizflde do• .funcionário• pelo grupo chegava ao ponto de, como
rovtiltNAVA,ftl du11 hora• da manhã ir-1e o gerente e ficarem os fregueses, não
H Hquc,eendo 1to1 último• da incumbênciade encostarem a porta e fecharem o
portloquando10 r tíra11em (J>.104).
~~li·~~~ ~~~~
~m-~~a ~ ~~-~~
fMlll'llftl'~~~~ ~ ~ ~~~ 6e ~fl.UK, ~
v~.,~lif,S; , ~ ~~á.'áàamllp'~.ioleóm-
,_.? ~ • • ~~ san ,atá~ §>m' ~
iMlffiÚ ~' ~
J"'AH- ~ • a(~ ~ 4'fle ~5 ,; ~
tftrl~WN~'49 • ~~~--~~~('"~ ·~'2.m~L:o,de
CM:-..e~.-..
~ ~~lllid1Jn 1 ~«.Qlf:QW~~---1Sa--~
• Ao que parece, este era um artificio bem difundido especialmente entre
~~- ,
,<p>tJes
diversos estudantes que durante longos anos desembarcaram nas pensões,
~ e cafés da capital. Como um dia foram Juscelino Kubitscheck
rua~ e Miltom
~1)05 •- ·mais• tarde poHticos de renome - e que também passaram· pel•
espenênciade "pendurar" suas continhas no Café Guarany, como recordam as
filhasde um dos irmãos proprietários da casa (20). Consumir durante o mês para
saldaras dívidas com a mesada recebida da família, ou então com o sa!ário de
algumacolocação na vasta burocracia da cidade. Pobres em dinheiro n1as ricos em
simpatia. esses estudantes conquistavam garçons, gerentes e mesmo os
proprietários.
F.ra ainda nesse mesmo período do dia que grande parte dos clientes
mais se demoravam no interior destes estabelecimentos. Afinal, sem compromisso
após o fun do expediente, a única hora marcada de alguns fregueses era com a
Paciênciada esposa. Além disso, nio eram raras aquelas noites de "nada prá fazer"
nacidade, e ir ao café nesses dias j~ era, por si só, uma distração. As lembranças
dePedro Nava estão repletas de encontros com os urugos
• rateratos, que varavam
•s no·te
1 s compridas dos anos vinte: eram as "eaMlçoes
_._ "' demorada s " da cerveja• da . E
Num palt d, há multo limpo
111
,{
.'J,
,,,-,ut,U
ano'',ltlfi ríruJo•Mff
IOM 1001 quo pr e dfram , rofommda regJlo e ntral da
perlotJO,
01 1t1b1t lm.,nt,01d nfó iem OJi prlneipnh,cfffllro• di "vída noturna
eirloc•"•m ••P• 111do, 1J1Jpo1bo mio1, que então r urunm %trato• diYff'•os da
p pulaçlo~"intAI tu1i1, poUtí.m jorn~H11t✓Ju,,
ltuda.ott,r.1, I artiNt1111 ad 1ogados e
1
profl11ionai1Uborai1"(p,J O).
domile
(D JM 1.Lf 11t1t8
,r,od<'rTllll'I ,,til, t
MUJt Ut 'J 1<)(/4, 111,r,dJw ,,i1!íf-1,1
pottlv"i' oontnbulç8e1<to 01 -,mo,,tro,1 fi1t ,,n, HIJ lípl)f"!Mi'IIVH
d@t1t.ro
de,enrol1m do1 etd'~1, pod ruim t111 , ,,,. ,, 0 d Mt!/t,1✓/H/J 'I/J
t,oje.construida sobre 3 cidade e, em especial, sobre sua vida sociaJ, é por este
aspecto que
. os cafés se fazem presente.
0 ex~cíco •de uma sociabilidade urbana, que se estabelecia tanto entre grupos de
amigos, de desconhecidos e forasteir-os daquela nova capital mineira - uma
sociabilidade mais informal, mais espontânea, ampliada a várias camadas da
sociedade e ainda, e.ssencialme.nte masculina - é possível pensá-los também
enquantolugar de expressão de práticas culturais dessa mesma sociedade. Afmal.
comose viu no decorrer deste capítulo, e também no capítulo anterior, é possível
acompanhar o desenv~lvimento no interior destes estabelecimentos, entre
propriet.ários,fJncionários e :frequentadores, de diversas atividades: de lazer, de
trabalho, sociais, e mesmo políticas; de diversas formas de relacionamento; de
aprendizagen1de modas, de novas formas de estar e se compottar ern público.
Além disso, o café era ainda espaço onde o debate propiciava a formação de
•
opiniões, sobre a literatura, à administração política, os assuntos cotidiano5; da
cidade,da conduta de seus moradores; a adesão a um tipo de orientação, seja ela
Partidária,cultural, esportiva . .. Práticas e atividades que se inseriam em meio a
todoum repertório que regulava e conformava o relacionamento dos indivíduos na
capitalmineira. Assim, enquanto lugar de sociabilidade, os cafés dessas primeiras
décadas também se~ão lugar de expressão e conformaçio de ·uma cultura urbana
rnasculina,pensada enquanto códigos, valores, práticas e simbolismos pattilhados
Peloshabitantes da c~pital nesses seus primeiros anos de existência ..
Num pai, d, lt/J w,ullo ""'Pº
229
preocupações,é possível notar que, durante todos esses anos, o café ainda l'OMf;ém
muitasde suas velhas características e permanece como uma das principais opções
de espaço de encontro e de contato social para os habitantes da cidade.
empleno coração da Praça Sete. De certa forma, o Nice incorporava dois tempos
distintosna história dos cafés belorizontinos, era como um café de ''fronteira", de
"transição".No que se t·efere ao serviço, esse estabelecimento seguia o n1odelo dos
artigoscafés sentados: mesinhas, cadeiras e garçons - no qual persistiria por mais
de vinte anos, tomando-se como wn baluarte dessa velha forma de atendimento.
Quántoà sua localização, a casa acompanhava a tendência de se concentrar em
tornodo novo ponto de aglomeração - centro de viação e comércio - da cidade.
Alémdisso, se o Nice ainda contava com urna :freguesia que dispunha de ~
Paradesfrutar as horas do dia entre suas pequenas mesas, ele também conviveria
corn
um outro tipo de clientela cada vez mais crescente: aquele homem ligeiro que
seni 0 se demorava no café mais que os d ois
• "go 1es de uma xi ·crinh a " .
.:f
0
~ tinha ~incb como ~~si:a cotidian:s advogados, corretores, negociantes,
~isQS. ••• e politi~ especi:.bnme· nas épocas de campanha eleiíoral, af'mal
~ um cate popubr en consic:kndo. um ótin10. exercicio de marlading
~ (~ ao que parece., aincb permanece como aença até os dias atuais).
~ em termos de orientação politica" a casa en território neutro acolhendo toda
e cpatqu-ertendência. No campo dos esportes o Nice tamb~ . seria u_m café
dem(>aitico,,mesmo que em fins dos anos cinqüenta tivesse sido palco de críção e
reumãodo "Clube dos Pardaisª. grupo que reunia diretores e torcedores do
América
Futebol Clube (33).
ftfl\rlnhtmdo"b •110
11
b 11
11t1úr@8 dê dornh,iod qtHdft tipo l1't ftitib ·~4Íll~fW..0,
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que a vida da idade tt'ie••" ffl.ldado r,urn J>Í"ff
deolho•. Como 1e viu, a cidad, ia carrd11handocom vagar tKWa, p~HMI•., ~,cn
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-cmnism,
1l'.f.O.n:"ÍO :se o Bar do Ponto
~~~~~~~-~:tie~~1lIJI:Miores,-e.les-se:fundavamagon
~ ~ ~~ ~ ~ i;narnderunn ~ -ele, & pólític.a para o futebo~
-~ ~~ ~,cn&.dos :e ~((§3)_ A idéia -que a ·crômca
~ ;...e•~~ Ú! y.:rmmRmCia. Mesmo {COlll ;as :tnmsf<nmações da
--~ ~~~~~t0m.igátnrio<iieRJ111ii-odapnpnlação. Porém,
~~ ~ ~ ~ :2 m ~em~ de mmos assuntos~ de
«1..utr.DE:ire~· ares: lhnmeos apressados.
;fr~;, ~ ~--~•~~de x.omn, e ,que lcm;pensam o conforto
~~~~-
~~ ~ ~ ~
~~~r;a~.&.madlídllll!Z áf>se!lm'«>qae &mrpma 1Ulll~ de pressa
,., --~. :tül!lt--Ze"!iopimsar qge ão «a ...... s a cidade. seus
l)e!IW,i,S} ~ -.,..ua112 t1■wi-Déio- .A nolhl!P ' a.a do Bar do Ponto•
"'
·-;vu,~~ ~ ~ ~ tdid~D aD de aífe, oca .-em ieridência outras
}/""' pais d~ hfz,,,uito U"'Pº
2-17
Esta idéia pode ser percebida também através de outn.s crônicas sobre
oUtros cafés. Antes do Bar do Ponto, haveria o declinio pauado do Café
lstreta • Já na déca~ de quarenta, um Drunwnond saudosista recordava o vetbo
~beJecimmto. Não O café em buJicío da primeira meude dos anos~ mas 0
.
• d-esses mas v.inte e do início dos trinb, que wrsia carreg-ado ~
~-~de~ Fn envolto em sentimentosdesse gênero que o E.-treJa
~ ~ ~ a respeito dos· velhos compZlllheiros com os quai•
~!Br.11~,icb: ~ ~ ms rodas desse e..~beJecimento:
('
<>;::,:Jrg·~~
~o~d9f.o,4Jff ....
ijo {ttMI# MlftU..M iW 1:11-
..,~,~
or-t$ dt ~-,,ittJ:I.
capit,1.O Ni.ffiuro_~
UJ'>tf9
O<:Upar ~J~.~lll#.~. _t . . ,
quf t,'lnde pw ~ "'- '1ii!i!ltaW~
_,ame.,., • t).,ki9_. J>;..... ~.. ~ ~
-•~ de quar.u. ~. ~-
datidad, 1: u yid, ~ M ltat>IJ:a4~",, ~ ~ ~~~-~"'
~t,,)j~
4'11r-. ~ t(JleJ. tru,11,vs
~ino ~.tm ,a M jWMf'~ÇW~-• :WI:~~
parao "dí eur,o da ~dér iz, ,f//' Ju-!I'·~h -u 'KtdA ~1~~, mi A, "º d j
~
Muro•fflO§ dfl •1erda&.irametrópo11!1 IP.A .~,k; ~~ 1,q,.i~ prí1~WM dit:
de1897, quandoda Belo Hor~u ainda ~1 fuwfa p ira, a-1!?)JtmtJ< :)1~ 1ri r/) I ,
, ,
No. III09 quareru, época em que elte artigo toí e1críto, novo• tipo•
deettabelecímeráos paHavam a dívídw • pre&rhlcia do público com 01 cafn que
reatavam.Maa.restaUf'antei, c.orrkítatia1, bare•, lanchonetes americana,. calé• de
baleio, o Callo~0 Palhare• e o Pérol•, e o Nke - que continuava resistindo com
11
Rlesinha, e cadeíru em 1eu 11110. Agora, 1 crer na reportagem da Folha de
Afha11 •obre O tec~ do "mitológico"Bar do Ponto, uma nova mentalidade
dirigia eate tipo de comhcío, 0 "tna.t". 8egundo o jomaJina, um ou doi■ car,. •
Num país d, há ,,,u/to tempo
252
"(___
) que põe em prática uma verdadeira política de
f«banemo
. e inauguração de novos caies, com
movameotosestratégicosque Bi..mulam uma verdadeira
báaJbade CODCOttência(...). A firma Caldellas &
Irmãos, cpe é também a ptop'fiWiria do Café Paládio
e do já famoso bar Trianc-n,a1~ (je outrospequenog
estabel.ecimeut.os,ioteres$a-serro fechamentodo Bar
•• Poato, com.omovimentoe!':.1tatégico nessa política
de ~- ~ é uma hipótese C{tlecircula entre o~
c:omecedores do asm'lto, e que só virá a ser
confirmadacom o coobecimentodas circunstâncias do
iecbameato, havendo uma certa expectativade que o
com-ato de locação seja pas!ia.doà frente com a
condição da abertura ali de negóciodifet'ente"(.58).
•
F.m 1988 o Café Palhares comemorava junto a freguesia os cinquenta
anos da ca...q, e era saudado como wna tradição da cidade, um dos últimos
~ da vida boêmia, da política, do futebol ...
ot,servação
feita por Henri~~ Pongetti, dando con+,ade um "terrível" fenômeno
.,,erificado
entre os estabelecimentos cariocas no distante ano de 1961 (61):
_rf.
8- Carlos Drummond de Andrade citado in: Revista do Arquivo Público l\fineiro, Belo
a·onzonte.Ano XXÀ.7V,1984, p.43.
-9-Revista Alterosa. Belo Horizonte, Ano JI, n.5, fev 1940. p.6.
10..
Ver nesse sentido '1.a literatura como historia", HINMEIFARB, 1988, p.469-489.
12-Pensando aqui, em especial, a geração de escritores mineiros de 4~. que também escreve
a respeito de alguns desses velhos cafés e começa a resgatar as lembranças de bares,
Confeitariase outros lugares da capital; num novo tempo para a cidade, novos espaços vão
toniandoo lugar dos cafés como reduto dos escritores e dos boêmios.
13- Stefan
Zweig, 1881-1942, escritor austriaco citado in: OLIVEIRA, 1984, p.133.
!Ol1na
4• ll E. Jacob, nascido em 1889, citado in: O~. 198.5, pl33. Ainda ~ respeito da
como os vienenses utilizavam seus estabelectmentos de cafe, Jacob menciona que:
Num pais d• há mu:to t~mpo
156
.rf
,.OvieneSISI 6 ~• crialura que vive presa a seu car~.Ele aí entra tris vezes por dia.
fel:t111
anhl t.ntreoito e DO\~ ho~. Depois. às 15, para o cafezinhoque se habituou a tomar
6e1)0ÍS~o almoço.Por tlm, ~ noite, entre 20.e 21 horas.Enquanto as duas primeiras visitas
sobretudo à lt.itura,esta da noite é consagradaà ímtizade.
são<1ed1cttdtis
17- F.in
relação ao tipo de contato que estes atores desenYolvem no interior do caie ver
também,além dos autores citados no primeiro capítulo, S.ANSOT, dec 92\ mar 93.
19- &!revista:Afonso Geraldo Caldeira. Belo Horizonte, 8 de julho de 1993. Outros dados
arespeito desses cafés estão na sequência deste capítulo.
2
~b
~ma pequena análise respeito da questão de crédito em estabelecimentos de venda
3
Pil lica de bebidas pode ser encontrada em Sll,VA., 1978.
Num país d• hlz 1'1Uito umpo
157
-Outrasnotícias dão conta de quanto a cidade se transformava durante essa década de trinta:
e "A cidade se des,:emraliza cada vez ~ais. Os seus arrabaldes. o~ora tão pequenos, se
stendern em todos os sentidos. Cada dia que passa, uma nova casinha surge por entre o
... Folhade Minas,Belo Horizonte, 14 de outubro de 1934. p12.
Olatar~o
D.- p@ d~ ~ ~~ z~p;,•
2.n
31-Farm.sta:
Nelson Gallo, Belo Horizonte,15 de retembro de 1994.
33-Informações
sobre ÓCafé Nice wr jornais Estado d.,, Minas P. Diá:ri• da Tanle, de 23
_de novembro de 1989. e entrevista de .Aromo Gerado Caldeira, propridário do
estabelecimento,
em 8 de agosto de 1993.
3~-Informações sobre O Café Gallo, ver ht. i Minas, ano 9, n.462, 30 de om. 1985. e
atlrevistade Nelson Gallo, proprietário do estabelecimento em 15 de setembro de 1994.
..rf
41-F.nterevista:
ValentimFerreira Diniz, op. cit
44-Idem.
46-A data do fechamento do C~fé e Bar do Ponto não foi precisada, nem pelo material de
m,rensa pesquisado, nem pela família do proprietário.
47-"Logono iníco dos anos 20 começa a se &lar em remodelação do espaço que havia
acabadode ser dado como conduido. a cidade começa a ser repensada e nO\.-aspropostas
llbanísticasvão surgindo".ALVESDA SILVA,1991, p.6
Nos últimos anos a média de crescimeoto anual da cidade foi de 10.000 habitantes: em
193c '
J e 1936, a média subiu, em cada ano, para 30.000.
'
C ubt à tmll 3dmfoi.;tJ> t~ 1 ~b~tl.nI d . rn
~.-din~dMt a mbdivi~ffod~ LO qum~n"·~ ~ 2.4,._h.~ .
s2. 1c1ein.
Num pais d, há mui/o t1mpo
261
°
aquiq~e Café e Bar do Pont~ tenha deixado de ser palco de debates ~
,,. Nlo ~e aflrm~
oros
polltJC('Sapcnns que esses aparentemente haviam se arrefecido com a censura dos anos
rinta.VtrNAVA(1981, p.381,4~3,463),RENAUlT(1988,p.241),CHAGAS(1982, p.191-
192).
54. Nio é dificil perceber que estas transformações também foram sentidas em oufrB!J
cidadesdo pais, como revelam as seguintes passagens a respeito das mudanças nos cafés do
RiodeJaneiro:
"Comotudo mudouf Antigamente o cafe era lugar de passatempo vadio. Por um tostão
alugava-seum camarote para o espetáculo da rua, ou instalava-se por meia hora uma tertúlia
!iteraria.
Hoje, com a generalização do serviço em pé, a infusão perdeu a nobreza que tinha,
e que consistia precisamente em servir de pretexto a coisas mais altas. O caie era
seamdário,m1 mbordinado, nias há certas subordinações que conferem maior dgnidade que
a autonomia Hoje o café é autônomo. Toma-se por ele mesmo, com a :frieza racional e
fillcionalcom que se ingere um laxante ou wn analgésico. Toma-se um café egoísta,
solitário,vertical." Gustavo Corção. 19~4.
)i
._.
I
......
,,.
1
__,. espaço
()IIJU""
de um outro discurso, quena grande parte das vezes nio• encontra
put,tieidade
aos pen •cos da ·ridade. ·mu que fala peJu entrelinba.s..
ou pela boca
de QlrttOI oradores: como por ....,10 nu criticas ao serviço, • decoração, ao
ifri)iede,10 eo12104:,itaime~ da diemek. ou • ,.nu pequenas notas das coluna•
policiail.
formulado,
ou mesmo reconhecido enquanto tal entre aqueles que o produzem) que
seopõeao projeto das elites, tanto no que diz respeito à capital como também à
•.J .. da sua população.
<J1UcJ .
deviarn
ser~e, por outro lado, a reação - pensada ac:ui enquanto resultado de um
rnovunentode incorporação, negação e refonnulação •dos elementos definidores
mesmoprojeto.
desSe .
Isto significa pensar que a capital mineira não deve ser analisada como
umavitória de todas· as propostas do pensamento e dos homens que a idealizaram:
a cidade
.
previsível,
..
racional, classificável e. dominada. Certamente ela- também
. não
.
representaa derrota desse ideal. Mais que uma coisa ou outra, a B~lo Horizonte é
percebi~ aqui como wn campo de confronto. Se a cidade moderna e planejada
buscaregular a vida de seus habitantes, se ela induz ao constrangimento, à inibição
dasrelações sociais, é possível pensar que •esses mesmos habitantes são capazes
de criar alternativas e de t,,urlar esse controle. Nesse caso, os cafés aparecem como
umdos espaços possíveis onde se inscrevem essas alternativas, onde elas ganham
visibilidade.
É preciso salientar mais uma vez que, com essa afínnativa não se
pretende·negar os efeitos que tal planejamento tenha produzido em relação ao
espaço de Belo Horizonte, ou às relações que foram estabelecidas por seus·
moradores.O que buscamos mostrar é que a cidade não se reduziu a esses efeitQ~.
Sea capital mineira brotou como uma imagem pré-deímida, não hâ como negar que
essa imagem quando tomada real tenha sofrido deformações, e nesse c:~so
redetinições,ainda que pequenas ou isoladas, mas que nem por isso deixan1 de ser
redeflnições. A cidade mesma se revela para atém desse plano, ou desse dis~urso.
•tal sem tentar enquadrá-las segundo uma ou outra definição, foi dessa cidade
clP1 ' .
quese buscou aproximar. Se ela não alcançou em gênero, número e grau os
rnodelosde civilização que a inspirara~ em certa medida ela acabou p~r criar, por
elegero que seria considerado os símbolos de sua civilização. Ainda que se possa
buscarna cidade e nos seus cafés, nos seus "lugares de civilidade'" aspectos
caracterizadores dos modelos que os infonnavam. é peciso perceber que ambos-
tambérn..apres~ suas próprias especijicidades, eles não sãQ uma simples cópia .
destesmesmos modelos. O Teatro Municipal. mesmo não sendo uma casa como as_
dos grandes centros, era espaço de ostentação, de cultura, de bom-gosto, de
elegância. ,r estia-se nos "trinques dos almofadinhas,.. para esperar a seção do
cinemaOdeon., para divertir-se nos bailes do· Clube Rose, do Belo Horizonte, do
AutomóvelClube. M ro,das dos cafés, onde os estudantes "cultivavam o espírito";
contavamcom apresença de vários intelectuais, dos políticos, dos jornalistas -
homenseducados e importantes. E os jovens chegados do interior eram logo
"tachados"pelos amigos da capital: vinham civilizar-ser . -
.
Mas, dvilizados ou-não esses cafés se tomarant parte da vida, -do día-
a.dia de muitos moradores daquela cidade. E como espaço do cotidiano, quão
(!hrersas~ as atividades e as práticas (e, também, aquilo que elas
simbolizavam) que tinham lugar nesses estabelecimentos: da satisfação ·de
pequ~os ~sejos e interesses - uma conversa fiada, beber com amigos, espantar o_
frio,o sono, vender, comprar, ver o tempo e a vida passarem pela calçada em
frente- a necessidades mais primordiais - integração, socialização, incorporaçio ••
correntesvariadas, educação social, criação de uma identidade.
Para além dessas questões, buscamos apontar também que esses ca:fês
sãohistóricos, isto é, têm história e se inserem na história. Nesse sentido, a análise
desse tipo de c~beleciment~ reflete todo um contexto, particular e peculiar. A
. '
.
petaantigafonna de ,;erviço: mesinhase garçons, guardanapo, copo d'água e café
ttn bule servido como que "à francesa". O balcão conferia mais agjJidade tanto no
quese r~ere ao atendimento, quanto ao consumo. A máquina possibilítava uma
economiade tarefas: era só entrar a xícara sob a tomeirinha e em dois segundos o
café~stav~ em frente ao freguês. Um movimento intenso podia mesmo conferir
uma
imagemde linha de prodoção: tempos modernos-cafés expressos.
Por tudo que foi apresentado nessas páginas é que acreditamos poder
dizerque, entender a casa de café foi um exercício para se entender um pouco da
históriada própria Belo Horizonte e dos homens dessa cidade .
• •
Quase .cem anos se passaram desde que a população da então
novíssima e moderna capital mineira ocupou com festas os poucos restaurantes e
cafésque já se encontravam em funcionamento em meio às suas ruas e avenidas
naquele~istant.e ano de 1897, comemorando a instalação da nova sede do governo
do-~º· Em 1995 Belo Horizonte ainda mantém alguns estabelecimentos de
C~é,e entre eles, dois ou três que remontam aos últimos anos da década de trinta e
inicio quarenta. Se esses velhos cafés serão, daqui a dois anos, palco de
manifestaçõessemelhantes pelo centenário da capital é uma suposição difícil de
responder_E mais importante que que respondê-la é perce~er que um século
depoisjá não se fala exatamente da mesma cidade, dos mesmos homens ou dos
mesmos
cafés.
..-t,.
pequenas lanchonetes pelo caminho para saciar a sede e a fome; além disso o
espaçodesses cafés já não favorece à permanência por tempo indefinido; eles não
sãomais o jornal da cidade ou a sala de estar do público masculino da capital.
redemoinho de gente que passa pela rua depeja muito mais pessoas nestes
estabelecimentos ele também os suga com uma ra~idez voraz. A permanência no
Cafése mede, para grande parte dos cHentes, pelo tanpo de um cafezinho expresso.
Co111/d1r4çÕ1iJ]nali
..
276
•,
•
ANEXO
BELOH-.RIZOIITE Ir--,
1897- 1954 . 1
//
1
\
AIJB'CD
278
,I •
!Í,
. ·.''
-Anos 1897-1930
• Café !.fineiro............................... .. . . .. . . . . .. .. . .. . ... . ...................... 1
- Café Paris................................................................................ 2
- Café e Bar do Ponto............ ~ .............................. ..................... 3
- Café Martini....•..........................~ ..............................................4
High-life ...................... ~ ...............................
- Caf~ e éônreítâria .5.
'
- CõaféAcadêmico ....................................................................... 6
- C.afélwlignon.
...... ..................................................................... 7
- Café Guarmy .................................... :............... :...................... 8
. ,·
1
- Café C1sc1t1 ........................................................................... .9
- Cilfé Esperança,.~ .................................................................... 10
- C1fé Lis .................................................................................. 11
- C,1fé e BM Parque ~cipal .................................................... 12
- Trianon.................................................................................. 13
- CõaféAmericano ...................................................................... 14
- Café Aveoi~ .......................................................................... 15
- Café Colombo ......................................................................... 16
- C.aféJ1v1...... .......................................................................... 45
- CõaféPinheiro ............ ~ ............................................................. 17
- Co1fée B.u Muoicip..1 (Estrela) .................................................. 18
• -Anos 1930-19j4
- Cõafée Bar Ac.adêa:Jico............................................................. 19
- C.afé e BK C1sc1tinu ....................... •·•·••··· •···· •·•··· •·••••·•·••·....... 20
- Café e Bar Pedttcine .................................•.••.••••••••.•.••. •··········lt
• Co1féSul Animei .........................••••••••••• •••••••••••••••••••••••
••••••••.22
,Anexo
279
- C..fé Nice............................................................................... 41
- C..fé Pa!hares ......................................................................... 42
- Café GillloCarijó .................................................................. 43
- Café Pérola ............................................................................ 44
(Obs:O 1:mp,."·comcafés da capital obedece priocip.almentei sua loulizaçio pw qamteil'io, uma vez
que muitos esbbeteciaieatos não possuem dados piiira detennimr qual lado eles ocupav~ nesses
GJesniosquarteirões)
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:1 .
.10JNAIS:
eorreio Mineiro............................................... 1933
oI)ebate..........................................................••••
1935
o[)iário.....................................................•..•..•.•••
191.5
[)iáriodeMinas................................................ 1920,21, 27, 28
Diárioda Tarde...........................................•••••• 1934,89
Estado deMinas............................................... 1934,3-', -'9,74~87, 89
FolhadeMinas.................................................. 1934,36,31, 38, 39, 40, 41, 42, 43
OOlobo ....................................................•••••••••••••
194-'
MinasGerais......................................................
1921, 31, 32, 33, 36, 37
IEVISTAS
Alterosa............................................................••••••••••
1940,41, 42, 43, 4-', 46, 47
BelloHorizonte....................................................••••••1933,36, 31, 38, 39, 47, 48
C'ultura......................................................••••••••••••••••••
1914
1971
O Cruzeiro.................................................•••••••••••••••••
198.5
lsto é Minas..............................................•.•••••••••••••••••
Revistado Arquivo PúblicoMineiro.............•.•••••••••• 1982,84
Revistado Instituto Históricoe Geográficode Minas Gerais••••19-'1
RevistaMinas Gerais,n.34.............................••••••••••• 1991
RevtstaSocial Trabalhista(Edição Especial)•••••••••••• 1947
:nlr .............................................................................
191!>,20, 21
~da lndustrial ..........................................•.•••••••••••••••
1951
1913
ita.........................................................•.••••••••••••••••••
liihhog:'fqia
288
.rf
oUTROS .
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A estruturaurbanada RMBH·o processo deformação do espaço urbano.v.1. Belo Horizonte:
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ENTREVISTAS